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PREDESTINAÇÃO E LIVRE ARBÍTRIO NA VISÃO CALVINISTA.

Soteriologia calvinista explicada

Alan Alves Batista dos Santos Bacharelando em teologia interconfessional no


Centro Universitário Internacional Uninter

1 RESUMO

Predestinação e livre arbítrio na visão calvinista. Tal problemática consiste no


objetivo expor a doutrina soteriológica do calvinismo, que influencia na maneira de
entender até que ponto se tem o poder de escolha e livre arbítrio mediante a
manifestação da graça redentora na vida do homem, em contraste com a visão arminiana
que defende o poder de escolha humano acima dos decretos divinos, permitindo que o
leitor observe com óculos calvinistas a forma de enxergar o processo de salvação uma
vez que em sua maioria as igrejas contemporâneas ensinam soteriologia sem expor qual a
vertente de que ela está sendo tirada, este artigo fará que haja sensibilidade ao leitor
para identificar qual visão teológica faz mais sentido diante da interpretação reformada,
havendo a visualização dos cinco pontos do calvinismo e os cinco pontos do
arminianismo, também a identificação de qual liberdade que há no evangelho e se a
predestinação é bíblica ou não, e de que forma isso funciona na vida prática do cristão e
do não crente, o método de pesquisa é qualitativo, com pesquisas em artigos, livros e
fontes históricas sobre a história da reforma protestante. O estudo mostra que a visão
teológica calvinista reconhece a soberania absoluta de Deus a eficácia do sacrifício, a
veracidade das escrituras e refuta os argumentos sinergistas do arminianismo.

Palavra-chaves: Calvinismo, livre arbítrio, monergismo, arminianismo, sinergismo.

2 Introdução

Sabe-se que o homem gosta de ter o controle de sua vida, porém as


doutrinas da graça mostram que na verdade Deus é quem possui o controle de tudo
inclusive da salvação, mas dentro desse entendimento surgem diversos
questionamentos: Se somos predestinados podemos viver como quiser, que no final
seremos salvos? Se não possui-se livre arbítrio para escolher a salvação então Deus é
um Deus tirano que leva a fazer o que não queremos? Se tudo é programado somos
como robôs? Essas são perguntas frequentes quando se inicia um estudo sobre esse
tema, tais como afirmativas que dizem: Deus não iria escolher uns e outros não, Deus
é somente amor, a salvação se não cuidar é possível perde-la. Essas e outras
problemáticas serão tratadas durante a exposição de cada ponto doutrinário.
A doutrina da predestinação apresentada pelas escrituras, ficou muito
conhecida através do teólogo João Calvino que sistematizou as conhecidas doutrinas
da graça onde se divide em cinco pontos: Depravação total, expiação limitada, Graça
irresistível, eleição incondicional e perseverança dos santos, essas doutrinas são a
essência da reforma protestante que foram analisadas e confirmadas através do
sínodo de Dort na Holanda entre 1618 e 1619, esse sínodo realizou 154 cessões
formais no período de 7 meses analisando as afirmativas e confirmando-as como a
verdadeira interpretação bíblica sobre a soteriologia dentro das igrejas reformadas,
ensinos que mostram a absoluta soberania de Deus diante da salvação dos
pecadores.
O conhecimento das doutrinas da graça são de extrema importância para
todos que professam a fé cristã, devido a diversidade teológica contemporânea o
entendimento de muitos sobre a salvação é falha e superficial, tornando o homem
responsável pela sua salvação baseada em obras, e as doutrinas da graça fazem
exatamente o contrário, mostram a absoluta soberania de Deus, assim dando o
descanso na segurança da salvação e aprofundamento do entendimento no campo
soteriológico. Este artigo cientifico irá expor as doutrinas de modo claro para que haja
entendimento sobre como a salvação ocorre em seus processos, será analisado
biblicamente como o pecador é alcançado desde a eternidade, extrair conhecimento
sobre o processo da salvação no homem, desde o chamado até a santificação.
Identificar até que ponto o homem é capaz de agir conforme sua própria vontade em
relação a sua salvação.
As fontes de foram realizadas em livros e documentos e principalmente na
bíblia, buscando fontes exegéticas e hermenêuticas que abrangem a exposição e
defesa do tema proposto.
Para Roberto L. Renner (Olson,1999, p.403)” Já que tudo é pré-determinado
por Deus e nenhum ser pode determinar as coisas por si mesmo, logo tudo que temos
e vemos é uma manifestação de Deus’’. “Para Calvino, tudo o que acontece está
debaixo da soberania de Deus; o mal não acontece somente por permissão de Deus,
mas pela vontade ativa de Deus que não conseguimos compreender, o que nos
conduz a entender a forte ênfase à predestinação. Alguns são criados para a salvação
eterna outros para a condenação eterna. Deus não é a fonte do mal, mas o usa para
alcançar objetivos.” (Hägglund,1989,p.151)
Se o pecado é algo que acompanha o ser humano, logo, a salvação é
atribuída somente à graça, e assim ela se torna irresistível. Isso não significa que Deus
força o ser humano violentando a decisão; Ele conduz a pessoa a mudar a vontade ao
ponto de que, voluntariamente, escolha o que é certo. A graça é concedida ao homem
não porque ele crê, mas para que possa crer, pois a fé é dom de Deus (Berkhof,1983,
p.90) Roberto L. Renner. Historia da teologia. edi. Intersaberes, 2017.
Essa doutrina é de certo modo uma polêmica entre a cristandade a centenas
de anos, este artigo trará um norte sobre esse assunto por mais que ele vá além da
compreensão humana.

3 Metodologia

A forma de abordagem é qualitativa, baseada em pesquisas de caráter reformado


e apologético de teólogos que exploraram a doutrina da predestinação, dentro das
escrituras sagradas e trouxeram consigo a reflexão sobre o funcionamento do processo
de salvação do homem.

