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O DESENVOLVIMENTO E IDENTIFICAÇÃO DA SOTERIOLOGIA DOS

BATISTAS BRASILEIROS

Pedro Carlos Lima Santos


Orientador: Anderson Menezes de Queiroz
Seminário Teológico Batista do Nordeste

Resumo
A finalidade do artigo em questão é trazer à tona a importância de analisarmos o pensamento
soteriológico Batista, seu desenvolvimento e seu posicionamento, iniciaremos então
aprofundando-se e explanando os diversos pensamentos soteriológicos existentes até os tempos
atuais. Por conseguinte, falaremos a respeito das perseguições, dos primeiros colonos na
América do Norte, da obra missionária dos primeiros batistas no Brasil, para assim
observaremos a forma como a Igreja Batista Brasileira lidou com seu posicionamento
soteriológico e seus desdobramentos ao longo dos séculos. E por fim, como a democracia
Batista, pode elucidar a membresia quanto à necessidade e importância de respeitar o
pensamento soteriológico oposto, e de se buscar o conhecimento acerca.

Palavras-chave: Batistas; Batistas Brasileiros; Soteriologia; Arminianismo; Calvinismo.

Abstract
The purpose of the existing article in question is to bring to light the importance of analyzing
the Baptist soteriological thought, its development and its positioning, then starting deepening
and explaining the different thoughts until the present time. Therefore, we will talk about the
persecutions, the first settlers in North America, the missionary work of the first Baptists in
Brazil, to observe how the Brazilian Baptist Church deals with its soteriological positioning and
its unfolding over the centuries. And finally, like Baptist democracy, it can enlighten the
membership as to the need for and importance of respecting the opposite soteriological thinking,
and of seeking knowledge.

Keywords: Baptists; Brazilian Baptists; Soteriology; Arminianism; Calvinism.

1
1. INTRODUÇÃO
Ser cristão implica, primeiramente, ter convicção de quem nós somos. Sabemos que
somos filhos de Deus e peregrinos neste mundo, mas, talvez, com o mesmo grau de importância
é preciso que saibamos também de nossos antepassados, nossas origens e evoluções históricas.
Quando analisamos a história da igreja e o desenvolvimento das mais variadas denominações e
tradições religiosas, via de regra, seja pentecostal ou tradicional, cada uma delas possui sua
história e desdobramento. Assim como os outros seguimentos, os batistas também possuem sua
trajetória na história, e como bem afirmou Matos (2008, p. 15), a história da igreja é a mais
ampla das disciplinas que tratam do passado cristão. É o estudo da caminhada e do
desenvolvimento da igreja através dos séculos.
As Igrejas Batistas Brasileiras (vinculadas a CBB) passaram por algumas rupturas em
seu modo de pensar através de seus anos de existência, mas assim como houve rupturas,
sucedeu que também houve uniões de convicções para que se cumprisse o chamado de Deus
para a denominação. É dentro desse arcabouço que a Soteriologia Batista se situa. Ainda que
estabelecido um consenso oficial sobre o assunto, esse posicionamento ainda causa alguns
embates acalorados em algumas Igrejas, em virtude de todo desenvolvimento histórico acerca
do tema, ocasionando muitas vezes conflitos e desavenças.
Diante deste impasse, à vista da construção histórica dos Batistas, algumas questões
ainda são calorosamente debatidas, tais como: Os Batistas são Arminianos ou Calvinistas? Há
possibilidade disso, ao menos dentro da ortodoxia cristã? Será que os batistas sabedores dessa
impossibilidade não adotaram pontos tantos arminianos quanto calvinistas em sua soteriologia?
Seria uma espécie de Almiradismo?
Todavia, para que falemos da Soteriologia no âmbito da prática cristã batista, primeiro
é preciso que definamos estes conceitos e discorramos sobre as origens de tal pensamento.
Portanto, isto é o que veremos a partir de agora.

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2. DESENVOLVIMENTO

2.1. O QUE É SOTERIOLOGIA?


O termo Soteriologia começou a ser utilizado no século 19, que provém do Grego que
significa soteria, “salvação” ou “livramento”; e logos = “palavra”. A Soteriologia consiste na
doutrina da salvação, sendo assim a área da teologia que estuda todos os seus aspectos. Dentro
da Soteriologia existem subdivisões que auxiliam no estudo sobre a salvação sendo eles: um
plano eterno e obra remidora de Deus; expiação no sangue de Cristo; operação da graça divina;
estado do homem em relação ao pecado; obra do Espirito Santo e o destino final do homem.
(CONEGERO, 2016).
O cristianismo venceu e impôs sua doutrina Soteriologica ao Ocidente até o início da
modernidade, essa transformação foi bem radical e ocasionou inúmeros conflitos doutrinários
com a filosofia grega dominante na época, e justamente desse embate entre helenismo e
judaísmo que nasce o cristianismo (GILSON, 2001, p. XIX) e essa virada representou um
grande salto sobre a filosofia grega relacionada a salvação, pois possibilitou que o cristianismo
adquirisse uma destreza conceitual e mostrou–se capaz de desviar a filosofia grega em seu
proveito, propondo assim uma nova doutrina de salvação. (FERRY, 2004, p. 228)
A soteriologia destaca as bênçãos resultantes da salvação, das quais podemos destacar:
 Redenção: é a total liberdade por meio do resgate pago por Jesus (2 Pedro 2:1;
Gálatas 3:13; Mateus 20:28).
 Reconciliação: agora o relacionamento do homem, antes pecador e agora
redimido, passou a ser de comunhão com Deus e não mais de inimizade.
 Propiciação: através do sacrifício de Cristo a ira de Deus não está sobre os
salvos.
Dentro da soteriologia, há uma grande discussão sobre o processo de salvação, em que
originou em duas ideias básicas: o sinergismo e monergismo. No sinergismo define-se a
salvação como resultado da vontade de Deus unida à cooperação humana. Já no monergismo,
a salvação é totalmente escolha de Deus, sem nenhuma influência humana. Essas questões
geraram debates dentro da igreja ao longo dos séculos, e assim se originaram algumas linhas
teológicas que veremos no quadro a seguir.
Quadro 1. Linhas Soteriológicas Existentes
LINHAS TEOLÓGICAS VISÃO DEFENDIDA
O maior expoente deste sistema foi o teólogo holandês Jacob Armínio
(1560-1609). Este sistema tenta explicar uma ideia de livre-arbítrio humano em

