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Metodologia de Exegese Bíblica 0

Eliezer Belo

METODOLOGIA DE
EXEGESE BÍBLICA

EDIÇÕES CRESCER
Metodologia de Exegese Bíblica 1

Coleção: Módulos de Teologia Básico (relação correspondente às disciplinas)


01 – Introdução ao Estudo da Bíblia I
02 – Teologia Sistemática I
03 – Aconselhamento Pastoral
04 – Fundamentos Metodológicos da Educação Cristã
05 – Novo Testamento I (Evangelhos e Atos dos Apóstolos)
06 – Novo Testamento II (Introdução às Epístolas)
07 – Antigo Testamento I (Pentateuco)
08 – Antigo Testamento II (Livros históricos)
09 – Ética Cristã
10 – Escatologia Bíblica
11 – História Da Igreja I e II
12 – Geografia Bíblica
13 – Homilética
14 – Hermenêutica
15 – Antigo Testamento III (Os Salmos e os Livros Sapienciais)
16 – Teologia Contemporânea
Coleção: Módulos de Teologia Médio
17 – Antigo Testamento III (Os Salmos e os Livros Sapienciais)
18 – Teologia Sistemática II
19 – Língua Portuguesa
20 – Introdução à Filosofia
21 – Antigo Testamento IV (Profetas Maiores e Menores)
22 – Antropologia Bíblica e Teológica
23 – Teoria Comparada das Religiões
24 – História do Cristianismo no Brasil
25 – Administração Eclesiástica
Coleção: Módulos de Teologia Bacharel
26 – Teologia Sistemática III
27 – História da Filosofia
28 – Antropologia Cultural
29 – Teologia Fundamental
30 – Metodologia Científica
31 – Psicologia Geral
32 – Hebraico Bíblico
33 – Grego Bíblico
34 – Metodologia de Exegese
35 – Introdução à Sociologia
36 – Teologia do Antigo Testamento
37 – Teologia do Novo Testamento
38 – Filosofia da Religião
39 – Missiologia
40 – Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso
Metodologia de Exegese Bíblica 2
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Sobre o Autor: Eliezer Belo é Bacharel em Teologia pela Faculdade


de Teologia Integrada; Cientista da Religião pelas faculdades
Integradas Espírito Santense-FAESA (2002-2005); Licenciado em
Pedagogia pela Faculdade de Educação de Vitória, Pós-graduado em
Docência para o Ensino Superior e Especialista em Psicopedagogia
Institucional pela Faculdade Batista de Vitória-ES (2006-2009);
Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Espírito Santo
UFES (2012-2015). Atualmente é membro do Seminário Permanente
de Pesquisa em Hermenêutica e Pragmatismo do PPGFIL-UFES.

Registro no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e


Tecnlógico (CNPQ): dgp.cnpq.br/dgp/espelhorh/7030496579834694

BELO, Eliezer, 1970


Metodologia de Exegese Bíblica.
Eliezer Belo.

Espírito Santo: Edições da Faculdade de Teologia e


Filosofia Crescer.
109p. Inclui Referência
(Coleção: Módulos de Teologia)
Bibliografia
ISBN – Produção independente – 2019 –
Registrado em cartório – Material intelectual e
Diagramação

1. Bíblia 2. Metodologia 3. Interpretação


Série: Módulos de Teologia – Módulo Único
CDD - 220
Metodologia de Exegese Bíblica 3

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................. 06

CAPÍTULO I - DA EXEGESE À HERMENÊUTICA:


CONSIDERAÇÕES PARA INTERPRETAÇÃO
EXEGÉTICA DO TEXTO BÍBLICO............................. 07
1. DISTINÇÃO ENTRE EXEGESE E
HERMENÊUTICA............................................................ 08
2. EXEGESE: POR UM CONCEITO E UMA
DEFESA............................................................................. 13
2.1 SOBRE A TERMINOLOGIA....................................... 14

CAPÍTULO II - BRAVE HISTÓRICO DA


INTERPRETAÇÃO MODERNA E A
CONTRIBUIÇÃO DO MÉTODO HISTÓRICO
CRÍTICO............................................................................ 17

CAPÍTULO III - LITERATURA BÍBLICA:


HEBRAICA, GREGA E SUAS
PARTICULARIDADES................................................... 30
1. IDIOMAS DA BÍBLIA................................................. 31
1.1 HEBRAICO................................................................... 31
1.1.1. O Hebraico ao Longo da História.......................... 33
1.2 GREGO......................................................................... 40
1.2.1 Particularidades do Grego do Novo Testamento... 43

CAPÍTULO IV - TEXTO BÍBLICO: ESTRUTURA,


DELIMITAÇÃO E DESMONTAGEM.......................... 51
1. ESTRUTURA DO TEXTO.......................................... 52
2. DELIMITANDO O ESPAÇO DE TRABALHO........ 55
2.1 INDICATIVOS DE INÍCIO DE NARRAÇÃO............ 55
2.2 INDICATIVOS DE TÉRMINO.................................... 58
2.3 ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DA PARTE
DE DESENVOLVIMENTO DO TEXTO.......................... 62
3. DESMONTAGEM DO TEXTO.................................. 65
3.1 TRADUZINDO UM TEXTO BÍBLICO...................... 65
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3.1.1 Tradução Termo a Termo com Análise


Morfológica/Sintática........................................................ 72
3.2 DESMONTAGEM DA ESTRUTURA......................... 78
3.3 ATORES POR SEGUIMENTOS.................................. 80
3.4 EXEMPLO DE ANÁLISE............................................ 83
3.4.1 Análise por associação Verbo-Adjetivo.................. 87

