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OS ENSINOS

PERIGOSOS DE
CALVINO
Uma análise introdutória nas Institutas de João Calvino.
Copyright © 2021 Diego Rodrigo Aquino
Todos os direitos reservados

Edições analisadas: “Institution de la Religion Chrestienne


– As Institutas ou Instituição da Religião Cristã Da edição
original francesa de 1541 – Conforme publicação feita pela
Société les Belles Letres, Paris, 1936, com a colaboração da
Société du Musée historique de la Réformation.

1ª edição em português 2002 – 3.000 exemplares

Capa: Willi Nunes da Silva


Diagramação: Isabela Gonçalves
Revisão: Caixa Criativa
SUMÁRIO

SUMÁRIO................................................................. 4
AGRADECIMENTOS.................................................. 6
PREFÁCIO................................................................. 8
INTRODUÇÃO.......................................................... 10
CAPÍTULO 01............................................................ 12
João Calvino............................................................. 13
Jacó Armínio............................................................ 20
Capítulo 02.............................................................. 29
Calvinismo............................................................... 30
Arminianismo.......................................................... 35
O que é o Arminianismo? . ...................................... 43
As Institutas de João Calvino................................... 53
CAPÍTULO 03........................................................... 56
Ensinos perigosos de Calvino volume 01................. 57
CAPÍTULO 04........................................................... 99
Ensinos perigosos de Calvino volume 02................. 100
CAPÍTULO 05........................................................... 120
Ensinos perigosos de Calvino volume 03................. 121
CAPÍTULO 06........................................................... 154
Ensinos perigosos de Calvino volume 04................. 155
Conclusão................................................................ 164
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Eterno Deus que me salvou na Pessoa ben-


dita do nosso Senhor Jesus Cristo. Agradeço minha esposa
amada que nunca desistiu de me ajudar e me amar, meu
amado filho que amo intensamente, e através dele, pude
aprender sobre amor paterno. Obrigado meus pais que sem-
pre me amaram e fizeram de tudo por mim, sem palavras.

Agradeço também minha amada igreja ICPD, obreiros e


membros, pela oportunidade de lhes servirem como pastor,
amigo e conselheiro.

Tantos amigos que eu podia citar aqui, tantos pastores e


mestres, então para não correr o risco de esquecer alguém,
deixo aqui minha profunda gratidão aos amados amigos e
colegas de ministério, que nos últimos anos me ajudaram de
alguma forma.

Louvo a Deus pela vida do meu primeiro pastor Helio


Fauth, da igreja O Brasil para Cristo, que me batizou há 15
anos e muito me ensinou as escrituras.

Também agradeço ao meu amigo e pastor Paulo Dorne-


les, que me separou oficialmente ao ministério pastoral.
Em especial, agradeço meu amado pastor Elias Mendes,
que me ensinou muita teologia, princípios da fé cristã e tam-
bém como ser um homem de Deus.

Agradeço também você, amigo e irmão em Cristo segui-


dor da página “arminiocincero” que me ajudaram chegar até
aqui.

Espero profundamente ajudar em alguns conhecimen-


tos acerca da verdadeira teologia polêmica de João Calvino.

Diego Rodrigo Aquino

14/09/2021

-7-
PREFÁCIO

Nos últimos anos, o interesse pelas teologias arminianas


e calvinistas tem experimentado um renovado crescimento
em solo brasileiro devido a publicação de livros, artigos aca-
dêmicos, entrevistas, debates e podcasts, entre outros, os
quais têm fomentado a discussão em torno de tal temática.
E a presente obra é resultado da influência exercida por essa
combinação de fatores.

Em “Os Ensinos Perigosos de Calvino”, o primeiro livro


de Diego Rodrigo Aquino, o autor, convictamente arminiano,
busca descrever, de forma crítica, alguns dos principais en-
sinos do reformador de Genebra, os quais, segundo ele, são
prejudiciais para a fé cristã.

A estrutura da obra pode ser esquematizada em três


partes principais. No primeiro capítulo, uma breve biografia
de Jacó Armínio e de João Calvino é fornecida. No segun-
do capítulo, uma resumida exposição dos chamados “cinco
pontos” do Calvinismo e do Arminianismo é apresentada. Tal
exposição é complementada por outras informações acerca
desses dois sistemas teológicos. Por fim, nos capítulos três a
seis, diversos trechos das Institutas, previamente seleciona-
-8-
dos pelo autor, recebem uma análise crítica acompanhada
de sua respectiva refutação.

Em épocas como a nossa, em que o politicamente cor-


reto é festejado por alguns e a utópica imparcialidade é de-
fendida por outros, Aquino, na contramão desses postula-
dos, demonstra corajosamente que não tem vocação para
ser apartidário e que, portanto, não receia receber críticas
em razão da sua identificação com uma determinada posição
quanto ao assunto em pauta.

Os leitores podem concordar ou discordar de Aquino


quanto aos posicionamentos por ele assumidos nesse livro,
mas não podem deixar de ler a sua obra “Os Ensinos Perigo-
sos de Calvino”, que, ousadamente, coloca As Institutas de
João Calvino sub judice.

Carlos Augusto Vailatti

Doutor em Estudos Judaicos pela USP;

Bacharel e Mestre em Teologia

-9-
INTRODUÇÃO

Quase 15 anos passaram após o meu primeiro contato


com a teologia Pentecostal e a teologia reformada. Confesso
que após muitas pesquisas, cursos, estudos e muitos mestres
me auxiliando, chegou o momento de colocar o pouco que
aprendi no papel e mostrar algumas coisas importantes nos
escritos de João Calvino.

Quero mostrar o que foi escondido e não comentado


por décadas acerca das Institutas de João Calvino, que con-
siste em 4 volumes de uma obra teológica do então Calvino
com aproximadamente 25 anos de idade.

Você terá acesso num material exclusivo e, creio eu, até


onde pesquisei, pouquíssimo publicado no Brasil.

No decorrer dessa obra, você irá perceber que muita


explicação supostamente calvinista de hoje em dia, nada
tem a ver com os ensinos de João Calvino. Creio que isso seja
devido as diversas contradições do reformador que outrora
afirmava “sim”, mas em instantes seguintes nega a própria
afirmação.

Quero também expor alguns ensinos de Jacó Arminio


- 10 -
para refutar várias falsas acusações sobre sua teologia refor-
mada.

Para melhor compreensão, com raríssimas exceções


será usado palavras acadêmicas e ortodoxas, visando o aces-
so do leigo.

Pega caneta e papel, vamos juntos desvendar a teologia


misteriosa e problemática do reformador João Calvino, bus-
cando um melhor entendimento acerca dos difíceis e contro-
versos ensinos desse teólogo francês.

Diego Rodrigo Aquino

Mato Grosso, Brasil.

- 11 -
CAPÍTULO 01
JOÃO CALVINO

Jean Chauvin (ou Cauvin), conhecido entre nós com João


Calvino, nasceu em 10 de junho de 1509 na cidade francesa
de Noyon. Formado em direito em 1532, aos 23 anos já era
humanista conhecido conforme ele mesmo informa no seu
prefácio do comentário de Salmos, teve uma súbita conver-
são entre 1532 e o 1533 (“Deus jugou minha alma e fez dócio
com uma súbita conversão”) Em março de 1536 publicou em
Basileia sua primeira edição de institutos religião Cristã, em
que apresenta a fé e a vida cristã a parte das escrituras e que
se tornou a obra máxima da reforma.

Fonte: (Institutas vol1, 2° edição, Publicação feita pela


Société les Belles Letres, Paris, 1936, com a colaboração da
Société du Musée historique de ldesonestidade, pg.5)

Nota: Perceba que a própria Instituta de João Calvino


apresenta a obra como um documento “máximo da refor-
ma” e, mesmo assim, muitos calvinistas negam as doutrinas
de João Calvino dizendo que o documento não é a “base da
teologia calvinista reformada”. Afirmar isso, sem dúvida, é
desonestidade.

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João Calvino tinha então vinte e cinco anos [quando ini-
cia as Institutas]. Sua infância tinha se passado à sombra da
catedral de Noyon, sua cidade natal. Seu pai era escrivão do
capítulo, isto é, da assembleia do cantão. Ele tinha sabido
aproveitar-se da proteção dos grandes prelados de Noyon
para enviar seu filho a Paris, para os seus estudos. No co-
légio chamado da Marche, Calvino tinha tido, embora por
pouco tempo, o mais famoso mestre e pedagogo da época,
Mathurin Cordier, que lhe ensinou latim (agosto de 1523).
Pouco mais tarde, em Bourges, onde fez o curso de direito,
o professor Melchior Wolmar, luterano declarado, lhe tinha
ensinado grego. Concluídos os seus estudos jurídicos, Calvi-
no dedicou-se à literatura. Talvez pensasse numa carreira de
humanista, como a de Erasmo, por quem ele tinha grande
admiração.

Mantinha-se ligado aos humanistas e a alguns homens


que se preocupavam com a vida religiosa, como seu primo
Robert Olivetan. Subitamente, sua vida laboriosa foi pertur-
bada por um escândalo em que estavam envolvidos os teólo-
gos da Sorbonne. Aconteceu que no dia primeiro de novem-
bro de 1533, por ocasião da reabertura da Universidade de
Paris, o reitor, conforme o costume, leu um discurso.

Este continha algumas declarações inesperadas em tal


circunstância. Mostrando grande desprezo pelos sofistas,
que reduziam a teologia aos exercícios da escolástica, opôs
a eles a “filosofia de Cristo”, expressão do gosto de Erasmo,
- 14 -
suspeito para os teólogos. Ele proclamava Cristo como o úni-
co mediador, o que a Sorbonne considerava ofensivo à “Vir-
gem” e aos santos. Ele elogiava o retorno ao Evangelho: era
o rompimento com a Igreja e suas tradições.

O discurso lido pelo reitor era de Calvino. Tal foi o es-


cândalo que a Sorbonne denunciou o autor ao Parlamento
de Paris com o fim de processá-lo por heresia.

1536: no mês de março foi publicada em Basiléia a pri-


meira edição da Instituição da Religião Cristã (ou Institutas),
introduzida por uma carta ao rei Francisco I da França con-
tendo um apelo em favor dos evangélicos perseguidos. Al-
guns meses mais tarde, Calvino dirigia-se para Estrasburgo
quando teve de fazer um desvio em virtude de manobras
militares. Ao pernoitar em Genebra, o reformador suíço Gui-
lherme Farel o convenceu a ajudá-lo naquela cidade, que
apenas dois meses antes abraçara a Reforma Protestante
(21-05). Logo, os dois líderes entraram em conflito com as
autoridades civis de Genebra acerca de questões eclesiásti-
cas (disciplina, adesão à confissão de fé e práticas litúrgicas),
sendo expulsos da cidade.

1538: Calvino foi para Estrasburgo, onde residia o re-


formador Martin Bucer, e ali passou os três anos mais felizes
da sua vida (1538-41). Pastoreou uma pequena igreja de re-
fugiados franceses; lecionou em uma escola que serviria de
modelo para a futura Academia de Genebra; participou de

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conferências que visavam aproximar protestantes e católi-
cos. Escreveu amplamente: uma edição inteiramente revista
das Institutas (1539), sua primeira tradução francesa (1541),
um comentário da Epístola aos Romanos, a Resposta a Sado-
leto (uma apologia da fé reformada) e outras obras. Em 1540,
Calvino casou-se com uma de suas paroquianas, a viúva Ide-
lette de Bure. Seu colega Farel oficiou a cerimônia.

1541: Por volta da ocasião em que Calvino escreveu a


sua Resposta a Sadoleto, o governo municipal de Genebra
passou a ser controlado por amigos seus, que o convidaram
a voltar. Após alguns meses de relutância, Calvino retornou à
cidade no dia 13 de setembro de 1541 e foi nomeado pastor
da antiga catedral de Saint Pierre. Logo em seguida, escre-
veu uma constituição para a igreja reformada de Genebra (as
célebres Ordenanças Eclesiásticas), uma nova liturgia e um
novo catecismo, que foram logo aprovados pelas autorida-
des civis. Nas Ordenanças, Calvino prescreveu quatro ofícios
para a igreja: pastores, mestres, presbíteros e diáconos. Os
dois primeiros constituíam a Venerável Companhia e os pas-
tores e presbíteros formavam o controvertido Consistório.
Por causa de seu esforço em fazer da dissoluta Genebra uma
cidade cristã, durante catorze anos.

1541-55: Calvino travou grandes lutas com as autorida-


des e algumas famílias influentes (os “libertinos”). Nesse pe-
ríodo, ele também enfrentou alguns adversários teológicos,
o mais famoso de todos sendo o médico espanhol Miguel
- 16 -
Serveto, que negava a doutrina da Trindade. Depois de fugir
da Inquisição, Serveto foi parar em Genebra, onde acabou
julgado e executado na fogueira em 1553. A participação de
Calvino nesse episódio, ainda que compreensível à luz das cir-
cunstâncias da época, é triste mancha na biografia do grande
reformador, mais tarde lamentada por seus seguidores.

1548: Nesse ano ocorreu o falecimento de Idelette e


Calvino nunca mais tornou a casar-se. O único filho que ti-
veram morreu ainda na infância. Não obstante, Calvino não
ficou inteiramente só. Tinha muitos amigos, inclusive em
outras regiões de Europa, com os quais trocava volumosa
correspondência. Graças à sua liderança, Genebra tornou-se
famosa e atraiu refugiados religiosos de todo o continente.
Ao regressarem a seus países de origem, essas pessoas am-
pliaram ainda mais a influência de Calvino.

1555: Os partidários de Calvino finalmente derrotaram


os “libertinos.” Os conselhos municipais passaram a ser cons-
tituídos de homens que o apoiavam. Embora não tenha ocu-
pado nenhum cargo governamental, Calvino exerceu enor-
me influência sobre a comunidade, não somente no aspecto
moral e eclesiástico, mas em outras áreas. Ele ajudou a tor-
nar mais humanas as leis da cidade, contribuiu para a criação
de um sistema educacional acessível a todos e incentivou a
formação de importantes entidades assistenciais como um
hospital para carentes e um fundo de assistência aos estran-
geiros pobres.
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1559: Nesse ano marcante, ocorreram vários eventos
significativos. Calvino finalmente tornou-se um cidadão da
sua cidade adotiva. Foi inaugurada a Academia de Genebra,
embrião da futura universidade, destinada primordialmente
à preparação de pastores reformados. No mesmo ano, Cal-
vino publicou a última edição das Institutas. Ao longo desses
anos, embora estivesse constantemente enfermo, desenvol-
veu intensa atividade como pastor, pregador, administrador,
professor e escritor.

Fonte:(https://cpaj.mackenzie.br/historia-da-igreja/
movimento-reformado-calvinismo/joao-calvino/joao-cal-
vino-sintese-biografica)

Quando Calvino morre em 1564, Arminio tinha entre 4


e 5 anos, e estavam 800km longe de distância, ou seja, nunca
se encontraram. A disputa foi meramente teológica e doutri-
nária.

Em debates públicos, já presenciei calvinista dizendo


que Calvino refutou todos os argumentos de Armínio. Isso
é um absurdo. Chega ser cômico, pois quando Arminio co-
meçou a lecionar teologia, João Calvino já havia morrido há
muitos anos.

A história de João Calvino é longa, mas creio que com


essa breve introdução conseguimos ter uma noção do teste-
munho e chamado do mesmo. “João Calvino faleceu preco-
cemente em Genebra dia 27 de maio de 1564. A seu pedido
- 18 -
foi enterrado numa sepultura simples e não marcada.”

(Institutas, vol.1, pg. 5, 2° edição.)

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JACÓ ARMÍNIO

De acordo com o Dr. Ph.D W. Stephen Gunter em seu


livro “Armínio e as suas declarações de sentimentos, pg. 32”
Jakob Hermanszoon (latinizado Jacó Arminio) nasceu em 10
de outubro de 1559 na cidade de Oudewater, na província de
Utrecht, na Holanda, filho do casal Hermand Jacobszoon, um
ferreiro especialista em fazer armaduras, e sua esposa En-
geltje, ambos protestantes. Alguns teólogos defendem que
Arminio nasceu em 1560.

Seu pai morreu de forma trágica no mesmo ano em


que Jakob nasceu, deixando sua mãe viúva e com filhos pe-
quenos. Condoído da situação do pequeno Jakob, um padre
simpático ao protestantismo, chamado Teodoro Emílio, sus-
tentou a criança e seus estudos. Porém, quando o garoto já
estava com 15 anos, seu benfeitor morreu. Deus, contudo,
logo colocou outra pessoa na sua vida: um homem chamado
Rodolfo Sneillus, que, ao saber da história de Jakob, resolveu
adotá-lo e levá-lo para Marburg. Foi assim que, aos 16 anos,
Jakob ingressou na Universidade de Leiden.

Tudo ia bem, até que, no mesmo ano em que Jakob


ingressava na universidade, outra tragédia aconteceu. Em
- 20 -
1575, a sua cidade natal – que quando Jakob nascera estava
sob o domínio espanhol, mas havia se libertado desse domí-
nio e se tornado protestante – voltaria a ser atacada pelos
espanhóis. A invasão espanhola foi sangrenta, passando para
a posteridade como “Massacre de Oudewater”, no qual a
mãe de Jakob, seus irmãos e demais parentes foram mortos.
Só Jakob sobraria de toda a sua família.

Em Leiden, o jovem protestante adotou a forma latini-


zada de seu nome: em vez de Jakob Hermanszoon, passou a
se chamar Jacobus Arminius. Ele concluiu seus estudos em
Leiden em 1582, mesmo ano em que foi a Genebra para es-
tudar com ninguém menos do que Teodoro Beza, amigo e
sucessor do já falecido João Calvino.

Ali, porém, não permaneceu muito tempo, devido a


controvérsias decorrentes do seu uso de técnicas ramistas,
que aprendera em Leiden. Essas técnicas foram criadas pelo
professor calvinista francês Pierre de la Ramée (1515-1572) e
eram ensinadas em algumas universidades protestantes.

Ademais, Arminius não concordava com o supralapsa-


rianismo de Beza. Supralapsarianismo é uma visão defendida
por muitos calvinistas que Deus elegeu pessoas para salvar
antes da queda. Já os infralapsarianos creem que Deus ele-
geu e escolheu após a queda. Como Deus não faz acepção de
pessoas e Jesus veio trazer possibilidade de salvação a todos,
ambas visões estão equivocadas.

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Como Calvino era supralapsariano, os calvinistas que
afirmam ser infralapsarianos, já discordaram do reformador.

De Genebra, Arminius seguiu para Basileia e de lá para


Amsterdã, onde recebeu o convite para pastorear, sendo or-
denado ao pastorado em 1588 (28 anos). Ganhou a fama de
bom pastor e ensinador.

Certas circunstâncias ocorreram durante o ano seguin-


te, fatos seu resultado, exerceram uma grande influência
sobre os pontos de vista doutrinários de Armínio, e no final
conduziram Armínio a adotar o sistema que leva seu nome.
No ano de 1578, Coornhert, um homem profundamente reli-
gioso, e que havia prestado serviços importantes ao seu país
e à Reforma, colocando sua própria vida em risco, em uma
discussão com dois ministros calvinistas de Delft, atacou os
pontos de vista peculiares de Calvino sobre a Predestinação,
a Justificação e a punição dos hereges com a morte de forma
magistral e popular. Ele então publicou seus pontos de vista
e defendeu uma teoria substancialmente conhecida poste-
riormente como a teoria arminiana, embora parte de sua fra-
seologia não estivesse guarnecida o suficiente.

Seu panfleto foi respondido em 1589 pelos ministros de


Delft, mas em vez de defender o ponto de vista supralapsa-
riano de Calvino e Beza, que havia sido o objeto particular do
ataque de Coornhert, eles apresentaram e defenderam as
visões mais baixas ou sublapsarianas, e atacaram a teoria de

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Calvino e Beza. O panfleto dos ministros de Delft foi transmi-
tido a Armínio por Martin Lydius, professor em Franeker, pe-
dindo que Arminio defendesse o seu ex-preceptor. Ao mes-
mo tempo, o senado eclesiástico de Amsterdä pediu-lhe para
expor e refutar os erros de Coornhert. Ele iniciou o trabalho
imediatamente, mas ao pesar detalhadamente os argumen-
tos a favor do ponto de vista supralapsariano e os argumen-
tos em prol do sublapsarianismo Arminio inclinou-se a este
último, em vez de refutá-lo. Ao continuar suas pesquisas, Ar-
minio dirigiu-se para o estudo mais diligente das Escrituras,
e as comparou diligentemente com os escritos dos primeiros
patriarcas e com os escritos de teólogos posteriores. O resul-
tado dessa investigação foi a sua adoção da teoria particular
da Predestinação que leva seu nome. Inicialmente, para o
bem da paz, ele se reservou em suas expressões, e evitou fa-
zer referências especiais ao assunto. Mas logo se convenceu
de que tal padrão de ação era incompatível com o seu dever
como professor religioso, e começou a testemunhar de for-
ma modesta sobre a sua discordância com os erros recebi-
dos, em especial em seus discursos ocasionais sobre essas
passagens das Escrituras, que obviamente necessitavam uma
interpretação que estivesse de acordo com os seus pontos
de vista mais amplos sobre a atuação divina na salvação dos
pecadores. Isso se tornou uma prática constante de Armínio
em 1590.

Estando estabelecido há mais de dois anos no ministério

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em Amsterdã, Arminio se uniu em casamento a uma jovem
de grandes realizações e piedade eminente, a quem, durante
algum tempo antes, ele havia dedicado seus interesses. Seu
nome era Elizabeth Real Seu pai, Laurence Jacobson Real, foi
um juiz e senador de Amsterdã, cujo nome está imortalizado
nos anais holandeses da época, por causa do papel decisi-
vo que exerceu na promoção da Reforma nos Países Baixos,
constantemente durante a tirania espanhola, correndo o ris-
co de perder suas propriedades e sua vida.

Com esta senhorita, com quem se casou no dia dezes-


seis de setembro de 1590, Arminio desfrutou uma felicidade
doméstica invejável e ininterrupta. O casal teve sete filhos e
duas filhas. Todos morreram na flor de sua juventude, exce-
to Laurence, que se tornou um comerciante em Amsterdã, e
Daniel que conquistou a mais elevada reputação na profissão
da medicina.

Os próximos treze anos da vida de Armínio foram de-


dicados ao ministério em Amsterdã, com sucesso eminente
e grande popularidade, especialmente entre os leigos. Por
vezes, sua apresentação ocasional de pontos de vista dife-
rentes dos ministros em torno dele, que eram, quase sem
exceção, fortemente calvinistas, o colocou em sérios confli-
tos. Em 1591. Arminio expôs o sétimo capítulo da Epistola
aos Romanos, e em 1593, o nono capítulo da mesma epís-
tola. Nessas exposições, ele apresentou os pontos de vista
que estão presentes em seus tratados sobre esses capítulos
- 24 -
nesta edição de suas obras, e em cada uma dessas ocasiões,
um ânimo considerável foi produzido contra ele. Sua inter-
pretação do sétimo capítulo, em particular, que é substan-
cialmente a mesma adotada por grande parte dos melhores
comentaristas modernos, incluindo alguns que se dizem cal-
vinistas, foi contraposta com frequência na época e também
posteriormente, com grande aspereza.

