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FILOSOFIA DA RELIGIÃO
AULA 5

Prof. Marcos Henrique de Araújo

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CONVERSA INICIAL

O cristianismo, religião fundada por Jesus Cristo, o Messias, surgiu na Palestina, mais

precisamente na Galileia e Judeia no Século I. Jesus apareceu pregando o Evangelho do Reino de

Deus e fez discípulos (do hebraico talmid – seguidor), mais tarde denominados apóstolos (do grego,

enviados), que propagaram a nova fé a partir de Jerusalém, Judeia e Samaria aos confins da Terra.

A fé cristã é, em muitos aspectos, na visão apostólica, a consumação da esperança e da fé


judaica. Segundo os intérpretes imediatos da mensagem de Cristo, o Reino de Deus chegou ao

mundo dos homens na pessoa e na obra de Jesus Cristo, o Messias prometido. Ele, o Messias, é o

Filho de Deus, o Logos que estava com Deus, participou da criação do mundo e no devido tempo – a

plenitude dos tempos (Gl 4.4) – se fez homem e viveu e morreu para a salvação de todo aquele que

crê no seu nome.

O cristianismo tem quase dois milênios de história, divididos em períodos distintos:

Período Primitivo e Antigo – 30 a 590;

Período Medieval – 590 a 1517;

Período Moderno – 1517 a 1914; e


Período Contemporâneo – 1914 aos dias atuais.

A fé cristã foi analisada, confirmada, criticada e defendida em todos os períodos da história da

Igreja. Escrituras e tradição foram harmonizadas e contratadas em todas as tradições cristãs.

O cristianismo primitivo tem na figura dos apóstolos de Cristo e dos Pais da Igreja a melhor

expressão de sua doutrina e prática.

TEMA 1 – CRISTIANISMO PRIMITIVO E ANTIGO

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1.1 ELEMENTO MÍSTICO

O cristianismo é uma religião de revelação. A fé cristã se encontra explícita no Novo Testamento

(NT) e é exposta na tradição da Igreja que a produz, ensina e preserva no intuito de que haja uma só
Igreja e um só corpo de Cristo no mundo.

As escrituras cristãs foram produzidas num curto espaço temporal de cerca de 50 anos,

considerando a Carta de Paulo aos Gálatas como o primeiro documento cristão, e o Apocalipse o

último entre os considerados canônicos.

O ensinamento de Jesus Cristo e dos apóstolos confirma e amplia o ensino de Moisés e dos

profetas do Antigo Testamento. Yahweh é apresentado nas escrituras cristãs como o Pai de Jesus

Cristo, aquele que o ungiu e o enviou com a expressa missão de viver e morrer para, por meio de sua

vida, morte e ressurreição, conceder vida eterna a todos os que, arrependidos, crerem no Evangelho.

As escrituras cristãs dão testemunho da noção de continuidade e descontinuidade entre a fé


judaica e a cristã. No Novo Testamento (NT), há inúmeras citações e comentários a respeito das

escrituras hebraicas, o Antigo Testamento (AT). Os evangelistas Paulo, Pedro, João, Tiago e Judas

fazem constantes referências ao que foi escrito no AT, dando a entender que eles estavam lendo o AT

sob a ótica do evento de Cristo – identidade, obra e ensinamentos de Jesus Cristo.

Nas escrituras cristãs, encontramos ainda a noção de descontinuidade em relação à fé judaica.

No princípio da história da Igreja cristã, os judeus tentaram introduzir, sorrateiramente, a doutrina e

as práticas judaicas nas igrejas majoritariamente compostas por gentios – pessoas que não faziam

parte de comunidade judaica –, porém essa prática foi severamente combatida pelos apóstolos, que

se viram na função de apologetas da nova religião.

1.1.1 Evangelhos

Marcos, Mateus, Lucas e João se empenharam em escrever, de forma seletiva, o que Jesus fez e

ensinou. Quase um terço da narrativa bíblica a respeito da vida, morte e ressurreição de Jesus se

refere aos últimos 2 meses de seu ministério terreno. Fica evidente nisso que os evangelistas focaram

na obra expiatória de Cristo e sua vitória sobre a morte.