3
relação à soberania de Deus. (...) Os pontos principais do Arminianismo moderno
são: Depravação Parcial (o homem mesmo corrompido pelo pecado é capaz de
escolher se aproximar de Deus); Eleição Condicional (Deus elegeu os salvos com
Arminianismo
base em sua presciência sabendo quem iria crer n’Ele); Expiação Ilimitada (Jesus
morreu por todos, incluindo os que não serão salvos); Graça Resistível (o homem
pode resistir à salvação); Queda da Graça ou Salvação Condicional (o homem
pode perder a salvação, sendo necessário então mantê-la). Vale lembrar que o
Arminianismo clássico rejeita a Depravação Parcial e tem uma visão
mais parecida com o Calvinismo em relação à Depravação Total. Muitos
arminianos, principalmente os clássicos, também rejeitam a ideia da Queda da
Graça.
Tem João Calvino (1509-1564) como maior expoente(...) O Calvinismo
enfatiza a soberania de Deus em relação à responsabilidade humana, e nega a
ideia de livre-arbítrio. Os pontos principais do Calvinismo são: Depravação Total
(o homem é incapaz de escolher a salvação por estar morto em delitos e pecados);
Eleição Incondicional (Deus elegeu soberanamente alguns para a salvação já que
Calvinismo o homem é incapaz de qualquer resposta à Deus); Expiação Limitada (o sacrifício
de Jesus é eficaz apenas para os eleitos, ou seja, Cristo morreu apenas pelos que
realmente seriam salvos); Graça Irresistível (quando Deus chama o homem, este
efetivamente responde de forma positiva); Perseverança dos Santos (todos
aqueles que Deus escolheu irão perseverar na fé e jamais pereceram, pois a obra
de Deus é completa).
Ensino que foi defendido por um monge chamado Pelágio do século IV.
Seu ensinamento afirmava que os homens não nascem contaminados pelo
pecado. Segundo ele os homens são naturalmente inocentes e aprendem a pecar
no decorrer da vida. Este é o ensino mais focado na defesa do livre-arbítrio do
Pelagianismo homem. Para o Pelagianismo o homem possui uma alma livre do pecado, ou seja,
ele pode ser imparcial. Esta ideia contradiz totalmente a Bíblia que afirma que
todos os homens são afetados pelo Pecado Original de Adão (Romanos 5:12).
Ninguém consegue escapar de nascer com inclinação ao mal (Romanos 3:10), já
que somos pecadores no momento da concepção (Salmo 51:5). Como resultado
disto, todos os homens morrem (Romanos 6:23).
É uma adaptação do Pelagianismo e ensina que a humanidade é
contaminada pelo pecado, mas não de tal forma que impeça o homem a se decidir
por Deus. Em outras palavras, o homem supostamente seria capaz de cooperar
com Deus devido aos seus esforços e escolhas. Então isto seria um tipo de
Semipelagianismo “depravação parcial” e não “depravação total”. A Bíblia é clara ao afirmar que o
homem é totalmente incapaz de se aproximar de Deus por escolha própria. Ele é
incapaz de cooperar com Deus em relação à salvação, e possuí sua natureza
completamente corrompida.
Fonte: (JUNIOR, 2020, p. 72-74).

Ainda há uma quinta linha teológica existente, pouco conhecida, chamadas em


diferentes épocas de “Universalismo Hipotético”, “Baxterianismo”, e “Calvinismo de 4
pontos”. Porém a forma que mais comumente é conhecida é chamada de “Amiraldismo”1. Com
base no ensino de Amyraut é que se popularizou também o dito “semicalvinista”. Essa linha

1
Desenvolvida pelo francês Moisés Amyralt (1596-1664). Este teólogo considerava-se um genuíno calvinista, mas
dos cinco pontos de Dort, ele não concordava com a expiação limitada. A partir daí, começou-se a usar o termo
calvinismo de quatro pontos, calvinismo moderado, universalismo hipotético, etc.
4
teológica suscita que “a morte de Cristo foi suficiente para todos, mas eficiente somente para
os “eleitos”2 (FURTADO e BEZERRA, 2017). Foi defendida por grandes homens da história
do cristianismo, entre eles J.C. Ryle3 e Richard Baxter4
Ainda Acerca, Furtado e Bezerra (2017) reiteram:
...esta ordem dos decretos de maneira inconsistente coloca o decreto de
eleição posterior ao de redenção, além de possibilitar a salvação e não
garanti-la. Trata-se, isto sim, de uma tentativa de casar o universal com
o particular [...] a ordem dos decretos do amyraldianismo, uma vez
assumida, poderia gerar graves problemas a quem quisesse defender a
expiação universal. (FURTADO e BEZERRA, 2017, p. 92)

Para Marques (2014), Ryle acreditava que defendia o Calvinismo, mas sempre retratava
em seus escritos que tinha um problema com “expiação limitada”, ponto incontestável na linha
teológica Calvinista. Desta forma, estes sempre apregoavam que cristo tinha morrido por toda
a humanidade, e assim o amyraldismo da época também ficou conhecido como “Calvinismo de
4 pontos”.
Quanto a Baxter, Packer (1996, p. 72)) informa que ele tentou ajustar a inconsistência
da visão amyraldiana defendendo a teoria onde o governo de Deus deveria ser assimilado as
ideias políticas contemporâneas. Desta forma o amyraldianismo em seu tempo ficou conhecido
como “Baxterianismo”. Nas palavras de Packer:
...no final do século XVII. Na década de 1690, o amyraldismo era
conhecido corno "baxterianismo [...] A visão de Baxter derivava-se da
teologia natural; ele pensava que o ensino bíblico sobre o reino e o
governo de Deus devia ser assimilado às idéias políticas
contemporâneas, ou, conforme ele apresentava, que a teologia devia
seguir um "método político". Deus devia ser concebido como
governante, e o evangelho como parte de seu código legal. Nossa
salvação requer uma dupla retidão: a de Cristo, que produziu a
decretação da nova lei de Deus, e a nossa própria retidão, quando
obedecemos a nova lei, mediante fé e arrependimento genuínos. A fé é
imputada como justiça por ser uma verdadeira obediência ao
evangelho, que é a nova lei de Deus. A fé, entretanto, envolve o
comprometimento de guardar a lei moral, que era o código original de
Deus; e todo crente, embora justo em lermos da nova lei, precisa ser
perdoado, a cada momento, por causa de suas falhas em relação à antiga
lei. Jesus Cristo, que garantiu a nova lei para a humanidade, ao
satisfazer os requisitos prescritos e penais da antiga lei, deve ser

2
Ponto central da linha Teológica Amiraldiana.
3
J. C. Ryle (1816 - 1900) foi um nobre bispo anglicano que defendia o calvinismo na Igreja da Inglaterra
(Anglicana).
4
Richard Baxter (1615 - 1691) foi um líder puritano inglês, sacerdote e escritor, reconhecido como "o chefe dos
protestantes intelectuais da Inglaterra" em sua época.
5
concebido como Cabeça do governo divino e entronizado, a fim de
perdoar os verdadeiros crentes. (PACKER, 1996, p. 72 - 73)

Dentro desse arcabouço "político" de conceitos, aprendido principalmente do arminiano


Hugo Grotius5, Baxter ajustou-se à soteriologia amyraldiana.