Por volta do final de 1602, ocorreu a morte de Francis


Junius, professor de Teologia em Leiden. A atenção dos cura-
dores da universidade foi imediatamente direcionada para
Arminio, como a pessoa mais adequada para preencher a ca-
deira vaga. O convite, que foi devidamente estendido a ele,
enfrentou a oposição mais vigorosa por parte das autorida-
des de Amsterdã, a cuja disposição, como já foi dito, Armi-
nio se comprometeu a dedicar seus serviços durante a vida
toda. O consentimento para a sua transferência para Leiden
foi finalmente obtido por meio da intercessão especial de
Uytenbogardt, o célebre ministro de Haia, de N. Cromhou-
tius, do Supremo Tribunal da Holanda, e do próprio chefe de
estado, Mauricio, principe de Orange.

Muitos dos ministros ultracalvinistas protestaram vio-


lentamente contra a chamada a uma posição de tanta impor-
tância, ocupada anteriormente por alguém cujos sentimen-
tos sobre pontos considerados vitais eram extremamente
heterodoxos em relação aos de Arminio. Neste aspecto, eles
tinham o apoio de Francis Gomarus, professor em Leiden.
- 25 -
Esse homem, naquela época e posteriormente, durante a
vida de Armínio, bem como depois de sua morte, nos deba-
tes religiosos que se seguiram entre os “Protestantes” e os
“Contra-Protestantes”.

Armínio recebeu o título de Doutor em Divindade pela


Universidade de Leiden em onze de julho de 1603, e logo co-
meçou a desempenhar as funções de professor de Divinda-
de. Ele percebeu rapidamente que os estudantes de teologia
estavam se envolvendo nas controvérsias intrincadas e nas
perguntas espinhosas dos escolásticos em vez de se dedica-
rem ao estudo das Escrituras, Arminio se esforçou imediata-
mente para corrigir esse mal, e para redirecioná-los à Bíblia
como a fonte da verdade. Esses esforços, somados ao fato
de que seus pontos de vista sobre a Predestinação eram in-
tragáveis para muitos, proporcionaram a oportunidade e um
motivo para acusá-lo de uma tentativa de introduzir inova-
ções. Relatórios ofensivos foram espalhados, e os meios mais
injustificáveis foram usados para ferir a reputação de Armi-
nio perante o governo e as igrejas. Arminio suportou esses
ataques com grande serenidade, mas não se defendeu pu-
blicamente até 1608, quando se justificou de três maneiras
diferentes; em primeiro lugar, em uma carta para Hipólito,
um Collibus, embaixador das Províncias Unidas do Eleitor Pa-
latino: em segundo lugar, em uma “apologia contra trinta e
um artigos”, que, embora escrita em 1608, só foi publicada
no ano seguinte; e, por último, em sua nobre “Declaração de

- 26 -
Sentimentos, emitida em trinta de outubro de 1608, perante
os Estados, em uma assembleia repleta de ouvintes em Haia.

No início do ano seguinte, Armínio teve uma desordem


biliosa, contraída por trabalhos e estudos incessantes, e por
permanecer sentado por muito tempo. Sem dúvida, a inquie-
tação e a angústia produzidas em sua mente pela malevolên-
cia de seus oponentes contribuíram muito para essa enfer-
midade, que se tornou tão violenta a ponto de fazer com que
Armínio não fosse capaz de se levantar de sua cama. Mas
durante alguns meses, em intervalos, embora com grande
dificuldade, ele continuou a ministrar suas aulas e desempe-
nhou outras atribuições de seu cargo de professor, até o dia
vinte e cinco de julho, quando realizou um debate público
sobre “a vocação dos homens para a salvação” (veja a página
509, que foi o último de seus trabalhos na universidade.) A
agitação causada por algumas circunstâncias ligadas a essa
disputa produziu um violento paroxismo de sua doença, da
qual ele nunca se recuperou.

Ele permaneceu em dor física aguda, mas sem redução


de sua alegria habitual, e com plena aquiescência à vontade
de Deus, até o dia dezenove de outubro de 1609. Naquele
dia, por volta do meio-dia, nas palavras de Bertius, “com os
olhos voltados para o céu, em meio às orações fervorosas
dos presentes, Arminio entregou calmamente o seu espírito
a Deus, enquanto cada um dos espectadores exclamou: Oh
minha alma, permita que eu morra a morte dos justos”.
- 27 -
Assim viveu, e assim, com a idade de 49 anos, morreu
Jacó Arminio, distinto entre os homens pela virtude e pela
amabilidade de seu caráter privado, doméstico e social; en-
tre os cristãos, por sua tolerância para com aqueles que di-
vergiam de suas opiniões; entre os pregadores, por seu zelo,
eloquência e sucesso; e entre os teólogos, por suas fortes
opiniões; embora suas visões teológicas fossem amplas e
abrangentes, era habilidoso ao argumentar, além de franco e
cortês ao lidar com as controvérsias.

Seu lema era “Bona Conscientia Paradisus”. [Uma boa


consciência é um paraiso]

(Obras de Armínio, vol.3, pg. 19-21)

- 28 -
CAPÍTULO 02
CALVINISMO

Os Calvinistas elaboraram 5 pontos para explicar sua


visão da doutrina da salvação e tentar refutar os 5 pontos
arminianos.

A posição calvinista pode ser representada pelo acrôni-


mo TULIP:
• Total Depravity – Depravação Total
• Unconditional Election – Eleição Incondicional
• Limited Atonement – Expiação Limitada
• Irresistible Grace – Graça Irresistível
• Perseverance of the Saints – Perseverança dos
Santos

Estes PONTOS são derivados do Sínodo de Dort, um sí-


nodo local convocado em 1618-1619 na Holanda para con-
tradizer e condenar os Artigos da Remonstrância. Aqui está
uma breve explicação de cada ponto:

Depravação Total

O mesmo ponto correspondente no arminianismo.

Apesar de não diferirmos na descrição da depravação

- 30 -
total, calvinistas acreditam também que este estado requer
que Deus primeiro regenere o pecador antes que o mesmo
creia em Cristo, fazendo-o vivo e dando-lhe uma natureza
nova e santa. Mas a regeneração não apenas habilita o peca-
dor a crer; ela irresistivelmente causa o pecador a crer.

Eleição Incondicional

Deus escolheu alguns indivíduos incondicionalmente


na eternidade para a vida eterna de acordo com sua própria
vontade, completamente à parte de qualquer coisa relacio-
nada à pessoa incluindo mérito, boas obras, ou fé prevista.

Deus reteve sua misericórdia do restante da humanida-


de, ordenando-os para a desonra e ira devido a seus peca-
dos.

Então, pelo decreto de Deus e para sua glória, algumas


pessoas são incondicionalmente predestinadas para a vida
eterna, e as outras são deixadas (e, portanto, ordenadas) à
morte eterna devido ao seu pecado, fazendo-se assim dois
grupos específicos e estáticos de indivíduos que jamais po-
dem mudar. (Alguns calvinistas creem que Deus planejou glo-
rificar seu nome escolhendo incondicionalmente alguns indi-
víduos para a bênção eterna e outros para o Inferno eterno,
e que Deus ordenou a Queda e decidiu criar o mundo para
atingir este objetivo.)

- 31 -
Expiação Limitada

Cristo morreu apenas por aqueles determinados indiví-


duos que Deus escolheu incondicionalmente na eternidade
para a salvação, suportando a punição pelos seus pecados
em seu lugar.

A morte de Cristo por aqueles que foram incondicional-


mente eleitos os traz irresistivelmente à salvação e a tudo
que for necessário para tal, incluindo arrependimento e fé
em Cristo.

Graça Irresistível

Aqueles que Deus elegeu incondicionalmente, e por


quem Jesus morreu, Deus os chamará irresistivelmente à fé
em Cristo pela sua graça, mediante a regeneração (tornando
a fé inevitável).

Quando Deus traz os pecadores eleitos a Cristo, ele ir-


resistivelmente faz com que eles se tornem dispostos a vir a
Cristo e a chegar a ele livremente em fé. (Enquanto estamos
apresentando a visão calvinista objetivamente e normalmen-
te sem comentários, a autocontradição aqui é óbvia demais
para deixar passar: “irresistivelmente” os faz vir livremente e
de boa voluntariedade?)

Enquanto Deus chama a todos sem distinção à fé em

- 32 -
Cristo (o chamado geral), dentre esses “todos”, Deus apenas
chama aqueles que ele escolheu incondicionalmente de for-
ma que não possam resistir (a chamada eficaz).

Aqueles que Deus não escolheu, rejeitarão a chamada


do Evangelho de sua própria vontade e não poderão fazer de
outra forma. Ora, se Deus não deu a capacidade de arrepen-
dimento, como irá puni-los por não aceitarem? Absurdamen-
te sem nexo.

Nota: Alguns calvinistas defendem que quando Deus


quer, Ele permite que a graça seja resistível. Mas quando Ele
decreta a graça irresistível, a mesma não pode ser resistida.
Se tal visão é verdadeira teológicamente, então o ponto “gra-
ça irresistível” é ambíguo.

- 33 -
PERSEVERANÇA DOS SANTOS

Aqueles que Deus incondicionalmente elegeu, e por


quem Jesus morreu, e que Deus irresistivelmente atrairá
para a fé em Cristo, inevitavelmente perseverarão em sua fé
e não poderão nem totalmente nem finalmente cair da graça
em Cristo, porque Deus irresistivelmente os faz perseverar.
Portanto, seu destino de bênção eterna com Deus é seguro.

Essa perseverança não é baseada no crente – que pode


vacilar e realmente cair em sério pecado por longos perío-
dos de tempo – mas de fato é baseada na contínua graça de
Deus.

Aqueles que parecem ser crentes, mas caem da fé e


morrem sem Cristo, demonstram que eles não tinham real-
mente obtido a fé salvadora em primeiro lugar.

- 34 -
ARMINIANISMO

A igreja evangélica brasileira em sua grande maioria, se


identifica com a visão arminiana, porém, por mais paradoxal
que seja, até a presente data, não possuía traduzida para o
português toda a extensão do pensamento deste importante
teólogo reformado. Isto levava a sui generis situação em que
muitos evangélicos brasileiros, inclusive pastores, se reco-
nheçam como arminianos sem de fato terem lido uma linha
sequer de seus escritos acerca da Predestinação, Providência
Divina, o livre-arbítrio, a Graça de Deus, A divindade do filho
de Deus e a justificação do homem, entre diversos outros
assuntos.

Os ensinos de Armínio e dos seus seguidores foram co-


dificados nas cinco teses dos Artigos de Protesto (1610): (1)
A predestinação depende da maneira de a pessoa corres-
ponder, e é fundamentada na presciência de Deus; (2) Cristo
morreu em prol de toda e qualquer pessoa, mas somente os
que creem são salvos; (3) a pessoa não tem a capacidade de
crer, e precisa da graça de Deus; mas (4) essa graça pode ser
resistida; (5) se todos os regenerados perseverarão é ques-
tão que exige mais investigação.

- 35 -
Segundo os arminianos, Deus sabe de antemão quais
pessoas corresponderão à Sua oferta da graça, e são aquelas
que Ele predestina para compartilhar das Suas promessas.
Essa oferta pode ser recusada.

A perseverança depende de viver continuamente a fé


cristã, e há a possibilidade de desviar-se daquela fé, embora
Deus não deixe que ninguém caia facilmente.

O Arminianismo pode ser representado pelo acrônimo


FACTS:
• Freed by Grace (to Believe) – Livre pela graça (para
crer)
• Atonement for All – Expiação para Todos
• Conditional Election – Eleição Condicional
• Total Depravity – Depravação Total
• Security in Christ – Segurança em Cristo

De maneira ampla e um tanto imprecisa, estes pontos


correspondem aos do histórico Artigo da Remonstrância
(embora esta não seja especificamente uma representação
deles), os quais foram compostos em 1610 pelos primeiros
arminianos e constituem o primeiro sumário formal da teolo-
gia arminiana. Os pontos serão apresentados aqui em ordem
lógica, em vez da ordem acima no acrônimo, para fins de fa-
cilitar sua explanação.

- 36 -
Depravação Total

• A humanidade fora criada à imagem de Deus, boa e


direita, mas caiu de seu estado original sem pecado através
de deliberada desobediência, deixando a humanidade em
estado de pecado, separada de Deus, e debaixo da sentença
de divina condenação.

• Depravação total não significa que os seres humanos


são tão maus quanto eles podem ser, mas que o pecado im-
pacta cada parte do ser pessoal e que as pessoas agora têm
uma natureza pecaminosa com uma inclinação natural para
o pecado, fazendo cada ser humano ser fundamentalmente
corrupto em seu coração.

• Portanto, o ser humano não é capaz de pensar, ter


vontade, nem fazer nada de bom em si mesmo, incluindo fa-
vor meritório para Deus, salvar-se do julgamento e condena-
ção de Deus que fora reservada para vosso pecado, ou mes-
mo crer no Evangelho.

• Qualquer pessoa será salva, Deus deve tomar iniciai-


va. (Graça preveniente)

BASE BIBLICA: Gn 6:5; Gn 8:21; 1 Rs 8:46; Sl 14:1-3; Sl


51:6; Is 53:6; Jo 3:19-21; Rm 3:10-18; Rm 3:23.

- 37 -
Expiação para todos

• Deus amou o mundo e deseja que todas as pessoas


sejam salvas e venham ao conhecimento da verdade.

• Portanto, Deus entregou Seu único Filho para morrer


pelos pecados do mundo todo, de modo a proporcionar per-
dão e salvação a todas as pessoas.

• Enquanto Deus providenciou salvação para todas as


pessoas pela morte substitutiva e sacrificial de Cristo para
todos, os benefícios desta morte são recebidos pela graça
mediante a fé e são eficazes apenas aos que creem.

BASE BIBLICA: Ez 18:23-32; Sl 45:22; Mt 11:28; Jo 1:7-9;


Jo 17:21-23; At 10:34-35; At 17:30; Rm 5:6,18.

Livre pela graça (para crer) ou Graça resistível

• Devido a Depravação Total e a Expiação para Todos


(como descrito acima), Deus chama a todas as pessoas em
todos os lugares para se arrependerem e crerem no Evange-
lho, e graciosamente habilita àqueles que ouvem o Evange-
lho a responder positivamente em fé.

•Deus regenera aqueles que creram em Cristo (Fé pre-


cede logicamente a regeneração). Jesus disse quem crê e não
“os salvos depois crerão”

- 38 -
•A graça salvadora é resistível, o que significa que ele
dispensa seu chamado, projeto, e graça capacitadora (que
nos traria salvação se respondida com fé) de tal forma que
possamos rejeitá-la. Aqueles que ouvem o Evangelho podem
ou aceitá-lo pela graça ou rejeitá-lo para sua eterna destrui-
ção.

•Além do âmbito de agradar ao Senhor e fazer o bem


espiritual, as pessoas têm livre arbítrio (corrompido, caído e
ferido pelo pecado) o que significa que, em relação a uma
ação, eles podem ao menos realizar a ação ou negar-se a tal.
Geralmente as pessoas têm escolhas genuínas e são, portan-
to, correspondentemente capazes de realizar escolhas.

•Deus tem livre arbítrio supremo e absoluto. Sua esco-


lha de sobrenaturalmente libertar a vida dos pecadores pela
sua graça para crerem em Cristo é uma questão do exercício
de sua própria soberania e livre arbítrio.

BASE BIBLICA: Sl 81:11; Pv 1:24;-25; Is 50:2; Is 65:1-3; Jr


7:24-26; Jr 31:11 Ez 24:13; Os 11:1-7; Zc 7:11-12; Mt 23:37

Eleição Condicional

•Deus soberanamente decidiu escolher apenas aqueles


que teriam fé em Seu Filho Unigênito Jesus Cristo, para salva-
ção e sua eterna bênção.

•Deus pré-conheceu na eternidade aqueles indivíduos


- 39 -
que creriam em Cristo o esses são os eleitos e escolhidos,
pois Deus não faz acepção de pessoas e nem é de algum
modo parcial e arbitrário.

•Entre os arminianos, há duas visões diferentes sobre a


eleição condicionada à fé:

•Eleição Individual: A visão clássica na qual Deus indi-


vidualmente escolheu cada crente baseado em Seu pré-co-
nhecimento da fé de cada um e então predestinou cada um
à vida eterna.

•Eleição Corporativa: Eleição para salvação é prima-


riamente para a Igreja como um povo e abraça indivíduos
apenas numa união em fé com Cristo, O Escolhido, e como
membros deste povo. Desde que a eleição individual deriva
da eleição de Cristo e do povo corporativo de Deus, indiví-
duos tornam-se eleitos quando creem e continuam eleitos
apenas enquanto crerem.

Nota: Os eleitos são aqueles que Deus previu que vão


perseverar até o fim, logo, um eleito não será um eterno per-
dido, pois creio eu que ainda que esse eleito desvie de Deus,
caia num pecado grave e saia da presença de Deus, uma hora
ele vai voltar, será perdoado novamente e será salvo eterna-
mente.

- 40 -
Segurança em Cristo

Desde que a salvação vem mediante a fé em Cristo, a


segurança da nossa salvação continua pela fé em Cristo.

Exatamente como o Santo Espírito nos capacita a crer


em Cristo, igualmente Ele nos capacita a continuar crendo
em Cristo.

Deus protege nosso relacionamento de fé com Ele de


qualquer força que irresistivelmente nos arrebate de Cristo
ou de nossa fé, e Ele nos preserva

Em salvação enquanto confiarmos em Cristo.

• Arminianos têm visões diferentes sobre se a Escritura


ensina que crentes podem abandonar a fé em Cristo e então
perecer, ou se Deus irresistivelmente mantém os crentes de
perderem sua fé e portanto entrar em eterna condenação
(como descrentes)

A grande maioria dos Arminianos creem da seguinte


forma: os eleitos, aqueles que Deus previu que vão perma-
necer até o fim, nunca perderão sua salvação, pois de fato
ficaram firmes até o fim. Os que se desviaram e creram por
um tempo, foram aqueles que Jesus chama de joio e cita na
parábola do semeador (Mt 13:18)

Eu creio que o eleito de Deus, o Senhor previu desde

- 41 -
toda a eternidade que por meio da fé ele perseveraria, por
isso é um eleito. Se um eleito perder a salvação, será por um
período, por um tempo, mas o mesmo voltara na presença
do Senhor e se arrependerá.

BASE BIBLICA: Jo 15:1-7; Jo 15:6; Rm 11:17-24; 1 Co 15:2;


1 Co 9:27; 1 Co 10:1-6; 2 Co 13:5; CI 1:22-23; Hb 2:1; Hb 3:12

- 42 -
O QUE É O ARMINIANISMO?

Em primeiro lugar, o Arminianismo ensina, à luz da Bí-


blia, que Deus determinou salvar algumas pessoas e conde-
nar as demais a partir de Seu pré-conhecimento sobre a fé
ou a incredulidade futura dessas pessoas. Ou seja, a elei-
ção ou a condenação divina não são decisões arbitrárias de
Deus, mas decisões tomadas por Deus desde a eternidade
com base em Sua presciência em relação às escolhas futuras
das pessoas. Escreveu Arminio:

“Deus determinou salvar e condenar certas pessoas


em particular. Este decreto tem seu fundamento no pré-co-
nhecimento de Deus, pelo qual Ele conheceu desde toda a
eternidade aqueles indivíduos que, por meio da Sua graça
preventiva, creriam; e por meio de sua graça subsequente,
perseverariam; [...] e por esse mesmo pré-conhecimento, Ele
semelhantemente conheceu aqueles que não creriam e não
perseverariam.”

(GONZÁLES, Ibid., p. 285)

Paulo afirma: “...os que dantes conheceu, também os


predestinou...” (Rm 8.29,30). E Pedro assevera que somos

- 43 -
“eleitos, segundo a presciência de Deus Pai” (1Pe 1.2). Por-
tanto, os calvinistas erram ao vincular a presciência divina à
causalidade. Para ser mais preciso: eles erram ao afirmar que
Deus conhece previamente todas as coisas porque predesti-
nou todas as coisas. Ora, o texto bíblico é claro: a presciên-
cia vem antes da predestinação e da eleição. Estas decorrem
daquela, e não o contrário. Deus conhece previamente tudo
porque é onisciente, e não porque predeterminou tudo.

Deus não precisa predeterminar tudo para saber de


tudo. Sim, Ele predetermina muitas coisas, mas não tudo.

Perceba que a Bíblia sempre fala de predestinação


à vida eterna “em Cristo”. A Epístola de Paulo aos Efésios,
que é a que mais fala em predestinação, mostra exatamente
isso. Aliás, os termos “em Cristo Jesus”, “no Senhor” e “nEle”
ocorrem 160 vezes nos escritos de Paulo, sendo que 36 vezes
só em Efésios, onde está o recorde. Ou seja, se queremos
entender bem Efésios, devemos começar a atentar para a
palavra-chave dessa epístola: “em Cristo”. Ora, mais de uma
vez é dito em Efésios 1 que a predestinação ocorre “em Cris-
to”. Ou seja, a predestinação e a eleição não são para estar
em Cristo. Elas são para os que estão em Cristo.

Para aqueles que estão “em Cristo” estão destinadas


desde a fundação do mundo todas aquelas bênçãos listadas
em Efésios 1, 2 e 3; e a quem não estiver em Cristo, está des-
tinada desde a fundação do mundo a perdição. Se você esti-

- 44 -
ver nEle, Seu destino é o Céu; se não estiver nEle, o Inferno.
O critério é estar nEle. Como afirma Paulo, Deus nos elegeu
“para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dEle” (Ef
1.4), mas Cristo só vai “vos apresentar santos, e irrepreensí-
veis, e inculpáveis, se, na verdade, permanecerdes fundados
e firmes na fé e não vos moverdes da esperança do Evange-
lho” (Cl 1.22,23). Está claro: a eleição é condicional. E qual a
condição? Estar em Cristo: “...nos elegeu nEle...” (Ef 1.4). A
Eleição, portanto, é um decreto divino anterior à salvação e
fruto da graça, soberania e misericórdia divinas manifesta-
das em Cristo, o qual é a condição da nossa eleição.

Em segundo lugar, o Arminianismo ensina, à luz da Bí-


blia, a Doutrina da Depravação Total do ser humano, isto
é, que o ser humano é tão depravado espiritualmente que
precisa da graça de Deus tanto para ter fé como para prati-
car boas obras. Escreve Arminio: “Mas em seu estado caído
e pecaminoso, o homem não é capaz, de e por si mesmo,
pensar, desejar ou fazer aquilo que é realmente bom; mas é
necessário que ele seja regenerado e renovado em seu inte-
lecto, afeições ou vontade, e em todos os seus poderes, por
Deus em Cristo através do Espírito Santo, para que ele possa
ser capacitado corretamente a entender, avaliar, considerar,
desejar e executar o que quer que seja verdadeiramente
bom. Quando ele é feito participante desta regeneração ou
renovação, eu considero que, visto que ele está liberto do
pecado, ele é capaz de pensar, desejar e fazer aquilo que é

- 45 -
bom, todavia não sem a ajuda contínua da graça divina”

(ARMINIUS, Jakob, A Declaration of Sentiments,


Works, vol. 1, p. 664, traduzido em Revista Enfoque Teoló-
gico, vol. 1, no 1, 2014, FEICS, p. 105)

Ou seja, o homem não regenerado é escravo do pecado


e incapaz de servir a Deus com suas próprias forças (Rm 3.10-
12; Ef 2.1-10).