1.1.2 Atos dos apóstolos

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Lucas, o médico amado, companheiro de viagens de Paulo, escreveu o Evangelho e logo em

seguida um testemunho do surgimento e propagação da Igreja desde Jerusalém até Roma. O livro

conta, de forma sucinta e seletiva, a origem e a propagação da Igreja desde o momento de sua

formação em Jerusalém (c. 30 d.C.) até o momento em que Paulo se encontra preso em Roma (c. 62

d.C.).

1.1.3 Cartas

Paulo escreveu 13 cartas, sendo que 9 delas eram endereçadas a igrejas e outras 4 a líderes

locais. Tiago, irmão do Senhor, e Judas escreveram uma carta cada, Pedro escreveu duas cartas e
João, o ancião (a quem a tradição identifica como João, o apóstolo), escreveu 3 cartas. Uma carta,

cujo autor não é identificado, escreveu uma carta endereçada aos hebreus dispersos. Em cada carta

se vê a preocupação dos apóstolos em reforçar as crenças fundamentais da fé cristã e como essas

crenças devem influenciar a vida da Igreja e dos indivíduos que as compõem no mundo.

1.1.4 Apocalipse

A João, o ancião, foi concedida uma revelação, concedida pelo Cristo glorificado, na ilha prisão

de Patmos. Nessas visões, João antevê e escreve, valendo-se de figuras e eventos impressionantes, o

fim da história como a conhecemos. João mostra como Deus, por meio de Cristo, subjugará o mundo

rebelde e estabelecerá o seu trono entre os homens para sempre.

Figura 1 – Cronologia

Fonte: Araújo, 2021.

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1.1.5 Fé comum dos seguidores de Cristo

Os discípulos dos apóstolos, no intuito de sistematizar a fé que lhes foi confiada, elaboraram um

credo (O Credo Apostólico), que expressa com fidelidade aquilo em que os apóstolos criam e aquilo

que ensinavam:

Creio em Deus Pai onipotente e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor que nasceu do
Espírito Santo e da Virgem Maria, que foi crucificado sob o poder de Pôncio Pilatos e sepultado e

ao terceiro dia ressurgiu da morte que subiu ao céu e assentou-se à direita do Pai de onde há de vir
para julgar os vivos e os mortos. E no Espírito Santo na santa Igreja na remissão dos pecados, na

ressurreição da carne e na vida eterna. Amém (Bettenson, 1967, p. 54).

1.2 ERA CONCILIAR

Num período conturbado de indefinições teológicas, principalmente no cristianismo oriental de

fala grega, os líderes das igrejas se reuniram em concílios no intuito de dirimirem suas diferenças e

chegarem a um consenso doutrinário. Nesse período histórico, foram realizados quatro grandes

concílios.

Resumo dos principais concílios:

1.2.1 Niceia em 325

Nele, o arianismo, doutrina que negava a consubstancialidade do Pai e do Filho, foi condenado.

A doutrina da Trindade fica parcialmente definida.

1.2.2 Constantinopla I em 381

Nele, o credo de Niceia foi reafirmado; o macedonianismo e o apolinarismo foram condenados.

O Credo contantinopolitano afirmou a fé trinitária da Igreja:

Cremos em um Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e

invisíveis; e em um Senhor Jesus Cristo, o unigênito Filho de Deus, gerado pelo Pai antes de todos
os séculos, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não feito, de uma só

substância com o Pai, pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual, por nós homens e por nossa

salvação, desceu dos céus, foi feito carne do Espírito Santo e da Virgem Maria, e tomou-se homem,
e foi crucificado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos, e padeceu e foi sepultado e ressuscitou ao

terceiro dia conforme às Escrituras, e subiu aos céus e assentou-se à direita do Pai, e de novo há de
vir com glória para julgar os vivos e os mortos, e seu reino não terá fim; e no Espírito Santo, Senhor

e Vivificador, que procede do Pai, que com o Pai e o Filho conjuntamente é adorado e glorificado,

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que falou através dos profetas; e na Igreja una, santa, católica e apostólica; confessamos um só

batismo para remissão dos pecados. Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida do século
vindouro. (Credo..., [S.d.])

1.2.3 Éfeso em 431

O nestorianismo e o pelagianismo foram condenados. Estabelece-se a doutrina da dupla


natureza de Cristo e a doutrina da salvação unicamente pela graça de Cristo.

