Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Dave Hunt em seu livro ''Que Amor é esse'' apelidado de o ''machado afiado de
Dave Hunt'' por causa das duras críticas ao Calvinismo. Através de uma citação explica a
diferença entre as posições:
''Earle E. Cairns explica a maior diferença entre os dois sistemas: Sua tentativa [de
Arminio] de modificar o calvinismo foi de que [...] Deus pode não ser considerado o autor
do pecado nem o homem um autômato nas mãos de Deus, isso trouxe oposição sobre ele
[...]. ambos Arminio e Calvino ensinaram que o homem, que herdou o pecado de Adão,
está sob a ira de Deus. Mas Arminio creu que o homem era capaz de iniciar sua salvação
depois de Deus ter garantido a graça primária para capacitar sua vontade a cooperar com
Deus [...]. Arminio aceitou a eleição, mas creu que o decreto de salvar alguns e condenar
outros teve "seu fundamento na presciência de Deus". Assim a eleição era condicional. ao
invés de incondicional [...]. Arminio também creu que a morte de Cristo foi suficiente para
1
PIPER, John / Cinco Pontos – em direção a uma experiência mais profunda da graça de Deus; [Traduzida por Francisco
Wellington Ferreira]. 1ª edição – São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2014.
todos, mas que é eficiente somente nos crentes". Calvino limitou a expiação aos eleitos
para a salvação. Arminio também ensinou que o homem pode resistir a graça salvadora de
Deus, enquanto Calvino manteve que a graça era irresistível''2
Há dúvidas até mesmo se o próprio Calvino cria da forma que hoje os calvinistas
entendem, pelas afirmações de teólogos calvinistas como Augustus Hopkins Strong e do
próprio Calvino em sua exposição a carta aos gálatas que diz o seguinte:
Laurence M. Vance em seu livro ''O Outro Lado do Calvinismo'' afirma a respeito de
Augustus Hopkins Strong:
3
PIPER, John / Cinco Pontos – em direção a uma experiência mais profunda da graça de Deus; [Traduzida por Francisco
Wellington Ferreira]. 1ª edição – São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2014.
4
VANCE, Laurence M. O Outro Lado do Calvinismo / Laurence M. Vance; Tradução: Darivan S. Castro; 1ª edição - São
Paulo: Editora Reflexão, 2017.
2:22. Em seu zelo para fazer de Calvino um Calvinista de quatro pontos (...), esta citação
de Strong é também reconhecida por Calvinistas como espúria.''5
5
VANCE, Laurence M. O Outro Lado do Calvinismo / Laurence M. Vance; Tradução: Darivan S. Castro; 1ª edição - São
Paulo: Editora Reflexão, 2017.
6
DANIEL, Silas / Arminianismo a mecânica da salvação – Uma exposição histórica, doutrinária e exegética sobre a graça
de Deus e a responsabilidade humana; 4ª impressão – Bangu – Rio de Janeiro, Editora CPAD, 2018.
inscrição dos que são ordenados à vida eterna, à qual alguém é ordenado por duas
causas: ou por predestinação divina, que nunca falha, ou pela graça. Pois quem tem a
graça por isso mesmo é digno da vida eterna; todavia esta ordenação, às vezes, falha,
porque alguns eram ordenados, pela graça recebida, a alcançar a vida eterna e, contudo, a
perderam pelo pecado mortal. Por outro lado, os ordenados pela predestinação divina a
alcançar a vida eterna estão absolutamente falando, inscritos no Livro da Vida; porque nele
estão inscritos como havendo de alcançá-la em si mesma; e esses não serão nunca dele
riscados. Dizemos, porém, que estão inscritos no Livro da Vida não absolutamente, mas
relativamente, os ordenados a alcançar a vida eterna não por predestinação divina, mas só
pela graça. Porque nele estão inscritos como havendo de alcançar a vida eterna em sua
causa e não em si mesma. E esses podem ser dele riscados.'' Para Aquino, os salvos
predestinados o eram pela graça eficaz e os demais salvos, pela graça suficiente.''7
Não é de se admirar que por causa dessas posturas Tomás de Aquino não foi visto
com apreço nem por Calvino e nem por Lutero e a maioria dos monergistas, que