2.2. BREVE HISTÓRIA DOS BATISTAS E A ORIGEM DO SEU


PENSAMENTO SOTERIOLÓGICO
A Reforma Protestante6, após o seu impacto, dividiu-se em quatro vertentes, Lutero,
Zwinglio, João Calvino e Henrique VIII7, sendo que este último deu origem ao Anglicanismo,
denominação oficial da Inglaterra até os dias de hoje e de onde surgiram os puritanos. Rocha
(2017, apud Shelley), escreve o seguinte a respeito dos puritanos e suas origens:
“Alguns dos exilados forçados a deixar o país durante o reinado de
Maria (...), quando voltaram do continente, sob o governo de Elizabeth,
começaram a reclamar contra ‘o ócio em Sião’. Eles haviam lido a
Bíblia e desenvolvido suas próprias ideias em relação à verdadeira
Reforma na Inglaterra. Esses reformadores são conhecidos como
‘puritanos’, pregadores da retidão pessoal e nacional. O futuro estava
nascendo” (ROCHA, 2017, apud, SHELLEY).

Ademais, os puritanos apunham-se a qualquer influência ou vestígio do catolicismo, tais


como vestimentas, o sinal da cruz, ajoelhar-se para tomar a comunhão e tudo que exemplificasse
qualquer influência de Roma.
Mediante a demora da Igreja Anglicana em respeito a uma reforma mais profunda, eis
que surge dentro do puritanismo outra vertente, os separatistas². Assim, conforme nos informa
Rocha (2017), logo após a conferência de Hampton, a chamada Petição Milenar, de 1603 8,
grupos começaram a se encontrar para adorar a Deus conforme a Bíblia lhes orientava. Rocha
(2017), referindo-se aos primórdios do movimento Batista ressalta que:
“W. Walker, referindo-se ao início do separatismo na igreja da
Inglaterra, diz que “um movimento separatista cujas últimas

5
Hugo Grotius, foi um jurista holandês, filosofo e apologeta, fundador do Direito Internacional. Para ele, na
doutrina da expiação, Deus deve ser visto como um Regente, antes do que um Juiz; é o Rei que tem o poder de
transferir punição do culpado para o inocente, já que o juiz está preso pela lei.
6
A Reforma Protestante foi um vigoroso movimento de revitalização da igreja cristã ocorrido na Europa durante
o século XVI e início do século XVII, liderado por Martinho Lutero. Este movimento desencadeou uma série de
outros protestos na Europa, que posteriormente haveria de se espalhar por todo o mundo.
7
Com exceção deste último, todos foram conhecidos como “Reformadores”.
8
Os puritanos congregacionais, liderados por Henry Jacob, queriam que cada congregação fosse livre da igreja
oficial para escolher seu pastor, determinar sua conduta e administrar seus negócios. Jacob, junto com outros
escritores fizeram uma "Petição Milenar" (1603), ao rei James II, por mudanças no episcopado. A assinatura
custou-lhe emigrar para a Holanda, onde foi ministro aos exilados ingleses.
6
consequências foram de largo alcance teve seu início logo no princípio
do reinado de Tiago I, quando John Smyth (1570? -1612), ex-clérigo
da igreja estabelecida, adotou princípios separatistas e se tornou pastor
de uma congregação em Gainsborough. De imediato conseguiu
aderentes nos distritos rurais adjacentes...” Era o início do embrião
batista ainda na Inglaterra, o qual seria transplantado para Amsterdam,
na Holanda, voltando mais tarde para o solo inglês. Era o início do
movimento batista no mundo” (ROCHA, 2017).

De acordo com Pereira (1979, p. 75). Estes, adotara a teologia arminiana, que por sua
vez contrariava a doutrina calvinista, defendendo o ponto de vista segundo o qual Jesus não
padeceu em favor de um grupo seleto de escolhidos, mas, outrossim, afirmava que Jesus Cristo
morreu por todos os homens e que todos os que nele crerem serão salvos. Portanto, em razão
disso, a igreja que fundou e as que dela derivaram receberam o epíteto de “Igrejas Batistas
Gerais”, pois admitiam a redenção geral dos homens uma vez que os mesmos estivessem
dispostos a crer.
Posteriormente, segundo nos informa Pereira (1979, p. 76), entre os anos de 1633 e
1638, surgiu na Inglaterra um grupo chamado de Batistas Particulares, devido ao fato de serem
simpáticos à doutrina calvinista da eleição. Segundo Peixoto:
Os Batistas Gerais enfatizaram a abrangência ilimitada da expiação de
Cristo, pareando-se com o teólogo holandês Jacobus Arminius (1560—
1609) que argumentava que Cristo morreu por todas as pessoas... Os
Batistas Particulares, por outro lado, eram calvinistas, abraçaram os
Cânones de Dort (1618-19); rejeitavam o arminianismo em cinco
artigos de fé; resumidamente: depravação total, eleição incondicional,
expiação limitada ou definida, graça irresistível e perseverança dos
santos. (PEIXOTO, 2017).

Para Azevedo (1996, p. 38), “O homem reformado inglês e holandês se movia entre o
calvinismo e o calvinismo, porque o arminianismo ainda era calvinismo, apesar de seu desvio
em alguns pontos. Os batistas também eram calvinistas “.
Com o tempo, separatistas e particulares se uniram formando a União Batista da Grã-
Bretanha 9 . Contudo, os batistas particulares e seu envolvimento com a doutrina da eleição
perderam o ímpeto missionário. Todavia, de acordo com Hurlbut (2007, p, 206) já no século
XVIII, um grande avivamento espiritual sacudiu a Inglaterra, cujos precursores foram John

9
A União tem suas origens em uma união Batista fundada por Batistas Reformados em 1813 por 60 igrejas Batistas
em Londres. Em 1891, foi reorganizado para incluir batistas gerais. Antes, os Batistas nos EUA, já teriam se unido
na Convenção Trienal.
7
Wesley 10 e George Whitefield 11 , os quais influenciaram, inclusive, muitos batistas, que se
espalharam pelo mundo, tendo seu primeiro missionário o jovem pastor William Carey
(PEREIRA, 1979, p. 78), um Batista Calvinista. Porém, como a perseguição não dava trégua,
entre os cristãos, muitos batistas não tiveram opção, senão abandonar a Inglaterra e navegar
rumo à América do Norte, e posteriormente, ao Brasil.