1.2.4 Calcedônia em 451

O Tomo de Leão foi aprovado; elaborou-se uma Definição de Fé contra o apolinarismo, o


nestorianismo e o eutiquianismo (Bettenson, 1967, p. 359).

1.3 ELEMENTO ESTÉTICO

O elemento estético do cristianismo primitivo e antigo incialmente se revestia de simplicidade e


singeleza de coração. A respeito disso, Lucas dá testemunho nos Atos dos Apóstolos (At 2.42 a 47 e

4.32 a 35). O culto cristão primitivo consistia em leituras dos textos do AT acompanhados de breves
comentários, espaço para manifestações carismáticas visando a edificação mútua e celebração da

Ceia do Senhor – 1Co 11 e 14.

O testemunho de Plínio, o jovem, (62-113 A.D), Governador da Bitínia, em carta a Trajano,


imperador romano, nos dá a conhecer como era o rito cristão primitivo. Segundo ele, os cristãos por

ele investigados:

Foram unânimes em reconhecer que sua culpa se reduzia apenas a isso: em determinados dias

costumavam comer antes da alvorada e rezar responsivamente hinos a Cristo, como a um deus;

obrigavam-se por juramento, não a algum crime, mas à abstenção de roubos, rapinas, adultérios,
perjúrios e sonegação de depósitos reclamados pelos donos. Concluído este rito, costumavam

distribuir e comer seu alimento: este, aliás, era um alimento comum e inofensivo (Bettenson, 1967,
p. 29).

Em grande medida, o culto cristão seguia um padrão similar em todos os lugares onde se
realizava. O Didaquê, no seu art. VII, prescrevia como deveria ser realizado o batismo:

Quanto ao batismo, batizareis na forma seguinte: tendo como antecipadamente disposto todas as

coisas, batizai em o nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, em água viva; se não tiverdes água
viva, batizai em outra água; se não puderdes em água fria, fazei em água quente. Se não tiverdes

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nem uma nem outra, derramai água na cabeça três vezes em o nome do Pai e do Filho e do Espírito

Santo.

No art. IX, encontram-se as prescrições a respeito da celebração da Ceia do Senhor:

No tocante à eucaristia, dareis graças desta maneira: primeiramente sobre o cálice: “Damos-te

graças, Pai nosso, pela santa vinha de Davi, teu servo, que nos deste a conhecer por meio de Jesus,
teu Servo. A ti seja glória eternamente!”. Em seguida, sobre o pão partido: “Damos-te graças, Pai

nosso, pela vida e pelo conhecimento que nos manifestaste mediante Jesus, teu Servo. A ti seja a

glória eternamente! (Bettenson, 1967, p. 100-101).

Na Era Constantiniana, a Igreja cristã sofreu grande influência do paganismo romano. Muitos

“convertidos” dentre os pagãos introduziram no culto cristão elementos espúrios e incompatíveis


com a simplicidade do evangelho de Cristo.

Os cultos de adoração aumentaram em esplendor e diminuíram em espiritualidade. Costumes e


cerimônias do paganismo foram pouco a pouco infiltrando-se nos cultos de adoração a Deus.

Algumas das antigas festas foram aceitas na igreja com nomes diferentes. Em 405, as imagens dos
santos e mártires começam a aparecer nas igrejas. A adoração a Maria substitui a adoração a Vênus e
Diana. A Ceia do Senhor (sacramento) passou a ser missa (sacrifício). O presbítero evolui a sacerdote.

A igreja cristã, na opinião de muitos, paganizou-se.

1.4 ELEMENTO ÉTICO

O Decálogo foi resumido e comentado por Jesus no Sermão do Monte. Em seu famoso sermão,

Jesus Cristo ratificou o Decálogo, em especial o conteúdo da segunda pedra – Mandamentos 6 a 10 –


Mt 5.16 a 48. Além disso, Jesus resumiu toda a lei de Moisés a dois mandamentos – Amar a Deus de

todo o coração e ao próximo como a si mesmo – Mt 22.34 a 40. Segundo ele, “destes dois
mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” – numa alusão a todo o conteúdo das escrituras

hebraicas.

Um tema delicado na teologia moral é a relação que há entre lei e Evangelho.

