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Seminário Martin Bucer

Curso Livre de Teologia


Disciplina: Teologia Sistemática III Dependência

Aluno: Antonio Amorim Peixoto


Professor: Dr Franklin Ferreira
São José dos Campos, SP,14\12\2022

Trabalho:

A Doutrina da Eleição

A nossa união com Cristo é um tema que levanta uma série de questões, dentre as quais
está a questão da eleição. A questão é qual o alcance da salvação? O Espirito Santo
aplica a salvação a todos? Qual o significado da eleição? É Deus quem escolhe os
salvou ou a salvação é baseada no livre arbítrio?

A natureza do nosso relacionamento com Cristo é discutida em relação a forma como


nos unimos a Cristo, podendo destacar três abordagens principais na história da igreja
ocidental: o catolicismo romano, o arminianismo e o calvinismo. Entretanto, desde a
igreja primitiva já encontramos paralelos sob a forma do pelagianismo, do
agostinianismo e do semipelagianismo. (Teologia Sistemática- Franklin Ferreira pág.
708-709).

Para Pelágio Deus fez os seres humanos livres e o mal tem sua origem na vontade
humana podendo esse se sobrepor ao pecado escolhendo entre o bem e o mal. O homem
é dotado da capacidade de resistir ao pecado e cumprir perfeitamente os dez
mandamentos sem a necessidade da graça divina. Para Pelágio a salvação pode ser
alcançada através das boas obras sendo o evangelho considerado como não essencial a
salvação.
Agostinho define a história da redenção se divide em três etapas: Criação, os seres
humanos tinham a capacidade para pecar e para não pecar, além da capacidade de não
morrer; depois da queda, os seres humanos perdem a capacidade de não pecar e de não
morrer, no céu os seres humanos não poderão pecar e não poderão morrer. Agostinho
conclui que o ser humano tem livre arbítrio de acordo com sua natureza, porém não tem
liberdade: A vontade humana escolhe livremente o pecado. A graça de Deus se faz
necessária para a salvação uma vez que o homem não tem a capacidade de querer a
Deus pois sua mente está escravizada ao pecado. Agostinho refutou as ideias de Pelágio
numa série de tratados contra o pelagianismo.

Em 417 e 418 o pelagianismo foi formalmente condenado pelo Bispo de Roma e pelo
Concílio de Cartago em 418 e de Éfeso em 431. Após a morte de Agostinho a igreja
medieval se aproximou das ideias de Pelágio e começou a desenvolver um pensamento
semipelagiano ou semiagostiniano, aceitando a depravação total proposta por Agostinho
juntamente com uma elaborada doutrina da graça presente nos sacramentos que
capacitaria o homem a cooperar com a própria salvação através das boas obras. Sendo
assim o Semipelagianismo foi um meio termo para tentar conciliar os ensinos de
Pelágio com os de Agostinho.

O catolicismo romano na sua teologia ensina que a união com Cristo se dá através dos
sacramentos da igreja. A graça é o favor e o socorro gratuito de Deus e a participação na
vida divina. Os sacramentos são os canais da graça salvadora. Uma característica da
teologia católica é a necessidade de mediadores entre os fiéis e Deus e a comunhão se
estabelece através da eucaristia. As boas obras fazem parte do processo para a salvação.
O livre arbítrio está enfraquecido, porém não incapacitado daí a pessoa poder participar
do seu processo de salvação cooperando com sua parte podendo aceita-la ou recusa-la.
Logo na teologia católica encontramos o semipelagianismo que define que a graça é
suficiente para receber o evangelho, mas pode ser rejeitada. Para quem coopera é dada a
graça cooperante que o capacitará para a salvação. Daí surge a fé como um elemento
intelectual. No batismo ocorre a conversão e a justificação e através da obediência aos

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dez mandamentos a santificação. Através da obediência o fiel pode receber mais graça
para santificação e não existe garantia de perseverança.

A reforma protestante rompe com esses conceitos e defende a livre graça da soberania
de Deus refutando a ideia da autonomia do livre arbítrio. Sendo Adão o representante de
toda a raça humana e caindo em pecado todos nascemos escravos de pecado e sem a
capacidade de autonomia para o livre arbítrio estando a nossa vontade escrava do
pecado. O homem agirá de acordo com sua natureza pecaminosa.

João Calvino aplica o termo predestinação na sua Obra as Institutas 1539 sendo o seu
ensino semelhante a outros reformadores e a Agostinho. Define-se predestinação como
o eterno decreto de Deus pelo qual houve por bem determinar o que acerca de cada
homem quis que acontecesse. Pois Ele não quis criar a todos em igual condição; ao
contrário, preordenou a uns a vida eterna; a outros, a condenação eterna. Portanto, como
cada um foi criado para um ou outro desses destinos, assim dizemos que um foi
predestinado ou para a vida, ou para a morte. (As Institutas III. 21.5)

A base do ensino de Calvino é tomada das Escrituras e nada disse que não pudesse ser
tomado da mesma.

O Arminianismo verdadeiro surge após a morte de Jacob Arminius que já vinha


juntamente com outros teólogos reivindicado mais liberdade doutrinária na igreja
reformada holandesa. Dois de seus discípulos lançam pontos que abrem termos para
discussão. Para eles Cristo morreu por todos os homens. No princípio ainda no
pensamento de Jacob Arminius ele entendia que era necessário a graça salvadora iniciar
o processo pois o homem estava totalmente incapacitado para querer a Deus.
Posteriormente esse pensamento foi modificado pelos seus seguidores e passou-se ao
entendimento de que a queda afetou o entendimento, mas não o deixou incapacitado
sendo assim a graça inicia o processo, mas o homem coopera com o sim ou o não.

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O entendimento dos reformadores é de que a Eleição é um ato de Deus, antes da
criação, no qual ele escolhe algumas pessoas para serem salvas, não por causa de algum
mérito antevisto nelas, mas somente por causa da sua suprema boa vontade.

No Novo Testamento a doutrina é apresentada como um consolo para os cristãos. Rm


8.28 apresentando assim segurança baseada na predestinação de Deus. Paulo vai nos
ensinar em Ef.1.5-6 que fomos predestinados para o louvor da sua glória. Em 2Tm 2,10
nos incentiva a evangelização pois ele sabe que tendo Deus escolhido alguns para a
salvação estes serão alcançados através da pregação.

A eleição não se baseia na presciência de deus sobre a nossa fé como afirmam os


arminianos pois em Ef 1,4 Paulo afirma que fomos eleitos em Cristo antes da fundação
do mundo.

A doutrina da eleição tem uma aplicação prática na nossa relação com Deus e daí vem a
pergunta sendo eu quem era por que hoje sou um cristão? E a resposta é porque Deus na
eternidade passada decidiu aplicar seu amor sobre mim sem que houvesse qualquer
coisa boa em mim, mas sim porque ele decidiu me amar.

A doutrina da eleição nos torna humildes diante de Deus, faze-nos perceber que não
temos direito algum a graça de Deus e nossa resposta é louvor eterno a Deus.

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Bibliografia

Ferreira, Franklin Teologia Sistemática uma análise histórica, bíblica, e apologética para
o contexto atual\ Franklin Ferreira e Alan Myatt- São Paulo: Vida Nova, 2007
Grudem, Wayne A. – Teologia Sistemática Vida Nova 1999

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