combateram a diferente visão de Aquino sobre a predestinação dos eleitos. Entendia
Calvino a respeito de Aquino que incluíra algum mérito humano na predestinação:
''Lutero, por sua vez, chegou a chamar Aquino de "A estrela que caiu do céu",
mencionada em Apocalipse 8.10, e sua Summa Theologica como "A quintessência de
todas as heresias".10
Por Aquino não crer em uma ''assistência geral'' da graça de Deus em um mesmo
nível para todos, a maioria enxergava Aquino ''um perigo, porque por mais que ele
enfatizasse o livre-arbítrio, este soava, no fundo, no fundo, uma farsa''. E isso fez com que
naqueles dias a posição de Aquino não fosse majoritária. Logo depois surgiria entre eles a
posição molinista (elaborada no século XVI por um espanhol originalmente tomista - o
jesuíta Luís de Molina - e adotada pelos jesuítas), ''Contra ela se voltariam os demais
tomistas (no caso, os dominicanos), porque os tomistas jesuítas acabariam aderindo em
peso ao molinismo. Ou seja, a briga entre tomistas e molinistas foi uma briga, na verdade,
entre "tomistas-tomistas" e "tomistas-molinistas".''11
Esse pensamento não deve ser visto como uma nova teologia, percebemos
analisando a história da Igreja que em alguns momentos ele tenta retornar. Esses
indivíduos já foram chamados de ''calminianos'', ''tomistas, tomistas'' e outros que vestem a
camisa, mas não sabem do que se trata, quase sempre com uma proposta de conciliar e
trazer paz entre os adeptos das posições ou na tentativa de se mostrar como um grande
descobridor que ao viajar encontra mais um mar. Portanto o que vamos obter depois dessa
tentativa apaziguadora e palatável ou supostamente egocêntrica de proposta de
9
DANIEL, Silas / Arminianismo a mecânica da salvação – Uma exposição histórica, doutrinária e exegética sobre a graça
de Deus e a responsabilidade humana; 4ª impressão – Bangu – Rio de Janeiro, Editora CPAD, 2018.
10
DANIEL, Silas / Arminianismo a mecânica da salvação – Uma exposição histórica, doutrinária e exegética sobre a graça
de Deus e a responsabilidade humana; 4ª impressão – Bangu – Rio de Janeiro, Editora CPAD, 2018.
11
DANIEL, Silas / Arminianismo a mecânica da salvação – Uma exposição histórica, doutrinária e exegética sobre a graça
de Deus e a responsabilidade humana; 4ª impressão – Bangu – Rio de Janeiro, Editora CPAD, 2018.
coexistência em mistério das duas estruturas é uma salada de frutas teológicas. Na
apresentação dessa ideia não precisamos ir muito a fundo para perceber a incoerência
teológica. Mesmo que essa suposta "terceira via" tenha um propósito de paz entre os dois
pensamentos, em seu desenvolvimento ela cria seus ramos de pensamento, como foi
apresentada, e se torna mais complexa do que as outras duas posições que são vistas
pela maioria com complexidade.
O teólogo arminiano de nossa época, chamado Roger Olson apresenta essa
impossibilidade em seu livro: "Uma mescla de Calvinismo e Arminianismo é possível?".12
Esse deixa claro que isso é impossível em sua estrutura teológica. Não sei se o
desenvolvedor desta suposta "terceira via" está ciente da impossibilidade de concordância
ou ele somente quer que essa posição exista como um Frankenstein da Teologia, que
responderá suas indagações com a frase do personagem "Chicó" da obra de Ariano
Suassuna em o Auto da Compadecida: "Não sei, só sei que foi assim".
O teólogo norte americano Dave Hunt defendendo uma discussão aberta a respeito
das duas vertentes teológicas, em seu livro ''Que amor é esse?'' no capitulo ''Um Apelo Por
Uma Discussão Aberta'' mostra-nos que teologicamente é insuportável a coexistência
dessas duas posições soteriológicas e diz:
12
OLSON, Roger E. / Teologia Arminiana – Mitos e Realidades; [Tradução Wellington Carvalho Mariano]. 1ª edição – São
Paulo: Editora Reflexão, 2013.
13
HUNT, DAVE Que amor é este? / Dave Hunt; [Tradução Cloves Rocha dos Santos e Walson Sales da Silva]. 1. Edição
- São Paulo: Editora Reflexão 2015.