O Arminianismo nunca ensinou que, por ainda ter em


si resquícios da imagem de Deus, o homem tem a capaci-
dade de, mesmo no estado caído, corresponder com arre-
pendimento e fé quando Deus o atrai a si. Não, a iniciativa é
sempre de Deus, já que o homem, em seu estado caído, não
pode e não quer tomar iniciativa. À luz da Bíblia, o Arminia-
nismo sempre defendeu que é através da graça preveniente
que a depravação total, que resulta do pecado original, pode
ser suplantada, de maneira que o ser humano poderá, en-
tão, corresponder com arrependimento e fé quando Deus o
atrair a si.

O livre-arbítrio é decorrente da ação da graça preve-


niente. Vem de Deus a capacidade de arrepender-se e ter
fé para ser salvo. Em terceiro lugar, à luz da Bíblia, o Armi-
nianismo ensina que a graça divina pode ser resistida. Como
afirma Arminio: “Creio, segundo as Escrituras, que muitas
pessoas resistem ao Espírito.”

- 46 -
(ARMINIUS, Ibid., p. 664 in Revista Enfoque Teológico,
Ibid., p. 108)

São inúmeros os textos bíblicos que deixam clara a


possibilidade de resistir à graça divina (Gn 4.6,7; Dt 30.19; Js
24.15; 1Rs 18.21; Is 1.19,20; Sl 119.30; Mt 23.37; Lc 7.30; At
7.51; 10.43; Jo 1.12; 6.51; 2Co 6.1; Hb 12.5).

É equivocado pensar que Deus não é absolutamente


soberano se concede ao homem, através de Sua graça pre-
veniente, o livre-arbítrio, isto é, uma vontade livre para es-
colher ou não a Salvação. Ora, um “deus” que no fundo ma-
nipula as decisões dos seres humanos ao invés de, pela Sua
graça, conceder-lhes a capacidade de livremente ter fé e se
arrepender para convidá-los a Cristo, não pode ser plena-
mente justo.

É verdade que ninguém merece a Salvação, mas se


Deus resolver salvar uns e condenar outros sem conceder
uma possibilidade real de escolha para Suas criaturas, estará
manchando Sua justiça. O atributo divino da soberania deve
estar em perfeita harmonia com o Seu caráter, que é santo
e justo (Is 6.3). Os calvinistas gostam de citar, em favor de
sua crença em uma graça irresistível, João 6.44, onde Jesus
afirma:

“Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, o


não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”. Só que o
termo traduzido aqui como “trouxer” é, no grego, elkõ, que,
- 47 -
segundo o tradicional léxico de Strong, tem mais o sentido
de “atrair”, “induzir alguém a vir”. Ou seja, Deus atrai; Ele não
força.
Ele não violenta a liberdade humana concedida pela
Sua graça e soberania. Jesus disse que os que vêm a Ele não
são forçados, mas atraídos a Ele
(Jo 12.32)

Em quarto lugar, o Arminianismo entende e sustenta, à


luz da Bíblia, que Cristo morreu por todos (Jo 3.16 e 6.51; 2Co
5.14; Hb 2.9; 1Jo 2.2), mas Sua obra salvífica só é levada a
efeito naqueles que se arrependem e crêem (Mc 16.15,16; Jo
1.12). Trocando em miúdos: a Expiação de Cristo é suficiente,
mas só se torna eficiente na vida daqueles que sinceramente
se arrependem de seus pecados e aceitam Cristo como único
e suficiente Senhor e Salvador de suas vidas. Trata-se, por-
tanto, de uma Expiação Universal Qualificada, e não de uma
Expiação Limitada.

Conquanto existam passagens bíblicas que afirmam


que Cristo morreu pelas ovelhas (Jo 10.11,15), pela Igreja (At
20.28 e Ef 5.25) ou por “muitos” (Mc 10.45), a Bíblia também
afirma claramente em muitas outras passagens que a Expia-
ção é universal em seu alcance (Jo 1.29; Hb 2.9 e 1Jo 4.14), o
que deixa claro que as passagens que dão uma ideia de ela
ter sido limitada nada mais são do que referências à eficácia
da Expiação. Ou seja, a Expiação de Cristo foi realizada em
- 48 -
prol de toda a humanidade, mas só os que a aceitam usu-
fruem de sua eficácia.

Os que creem em Cristo são obviamente associados


à obra expiadora (Jo 17.9; Gl 1.4; 3.13; 2Tm 1.9; Tt 2.3; 1Pe
2.24), mas a Expiação é universal (1Jo 2.2). E a eficácia não
está na salvação de todos, mas na consecução da Salvação.
O fato de a Expiação só ter sido aceita e aplicada em mui-
tos e não em todos não significa que sua eficácia é compro-
metida. O fato de muitos usufruírem dela já demonstra sua
eficácia. Ela só não seria eficaz se ninguém se salvasse por
ela. Se alguém foi salvo por ela, esta foi eficiente. Não hou-
ve “desperdício” pelo fato de seu alcance ser universal, mas
nem todos serem salvos.

Além disso, se crermos que a Expiação de Cristo é li-


mitada, o que seria um sacrifício que proporcionasse uma
Expiação Ilimitada? Jesus sofreria um pouco mais na cruz?

Há casos de arminianos que creem em uma Expiação


Limitada com base na presciência divina, o que apresenta
uma certa coerência, porém o arminianismo clássico nunca
defendeu a Expiação Limitada justamente porque não só há
passagens bíblicas claras sobre o alcance universal da Expia-
ção como também uma Expiação Limitada é uma contradi-
ção ao ensino bíblico de que Deus não faz acepção de pes-
soas (Dt 10.17 e At 10.34).

Deus é soberano, mas isso não significa dizer que Ele


- 49 -
fará alguma coisa que contradiga Seu caráter santo e amoro-
so. Lembremos que uma hermenêutica prudente interpreta
uma passagem ou passagens observando o contexto geral
sobre o assunto na Bíblia. A Bíblia se explica por meio dela
mesma. Portanto, se ela afirma que Deus é santo, justo e
amor, e não faz acepção de pessoas; e que Deus quer que to-
dos se salvem e cheguem ao pleno conhecimento da verda-
de (1Tm 2.3,4); e que a expiação foi por “todos” (1Tm 2.6; Hb
2.9); logo as passagens em que há alusão a “muitos” devem
ser interpretadas à luz dessas outras. O resultado é que as
passagens que aludem a “muitos” não se referem ao alcan-
ce da Expiação, que é universal, mas à eficácia dela para os
“muitos” que a receberam por fé.

Não se pode simplesmente desconsiderar o significa-


do óbvio dos textos sem ir além da credibilidade exegética.
Quando a Bíblia diz que “Deus amou o mundo” (Jo 3.16) ou
que Cristo é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mun-
do” (Jo 1.29) ou que Ele é “o Salvador do mundo” (1Jo 4.14),
significa isso mesmo. Em nenhum texto o vocábulo “mundo”
se refere à Igreja ou aos eleitos.

Escreve o apóstolo João: “E Ele é a propiciação pelos


nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também
pelos de todo o mundo” (1Jo 2.2). Ou como disse o teólogo
H. C. Thiessen: “Concluímos que a Expiação é ilimitada no
sentido de estar à disposição de todos, e é limitada no sen-
tido de ser eficaz somente para aqueles que creem. Está à
- 50 -
disposição de todos, mas é eficiente apenas para os eleitos”

(Lectures in Sistematic Theology, Grand Rapids, 1979)

Finalmente, em quinto lugar, o Arminianismo entende


e sustenta, à luz da Bíblia, que o ser humano pode cair da
graça, mas que tal coisa não é tão fácil de acontecer como
se pensa. O próprio Arminio preferiu deixar em aberto essa
questão, isso porque há muitos textos bíblicos que enfati-
zam a perseverança dos santos e há muitos outros que su-
gerem a possibilidade de cair da graça, de eventualmente se
perder a salvação (Mt 24.12,13; Lc 9.62 e 17.32; Jo 15.6; Rm
11.1721; 1Co 9.27; Gl 5.4; Ap 3.5; 1Tm 1.19 e 4.1; 2Tm 2.10,12;
Hb 3.6,12,14; 2Pe 2.20-22; 1Co 15.1-2 e 2Co 11.3-4).

Escreveu Arminio: “Nunca ensinei que um verdadeiro


crente pode, total ou finalmente, cair da fé e perecer. Porém,
não vou esconder que há passagens das Escrituras que me
parecem ensinar isso”

(ARMINIO, Obras, volume 1, p. 131)

De forma geral, sabemos que é muito difícil acontecer


de um crente perder a salvação ao final, mas não impossí-
vel, razão pela qual a Bíblia insiste para que o cristão cultivar
sempre uma vida espiritual, fortalecendo-se em Deus para
perseverar até o fim (Ef 6.10-18). O fato de sabermos que
temos segurança em Cristo não deve nos levar a relaxar em
nossa vida espiritual, pois tal atitude pode, se não tomarmos
- 51 -
cuidado, nos levar, mais à frente, a perecermos espiritual-
mente.

- 52 -
AS INSTITUTAS DE JOÃO CALVINO

As Institutas são 4 livros de uma espécie de teologia e


cosmovisão bíblica Interpretativa do Teólogo francês João
Calvino. Segundo o site da editora fiel:

“O livro que o leitor tem em mãos é a tradução da pri-


meira edição das Institutas da Religião Cristã, envolvendo a
soma de toda a piedade e tudo o mais que se deve saber
sobre a doutrina da salvação: um livro digno de ser lido por
todos os que zelam pela piedade, publicado por João Calvi-
no em 1536, quando o reformador francês tinha apenas 27
anos.”

(https://www.editorafiel.com.br/teologia/729-institutas-da-
-religiao-crista-joao-calvino.html#more_info_tabs)

Soma de piedade? Doutrina da salvação? Será que a


teologia de Calvino é cheia de misericórdia e piedade, mes-
mo ele ensinando que Deus decretou pessoas ao inferno an-
tes de nascer? Ou Deus decretando um assalto seguido de
morte. Parece inacreditável, mas vou mostrar as fontes. É
surpreendente!

Essa edição que farei análise introdutória, é uma reim-


- 53 -
pressão da Instituição da Religião Cristã (Genebra, 1541), tra-
dução francesa de um livro cuja primeira redação, em latim,
tinha aparecido em Basileia em 1535.

Os editores da obra utilizada para esta tradução acres-


centaram (dentro do texto) referências às edições de 1536 e
de 1539, e (fora do texto) observações relacionadas em listas
de notas respectivas a cada capítulo.

O texto de Calvino não traz títulos de subdivisões dos


assuntos. Os que aparecem nesta tradução foram feitos pelo
tradutor.

A obra Institutas compõe-se de quatro livros e 17 capí-


tulos, distribuídos nesta ordem: Livro 1, capítulos I a III; Livro
2, IV a VI; Livro 3, VII a XI; Livro 4, XII a XVII.

Como se dá com a redação latina de 1535, esta tradu-


ção compreende essencialmente uma epistola dedicada ao
rei Francisco I, defesa dos reformados franceses persegui-
dos, e uma “suma”, uma apresentação resumida da doutrina
religiosa deles. Por que essa defesa? E por que essa profissão
de fé?

“O propósito de redigir uma profissão de fé para os INS-


TITUTAS evangélicos, parece presente no espírito de Calvino
já nos primeiros meses do ano de 1534.”

(Institutas, vol. 1, pg. 09)

- 54 -
Acredito que a pouca idade de João Calvino, o pouco
aprofundamento teológico, e as perseguições que os cerca-
vam, cooperaram para Calvino ter alguns ensinos não só pe-
rigosos, mas muito confuso, contraditório e principalmente
contrário as escrituras sagradas.

Em alguns momentos ele faz afirmações, em outros ca-


pítulos ou até mesmo outros livros da mesma obra, Calvino
acaba se contradizendo.

Chega de delongas e vamos para o que importa. Vamos


iniciar um breve resumo estudo introdutório do primeiro li-
vro de Calvino.

- 55 -
CAPÍTULO 03
ENSINOS PERIGOSOS DE CALVINO VOLUME 01

A principal crença e centro da doutrina de João Calvino


pode ser resumida na seguinte afirmação: “Deus decretou
absolutamente tudo o que acontece.”

Veja a afirmação de João Calvino no volume 3, a nível


introdutório:

“E ainda a Escritura para expressar mais claramente que


nada absolutamente se faz neste mundo que não seja pela
ordenação de Deus, subordinada a Ele, nominal e explicita-
mente, todas as coisas que têm toda aparência de fortuitas
e casuais.”

(Institutas, vol. 3, art. 43, pg. 74)

Perceba que Calvino deixa claro: “absolutamente nada


neste mundo” ou seja, todo e qualquer acontecimento na
história humana, partiu de uma ordem direta de Deus. Cal-
vino não cria em “simples permissão divina”. Calvinistas mo-
dernos ensinam que o mal moral e os pecados, foram decre-
tados por Deus no sentido que Ele não quis impedir, logo,
tornou certo tal evento. Ora, onde achamos isso nas escritu-
ras?
- 57 -
Como Deus vai punir um pecador pela sua má conduta
que foi decretada diretamente ou tornada certa pelo próprio
Deus?

Imagine quantas mortes, crimes e atrocidades ORDE-


NADAS por Deus desde o início da humanidade. E todos os
textos bíblicos Deus ordenando o homem não pecar? É sim-
plesmente inacreditável tal ensino.

Calvino prossegue:

“Isto, porém, permanece resolvido firmemente em nos-


so coração: nada acontece que Deus não tenha ordenado.”

(Institutas, vol. 3, art. 45, pg. 76)

Imagine quantos milhões de abusos esse tal “deus” de


Calvino ordenou segundo a interpretação do mesmo. Eu fico
até sem palavras para essa afirmação abominável.

Mesmo dizendo que Deus ordenou absolutamente to-


das as coisas, Calvino nega que Deus tenha ordenado o peca-
do. Mas esse tema fica para comentarmos mais adiante.

Agora que você tem uma percepção sobre a teologia


“determinista” de Calvino, podemos prosseguir no volume 1.

No primeiro capítulo das institutas, Calvino usa quase


20 páginas para escrever ao Rei FRANCISCO da França.

Percebe-se nessa leitura inicial que Calvino de forma


- 58 -
introdutória tenta explicar o motivo de escrever o livro e de-
fende sua teologia, fazendo a seguinte defesa:

“O fato de que esta doutrina permaneceu oculta e des-


conhecida por muito tempo é crime cometido pela impieda-
de humana. Agora, quando pela bondade de Deus ela nos é
restaurada, ao menos devia ser recebida com reconhecimen-
to da sua autoridade antiga. Da mesma fonte de ignorância
vem a acusação que a nossa doutrina é duvidosa e incerta.”

(Institutas, vol. 1, pg.41)

Para Calvino, a doutrina que ele ensinava [Deus decre-


tando absolutamente todas as coisas] permaneceu oculta,
mas de alguma forma, Deus o revelou. E esse “estado oculto”
foi culpa dos próprios seres humanos.

Já perceberam que toda doutrina estranha, perigosa ou


boa parte delas heréticas, foram supostamente revelados
por “Deus” através de um anjo, ou para uma pessoa espe-
cial?

Observe essa afirmação de Calvino:

“Por outro lado, os pretensos milagres dos nossos ad-


versários não passam de enganos de satanás que afastam
o povo do culto devido a Deus e o arrastam para ilusão vã e
vazia.”

(Institutas, vol. 1, pg. 43)


- 59 -
Ora, se Deus ordenou todos os fatos, que história é essa
dos enganos de satanás nos afasta de Deus? Ora, Ele mesmo
supostamente ordenou tais acontecimentos? Contraditório.

Na página 49 vemos outras contradições:

“Dessa maneira, no passado, puniu a ingratidão dos ho-


mens. Porque, por isso mesmo, aos que não quiseram obe-
decer a sua verdade e extinguiram sua luz, Ele permitiu que,
em sua cegueira sofressem abusos de grosseiras e fossem
envoltos por trevas profundas, de tal maneira que não se tor-
nou visível nenhuma forma de verdadeira igreja.”

(Institutas vol. 1, pg. 49)

Eu grifei a palavra “permitiu” para os leitores notarem


a incoerência de Calvino. Como Deus ordena todos os fatos
e mesmo assim PERMITE algumas coisas? Se Deus ordenou
tudo, não há necessidade de permitir nada, pois de antemão,
Ele criou o fato e trouxe ao espaço-tempo tal acontecimen-
to. Como Deus agiria de forma “permissiva” diante dos fatos
decretados por Ele mesmo? Nenhum calvinista explica tal
mistério.

Como Deus vai cobrar a desobediência desses homens


rebeldes, se Ele mesmo já havia decretado tal ação? Contra-
dições sem nexo.

Na página 50, a coisa fica mais séria:

- 60 -
“Pois impiedosamente a culpam disso tudo, quando es-
ses males todos deveriam ser atribuídos a maligna astucia de
satanás.”

(Institutas, vol. 1, pg. 50)

Nesse contexto, Calvino está falando sobre seitas e re-


beliões, então ele atribui esses males ao diabo. Mas não é
Deus que decretou tais fatos? Que culpa satanás tem se ele
só cumpre ordens de Deus? Que ensino confuso!

Imagine Deus ordenando satanás atacar a igreja e os


crente, mas Ele próprio também decretou que Jesus desfi-
zesse as obras do diabo. Fácil refutar isso:

“Quem comete o pecado é do diabo; porque o diabo


peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifes-
tou: para DESFAZER as obras do diabo.”

(1 João 3:8)

Deus não pode em Cristo vir desfazer o que Ele mesmo


decretou fazer. Perdão pelo sarcasmo, mas parece papo de
hospício tal ensino ou um “deus” esquizofrênico.

Como refutar tal ensino de Calvino? Vejamos um texto


no livro do profeta Jeremias:

“E edificaram os altos de Baal, que estão no Vale do Fi-


lho de Hinom, para fazerem passar seus filhos e suas filhas

- 61 -
pelo fogo a Moloque; o que nunca lhes ordenei, nem veio
ao meu coração, que fizessem tal abominação, para fazerem
pecar a Judá.”

(Jeremias 32:35)

Deus exortou o povo acerca desse terrível pecado de


sacrificar os filhos, e no texto Deus deixa claro que “NUN-
CA ORDENOU TAL AÇÃO PECAMINOSA”. A maioria dos calvi-
nistas simplesmente ignoram ou apelam dizendo que “Deus
decretou esses pecados, sem nunca ter ordenado tal ação
diretamente, mas Ele decretou de uma forma que torna o
povo pecador, e não Deus.”

Tem que ter muita coragem para afirmar tamanha bes-


teira.

Prefiro ficar com a interpretação de Jacó Arminio:

“Também representa Deus como a causa de todo o bem


e da nossa salvação, e o homem como a causa do pecado e
de sua própria condenação.”

(Obras de Arminio, vol. 1, Pg. 228)

Biblicamente é impossível Deus ter decretado absoluta-


mente todas as coisas. Vários textos dizem o contrário, veja-
mos:

- 62 -
“Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se,
todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu
desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.”

(Gênesis 4:7)

Como Deus decretou tudo na terra, se em Genesis Ele


diz para Caim resistir ao pecado? Caso Caim invocasse a Deus,
O Senhor livraria de tal pecado, mas os calvinistas insistem
em afirmar que Deus ordenou tal atitude de Caim, mas o cul-
pado é o próprio Caim.

“edificaram os altos de Tofete, que está no vale do filho


de Hinom, para queimarem a seus filhos e a suas filhas; o que
nunca ordenei, nem me passou pela mente.”

(Jeremias 7:31)

O texto é claríssimo: Deus não tinha ordenado que o


povo sacrificasse os filhos em culto a demônios. Então Deus
não pode ter ordenado absolutamente tudo o que acontece
na terra.

“edificaram os altos de Baal, para queimarem os seus


filhos no fogo em holocaustos a Baal, o que nunca lhes orde-
nei, nem falei, nem me passou pela mente.”

(Jeremias 19:5)

Poderia citar outras dezenas de passagens na bíblia so-

- 63 -
bre Deus não ter decretado sistematicamente todos os fatos,
mas esses retratam bem Deus “ordenando e decretando”
muitas coisas, mas não tudo.

Mesmo Calvino ensinando que Deus decretou todas as


coisas, na página 138 do volume 1, ele chega a escrever que:

“não há incoerência em atribuir uma mesma obra a


Deus e ao diabo.”

(Institutas vol. 1, art. 67, pg. 138)

Falamos mais sobre isso nos comentários do volume 3.

Por incrível que pareça, Calvino cita isso na página 53:

“Pois nosso Deus não é Deus de divisão, mas de paz, e o


filho de Deus não é ministro de pecado, mas veio para rom-
per e destruir as obras do diabo.”

(Institutas, vol. 1, pg. 53)

Ele mesmo se refuta. Na mente de João Calvino, Deus


ordenar o diabo agir, mas também em Cristo, desfaz a pró-
pria “obra” ou ordem. É simplesmente bizarro.

Na página 57 achamos mais uma contradição, vejamos:

“Assim, tendo todos entendimentos que há um Deus,


que é o seu criador, serão condenados por seu próprio tes-
temunho aqueles que não o glorificarem e não dedicarem a

- 64 -
sua vida a fazer sua vontade.”

(Institutas, vol. 1, art. 4, pg. 57)

Como “serão condenados pelo testemunho” se Calvino


escreve essa barbaridade:

“Portanto se alguém nos atacar com o propósito de


saber porque Deus predestinou alguns para a condenação
eterna, sem terem feito nada para merecê-la, visto que AIN-
DA NÃO EXISTIAM, lhes perguntamos se ele pensa que Deus
é devedor do homem.”

(Institutas, vol. 3, art. 18, pg. 57)

Sim, é isso mesmo que você leu. Na mente de Calvino,


Deus escolheu pessoas para salvação e enviou o restante
para o inferno, antes dessas pessoas nascerem. Isso é sim-
plesmente herético e absurdamente não bíblico. A vontade
e desejo de Deus é salvar (1 Timóteo 2:4) e que nenhum se
perca (2 Pedro 3:9)

Na página 57 ele afirma que os ímpios são perdidos pe-


los “testemunhos”, mas na página 49 do volume 3, Deus os
condenou ao inferno antes deles nascerem. Que sentido tem
os ímpios serem num momento condenados por suas más
obras, mas os tais nascem decretados ao inferno?

Na página 58 e 59, Calvino faz um breve relato de um


dos piores imperadores que já existiu: Caio Júlio César Au-
- 65 -
gusto Germânico, também conhecido como Caio César ou
Calígula, que foi imperador romano de 16 de março de 37
até ao seu assassinato, em 24 de janeiro de 41 d.C. Foi o ter-
ceiro imperador romano e membro da dinastia Júlio-Claudia-
na, instituída por Augusto.

Sobre esse maléfico filho das trevas, Calvino comenta:

“Não se lê de nenhuma outra pessoa que tenha despre-


zado e ultrajado a Deus com maior arrogância de atrevimen-
to do que o imperador romano Caio Calígula. (...) A realidade
é que quanto mais atrevido for o desprezador de Deus, mais
tremerá de medo ao ruído de uma simples folha que cai. De
onde vem esse temor? Certamente de Deus que, em sua ma-
jestade, vinga-se atormentando tanto mais a consciência de-
les quanto mais procuram dela fugir.”