A Confissão de Fé de Westminster, no capítulo 19, em seus sexto e sétimo parágrafos, declara:

6. Embora os verdadeiros crentes não estejam sob a lei como um pacto de obras, para serem por

ela justificados ou condenados, contudo, ela serve de grande proveito, tanto a eles, como aos

demais. Como regra de vida, ela lhes informa da vontade de Deus e do dever que eles têm; os

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dirige e os obriga a andar conforme essa vontade; descobre-lhes também as pecaminosas poluções

de sua natureza, de seus corações e de suas vidas, de maneira que, examinando-se por meio dela,
alcançam mais profunda convicção de pecado, maior humilhação por causa dele e maior aversão a

ele, ao mesmo tempo lhes dá mais clara visão da necessidade que têm de Cristo e da perfeita
obediência a ele devida. [...] 7. Os supracitados usos da lei não são contrários à graça do evangelho,

mas suavemente se harmonizam com ela, pois o espírito de cristo submete e capacita a vontade do

homem a fazer livre e alegremente aquilo que a vontade de deus, revelada na lei, exige que se faça
(A Confissão..., 1999).

TEMA 2 – CRISTIANISMO MEDIEVAL

O período denominado medieval compreende o tempo decorrido desde a entronização papal de


Gregório Magno até a ruptura da Igreja Ocidental motivada pelo movimento denominado Reforma

Protestante.

2.1 ELEMENTO MÍSTICO

Desde Agostinho já havia na Igreja Ocidental uma tendência a compreender a teologia cristã
como essencialmente sacramental. Gregório Magno estabeleceu uma teologia fortemente voltada

para os sacramentos. Acompanhava essa inovação a ideia de que os padres (sacerdotes) tinham
poderes para transformar o pão em corpo de Cristo e assim repetia o sacrifício de Cristo – de forma

incruenta – cada vez que realizavam a missa. No pontificado de Inocêncio I (401-417 AD), foram
adicionados os sacramentos da ordenação e da extrema unção.

Ao rito do batismo se acrescentaram alguns detalhes, como soprar sobre o batizando, tocar em

suas orelhas ou fazer o sinal da cruz em seu peito. A Ceia do Senhor passou a chamar-se Eucaristia e
era a parte mais importante da missa, considerada como sacrifício a Deus em prol do perdão dos

pecados dos participantes. Finalmente, a Ceia do Senhor veio a ser considerada a repetição incruenta
do sacrifício expiatório de Cristo, por parte do sacerdote, para a salvação dos vivos e dos mortos.

2.2 ELEMENTO ESTÉTICO

Como consequência da adoção de uma teologia sacramental, a Igreja centralizou sua liturgia e
se apoderou da prerrogativa de ser a única que tinha a permissão divina de oficiar os ritos

sacramentais.

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O culto cristão, outrora singelo e participativo, passou a ser uma expressão dotada de

extraordinária riqueza cerimonial, algo indescritivelmente belo e sofisticado. A Eucaristia passou a ser
o centro da liturgia cristã. O cântico congregacional foi introduzido e a pregação passou a ser mais

retórica e formal.

Introduziram-se também comemorações que até então eram desconhecidas da cristandade,


como o Natal, a Páscoa e Pentecostes. Procissões foram introduzidas como forma de veneração aos

santos e suas relíquias. A prática da confissão auricular foi vagarosamente sendo introduzida na
Igreja e passou a ser um dos sacramentos considerados essenciais à salvação.

Templos magníficos foram erguidos e neles foram colocados gravuras, estátuas e objetos que
eram usados para promover o culto a Deus, a Cristo, aos anjos, aos santos e mártires da Igreja.

O distanciamento das práticas litúrgicas entre a Igreja oriental e a ocidental provocaram o

Grande Cisma de 1054. O Grande Cisma evidenciou a existência de duas tradições de fé no interior
da Igreja cristã, a tradição católica-romana e a tradição ortodoxa-oriental. Os pontos de controvérsia

eram quanto à data da celebração da Páscoa, ao uso ou não uso de pães com fermento na
celebração, ao uso ou não uso da barba pelos sacerdotes:

Em 1054, a despeito dos esforços mediadores do imperador, os legados romanos em

Constantinopla excomungaram o patriarca e Cerulário por sua vez os anatematizou; o Cisma era
total (Bettenson, 1967, p. 138).