E em outra obra, ''Teologia Arminiana Mitos e Realidades'', expondo esse assunto
no segundo capítulo (Mito) ''A impossibilidade do Calminianismo'', Roger Olson faz a
seguinte afirmação:
''A lógica sempre forçará a pessoa a seguir um caminho ou o outro. Claro, se não
nos importarmos com a lógica, então habitamos uma casa calminiana artificialmente
construída sobre a areia. Mas ela será devastada por duras questões de lógica e senso
comum. A eleição de indivíduos para a salvação é condicional ou incondicional? Se
respondermos: "Não sei", nenhum hibrido calminiano existe. Mas se respondermos:
"Ambas", onde está o meio termo? Como podemos, de maneira lógica, combinar a eleição
incondicional com a condicional? As mesmas perguntas poderiam ser feitas para a visão
calminiana da expiação e da graça. Deus planejou que a morte expiatória de Cristo
salvasse todos ou apenas alguns? Se respondermos que Deus intenciona salvar todos,
mas que sabe que apenas alguns serão salvos, somos arminianos! Se respondermos que
Deus intenciona salvar apenas alguns, ainda que sua morte seja suficiente para salvar
todos, somos calvinistas! Quase todas as respostas inteligentes do calminianismo para tais
indagações acabam sendo calvinistas ou arminianas. A graça salvífica é resistível ou
irresistível? Ela é eficaz ou pode ser rejeitada? Onde está o meio termo? Uma vez que o
calminiano começa a definir e a aplicar, ele ou ela inevitavelmente revelará cores
calvinistas ou arminianas.''14
De qualquer maneira, em seu desenvolvimento vamos ter que lhe dar com os
mesmos problemas a respeito de Deus, se essa "terceira via" tinha o propósito de resolver
os supostos "problemas" de cada visão, não resolveu, até porque os supostos "problemas"
continuam. Deus continua elegendo com base no decreto eterno como o Calvinismo nos
apresenta e também pela presciência como o Arminianismo nos apresenta segundo a
aplicação dessa "terceira via". Se ele elege por decreto eterno isso ainda parece injusto
para aqueles que têm problema em enxergar um Deus que supostamente faz acepção de
pessoas, ou seja, o Deus abscôndito de Lutero (O Deus abscôndito é completamente livre
14
OLSON, Roger E. / Teologia Arminiana – Mitos e Realidades; [Tradução Wellington Carvalho Mariano]. 1ª edição – São
Paulo: Editora Reflexão, 2013.
das criaturas e pode condená-las sem motivo, se assim escolher15), e a pergunta ainda vai
continuar sem resposta "Deus é o criador do mal?" Se a bíblia diz que não, é não, e se a
bíblia diz que o homem é responsável, então ele é. Então como essa responsabilidade é
passada para o homem? Não sei, isso é mistério de Deus; essa é a resposta calvinista da
maioria que se atreve. E no que diz respeito a eleição pela presciência no arminianismo, a
seguinte pergunta "Se Deus elege com base na presciência, quem colocou o futuro lá para
que Ele pudesse prever?" Segundo Roger Olson escritor de várias obras arminianas, diz:
"é um mistério com o qual arminianos clássicos estão dispostos a viver, pois acreditam que
ela (uma simples presciência divina sem o determinismo abrangente divino) é ensinada
nas Escrituras e porque ela é a única alternativa a outras visões da presciência de Deus
16
que eles (os arminianos clássicos) não podem abraçar." Portanto não temos um único
suposto problema agora, e sim dois ou mais dependendo das colisões em cada ponto que
se choca.
Essa foi a resposta extraída da obra de Roger Olson, autor do livro "Arminianismo
perguntas frequentes":
16
OLSON, Roger E. / Arminianismo Perguntas Frequentes – Tudo o que você sempre quis saber; [Traduzido por
Wellington Mariano]. Seedbed Shorts, Copyright 2014. http://patheos.com/blogs/rogerolson
juntamente com o calvinismo, o arminianismo acredita e ensina que a iniciativa na
salvação é de Deus e que toda a habilidade na salvação é de Deus. Mas contra o
calvinismo e juntamente com o semipelagianismo, os arminianos creem que os pecadores
podem resistir a graça de Deus e, a fim de que sejam salvos, devem aceitar livremente a
graça." 17.
17
OLSON, Roger E. / Arminianismo Perguntas Frequentes – Tudo o que você sempre quis saber; [Traduzido por
Wellington Mariano]. Seedbed Shorts, Copyright 2014. http://patheos.com/blogs/rogerolson
18
GEISLER, Norman Eleitos, mas livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio / Norman
Geisler; tradução Heber Carlos de Campos. -2. ed.- São Paulo: Editora Vida, 2005.
19
GEISLER, Norman Eleitos, mas livres: uma perspectiva equilibrada entre a eleição divina e o livre-arbítrio / Norman
Geisler; tradução Heber Carlos de Campos. -2. ed.- São Paulo: Editora Vida, 2005.
atributos de Deus esse pêndulo balançou entre a ênfase na grandeza e na bondade de
Deus. No entanto, em muitos casos, teólogos e grupos específicos de cristãos destacaram
exageradamente um lado da natureza revelada de Deus, negligenciando, quando não
negando abertamente o outro lado.''20
Desde então percebemos posturas de teólogos diversas ao decorrer da história. Uns
enfatizando sua soberania em detrimento a sua bondade e outros sua bondade em
detrimento a sua soberania. Agostinho no séc. V, retratou Deus como ''o Um'' do
pensamento (neo-) platônico e como imperador cósmico. Para o grande teólogo medieval,
Tomás de Aquino comparou a grandeza de Deus (como infinitude e perfeição metafisica).