(Institutas, vol. 3, art. 5, pg. 58-59)

Para Calvino, o tormento na mente satânica de Calígula,


que mandou executar até seus parentes, vinha de Deus. Que
absurdo! Quem veio tentar o homem a pecar, perseguir e lhe
causar pânico na mente é satanás e seus anjos caídos. Deus
vem trazer paz e libertação na alma.

Contradição insana

“O segundo erro cometido pelos homens é que se dei-


xam levar a força e contra a sua vontade a terem considera-
- 66 -
ção por Deus, e não movidos por um temor decorrente da
reverência a majestade divina.”

(Institutas, vol. 1, art. 7, pg. 61)

Calvino culpa os homens por não terem consideração


por Deus. Até aí tudo bem, concordamos. Mas observe de
onde vem esse sentimento nos corações dos homens segun-
do o próprio João Calvino:

“Deus cega, endurece e impulsiona os maus, dos quais


Ele tira a capacidade de ver, de obedecer e de fazer o bem.”

(Institutas, vol. 1, art. 68, pg. 139)

Calvino culpa os homens por tais sentimentos pecami-


nosos na página 61, mas atribui a Deus esses sentimentos na
página 139. É simplesmente insana tal contradição. Perceba
que no texto acima ele escreve que “Deus tira a capacidade
de ver, de obedecer e de fazer o bem”, ou seja, o pecador
não consegue se libertar, crer ou fazer qualquer ação boa,
porque o próprio Deus lhe cegou e lhe tirou a capacidade de
obedecer.

Calvino esqueceu que quem cegou os incrédulos foi o


diabo:

“Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos


dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evan-
gelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus”
- 67 -
(2 Coríntios 4:4)

Analise essa afirmação de Calvino:

“Visto que Deus quis que o fim principal da vida real-


mente feliz estivesse situado no conhecimento do seu nome,
para que não pareça que é seu desejo vedar a alguns o in-
gresso na felicidade, ele se manifesta claramente a todos.”

(Institutas, vol. 1, art. 10, pg. 62)

Veja que Calvino diz que “Deus não priva pessoas da fe-
licidade, mas que se manifestou a todos”. Imagine comigo:
Deus quer ver a felicidade das criaturas, se manifesta para
toda criatura, mas Ele mesmo decretou bilhões ao inferno.
Sem comentários.

Sobre “Deus se manifestar a todos”, Calvino vai além:

“Sim, pois, como nos ensina o profeta, não há nenhuma


criatura sobre qual Deus não tenha derramado a sua miseri-
córdia.”

(Institutas, vol. 1, art. 11, pg. 64)

Para João Calvino, Deus escolheu alguns para salvar e


outros para perdição, se manifestou a todos, derramou mi-
sericórdia a todos, até naqueles que Ele escolheu passar a
eternidade no inferno. Absurdo! Que “misericórdia” de per-
dição é essa?

- 68 -
Veja Calvino escrevendo novamente sobre “permissão”:

“O fato de permitir Deus que os ímpios e os malfeitores


vivam por algum tempo na impunidade, e que os bons e os
inocentes sofram muita adversidade e até sejam oprimidos
pela iniquidade dos maus, não deve obscurecer o caráter
perpétuos das normas da sua justiça”.

(Institutas, vol. 1, art. 12, pg. 65)

Por algumas vezes Calvino vai afirmar que nada aconte-


ce sem que Deus tenha ordenado, outras vezes ele ensina a
“permissão de Deus”.

Para dar uma ajuda ao nobre exegeta francês, alguns


calvinistas dizem que esse “permitir” é a mesma coisa que
“não impedir, significa então tornar o fato certo”.

Exemplo: Um comandante da polícia dentro do bata-


lhão, não impediu um assalto no centro da cidade. Os moti-
vos são variados, mas algo aconteceu que tal autoridade não
pode estar lá para impedir o assalto, logo, esse comandante
quis que aquilo acontecesse e tornou certa a ação por não
impedir, ainda que indiretamente. Consegue perceber a lou-
cura “filosófica” e banal desse ensino? O FATO DA AUTORI-
DADE PERMITIR A AÇÃO, NÃO A TORNA CUMPLICE OU MAN-
DANTE DO FATO PECAMINOSO.

Na página 66 do volume 1, artigo 15, Calvino diz que


até os “justos são castigados e os ímpios não escaparam do
- 69 -
castigo divino”. Nesse mesmo contexto, já na página 67 ele
escreve:

“(...) toda a humanidade é convidada a tomar posse des-


te conhecimento e, por ele, para gozo da suprema felicida-
de.”

(Institutas, vol. 1, art. 15, pg. 67)

Para Calvino, mesmo Deus tendo já escolhido quem irá


se salvar, Ele mesmo assim convida toda a raça humana para
o reconhecer como Deus e Criador. Nem preciso dizer quão
estranho é tal ensino.

“(...) generosamente e brandamente Deus convida os


homens a que o conheçam, eles, entretanto, não deixam de
seguir os seus próprios caminhos – isto é, seus erros, que só
merecem condenação.”

(Institutas, vol. 1, art. 17, pg. 68)

Mais uma contradição. Se Deus já decretou todos os


perdidos, por qual motivo Ele convida esses homens que Ele
mesmo tirou e determinou a não capacidade de crer e arre-
pender-se? Isso seria uma chamado “fake”. Seria literalmen-
te “brincar” com a criatura.

Apesar de muitos calvinistas pregarem que Deus só se


manifesta aos eleitos e escolhidos desde a eternidade, Calvi-
no cria um pouco diferente:
- 70 -
“Por isso, como o Senhor expõe a todos, sem exceção,
a clara percepção da sua majestade, figurada em suas criatu-
ras, para despojar a impiedade dos homens de toda defesa,
assim também, por outro lado, ele socorre com um remédio
mais eficaz a ignorância daqueles os quais ele tem prazer em
dar-se a conhecer para salvação.”

(Institutas, vol. 1, art. 18, pg. 69)

Mesmo Deus não querendo salvar a maioria, Ele quis


expor sua majestade até para aqueles que Ele enviou ao in-
ferno. Ele mostra sua glória a todos sem exceção, mas segun-
do Calvino, alguns Ele “faz conhecer a salvação”.

“Iluminados”

Alguns teólogos calvinistas afirmam que quando Calvi-


no diz “iluminado”, Ele não está falando sobre salvação. Mais
adiante, nas próximas institutas, vou aprofundar mais nessa
questão e será útil esse trecho. Enquanto isso, observe essa
escrita sobre Adão, Noé e Abraão:

“Desta maneira, Adão, Noé, Abraão e os outros patriar-


cas puderam conhecê-lo, ILUMINADOS que foram por sua
palavra.”

(Institutas, vol. 1, art. 18, pg. 69)

Só falta aparecer algum calvinista e dizer que Adão, Noé


- 71 -
e Abraão não eram salvos ou eleitos, tudo para defender que
a fala “iluminados” nem sempre Calvino usa para pessoas
salvas.

Tudo isso devido uma fala de Calvino acerca de pessoas


“iluminadas” por um curto período, onde segundo o francês
reformador, Ele (Deus) “ilumina” por um tempo e depois essa
pessoa é abandonada por Deus. Sim, Calvino cria em “salva-
ção ou iluminação temporária” de alguns. Vamos comentar
isso mais adiante. É um dos ensinos mais polêmicos do mes-
mo.

Não é somente por esse ensino polemica que percebe-


mos que Calvino cria em perca de salvação. Olhe o que ele
diz sobre “desviar”:

“Se nos desviamos dessa Palavra, seja qual for o rumo


que tomemos, jamais chegaremos ao nosso alvo, pois estare-
mos correndo fora do caminho.”

(Institutas, vol. 1, art. 18, pg. 70)

Nitidamente Calvino ensinou acima a possibilidade de


“desviar do alvo e do caminho”. Uma pena é a grande massa
calvinista no Brasil não tenha lido as Institutas.

No artigo 22 da página 72 e 73, Calvino vai descrever


sobre “a autoridade da escritura atestada pelo testemunho
do Espírito”. Na página 73 ele escreve algo intrigante:

- 72 -
“Agimos como agimos porque sentimos que na escritu-
ra reside e se manifesta o poder de Deus, que nos atrai e nos
impulsiona à obediência ardosa, consciência e voluntária.”

(Institutas, vol. 1, art. 22, pg. 73)

Perceba que outrora Calvino afirma que tudo foi decre-


tado por Deus, até os sentimentos dos maus (Institutas, vol.
1, art. 68, pg. 139) mas aqui ele já afirma voluntariedade na
consciência humana. Ou seja, Calvino às vezes era arminiano,
às vezes determinista fatalista.

Se Deus decreta tudo, até as vontades do eleito, é im-


possível o eleito ter voluntariedade na sua consciência. Con-
tradição detectada com sucesso.

João Calvino e os dons espirituais

Muitos calvinistas dizem veementemente que Calvino


cria que os dons cessaram e por isso se intitulam “Cessacio-
nistas”. [Dons cessaram]

Essa briga até entre os calvinistas acontece porque em


trechos Calvino defende os dons, em outros, ele nega. Vamos
começar com as defesas. Mais adiante mostro ele negando.

Se você é continuísta (os dons espirituais continuam) re-


dobre sua atenção. E se você é cessacionista (os dons ou par-
te deles cessaram) aperte o cinto e veja a opinião de Calvino
- 73 -
acerca dos dons do Espírito:

“Em primeiro lugar, deve considerar para que fim ele [o


homem] foi criado e foi dotado de DONS singulares da parte
de Deus.”

(Institutas, vol. 1, art. 5, pg. 83)

O texto é tão claro que dispensa interpretação ou expli-


cação.

Veja o que está escrito no rodapé dessa edição das Ins-


titutas que estou usando para escrever esse livro:

“(...) sejam quais forem os dons que possuamos, não


devemos ensoberbecer-nos por causa deles, visto que eles
põem sob as mais profundas obrigações para com Deus.”

(João Calvino, Efésios, 1998, pg. 113)

Calvino era radicalmente contra falar mal dos dons, veja:

“Se reconhecermos o Espírito de Deus como a única


fonte da verdade, não lutaremos contra a verdade onde quer
que ela apareça, caso contrário estaremos ofendendo o Espí-
rito Santo de Deus. Porque não se pode falar mal dos DONS
do Espírito sem lanças desprezo e opróbrio sobre Ele.”

(Institutas, vol. 1, art. 36, pg. 105)

“O senhor declara que a continência é um DOM singular

- 74 -
e especial, DOM que não é dado indistintamente a toda a sua
igreja, mas a um reduzido número dos seus membros.”

(Institutas, vol. 1, art. 58, pg. 202)

“Porque não podemos ver com os nossos olhos por


quantos e quão horríveis castigos o nosso Senhor pune esse
arrogante desprezo dos seus DONS;”

(Institutas, vol. 1, art. 59, pg. 203)

Calvino “exagera” na sua ênfase nos dons e chega afir-


mar que homem mau pode ter dom de línguas e profecia,
veja:

“Visto que essa capacidade, tenha o nome de fé ou de


poder, é um DOM especial de Deus que um homem mau ou
falso pode ter (como acontece com os DONS de línguas, de
profecia e outros semelhantes), não devemos espantar-nos
se for separado do amor cristão.”

(Institutas, vol. 2, art. 37, pg. 30-31)

“Portanto, ele está assentado nas alturas a fim de que,


de lá, derramando sobre nós o seu poder, ele nos vivifique,
dando-nos vida espiritual, e nos santifique por seu Espírito,
para ornar a sua igreja com muitos DONS preciosos,”

(Institutas, vol. 2, art. 96, pg. 85)

João Calvino por nenhum momento faz distinção entre


- 75 -
dons “ordinários” e “extraordinários” como alguns calvinis-
tas fazem nos dias atuais. Cessacionismo não foi uma doutri-
na pregada por Calvino nesse trecho, mais adiante sim e vou
provar.

“E também o recebe como nova criatura, dando-lhes os


DONS do seu Espírito.”

(Institutas, vol. 2, art. 50, pg. 242)

“Como se dissesse: a profecia, as línguas, o dom de in-


terpretar e a ciência tendem todos a este objetivo – levar-
-nos ao conhecimento de Deus. Ora, nesta vida mortal só
conhecemos a Deus pela fé e então: “Agora, pois, permane-
cem a fé, a esperança e o amor, estes três” – quer dizer, seja
qual for a variedade de DONS, eles se reportam a esses três:
“porém o maior destes é o amor.”

(Institutas, vol. 2, art. 73, pg. 263)

Logo mais voltamos nesse tema de dons espirituais.

João Calvino cria na natureza pecaminosa herdada de


Adão, mas acerca dos filhos dos crentes ele afirma:

“É bem verdade que Deus santifica os filhos dos fiéis


por causa dos pais, porém isto se dá não em virtude da sua
natureza, mas da graça de Deus.”

(Institutas, vol. 1, art. 12, pg. 87)

- 76 -
Para Calvino, os filhos dos eleitos eram eleitos também.
Infelizmente muitas igrejas calvinistas sequer fazem o ape-
lo para que o jovem ou adolescente confesse Jesus publica-
mente. Jesus ensinou a confissão pública:

“Assim sendo, todo aquele que me confessar diante dos


homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que
está nos céus.”

(Mateus 10:32)

Sobre os filhos dos não eleitos, Calvino usa duras pala-


vras, inclusive muitos calvinistas discordam de Calvino acer-
ca da perdição dos infantes:

“Por essa razão, até as crianças estão incluídas nessa


condenação. Não simplesmente por pecado alheio, mas pelo
delas mesmas, porquanto, apesar de ainda não terem pro-
duzido frutos da sua iniquidade, não obstante, a semente de
pecado, e, portanto, só pode ser desagradável e abominável
a Deus.”

(Institutas, vol. 1, art. 15, pg. 88)

Para Calvino, uma criança não eleita, ao morrer, ia para


perdição. Imagine uma recém-nascido nas profundezas do
inferno. Isso é inaceitável. Não é possível que alguém em sã
consciência creia em tamanho absurdo.

Jesus não ensinou isso. Cristo disse o seguinte:


- 77 -
“Trouxeram-lhe, então, algumas CRIANÇAS, para que
lhes impusesse as mãos e orasse; mas os discípulos os re-
preendiam. Jesus, porém, disse: Deixai os pequeninos e não
os estorveis de vir a mim, porque dos tais é o Reino dos céus.”

(Mateus 19:13-14)

Deus e o pecado

Esse ponto é muito contraditório. Apesar de Calvino


crer que Deus decretou a queda, quis que Adão pecasse e
quis que toda raça humana caísse, ele afirma que Deus não
tem culpa:

“Vejamos agora os que ousam atribuir a Deus o pecado


deles, quando se diz que os homens são naturalmente maus.
Perversamente veem a obra de Deus na corrupção deles,
quando melhor fariam em buscá-la e vê-la na natureza que
Adão recebeu antes de se corromper. A nossa perdição pro-
cede da disposição da nossa carne, e não de Deus.”

(Institutas, vol. 1, art. 16, pg. 89)

Se Deus não tem culpa da queda, como Ele ordenou? Se


a perdição vem da carne, quem decretou o pecado na carne?
Essas respostas nenhum calvinista tem. Calvino continua:

“Portanto, que não nos ocorra imputar sempre a nos-


sa desgraça à corrupção da nossa natureza, e muito menos
- 78 -
àquela natureza que tinha sido dada originariamente ao ho-
mem, o que seria acusar a Deus, como se o nosso mal viesse
Dele.”

(Institutas, vol. 1, art. 16, pg. 89)

Calvino nega que o mal e o pecado vieram de Deus, mas


afirma isso em outra Instituta:

“(...) Adão, pela vontade de Deus, caiu, e na qual pre-


cipitou todos seus sucessores. Deus não é, pois, injusto em
brincar tão cruelmente com suas criaturas? Em resposta,
reconheço que foi pela VONTADE DE DEUS QUE TODOS OS
FILHOS DE ADÃO CAIRAM NESTA MISÉRIA, na qual agora es-
tamos retidos.”

(Institutas, vol. 3, art. 18, pg. 49)

Por um momento ele afirma de Deus não tem culpa da


queda e do pecado, já no volume 3 afirma que Deus quis tal
queda. Esse tipo de fala de Calvino, os reformados nunca co-
mentam.

“Por aí se vê que nos cabe imputar unicamente ao ser


humano a sua desgraça, visto que da graça de Deus ele tinha
recebido uma retidão natural, e que por sua loucura ele tro-
peçou na vaidade e caiu.”

(Institutas, vol. 1, art. 16, pg. 89)

- 79 -
O homem peca, tropeça na sua vaidade, tudo pela or-
dem de Deus, mas o culpado é o próprio homem. Contradi-
ção pior que essa, desconheço.

Livre arbítrio

Sem dúvidas, um dos ensinos mais deturpados hoje em


dia citando Calvino é o livre arbítrio. Vou mostrar em deta-
lhes o lado” arminiano” de Calvino com esse polêmico tema.

Já vou adiantar: Calvino cria no livre arbítrio. Antes de


provar isso, analise comigo:

“Portanto, não é sem motivo que se encontra frequen-


temente repetida nos escritos de Agostinho esta bela sen-
tença: que os que defendem o livre arbítrio o lançam à ruína
antes de o comprovarem.”

(Institutas, vol. 1, art. 20, pg. 91)

Calvino faz uma breve crítica ao arbítrio cintando seu


teólogo preferido Agostinho, mas seguimos adiante:

“Portanto, devemos fazer uma divisão diferente. Ei-la:


Existem duas partes em nossa alma: a inteligência e a von-
tade. A inteligência é para discernir entre todas as coisas
que nos são propostas, e julgar o que devemos aprovar ou
condenar. A função da vontade é escolher e seguir o que o
entendimento tiver julgado bom, e, ao contrário, rejeitar e
- 80 -
evitar o que tiver reprovado.”

(Institutas, vol. 1, art. 22, pg. 93)

Calvino explica acima de forma muito simples e resu-


mida o arbítrio humano, mas infelizmente, muitos calvinis-
tas insistem em afirmar que ele estaria falando sobre “livre
agência humana”. Nenhum momento nesse capítulo sobre
arbítrio ele cita “livre agência”.

Mas no artigo 26 da página 97, chegamos ao ápice. Cal-


vino confessa o arbítrio humano de forma tímida, mais ho-
nesta, veja:

“Uma coisa fica resolvida – que o homem não tem livre


arbítrio para praticar o bem, A NÃO ser que seja ajudado pela
graça de Deus, e pela graça espiritual ou especial, dada tão-
-somente aos eleitos, mediante a regeneração.”

(Institutas, vol. 1, art. 26, pg. 97)

Coloquei em caixa alta para você mostrar para aquele


calvinista que nega o livre arbítrio. Perceba que Calvino cria
no arbítrio humano após a graça de Deus. Bem parecido com
a interpretação de Arminio. (Graça preveniente)

Calvino afirma que essa faculdade [arbítrio] opera de


forma pequena e fraca no homem, nesse mesmo contexto,
veja:

- 81 -
“Contudo, ainda não fica evidente se resta ao homem
alguma porção dessa faculdade [arbítrio] pequena e fraca,
porém, a qual nada pode fazer sem a graça de Deus; mas,
sendo ajudada por esta, age da parte dele.”

(Institutas, vol. 1, art. 26, pg. 97)

Ora, por que nenhum calvinista no Brasil tem coragem


de ensinar isso? Talvez você, irmão calvinista, que está lendo
essa obra, nunca leu sobre ou ouviu acerca disso. A resposta
é simples: Se confessamos que o homem tem arbítrio após
a graça de Deus, o homem pode resistir após ser salvo. Se
ele pode resistir, a graça não é irresistível, a eleição não é
incondicional e o homem pode cair da graça, ou seja, acabou
o CALVINISMO.

Para que os 5 pontos do calvinismo não entre em colap-


so, é preciso de todas as maneiras negar o livre arbítrio, caso
contrário, a TULIP está em ruinas.

Por isso mesmo Calvino afirmando o livre arbítrio, os


adeptos do calvinismo vão negá-lo incansavelmente. Talvez
Calvino não se atentou para tal complicação ao escrever esse
capítulo.

Mesmo crendo no arbítrio humano, Calvino ensina para


evitar tal “tema” ou vocábulo:

“Mas alguém poderá dizer que o perigo será extirpado,


desde que as pessoas sejam advertidas quanto ao sentido
- 82 -
da expressão livre arbítrio. Ao contrário, digo que, em vista
da inclinação natural existente em nós que nos leva a seguir
a falsidade e a mentira, mais facilmente tropeçamos numa
só palavra do que seríamos instruídos na verdade por uma
longa oração. Disso temos experiência mais que certa de que
seria melhor dispensar tal vocábulo.”

(Institutas, vol. 1, art. 27, pg. 99)

Calvino cita Agostinho para reforçar a crença que o ím-


pio tem seu arbítrio preso ao pecado e sua natureza pecami-
nosa, mas o homem com o Espírito Santo possui arbítrio:

“Principalmente Agostinho, que não hesita em chamá-


-lo servo [arbítrio]. É bem verdade que em certo lugar ele se
opõe aos que negam a existência do livre arbítrio, mas, ao
mesmo tempo, ele demonstra o que pretende, quando diz:
“Somente que ninguém se disponha a negar o livre arbítrio
para, com isso, escusar o pecado”. Por outro lado, porém, ele
confessa que “a vontade do homem não é livre sem o Espíri-
to de Deus, visto que é dominada por suas concupiscências”.
Igualmente diz ele que “depois que a vontade é dominada
pelo mal em que caiu, a nossa natureza perdeu a liberdade”.
E ainda: “O homem, fazendo mau uso do livre arbítrio, per-
deu-o e perdeu-se”. E declara mais, “que o livre arbítrio está
em cativeiro e não pode fazer bem algum”

(Institutas, vol. 1, art. 28, pg. 99)

- 83 -
No final do artigo 28, Calvino pede para que a igreja não
use o termo “livre arbítrio”:

“Não é assim, que ele zomba apenas do título que lhe


dão, chamando-o livre arbítrio? Portanto, se alguém se per-
mite usar essa expressão, não farei com ele grande contro-
vérsia. Mas, uma vez que vejo que não se pode fazer uso dela
sem grande risco, e, ao contrário, que seria de grande provei-
to para a igreja se fosse abolida, eu não gostaria de empre-
gá-la; e se alguém me pedisse conselho, eu lhe diria que se
abstivesse do seu uso.”

(Institutas, vol. 1, art. 28, pg. 99)

Pra fechar essa questão do livre arbítrio, registro aqui


Calvino confessando a habilidade do homem em discernir
entre o bem e o mal, como nos ensina a bíblia em Genesis
3:22, mas negado por muitos calvinistas desinformados:

“Pois bem, sabedores de que existe um juízo universal


no homem que o habilita a discernir o bem e o mal, não é
necessário verificar se ele é totalmente são e completo.”

(Institutas, vol. 1, art. 42, pg. 112)

Um outro ensino perigoso de Calvino é na página 121,


onde ele afirma que Deus nega sua graça para algumas pes-
soas:

“Ao contrário, não deixamos de incluir uns e outros na


- 84 -
condição universal da corrupção humana, mas o que, sim,
queremos dizer é que Deus dá de Sua graça particularmente
a um e a nega a outro.”

(Institutas, vol. 1, art. 47, pg. 121)

“Deus não da sua graça a todos.”

(Institutas, vol. 1, art. 55, pg. 127)

Biblicamente isso é impossível. Deus não faz acepção de


pessoas. Ele não pode oferecer sua graça para um pecador e
para outro não:

“E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade


que Deus não faz acepção de pessoas;”

(Atos 10:34)

“Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas.”

