Ora, facilmente se refuta o que objetam, em primeiro lugar, isto é, que se nada acontece a não ser que
Deus o queira, há nele duas vontades contrárias, porquanto, de seu desígnio secreto, decreta o que
abertamente proibiu através de sua lei. Que diz a Escritura em outro lugar? “Os filhos de Eli não
obedeceram ao pai, porque Deus os queria matar” *1Sm 2.25+. Proclama ainda outro Profeta: “Deus,
que habita no céu, faz tudo quanto quer” (Sl 115.3). E, com clareza suficiente, já mostrei que todas essas
coisas que esses censores querem que aconteçam somente por sua permissão passiva, “Deus é
chamado o autor de todas elas. Ele testifica que cria a luz e as trevas, que forma o bem e o mal” (Is
45.7); que nada de mau acontece que ele mesmo não o tenha feito (Am 3.6).
Rogo, pois, que digam se Deus exerce seus juízos porque assim o quer, ou a despeito de não o querer?
Mas, da mesma forma que Moisés ensina [Dt 19.5] que, por eficiência divina, aquele que é morto pelo
desvio acidental de um machado foi entregue à mão do que o fere, assim também diz à Igreja toda, em
Lucas [At 4.28], que Herodes e Pilatos se mancomunaram para fazer o que a mão e o desígnio de Deus
haviam decretado. E, com efeito, a não ser que Cristo houvesse sido crucificado porque Deus assim o
quis, donde teríamos redenção?
Contudo, nem por isso Deus se põe em conflito consigo mesmo, nem se muda sua vontade, nem o que
quer finge não querer; todavia, embora nele sua vontade seja uma só e indivisa, a nós parece múltipla,
já que, em razão da obtusidade de nossa mente, não aprendemos como, de maneira diversa, o mesmo
não queira e queira que aconteça.
Tanto importa que seja próprio ao homem querer, que o seja a Deus, e a que fim se inclina a vontade de
cada um, de sorte que ou seja aprovada ou seja reprovada. Ora, mediante as vontades más de homens
maus Deus executa o que quer de boa vontade.
Aliás, pouco antes Agostinho havia dito que, por sua revolta, os anjos apóstatas, e todos os réprobos,
quanto respeita a si próprios, haviam feito o que Deus não queria; quanto, porém, respeita à
onipotência de Deus, isto de modo algum teriam podido fazer, porque, enquanto o fazem contra a
vontade de Deus, lhe é feita a vontade no que a eles se refere. Donde exclama: “Grandes são as obras
de Deus, 131. Inquirição a Lourenço, capítulo 101. CAPÍTULO XVIII 235 excelentes em todas as suas
vontades [Sl 111.2]; e assim, de maneira mirífica e inefável, não se faça, exceto por sua vontade, o que
se faz mesmo contra sua vontade, porque não se faria se ele não o permitisse; nem o permite, como se
de qualquer forma não o quisesse; ao contrário, porque o quer; mesmo sendo bom não permitiria que
mal se fizesse, exceto que, onipotente, até em relação ao mal pudesse fazer bem.”
Deus não só viu de antemão a queda do primeiro homem e nela a ruína de sua posteridade,
mas também por seu próprio prazer a ordenou. [João Calvino, Institutas da Religião Cristã,
Livro 3, Capítulo 23, Seção 7]
No ponto de vista calvinista, Deus não ama todas as pessoas por igual, ele amou alguns para
a salvação de um ponto de vista incondicional, e uma, outra parte da humanidade Deus
simplesmente ignora os mandando para uma condenação. E como Deus pode amar há esses?
Essa grande multidão de perdidos, ele ama no sentido de provisão? Mas que tipo de espécie
de amor é esse? Vendo que Jesus fala, do que vale ganhar o mundo e perder a sua alma?
Qual seria o intuito de receber todas as riquezas de Deus desse mundo, e depois condenado
ao inferno por esse mesmo Deus? Que amor é esse? Que Deus é esses que faz acepção de
pessoas e ao mesmo tempo nos obriga amar as pessoas, amar os nossos inimigos, sendo que
ele mesmo não os amou?