2.3 ELEMENTO ÉTICO

A excessiva ênfase no elemento estético fez com que houvesse um esvaziamento do elemento
ético. Dois sistemas éticos distintos surgiram nesse período histórico:

Nós, no entanto, afirmamos que a vontade humana é ajudada divinamente no cumprimento da

justiça. Além de ser criada com liberdade de escolha, além de receber instruções de como se deve
viver, ela recebe ainda o Espírito através de quem surge no coração o gozo e a Paixão pelo Bem

supremo e imutável que é Deus; recebe-o desde agora enquanto caminha ainda na fé, e não por
visão. [...] Mas, se o caminho da verdade for escondido ao homem, o livre arbítrio apenas serve para

o conduzir ao pecado. Mesmo com a evidência do que deva fazer e almejar, se não sentir prazer e

amor, não cumprirá seu dever, nem mesmo intentará cumpri-lo, nem atingirá a vida reta. Eis por
que, a fim de sentirmos este afeto, "o amor de Deus foi derramado em nossos corações", não "pela

livre escolha que nasce de nós mesmos", mas "pelo Espírito que nos foi outorgado" (Rm 5.5)
(Agostinho de Hipona – De spiritu et littera 412, 5, citado por Bettenson, 1967, p. 89-90).

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O sistema ético de Tomás de Aquino afirmava que o supremo bem do homem é a visão e o gozo
de Deus. Para essa finalidade o homem foi criado e para isso precisa praticar as três virtudes

fundamentais: a fé, a esperança e o amor. Em função da Queda, Adão perdeu o dom da graça, e
seus poderes naturais foram corrompidos. Ele perdeu não somente a afeição por Deus, como

também desenvolveu uma inclinação ao pecado.

Aquino defendia que a penitência, acompanhada de contrição e satisfação, promove a


absolvição do pecador. Os impenitentes irão diretamente, ao morrer, para a condenação eterna. Os

que alcançaram a graça da absolvição que a Igreja oferece irão imediatamente para o céu, e a grande
maioria dos cristãos, por indolência e falta de piedade, sofrerão uma longa e penosa estada no

purgatório a fim de serem purificados de seus pecados remanescentes.

TEMA 3 – CRISTIANISMO MODERNO

O cristianismo moderno refere-se a um período conturbado e cheio de conflitos no contexto do

cristianismo ocidental. É nesse período que acontece a Reforma Protestante, fenômeno originador de
uma nova tradição de fé na Igreja de Cristo.

3.1 ELEMENTO MÍSTICO

O período denominado moderno inicia-se em 1517, ano em que Martinho Lutero fixou suas 95
teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, na Alemanha. Tempos depois, os estudiosos

chegaram a um consenso quanto a uma síntese dos ensinamentos dos reformadores. A essa síntese
deram o nome de Solas (do latim – somente)

1. Sola Scriptura – significa “somente a Escritura”. Uma das ênfases centrais da Reforma
protestante do século 16 foi a centralidade da Escritura;

2. Solus Cristus – significa “somente Cristo”. Esse princípio ensina que Cristo é o único
mediador entre Deus e a humanidade (1Tm 2.5 e 6) e que não há redenção por meio de

nenhum outro;

3. Sola Gratia – significa “somente a graça”. A Declaração de Cambridge afirma: “Reafirmamos


que na salvação somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça”;

4. Sola Fide – significa “somente pela fé”. A fé é estender mãos vazias em direção ao Cristo
crucificado. Tudo de que precisamos para entrar em uma relação correta com Deus foi

alcançado por Jesus em sua morte vicária. O que nos compete é estender as mãos para ele,

em fé, e implorar que ele venha a nós, pois, “a fé é somente a forma, a mão, que recebe o

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benefício oferecido e presenteado por Cristo, portanto o instrumento que recebe e se apega

ao benefício oferecido no evangelho”. (Ferreira, 2017);


5. Soli Deo Gloria – significa “somente a Deus seja a Glória”. Esse é o tema que coroa esse

importante movimento do século 16, uma vez que afirma que toda a glória deve ser dada a
Deus somente, não apenas por se dignar em vir a nós nas Escrituras, mas também pela

salvação, que é realizada “conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o

desígnio da sua vontade” (Ef 1.11): a expiação realizada por Jesus na cruz, também a
justificação do pecador, assim como o dom da fé, criado no coração do crente pelo Espírito

Santo (Ferreira, 2017).