4 Início da explanação da doutrina na igreja primitiva.

O termo predestinação tem sido debate há média de 500 anos, mas teve seus
primeiros estudos registrados e abordados por Agostinho de Hipona nascido no ano de
353 d,C faleceu em 430 d.C Agostinho tinha o entendimento de que Deus é o bem
absoluto e isso era o que dava subsídio para suas ações e seus pensamentos. Para ele,
Deus não pode ser entendido pela razão somente. Essa ideia começou a fazer parte da
vida de Agostinho após o momento de sua conversão. Depois disso, ele começou a
criticar o neoplatonismo, uma tentativa de produzir uma síntese abrangente de filosofia e
dos ideias religiosos – nela, o espírito é bom e a carne é má, é um cristianismo sem Cristo.
(Osborne, 1998).
Agostinho vê que a livre escolha somente pode ser restaurada com a operação da
graça divina. Para exemplificar esse conceito ele compara a nossa vida com uma balança
com dois pratos: o bem e o mal. Inicialmente os pratos estavam equilibrados e podíamos
escolher entre o certo e o errado. Mas quando houve a queda, alguns pesos grandes
foram colocados sobre o prato mal, assim a balança ainda funciona, mas está bastante
tendenciosa ao mal. Logo nosso julgamento hoje é seriamente afetado pelo pecado;
ainda temos livre escolha, mas ela está comprometida (McGrath,1998). Em resumo
agostinho acreditava que o homem era completamente tendencioso ao mal e que Deus é
absolutamente soberano diante da criação.

5 A doutrina entre os reformadores da igreja.

Esse tema especifico tomou proporção em tempos da reforma protestante,


quando a teologia reformada estava se expandindo na Europa, no séc XVI, onde a ênfase
que a salvação era somente pela fé. Com esse movimento se levantaram muitos homens
impulsionados pela vontade de ensinar a palavra de Deus para a população que a tempos
estavam presos em falsas doutrinas justamente por não conhecer as escrituras, tais
homens como João Calvino (1509-1564), Ulrich Zwingli (1484-1531), Jan Hus (1369-1415) ,
entre outros, tais pregadores enfatizavam a doutrina da predestinação, que começou a
incomodar pessoas que não concordavam com essa doutrina, que implicava diretamente
no processo da salvação, desde antes da fundação do mundo até a eternidade da era
vindoura, em especifico Jacob Arminios (1509-1560), foi discípulo de Theodoro Beza, o
sucessor de Calvino. Armínio voltou-se para as doutrinas humanistas e compactuou com a
visão soteriologia sinergista, segundo a qual a salvação não é um ato que depende
somente de Deus mas também do homem. Assim iniciou a controvérsia entre Armínio e
os calvinistas, onde suas principais divergências estavam no entendimento das doutrinas
da predestinação e salvação. Na intenção de derrubar as doutrinas reformadas Armínio
pediu a convocação de um sínodo nacional, onde essas doutrinas deveriam serem revistas
para identificar se eram verdadeiras ou não, mas infelizmente ele morreu antes da
reunião que ocorreu em 1618 e 1619 em Dordrecht na Holanda. O Sínodo foi convocado
pelo Estado para tratar da Remonstrância, documento exposto pelos seguidores de
Jacobus Arminius, que questionava as doutrinas reformadas, e queriam uma reanalise da
Confissão Belga e do Catecismo de Heidelberg. Neste documento continha cinco tópicos
que tratavam sobre a, expiação de Cristo, predestinação, livre-arbítrio, a graça de Deus e
a perseverança dos santos. Os artigos foram analisados e rejeitados, a mesma comissão
preparou regras em que rejeitavam as doutrinas arminianas e explanou em cinco artigos a
fé reformada. Tendo então os Cânones de Dort como resultado final das reuniões deste
Sínodo. Os conhecidos 5 pontos do calvinismo dos quais devem ser analisados um a um
para melhor compreender o plano da redenção dentro da predestinação e da liberdade
humana.

6 Os cinco pontos do calvinismo

Depravação total: Defende a ideia que o homem já nasce pecador tendencioso ao


mal, devido ao pecado que há no DNA humano desde a queda de Adão e Eva Gn 3;1-24
onde toda a criação foi modificada por causa do pecado. Sendo assim todos destituídos
da glória de Deus Rm 3;23-25, e por causa disso incapazes de buscar a Deus ou reconhecer
Jesus como Senhor e salvador de suas vidas por vontade própria, Ef 4;8-10, por natureza
somos distantes de Deus e não desejamos nos aproximar dele Rm 3; 9-12, a prova de que
todos estão debaixo do pecado, é que todos morrem Gn 3;3.

Eleição incondicional: As escrituras nos mostram que Deus em sua soberana


vontade elegeu quem seria salvo antes da fundação do mundo “Ef 1; 3-5 Bendito o Deus e
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais
nos lugares celestiais em Cristo, como também nos elegeu nele antes da fundação do
mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor, e nos
predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o
beneplácito de sua vontade.” Sendo assim Deus de antemão sabia sobre a queda, e
preparou o plano de redenção antes mesmo do mundo ser criado, uma vez que a
natureza humana corrompida jamais buscaria Deus por vontade própria o Criador
determinou a salvação daqueles a quem escolheu desde a eternidade tornando isso um
designo eterno e imutável da qual a criatura não consegue se desvencilhar Rm 11;5-10,
uma vez que toda criação se dobra ao querer de Deus mas não por força e sim por amor e
convencimento agradável, At 13;48.
Expiação Limitada; Doutrina da qual expõe que Jesus não morreu por todos do
mundo, mas em especifico apenas para as pessoas que creem, pois quem não crê já está
condenado. Jo3;18, em suma as escrituras não trazem uma ideia de expiação ilimitada Mc
14;24, onde as possibilidades de salvação do homem são em números infinitas e
condicionais. “Jo 17;9-20 Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me
tens dado, porque são teus; E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que
pela sua palavra hão de crer em mim.” Muito pelo contrário, Cristo traz diversas vezes a
ideia de um grupo reservado que não se soma a totalidade dos demais, quando ele diz
que morreu por muitos, Mt 26;28 e não por todos, Muitos serão chamados mas poucos
escolhidos Mt 22;14, a porta dos céus é estreita e poucos são os que passam por ela Mt
7;13-14. Tais versos e vários outros mostram claramente que Cristo não morreu por todos,
mas em especifico pelos eleitos antes da fundação do mundo, pois para os tais seu
sacrifício é efetivo e eficaz. Rm 8;32-34.