2.2.1. OS BATISTAS EM TERRAS BRASILEIRAS


As perseguições por parte da realeza inglesa contribuíram para que muitos cristãos,
inclusive batistas, deixassem a Inglaterra e zarpassem rumo a outros horizontes. Portanto, tendo
em vista que não usufruíam de liberdade de culto em sua própria pátria, de acordo com Pereira
(1979, p. 79), muitos cristãos batistas fugiram em direção à América do Norte, estabelecendo-
se, a princípio, no atual estado de Massachussets, em 1620. Em terras americanas, os
separatistas contribuíram de forma considerável para o avanço do evangelho, assim como
também na área da educação. Contudo, após espalhar o evangelho por outras partes dos Estados
Unidos, os batistas resolveram mandar seu primeiro missionário às terras brasileiras. Segundo
Pereira (1979, p. 88), o primeiro pregador batista a ser enviado para as terras tupiniquins foi
Thomas Jefferson Bowen, um missionário americano que, após vários anos atuando entre os
selvagens africanos, por razões relacionadas à sua saúde, achou por bem pedir transferência
para o Brasil, chegando à cidade do Rio de janeiro no ano de 1859. Trabalhou entre os escravos,
chegando inclusive a ser preso, todavia, como sua saúde não apresentou melhoras, acabou
voltado para os Estados Unidos no ano de 1861.
Portanto, após a Guerra Civil americana 12 , muitos sulistas começaram a pensar em
reconstruir suas vidas em outros lugares, entre os quais, o Brasil. Sobre o contexto da época, é
importante destacar algo importante ao falar sobre o clima religioso enfrentado pelos primeiros
missionários em terras brasileiras. Esperandio então observa que:
“...a declaração de independência do Brasil, em 1822, não marca uma
ruptura com o país colonizador, nem significa independência de fato.

10
John Wesley (1703 – 1791) foi um religioso anglicano e evangelista que fundou o movimento metodista. Por
meio de mensagens de santidade e transformação pessoal, ele provocou profundas transformações sociais na
Inglaterra do século XVIII que se espalharam por todos os continentes.
11
George Whitefield (1714 – 1770) era um ministro da igreja Anglicana que, com sua personalidade e habilidade
oratória, teve participação fundamental no movimento que ficou conhecido como “O Grande Despertamento”. Ele
foi um dos ministros cristãos mais dinâmicos e conhecidos do século XVIII. Os jornais da época o chamavam de
“maravilha da era”.
12
A Guerra de Secessão, ou Guerra Civil Americana, foi um conflito que aconteceu entre Norte e Sul dos Estados
Unidos entre 1861 e 1865. O conflito iniciou-se quando os estados do Sul criaram um movimento separatista e
declararam sua independência do país, o que foi motivado pela divergência existente a respeito da abolição da
escravidão.
8
Sem entrar nos pormenores históricos, vale lembrar, pelo menos, três
elementos que destacam esse período, como favoráveis ao
estabelecimento do protestantismo. São eles: o liberalismo do II
Império, a crise do padroado e a liberdade de consciência”
(ESPERANDIO, 2005, p. 20).

De acordo com Pereira (1979, p, 88, 89), D. Pedro II os acolheu muito bem de tal forma
que se estabeleceram em várias regiões do estado de São Paulo, tais como, Santa Bárbara e
Campinas, tendo fundado a Igreja Batista de Santa Bárbara, em 10 de setembro de 187113.
Como a obra é de Deus e não do homem, aprouve ao Senhor levantar outras pessoas
para dar continuidade à pregação do evangelho em terras brasileiras. Os casais de missionários
batistas norte-americanos, recém-chegados ao Brasil, William Buck Bagby e Anne Luther
Bagby, os pioneiros; e Zacharias Clay Taylor, Kate Stevens Crawford Taylor, auxiliados pelo
ex-padre Antônio Teixeira de Albuquerque, batizado em Santa Bárbara d’Oeste, no Estado de
São Paulo, decidiram então, iniciar a obra missionária na cidade de Salvador, Bahia, que à
época, contava apenas com 250. 000 habitantes. Assim, segundo Hurlbut (2007, p, 280), os
batistas organizaram a Primeira Igreja Batista do Estado da Bahia no dia 15 de outubro de 1882.
Houve uma controvérsia sobre a organização da Primeira Igreja Batista no Brasil, isto
porque o Pr. José Reis Pereira em seus escritos sempre defendeu que as Igrejas Batistas até
então organizadas, eram de imigrantes, incluindo a língua de realização dos cultos. No entanto,
de acordo com Leite (2014):
...Para o historiador, a primeira Igreja Batista, fruto de missão e para
brasileiros, foi a igreja Batista em Salvador. Tese que sempre foi
questionada por Betty de Oliveira, que defendia como marco inicial
dos Batistas no Brasil a igreja em Santa Barbara. Posição que acabou
ganhando força entre os Batistas no final do Século XX e início do
século XXI com o advento do G12, abraçado pela Primeira Igreja
Batista do Brasil em Salvador, que foi afastada da Convenção Batista
Brasileira no ano 2000, na assembleia em Porto Seguro, Bahia. Em
2003, na 82ª Assembleia da Convenção, foi lançada em plenária a
discussão sobre o marco inicial dos Batistas que foi debatida até a 89ª
assembleia no ano de 2009, e, de modo conveniente, foi aprovada a
tese de Betty de Oliveira. (LEITE, 2014, p. 32)

No Brasil, a confissão de fé adotada pelo missionário Zacarias Clay Taylor, na PIB da


Bahia (1882), logo no seu início, foi a Confissão de Fé de New Hampshire. Outras Igrejas