(Romanos 2:11)

“E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixan-


do as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso
está no céu, e que para com ele não há acepção de pessoas.”

(Efésios 6:9)

Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e


sois redarguidos pela lei como transgressores.

- 85 -
(Tiago 2:9)

“E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pes-


soas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor, du-
rante o tempo da vossa peregrinação”

(1 Pedro 1:17)

“Pois o SENHOR vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Se-


nhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que
não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas”

(Deuteronômio 10:17)

“Agora, pois, seja o temor do Senhor convosco; guardai-


-o, e fazei-o; porque não há no Senhor nosso Deus iniquidade
nem acepção de pessoas, nem aceitação de suborno.”

(2 Crônicas 19:7)

Calvino insistiu em afirmar que o homem não pode re-


cusar a graça:

“Mas visto que isso provém de que se imagina que está


em nosso poder recusar ou aceitar a graça de Deus quando
está nos é apresentada, é fácil refutar essa ideia, porquanto
já se demonstrou que é falsa.”

(Institutas, vol. 1, art. 56, pg. 128)

Não é falsa não Calvino, a bíblia ensina que o homem

- 86 -
resiste a graça:

“Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e


ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois
como vossos pais.

(Atos 7:51)

“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e ape-


drejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar
os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo
das asas, e tu não quiseste!”

(Mateus 23:37)

Calvino e muitos calvinistas se contradizem acerca do


diabo. Muitos afirmam que satanás só faz o que Deus ordena
e todas suas ações foram decretadas por Deus. Isso não con-
diz em partes com o ensino de Calvino. Ele cria que satanás
age também voluntariamente:

“Isso não impede, pois, que a vontade de Deus seja li-


vre para fazer o bem, e que faça necessariamente o bem.
Se o Diabo não deixa de pecar voluntariamente, visto que
nada pode fazer senão o mal, quem contestará dizendo que
o pecado do homem não é voluntário, alegando que ele está
necessariamente sujeito ao pecado?”

(Institutas, vol. 1, art. 48, pg. 122)

- 87 -
Muitos calvinistas negam alguma cooperação do ho-
mem no processo ou “pós salvação.” Já Calvino cria, veja:

“Quanto ao que dizem que, depois de termos dado lu-


gar à primeira graça, nós COOPERAMOS com Deus, respon-
do: Se com isso fica entendido que, depois de ser ela redu-
zida, pelo poder de Deus, à obediência à justiça, seguimos
voluntariamente o procedimento de Sua graça, concordo;
porque é bem certo que, onde impera a graça de Deus há
essa prontidão para a submissão obediente.”

(Institutas, vol. 1, art. 56, pg. 128)

Os calvinistas negam a possibilidade de desviar-se da fé.


Porém João Calvino alerta sobre esse perigo:

“Daí surge um combate que põe em ação o homem fiel


durante sua vida toda, sendo que pelo Espírito é elevado às
alturas, e pela carne é levado a desviar-se e é derribado. Se-
gundo o Espírito, ele se dirige cheio de ardente desejo para
a imortalidade; segundo a carne, desvia-se por um caminho
que leva à morte. Segundo o Espírito, ele pensa em viver re-
tamente; segundo a carne, é atraído pela iniquidade. Segun-
do o Espírito, ele é conduzido para Deus; segundo a carne, é
levado a recuar.

Segundo o Espírito, ele condena o mundo; segundo a


carne, cobiça os prazeres mundanos. Não se trata aqui de
uma especulação frívola, da qual não teríamos nenhuma
- 88 -
experiência na vida, mas é uma doutrina caracterizada pela
prática, que verdadeiramente experimentamos em nós, se
somos filhos de Deus.”

(Institutas, vol. 1, art. 61, pg. 133)

Um dos ensinos mais polêmicos de Calvino é a “salvação


temporária” ou “graça evanescente”. Segundo João Calvino,
Deus ilumina e salva algumas pessoas por um curto período,
depois abandonando as mesmas à eterna perdição. Nas ins-
titutas volume 3, falaremos sobre essa estranha doutrina do
reformador.

Observe esse ensino estranho sobre os pecados do re-


generado:

“Além disso, ele nunca peca por consciente decisão pró-


pria, mas ao pecar contraria o seu coração, porque não é so-
mente a sua consciência que repudia o mal; os seus afetos
também o repudiam.”

(Institutas, vol. 1, art. 62, pg. 134)

Para Calvino, o crente peca “sem querer” ou contra sua


consciência. O calvinismo moderno prega que o ímpio é es-
cravo do pecado e peca sem arbítrio. Já para Calvino, o salvo
também peca contra sua própria vontade, sem tomar deci-
são direta no ato. Sem comentários.

Veja essa afirmação sobre Deus e o diabo:


- 89 -
“Sim, porquanto aqueles que não recebem de Deus a
graça de serem governados por Seu Espírito, são abandona-
dos e deixados com Satanás, para serem conduzidos por ele.
Por essa causa diz o apóstolo Paulo que o Deus deste mundo
(o Diabo) cegou o entendimento dos incrédulos para que não
vejam a luz do Evangelho. E noutro lugar diz ele, que o Diabo
reina em todos os ímpios e desobedientes. A cegueira de to-
dos os praticantes do mal e todos os malefícios resultantes
são declaradamente obras do Diabo, e, todavia, não é preci-
so procurar a causa fora da vontade humana, da qual proce-
de a raiz do mal e na qual está a base do reino do Diabo, quer
dizer, o pecado”

(Institutas, vol. 1, art. 68, pg. 139)

Perceba que Calvino acabou de afirmar que o diabo que


cegou os incrédulos. Mas adiante ele se contradiz de forma
absurda:

“Por boa razão se afirma que Deus cega, endurece e im-


pulsiona os maus, dos quais Ele tira a capacidade de ver, de
obedecer e de fazer o bem.”

(Institutas, vol. 1, art. 68, pg. 139)

Calvino cria que Deus que impulsiona o homem mau.


Deus que tira a capacidade do homem de fazer o bem e obe-
decer. Mas anteriormente ele afirma que foi o diabo que ce-
gou os incrédulos. Contradição claríssima.
- 90 -
Creio que Calvino falhou na revisão das suas obras. Por
várias vezes ele refuta e ataca os próprios argumentos, afir-
mações e doutrinas.

“Portanto, é próprio falar que a atividade de Satanás


é reprovada, exercendo ele o seu reinado, isto é, o reinado
da perversidade. Pode-se muito bem dizer também que de
algum modo Deus age quando Satanás, como instrumento
de Sua ira, segundo a Sua vontade e as Suas ordens, impele
os homens para lá e para cá para executarem os Seus juízos.”

(Institutas, vol. 1, art. 68, pg. 138)

Calvino cria que mesmo Deus reprovando as ações do


diabo, Deus está agindo nas atividades satânicas. Ele chega
afirmar que uma obra do diabo pode ser chama de “obra de
Deus.”:

“Por tudo isso vemos que não há incoerência em atri-


buir uma mesma obra a Deus e ao Diabo, como também ao
homem. Mas a diversidade, que está na intenção e no meio
empregado, faz com que a justiça de Deus em tudo e por
tudo se veja irrepreensível.”

(Institutas, vol. 1, art. 67, pg. 138)

Calvino chega ao cúmulo do absurdo e nega o mal por


permissão de Deus:

“Mas até Agostinho algumas vezes teve esse escrúpu-


- 91 -
lo, como quando disse que não se deve atribuir a cegueira e
o endurecimento dos maus à operação de Deus, mas sim à
Sua presciência. Ora, essa sutileza não pode harmonizar-se
com tantas expressões da Escritura que mostram claramente
que o que existe é a providência de Deus, e não outra coisa.
Semelhantemente, o que alguns apresentam no sentido de
que Deus permite o mal, mas não o envia, não pode subsistir.
Frequentemente a Escritura afirma que Deus cega e endu-
rece os maus, e que muda, dobra e move o coração deles.
Não está certo empregar essas formas de falar recorrendo à
presciência ou à permissão de Deus.”

(Institutas, vol. 1, art. 68, pg. 138)

Isso é um absurdo! Como vamos ensinar as pessoas so-


bre um Deus que não permite o mal por um propósito, mas
Ele mesmo o decreta. Para Calvino Deus não previu o mal,
mas quis e ordenou que ocorresse.

Biblicamente Jesus veio destruir as obras do diabo, e


não ser glorificado nelas:

“Aquele que pratica o pecado é do Diabo, porque o Dia-


bo vem pecando desde o princípio. Para isso o Filho de Deus
se manifestou: para destruir as obras do Diabo.”

(1 João 3:8)

Aleluias! Jesus veio destruir as obras do diabo e não


usar as obras de satanás para sua gloria. Todo mal moral é
- 92 -
permitido por Deus por um proposito eterno e imutável. O
mal (juízo) Deus executa quando bem quiser. Mas o mal mo-
ral, diretamente por decreto, jamais.

Calvino cria que os malfeitores são punidos pelos pe-


cados justamente e a culpa está neles, mesmo Deus tendo
ordenados as ações:

“Quanto às punições que Deus aplica pelos malefícios,


respondo que nos são devidas com justiça, porque a culpa do
pecado reside em nós.”

(Institutas, vol. 1, art. 73, pg. 143)

Se Deus decretou todas as nossas ações, como seremos


culpados delas, uma vez que ocorrerão de forma irresistível
e imutável?

Como Deus vai me punir por uma ação que surgiu no


coração Dele e partiu da ordem da sua glória?

Para esse ensino de Calvino estar certo, preciso citar


aquele velho exemplo que sempre uso: “Eu mando você cor-
rer, você cai, se machuca e a culpa é sua por correr, mesmo
que eu fiz você correr de uma maneira que você com certeza
cairia. Se você correr de forma “santa” e gloria é minha, mas
se você correr e “pecar” a culpa é sua.

Calvino cria que só permanece salvo quem Deus esco-


lheu e deu o dom da perseverança:
- 93 -
“Porque, de fato, a perseverança é dom de Deus, dom
que Ele não estende a todos, indiferentemente, mas a quem
Lhe apraz.”

(Institutas, vol. 1, art. 75, pg. 145)

Nesse mesmo contexto, Calvino diz claramente sobre


um grupo de salvos que vão perseverar até o fim e outro
grupo não receberá a mesma força do Senhor:

“Se for pedida a razão desta diferença, por que uns per-
severam constantemente e outros mudam, não se achará
outra resposta que não esta: Os primeiros são mantidos pelo
poder de Deus, pelo que não perecem; os do segundo grupo
não recebem a mesma força, sendo que Deus quer mostrar
pelo exemplo deles a inconstância humana.”

(Institutas, vol. 1, art. 75, pg. 145)

Nitidamente Calvino ensinou que haverá pessoas salvas


por um tempo, mas que Deus não dará força suficiente para
elas perseverar crendo.

Mas se você perguntar para alguma Calvinista no Bra-


sil sobre “perder a salvação”, de forma ríspida ele irá dizer:
“Não existe perda da salvação no calvinismo e Calvino nunca
ensinou isso.”

Boa parte do Calvinismo no Brasil nada tem a ver com


João Calvino ou discordam quase 100% do reformador.
- 94 -
Alguns calvinistas, no desespero de negar que Calvino
cria numa “salvação temporária” dizem que quando o re-
formador diz “ILUMINADOS” ele não quer dizer regenerado.
Isso não é verdade, veja:

“Se alguém desejar uma resposta mais clara, eu lhe da-


rei a solução em poucas palavras. É que Deus age duplamen-
te em nós: por dentro, por Seu Espírito; por fora, por Sua
Palavra. Por Seu Espírito, iluminando o entendimento e for-
mando o coração com amor pela justiça e pela inocência, Ele
regenera o homem, fazendo dele uma nova criatura; por
Sua Palavra.”

(Institutas, vol. 1, art. 78, pg. 147)

Calvino cria que o ímpio também receberia essa palavra


de Deus, porém o Senhor não o faria crer, e ainda puniria ele
por isso:

“Quando Ele dirige essa mesma Palavra aos ímpios e


réprobos, apesar de não fazê-los corrigir-se, não obstante,
Ele a faz valer para este outro uso: que no presente sofram
pressão em sua consciência, e no dia do juízo sejam ainda
mais inescusáveis.”

(Institutas, vol. 1, art. 78, pg. 147)

Imagine só: Deus não quis que o ímpio se convertesse


ao ouvir o evangelho, mas no dia do juízo haverá uma puni-
ção inescusável devido ele não ter sido um “escolhido” de
- 95 -
Deus.

Me perdoe a franqueza, mas esse ensino salvífico arbi-


trário e seletista me causa náuseas. Parece uma crença de
sociedade secreta. Só entra os “privilegiados.”

Graças a Deus, esse “deus” dessa doutrina nunca será


o Deus da bíblia que não faz acepção de pessoas. A graça é
oferecida a todos.

Lembra que na página 97 do volume 1, Calvino diz que


o livre arbítrio do homem é tocado após a graça? Pois bem,
nessa outra passagem ele nega o arbítrio:

“Isso fazem os nossos oponentes porque desejam colo-


car no homem um livre arbítrio, que não se pode encontrar.”

(Institutas, vol. 1, art. 85, pg. 154)

Na página 161, ele volta afirmar uma espécie de arbítrio


(vontade e capacidade de julgar)

“Reconheço, claro, que o homem tem alma capaz de in-


teligência, mas incapaz de se aprofundar ao ponto de chegar
à sabedoria celestial de Deus. Ele tem algum discernimento
do bem e do mal, tem algum sentimento, alguma percepção,
que lhe permite saber que existe um Deus, mas não possui
conhecimento verdadeiro.”

(Institutas, vol. 1, art. 96, pg. 161)

- 96 -
Nessa passagem Calvino usa um termo bem arminiano:

“Certamente porque o Senhor tinha previsto que os is-


raelitas não iriam perseverar depois de receberem a Lei, que
desejariam inventar novas maneiras de servi-lo, a não ser
que Ele segurasse firme as suas rédeas, Ele declara que a Sua
Palavra contém toda a perfeição da justiça – o que deveriam
tratar de reter muito bem.”

(Institutas, vol. 1, art. 06, pg. 167)

Calvino afirma novamente que Deus não condena al-


guém por ódio, mas sem dúvidas a culpa é da pessoa:

“Sem dúvida a ruína está preparada para todos aqueles


aos quais o Senhor não comunica a Sua graça; e, todavia, eles
perecem por sua própria iniquidade, e não por ódio iníquo de
Deus.”

(Institutas, vol. 1, art. 28, pg. 183)

Calvino cria numa raça bendita e uma raça maldita, veja:

“Porque, se a memória, quer da justiça quer da iniqui-


dade, tem tanto vigor com relação a Deus, após a morte do
homem, que a bênção da primeira estende-se até à poste-
ridade, como igualmente a maldição da segunda, com mais
forte razão, quem for bem sucedido [como fiel] será para
sempre bendito de Deus, e quem for mal sucedido [nesse
sentido] será maldito para sempre. Ora, a isso não se con-
- 97 -
trapõe o fato de que, por vezes, da raça dos maus se tirem
bons, nem que, ao contrário, da raça dos bons se tirem maus,
porquanto o Senhor não quis estabelecer aqui um reino per-
pétuo capaz de anular a eleição.”

(Institutas, vol. 1, art. 29, pg. 184)

Calvino ensinou que devemos amar todos as pessoas,


indiferente de quem seja. Ora, se ele ensinou tal coisa, como
o próprio Deus não amaria todos? Muitos calvinistas pregam
que Deus não ama todo ser humano. Vejamos as afirmações
do reformador:

“Entretanto, o que afirmo é que devemos incluir em


nosso amor caridoso todos os seres humanos em geral, a
sem nenhuma exceção, sem fazer diferença entre gregos e
bárbaros, sem considerar se são dignos ou indignos, sejam
amigos ou inimigos; porque todos devem ser considerados
em Deus, e não neles mesmos. A Deus é que precisamos ob-
servar; e Ele nos manda estender o amor que Lhe votamos a
todos os homens, de tal maneira que sempre tenhamos este
fundamento: Seja quem for e como for o ser humano, temos
que amá-lo, se é verdade que amamos a Deus”

(Institutas, vol. 1, art. 83, pg. 215)

Se Jesus ordenou amarmos todas as pessoas, até meus


inimigos, mas o calvinismo diz que Deus não ama todos, sig-
nifica que vamos amar mais que o próprio Deus que é amor.
Isso é um absurdo.
- 98 -
CAPÍTULO 04
ENSINOS PERIGOSOS DE CALVINO VOLUME 02.

Quase a totalidade dos calvinistas no Brasil creem e en-


sinam que é impossível perder a salvação ou desvair-se da fé
em Jesus Cristo.

Mas João Calvino, além de crer numa espécie de “salva-


ção temporária” (vamos continuar explanando mais adiante)
alguns escritos do reformador dá a entender que ele cria na
possibilidade da perda total da salvação, vejamos:

“Agora é fácil entender, graças ao que foi tratado no li-


vro anterior, quais deveres o Senhor exige de nós em Sua Lei.
Lembremo-nos de que, se falharmos no menor ponto, Ele
manifestará a Sua ira e o Seu terrível juízo, condenando-nos
à morte eterna.”

(Institutas, vol. 2, cap. IV, pg. 5)

Depois de alertar sobre a possibilidade de perdição


eterna, em seguida Calvino se contradiz e nega que um cren-
te venha cair:

“Assim que colocamos a consciência dos crentes em


aprazível repouso, logo se levanta e se agita alguma tempes-

- 100 -
tade. Todavia, por mais que eles sejam assaltados por tenta-
ções e dúvidas, negamos que eles caiam ou se desprendam
da confiança que uma vez tinham concebido – a firme e se-
gura confiança na misericórdia de Deus.”

(Institutas, vol. 2, art. 12, pg. 13)

Calvino cria que devemos aceitar a Jesus e reconhecê-lo


como Cristo:

“Entendemos, antes, que, cativada pela majestade divi-


na, a pessoa ajusta esse tipo de fé, de modo que, reconhe-
cendo Cristo como o Autor da vida e da salvação, de boa von-
tade O aceita como tal.”

Como alguém “de boa vontade o aceita” se o calvinismo


nega o livre arbítrio? Se é Deus que decreta quem vai crer ou
não, como haverá pessoas reconhecendo Cristo de boa von-
tade? Mistérios do calvinismo...

(Institutas, vol. 2, art. 3, pg. 7)

Lembra que no volume 3, Calvino escreveu que Deus


move os corações dos maus? Pois aqui ele afirma que mesmo
assim Deus vai castigá-los:

“Mas, por outro lado, considerando quanto a nossa car-


ne é propensa a dar rédeas soltas ao pecado, para restringi-
-la é necessário ter em mente que para o Senhor, sob cujo
domínio estamos, toda forma de mal é abominação. Desse
- 101 -
fato resulta que todos quantos provocarem a Sua ira com o
mal que praticam, não escaparão do castigo.”

(Institutas, vol. 2, art. 20, pg. 18)

Deus ordenou todos os fatos, move o coração dos maus,


decretou e até enviou o mal, mas isso lhe provoca sua ira, e
Deus vai castigar tais pessoas. Doutrina sem nexo e sem base
nas escrituras.

Biblicamente não é da vontade de Deus que o homem


peque. Muito pelo contrário, Deus quer arrependimento e
salvação dos ímpios:

“Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio?


diz o Senhor DEUS; Não desejo antes que se converta dos
seus caminhos, e viva?”

(Ezequiel 18:23)

Deus não ordena pecados:

“Porque edificaram os altos de Baal, para queimarem


seus filhos no fogo em holocaustos a Baal; o que nunca lhes
ordenei, nem falei, nem me veio ao pensamento.”

(Jeremias 19:5)

Deus não veio enviar ninguém ao inferno, Deus veio sal-


var as almas:

- 102 -
“Porque o Filho do homem não veio para destruir as al-
mas dos homens, mas para salvá-las.

(Lucas 9:56)

Eu poderia citar Arminio para rebater essas afirmações


do calvinismo, mas para não haver dúvidas, vamos nas escri-
turas. Contra a bíblia, não subsiste doutrina estranha.

Na página 19 novamente Calvino alerta sobre a queda


dos crentes:

“Muito ao contrário, como já dissemos, os fiéis têm


mais temor da sua ofensa a Deus do que da punição que vi-
riam a sofrer por tê-lo ofendido. E o temor do castigo não os
aterroriza, como se o inferno estivesse prestes a tragá-los,
mas o seu temor os leva a fugir da ofensa para não correrem
risco algum. Por isso o apóstolo alerta os crentes, dizendo:
“Ninguém vos engane com palavras vãs; porque, por essas
cousas, vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência”.
Ele não os ameaça dizendo que a ira de Deus virá sobre eles,
mas os exorta a terem em mente que a ira de Deus está pre-
parada para sobrevir aos ímpios por causa dos pecados men-
cionados anteriormente, para que os crentes não queiram
praticá-los e sofrer a mesma perdição.”

(Institutas, vol. 2, art. 20, pg. 19)

Se é impossível a queda e perder a fé no calvinismo, por


que esse temor da perdição eterna? Caso não fosse possível
- 103 -
o fiel se perder, por que a bíblia exortaria tal questão?

Calvino cria que Deus escolheu alguns para salvação e


perdição antes das pessoas nascerem. Mesmo assim, Deus
dará benefícios a esses perdidos eternos:

“A isso em nada contradiz o fato de que quanto mais be-


nefícios os ímpios receberem das Suas mãos, mais culpados
se tornarão, e mais merecedores do Seu juízo de condena-
ção”

(Institutas, vol. 2, art. 24, pg. 21)

Vou explicar esse absurdo: O próprio Deus ordena que


a pessoa é eternamente perdida, cega seu coração para não
crer no evangelho, mesmo assim lhe dará bençãos, mas isso
tornará essas pessoas ainda mais merecedoras da perdição,
mesmo sendo próprio Deus autor da condenação delas. Esse
ensino parece filme de terror.

Seria a mesma coisa de um juiz sentenciar um culpado a


prisão perpétua, mas dar-lhe algumas saídas para ver a famí-
lia, porém condená-lo à morte por essas saídas. “– Mas não
foi o juiz que ordenou a saída?”

Calvino não vê problema em Deus dar bençãos para


quem Ele não escolheu na eternidade. E pior, essas bençãos
vão aumentar a ira de Deus e a condenação sobre essas pes-
soas. Ensino estranho e sem base nas escrituras.

- 104 -
A vontade de Deus é salvar toda criatura:

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evange-


lho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas
quem não crer será condenado.

(Marcos 16:15-16)

“Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso


Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e ve-
nham ao conhecimento da verdade.”

(1 Timóteo 2:3-4)

Jesus morreu pelos pecados do mundo todo e não por


alguns privilegiados:

“E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não so-


mente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.”

(1 João 2:2)

Jesus morreu até por aqueles que vão negá-lo como


Cristo:

E também houve entre o povo falsos profetas, como en-


tre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão en-
cobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que
os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição.

(2 Pedro 2:1)

- 105 -
Aqueles e ouvem de Cristo e vem até o Pai, serão salvos:

“Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por


Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu
vem a mim.

(João 6:45)

Segundo o calvinismo, só crê a aceita a Cristo quem


Deus quer:

“É verdade que, para o mundo, é uma afirmação por


demais estranha a de que ninguém pode crer em Cristo, exce-
to aquele a quem isso é dado particularmente.”