3. A PROVIDÊNCIA NÃO ANULA A RESPONSABILIDADE HUMANA:
Todos, afinal, cogitam meios, e os forjam com grande decisão de espírito, mercê dos quais alcancem
aquilo que almejam: ou são todas estas coisas remédios fúteis, que se tomam para corrigir a vontade de
Deus, ou a vida e a morte, a saúde e a doença, a paz e a guerra, e outras coisas que os homens, segundo
ou as apetecem, ou as abominam, tanto se esforçam, por sua diligência, seja por obtê-las, seja por evitá-
las, não são determinadas por seu decreto fixo. Até mesmo concluem que haverão de ser perversas, não
só totalmente supérfluas, as orações dos fiéis nas quais se pede que o Senhor proveja àquelas coisas
que decretou já desde a eternidade. Um cidadão íntegro mata um sicário? Então dizem que “executou o
desígnio de Deus”. Alguém furtou ou cometeu adultério? Já que fez o que fora previsto e ordenado pelo
Senhor, este é ministro de sua providência. Um filho negligenciou os remédios e aguardou
displicentemente a morte do genitor? Não pôde resistir a Deus, que havia assim pré-estabelecido desde
a eternidade. E assim a todos os crimes chamam virtudes, porquanto são subservientes à ordenação de
Deus.
De tudo constituímos a Deus árbitro e moderador, o qual, por sua sabedoria, decretou desde a extrema
eternidade o que haveria de fazer, e agora, por seu poder, executa o que decretou. Daí, afirmamos que
não só o céu e a terra, e as criaturas inanimadas, são de tal modo governados por sua providência, mas
até os desígnios e intenções dos homens, são por ela retilineamente conduzidos à meta destinada.
Pois dirás: Porventura nada acontece por acaso? Nada ocorre contingentemente? Respondo com o que
foi dito por Basílio, o Grande, com muita verdade, que sorte e acaso são termos dos pagãos de cujo
significado não devem ocupar-se as mentes dos piedosos. Afinal de contas, se todo bom êxito é bênção
de Deus, toda calamidade e adversidade são sua maldição, já não se deixa nenhum lugar à sorte ou ao
acaso nas coisas humanas. Arrependo-me, porém, de haver assim usado aqui o termo Sorte, quando
vejo que os homens têm o péssimo costume de dizer: ‘Isto quis a sorte’, onde se deve dizer: ‘Isto quis
Deus’.
Em suma, Agostinho ensina reiteradamente que, se algo é deixado à sorte, o mundo revolve ao léu. E
visto que ele estabelece em outro lugar que tudo se processa em parte pelo livre-arbítrio do homem,
em parte pela providência de Deus, contudo pouco depois deixa bastante claro que os homens estão
sujeitos a esta, e são por ela governados, uma vez ser sustentado o princípio de que nada há mais
absurdo do que alguma coisa acontecer sem que Deus o ordene, pois doutra sorte aconteceria às cegas.
A vontade de Deus é a suprema e primeira causa de todas as coisas, já que nada acontece a não ser por
sua determinação ou permissão.
Calvino negou explicitamente a simples presciência ou permissão de Deus - até mesmo para
o mal. (As Institutas: edição clássica, vol.2, p. 78).
OBS: Nós sabemos que Deus é soberano porque Deus é Deus. Portanto, devemos concluir que
Deus preordenou o pecado. Podemos concluir que a permissão de Deus do pecado entrasse no
mundo foi uma boa decisão. Mas meramente que a permissão de Deus para que pequemos, o
que é mau, é uma coisa boa. Que Deus permita o mal é bom. O envolvimento de Deus em tudo
isso é perfeitamente justo. (Sproul, Eleitos de Deus, Pg 22).
Deus não só viu de antemão a queda do primeiro homem e nela a ruína de sua posteridade,
mas também por seu próprio prazer a ordenou. (João Calvino, Institutas da Religião Cristã,
Livro 3, Capítulo 23, Seção 7).
Nem mesmo a obra do pecado parte de qualquer outra pessoa a não ser Deus. “Ulrich
Zwinglio, “On the Providence of God – Sobre a Providência de Deus”.
Predeterminação significa o plano soberano de Deus, pelo qual Ele decide tudo o que está a
acontecer em todo o universo. Nada neste mundo acontece por acaso. Deus está por trás de
tudo. Ele decide e faz com que todas as coisas aconteçam. Ele não está sentado à margem
pensando, e talvez temendo, o que vai acontecer a seguir. Não, Ele predeterminou tudo
“segundo o conselho da sua vontade” (Efésios 1:11): o movimento de um dedo, a batida de um
coração, o riso de uma menina, o erro de um datilógrafo – até mesmo o pecado [16] Edwin H.