Em reação ao movimento de Reforma, a Igreja romana lançou a chamada Contrarreforma. Uma

das ações mais significativas dessa inciativa foi a realização do Concílio de Trento no período de 1545
a 1563. Nesse concílio, a Igreja romana reforçou a teologia sacramental, a equiparação da tradição e

das Escrituras,

O Concílio de Trento foi, sem dúvida alguma, o fator mais determinante da Contrarreforma. O

papa Paulo III, o mesmo que autorizou a ordem jesuíta e estabeleceu a Inquisição romana, foi o
responsável pela convocação do referido concílio em 1544.

Na primeira sessão conciliar (de 1545 a 1547), várias questões doutrinárias foram abordadas,

dentre as quais a equiparação das Sagradas Escrituras e das sagradas tradições da Igreja. Também foi

adotada a Vulgata como a tradução oficial da Igreja Romana. Na Vulgata de Jerônimo, constavam
também os livros apócrifos, rejeitados pelos reformadores. A Igreja romana afirmou que a justificação

é pela fé e pelas obras conjuntamente. Os sete sacramentos foram definidos, e o dogma da

transubstanciação foi confirmado. Algumas reformas de caráter moral foram adotadas. Na terceira e

última sessão conciliar (de 1562 a 1562), os sacramentos foram reexaminados, e o assunto do
purgatório foi objeto de discussões.

3.2 ELEMENTOS ESTÉTICO E ÉTICO

A ruptura protestante fez surgir duas formas de se entender a doutrina da salvação. Por um lado,

a Igreja romana fortaleceu a noção de que “fora da Igreja não há salvação” e fez da teologia
sacramental o centro de sua crença numa salvação a ser obtida na permanência do fiel dentro da

instituição e agindo em função de sua salvação por meio da participação nos sacramentos e

realizando boas obras. Por outro lado, os protestantes insistiam numa salvação já oferecida

graciosamente por Cristo e apropriada pela fé.

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A forma de enxergar a salvação interfere grandemente na liturgia da Igreja e na perspectiva ética


também. Se a salvação é algo a ser alcançado pelo seguidor de Cristo, então tudo o que ele fizer –

seja liturgicamente, seja em seu modo de vida – será em função desse objetivo de alcançar a

salvação. Se, todavia, a salvação já foi obtida, resta ao fiel seguidor de Cristo vivenciá-la e tudo fazer

para honrar e agradecer a seu Salvador.

Assim, o culto cristão e a vivência cristã dependerão sempre do pressuposto que o cristão usa: se

romano, ele faz o que faz querendo ser salvo; se protestante, ele faz o que faz porque está salvo.

TEMA 4 – CRISTIANISMO CONTEMPORÂNEO

Desde a consolidação da tradição protestante (Paz de Westfália – 1648) até aos dias de hoje, o

cristianismo continua sendo representado, em todo o mundo, pelas três tradições – Católica romana,

Ortodoxa oriental e Protestante. Cada tradição reagiu de uma forma própria aos desafios da

modernidade.

Desde a Renascença, passando pelo Iluminismo, as revoluções políticas, culturais e industrial,


bem como pelo avanço científico e tecnológico, a Igreja cristã respondeu de formas variadas aos

desafios que o mundo contemporâneo apresenta à fé que, “de uma vez por todas”, foi entregue aos

seguidores de Cristo.

4.1 ELEMENTO MÍSTICO

Na tradição católica romana houve resistências à abertura de diálogos com a modernidade.


Trento representou o fechamento da Igreja ao diálogo com a sociedade em constante mudança. Por

meio de bulas papais e dos documentos canônicos, a Igreja permaneceu enclausurada em sua luta

por manter intacto seu tradicionalismo.

Contra seus opositores a Igreja romana dogmatizou a infalibilidade papal, a importância da

tradição, a necessidade dos sacramentos para a salvação, a doutrina da transubstanciação, a


veneração de Maria e a autoridade da Igreja em assuntos religiosos e seculares (Tillich, 1988, p. 212-

222).

A tradição protestante, por sua natureza mais aberta ao diálogo, caminhou no sentido de

reforçar a crença por meio de Confissões de Fé e documentos elaborados em defesa da fé diante do


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secularismo. No meio protestante surgiram teólogos conservadores (alguns moderados e outros

radicais e fundamentalistas) e liberais.