(Institutas, vol. 2, art. 26, pg. 23)

Mas mesmo assim, as pessoas que não tiveram a “sor-


te” de serem escolhidas, serão punidas pelos seus atos:

“Semelhantemente, não nos causa mal-estar dizer que,


rejeitando as promessas que lhes são dirigidas, por essa cau-
sa acumulam sobre si mais grave.”

(Institutas, vol. 2, art. 24, pg. 21)

Imagine você participar de um sorteio de uma casa e


não ser sorteado. Porém após o término desse sorteio, o or-
ganizador do evento vai na sua casa te prender e culpá-lo por
você não ter sido escolhido. Ou seja, você não teve “sorte”
de ganhar tal prêmio, mas a culpa é sua, e ainda será punida
- 106 -
eternamente por ser um “pé frio.”

Me perdoe irmãos, mas não é fácil segurar o riso diante


dessa espalhafatosa doutrina estranha e sem nexo.

Os calvinistas insistem em afirmar que “ILUMINAÇÃO”


em João Calvino e nem na bíblia fala de salvação ou regene-
ração. Pois bem, eis aí mais provas:

“Porque, a nossa alma, sendo iluminada pelo Espíri-


to Santo, recebe como que novos olhos que nos habilitam
a contemplar os mistérios celestiais, cujo resplendor antes
a ofuscava. Assim, tendo sido iluminado pela luz do Espíri-
to Santo, o entendimento do homem começa então a gos-
tar das coisas pertencentes ao reino de Deus, em relação às
quais antes se mostrava completamente insensível. Note-se
que, apesar de o nosso Senhor Jesus Cristo haver exposto
claramente os mistérios do Seu reino aos dois discípulos
mencionados por Lucas, eles não puderam aproveitar nada,
enquanto o Senhor não lhes abriu os olhos para entenderem
as Escrituras.”

“De igual maneira, mesmo depois que os apóstolos fo-


ram instruídos por Sua boca divina, ainda assim foi necessá-
rio que o Espírito da verdade lhes fosse enviado, para fazer
entrar no entendimento deles a doutrina que antes haviam
recebido pelo ouvir. A Palavra de Deus assemelha-se ao sol,
porquanto reluz para todos aqueles a quem é anunciada;
mas é sem eficácia para os cegos. Ora, todos nós somos na-
- 107 -
turalmente cegos neste sentido; portanto, a Palavra de Deus
não pode penetrar o nosso espírito, a não ser que o Espírito
de Deus, que é o Mestre que nos ensina interiormente, lhe
dê acesso por Sua iluminação.”

(Institutas, vol. 2, art. 28, pg. 24)

Calvino cria que homens maus ou falsos podem receber


dom de profecia, línguas ou outros:

“Visto que essa capacidade, tenha o nome de fé ou o


de poder, é um dom especial de Deus que um homem mau
ou falso pode ter (como acontece com os dons de línguas,
de profecia e outros semelhantes), não devemos espantar-
-nos se for separado da caridade cristã [ou seja, do genuíno
amor].”

(Institutas, vol. 2, art. 37, pg. 30-31)

Em meio a muitos ensinos perigosos, no decorrer des-


sa obra, vou registrar alguns ensinos bíblicos de Calvino. Um
deles é a crença na trindade. Calvino cria num Deus trino,
em três Pessoas distintas e Eternas, formando um único Deus
todo-poderoso:

“Pois bem, se nos cabe resolver que só existe um Deus,


concluímos que o Filho e o Espírito Santo são a própria es-
sência divina. Portanto, os arianos estavam mentalmente
perturbados, pois concediam a Jesus Cristo o título de Deus,
mas Lhe negavam a substância divina.”
- 108 -
(Institutas, vol. 2, art. 56, pg. 49)

“O Pai está totalmente no Filho, e o Filho totalmente no


Pai, como o próprio Filho afirma, dizendo: “eu estou no Pai
e... o Pai está em mim”. Por isso todos os doutores da igreja
não admitem nenhuma diferença quanto à essência entre as
Pessoas da Trindade. “

(Institutas, vol. 2, art. 60, pg. 52)

“O Pai e o Filho e o Espírito Santo são um só Deus, e,


todavia, o Filho não é o Pai, nem o Espírito é o Filho, mas há
distinção de propriedade.”

(Institutas, vol. 2, art. 64, pg. 56)

Nesse trecho da obra, Calvino soa bem arminiano:

“Por essa causa a Escritura proclama que abaixo do céu


não existe nenhum outro nome dado aos homens no qual
pudessem encontrar salvação. Logo, esse nome diz a todos
os crentes que só em Jesus Cristo devem buscar salvação, e
lhes garante que nele a encontrarão.

(Institutas, vol. 2, art. 73, pg. 63)

Os crentes devem buscar a salvação ou só vai buscar


quem Deus ordenar?

Na página 65, Calvino afirma que em Cristo temos for-


ça para guerrear contra o diabo. Como vamos guerrear com
- 109 -
um ser que, segundo Calvino, só age e opera a mando de
Deus? No volumo 1 Calvino afirmou que uma “mesma obra
do diabo pode ser chamada obra de Deus”, mas nesse trecho
diz que nós estamos em guerra contra satanás. No mínimo,
contraditório:

“Em resumo, Ele nos eleva e nos exalta pela majestade


do Seu reino. Sim, pois, na comunhão pela qual Ele se junta a
nós, Ele nos torna reis, equipando-nos com o Seu poder para
guerrearmos contra o Diabo, o pecado e a morte; vestindo-
-nos e ornando-nos com os paramentos de Sua justiça, na es-
perança da imortalidade; enchendo-nos de riquezas de Sua
santidade, para frutificarmos para Deus pelas boas obras.”

(Institutas, vol. 2, art. 78, pg. 65)

Apesar se crer que é um eleito, Calvino ensinou que só


Deus sabe verdadeiramente quem são os escolhidos:

“É verdade que o privilégio de saber quais são os Seus só


a Ele pertence, como diz o apóstolo Paulo.”

(Institutas, vol. 2, art. 103, pg. 96)

Nesse contexto, Calvino afirmando sobre a possibilida-


de de cair da fé:

“Porquanto, por um lado, os que pareciam completa-


mente perdidos, já tidos como casos desesperados, são trazi-
dos ao reto caminho. Por outro lado, os que pareciam firmes,
- 110 -
tropeçam, sendo que é Deus que vê os que hão de perseverar
até o fim, o que constitui o fim principal da nossa salvação.”

(Institutas, vol. 2, art. 103, pg. 96)

Calvino chamava de traidor quem deixasse de congre-


gar numa igreja local:

“Muito menos é permitido dividi-la ou romper a sua


unidade. Porque Deus dá tanta importância à comunhão da
Sua igreja que Ele considera traidor do cristianismo aquele
que abandona qualquer comunidade cristã na qual seja cor-
retamente praticado o ministério da sua Palavra e dos Seus
sacramentos.”

(Institutas, vol. 2, art. 105, pg. 98-99)

Mesmo crendo que tudo foi decretado por Deus, e al-


gumas vezes negando o livre arbítrio, nesse trecho Calvino
ensino sobre “pecados voluntários”:

“Mas, uma vez que na Lei o Senhor ordenou a realiza-


ção de alguns sacrifícios para apagar os pecados voluntários
do seu povo, e outros para purificação dos pecados pratica-
dos por ignorância, que temerário atrevimento é esse, que
os leva a não deixar nenhuma esperança de perdão a um pe-
cado voluntário? Afirmo que não há nada mais claro que esta
verdade: O sacrifício único de Jesus Cristo tem a virtude de
remitir os pecados voluntários dos crentes, visto que Deus,
pelos sacrifícios de animais, deu testemunho disso, sendo
- 111 -
que aqueles sacrifícios eram figuras de Cristo.”

(Institutas, vol. 2, art. 124, pg. 116-117)

Se o calvinismo nega o livre arbítrio devido à natureza


pecaminosa do homem ser caída e ele só peca, como afirmar
pecados por voluntariedade?

Se Deus decretou até os pecados dos homens, porém


de uma maneira que eles são culpados, como esses atos são
voluntários?

Se o homem peca por decreto, como Deus irá julgá-lo?


Se ele peca por ordem imutável de Deus na eternidade, como
será responsabilizado por uma ação premeditada por Deus?
Absurdamente sem nexo, lógica e base bíblica.

Calvino em uma explicação sobre Hebreus 6, esqueceu


que a “graça é irresistível” e cita:

“Digo, então, o seguinte: Peca contra o Espírito Santo


aquele que, tendo sido tocado pela luz da verdade de tal ma-
neira que não pode alegar ignorância, não obstante resiste
com deliberada má intenção, só para resistir.”

(Institutas, vol. 2, art. 125, pg. 119)

Em seguida, Calvino esquece que é impossível alguém


cair da graça e abandonar o evangelho segundo o calvinismo
e escreve:

- 112 -
“Como hoje em dia há muitos que abandonam e re-
jeitam a doutrina do Evangelho, mas, se julgassem que é o
Evangelho, lhe devotariam grande honra e o seguiriam de
todo o seu coração.”

(Institutas, vol. 2, art. 125, pg. 119)

Duas espécies de arrependimento.

Sinceramente, não faço a mínima ideia de onde Calvino


tirou esse tal “duplo ou dois tipos de arrependimento.” Ne-
nhum momento a bíblia cita isso. Pode ser que vemos uma
FALSO ARREPENDIMENTO (remorso) em muitos casos, mas
dois tipos de arrependimentos, não achamos base. Se o Espí-
rito Santo que causa o arrependimento, como Ele trará dois
tipos, fazendo acepção de pessoas em relação à esse senti-
mento? Vejamos a explicação:

“Outros, vendo na Escritura diferentes nomes para o


que estudamos aqui, falam em duas espécies de penitência,
ou arrependimento. E, para distinguir entre elas, a uma cha-
mam legal, pela qual o pecador, confrangido pelo cautério,
ou seja, angustiado pelo duro castigo imposto ao seu peca-
do, e como que partido ou quebrantado pelo terror da ira de
Deus, permanece preso a essa perturbação, sem poder se
desentravar. A outra espécie eles chamam de arrependimen-
to evangélico, pelo qual o pecador, estando lamentavelmen-
te ensimesmado e aflito, não obstante levanta-se e eleva-se,
- 113 -
abraçando a Jesus Cristo como o remédio para a sua chaga, o
consolo para o terror que o abate, o bom porto para o abri-
gar em sua miséria. Caim, Saul, Judas são exemplos do arre-
pendimento legal.”

(Institutas, vol. 2, art. 3, pg. 130-131)

Para Calvino, o arrependimento legal seria um “falso ar-


rependimento” onde a pessoa aparenta arrepender-se, mas
já está condenada:

“Caim, Saul, Judas são exemplos do arrependimento


legal. Quando a Escritura nos descreve o arrependimento
deles, ela entende que, depois de conhecerem a gravidade
do seu pecado, temeram a ira de Deus, mas, só pensando na
vingança e no juízo de Deus, deixaram-se dominar por esse
pensamento. Portanto, o seu arrependimento [que não passa
de remorso] não é nada mais nada menos que o portal do
inferno. Nele entrando desde a presente existência, já come-
çaram a sofrer o peso da ira da majestade de Deus.”

(Institutas, vol. 2, art. 3, pg. 131)

Isso é um absurdo, tirando Judas, quem é Calvino pra


sentenciar Caim e Saul ao inferno? Ou quem é Calvino pra
dizer que Deus não perdoou Caim, pois o próprio lamentou
sua ação e Deus o puniu?

O Espírito Santo transformou Saul. Veja:

- 114 -
“E o Espírito do Senhor se apoderará de ti, e profetiza-
rás com eles, e tornar-te-ás um outro homem.”

(1 Samuel 10:6)

“Sucedeu, pois, que, virando ele as costas para partir de


Samuel, Deus lhe mudou o coração em outro; e todos aque-
les sinais aconteceram naquele mesmo dia.”

(1 Samuel 10:9)

Mudança de mente e coração na bíblia é conversão.


Caso o calvinismo insista que Saul nasceu para ir ao inferno,
ele desviou e perdeu a salvação, logo, uma das crenças da
TULIP cai por terra.

Calvino virou “porteiro do céu” ou “fiscal eterno” que


quem é salvo ou não. Só pode ter piada esse trecho das Ins-
titutas.

Aqui vemos mais uma contradição. Veja o que Calvino


diz sobre arrependimento:

“Porquanto muitas vezes, quando a Escritura nos exorta


ao arrependimento, faz com que nos lembremos de que um
dia Deus vai julgar o mundo. Como nesta passagem de Jere-
mias: “Para que o meu furor não saia como fogo e arda, e não
haja quem o apague, por causa da malícia das vossas obras”.
E mais, na pregação do apóstolo Paulo em Atenas. Assim
como Deus deixou que os homens andassem na ignorância,
- 115 -
agora exige que se arrependam, porquanto determinou um
dia no qual julgará o mundo com justiça. Também em muitas
outras passagens se vê o mesmo ensino.”

(Institutas, vol. 2, art. 8, pg. 134)

Oras, como que Deus exige que os homens se arrepen-


dam se é Ele que escolheu? Deus ordena quem o Espírito
Santo vai converter eficazmente, mas pede ARREPENDIMEN-
TO para aqueles “sem sorte” que não foram escolhido?

Parece que nessa época já existia “meme”. O reforma-


dor só pode estar de brincadeira.

Vou resumir pra você leitor entender: Deus escolheu


a dedo os salvos, decretou o restante a andar na ignorância,
alerta para todos se arrependerem, mas isso é impossível,
pois Ele vai enviar o Espírito somente para quem Ele já esco-
lheu na eternidade. Contradição gigantesca!!

Na página 208, Calvino afirma algo muito parecido com


arbítrio, veja:

“Pois é tanta a diversidade entre o bem e o mal que


chega a lembrar a figura da morte. Porque, que ordem es-
taria no mundo, se essas coisas juntas se confundissem? [Ou
seja, se não houvesse como distinguir entre o bem e o mal.]
Por isso o Senhor não somente imprimiu no coração de cada
ser humano essa distinção entre as obras honestas e as obras
vis, mas também a tem confirmado frequentemente por Sua
- 116 -
providência. Porque vemos quantas bênçãos da vida presen-
te Ele dá aos que praticam a virtude entre os homens.”

(Institutas, vol. 2, art. 22, pg. 208)

No volume 1 vimos que, segundo Calvino, Deus orde-


nou a queda e foi da sua vontade, mas nessa passagem ele
escreve:

“Vemos que, por um só pecado, o homem foi de tal


modo rejeitado por Deus que perdeu todos os meios pelos
quais salvar-se e recuperar [a vida de Deus e com Deus].”

(Institutas, vol. 2, art. 29, pg. 219)

Deus quis e decretou que o homem caísse, mas o rejei-


tou por ele fazer o que tinha sido ordenado. ESPANTA NÃO,
ISSO É CALVINISMO.

Nessa parte, Calvino novamente faz uma afirmação


como base no livre arbítrio e entra em contradição nova-
mente:

“Deus quer ser honrado e amado com amor sincero e


não interesseiro. Como também é por Ele aprovado o servo
que, quando toda a esperança de recompensa lhe for corta-
da, mesmo assim não deixará de servi-lo.”

(Institutas, vol. 2, art. 46, pg. 234)

Como alguma criatura vai amar e honrar a Deus since-


- 117 -
ramente, sendo que ele age “irresistivelmente” segundo o
calvinismo?

Como se ama por ordem? Veja que na última parte do


texto ele diz sobre “não deixar se servi-lo”. Mas quem sus-
tenta é Deus. Segundo Calvino, só fica quem Deus quer e
decreta. Então como Deus aprova alguém que ficou na sua
presença porque Ele mesmo ordenou de forma irresistível?

Sem comentário. Como pessoas seguem tal ensino? La-


mentável.

“Porquanto Ele declara que não aceita sacrifício que


não seja oferecido por vontade própria e livre, e proíbe que
Lhe deem coisa alguma com tristeza ou por necessidade.”

(Institutas, vol. 2, art. 46, pg. 236)

Existe uma declaração a favor do livre arbítrio mais cla-


ra que essa acima?

Volto repetir: Calvino fez afirmações para defender e


argumentar a favor de suas interpretações, mas esqueceu ou
não quis revisá-las. Resultado: Várias contradições.

Uma hora ele nega, depois afirma, uma hora é Deus,


depois é o diabo, depois o homem, depois todos. Não é fácil
entender a mente do reformador.

Uma coisa é certa, esses tipos de ensinos perigosos têm

- 118 -
trazido confusão e até disputa dentro do próprio movimento
reformado.

Nesse próximo capítulos, vamos analisar os ensinos pe-


rigosos no volume 3 das Institutas de João Calvino.

- 119 -
CAPÍTULO 05
ENSINOS PERIGOSOS DE CALVINO VOLUME 03.

No 3° volume das Institutas, Calvino separa a obra (a


edição que estou usando) em 5 capítulos, discorrendo sobre
semelhanças entre novo e antigo testamento, predestinação
e providência de Deus [trecho com mais ensinos perigosos]
oração, sacramentos e batismo.

Na página 14 Calvino comete uma gafe ou erro de in-


terpretação. Ele chama a vida de Abraão de miserável, total-
mente contrário com o que as escrituras relatam sobre o pai
da fé, vejamos:

“Em resumo, toda a vida de Abraão foi de tal modo


atormentada e afligida que, se alguém quisesse representar
numa pintura um exemplo de vida miserável, não encontraria
nada que fosse mais apropriado. Se alguém objetar dizendo
que ao menos ele não foi totalmente infeliz porque escapou
de tantos perigos e superou tantas tempestades, respondo
que não diremos que é feliz a vida que chega a uma avançada
velhice tendo passado por infindas dificuldades, mas sim a
vida na qual o homem é sustentado e mantido em situação
tranquila e afortunada.”

(Institutas, vol. 3, art. 9, pg. 14)

- 121 -
Veja o que a bíblia diz sobre a vida “miserável” de Abraão
na opinião de Calvino:

“E era Abrão muito rico em gado, em prata e em ouro.”

(Gênesis 13:2)

“E era Abraão já velho e adiantado em idade, e o SE-


NHOR havia abençoado a Abraão em tudo.”

(Gênesis 24:1)

Além de ser rico e possuir muitos bens, Abraão teve


uma fé inabalável que chamou a atenção até de Deus, e é o
pai na fé do povo de Deus. Como um crente desse seria um
exemplo de vida miserável? Talvez os textos de Genesis 13 e
24 passaram desapercebido nas lentes teológicas do refor-
mador francês.

Predestinação e a providência de Deus

Redobre sua atenção que agora vamos entrar nos mais


polêmicos e perigosos ensinos de Calvino: a predestinação.

Vale lembrar que a predestinação é uma doutrina bíbli-


ca e central na fé cristã. Fomos predestinados Nele, em Cris-
to, para salvação (Efésios 1:11) aqueles que Deus antes co-
nheceu, a esses Deus predestinou (Romanos 8:29) por meia
da presciência de Deus Pai (1 Pedro 1:2).

- 122 -
Deus previu aqueles que iam se arrepender e crer no
evangelho, e esses Ele predestinou ao paraíso eterno.

Mas para Calvino essa predestinação não ocorre por


presciência. Para ele Deus oferece salvação para alguns e ou-
tros não, vejamos:

“Consideremos agora o seguinte: Tendo-se em vista o


fato de que a Aliança da Vida não é pregada igualmente a
todos, e também que onde é pregada não é recebida igual-
mente por todos, vê-se nessa diversidade um admirável mis-
tério do juízo de Deus. Não há dúvida nenhuma de que essa
variedade atende ao Seu beneplácito, e agrada ao Seu que-
rer. Pois bem, como é evidente que isto é feito pela vontade
de Deus – que a salvação é oferecida a uns e os outros são
deixados de lado – daí decorrem grandes e altas questões, as
quais só se resolvem ensinando aos crentes o que eles podem
compreender da eleição e da predestinação de Deus.”

(Institutas, vol. 3, pg. 37)

Como Deus oferece para uns e outros não? O pior é que


alguns ainda ouvem e são excluídos pelo próprio Deus. Isso
seria fazer acepção de pessoas e nessa obra já mostramos
que Deus não faz tal coisa.

Observe no texto acima que Calvino chama de “admirá-


vel mistério do juízo” Deus oferecer para alguns e não para
outros.
- 123 -
Ora, se é mistério tal ação e está oculto à Deus, como
que esse “mistério” foi relevado ao Calvino? Bem esperto o
privilegiado “eleito” reformador.

A seguir vou expor mais afirmações de Calvino defen-


dendo que Deus de uma forma misteriosa escolheu alguns e
ordenou perdição eterna ao restante.

Depois vou provar na bíblia que tal ensino vai contra a


vontade, santidade e gloria de Deus. Vejamos as passagens:

“Primeiramente, devemos resolver a questão sobre


o motivo pelo qual uns são predestinados para a salvação
e outros para a condenação. Depois é preciso demonstrar
como o mundo é governado pela providência de Deus, visto
que tudo o que se faz depende da Sua ordenação e do Seu
comando.”

(Institutas, vol. 3, art. 1, pg. 37)

Observe que além de crer que Deus escolhe os eleitos


e os perdidos, Calvino também crê que tudo na terra depen-
de da ordem de Deus. Ou seja, tragédias, assassinatos, rou-
bos, estupros e as mais terríveis abominações dos homens
influenciadas por satanás, partiu de uma ordem divina.

Tal ensino é simplesmente macabro e horripilante. Isso


é facilmente refutado na bíblia.

Deus não ordena pecado:


- 124 -
Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado;
porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém
tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado
pela sua própria concupiscência.

(Tiago 1:13-15)

“E edificaram os altos de Tofete, que está no Vale do Fi-


lho de Hinom, para queimarem no fogo a seus filhos e a suas
filhas, o que nunca ordenei, nem me subiu ao coração.”

(Jeremias 7:31)

“E edificaram os altos de Baal, que estão no Vale do Fi-


lho de Hinom, para fazerem passar seus filhos e suas filhas
pelo fogo a Moloque; o que nunca lhes ordenei, nem veio
ao meu coração, que fizessem tal abominação, para fazerem
pecar a Judá.”

(Jeremias 32:35)

Naquela época Calvino já sofria crítica a acusações de


“discussão perigosa.” Para se defender, ele apela para Agos-
tinho:

“Há alguns que consideram esta discussão perigosa,


mesmo quando mantida entre os crentes. Dizem eles que a
doutrina da predestinação é contrária às exortações, abala a
fé, perturba os corações e os abate. Mas essa alegação é fú-
til. Agostinho não dissimula o fato de que era criticado pelas
- 125 -
razões acima citadas, pois ele pregava livre e abertamente a
predestinação.”

(Institutas, vol. 3, art. 5, pg. 40)

De forma perigosíssima, Calvino ensina que Deus criou


pessoas destinadas ao inferno e outras destinadas ao céu:

“Denominamos predestinação o conselho eterno de


Deus pelo qual Ele determinou o que desejava fazer com
cada ser humano. Porque Ele não criou todos em igual con-
dição, mas ordenou uns para a vida eterna e os demais para
a condenação eterna. Assim, conforme a finalidade para a
qual o homem foi criado, dizemos que foi predestinado para
a vida ou para a morte.”