Palmer.
Calvino em seu comentário sobre Gálatas escreveu: “Não é pouca coisa ver perecendo
as almas que foram COMPRADAS pelo sangue de Cristo”!! “E a primeira coisa em que devemos
prestar atenção é que, enquanto estamos sem Cristo e separados dele, nada do que ele sofreu e
fez pela salvação do gênero humano é de beneficio para nós”!!!
"Tenho quase certeza de que no Céu não haverá qualquer separação entre calvinistas e
arminianos. Isso não será permitido além das portas peroladas. Amigos meus da
Pensilvânia costumam brincar comigo quando eu estou lá, dizendo que haverá apenas
uma denominação no Céu- a dos irmãos em Cristo. É difícil argumentar contra isso."
Tozer ainda afirma que: "Se o pregador for um calvinista, você encontrará um bocado de
distorções e adulteração em seus sermões. O mesmo se aplica aos arminianos. A minha
pergunta é: por que não nos colocamos acima das tentativas de fazer com que as
Escrituras apoiem uma ou outra posição doutrinária? Por que não acreditamos
simplesmente na Bíblia? Creio que a fé em Jesus Cristo nos faz suplantar qualquer
mesquinhez que encontremos ao nosso redor."
"Outro perigo associado à distorção das verdades bíblicas é que, muitas vezes, ela segrega
os cristãos. Se você for calvinista, por exemplo, será constantemente admoestado a
manter-se longe dos arminianos e vice-versa: 'Sou calvinista porque esse é o único
caminho verdadeiro'. Todavia, se o calvinismo é a verdade absoluta, os arminianos devem
ser hereges de primeira ordem. Qualquer coisa que divida a comunhão dos cristãos é
nossa inimiga. Tudo aquilo que se levanta em nosso meio precisa ser renunciado pelo que
é entregue ao Senhor. De modo algum estou sugerindo que não devemos ter opiniões
pessoais, no entanto, se isso nos divide e nos afasta do bom convívio fraternal, algo está
errado. Precisamos colocar nossas opiniões nas mãos do Senhor."
Acredito que o pior perigo disso se reflita em nossa projeção para o mundo. Em vez de
pregarmos o Evangelho para alcançar os perdidos, somos tentados a desenvolver uma ou
outra linha teológica. De que adianta isso? O mundo não precisa do arminianismo ou do
calvinismo; ele precisa de Jesus.
Eu gostaria de pegar a primeira frase de Tozer e lançar uma perspectiva pessoal em cima dela. Se no
céu não haverá separação entre calvinistas e arminianos, porque aqui na terra nos cercamos com
trincheiras teológicas e deixamos de cultivar a harmonia? Por acaso, não estamos caminhando para o
mesmo céu? Se não conseguimos viver pacificamente com os que pensam diferente de nós, aqui e
agora, o que faremos quando chegarmos lá em cima? No céu todos seremos um com Cristo e tudo que
aqui neste tempo presente está obscuro, lá será revelado. Se a controvérsia arminiana x calvinista não
tem como propósito principal glorificar a Cristo e fazer sua obra, ela se torna um empecilho para o
evangelho.
TOZER, A.W. Fé transformadora: permita-se ser impactado por Deus. Rio de Janeiro Rio: Graça, 2015.
Nossos primeiros pais possuíam, por assim dizer, maior facilidade nesta relação de
amor para com Deus, pois em seu estado original tinham perfeitamente todas as
virtudes para tal (AQUINO, 2014, I, q.93, a.1, p.620). Com o pecado original esta
unidade perfeita foi rompida pelo próprio homem, ao passo que desobedeceu a Deus,
querendo iguala-se a Ele, portanto, o pecado dos primeiros pais consiste “em querer
ser como Deus, na sua autosuficiência que recusa o dom do Senhor.” (LADARIA 1998,
p.87)
Todos os homens que nascem de Adão, podem ser considerados como um só homem,
enquanto têm em comum a mesma natureza recebida do primeiro pai, do mesmo
modo que na cidade todos os membros de uma comunidade são considerados como
um só corpo e toda a comunidade como um só homem. (AQUINO, 2014, I-II, q.81, a.1,
p.424)
O gênero humano inteiro é em Adão “sicut unum corpus unius hominis- como um só corpo de
um só homem”. Em virtude desta “unidade do gênero humano”, todos os homens estão
implicados no pecado de Adão, como todos estão implicados na justiça de Cristo. Contudo, a
transmissão do pecado original é um mistério que não somos capazes de compreender
plenamente. Sabemos, porém, pela Revelação, que em Adão havia a santidade e a justiça
originais não exclusivamente para si, mas para toda a natureza humana: ao ceder ao Tentador,
Adão e Eva cometem um pecado pessoal, mas este pecado afeta a natureza humana, que vão
transmitir em um estado decaído. (CIgC n. 404)
John Piper: Theodore Beza [1 519 - 1605]?