Os elementos constitutivos da fé cristã, mesmo a doutrina da autoridade, inspiração e inerrância

das Escrituras, sofreram ataques por parte de pensadores de fora e de dentro da tradição
protestante.

4.2 ELEMENTOS ESTÉTICO E ÉTICO

A tradição católica romana realizou dois Concílios importantes no Vaticano – O Vaticano I (1869-

1870) e Vaticano II (1962-1965). Vaticano I foi uma afirmação do conservadorismo da Igreja romana.
Já o Vaticano II deu claros sinais de abertura à cultura, à ciência e à modernidade.

Em sua obra Igreja, carisma e poder, o teólogo brasileiro Leonardo Boff (1981, p. 26) reconhece a

importância do Concílio Vaticano II:

Devemos reconhecer que este modelo, numericamente, é o mais vigente em toda a América Latina.

Praticamente a grande maioria assimilou o Vaticano II e fez a virada que se exigia em termos de
mentalidade teológica (teoria) e de presença no mundo (prática). A Igreja se libertou de uma carga

tradicional que a tornava pouco simpática ao homem moderno e conseguiu elaborar uma nova

codificação da fé que respondesse ao espírito crítico do homem urbano, assimilado dentro do


processo produtivo capitalista. Os intelectuais, antes em sua grande maioria anticlericais, agora

passaram a ter na Igreja uma aliada.

A Teologia da Libertação foi um fenômeno teológico, exegético e social que atingiu tanto a

tradição católica romana quanto a protestante. Pensadores cristãos, com viés liberal marxista,
propuseram uma releitura da Igreja levando-se em conta o pobre, os injustiçados e as minorias

oprimidas.

A tradição protestante, sentindo-se desafiada pela modernidade, elaborou um documento

chamado Pacto de Lausanne (1974). Nesse encontro, representantes de igrejas de mais de 150 países

se reuniram para discutir os rumos da pregação do evangelho no mundo atual. Um documento foi
redigido e ele tem servido de guia para a prática missional da igreja a partir de então. Os

representantes das igrejas propuseram um retorno às Escrituras e a adoção de um lema: “O

Evangelho Todo, para o Homem Todo, a todos os Homens”.

É importante, segundo esses representantes, identificar o cerne do evangelho. O Pacto afirma:

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Reconhecemos como centrais os temas:

1. Deus como Criador;

2. A universalidade do pecado;

3. Jesus Cristo como Filho de Deus, Senhor de tudo, e Salvador através de sua morte expiatória
e vida ressurreta;

4. A necessidade de conversão;
5. A vinda do Espírito Santo e seu poder de transformação;

6. A comunidade e missão da igreja cristã; e

7. A esperança na volta de Cristo (Pacto..., 2003).

E conclui:

Mesmo sendo estes os elementos básicos do evangelho, é preciso acrescentar que nenhuma

afirmação de cunho teológico é independente de considerações culturais. Portanto, todas as


formulações teológicas devem ser julgadas pela própria Bíblia, que fica acima de todas elas. [...] Nós

também, embora preocupados em contextualizar nossa mensagem, removendo dela toda ofensa

desnecessária, precisamos resistir à tentação de acomodá-la ao orgulho e preconceito humanos. Ela


nos foi dada. Nossa responsabilidade não é retocá-la, mas proclamá-la (Pacto..., 2003).

TEMA 5 – CRISTIANISMO E OUTRAS RELIGIÕES

O cristianismo no período primitivo teve a antipatia e sofreu perseguição por parte dos adeptos

do judaísmo. Com a Queda de Jerusalém, os judeus deixaram de ser uma ameaça à fé cristã e aos
seguidores de Cristo.

O paganismo greco-romano representou um grande desafio para a religião cristã. Desde Nero
(54-68 d.C.) até o Edito de Milão (313 d.C.), os seguidores de Cristo foram perseguidos e muitos

foram martirizados em todas as regiões do império romano. Em meio a grandes perseguições, a

religião cristã se propagou por todos o território romano e além dele. Aos poucos, a religião greco-
romana foi perdendo influência e prestígio, sendo substituída pela fé dos seguidores do Nazareno.