Lutero quando ''estava reagindo ao que considerava um enfraquecimento de grandeza de
Deus no pensamento e na espiritualidade do catolicismo da Idade Média tardia (e.g., na
teologia de Erasmo, que afirmava a liberdade humana), o reformador alemão esforçou-se
para proteger e promover intensamente a majestade de Deus, a ponto de defender uma
dimensão oculta de Deus na qual ele é absoluta liberdade, poder e vontade, fazendo e
sendo o que porventura escolher. O Deus abscôndito é completamente livre das criaturas
e pode condená-las sem motivo, se assim escolher.'' Jonh Wesley um grande teólogo da
grande tradição centrado na natureza de Deus como pessoa e em sua bondade e o Conde
alemão romântico-pietista Nicolas Ludwig von Zinzendorf nunca negaram e nem
negligenciaram intencionalmente a grandeza de Deus, mas pareciam acreditar que esse
lado da natureza divina já fora suficientemente destacado nas igrejas protestantes.
Friedrich Schleiermacher no liberalismo teológico considerava Deus ''o ser de quem todas
as criaturas são totalmente dependentes e que não é dependente de nada
fora dele próprio''. O teólogo do século XX, Karl Barth, tentou atualizar essa grande
tradição de ensinos e reflexões sobre a natureza de Deus descrevendo os dois aspectos
como ''perfeição da liberdade'' e ''perfeição do amor'' (Deus é aquele que ama em
liberdade'') 21. Porém Roger Olson introduz seu livro com uma proposta de reconciliação na
teologia e com isso nos apresenta a necessidade da teologia ''tanto... quanto'' e ele diz:
''No entanto, também pretende proporcionar uma proposta teológica mediadora
dentro da ampla tradição do cristianismo protestante evangélico. A teologia mediadora
tenta superar diferenças desnecessárias e desastrosas entre perspectivas e interpretações
20
OLSON, Roger E. Histórias das controvérsias na teologia cristã: 2000 anos de unidade e diversidade/Roger E. Olson;
tradução Werner Fuchs. -- São Paulo: Editora Vida, 2004.
21
OLSON, Roger E. Histórias das controvérsias na teologia cristã: 2000 anos de unidade e diversidade/Roger E. Olson;
tradução Werner Fuchs. -- São Paulo: Editora Vida, 2004.
no âmbito da mesma religião - neste caso o cristianismo. Essa tentativa de aproximação
valoriza tanto a unidade quanto a verdade e aceita o fato de ser às vezes necessária a
concordância de cristãos igualmente comprometidos em discordar sobre assuntos
secundários e a união em torno dos pontos comuns.'' 22
Ele finaliza seu pensamento dizendo que deve haver uma substituição no âmbito da
fé cristã no que diz respeito a controvérsias secundarias da teologia, ''concluindo com
algumas sugestões para o ponto de vista unificador ressaltando a teologia do "tanto...
23
quanto" em vez de a teologia do "ou... ou". Portanto se minha teologia esta pautada na
''teologia do ou... ou'' tenho que fazer a infeliz afirmativa de que ''ou'' John Wesley está
certo ''ou'' Charles Spurgeon está errado, ou vice e versa, pelo fato de os dois pensarem
de forma diferente no que diz respeito a soteriologia. Ao invés de dizer porque não avaliar
que ''tanto'' um ''quanto'' outro contribuíram para nossa teologia. Roger Olson conclui
dizendo: ''Se existe algo referente a Deus com que todos os cristãos sempre concordaram
(além da existência de Deus) é que Deus é tanto grande quanto bom. Como vimos, os
cristãos nem sempre opinaram de forma idêntica sobre as características exatas da
magnitude e da bondade de Deus.'' Podemos perceber que já existem propostas de
conciliação com ótima fundamentação teológica e filosófica, e que esse assunto exige
muita labuta para arranhar a superfície sobre tais referentes problemas, e tanto o
Calvinismo quanto o Arminianismo foram desenvolvidos a partir de mentes brilhantes, e
ainda assim não são suficientes e satisfatórios para alguns. Mas percebemos a coerência
e o equilíbrio em suas construções ao decorrer dos séculos.
22
OLSON, Roger E. Histórias das controvérsias na teologia cristã: 2000 anos de unidade e diversidade/Roger E. Olson;
tradução Werner Fuchs. -- São Paulo: Editora Vida, 2004.
23
OLSON, Roger E. Histórias das controvérsias na teologia cristã: 2000 anos de unidade e diversidade/Roger E. Olson;
tradução Werner Fuchs. -- São Paulo: Editora Vida, 2004.