A eleição, ele diz, é incondicional porque ela não é embasada naquilo que alguém faz após
nascer. Ela é livre e incondicional. Ele não trata muito dos não eleitos, mas afirma que Deus
escolhe alguns para não salvar, embora ele tenha compaixão deles.
John Piper, The Pleasures of Cod (Portland, OR: Multnomah, 1991), 132.
John Piper publicou um sermão, hoje muito conhecido, poucos dias após os acontecimentos
terroristas nas Torres Gêmeas de 11 de setembro de 2001, declarando que Deus não apenas
permitiu tais eventos, mas que os causou '.
15. John Piper, “Why I Do Not Say, ‘God Did Not Cause the Calamity, but He Can Use It for Good.’ ”
www.desiringgod.org/ResourceLibrary/TasteAndSee/ByDate/2001/1181_
Why_I_Do_Not_Say_God_Did_Not_Cause_the_Calamity_but_He_Can_Use_It_for_ Good/.
Alguns de seus princípios fundamentais não podem ser encontrados antes de Agostinho, pai
da igreja, no século V, e outros não podem ser encontrados antes de um herético chamado
Gottschalk (aproximadamente 867) ou a partir dele até o sucessor de Calvino, Theodore Beza.
Por fim, argumentarei que 0 calvinismo rígido entra em contradições; ele não pode ser feito
inteligível. Uma contradição pura é evidente sinal de erro; A maior contradição é a de que
Deus é confessado como perfeitamente bom ao mesmo tempo em que é descrito como autor
do pecado e do mal.
Alguém disse que nenhuma teologia que não possa ser pregada na frente dos portões de
Auschwitz é digna de ser crida. Eu, sob meu ponto de vista, não poderia ficar de pé na frente
daqueles portões e pregar uma versão da soberania de Deus que faça do extermínio de seis
milhões de judeus, incluindo muitas crianças, parte da vontade e plano de Deus de maneira
que Deus o tenha preordenado e o tornado certo. (Poucos calvinistas rígidos dizem que Deus causou o
Holocausto, mas eles dirão que Deus o preordenou e (para fazer uso da terminologia de John Piper) garantiu que ele acontecesse).
R.C Sproul:
“Se Deus não é soberano, então ele não é Deus. Pertence a Deus como Deus ser soberano” 26.
O contexto deixa claro que por “soberano” Sproul quer dizer que Deus é o determinador e
controlador absoluto de tudo até os mínimos detalhes. (SPROUL, R C. O que é teologia reformada? São Paulo:
Cultura Cristã, 2009, p 22).
Desde toda a eternidade, sem nenhuma visão prévia de nosso comportamento humano, Deus
escolheu alguns para a eleição e outros para a reprovação... A base para a escolha humana não
está somente no homem, mas no beneplácito da vontade divina. ( SPROUL, R.C. Eleitos de Deus, Editora
Cultura Cristã, 2002, p. 101).
Conforme ele explica, o decreto de eleição é positivo ao passo que o decreto de reprovação é
negativo. Em outras palavras, Deus, de maneira positiva, coloca a fé nos corações dos eleitos
enquanto que, de maneira proposital, negligência fazer o mesmo com os réprobos. A única
diferença é que Deus não cria a descrença nos corações dos réprobos; ele simplesmente os
abandona em suas condenações ao passo que Ele cria a crença nos corações dos eleitos.
SPROUL, R.C. Eleitos de Deus, Editora Cultura Cristã, 2002, p 105.