Perseverança dos Santos; Tambem conhecida como a doutrina da preservação dos


santos enfatiza a segurança eterna, que todos aqueles que foram eleitos por Deus desde
a eternidade para a salvação permanecem nos caminhos do Senhor em constante
santificação através da ação do próprio Deus em suas vidas sendo impossível os mesmos
se afastarem do Senhor a ponto de deixarem de merecer o favor imerecido da salvação
em Cristo, porém em nenhum momento anulando a responsabilidade humana Fp 2;12 diz
“desenvolvei a vossa salvação” porém acrescenta Fp 2:13 “porque é Deus quem efetua
em voz, tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” a certeza da
salvação é o que Cristo menciona “jamais perecerão, e ninguém os arrebatará da minha
mão” Jo 10;28.

Graça irresistível; Também conhecida como a doutrina do chamado eficaz ensina


que, uma vez que a pessoa foi eleita para a salvação, em determinado momento de sua
vida ocorrerá o chamado, onde através da ação de convencimento feita pelo Espirito
Santo Jo 16:7-11, haverá transformação genuína no coração Ez 11;19 , que gerará no
individuo arrependimento verdadeiro, e reconhecimento de Cristo Jesus como Senhor e
Salvador de sua vida. Jo 10 ;16-27. Sem que haja escapatória de tal destino uma vez que
faz parte dos decretos de Deus desde a eternidade, assim como toda a natureza se curva
ao querer de Deus, o coração do homem também quando se trata de salvação, porém
isso não ocorre por força, mas sim de forma agradável e eficaz, Atos 13;48 “Ao ouvirem
essa declaração, os gentios se alegraram sobremaneira e glorificaram a palavra do
Senhor. E todos quantos haviam sido escolhidos para a vida eterna creram de coração.”

Soberania exaustiva; Doutrina da qual enfatiza a soberana vontade do Senhor


sobre toda a criação, sobre a morte e a vida Dt 32;39, sobre a guerra e a paz Is 45;7 , e que
absolutamente nada sai dos planos do Senhor Is 46:10 inclusive da salvação “ mas há
alguns de vós que não creem. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os oque não
criam, e quem era o que o havia de entregar. E continuou: Por isso vos disse que ninguém
pode vir a mim, se pelo Pai não for concedido.” Jo 6;64-65.

Analisando esses cinco pontos podemos perceber que o ato de eleição, expiação
e salvação é do início ao fim orquestrada por Deus, o homem entra somente com o
pecado Deus faz todo o resto. Porém isso implica diversos questionamentos em relação
ao nosso poder de escolha, pois se Deus orquestrou tudo, como o homem pode ser capaz
de tomar decisões por conta própria e de que forma isso afeta seu livre arbítrio se é que
ele existe. Para entendermos melhor qual visão teológica possuí mais peso diante das
escrituras também se faz necessário saber os cinco pontos do arminianismo, que é a visão
oposta das doutrinas da graça cinco pontos elaborados e apresentados pelos seguidores
de Jacob Arminius, onde questionaram as doutrinas calvinistas que estavam sendo
ensinadas nas igrejas reformadas.

7 Cinco pontos do arminianismo

Vontade livre: O homem é capaz de fazer decisões a cerca de todas as coisas de


sua vida, inclusive a salvação. (Gn 6,5 e 8,21 / Sl 14,1-3 e 51,5,/ Rm 3,10-18 / Ef 2,1-3).

Eleição condicional: O homem é pecaminoso e depravado, e não faz nada de bom


pela sua natureza e pelo pecado original que ocorreu no Éden, sendo assim depende da
ação de Deus, através de Cristo para ser convencido do pecado do juízo e da justiça,
porém no momento que a graça o alcança ele tem o poder de escolha de aceitar ou não a
salvação, assim não dependendo de Cristo mas de si próprio a fazer essa escolha e ser
salvo e Deus o elege na eternidade pela presciência por olhar toda a vida do homem
antes de seu nascimento e assim o eleger, porque viu que ele se converteria a Cristo.(Rm
8, 28-30 / Ef 1,4-5 e 11-13 / 1Pe 1,1-2)
Expiação universal ou ilimitada: Deus quer salvar a todos, e não quer que nenhum
homem se perca, por isso o sacrifico de Cristo tem poder para salvar toda a humanidade,
mas depende de cada homem decidir exercer sua livre vontade de escolher a Deus. (João
1,29 e 3,16 / Rm 5, 6 e 18 / 2 Co 5,14-15 / 1Tm 2,4-6 e 4,10 / 2Pe 2,1 / 1Jo 2,2)

Graça resistível; Deus quer que o homem seja salvo, por isso envia seu Espirito
para convence-lo, porem os planos de salvação de Deus podem ser frustrados pela
vontade do home caso ele exerça a livre vontade e escolha e não aceitar Jesus como
Senhor e salvador (Is 65,2-3 / Jr 7,23-24 / Mt 23,37 / Lc 7,29-30 / At 7,51 e 13,45 / 2Tm 3,8)

O decair da graça: O homem mesmo após a regeneração e conversão, ele pode


pela sua livre vontade decair da graça e quebrar a aliança com Deus, perdendo assim a
sua salvação (Mt 24.12,13/ Lc 9.62 e 17.32/ Jo 15.6 / Rm 11.17-21 / 1Co 9.27 /Gl 5.4 / Ap 3.5 /
1Tm 1.19 e 4.1; 2 / Tm 2.10,12; Hb 3.6,12,14 / 2Pe 2.20-22 / 1Co 15.1-2 e 2Co 11.3-4).

Por mais que a visão arminiana seja a predominante na cristandade, possua


muitos versos que podem ser usados para a defesa dessa interpretação, e pareça uma
forma mais humana e misericordiosa que combina mais com a visão de um Deus
amoroso, ela também põe em check a soberania de Deus, a firmeza de seus decretos e o
torna dependente do homem para agir, veremos a seguir as refutações entre essas visões
na defesa da visão monergista, antes é necessário a identificação dos termos.

O monergismo é a linha de pensamento que entende que no relacionamento


entre homem e Deus, somente Deus é quem haje de forma benéfica e constante com o
homem, principalmente no que tange a salvação, uma vez que é o próprio Deus quem
capacita, direciona e preserva a pessoa pelo caminho eterno, por isso o pensamento
calvinista é monergista.