13
Ainda de acordo com Pereira, nessa mesma localidade, outra Igreja Batista fora organizada no ano de 1879, no
entanto, essas igrejas não nutriam objetivos missionários, pois, sua prioridade eram os colonos de língua inglesa,
o que contribuiu para que, posteriormente, essas duas igrejas fossem extintas. Assim a primeira igreja Batista,
para Pereira, fora considerada a Primeira Igreja Batista em Salvador.
9
Batistas logo seguiram o exemplo. William Buck Bagby a adotou logo em seguida na PIB do
Rio de Janeiro, em 1884. Entretanto, foi só em 1916 que a Convenção Batista Brasileira adotou
a tradução feita por Zacarias Taylor, em 1882, da Confissão de Fé de New Hampshire (1833),
recebendo o nome de A Confissão de Fé dos Batistas Brasileiros. (PEIXOTO, 2017).
Posteriormente, com a missão na Bahia já consolidada, Bagby resolveu transferir-se
para o Rio de Janeiro, e com ímpeto e zelo missionário, organizaram a Primeira Igreja Batista
do Rio de Janeiro, o que ocorreu em 24 de agosto de 1884. Consequentemente, os horizontes
foram se abrindo e novas igrejas foram sendo fundadas. A Primeira Igreja Batista de Maceió,
em 1885, e a Primeira Igreja Batista de Recife, fundada e organizada em 4 de abril de 1886
(Pereira, 1979, p. 92). A obra missionária crescia assustadoramente através do casal Bagby, que
em 1889 participou do processo de Proclamação da República em nosso país, colaborando
inclusive, na elaboração da nossa primeira Constituição.

2.3. ANALISANDO O DESENVOLVIMENTO DA SOTERIOLOGIA


BATISTA
Segundo Faé (2017), John Smith, em sua Curta Confissão de Fé (1609) , afirmou que:
A graça de Deus é “oferecida a todos sem distinção”; os seres humanos seriam capazes de
“resistir ao Espírito Santo” e também de se separar de Deus, perecendo para sempre. Já Thomas
Helwys14,em sua Confissão de Fé de (1611)15, escreveu que Deus “predestinou que todos que
cressem nEle fossem salvos”. E, também, que o ser humano pode cair da graça de Deus.
Em 1644, os Batistas Particulares redigiram o Confissão Batista de Fé de Londres, que
afirma que "Deus, antes da fundação do mundo, predestinou a alguns homens para a vida eterna,
por meio de Jesus Cristo, para o louvor e glória de sua graça, havendo destinado e abandonado
os demais em seu pecado para sua justa condenação”. Essa confissão foi revisada em 1646.
Em seguida, em 1651, os Batistas Gerais publicaram o documento Fé e Prática das
Trinta Congregações, no qual declaravam que Cristo "sofreu a morte por toda a humanidade.
Em 1677, os Batistas Particulares publicaram o Segunda Confissão de Fé de Londres, que foi
revisto em 1689. Este documento dispõe que “alguns homens e alguns anjos são predestinados
(ou preordenados) para a vida eterna através de Jesus Cristo, para louvor da sua graça gloriosa”.

14
Helwys era membro de uma influente família inglesa. Leigo quanto teólogo, seus estudos estavam focados em
uma outra disciplina: o Direito. Se torna amigo de John Smyth antes do mesmo adotar os princípios separatistas
e partir rumo a Holanda, onde Helwys também se une a ele.
15
Helwys Confession 1611.
10
Os Batistas Gerais ainda produziram outros documentos em solo Europeu, conforme
tabela abaixo:
Tabela 1. Credos e Confissões de Fé Batista. 1609-1689.
CREDOS E CONFISSÕES BATISTAS EM TERRITÓRIO EUROPEU POR ORDEM CRONOLÓGICA. 1609-1689

ANO DOCUMENTO GRUPO


1609 Confissão de Fé de John Smith Batistas Gerais
1611 Confissão de Fé de Thomas Helwys Batistas Gerais
1644 Rev. 1646 Primeira Confissão Batista de Fé de Londres Batistas Particulares

1651 Fé e Prática das Trinta Congregações Batistas Gerais


1655 Confissão de Fé de Midland Batistas Gerais
1656 Confissão de Fé de Somerset Batistas Gerais
1660 Confissão Padrão Batistas Gerais
1677 Rev. 1689 Segunda Confissão Batista de Fé de Londres Batistas Particulares

1678 Credo Ortodoxo Batistas Gerais


Fonte: FAÉ, 2017

Os primeiros a chegarem nos Estados Unidos são os Batistas Particulares, que também
eram oriundos do movimento Puritano. Com o desenrolar do Grande Avivamento do século
1816, também cresceu consideravelmente o número de Batistas Gerais nos Estados Unidos.
Estas igrejas também prepararam suas próprias confissões de fé. Assim eles produziram os
seguintes documentos em solo Americano:
Tabela 2. Confissões de fé Batista. 1742 – 1925.
CONFISSÕES BATISTAS NOS EUA POR ORDEM CRONOLÓGIA. 1742-1925

ANO DOCUMENTO GRUPO


1742 Confissão de Fé da Filadelfia Batistas Particulares
1758 Confissão de Fé de Sandy Creek Batistas Particulares
1770 Artigos de Religião da Nova Conexão Batistas Gerais
1883 Confissão de Fé de New Hampshire Batistas Gerais e Particulares

1925 Mensagem e Fé Batista Batistas Gerais e Particulares

16
O Grande Avivamento começou nos anos de 1720 e durou aproximadamente 20 anos. Suas figuras principais
de divulgação eram Jonathan Edwards e George Whitefield e John Wesley. Era parte de um fenômeno religioso
que começou na Europa e esparramou às colônias britânicas. O reavivamento aconteceu principalmente entre o
holandês Reformado, Batistas, Presbiterianos e Congregacionais. A ênfase principal era o medo e os terrores do
pecado eterno para o todo sempre. Um dos sermões mais famosos do tempo era “Pecadores nas mãos de um Deus
Irado” pregado por Edwards. O Avivamento teve vários resultados. Causou divisões permanentes em algumas
denominações como alguns irmãos apoiavam o reavivamento enquanto que outros condenaram suas fortes
tendências emocionalistas. Debilitou o sistema de paróquias porque muitas pessoas deram a sua lealdade a
pregadores errantes em vez de apoiar as congregações de suas origens. Inspirou trabalho de missões entre os índios
e estimulou o fundamento de escolas. Princeton, Dartmouth, Doura, Rutgers, e outras faculdades eram um
resultado direto do revivificação..
11
Fonte: FAÉ, 2017

Com o tempo, com a intenção de estabelecer uma sociedade missionária que envolvesse
um grande número de Igrejas Batistas, surgiu a Convenção Trienal, em 1814, composta tanto
por Batistas Gerais quanto por Particulares. Pereira (1979) informa que esta convenção foi
fundada durante o século XIX , com o aparecimento da obra missionária dos batistas norte-
americanos. Assim ele declara:
...a fim de dar mais estabilidade ao trabalho missionário, organizaram,
em maio de 1814, uma Convenção. Fundada em Filadélfia, essa
Convenção tinha o nome de «Convenção Geral da Denominação
Batista nos Estados Unidos para Missões no Estrangeiro». Como tinha
resolvido reunir-se de três em três anos e esse nome era muito grande,
passou a ser chamada Convenção Trienal. (PEREIRA, 1979, p. 86)