Os seres humanos nascem com uma natureza corrupta, mas são, entretanto, plenamente
responsáveis pelos pecados que não podem evitar em virtude de sua condição.
Calvino escreveu que em razão da queda de Adão o homem inteiro, da cabeça aos pés, foi,
como por um dilúvio, de tal modo assolado, que nenhuma parte ficou isenta de pecado, e em
consequência tudo quanto dele procede deve ser imputado ao pecado.
Para todos os calvinistas - pelo menos para a maioria, se não todos - todos os humanos, com
exceção de Jesus Cristo, herdam a natureza corrupta de Adão e são culpados pelo pecado de
Adão.
“U ”, DE ELEIÇÃO INCONDICIONAL:
Calvino disse: que [Deus] designou de uma vez para sempre, em seu eterno e imutável
desígnio, àqueles que ele quer que se salvem, e também àqueles que, quer que se percam.
(As Institutas: edição clássica, vol.3, p. 393).
EXPIAÇÃO LIMITADA:
Boettner, Sproul, Piper e outros apontam para passagens tais como João 10 .15 ; 11.5 1-5 2 e
17.6, 9, 19, na qual Jesus diz frases como “dou a minha vida pelas ovelhas”.
Na verdade, 1 João 2.2 claramente afirma que ele, Jesus, é a propiciação pelos pecados de todo
0 mundo.
O que eu chamo de “calvinismo” hoje inclui alguns elementos que 0 próprio Calvino não
enfatizou, isso se ele acreditou neles de alguma forma. Um exemplo disso é a “expiação
limitada”.
Aqui, é importante observar, para o entendimento do calvinismo por parte dos leitores, que a
maioria dos calvinistas nega que Deus intencionou a cruz para todas as pessoas, 0 que
significa, naturalmente, que ele não ama a todos da mesma maneira.
Boettner escreveu que “certos benefícios” da cruz foram estendidos a toda humanidade em
geral. Estes benefícios são as “bênçãos temporais” apenas e não possuem nenhuma relação
com a salvação”.
Piper ensina que Cristo realmente morreu “por todos” , mas não no mesmo sentido.
Ele diz: Nós não negamos que, em certo sentido, todos os homens são os beneficiários
pretendidos da cruz. 1 Timóteo 4.10 diz que Cristo é “o Salvador de todos os homens,
principalmente dos que creem ”. O que negamos é que todos os homens são intencionados
como beneficiários da morte de Cristo da mesma maneira. Toda a misericórdia de Deus para
com os descrentes - desde o nascer do sol (Mateus 5.45) à pregação do evangelho a todo 0
mundo (João 3.16)- torna-se possível em razão da cruz. Piper, “For Whom Did Christ Die?”
Piper e alguns outros calvinistas que acreditam na expiação limitada podem dizer a
qualquer um e a todos: “Cristo morreu por você”, sem querer dizer “Cristo morreu por
seus pecados” ou “Porque Cristo morreu por você, você pode ser salvo”. Alguns
consideram isso um subterfúgio; uma insinceridade.
Como vemos, ele não apenas se posiciona ao lado da doutrina histórica de que Cristo morreu
pelo mundo inteiro, como também refuta aqueles que pensavam que o texto de Romanos 5:19
implicava em uma expiação limitada, ao invés de uma expiação universal. Para eles, o “muitos”
do texto significava “todos”, pois estava em contraste com “poucos”. Ele declarou:
“Devemos observar, contudo, que Paulo não contrasta aqui o número maior com os muitos,
pois ele não está falando de grande número da raça humana, mas argumenta que, visto que o
pecado de Adão destruiu muitos [todos], a justiça de Cristo não será menos eficaz para a
salvação de muitos *todos+”*5+
Era assim também que ele interpretava o texto de Marcos 14:24:
“A palavra ‘muitos’ *Mc 14.24+ não significa uma parte apenas, do mundo, mas toda a raça
humana”*6+
Ele também foi claro em dizer que “sobre ele *Jesus+ foi posto a culpa de todo o mundo”*8+,
e que “Paulo diz que esta redenção foi obtida pelo sangue de Cristo, pois pelo sacrifício de sua
morte todos os pecados do mundo foram expiados”*9+.