O sinergismo que do mesmo modo trata sobre o relacionamento entre Deus e


homem entende que ambos tem papeis fundamentais em sua salvação, Deus alcança o
homem, porem o mesmo possui poder de escolha, se aceita ou não a vontade de Deus
em sua vida.

8 Divergências entre o calvinismo e o arminianismo.


Veremos a seguir um contraste entre ambas visões e por qual motivo o
arminianismo ou a visão sinergista não é aceita pelas igrejas reformadas.

Liberdade humana arminiana versus Depravação total calvinista;


Na doutrina da liberdade humana que defende o livre arbítrio, de escolhas inclusive a
da salvação, o homem deve cooperar com Deus e aceitar o chamado, porém se caso
não quiser, ele pode dizer “não” e simplesmente frustrar os planos do criador, isso
seria um sério problema em relação ao texto; “Como está escrito: Não há um justo,
nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus.
Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem,
não há nem um só.” Romanos 3;10, o apóstolo Paulo enfatiza na sua epístola que o
homem natural é incapaz de buscar a Deus por conta própria, devido a sua natureza
caída, não que o homem não seja capaz de ter atitudes boas, porém dentro da
escolha da salvação, se não houver uma ação miraculosa do Espirito Santo na pessoa,
ela jamais buscará a Deus, por esse motivo é que o Espirito Santo foi enviado para
Terra: Jo 16:7-11 “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do
juízo. Do pecado, porque os homens não creem em mim;
da justiça, porque vou para o Pai, e vocês não me verão mais;
e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está condenado.” Se o homem
fosse capaz de escolher a Deus, não seria necessário o convencimento do Espirito
Santo.
Eleição condicional arminiana versus Eleição incondicional
calvinista; Na eleição condicional, Deus elegeu baseado na presciência, (1Pedro1:2) ,
sendo assim antes da fundação do mundo Deus viu o futuro do homem para saber se
ele se converteria ou não, para então o eleger, o problema é que isso entra em
contradição com a graça pois passaria a ser um favor merecido e outro com a própria
doutrina arminiana do decair da graça, pois se o homem pela sua própria escolha
pode perder a salvação, então nesse caso Deus falhou na eleição e na sua presciência.
Na eleição incondicional Deus elegeu os seus baseado na sua soberana vontade, não
dependendo de qualquer requisito humano para salvar e por isso é pela graça (favor
imerecido), aqueles a quem Deus soberanamente elegeu, Ele os convence pelo
Espirito Santo e os atrai até Cristo Jesus os conduzindo de forma amigável e
incondicional a salvação. Os fazendo santos e irrepreensíveis diante dele. Em amor
nos predestinou para ele, para sermos adotados como seus filhos, por meio de Jesus
Cristo, segundo o propósito de sua vontade”, como podemos observar no texto,
Deus predestinou os que lhe pertencem por meio de Cristo Jesus, antes da fundação
do mundo, de forma que não é possível se desvencilhar do decreto eterno uma vez
que os planos de Deus não podem ser frustrados : (Jó 42:2 Sei que podes fazer todas
as coisas; nenhum dos teus planos pode ser frustrado.)
Expiação ilimitada arminiana vs expiação limitada calvinista; Na
expiação ilimitada o sacrifício de Cristo ocorreu para salvar a todos da terra, porém
essa salvação só ocorre se o homem aceitar pois possui livre arbítrio, então o sacrifico
de Cristo se torna eficaz somente aos que creem. Na expiação limitada o sacrifício de
Cristo foi feito para salvar exclusivamente os eleitos antes da fundação do mundo,
somente os que creem verdadeiramente, sacrifício eficaz que redime seu povo, e não
apenas que tenta, mas faz.
Graça resistível arminiana vs graça irresistível calvinista; Na graça
resistível, Deus faz o possível para salvar os pecadores, mas esses possuidores de livre
arbítrio podem resistir a graça e assim não serem salvos frustrando os planos de
redenção, desse modo admitindo que a graça é resistível e falha, por não possuí
eficácia em alcançar o homem e convence-lo, pois esse consegue resistir até a
vontade de Deus. Na graça irresistível o homem comum pode resistir ao chamado de
Deus através da pregação, porém a graça é estendida de forma especial aos eleitos,
de maneira que irresistivelmente são convencidos de forma agradável e
voluntariamente levados ao arrependimento e a fé em Cristo Jesus de forma eficaz.
Decair da graça arminiano versus a preservação dos santos
calvinista; No decair da graça o homem mesmo após ter escolhido crer em Cristo,
ter se convertido para viver uma vida de gradativa santificação, deve perseverar até o
fim para ser salvo, mas em algum momento de sua caminhada ele pode escolher parar
de seguir a Cristo e consequentemente perder a salvação, o que impõe
implicitamente que o Espirito Santo não convenceu direito esse pecador, de forma
que o seu nome pode ser escrito e apagado diariamente no livro da vida de acordo
com sua vontade, tornando a graça um fator condicional e merecido. Na preservação
dos santos calvinista não há nada que o homem seja capaz de fazer por conta própria
para perseverar nos caminhos do Senhor, mas quem efetua isso é o Espirito Santo
que o direciona na caminhada, não permitindo que se desvie nem para esquerda nem
para a direita, mas mantenha firmes os passos nos caminhos do Senhor. Se o processo
de salvação é obra de Deus o homem não pode perde-la, pois o criador é quem elege,
chama, convence e preserva até a consumação dos séculos.
Filipenses 2;13 porque é Deus que opera em vós tanto o querer como o
efetuar, segundo a sua boa vontade. Ef 2;8 Porque pela graça sois salvos, por meio da fé;
e isto não vem de vós, é dom de Deus.
No olhar soteriológico do processo da salvação, vemos que Deus elegeu quem
seria salvo antes da fundação do mundo, no tempo oportuno a pessoa é alcançada pela
graça por meio da pregação do evangelho, inicia-se então o processo de regeneração e
santificação que terá seu término somente na glória eterna. Na pratica, externamente o
homem é quem faz a escolha, porem internamente ele foi convencido pelo Espirito
Santo, externamente ele luta contra o pecado e persevera nos caminhos do Senhor,
internamente quem o capacita para ambos, é Deus.
Sendo expostos essas doutrinas vemos que relacionado com a salvação o
arminianismo crê no livre arbítrio do homem, porém o Calvinismo não, pois defende que
o homem é escravo do pecado ou escravo de Cristo. “1Corintios 7:22 Pois aquele que,
sendo escravo, foi chamado pelo Senhor, é liberto e pertence ao Senhor; e da mesma
forma, aquele que era livre quando foi chamado, agora é escravo de Cristo.” O calvinismo
entende que o homem não possui livre arbítrio em relação ao seu destino eterno, pois se
ele foi salvo é porque Deus o quis e não ele mesmo. Porém existe a chamada livre
agencia, que é a liberdade que o homem possui de fazer suas escolhas, roupas, locais a
frequentar, e todas as outras escolhas da vida. Porem ele o faz nos limites estabelecidos
por Deus para que absolutamente nada saia dos planos do Senhor. (Tiago 4:13-16
Escutem, agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá
passaremos um ano, e faremos negócios, e teremos lucros.” Vocês não sabem o que
acontecerá amanhã. O que é a vida de vocês? Vocês não passam de neblina que aparece
por um instante e logo se dissipa. Em vez disso, deveriam dizer: “Se Deus quiser, não só
viveremos, como também faremos isto ou aquilo.”)
A termo grego predestinação é uma tradução da palavra “proorizo”, que é
mencionado seis vezes no Novo Testamento (At 4.28; Rm8.29-30; 1Co2.7; Ef 1.5,11).

