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DEUS É IMUTÁVEL EM SUA ELEIÇÃO

Deus é Imutável em Sua Eleição: Ef 1.4-7; 2Ts 2.13; 1Pe 1.2.


Ef 1.4-7: 4 Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo , para que fôssemos santos
e irrepreensíveis diante dele em amor; 5 E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si
mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, 6 Para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez
agradáveis a si no Amado, 7 Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo
as riquezas da sua graça,
Porque Deus é imutável sua eleição é imutável. Gottschalk afirmou que a eterna eleição é imutável:
“Deus, o imutável, predestinou imutavelmente, antes da fundação do mundo, todos os eleitos, por sua livre
graça, para a vida eterna”.
Justamente como Deus é imutável em seu ser e caráter, é também imutável em seu plano de
salvação. O que Deus determinou na eternidade pretérita não pode ser mudado com o passar do tempo.

OS CÂNONES DE DORT cap. 7


Esta eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual Ele, antes da fundação do mundo, escolheu
um número grande e definido de pessoas para a salvação, por graça pura. Estas são escolhidas de acordo
com o soberano bom propósito de sua vontade, dentre todo o gênero humano, decaído pela sua própria
culpa de sua integridade original para o pecado e a perdição.
Os eleitos não são melhores ou mais dignos que os outros, porém envolvidos na mesma miséria dos
demais. São escolhidos em Cristo, quem Deus constituiu, desde a eternidade, como Mediador e Cabeça de
todos os eleitos e fundamento da salvação. E, para salvá-los por Cristo, Deus decidiu dá-los a Ele e
efetivamente chamá-los e atrai-los à sua comunhão por meio da sua Palavra e seu Espírito.
Em outras palavras, Ele decidiu dar-lhes verdadeira fé em Cristo, justificá-los, santificá-los, e
depois, tendo-os guardado poderosamente na comunhão de seu Filho, glorificá-los finalmente. Deus fez
isto para a demonstração de sua misericórdia e para o louvor da riqueza de sua gloriosa graça. Como está
escrito: “... assim como nos escolheu nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus
Cristo, segundo o beneplácito [bom propósito] de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele
nos concedeu gratuitamente no Amado...”. E em outro lugar: “E aos que predestinou, a esses também
chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Ef
1.4-6; Rm 8,30).
O Arminianismo Moderno 1
O Sínodo de Dort não destruiu o movimento arminiano. Ele se espalhou por todo o continente e
mais tarde para a América Colonial. Ele sobrevive até hoje e, atualmente, desfruta de uma forte
restauração. Em 1989, Clark H. Pinnock publicou The Grace of God, the Will of Man, um livro designado
para defender o arminianismo.
No seu próprio estudo, no qual narra sua peregrinação do calvinismo para o arminianismo, Pinnock
observa: “Uma mudança teológica está a caminho entre os evangélicos como também entre outros cristãos
para longe do determinismo no que diz respeito à regra e salvação de Deus e em direção a uma orientação
mais favorável ao relacionamento pessoal dinâmico entre Deus, o mundo e as criaturas humanas de Deus.
A tendência começou, creio, por causa de uma leitura nova e fiel da Bíblia em diálogo com a cultura
moderna, que coloca a ênfase na autonomia, temporalidade e mudança histórica.
Pinnock recebe com prazer essa tendência e afirma que os grandes teólogos frequentemente
mudam de opinião. Ele cita Karl Barth como um exemplo, referindo-se a Barth como “indubitavelmente,
o maior teólogo de nosso século”. Ao avaliara essa tendência atual na teologia evangélica, ele ainda
menciona: “Ao mesmo tempo, no entanto, os calvinistas continuam sendo as principais figuras da
unificação evangélica, muito embora seu domínio tenha diminuído. Eles controlam razoavelmente o
ensino da teologia nos grandes seminários evangélicos; possuem e operam as maiores editoras; e, em
grande parte, conduzem o movimento da inerrância. Isso significa que eles são fortes onde importa – na
área da liderança intelectual e da propriedade… Embora haja muitos pensadores arminianos na
apologética, missiologia e na prática do ministério, há apenas alguns poucos teólogos evangélicos prontos
para defenderem as opiniões não-agostinianas”.
Sou menos otimista do que Pinnock sobre o atual estado do evangelicalismo. Talvez nós dois
avaliemos a situação de um ponto de vista preconceituoso, sofrendo da síndrome da “grama sempre mais
verde”. Pinnock indica que um propósito do The Grace of God, the Man é oferecer uma voz mais alta à
maioria silenciosa dos evangélicos arminianos”. Aqui ele afirma que a maioria dos evangélicos arminianos
está se afastando da influência que o pensamento agostiniano teve sobre eles. Ele diz: É difícil encontrar
um teólogo calvinista que deseje defender a teologia reformada que inclua as visões tanto de Calvino
quanto de Lutero em todos os seus particulares rigorosos, agora que Gordon Clark não está entre nós e
John Gerstner se aposentou. Poucos têm estômago para tolerar a teologia calvinista em sua pureza lógica”.
O dr. Gerstner morreu após essas palavras terem sido escritas, assim talvez precisemos da lâmpada
de Diógenes para encontrar teólogos calvinistas que defendam tanto Lutero quanto Calvino com vigor.
No entanto, as notícias do fim do calvinismo são um pouco exageradas uma vez que ainda existem muitos
com estômago teológico de ferro.
Na sua própria peregrinação, Pinnock chegou a questionar a onisciência e presciência de Deus. Ele
entende a relação essencial entre esses atributos divinos e as doutrinas da eleição e livre-arbítrio. Ele
escreve:
Finalmente, tive de repensar a onisciência divina e, relutantemente, perguntar se devemos pensar
nela como uma presciência exaustiva de tudo o que irá acontecer, como a maioria dos arminianos pensa.
Descobri que não poderia livrar-me da intuição de que uma onisciência total como essa, necessariamente
significaria que tudo o que iremos escolher no futuro já teria sido soletrado no registro de conhecimento
divino e, consequentemente, a crença de que temos escolhas verdadeiramente significantes a fazer
pareceria ser um erro. Conhecia o argumento calvinista de que a presciência completa era equivalente à
predestinação porque implica imobilidade de todas as coisas desde a “eternidade passada”, e não poderia
me livrar da sua força lógica.
É importante notar que a nova visão de Pinnock sobre a presciência de Deus vai além da visão da
maioria dos arminianos, como ele indica. Ela parece ir muito além das visões sustentadas no conceito do
meio-conhecimento desenvolvido pelo jesuíta espanhol Luis Molina. Esse conceito é habilmente
explicado por William Lane Craig em The Grace of God, the Will of Man, e também desenvolvido de
forma clara por Alvin Platinga. Pinnock tenta escapar da “lógica” da presciência completa na teologia
reformada clássica. Ele diz:
Por essa razão, tive de me perguntar se era belicamente possível sustentar que Deus conhece tudo
oque pode ser conhecido, exceto a escolha livre que não seria algo que pudesse ser conhecido até mesmo