Como bem informa Faé (2017), Essa organização adotou a Confissão de Fé de New
Hampshire (1833), que buscava conciliar as duas visões. Ao falar um pouco mais sobre essa
confissão ele destaca:
O texto da confissão diz que “as bênçãos da salvação são oferecidas
gratuitamente para todos” e que é “dever de todos aceita-las”. Além
disso, afirma que “nada impede a salvação do maior pecador na Terra,
a não ser sua própria depravação e rejeição voluntária do evangelho”.
Também diz que a eleição era “o propósito eterno e Deus, de acordo
com o qual Ele graciosamente regenera, santifica e salva os pecadores,
e isso em perfeita harmonia com a livre agência do ser humano”. Por
fim, a confissão declara que “apenas os verdadeiros crentes perseveram
até o fim” e que “eles são mantidos pelo poder de Deus”. (FAÉ, 2017)

Essa confissão passou a ser amplamente aceita pelos Batistas dos Estados Unidos e
influenciou diretamente o texto da Mensagem e Fé Batista (1925)17. Nos Estados Unidos, as
divisões que ocorreram entre os grupos Batistas se deram não mais pela soteriologia, mas por
outras questões, como a escravidão e o liberalismo teológico18.
A Confissão de New Hampshire foi o documento então utilizado “extraoficialmente”
nas Igrejas Batistas no Brasil até 1986, em uma Assembleia da Convenção Batista Brasileira,
assim como informa Paixão (2019):
A Declaração de Fé de New Hampshire só foi oficialmente abandonada
pela Convenção Brasileira em 1986, em sua 67ª Assembleia realizada
em Campo Grande – MS [...] desde a chegada dos Batistas no Brasil,

17
É a confissão de fé da maior denominação Batista do país, a Convenção Batista do Sul.
18
Sinônimo à Teologia Liberal. Ver nota p. 28.
12
mas precisamente, desde a organização da primeira Igreja Batista em
Salvador, ocorrida em 1882, quando ainda nem mesmo existia uma
Convenção Batista Brasileira, até o ano de 1986, os batistas tinham a
Declaração de New Hampshire como sua confissão. Um período que
durou 104 anos. (PAIXÃO, 2019).

De acordo com Pereira (1979, p. 95), em 1907, vinte e cinco anos após a fundação da
primeira Igreja Batista Brasileira, na cidade de Salvador, foi organizada a Convenção Batista
Brasileira19”, que em 1986 iria criar sua primeira confissão de fé, documento que se tornou
oficial entre as Igrejas Batistas ligadas a convenção.

2.3.1. A BREVE CONTROVERSIA DO “DECAIR DA GRAÇA”


Desde a criação da “Confissão de Fé de New Hampshire (1833)” pela Convenção
Trienal nos EUA, os Batistas negaram qualquer possibilidade de que o homem regenerado
possa perder a salvação.
Todavia, de acordo com Azevedo (1996), na década de 50, Robert Bratcher20 escreveu
uma série de artigos no "Jornal Batista", admitindo a possibilidade da perda da salvação,
especialmente a partir da "Epístola aos Hebreus". Ele reitera:
A questão soteriológica suscitou várias controvérsias bem cedo na
história da teologia, mas uma delas merece atenção por ter ocorrido no
Brasil e recentemente. Nos anos 50, Robert G. Bratcher, professor de
Novo Testamento no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil
(Rio de Janeiro) escreveu alguns artigos no Jornal Batista defendendo
a possibilidade da perda da salvação, no que se opôs francamente a
outro missionário (William Carey Taylor), que escrevera um livro
sobre esta impossibilidade. O pensamento de Bratcher despertou um
furor no meio batista. Quando ele foi de férias aos Estados Unidos, não
voltou. [...] a partir de Hebreus 9:26-39, sustentou a (não-calvinística)
possibilidade da perda da salvação. Sua interpretação não foi
considerada canônica. Por isto, seu retorno ao Brasil, depois de um
período de férias nos EUA, não foi recomendada (AZEVEDO, 1996,
p.189)

Cloud (2012, p. 74-78), ao documentar algumas heresias declarada por Bratcher durante
sua vida, afirma que em 9 de julho de 1953, no “Jornal Batista”, da Convenção Batista

19
A Convenção é um órgão de cooperação, formado pelas igrejas e ao qual elas enviam seus mensageiros. Estes,
nas assembleias das Convenções, discutem e aprovam planos, aos quais depois as igrejas dão sua aprovação de
modo a que possam ser levados a termo.
20
Robert G. Bratcher (1920-2010) nasceu em Campos - RJ, filho de um missionário americano, da Convenção
Batista do Sul. Supervisionou o serviço de tradução da "Good News Bible" (hoje, TEV - Todays English
Version) e a do "Novo Testamento na Linguagem de Hoje" (hoje, BLH - Bíblia na Linguagem de Hoje).
13
Brasileira, na seção de “Perguntas e Respostas”, Bratcher, que na época era missionário da
Convenção Batista do Sul, disse que “Jesus Cristo não gozava de onisciência. Isto é um atributo
de Deus. ... Jesus não afirmou que ele e o Pai eram um — isto seria um absurdo”. Desta forma,
Bracher tinha se inclinado a Teologia Liberal21.
Como já visto, os Batistas Brasileiros foram representados pelos argumentos de William
Carey Taylor22, e logo rejeitaram a ideia da perca de salvação23.

2.4. A ATUAL COMPREENSÃO SOTERIOLÓGICA DOS BATISTAS


BRASILEIROS
Atualmente a CBB (1986), acerca da sua Soteriologia, afirma que a eleição é a escolha
feita por Deus, em Cristo, desde a eternidade, de pessoas para a vida eterna, não por qualquer
mérito, mas segundo a riqueza da sua graça. Assim ela reitera:
1 - Antes da criação do mundo, Deus, no exercício da Sua soberania
divina e à luz de Sua presciência de todas as coisas, elegeu, chamou,
predestinou, justificou e glorificou aqueles que, no correr dos tempos,
aceitariam livremente o dom da salvação;
2 - Ainda que baseada na soberania de Deus, essa eleição está em
perfeita consonância com o livre-arbítrio de cada um e de todos os
homens;
3 - A salvação do crente é eterna. Os salvos perseveram em Cristo e
estão guardados pelo poder de Deus;
4 - Nenhuma força ou circunstância tem poder para separar o crente do
amor de Deus em Cristo Jesus;
5 - O novo nascimento, o perdão, a justificação, a adoção como filhos
de Deus, a eleição e o dom do Espírito Santo asseguram aos salvos a
permanência na graça da salvação; (CBB,1986)

Dessa forma, em consonância com o posicionamento da CBB, é correto destacar os


cinco pontos centrais que se pode perceber em virtude, eles são:
 Graça Preveniente24: Em consonância com a Depravação Total e o Livre Arbitrio.