9 A predestinação é bíblica

Pode-se afirmar que é de difícil compreensão porém é inegável sua existência nas
escrituras. Por vezes ela se refere a acontecimentos da história (At,28; 1Co 2.7). Em outras
situações revela as decisões de Deus tomadas antes da fundação do mundo, como o
destino dos que seriam salvos (Rm8.29-30; Ef 1.5,11) ou condenados (Rm 9.6-29; 1Pe 2.8;
Jd 4) Quando Deus destinou os eleitos a salvação, em contra partida os não eleitos já
estão condenados pelo mesmo decreto, isso torna Deus um Deus mal? De forma alguma,
Ele é soberano diante da criação. (Rm 9,20-24 Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus
replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?
Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para
honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a
conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a
perdição; Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de
misericórdia, que para glória já dantes preparou. Os quais somos nós, a quem também
chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?)
Diante dessas verdades bíblicas as tradições das igrejas diferem em aceitar ou
não essas afirmativas dependendo da linha teológica que se segue, alguns preferem
crer na eleição pela presciência onde Deus de antemão viu quem se arrependeria e
então o elegeu, de modo que Deus predestina em resposta a decisão do homem que ele
sabe que ocorrerá. Entre tanto os teólogos reformados afirmam que o termo
“proginosko” que significa presciência usado em (Rm 8.29) significa “de antemão
amou” ou “de antemão reconheceu” pois em (1Pe 1.20) esse mesmo termo foi
traduzido como ‘’ conhecido’’, de modo que a teologia reformada conclui que Deus
elegeu porque antes amou aqueles a quem predestinou. (1 Pe 4:19 amamos porque Ele
nos amou primeiro.) Entende-se que uma vez que o homem já está condenado desde o
Éden, sua natureza é caminhar para a destruição por conta própria, sendo assim incapaz
de se arrepender e crer no evangelho sem o despertar interior vindo do Espirito Santo,
despertar que ocorre somente se Deus o quiser (Ef 2.4-10). Jesus afirma “ninguém pode
vir a mim se o pai que está nos céus não o atrair”.(Jo 6.65, Jo 6.44;10.25-30). Se Deus
dependesse de olhar para o futuro para então predestinar a humanidade, todos
estariam condenados, devido ao fato que pela natureza pecaminosa ninguém busca a
Deus. Porem as escrituras mostram que as escolhas do homem são importantes pois
são preordenadas usadas para que Deus alcance seus propósitos. (Atos 4;27-28 De fato,
Herodes e Pôncio Pilatos reuniram-se com as nações pagãs e os povos de Israel nesta
cidade, para conspirar contra o seu Santo Servo Jesus, a quem ungiste. Realizaram tudo o
que, em teu poder e sabedoria, já havia predeterminado que aconteceria.) A
predestinação bíblica não é para incentivar as pessoas a erroneamente fazer o que é mau
utilizando o fatalismo como justificativa dos seus erros, mas sim para dar a certeza da
salvação em Cristo o qual não perderá nenhuma alma que lhe foi dada. (Jo 10:28).

10 Liberdade Cristã

A liberdade cristã não se trata somente a liberdade de ir e vir, liberdade econômica