1 SPROUL, R. C. Sola Gratia. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 155-159.
por Deus porque ainda não está resolvida na realidade… Deus pode predizer bastante do que iremos
escolher fazer mas não tudo porque alguma coisa permanece escondida no mistério da liberdade humana…
…Naturalmente a Bíblia louva a Deus por seu conhecimento detalhado do que irá acontecer e o
que ele mesmo irá fazer… O Deus da Bíblia revela uma abertura para o futuro que a visão tradicional da
onisciência simplesmente não pode acomodar…
…Precisamos de um teísmo do “livre-arbítrio”, uma doutrina de Deus que anda no caminho
intermediário entre o teísmo clássico, que exagera a transcendência de Deus do mundo, e o teísmo do
sistema, que reivindica a imanência radical.
Essa declara expressa algo do pensamento seminal de Pinnock, desenvolvido de forma mais
completa no volume posterior The Openness of God. O que é digno de nota aqui é que Pinnock claramente
percebe que está desafiando não meramente o calvinismo clássico mas também o próprio teísmo clássico.
Ele procura reconstruir a teologia em algum lugar entre o teísmo clássico e a teologia do processo. Ele a
chama de “teísmo do livre-arbítrio” porque a força condutora por trás dessa nova doutrina de Deus é a
preocupação em manter a visão arminiana do livre-arbítrio humano. No The Openness of God, Pinnock
reitera sua crítica da doutrina da onisciência no teísmo clássico como as da imutabilidade e da onipotência.
Na superfície, essa reconstrução da doutrina de Deus parece carregar uma etiqueta de alto preço se
alcançar a abertura que Pinnock deseja. No nível prático, admiramos como Deus pode saber qualquer coisa
sobre o futuro exceto o que ele pessoalmente pretende fazer (intenções que são, elas mesmas, aberta às
mudanças enquanto ele reage às decisões futuras dos homens). Se a História não é afetada de modo algum
pelas decisões dos homens e se o conhecimento de Deus não inclui as futuras decisões humanas, como
Deus pode conhecer tudo sobre o futuro da história do mundo? Como podemos encontrar qualquer
conforto no futuro que Deus prometeu para o seu povo se esse destino futuro jaz nas mãos dos homens?
Âncora de nossa alma foi arrastada do seu ancoradouro. Não temos razão para confiar em nenhuma
promessa que Deus fez sobre o futuro. Não apenas os melhores planos traçados dos ratos e homens se
perdem, mas também que se perdem, semelhantemente, os melhores planos do Criador dos ratos e dos
homens.
Essa fascinação com a abertura de Deus é um ataque não ao calvinismo ou mesmo ao teísmo
clássico, mas ao próprio Cristianismo.