21
Teologia liberal (ou liberalismo teológico) foi um movimento teológico cuja produção se deu entre o final do
século XVIII e o início do século XX. Este movimento busca relativizar a autoridade da Bíblia, estabelecendo uma
mescla da doutrina bíblica com a filosofia e as ciências da religião, não reconhecendo a autoridade final da Bíblia
em termos de fé e doutrina.
22
William Carey Taylor (1886-1971) foi um sistematizador das doutrinas batistas. Ele tornou a leitura obrigatória
para candidatos a entrar no pastorado. Prolífico, escreveu inúmeras obras, além de incontáveis artigos. Ele ficou
conhecido por seus livros de sistematização doutrinária, particularmente "Doutrinas" (1928) e "Cremos" (1943).
23
Os argumentos de Taylor podem ser encontrados foram publicados nos livros: “A salvação do crente é eterna”(3ª
ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista. 143p.) e “É possível a perda da salvação?” (Rio de Janeiro: Casa
Publicadora Batista, 195?. 61p.).
24
Graça preveniente é uma teologia cristã enraizada em Agostinho de Hipona, porém foi defendida por inúmeros
pais da igreja antes do bispo de Hipona, que hoje chamamos de constituintes da Patrística. Ela é abraçada
primeiramente pelos cristãos arminianos que são influênciados pela teologia de Jacó Armínio ou John Wesley.
14
 Eleição Condicional: Baseando-se na fé ou incredulidade prevista.
 Expiação Ilimitada25: Jesus morreu para todas as pessoas e atrai todos a si mesmo, e
todas as pessoas têm oportunidade de se salvarem pela fé.
 Graça Resistível: Restaurado pela graça preveniente, podendo o homem resistir ao
evangelho, mas sem mérito humano caso receba o dom da fé.
 Perseverança dos Santos: os eternamente eleitos em Cristo necessariamente
perseverarão na fé e na santidade até o fim.
Todos esses pontos podem ser encontrados na visão soteriológica Arminiana Clássica26,
que inicialmente cria na perseverança dos santos, e posteriormente seria um dos pontos da
“TULIP 27 ”. Com o passar do tempo essa concepção foi abandonada pela remonstrancia 28
Todavia apesar de que estes pontos se assemelhem a Soteriologia Batista, não temos evidencias
históricas que liguem os Batistas aos Arminianos Classicos, ou até mesmo aos remonstrantes.
A Confissão de Fé de New Hampshire (1833), que era o documento utilizado nas Igrejas
Batistas Brasileiras antes da Confissão de Fé da CBB, segue com a mesma linha de pensamento,
a única “aparente” incoerência que se pode notar é a utilização do termo “livre agencia29” em
vez de “livre arbítrio”, que foi utilizado na confissão da CBB. Todavia, apesar deste assunto
estar longe de um consenso histórico, a inclusão deste novo termo na confissão da CBB é
explicada e delimitada à vontade soberana de Deus. A Confissão de Fé de New Hampshire
(1833), em seu sexto parágrafo, quanto a natureza da salvação, deixa claro que:
Cremos que as bênçãos da salvação são colocadas à disposição de todos
pelo evangelho; que é o dever imediato de todos aceitá-las por uma fé
cordial, penitente e obediente; e que nada impede a salvação do maior
pecador na terra exceto sua própria depravação inerente e rejeição

Graça preveniente é a divina graça que precede a decisão humana. Ela existe antes de e sem referência a qualquer
feito humano. Como os homens foram corrompidos pelo efeito do pecado, a graça preveniente permite as pessoas
exercerem o seu livre-arbítrio dado por Deus, podendo então, escolher a salvação oferecida por Deus em Jesus
Cristo ou rejeitar a oferta salvífica.
25
Segundo a CCB (1986), A Salvação é um dom gratuito que Deus oferece a todos os homens e que compreende
a regeneração, a justificação, a santificação e a glorificação.
26
Quadro 1.
27
Sintese da soteriologia calvinista em cinco pontos: T - Total Depravity (Depravação Total); U - Unconditional
Election (Eleição Incondicional); L - Limited Atonement (Expiação Limitada); I - Irresistible Grace (Graça
Irresistível); P - Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos).
28
A Irmandade Remonstrante foi fundada em 1617, após a expulsão no Sínodo Nacional Dordrecht de cerca de
45 ministros e teólogos dos Países Baixos que deram continuidade ao desenvolvimento da teologia de Jacobus
Arminius. Em 1610, depois da morte de Arminius, seus seguidores propuseram Os cinco artigos da remonstrância,
defendendo sua teologia. Os remonstrantes progressivamente afastaram-se das linhas traçadas originalmente por
Armínio e assim abandonaram alguns dos princípios, como a crença no pecado original e na depravação total.
Posteriormente, a teologia de alguns sofreu fortes influências do iluminismo, universalismo e teologia liberal. Hoje
confessam o protestantismo liberal não-dogmatico.
29
O homem é livre para fazer suas escolhas, exceto a escolha da salvação.
15
voluntária do evangelho; que a rejeição envolve-o em uma condenação
agravada. (CONFISSÃO DE FÉ DE NEW HAMPSHIRE, 1833)

Observa-se que apesar da mudança de termos nas confissões, a perspectiva soteriologica


batista brasileira, não sofreu mudanças quanto a sua forma, defendendo sempre o mesmo
posicionamento desde 1833, agrupando pontos da teologia Arminiana e Calvinista.