ou política, mas sim a libertação do pecado e da condenação eterna, por isso as escrituras
afirmam que a vida cristã é uma vida de liberdade ( Jo 8. 32, 36; Gl 5.1) Primeiramente
fomos libertos da Lei mosaica como sistema de salvação, não mais condenados pela lei,
mas absolvidos pelo sacrifício de Cristo ( Rm 3.19; 6.14-15; Gl 3.23-25). Sendo assim a
situação dos salvos diante do Criador é exclusivamente pelos méritos de Cristo por quem
foram aceitos e adotados por intermédio da fé em seu sacrifício e ressurreição. Por tanto
não depende do homem e nem do que ele faz ou deixa de fazer, pois não é a perfeição
que salva, mas o perdão. Esse entendimento vai contra a maioria das religiões que
buscam a salvação por obras ou por intermédio de sacríficos e ritos de autoria humana,
como se fossem meios de justificação entre criatura e Criador. O apóstolo Paulo relata
que muitos judeus agiam desse modo (Rm 10.3). Tais atitudes eram fúteis e não surtiam
efeito em relação a salvação, devido ao fato que por mais que externamente as atitudes
pareçam ser autenticas, internamente sempre haverá anseios impróprios e a falta de
anseios apropriados, ( Rm 7.7-11).
Quando se busca a justificação pela lei, ela não faz nada além de mostrar o quão
pecador o homem é, incapaz de cumpri-la em sua totalidade, sendo assim a causa que
expõe o pecado moral do homem, a lei mostra o padrão moral de Deus, e a incapacidade
do homem de segui-lo sem quebrar algum mandamento, esta é a liberdade que se possuí
através de Cristo, já não depender da lei para ser salvo, essa é a liberdade da qual os
cristãos estão libertos em Cristo.
O cristão também foi liberto do domínio do pecado (Jo 8.34-36 Rm 6.14-23) tendo
o coração regenerado de forma sobrenatural através de Cristo, que faz com que a o
desejo de quem foi alcançado seja buscar a Deus praticando a justiça .( Rm 6.18,22) Com
o coração renovado pelo Espirito Santo o novo convertido busca fazer o que é correto
diante de Deus, motivado pela gratidão de ter sido alcançado pela graça e adotado como
filho diante de Deus, que gera atitude de obediência com alegria e bom grado e não por
obrigação como na lei, e isso também é liberdade.
Entretanto ainda não está liberto do pecado em sua totalidade, apesar de estar
livre da escravidão do pecado, não está livre de sua presença e influência, pois nessa
Terra sempre haverão tentações ( 1Tm 6.9) seduções ao pecado e influencias
malignas( 1Co 7;5 ; Tm 4;1) A liberdade completa do pecado é aguardada pelo retorno de
Cristo do qual libertará seu povo desse corpo corruptivel levando-os ao novo céu e nova
terra que está na eternidade (Ap 21.1-5).
A doutrina da predestinação que abrange os pontos do calvinismo e as doutrinas
da graça, não possuem o objetivo de fazer um grupo seleto de eleitos, privilegiados e
preferidos de Deus, mas sim de mostrar a forma que a salvação pela graça interage com o
ser em seus processos, tão pouco é possivel identificar de forma externa quem é eleito e
quem não, pois o ser humano é incapaz de sondar os corações a ponto de identificar
quem é salvo ou não, o ladrão da cruz sitado em Mateus 27:38 é um belo exemplo, devido
ao fato que a sua situação mostrava que ele vivia uma vida errada, cometendo crimes, de
modo que todos que o julgassem falariam que ele não iria para o céu, porém pouco antes
de sua morte, ele reconheceu a Cristo como Senhor e Salvador e foi salvo, em contra
partida o exemplo de Judas o traidor mostra como é fácil confundir o joio com o trigo, ao
olhar externo Judas era um homem temente a Deus, caminhava com Cristo, tinha
responsabilades importates e possuia a confiança dos apóstulos em cuidar inclusive das
finanças do grupo, porém demonstrou que seu coração estava nas riquezas e não em
Cristo Jesus e o seu fim foi o suicidio. Desse modo percebe-se a incapacidade humana de
reconhecer quem de fato é salvo ou não, as escrituras mencionam que somente é
possivel saber da salvação individual, ou seja cada um saiba de si, pois oque define a
salvação individual é a fé em Cristo que só pode ser identificada se é genuina ou não de
forma interna pelo ser.
Em geral, a teologia reformada usa os termos perseverança e preservação dos
santos quando trata da questão da segurança eterna dos verdadeiros cristãos. Esses
termos representam uma abordagem equilibrada da doutrina biblica segundo o qual a
perseverança na fé cristã é necessaria para receber a recompensa final da salvação
eterna, sendo , porém garantida pelo fato de que Deus preserva todos aqueles que
verdadeiramente creem em Cristo. Ocristãos perseveram pela persistência em meio ao
desanimo e pressão contrária, mas só são capazes de faze-lo porque Jesus Cristo, por
meio do Espirito Santo, garante que todo cristão verdadeiro se manterá firme até o fim.

11 O homem não é um robô

É comum pensar que a teologia reformada nega o livre arbitrio, humano e se


mostra contrária a passagens que enfatizam a importancia da decisão humana no
processo de salvação. Na realidade, a teologia reformada sempre reconheceu as
atividades reais da vontade humana na salvação, na Confissão de fé de Westminster
Capítulo 10.4 “Quando Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, o
liberta de sua natural escravidão do pecado e , somente pela graça, o habilita a querer e a
fazer, comn toda liberdade, o que é espiritualmente bom, mas isso de tal modo que, por
causa da corrupção ainda nele existente, o pecador não faz o bem perfeitamente nem
deseja somente o que é bom, mas tambem oque é mal.” (Cl 1:13, Jo 8:34, Fp 2:13, Rm 6:18-
22)
Embora a expressão “livre arbítrio” não apareça nas escrituras, num sentido
técnico ou teológico, é correto dizer que a bíblia tanto afirma como nega de varias
maneiras, que as pessoas possuam livre arbitrio. Os teólogos reformados abordar essa
questão distinguindo entre a livre agência humana, o livre-arbítrio moral e liberdade
absoluta.
Em primeiro lugar, livre agência simplesmente reconhece os humanos são
criaturas que possuem vontade própia. Ao contrário das pedras, árvores, montanhas e
outras partes da criação, os seres humanos fazem escolhas morais. Todos são agentes
livres no sentido de tomada de decisões quanto ao que farão. Por esse motivo, tambem
somos moralmente responsaveis pelas nossas escolhas voluntarias. Foi assimcom Adão,
tanto antes quanto depois de ele ter pecado, é assim agora e o será para os cristão
glorificados, um fato que é refletido ao longo da bíblia. Todas as pessoas têm o dever de
fazer escolhas certas e responsáveis (Js 24:15, 2Sm 12.1-10, Rm 1:18-32). No entanto, a livre
agência não inclui acapacidade de escolher algo contrário a própia natureza. Uma vez que
a obediência e fé no evangelho são contrárias à natureza humana e decaída (Rm 8:4-8) o
conceito de livre agência não afirma que o homem dcaído possui livre-arbítrio para fazer
tais coisas.
O livre-arbítrio por sua vez é uma capacidade de escolher entre todas as opções
morais que uma situação apresenta. Muitos teólogos cristãos o século 2 (p.ex Clemente
de Alexandrina e Orígenes), ensinavam que a natureza humana decída possui livre-
arbítrio.Negavam que os seres humanos são limitados pela sua condição moral decaída,
insistindo em vez disso que os homens são capazes de escolher qualquer rumo que
desejarem, incluindo a decisão, pelo seu próprio poder e vontade, de crer no evangelho e
obedecer a ele. Essa visão contrasta nitidamente com as Escrituras. Agostinho e os
teólogos reformados afirmaram corretamente que apesar de a humanidade ter livre-
arbítrio moral antes da queda, o pecado original nos privou do mesmo .
Uma vez que somos descendentes de Adão, não temos a acapacidade natural de
discernir e escolher o caminho de Deus ou crêr no evangelho, pois não temos nenhuma
inclinação natural para com Deus. O coração humano é escravo do pecado e somente a
graça e a regeneração pode liberta-lo dessa servidão. Por isso Paulo ensinou em (Rm 6:16-
23) que somente as pessoas libertas do domínio do pecado podem escolher a justiça
livremente e de todo seu coração. Uma inclinação do coração para agradar a Deus é um
dos aspectos da liberdade que Cristo concede aos seus seguidores( Jo 8:34-36, Gl 5:1-13).
Tem havido, e ainda há , teólogos cristãos que argumentam de várias maneiras
que, a fim de terem qualquer relevância, as escolhas humana devem ser absolutamente
livres dos decretos soberanos de Deus. A teologia reformada rejeita categóricamente
esse erro. Em primeiro lugar, é evidente que possuimos várias limitações várias limitações
físicas e mentais decorrentes da ordem natural determinada por Deus para esse mundo.
Não temos liberdade absoluta em nenhuma área . Ademais, as escrituras ensinam que
Deus tem um plano imutável que abrage todos os acontecimentos que ocorrem desde os
maiores até os menores (Is 46:10, Mt 10:29-31). As escolhas humanas estão incluidas nesse
plano, mas não podem, jamais, impedir ou frustrar os propósitos de Deus (Is 8:10). Por
tanto, assim como se tem a certeza que nenhum ser humano decaído tem a capacidade
moral de escolher crer no evangelho, pode-se tambem estar certo que nínguem tem a
capacidade de frustar os planos de Deus e nem a salvação que ele determinou para nós
em Cristo Jesus.(Rm 8:28-30). Todos que foram predestinados á salvação recfeberão o
chamado eficaz, serão regenerados e escolherão crer. Essa limitação de vontade não é,
de maneira alguma, um fatalismo que diminui a importância de escolha humana, mas sim,
uma afirmação sublime do lugar do homem no mundo de Deus.