“A imutabilidade em Deus é uma “glória que pertence a todos os atributos de Deus. Deus possui
atributos e perfeições que são diferentes, “mas a imutabilidade é o centro em que todos se unem”. Aquilo
que Deus é, ele é eterna e imutavelmente”. 2
“A imutabilidade de Deus impede qualquer mudança em seu conhecimento. Charnock afirma,
então, que Deus sabe todas as coisas desde a eternidade porque seu conhecimento é infinito. Ele conhece
todas as coisas de uma só vez porque não existe passado nem futuro em Deus, apenas o presente”. 3
A imutabilidade de Deus, não é violada pela geração do Filho e pela processão do Espírito, pois
para o Deus o Pai, pertence à paternidade, e para seu Filho, à filiação, e para o Espírito Santo, à processão
que é “eterna, interminável e incessante” (São João Damasceno). As palavras, cheias de mistério, “A
geração do Filho” e a “processão do Espírito,” não expressam nenhum tipo de mudança na vida divina ou
nenhum tipo de processo; para nossas mentes limitadas, “geração” e “processão” são simplesmente
colocadas em oposição à ideia de “criação” e falam da única Essência (ousia) das pessoas ou de Deus. A
criação é alguma coisa externa em relação Àquele que cria enquanto que a “filiação” de Deus é uma
unidade interna, a unidade da natureza do Pai e do Filho; tal é também a “processão” da Essência de Deus,
a processão do Espírito do Pai que a causa.
A Encarnação e o tornar-se homem, do Verbo, do Filho de Deus, não viola a imutabilidade de Deus.
Só criaturas em suas limitações perdem o que elas tem, ou adquirem o que elas não tem; mas a divindade
do Filho de Deus permanece depois da Encarnação sendo a mesma que era antes da Encarnação. Ela
recebeu em sua Hipóstase, na unidade da Divina Hipóstase, natureza humana da Virgem Maria mas ela
não formou disso nada novo, natureza misturada, mas preservou sua Natureza Divina sem mudança.
A imutabilidade de Deus não é contraditada, da mesma forma, pela criação do mundo. O mundo é
uma existência, que é externa em relação à natureza de Deus. Por isso Ele não muda nem a essência nem

2 Op. Cit. BEEKE, Joel R, p. 109.


3 Op. Cit. BEEKE, Joel R, p. 110.
os atributos de Deus, pois a origem do mundo é só uma manifestação do poder e pensamento de Deus. O
poder e pensamento de Deus são eternos e são eternamente ativos, mas nossa mente de criatura não
consegue entender o conceito dessa atividade na eternidade de Deus. O mundo não é coeterno com Deus;
ele é criado. No entanto, a criação do mundo é a realização do pensamento eterno de Deus (Bem
Aventurado Agostinho). O mundo não é como Deus em sua essência e assim ele tem que ser mutável e não
é sem um começo; mas esses atributos do mundo não contradizem o fato que seu Criador é imutável e sem
começo (São João Damasceno).

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