Quando os bárbaros invadiram os territórios antes ocupados pelo império romano, eles foram
evangelizados e convertidos ao cristianismo. Os cristãos organizaram esforços missionários e

vagarosamente os deuses nórdicos foram dando lugar à fé cristã.

A religião de Maomé, desde seu surgimento, representou um desafio imenso à fé dos seguidores

de Cristo. Os embates foram além do campo ideológico chegando às vias bélicas em sucessivas

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batalhas – as Cruzadas. Até os dias de hoje os ânimos continuam exaltados, principalmente em

função das tensões recorrentes no Oriente Médio.

Desde que teve contato com as religiões de matriz africana, o cristianismo viu nessas religiões

uma ameaça. As religiões de matriz africana são, em sua maioria, animistas. O cristianismo vê no

animismo uma forma primitiva de religião.

Os colonizadores cristãos das Américas, ao terem contato com a religião dos nativos americanos,

agiram com impostura e obrigaram os nativos a abandonarem suas práticas religiosas e adotar a fé
cristã.

As religiões orientais receberam dos cristãos o mesmo tratamento que as de matriz africana ou

ameríndia.

Desde que se livrou da opressão do Império Romano, a religião cristã teve enfrentamentos com

todas as religiões com as quais teve algum tipo de contato.

NA PRÁTICA

Sendo a religião com maior número de adeptos e devido à sua natureza universal e absolutista –

afirmando que somente os eleitos de Deus serão salvos – a religião cristã, desde sua origem, foi que
mais sofreu críticas e oposição por parte de renomados e desconhecidos pensadores.

O livre exame das Escrituras – pressuposto fundante do protestantismo – possibilita que

qualquer pessoa – simpático à fé cristã ou não – possa opinar a respeito das doutrinas e práticas

cristãs, sem o receio de ser perseguido por sua opinião (pelo menos tem sido essa a regra nos

últimos três séculos).

O conteúdo da fé cristã é oriundo de um livro específico – a Bíblia – e produzido num contexto


que permite que cada palavra seja lida e analisada em seu contexto. A natureza proposicional da fé

cristã dá a ela a possibilidade de ser compreendida e também questionada, ou mesmo refutada.

Os Vedas hindus, as Tripitacas budistas e o Alcorão, por exemplo, não são passíveis de serem

exegeticamente analisados. O caso do Alcorão, em função de retaliações que o exegeta poderá sofrer

por ousar analisar o texto sagrado islâmico com critérios investigativos. Por outro lado, as Escrituras

judaico-cristãs podem e devem ser analisadas exegeticamente.

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FINALIZANDO

A religião cristã é herdeira da religião judaica e parte dos mesmos elementos místicos e
revelacionais com consideráveis acréscimos.

A religião cristã não é fluídica, porém dinâmica, e se mostrou adaptada às constantes mudanças
do mundo ocidental.

A teologia cristã sempre esteve em diálogo com a filosofia ocidental, muitas vezes em condições

de controvérsias e algumas vezes em condições com concordância.

A estética cristã foi moldada pelos aculturamentos que a religião se permitiu fazer, ora

comprometendo o conteúdo, ora colocando o rito a serviço da crença.

A ética cristã, em algumas tradições e localidades, sofreu influência da excessiva ênfase aos ritos

como meios de graça e salvação.

Porém, a religião cristã continua em franco crescimento em diversas regiões do mundo e

apresenta sensível retraimento noutras.

REFERÊNCIAS

A CONFISSÃO de Fé de Westminster. Comentada por A. A. Hodge. Trad. Valter Graciano Martins.


São Paulo: Os Puritanos, 1999.

BETTENSON, H. Documentos da Igreja Cristã. Tradução de Helmuth A. Simon. São Paulo: Aste,

1967.

BOFF, L. Igreja, carisma e poder. São Paulo: Ática,, 1981

CREDO Niceno-Constantinopolitano. Pai Eterno.com, S.d. Disponível em:

<https://www.paieterno.com.br/oracao/credo-niceno-constantinopolitano/>. Acesso em; 16 set.

2021.

FERREIRA, F. Pilares da Fé – A atualidade da mensagem da Reforma. São Paulo: Edições Vida

Nova, 2017.

PACTO de Lausanne. São Paulo: ABU, 2003.

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TILLICH, P. História do pensamento cristão. São Paulo: Aste, 1988.

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/17

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