12 A dupla predestinação

Ao longo dos séculos, esta ideia vai ser desenvolvida. Encontramos em Agostinho
(séc. IV), na Idade Média, em M. Lutero, entre muitos outros. Em alguns deles com maior
ênfase, com maior insistência, outros deram menos atenção. Ao longo do caminho, surge
a questão: se há homens e mulheres predestinados para a salvação, eleitos desde os
tempos primordiais, há de haver outros predestinados para a perdição. De certa maneira,
é uma questão de raciocínio lógico… E eis que alguns teólogos encontram, para resolver
este “dilema” (que nem todos consideram um dilema), a ideia da “dupla predestinação”.
Nas palavras de Calvino, o assunto lê-se assim: “Chamamos predestinação ao eterno
decreto de Deus pelo qual determinou o que quer fazer de cada um. Pois Ele não nos cria
todos com a mesma condição, mas ordenou uns para a vida eterna e outros para a
condenação perpétua. Por isso, de acordo com o fim para que um homem é criado,
dizemos que é predestinado para a vida ou para a morte.” (Institutas III, 21.5) Por outras
palavras: Deus destina alguns, sem motivo evidente, à salvação e outros à perdição. O
que constitui uma afronta para o nosso sentido (moderno) de justiça. Para não falar do
fato de que esta conclusão parece contradizer, diretamente, a pregação e a vida de Jesus
que, de acordo com os evangelhos do Novo Testamento, nunca limitou o seu convite a
apenas alguns. Não admira, pois, a pouca popularidade desta doutrina nos nossos dias,
entre os cristãos em geral e mesmo entre os cristãos da tradição reformada/calvinista.
Para mais que ela não parece ajudar a resolver as grandes questões dos homens e das
mulheres de hoje: como encontrar uma vida que faz sentido? Como encontrar força, face
às grandes crises pessoais ou mundiais (crise ecológica, económica, fome, etc.)? Um
assunto complexo! O próprio Calvino admite tratar-se de “um labirinto difícil em que é
fácil perder-se”. Para não nos perdermos num labirinto sem saída, julgo essencial ter em
conta três considerações:
a) A doutrina da predestinação destina-se aos cristãos, ou seja, aos “eleitos” – não
se trata de uma teoria abstrata, objetiva, fria, destinada a debates filosóficos, numa
perspectiva de meros espectadores.
b) Não pretende assustar, mas sim, consolar. Consolar e encorajar aqueles que já
não têm palavras para orar. Consolar e encorajar os que sofrem. Calvino elabora a sua
reflexão teológica, em primeiro lugar, para cristãos perseguidos, presos, torturados e
mortos pela sua fé protestante, para refugiados, seja na cidade de Genebra, seja (através
de incontáveis cartas) pela Europa fora. Cristãos que sofriam e que se interrogavam: se,
na tortura, denunciar o meu irmão, se, no meio da dor, trair Cristo, será que perco a
salvação? E, também: onde está Deus se nós, que nele confiamos, sofremos tanto? São
estes cristãos que Calvino encoraja: desde os tempos primordiais, Deus decidiu: tu és
escolhido. A tua salvação, portanto, não se pode perder. Pois não depende, de modo
algum, daquilo que consigas fazer, da tua ação, do teu testemunho, da tua fé, mas apenas
de Deus. E Deus não te abandona, nem nunca te abandonará – ele escolheu-te e ele é-te
fiel. Por outras palavras: a soberania e a graça de Deus são infinitamente mais fortes do
que a tua capacidade de resistir (ou a falta dela), mais forte também do que o poder de
qualquer perseguidor.
É esta a mensagem que o pastor e teólogo Calvino quer transmitir aos seus
irmãos na fé – não uma especulação teórica e abstrata sobre quem, no dia do julgamento,
ficará “dentro” ou “fora”. Se Deus é por nós – quem nos poderá abalar? Esta convicção
constitui o núcleo da doutrina da predestinação, tudo gira em volta dela. c) O grande
objetivo desta doutrina, segundo Calvino, não é, portanto, percebermos melhor a
sabedoria de Deus, mas sim, que o adoremos, pois só e exclusivamente a Ele se deve toda
a honra e glória.