2.5. SOTERIOLOGIA E DEMOCRACIA BATISTA


Assim como outros cristãos históricos, a realidade contemporânea tem sido bem
diferente daquela encontrada pelos primeiros missionários. Pois, nos tempos passados, as
pessoas se aproximavam da igreja por acreditar em seus dogmas e em busca de cultivar a fé
cristã à luz de uma religiosidade racional. Todavia, em tempos modernos as motivações
relacionadas à viva cristã, em muitos casos, são fomentadas por atitudes nada ortodoxas. Ou
seja, aproximam-se da comunidade cristã não visando uma mudança de vida ou comunhão
íntima com Deus durante a caminhada, mas sim, quase sempre, tal empatia se dá na busca
daquilo que a religiosidade pode oferecer. No que diz respeito a essa religiosidade vazia, Lopes
é enfático quando diz:
“Ainda hoje muitos pensam que as observâncias externas são as coisas
mais importantes da religião. Há muito zelo pela forma, e pouco
cuidado com a vida. Há muito cuidado com a tradição, e pouco zelo
com a verdade. Há muita preocupação com a forma, e quase nenhuma
com a motivação. Contudo, essas exterioridades são meios, e não fins.
Se elas vieram separadas de um coração penitente e contrito, são meios
de condenação, e não de salvação” (LOPES, 2007, p. 96).

Esse tipo de comportamento é o que vemos comumente nas Igrejas Batistas Brasileiras
quando se coloca em pauta alguns tipos de assuntos teológicos, assim como Soteriologia, no
argumento de que devemos “pregar o evangelho a toda criatura” e não brigar por “motivos
vãos”. Todavia há um grande problema neste tipo de argumento, pois assim como nos informa
Júnior (2021, p. 4), a crença está centrada em toda a vida, ou seja, se não existem crenças bem
definidas, aceitamos argumentos inconsistentes e até hereges acerca de determinados assuntos,
os quais por sua vez, irão exercer influência na vida prática cristã. Diante de assuntos dos quais
parecem causar tantas discussões, o correto não é abandonar os estudos dos mesmos, mas sim
parar e definir o pensamento individual, que inclusive é o que sempre foi identificado no seio
do movimento batista.

16
Para McGlothin (2011), os Batistas apesar das declarações doutrinarias adotadas,
sempre reiteravam o princípio de liberdades no uso das confissões. Ele afirma:
Sendo congregacionais e democráticos quanto ao governo da igreja, os
Batistas têm sido naturalmente muito livres na formulação, mudança e
uso de confissões. Nunca houve entre eles nenhuma autoridade
eclesiástica que pudesse impor uma confissão sobre suas igrejas e sobre
outros grupos denominacionais. Suas confissões são, estritamente
falando, declarações sobre o que um certo grupo de Batistas, grande ou
pequeno, cria num determinado momento histórico, e não um credo no
qual todo Batista devesse crer em todos os tempos a fim de manter uma
posição eclesiástica ou para ser considerado Batista. (MCGLOTHLIN,
2011, p. XII)

A democracia Batista sempre engolfou um princípio crucial na denominação, que é a


liberdade de consciência, que foi aplicado em diversas convicções ao longo de séculos. Assim
como informa Experandio (2005, p. 27), esse princípio se constituiu como elemento essencial
na formação da identidade batista, pautando cada decisão a partir da autonomia do indivíduo.
Embora este princípio possa ter levado alguns estabelecimentos a distorcer a identidade dos
Batistas no Brasil, gozando de uma “liberdade individual”, pode-se constatar também que a
democracia criada através deste, sempre conduziu as Igrejas da CBB a convicções ortodoxas,
como pode-se constatar em sua compreensão Soteriológica.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mediante ao presente trabalho, podemos concluir que a Soteriologia Batista, assim como
toda sua Identidade, foi forjada a partir do princípio da “autonomia do individuo”, que
conduziu, e ainda conduz pessoas a uma melhor compreensão teológica, se bem orientadas.
Ocorre que, assim como os batistas utilizam-se das Escrituras para rejeitar os ensinos e práticas
não ortodoxas, da mesma forma, é também quanto à Soteriologia, isto é, baseiam-se
completamente na Bíblia Sagrada para fundamentar e estruturar suas crenças concernentes aos
princípios da salvação.
É evidente que as linhas teológicas, Arminianismo e Calvinismo, ainda que se
apresentem de uma forma conjunta na história e nas confissões de fé Batistas utilizadas desde
a chegada do movimento no Brasil, não necessariamente ditam a convicção soteriológica de
cada membro. Todavia, cada membro deve ter em mente que, apesar dos pensamentos opostos
na denominação, é necessário destacar que essas linhas Soteriologicas (Arminianismo e
Calvinismo) não são consideradas heréticas devido a apresentarem respostas Bíblicas
concernentes a ação salvadora de Deus.

17
A guisa de conclusão, ressaltamos que o trânsito entre o Arminianismo e o Calvinismo
propiciado pela Confissão de Fé de New Hampshire não significa que houve uma tentativa de
fusão das mesmas, mas sim, uma forma particular Batista de compreender a Soteriologia,
possibilitando que o indivíduo Batista escolha sua forma de pensar particular, desde que não
assumam posições consideradas heréticas. Por este motivo, a exemplo das grandes
denominações históricas, o que se pode perceber é que os Batistas não ficaram para trás, pois,
entendendo que o mandamento de Cristo seja pregar o evangelho a toda criatura (Mc 16: 15),
logo deixaram suas diferenças de lado, e cumpriram à risca o mandamento da grande comissão
(Mt 28: 18-20). Assim como os presbiterianos, metodistas, luteranos e assembleianos, os
batistas representam atualmente uma força gigantesca entre os evangélicos do Brasil. Ademais,
além de contribuir com a expansão do evangelho, os batistas contribuíram também com a
fundação de escolas, abrigos e assistência aos necessitados, ações que caracterizam amor ao
Reino de Deus e uma eterna dívida de gratidão a qual o povo brasileiro jamais poderá pagar.
Tudo isso se tornou possível pela liberdade individual, um princípio essencial na formação da
identidade batista.
Assim, dois grupos, no início do movimento Batista, surgiram separados e assim se
mantiveram durante algum tempo. Entretanto, finalmente perceberam que tinham objetivos
comuns e que poderiam aumentar a efetividade de suas ações se unissem forças. Desta forma,
advoga-se para os líderes locais de cada Igreja Batista, uma responsabilidade de ensino diante
desta união de pensamentos Soteriológicos opostos, tendo em mente que cada membro possa
atingir uma maturidade quanto a forma de pensar Soteriológica, escolhendo seu
posicionamento, e operando o respeito ao pensamento oposto (quando este é bíblico),
erradicando qualquer porfia que possa existir diante da polêmica que existe sobre o assunto.
Sendo assim, ainda que estabelecido um consenso oficial (como na confissão de fé) o
cristão Batista deve, não somente respeitar, mas também incentivar a cada membro a pensar
teologicamente sobre cada convicção, para que assim possam cultivar a lembrança de que
apesar das diferenças de pensamento, unidos podem cumprir o mandamento de Cristo, pregando
o evangelho a toda criatura.

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