Segundo Calvino, as almas que perecem também foram compradas pelo sangue de Cristo:
“Não é pouca coisa ver perecendo as almas que foram compradas pelo sangue de Cristo”*12+
Mas, ainda que Cristo tenha morrido por todo o gênero humano, essa expiação é ineficaz
enquanto estamos separados dele:
“Devemos, agora, ver de que modo nos tornamos possuidores das bênçãos que Deus
concedeu ao seu Filho unigênito, não para uso particular, mas para enriquecer o pobre e o
necessitado. E a primeira coisa em que devemos prestar atenção é que, enquanto estamos
sem Cristo e separados dele, nada do que ele sofreu e fez pela salvação do gênero humano é
de mínimo benefício para nós”*14]
GRAÇA IRRESISTÍVEL:
A passagem bíblica que geralmente apontam é João 6.44, onde Jesus diz: “Ninguém pode vir a
mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair”.
A graça irresistível não significa que toda a graça sempre é irresistível ou eficaz. Antes, apenas
a graça salvívica dada aos eleitos para regenerá- -los e dar a eles um novo nascimento é
irresistível e eficaz. Uma pessoa escolhida por Deus para a salvação não irá, pelo fato dela não
poder, resistir à “chamada interior” de Deus porque Deus “verga a sua vontade”. Não é uma
questão de coerção; 0 Espírito Santo não esmaga e força a pessoa a se arrepender e crer;
antes, o Espírito Santo transforma o coração da pessoa de maneira que ela quer se arrepender
e crer. Eles embasam isto na doutrina da depravação total como morte espiritual absoluta tal
que nem mesmo uma pessoa eleita tem a habilidade de responder a Deus, muito menos
buscar a Deus, até que e a menos que Deus sopre nova vida nela em regeneração e Escritura.
Os calvinistas defendem que a palavra grega traduzida por “atrair” sempre significa “compelir”
(mas não “coage”).
Boettner concorda:
“Esta mudança [regeneração através da graça irresistível através da chamada interna] não é
realizada através de compulsão externa, mas através de um novo princípio de vida que foi
criado dentro da alma e que busca o único alimento que pode satisfazê-la 50. Este confiável
líder calvinista também afirma inequivocamente que a obra do Espírito Santo na graça
regeneradora, embora irresistível, jamais viola a livre agência da pessoa: “Os eleitos são
influenciados de tal maneira pelo poder divino que sua chegada é um ato da escolha
voluntária”. Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination, 177.
Se a palavra grega para “atrair” em João 6.44 só pode significar “trazer” ou “compelir”
em vez de “cortejar” ou “chamar”, então João 12 .3 2 deve ser interpretado como
ensinando a salvação universal. Na passagem em questão Jesus diz: “Mas eu, quando
for levantado da terra, atrairei todos a mim”. A palavra grega traduzida por “atrair”,
neste versículo, é a mesma utilizada em João 6.44.
Calvino: Deus, por uma adoção graciosa, cria aqueles a quem quer ter por filhos. A causa
intrínseca disto, porém, está nele próprio, porque não leva em conta nada mais além de seu
secreto e singular beneplácito. As Institutas: edição clássica, vol.3, p. 402.
À verdadeira moda calvinista ele coloca a regeneração pelo Espírito Santo (ser nascido de
novo) antes da conversão (na ordem lógica dos eventos da salvação). Ou seja, antes que uma
pessoa seja até mesmo capaz de receber os dons da fé e arrependimento, ela deve ser feita
nova criatura em Cristo Jesus através do “chamado interno eficaz”. Em outras palavras, Deus
não pega algum potencial existente e constrói sobre ele ou extrai dele para operar a salvação
na vida da pessoa. Antes, Deus pega uma pessoa morta em delitos e pecados e a traz para a
vida, em termos espirituais.
“P” DE PERSEVERANÇA:
O quinto aspecto da TULIP é a perseverança dos santos. Esta é talvez 0 aspecto menos
controverso do calvinismo, pois muitos não calvinistas acreditam nele também, e isso
embasado nas passagens bíblicas tais como Romanos 8.35-39. Até mesmo Jacó Armínio (1560-
1609), o grande oponente do calvinismo, declarou que ele era incapaz de se decidir acerca
desta doutrina e a deixou para estudos subsequentes. Ver. Ele morreu antes de, por hm, tomar
uma posição. Declaration of the Sentiments of Arminius” em The Works of James Arminius (trad., James Nichols; Grand
Rapids: Baker, 1996), 1:667.