A eleição, a predestinação não é uma invenção de Calvino e dos calvinistas / das


igrejas reformadas! Pelo contrário, este conceito é, pelo menos, tão antigo como a
própria Bíblia. Deus elege o povo de Israel, lemos no Antigo Testamento, ele apaixona-se
por ele (Dt. 7,7s) e chama-o para uma missão, para uma tarefa específica: o povo eleito
dará testemunho e será instrumento de Deus neste mundo. Eleição, no Antigo
Testamento, significa tarefa, não é privilégio. O Novo Testamento parte desta concepção
e acrescenta uma nova faceta relacionando a eleição com o julgamento final e a vida
eterna. Consideremos, brevemente, duas passagens chaves para a nossa temática.
a) Efésios 1, 3-10 Bendito seja o Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos
altos céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim
que Ele nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo, para sermos santos e
irrepreensíveis na sua presença, no amor. E nos Predestinou para sermos adotados como
seus filhos por meio de Jesus Cristo, de acordo com o beneplácito da sua vontade, para
que seja prestado louvor à glória da sua graça, que gratuitamente derramou sobre nós,
no seu Filho bem amado. É em Cristo, pelo seu sangue, que temos a redenção, o perdão
dos pecados, em virtude da riqueza da sua graça que Ele abundantemente derramou
sobre nós, com toda a sabedoria e inteligência. Manifestou-nos o mistério da sua
vontade, e o plano generoso que tinha estabelecido, para conduzir os tempos à sua
plenitude: submeter tudo a Cristo, reunindo nele o que há no céu e na terra.1 Também
aqui, a eleição implica um propósito, uma missão: “Escolheu-nos… para sermos santos e
irrepreensíveis na sua presença, no amor” (v. 4) e …“para que seja prestado louvor à
glória da sua graça que gratuitamente derramou sobre nós” (v. 6). O autor da carta
afirma, além disso, que esta eleição aconteceu já “antes da fundação do mundo”. Ou seja:
a eleição não tem a sua base em qualquer ato, atitude, ação do homem, mas única e
exclusivamente em Deus e na sua graça. Este é o aspecto fundamental, a chave de
qualquer doutrina de eleição e / ou predestinação que se queira afirmar bíblica ou cristã.
b) Romanos 8, 18-39 Contudo, na Bíblia não se trata de uma afirmação abstrata, de
uma teoria “pura”, assunto de doutores em debates acadêmicos; esta doutrina surge e
desenvolve-se num determinado contexto. E este contexto não pode ser ignorado se
deve-se realmente perceber o alcance e a intenção deste ensinamento, seja na Bíblia,
seja, mais tarde, em Calvino. Considera-se, por isso, uma segunda passagem do Novo
Testamento, na carta de Paulo aos Romanos (8, 18-39): Estou convencido de que os
sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há de revelar-se
em nós. (…) Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao
presente. Não só ela. Também nós, que possuímos as primícias do Espírito, nós próprios
gememos no nosso íntimo (…) É assim que também o Espírito vem em auxílio da nossa
fraqueza, pois não sabemos o que havemos de pedir, para rezarmos como deve ser; mas
o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. (...) Sabemos que tudo
contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados, de acordo
com o seu desígnio. Porque àqueles que Ele de antemão conheceu, também os
predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que Ele é o
primogénito de muitos irmãos. E àqueles que predestinou, também os chamou, e àqueles
que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou. Que
mais havemos de dizer? Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós? (…) Quem
poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a
nudez, o perigo, a espada? (…) Nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os
principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem o
abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em
Cristo Jesus, Senhor nosso. “Os sofrimentos do tempo presente” (v. 18) – eis o ponto de
partida. Um sofrimento que faz com que a humanidade (e também toda a natureza)
gema no seu íntimo, num grito de dor mudo… como o representou de forma inalcançável
o pintor norueguês Edvard Munch.

13 Considerações finais

Conclui-se que a teologia é um campo limitado, uma vez que busca explicar o
inexplicável, colocar parâmetros em termos infinitos para assim haver entendimento
mesmo que superficial sobre Deus e seu agir. O campo da soteriologia é complexo e
levanta diversos questionamentos e formas de interpretações acerca da salvação, a visão
arminiana em suma é humanista, busca defender que o homem é capaz de fazer escolhas
próprias em relação a sua vida e sua salvação, podendo desfazer os planos de Deus caso
deseje. A visão calvinista predominante somente nas igrejas reformadas, defende que
Deus é soberano sobre toda a criação e que ela se dobra ao seu querer, não de forma
forçada e desagradável, mas de forma voluntaria por atender a vontade do Criador que é
boa perfeita e agradável.
As ações e escolhas humanas são condicionadas e usadas por Deus para o
cumprimento de seus desígnios, nada foge de seu controle, o homem é livre para fazer o
que ele quiser, desde que esses planos sejam os planos de Deus, caso contrário seus
resultados serão frustrados, deve-se também ressaltar que o conhecimento das doutrinas
da graça ou a concordância delas não são fatores primários nas escrituras, como se
somente quem crê nelas será salvo, mas pelo contrário, a intenção real da doutrina é nos
dar a segurança da eficácia do sacrifício de Jesus Cristo que é autor e consumador da ação
miraculosa da salvação.

Referências
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Bíblia de Estudo de Genebra 2 edição, SP: Sociedade Bíblica do Brasil: São Paulo: Cultura
Cristã, 2009, comentário: A perseverança e a preservação dos Santos p.1582,1583

Bíblia de Estudo de Genebra 2 edição, SP: Sociedade Bíblica do Brasil: São Paulo: Cultura
Cristã, 2009, comentário: Livre arbítrio: Tenho liberdade para crer? P.306

Bíblia de Estudo de Genebra 2 edição, SP: Sociedade Bíblica do Brasil: São Paulo: Cultura
Cristã, 2009, comentário: Predestinação e presciência: As pessoas são predestinadas ao
céu ou inferno? P.1488

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DE LIMA, Daniel Barros; DA SILVEIRA, Sergio Becker. OS CINCO ARTIGOS DE FÉ DO


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