(Institutas, vol. 3, art. 6, pg. 41)

Se Deus ordenou o que acontece com cada ser humano,


todos os suicidas (1 a cada 40 segundos, segundo a OMS) foi
Deus que mandou. Os 66 mil estupros no Brasil em 2018,
Deus ordenou cada uma deles de forma que ninguém pode-
ria impedir. Os milhares de assassinatos que acorrem todo
ano, aconteceram devido a ordem imutável de Deus.

Meu Deus todo poderoso! Nos livre de tal doutrina ma-


cabra. Que o sangue de Jesus nos proteja de tal teoria lunáti-
ca e sem base nas escrituras.

Calvino continua:
- 126 -
“Conforme o que a Escritura mostra claramente, dize-
mos que o Senhor constituiu uma vez por todas, em Seu con-
selho eterno e imutável, aqueles que Ele quis tomar para a
salvação, e aqueles que Ele quis deixar em abandono.”

(Institutas, vol. 3, art. 6, pg. 41)

Depois de afirmar que Deus escolheu alguns para salvar


e outros para condenar, Calvino diz que o próprio Deus priva
essas pessoas de ter acesso a vida (salvação):

“Quanto aos que Ele chama para a salvação, dizemos:


Que Ele os recebe e por Sua misericórdia gratuita, sem levar
em conta a dignidade deles; que, ao contrário, o acesso à
vida é vedado a todos aqueles que Ele quis deixar entregues
à condenação; e que isso é realizado por Seu juízo oculto e
incompreensível, conquanto justo e imparcial.”

(Institutas, vol. 3, art. 7, pg. 41)

Calvino defende que tal ação de Deus (fazer a pessoa


não ter acesso a salvação) é um “juízo oculto de Deus, mas
justo e imparcial.” Oculto, mas pra ele foi revelado.

Imagine só, a pessoa acaba de ser criada e já é ordenada


ao inferno, mas a outra pessoa, na mesma igualdade de cria-
ção, é ordenada ao céu. Sem comentários.

Calvino chega dizer que o réprobo (o ímpio não escolhi-


do) Deus os priva de conhecerem a palavra:
- 127 -
“Pois bem, assim como o Senhor assinala aqueles que
Ele escolheu chamando-os e justificando-os, assim também,
ao contrário, privando os réprobos do conhecimento da Sua
Palavra, ou da santificação realizada pelo Seu Espírito, Ele de-
monstra por tal sinal qual será o fim deles, e que julgamento
está preparado para eles.”

(Institutas, vol. 3, art. 7, pg. 42)

Você, leitor, caso não tenha sido escolhido por Deus se-
gundo esse ensino estranho, Deus vai afastar sua mente de
entender a palavra, e ainda que fique na igreja ou seja evan-
gelizado por anos, você não terá chance de salvação, afinal,
você foi reprovado antes de vir ao mundo.

Mantenha calma nobre leitor. Esse ensino vai contra as


escrituras sagradas. A bíblia ensina que Deus quer a salvação
dos ímpios, e não sua perdição eterna:Dize-lhes: Vivo eu, diz
o Senhor DEUS, que não tenho prazer na morte do ímpio,
mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Con-
vertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois,
por que razão morrereis, ó casa de Israel?”

(Ezequiel 33:11)

Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio?


diz o Senhor DEUS; Não desejo antes que se converta dos
seus caminhos, e viva?

(Ezequiel 18:23)
- 128 -
Deus dará oportunidade do ímpio se converter dos seus
maus caminhos:

“Mas, se avisares ao ímpio, e ele não se converter da


sua impiedade e do seu mau caminho, ele morrerá na sua
iniquidade, mas tu livraste a tua alma.

(Ezequiel 3:19)

NINGUEM NASCE ETERNAMENTE PERDIDO! Jesus veio


salvar e não destruir os homens:

“Porque o Filho do homem não veio para destruir as al-


mas dos homens, mas para salvá-las”

(Lucas 9:56)

“Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso


Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e ve-
nham ao conhecimento da verdade.”

(1 Timóteo 2:3-4)

As próprias pessoas não querem seguir Jesus e se arre-


pender:

“E não quereis vir a mim para terdes vida.”

(João 5:40)

Esse próximo trecho do volume 3 é um dos mais po-


lêmicos. Calvino afirma e tenta explicar de forma retórica
- 129 -
como e porque Deus ordenou pessoas ao inferno antes delas
nascerem:

“Portanto, se alguém nos atacar com o propósito de


querer saber por que Deus predestinou alguns para a con-
denação eterna, sem terem feito nada para merecê-la, vis-
to que ainda não existiam, lhes perguntaremos, por outro
lado, em que ele pensa que Deus é devedor ao homem, se
acha que Ele tem a sua natureza. Pois, como todos nós fo-
mos corrompidos e estamos contaminados por vícios e pe-
cados, nada podemos fazer que não nos faça objeto do ódio
de Deus. E isso não é por crueldade tirânica, mas por uma
equidade racional.”

(Institutas, vol. 3, art. 18, pg. 49)

Que atrocidade escrita! Pasmem leitores, “pessoas con-


denadas antes de pecar.” Perceba que Calvino está passando
argumento para quando seus alunos e apoiadores forem in-
dagados com “por que Deus predestinou alguns para conde-
nação eterna, sem terem feito nada para merecê-la.”

Apesar de não afirmar isso diretamente, Calvino sabe


que o fato dele ensinar que Deus criou alguns para salvação
e outros para perdição, Deus teve de ordenar inferno eterno
para pessoas que ainda não tinham pecado.

Isso complica tudo, pois o reformador logo abaixo vai


afirmar que “nossa própria natureza nos leva a perdição.”
- 130 -
“Portanto, é melhor que não acusem Deus de maldade
ou de injustiça, visto que, mediante o Seu juízo eterno, eles
foram ordenados para a condenação, à qual a sua própria
natureza os leva.”

(Institutas, vol. 3, art. 18, pg. 49)

QUE CONTRADIÇÃO GROTESCA!!

Se Deus ordenou todas as coisas para cada ser huma-


no, criou e ordenou uns para o céu e outros para o infer-
no, Deus também teve que decretar a natureza pecaminosa
nesses perdidos que foram predestinados ao inferno ante de
nascerem e pecarem, ou seja, Deus envia para o inferno, de-
cretando a natureza caída dos reprovados. Isso significa que
o homem não vai para o inferno por causa do pecado, mas
porque Deus mandou.

Para tentar defender Deus de “enviar pessoas antes de


pecar injustamente ao inferno”, Calvino apela para a nature-
za pecaminosa e caída do homem, que só ocorre na queda
de Adão. Ao usar esse argumento, ele entra em contradição
gigantesca e bizarra. Que lamentável.

Sobre Adão, Calvino escreve:

“Adão, pela vontade de Deus, caiu, e na qual precipitou


todos os seus sucessores. Deus não é, pois, injusto em brin-
car tão cruelmente com as Suas criaturas? Em resposta, re-
conheço que foi pela vontade de Deus que todos os filhos de
- 131 -
Adão caíram nesta miséria, na qual agora estamos retidos.”

(Institutas, vol. 3, art. 19, pg. 49)

Para Calvino, foi da vontade de Deus Adão e toda raça


humana ter caído. Mesmo assim, aos calvinistas no Brasil
insistem em afirmar que Adão tinha pleno livre arbítrio. Se
Deus ordena tudo, e em cada humano acontece somente o
que Deus ordena, Adão está incluso nisso, logo, Adão caiu
por decreto e ordem divina, e não por livre escolha. Nenhum
reformado explica tamanho mistério.

Adão não caiu porque Deus mandou ou porque Deus


quis. O próprio Deus ordenou “não coma”:

“Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal,


dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, cer-
tamente morrerás.”

(Gênesis 2:17)

Como Deus decretou um evento (vai comer) e ao mes-


mo tempo ordena “não comas”?

Me perdoem o sarcasmo, mas esse papo parece con-


versa de hospício. Como que um ensino desse prospera no
Brasil? É inacreditável.

No calvinismo, Deus decreta uma ação humana que Ele


mesmo proibiu, e depois pune o agente, alegando que havia

- 132 -
avisado para não agir assim.

Biblicamente isso é impossível. Deus deu liberdade para


o homem agir e decidir obedecer ou não:

“Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o bem desta


terra. Mas se recusardes, e fordes rebeldes, sereis devorados
à espada; porque a boca do Senhor o disse.”

(Isaías 1:19-20)

“Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o bem, e a


morte e o mal; Porquanto te ordeno hoje que ames ao Se-
nhor teu Deus, que andes nos seus caminhos, e que guardes
os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos,
para que vivas, e te multipliques, e o Senhor teu Deus te
abençoe na terra a qual entras a possuir. Porém se o teu co-
ração se desviar, e não quiseres dar ouvidos, e fores seduzi-
do para te inclinares a outros deuses, e os servires, então eu
vos declaro hoje que, certamente, perecereis; não prolonga-
reis os dias na terra a que vais passando o Jordão, para que,
entrando nela, a possuas;

Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra


vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e
a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua
descendência.”

(Deuteronômio 30:15-19)

- 133 -
Calvino insiste no determinismo fatalista:

“Agora, o que vou dizer não deve causar estranheza:


que Deus não somente previu a queda do primeiro homem e
com ela a desgraça de toda a sua posteridade, mas também
Ele quis que assim fosse”

(Institutas, vol. 3, art. 21, pg. 52)

Nem feto escapa do decreto da condenação:

“Ele dispensa e ordena, por Seu conselho, que alguns,


desde o ventre de sua mãe, sejam certa e seguramente desti-
nados à morte eterna, para que o Seu Nome seja glorificado
na perdição deles.”

(Institutas, vol. 3, art. 21, pg. 52)

Calvino não cria na “permissão de Deus”, pois tudo é


decreto:

“Alguns recorrem aqui à [pretensa] diferença entre von-


tade e permissão e dizem que os ímpios perecem porque
Deus o permite, não porque o quer. Mas, por que diremos
que Ele o permite, se não é porque o quer?

(Institutas, vol. 3, art. 21, pg. 52)

Seguindo esse raciocínio, os homens, demônios e sata-


nás só pecam porque Deus quis e ordenou suas ações.

- 134 -
Mesmo afirmando que Adão caiu por vontade e ordem
de Deus, o motivo Calvino desconhece:

“O primeiro homem caiu porque Deus julgou que isso


era um meio útil para os Seus propósitos. Ora, porque julgou
assim, não sabemos.”

(Institutas, vol. 3, art. 22, pg. 53)

Se não soube o motivo, era melhor não ter escrito tais


ensino estranhos. Infelizmente, essa doutrina causa confu-
são em muitos cristãos que lutam com pecados. Estariam
eles lutando contra “ordens divinas”?

Nesse artigo 22, Calvino entra novamente em contradi-


ção, alegando que Deus não ordenou natureza pecaminosa
no homem, mas o próprio homem que se corrompeu (pen-
samento arminiano):

“Foi o homem, então, que, por sua própria maldade,


corrompeu a boa natureza que tinha recebido do Senhor. E
assim, por sua queda, lançou consigo toda a sua descendên-
cia à desgraça. Porque vemos melhor na natureza corrom-
pida do homem a causa da sua condenação, causa evidente
para ele, do que procurá-la na predestinação de Deus, onde
ela está oculta e à qual é totalmente incompreensível.”

(Institutas, vol. 3, art. 22, pg. 53)

Deus escolhe e decreta o homem ao inferno ainda no


- 135 -
ventre ou antes de nascer, mas a natureza, que em textos
anteriores, o próprio Deus ordenou caída, agora não é mais
Deus que ordenou, mas o homem que corrompeu.

Mas não é Deus que decretou tudo? Então pela lógica


Deus daria a natureza santa ao homem e em seguida orde-
nado que o mesmo caísse. Mas para nossa surpresa, nessa
questão, o decreto absoluto não entra 100%, pois aqui, em
especial, foi o homem o causador da tragedia do pecado.

Calvinismo possui doutrinas inexplicáveis, ou como Cal-


vino diz: “oculta ou misteriosa”.

O ímpio peca por ordem de Deus, mas é culpado:

“Os réprobos [não escolhidos] querem ser desculpados


por pecarem, porque não conseguem evadir-se à necessi-
dade do pecado; principalmente tendo-se em vista que isso
procede da ordenação e da vontade de Deus. Ao contrário,
eu nego que isso lhes sirva de desculpa, porquanto essa or-
denação de Deus, da qual eles se queixam, é imparcial.”

(Institutas, vol. 3, art. 22, pg. 53)

Senhores, prestaram atenção no que acabaram de ler?


O ímpio peca por ordem de Deus, a culpa é deles, mas isso é
IMPARCIAL. Só pode ser brincadeira essa afirmação de “Jean”
Calvino.

- 136 -
No CAPÍTULO 3 dessa obra, relatamos sobre “acepção
de pessoas”. Calvino também foi contra-argumentado na
época acerca disso. Veja a resposta do reformador:

“Os adversários de Deus ainda têm outro absurdo para


com ele difamar a Sua predestinação. Porque, considerando
que, quando falamos daqueles que o Senhor retira da con-
dição universal dos homens para fazê-los herdeiros do Seu
reino, não atribuímos a isso outra causa senão o Seu bene-
plácito, eles inferem que Deus faz acepção de pessoas – o
que a Escritura nega totalmente. Logo, dizem eles, ou deve-
mos dizer que a Escritura se contradiz, ou que Ele toma em
consideração os méritos daqueles que Ele escolhe

(Institutas, vol. 3, pg. 54)

Para explicar quando a bíblia diz sobre Deus não fazer


acepção de pessoas, Calvino dá uma explicação que eu nun-
ca vi em 15 anos de estudo. Veja o absurdo:

“Primeiro, o que diz a Escritura, que “Deus não faz acep-


ção de pessoas”, digo noutro sentido, não no sentido em que
eles o entendem. Porque, com a expressão “de pessoas” Ele
não se refere ao homem, mas às coisas como parecem aos
olhos do homem, para com elas obter favor, graça e dignida-
de; ou, ao contrário, serem feitos objeto de ódio, desprezo
ou má fama. Tais são, por um lado, as riquezas, o crédito,
- 137 -
a nobreza, os ofícios ou cargos honrosos, a pátria, a beleza
física, e coisas semelhantes; ou, por outro, a pobreza, o opró-
brio, a falta de crédito, a falta de honra, etc.”

(Institutas, vol. 3, art. 22, pg. 55)

Não é acepção de pessoas que a bíblia fala, é acepção


de coisas? Não é possível. Pra amenizar essa explicação hete-
rodoxa, Calvino apela para “nacionalidades”:

“Nesse sentido os apóstolos Pedro e Paulo advertem


que Deus não faz acepção de pessoas, porque não distingue
entre grego e judeu, para agradar-se de um e rejeitar o outro
só por causa da nação a que pertencem. Tiago emprega pa-
lavras semelhantes, quando afirma que Deus, em Seu juízo,
não dá importância nenhuma às riquezas.”

(Institutas, vol. 3, art. 22, pg. 55)

A palavra usada para “pessoa” no novo testamento é


“PROSOPOLEPSIA” [bíblia Strong grego-português] e quer
dizer “humano, pessoa, individuo”, ou seja, não é possível
interpretar como “coisa”, “qualidade” ou “tipo de naciona-
lidade.”

Ele até se reforça para sair da contradição e defender


seu posicionamento determinista, mas os seus próprios ar-
gumentos jogam contra o reformador.

- 138 -
“Confessamos que a ofensa é universal, mas dizemos
que a misericórdia de Deus socorre alguns”

(Institutas, vol. 3, art. 25, pg. 56)

Não Calvino, a misericórdia do Senhor é pra todos:

“Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediên-


cia, para com todos usar de misericórdia.”

(Romanos 11:32)

No calvinismo, se uma pessoa não escolhida na eterni-


dade ouvir o evangelho e querer mudar de vida, será em vão:

“Se Ele se determinou a salvar-nos, a Seu tempo nos


conduzirá à salvação; se se determinou a condenar-nos, em
vão nos atormentaríamos tentando nos salvar.”

(Institutas, vol. 3, art. 26, pg. 56)

- 139 -
DUPLO CHAMADO DE DEUS
E SALVAÇÃO TEMPORÁRIA.

Calvino acreditava em um duplo chamado de Deus para


salvação. Não sei se posso nomear assim, porque na verda-
de esse “duplo chamado” apenas um grupo Deus realmente
chama para salvar de fato.

Vamos analisar:

“Existe uma dupla espécie de vocação. Uma é a vocação


universal, que consiste na pregação exterior do Evangelho,
por meio da qual o Senhor convida a que venham a Ele todos
os homens, indiferentemente, até mesmo aqueles aos quais
a pregação é feita com odor de morte e com o fim de lançar
sobre eles mais grave condenação. A outra é a vocação espe-
cial, da qual são feitos participantes os que creem, quando,
pela luz interior do Seu Espírito, a doutrina é plantada e se
enraíza no coração deles.”

(Institutas, vol. 3, art. 34, pg. 63)

Veja que para Calvino, Deus chama pelo evangelho até


aqueles que Ele ordenou que irão para o inferno, e mesmo

- 140 -
que ouçam a palavra de Deus, o Senhor irá condená-los mes-
mo assim. Não há chances para tais pessoas.

Isso é totalmente contra a bíblia sagrada, a vontade de


Deus é que todos que ouçam o evangelho, creiam e se con-
vertam:

“O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que al-


guns a têm por tardia; mas é longânimo para convosco, não
querendo que alguns se percam, senão que todos venham a
arrepender-se.”

(2 Pedro 3:9)

Em seguida, Calvino afirma que alguns vão ficar salvos


por um tempo e depois serão abandonados por Deus:

“Se bem que algumas vezes o Senhor faz uso desta vo-
cação a pessoas que o Seu Espírito ilumina por um tempo, e,
depois, por causa da ingratidão delas, as abandona e as lança
a maior cegueira.”

(Institutas, vol. 3, art. 34, pg. 63)

Aqui vemos várias contradições. Como que Deus chama


irresistivelmente, mas algumas pessoas o Espírito Santo não
transforma o coração todo, deixando ainda a pessoa ingrata
e merecedora de perdição eterna?

- 141 -
Se a eleição é incondicional, como que em algumas pes-
soas Deus ilumina por um tempo, mas condicionalmente, por
serem ingratas, Deus simplesmente as rejeitam? Todo somos
ingratos muitas vezes, então só algumas pessoas Deus leva
em consideração questões como a ingratidão?

Onde está “uma vez salvo, salvo para sempre” que os


calvinistas repetem parecendo mantra? Impossibilidade de
cair da graça é só para alguns e outros “azarados” não?

Outro fato pior: Imagine Deus chamando o reprovado


ao inferno ao arrependimento, mas Ele próprio já ordenou
que tal pessoa não vai crer e nem receber o dom da fé. Tal
ensino chega ser repugnante.

Alguns Calvinista apelam dizendo que o “ILUMINADO


POR UM TEMPO” Calvino não quis dizer salvação ou regene-
ração. Mas isso não condiz com outros textos do reformador:

“Por seu Espírito, ILUMINANDO o entendimento e for-


mando o coração com amor pela justiça e pela inocência, ELE
REGENERA O HOMEM, fazendo dele uma nova criatura.”

(Institutas, vol. 1, art. 78, pg. 147)

Para Calvino, ILUMINAÇÃO era o ato do Espírito Santo


regenera sim:

“Eles apresentam alguns exemplos com vistas a provar


que alguns dos eleitos não estiveram totalmente sem reli-
- 142 -
gião antes de receberem a iluminação propriamente dita.”

(Institutas, vol. 3, art. 36, pg. 66)

Calvino afirma de forma muito clara que Deus criou pes-


soas com a intenção e decreto de condená-las ao inferno:

“Assim como o Senhor, em virtude da Sua vocação, con-


duz os Seus escolhidos à salvação, para a qual os preordenou
segundo o Seu conselho eterno, assim também, por outro
lado, Ele tem Seus juízos contra os réprobos, e por esses juízos
executa o que se havia determinado a fazer. Portanto, com
relação aos que Ele criou com vistas à condenação e morte
eterna, a fim de serem instrumentos da Sua ira e exemplos
da Sua severidade, eis como Ele procede para fazê-los chegar
a seu fim: ou os priva da faculdade de ouvir a Sua Palavra, ou,
pela pregação da mesma, cega-os e endurece-os ainda mais

(Institutas, vol. 3, art. 37, pg. 67)

Para que essas pessoas reprovadas não ouçam a palavra


de Deus e sejam salvas, Calvino escreveu que Deus “endure-
ce ainda mais eles”. Tal ensino beira blasfêmia contra nosso
Deus amoroso e misericordioso.

Qual Pai teria vontade da ver a perdição dos próprios


filhos? Ou qual Pai impediria um filho de ouvir a correção e
ser salvo?

Sobre as ações humanas, Calvino declara:


- 143 -
“Em resumo, a opinião comum é que o mundo, as coisas
humanas, os próprios homens, são governados pelo poder
de Deus.”

(Institutas, vol. 3, art. 42, pg. 67)

O arminianismo crê que Deus governa tudo pela sua


soberania, mas afirmar que Deus governa decretando tudo,
até as ações humanas, de forma exaustiva e sistemática, não
achamos amparo bíblico para tal, uma vez que isso implicaria
em Deus ser o autor e criador dos males, pecados e abomi-
nações:

“... nada absolutamente se faz neste mundo que não


seja pela ordenação de Deus, subordina a Ele, nominal e ex-
plicitamente, todas as coisas que têm toda a aparência de
fortuitas ou casuais. Que coisa diríamos que é mais casual
do que um galho de árvore cair sobre alguém que passa e o
matar?”

(Institutas, vol. 3, art. 43, pg. 74)

“Isto, porém, permanece resolvido firmemente em nos-


so coração: Nada acontecerá que Deus não tenha ordenado.”

(Institutas, vol. 3, art. 45, pg. 76)

Até os desejos humanos vêm de Deus:

- 144 -
“Ele determinou o que haveria de fazer e então haveria
de executar, segundo o Seu poder, tudo quanto havia deli-
berado. Concluímos, pois, que não somente o céu, a terra e
todas as criaturas destituídas de razão, são governadas por
Sua providência, mas também os conselhos e os desejos dos
homens, e que os governa de modo tal que os conduz ao
propósito determinado por Ele.”

(Institutas, vol. 3, art. 44, pg. 75)

Não é de Deus que parte os desejos dos homens, mas


dos seus próprios corações corrompidos:

“Mas, o que sai da boca, procede do coração, e isso


contamina o homem.

(Mateus 15:18)

Calvino chega dizer no volume 1 que até os desejos


ruins dos ímpios vem de Deus:

“Deus cega, endurece e impulsiona os maus, dos quais


Ele tira a capacidade de ver, de obedecer e de fazer o bem.”

(Institutas, vol. 1, art. 68, pg. 139)

A bíblia diz que o diabo cegou os incrédulos e não Deus:

- 145 -
“Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos
dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evan-
gelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.

(2 Coríntios 4:4)

Se Deus disse para não pecarmos e também nos instrui


para fugir das obras más, como Ele próprio decretaria que os
pecamos e coisas maléficas aconteceriam conosco? Absurda-
mente sem fundamento.

Deus tem plano bons para nós:

“Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso


respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal,
para vos dar o fim que esperais.”

(Jeremias 29:11)

Deus tem bençãos para nós sem dores:

“A bênção do Senhor é que enriquece; e não traz consi-


go dores.

(Provérbios 10:22)

Deus não ordena desgraça aos seus servos, mas os livra:

“E o livramento vem do Senhor; sobre o teu povo seja


a tua bênção.”

(Salmos 3:8)
- 146 -
Seria terrivelmente contraditória Deus ordenar o que
Ele proíbe.

Calvino cria que até um homicídio acontece pela vonta-


de de Deus:

“Como exemplo, consideremos o caso de um negocian-


te que, tendo entrado numa floresta em boa companhia,
perde-se do grupo e acaba caindo nas mãos de bandidos, e
estes lhe cortam a garganta. Sua morte não somente havia
sido prevista por Deus, mas também tinha sido decretada se-
gundo a Sua vontade.”

(Institutas, vol. 3, art. 45, pg. 76)

“Nós dizemos que todas as coisas dependem da Provi-


dência como de seu fundamento; e, portanto, não se pratica
nem latrocínio, nem adultério, nem homicídio que a vontade
de Deus não interfira.”

(Institutas, vol. 3, art. 49, pg. 78)

“Digo mais, que os ladrões, as meretrizes e outros mal-


feitores são instrumentos da providência de Deus, dos quais
Deus se utiliza para executar os juízos decretados por Ele.”

(Institutas, vol. 3, art. 49, pg. 78)

Mas esses criminosos comentando crimes estão fazen-


do a vontade de Deus? Calvino responde:

- 147 -
“Eu, porém, nego que elas com isso estão servindo à
vontade de Deus. Porque não diremos que alguém que é mo-
vido por um mau coração se dedica a servir a Deus, visto que
ele tão-somente quer comprazer sua malvada cupidez.”

(Institutas, vol. 3, art. 49, pg. 78)

Como que algo que é da vontade de Deus e Deus orde-


nou acontece, mas ao mesmo tempo eles não fazem a “von-
tade de Deus” e serão punidos?

“Para nós é, pois, uma consolação maravilhosa com-


preender que o Senhor tem de tal maneira todas as coisas
em Seu poder, que as governa segundo o Seu querer e as
dirige com a Sua sabedoria, e nada sucede, senão como Ele
determinou.”

(Institutas, vol. 3, art. 57, pg. 86)

Pasmem! Calvino cria que ao praticarmos o mal, esta-


mos praticando por ordem divina:

“Pois não é que os tais replicam que não ofenderíamos


a Deus se Ele não quisesse? Reconheço. Mas, fazemos isso
a fim de agradá-lo? Ora, Ele não nos manda praticar o mal;
mas nós o praticamos sem pensar no fato de que Ele não
nos manda fazer isso. O fato é que, estando nós tão altera-
dos pela fúria da nossa intemperança que com deliberado
propósito nos empenhamos em praticar transgressão, dessa
maneira servimos à Sua justa ordenação, ao praticarmos o
- 148 -
mal; porque, pela grandeza infinita da Sua sabedoria, Ele de
maneira justa e reta se serve de instrumentos maus para fa-
zer o bem.”

(Institutas, vol. 3, art. 49, pg. 79)

Estou sem palavras para tamanha barbaridade afirmada.


Teria Deus prazer e vontade em bandidos cortar a garganta
de um trabalhador? Caro leitor, tire suas próprias conclusões
desse perigoso ensino de João Calvino, o “teólogo da doutri-
na da GRAÇA”, como afirma vários calvinistas na atualidade.

Ele incansavelmente afirma sua crença no determinis-


mo absoluto:

“É, pois, certo que o governo que Deus exerce sobre as


coisas humanas é constante, perpétuo e totalmente isento de
arrependimento.”

(Institutas, vol. 3, art. 58, pg. 88)

Na página 128 Calvino faz uma colocação estranha aos


seus ensinos anteriores:

“Aqui pedimos que nos sejam perdoados os nossos pe-


cados, o que é necessário que seja feito a todos os homens,
sem nenhuma exceção.”

(Institutas, vol. 3, art. 45, pg. 128)

- 149 -
SEM EXECÇÃO, TODOS OS HOMENS? Mas é Deus que
cega os maus. Como que o ímpio ou o não escolhido vai orar
pedindo perdão, se o próprio Deus o priva da palavra ou lhe
cega os olhos? Contradição.

Diferente da maioria dos calvinistas atuais, Calvino cria


que em Mateus 3:11 o “batismo com fogo” não era para con-
denação:

“Que terá querido João dizer então, quando afirmou


que ele batizava com água, mas que depois viria Aquele que
batizaria com o Espírito Santo e com fogo? Isso pode ser ex-
plicado rapidamente. João não quis distinguir entre um Ba-
tismo e o outro, mas o que fez foi uma comparação da sua
pessoa com a de Jesus Cristo. E então se declarou ministro
da água, e Cristo o doador do Espírito Santo, e que Ele ma-
nifestaria esse poder por meio de um milagre visível no dia
em que haveria de enviar o Espírito Santo aos Seus apóstolos
mediante línguas de fogo. Que outra coisa mais os apóstolos
poderiam atribuir a si mesmos? E também, que outra coisa
mais poderiam atribuir a si mesmos os que batizam atual-
mente? Pois eles são apenas ministros do sinal externo, mas
Jesus Cristo é o Autor da graça interna.”

(Institutas, vol. 3, art. 8, pg. 164)

- 150 -
“Por exemplo, como ocorreu que, segundo nos é narra-
do, no dia de Pentecoste os apóstolos se lembraram das pa-
lavras proferidas pelo Senhor sobre o Batismo com o Espírito
e com fogo.”

(Institutas, vol. 3, art. 20, pg. 171)

No CAPÍTULO que o reformador explica a doutrina ba-


tismal, aparentemente Calvino cria e praticava batismo por
imersão, diferente dos calvinistas atuais que batizam por as-
persão:

“Portanto, devemos crer e estar tão certa e verdadei-


ramente seguros de que Deus faz todas estas coisas interior-
mente, em nossa alma, como exteriormente vemos o nosso
corpo lavado, submerso e rodeado de água.”

(Institutas, vol. 3, art. 13, pg. 167)

Ele ensinava o batismo de crianças [não há uma única


passagem bíblica que de margem para o batismo de infan-
tes]:

“Alguns espíritos mal-intencionados se levantam contra


o nosso hábito de batizar crianças, como se essa prática não
tivesse sido instituída por Deus, mas se tratasse de algo in-
ventado pelos homens recentemente, ou ao menos pouco
tempo depois dos apóstolos.”

(Institutas, vol. 3, art. 21, pg. 171)


- 151 -
Nesse trecho Calvino ensina batismo por aspersão [não
mergulhar, apenas jogar um pouco de água na cabeça]:

“Por isso mesmo, saber o que é o Batismo e qual a sua


utilidade não é questão de fixar toda a atenção na água e nos
atos externos, mas é necessário elevar o pensamento às pro-
messas que Deus no Batismo nos faz e à realidade interior
e espiritual que ele representa. Se tivermos isso, teremos a
substância e a verdade do Batismo, decorrendo daí que vire-
mos a compreender o fim para o qual está aspersão de água
que no Batismo se faz, e para que nos serve.”

(Institutas, vol. 3, art. 23, pg. 172)

Ou na passagem anterior, Calvino faz uma afirmação


simbólica sobre imersão e consideramos que ele cria e pra-
ticava somente batismo por aspersão, ou praticava ambas.

O Novo Testamento, contém algumas descrições de ba-


tismos, que não deixam margem para dúvidas de que se tra-
tava de batismos por imersão:

“E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água e eis que se


lhe abriram os céus e viu o Espírito de Deus descendo como
pomba e vindo sobre ele.”

(Marcos 1:9-10)

“E aconteceu, naqueles dias, que Jesus, tendo ido de


Nazaré, da Galileia, foi batizado por João, no Jordão.
- 152 -
E, logo que saiu da água, viu os céus abertos, e o Espíri-
to, que, como pomba, descia sobre ele.”

“E, indo eles caminhando, chegaram ao pé de alguma


água, e disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que eu
seja batizado?

E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, res-


pondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus.

E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tan-


to Filipe como o eunuco, e o batizou.

E, quando saíram da água, o Espírito do Senhor arreba-


tou a Filipe, e não o viu mais o eunuco; e, jubiloso, continuou
o seu caminho.”

(Atos 8:36-39)

As expressões “descer à água” e “sair da água”, provam


sem margem para dúvidas a imersão. Não pode haver me-
lhor descrição dum batismo do que esta passagem em Atos,
do batismo do eunuco, pois ele desceu à água e posterior-
mente saiu da água, sinal de que foi sepultado, isto é, imerso
e depois “ressuscitou como Jesus”.

Seria pouco provável, que o eunuco viajasse sem levar


alguma reserva de água no seu carro, mas esta não era sufi-
ciente para a imersão, daí a necessidade de terem de descer
à água.
- 153 -
CAPÍTULO 06
ENSINOS PERIGOSOS DE CALVINO VOLUME 04.

A quarta e última Instituta de João Calvino vai abordar


vários assuntos cristãos, dentre eles, a ceia do senhor, ata-
que aos sacramentos católicos, vida e práticas cristãs, ecle-
siologia e governo civil.

Após ler, identifiquei vários pontos interessantes e com


base bíblica, mas infelizmente achei alguns trechos que con-
frontam tanto os volumes anteriores, quanto o calvinismo
atual no Brasil.

Antes, a título de curiosidade, Calvino tem uma ideia


peculiar acerca da ceia do Senhor. Ele defendia a prática se-
manal:

“Pois bem, é necessário proceder doutra forma. Ao me-


nos uma vez por semana se deve oferecer à congregação
dos cristãos a Ceia do Senhor; e devem ser proclamadas as
promessas que, presentes nela, nos renovam e nos nutrem
espiritualmente. Certamente ninguém deve ser constrangido
a participar, mas todos devem ser exortados e, quem se mos-
trar negligente, deve ser repreendido e corrigido. Então, que
todos, como que famintos espiritualmente, se reúnam para

- 155 -
tão feliz refeição.”

(Institutas, vol. 4, art. 35, pg. 32)

Um pouco a frente já percebemos uma contradição.


Calvino afirma que o diabo que cega as pessoas, porém no
volume 1, Calvino ensina que é Deus quem cega:

“Foi feito isso quando Satanás cegou quase todo o


mundo para o pestilento erro de crer que a missa é sacrifício
e oblação para impetrar a remissão dos pecados. Bem sei
quanto essa praga se arraigou, oculta sob grande aparência
de virtude, acobertando-se sob o nome de Jesus Cristo, ao
ponto de muitos pensarem que a palavra missa inclui plena-
mente a súmula da fé.

(Institutas, vol. 4, art. 35, pg. 32)

“Deus cega, endurece e impulsiona os maus, dos quais


Ele tira a capacidade de ver, de obedecer e de fazer o bem.”

(Institutas, vol. 1, art. 68, pg. 139)

“Quanto a isso, qualquer pessoa que não esteja comple-


tamente cega vê aí a ousadia de Satanás em sua resistência à
verdade de Deus e em seu combate contra ela, sendo que a
verdade de Deus é tão aberta e manifesta! Não me é oculto
com quantas e quais ilusões o pai da mentira tem o costume
de acobertar esta sua astúcia, querendo persuadir-nos de
que não se trata de muitos nem diferentes sacrifícios, mas
- 156 -
de um só e o mesmo sacrifício repetido muitas vezes.”

(Institutas, vol. 4, art. 38, pg. 37)

Nos volumes anteriores, Calvino afirma que uma obra


do diabo pode ser chamada obra de Deus (Institutas, vol. 1,
art. 68, pg. 138) mas aqui diz que satanás resiste às verdades
de Deus.

Se Calvino estivesse certo, Deus ordenou o diabo resistir


contra Ele mesmo. Inclusive, toda obra demoníaca na terra,
seria ordem de Deus, que ordenou na eternidade o inferno
atacá-lo.

Eu sentiria vergonha de crer em tamanha blasfêmia.


Chega ser cômico. Seja anátema tais heresias. Não podemos
aceitar essas afirmações.

Na Página 40 temos mais contradição:

“Antes de terminar, interrogo os nossos doutores de


missas nestes termos: Visto que eles sabem que “o obedecer
é melhor do que o sacrificar” e que Deus exige obediência
à Sua voz, sendo que Ele não ordena que Lhe sejam feitos
sacrifícios, como pensam que esse tipo de sacrifício pode ser
agradável a Deus, uma vez que não há nenhum mandamento
que o exija e que eles veem que não há nenhuma sílaba da
Escritura que o aprove?”

(Institutas, vol. 4, art. 40, pg. 40)


- 157 -
Como Deus vai exigir algo que só será feito se Ele orde-
nar? Como Deus exortará seu povo a obedecer, se é Ele que
ordena todos os fatos, inclusive os sentimentos? Completa-
mente sem lógica tal doutrina.

Se Deus ordenou absolutamente todos os fatos, como


Deus vai cobrar de nós algo que somente Ele teve o poder de
tornar certo?

Calvino em certa parte de sua teologia defendia o ba-


tismo por aspersão (jogar um pouco de água na cabeça) mas
na passagem a seguir o reformador cita a questão da forma
batismal como irrelevante:

“De resto, não importará nem um pouco se no Batismo


se mergulhar totalmente o batizando na água, ou se simples-
mente se derramar água sobre ele. Mas, conforme a diver-
sidade das regiões, isso deve ser deixado à livre decisão das
igrejas. Porque em ambos os casos o sinal está representado.
Isso tudo levando-se em conta que a palavra batizar significa
imergir completamente e que é certo que antigamente se
praticava a imersão completa na igreja.”

(Institutas, vol. 4, art. 48, pg. 48)

Em outros volumes, vimos João Calvino afirmando a


continuidade dos dons do Espírito, porém na passagem a se-
guir, novamente ele nega:

- 158 -
“Mas esse poder ou virtude maravilhosa e as operações
manifestas distribuídas mediante a imposição das mãos, ces-
saram, e só foram concedidas durante algum temo. Porque
era necessário que a nova pregação do Evangelho e o novo
reino de Cristo fossem exaltados e engrandecidos por mila-
gres jamais vistos nem experimentados. Quando o Senhor os
fez cessar, não significa que por isso abandonou a Sua igreja,
mas, com isso deixou claro que a magnificência do Seu reino
e a dignidade da Sua Palavra são manifestas de maneira sufi-
cientemente grandiosa.”

(Institutas, vol. 4, art. 5, pg. 53)

Na página 64 Calvino nega o dom de curar:

“Ora, é comum e habitual que na Escritura o Espírito


Santo e Seus dons sejam simbolizados pelo óleo. De resto,
essa graça ou esse dom de curar doenças não tem mais lugar,
como também os demais milagres, os quais o Senhor quis
que fossem realizados por um tempo para tornar a novel
pregação do Evangelho eternamente admirável.”

(Institutas, vol. 4, art. 5, pg. 53)

Tal afirmação não tem base nas escrituras. Deus e seu


Espírito continuam os mesmos. Contradição absurda, pois
em escritos anteriores Calvino defende claramente os dons
espirituais.

- 159 -
Calvino era a favor do consumo de vinho e música se-
cular

“Nenhum lugar se proíbe ao homem rir ou fartar-se ou


adquirir novas propriedades ou deleitar-se com instrumen-
tos musicais e beber vinho.”

(Institutas, vol. 4, art. 14, pg. 96)

Olhe o absurdo. Calvino muda de ideia e volta defender


os dons espirituais:

“Igualmente não nego que os dons de Deus, diversos


como são, são distribuídos diversamente,”

(Institutas, vol. 4, art. 22, pg. 120)

Os quatros volumes têm essa característica: por um


momento João Calvino afirma algo ou uma crença, capítulos
a frente ele nega ou refuta a própria explicação.

No artigo 12 da página 154, Calvino alega ser legitimo


a pena de morte. Caso o leitor não conheça esse lado som-
brio de Calvino, sugiro uma rápida pesquisa na internet sobre
o médico herege Miguel Servet  (1511-1553), morte em fo-
gueira por crime de blasfêmia e heresia. Calvino teve envol-
vimento polêmico nessa execução.

Veja o que o reformador diz sobre vingar:

“Certo é que não cabe aos crentes fazer mal nem causar
- 160 -
dano. Mas também, vingar, pelo mandado de Deus, as afli-
ções dos dons não é fazer mal sem causar dano.”

(Institutas, vol. 4, art. 12, pg. 154)

Existem muitos relatos históricos que prisões, torturas


e execuções em Genebra enquanto Calvino era pastor e con-
selheiro político. Quem gostaria de fontes de mais informa-
ções, sugiro o excelente livro “O lado negro do Calvinismo”
de George Bryson.

Calvino também defendia guerra:

“Considerando, pois, que às vezes é necessário que os


reis e seus povos empreendam a guerra para impor justa vin-
gança, podemos por isso considerar igualmente legítimas as
guerras que visem a este fim.”

(Institutas, vol. 4, art. 13, pg. 156)

“E se com justiça punem os salteadores, que causam


danos a poucas pessoas, deverão deixar que uma região in-
teira seja humilhada e saqueada sem lhes fazer a devida opo-
sição? Porque pouco importa quem invada sem justa causa
terras alheias para pilhagens e assassinatos – pouco importa
se o invasor é rei ou plebeu, odos quantos agem dessa for-
ma devem ser considerados bandidos, e devem ser punidos
como bandidos.”

(Institutas, vol. 4, art. 13, pg. 156)


- 161 -
“Pois é preciso que façamos tudo muito melhor do que
nos é ensinado pelos pagãos, um dos quais disse que “a guer-
ra não deve ter outra finalidade senão a de buscar a paz”;
certamente é preciso tentar todos os meios possíveis, antes
de apelar para as armas.”

(Institutas, vol. 4, art. 14, pg. 157)

Calvino acaba de defender o uso da guerra armada e se


vingar dos ímpios, porém logo adiante ele diz:

“Também não somos contrários às palavras de Cristo


por meio das quais Ele nos proíbe resistir ao mal e nos manda
voltar a face esquerda a quem nos ferir a direita, e dar tam-
bém a capa a quem demandar tirar-nos a túnica. O Senhor diz
isso porque certamente exige que o coração dos Seus servos
se desfaça por completo do desejo de vingança, preferindo
sofrer injúria em dobro a pensar num modo de devolvê-la
à altura; paciência que também reconhecemos que não de-
vemos eliminar do coração. Porque é geralmente necessário
que os cristãos sejam como um povo nascido e formado para
sofrer injúrias e afrontas, e para estar sujeito à maldade, às
trapaças e à zombaria dos maus elementos

(Institutas, vol. 4, art. 24, pg. 164)

Na Página 195, Calvino afirma que devemos aceitar ser-


mos governados por Deus. Afirmação bem arminiano.

(Institutas, vol. 4, art. 19, pg. 195)


- 162 -
Nas outras institutas, Calvino deixa claro que tudo foi
decretado por Deus, até quem será salvo ou não. Isso inclui
a perseverança, que segundo o reformador, só persevera
quem Deus quer e quem Ele delegou o dom para isso. Porém
na passagem abaixo, Calvino exorta que devemos querer ser
discípulos e alerta sobre a perseverança, algo totalmente
contraditório em relação aos seus escritos anteriores:

“Portanto, se queremos ser discípulos de Cristo, deve-


mos empenhar-nos no sentido de que o nosso coração se
encha de tal reverência e obediência a Deus que nos habilite
a dominar e subjugar todos os sentimentos contrários ao Seu
beneplácito. Decorre disso que, em qualquer tribulação que
estejamos, mesmo na maior aflição de alma que seja possí-
vel alguém sofrer, não deixaremos de perseverar em nossa
paciência.”

(Institutas, vol. 4, art. 31, pg. 208)

- 163 -
CONCLUSÃO

Como vimos nesse livro, as contradições e erros teoló-


gicos de João Calvino são gritantes. O reformador por certo
não revisou suas obras, que posteriormente foram revisados
por outros teólogos.

Isso não isenta as falhas interpretativas do mesmo. Tem


sim muita coisa aproveitável nos escritos de Calvino. Pouco
coloquei aqui nessa obra, mas quis dar ênfase nos ensinos
contrários a bíblia e de suma periculosidade para igreja atual.

Não vejo o Calvinismo como uma heresia num todo,


mas algumas afirmações de João Calvino têm sim, um grau
elevadíssimo de falácia e pensamento não bíblico.

Você meu irmão pentecostal ou carismático, ou até


mesmo meu irmão tradicional, que serve a Cristo no seu cos-
tume e doutrina, muito cuidado com esses ensinos. Recebo
muitas mensagens de líderes com suas igrejas “rachadas” e
dividias devido guerra de crenças. Sempre tem um calvinista
no meio.

Se eles ficassem em suas igrejas reformadas, não acon-


teceriam tais confusões, porém eles são orientados a perma-
- 164 -
necer em vossas igrejas e espalhar as doutrinas calvinistas.
Isso é falta de respeito com centenas de anos de teologia
da igreja. Devemos respeitar e estar submissos aos ensinos
bíblicos de cada igreja, e não querer mudá-las.

Para concluir, quero deixar aqui registrado algumas fra-


ses de alguns teólogos bem conhecidos no meio calvinista.
Algumas delas são de arrepiar.

“Deus move as línguas dos homens para blasfemar.”

[Franciscus Gomarus, citado em A. H. Newman, A Ma-


nual of Church History (Valley Forge: Judson Press, 1933), vol.
2, p. 339.]

“Deus claramente pré-ordena o mal.”

[Peter Y. de Jong, Crisis in the Reformed Churches (Re-


formed Fellowship, Inc.), p. 148.]

“A Bíblia é clara: Deus ordena o pecado.”

[PALMER, Edwin H. The Five Points of Calvinism. Grand


Rapids: Backer, 1872. p. 85.]

“Não apenas Seu olho onisciente viu Adão comendo do


fruto proibido, mas Ele decretou antecipadamente que ele
devia comer”

[Arthur W. Pink, Soberania, p. 249.]

- 165 -
“A pobreza também é decretada. O que quer que seja
que causa essa pobreza também foi decretado como meios
conducentes a essa pobreza”

[FEINBERG, John Samuel. Predestinação e Livre-Arbítrio:


Quatro perspectivas sobre a soberania de Deus e a liberdade
humana. Editora Mundo Cristão: 1989, p. 58.]

“Deus decreta todas as coisas, inclusive os meios e os


fins”

[FEINBERG, John Samuel. Predestinação e Livre-Arbítrio:


Quatro perspectivas sobre a soberania de Deus e a liberdade
humana. Editora Mundo Cristão: 1989, p. 57.]

“A obra do pecado não parte de qualquer outra pessoa


a não ser Deus”

[Ulrich Zwínglio, “On the Providence of God – Sobre a


Providência de Deus”, The Latin Works of Huldreich Zwingli
(Philadelphia: Heidelberg Press, 1922), II:203-204.]

“Todas as coisas, incluindo o pecado, são causadas por


Deus.”

[PALMER, Edwin H. The Five Points of Calvinism. Grand


Rapids: Backer, 1872. p. 101]

No Calvinismo a única conclusão final que chegamos é


que satanás é um mero marionete e o único pecador é Deus.

- 166 -
Caso fosse verdade que todos os atos da humanidade foram
ordenados por Deus, eu queria distância desse ser.

Ou as igrejas pentecostais reprovam tais ensinos e pre-


param vosso rebanho com intenso ensino bíblico, ou em
breve negaremos os dons, pregaremos Deus com intenção
direta do mal e negaremos as ações satânicas não ordenadas
pelo Criador.

Minha oração é que esse tipo de ensino não se espalhe


nas igrejas do Brasil. DEUS TENHA MISERICORDIA DA AMERI-
CA!

FIM.

- 167 -

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