CAPÍTULO V - ORIENTAÇÕES SOBRE AS


ABORDAGENS DA CRÍTICA........................................ 95
1. CRÍTICA LITERÁRIA (OU DAS FONTES)............ 96
2. CRÍTICA DOS GÊNEROS LITERÁRIOS................ 101
REFERÊNCIAS................................................................ 106
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PREFÁCIO
Ouço todas as semanas uma pregação, ou sou um dos
que as fazem. Das diversas vezes que estive como ouvinte
dessas pregações, me deparei com expositores citando a
Hermenêutica e a Exegese como referência para suas falas
e, pasmem, de todas as coisas que falaram pouquíssima
coisa estava relacionado com a Hermenêutica e a Exegese.
Ao longo dos anos que estive ministrando a disciplina
de Exegese e Teorias de Interpretação dos Textos Sagrados,
deixei claro para os estudantes que a interpretação da Bíblia
não é para qualquer um. E, por diversas vezes recorri à
história para afirmar isso com a seguinte declaração: “não
conheço alguém na história da igreja que tenha se
destacado, ou se tornado referência, que não tenha passado
por um longo processo de formação teológica ou
filosófica”. Na verdade, é exatamente por falta de
conhecimento e formação que as pessoas ficam à margem
da história.
A igreja evangélica contemporânea perdeu o rumo do
conhecimento bíblico para os movimentos espirituais;
criaram uma religião paralela ao cristianismo fundado no
primeiro século da era cristã e isso se deu por terem
ignorado o conhecimento da Bíblia e sobre ela. Investir no
despertamento de alunos é minha maneira de contribuir
para o retorno ao estudo da Bíblia, da Teologia
Desmistificadora e Independente, compreender o texto
sagrado sem a opressão denominacionalista. E, para isso,
entendo que o conhecimento da Exegese é fundamental e
indispensável.
Vitória, 24 de janeiro de 2020.
Eliezer Belo
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INTRODUÇÃO

O respeito e reverência ao texto bíblico deve ser um


dos parâmetros fundamentais para o interprete e estudando
de teologia, não apenas pelos textos em si, mas pelo que
eles representam à sua comunidade cristã e ao ofício do
teólogo. Esse respeito e essa reverência não deve significar
medo ou receio do uso de técnicas no processo de análise e
interpretação do material literário existente na Bíblia. Não
obstante, precisa-se também entender em que sentido se diz
“interpretação”, se em nível exegético ou em nível
hermenêutico.
Considerando os aspectos que definem o que é
interpretação, a jornada que esse material nos convida a
fazer é de entender a distinção entre hermenêutica e
exegese, desenvolver algumas técnicas de tradução,
desmontagem e análise de textos da Bíblia.
Muitos assuntos relativos ao texto bíblico e à Bíblia,
como obra literária, devem ser levados em conta. Dentre os
assuntos, considera-se a história de formação dos textos, as
fontes literárias, os gêneros de cada fração de texto e o grau
de integralidade com que esses materiais chegaram até os
dias atuais. Sendo assim, depois de entendermos tais
particularidades, podemos ter noção de como nos
aproximarmos da Bíblia para interpretá-la.
Essa tarefa de interpretar o texto bíblico é do exegeta,
hermeneuta e teólogo. Eles são os responsáveis pela
difusão desse trabalho e não podem permitir que alguém
sem essa responsabilidade, domínio das técnicas e
capacidade assumam seu lugar de interprete dos textos. Em
Israel isso não era permitido, na igreja primitiva isso não
era permitido e não pode ser permitido agora também.
Metodologia de Exegese Bíblica 7

CAPÍTULO I
DA EXEGESE À HERMENÊUTICA:
CONSIDERAÇÕES PARA INTERPRETAÇÃO
EXEGÉTICA DO TEXTO BÍBLICO

Para chegarmos a um ponto de compreensão


satisfatório em relação às ciências de interpretação bíblica é
necessário que apresentemos a distinção entre as duas
ciências que reúnem as técnicas de interpretação da Bíblia,
e hermenêutica e a exegese.

É comum que se vejam pessoas usando a


hermenêutica como se fosse a exegese e/ou fazendo o
contrário. O desconhecimento é a principal causa dessa
confusão e, ao final desse estudo, pretendemos diminuir
essa condição de desconhecimento. Por esse motivo, nesse
capítulo, tentaremos colocar na mesa as duas áreas para
esclarecer suas funções. Sendo assim, dois pontos nos
interessam neste capítulo: distinguir a exegese da
hermenêutica e entender a exegese desde o seu conceito até
sua condição insubstituível de ciência técnica mais viável
no processo de reconhecimento do material literário da
Bíblia, bem como reconhecer sua complexidade e desafios
para o pesquisador da literatura existente na Bíblia.
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1. DISTINÇÃO ENTRE EXEGESE E


HERMENÊUTICA.

Pretendemos, em primeiro plano, tratar


conceitualmente da hermenêutica e da exegese para
entendermos o papel de cada um desses métodos de
interpretação, que muitas têm suas funções confundidas ou
se tem a ideia de que uma anula a outra. Depois de
estabelecer essa distinção, podemos trabalhar com a
exegese sem ignorar o outro lado da intepretação que, em
certo grau, está atrelado a ela.
Em outra obra, de nossa autoria, que trata do trabalho
exercido pela hermenêutica, foi realizado um levantamento
sobre os conceitos de hermenêutica. Em termos gerais,
designamos que o termo “hermenêutica” originou-se do mito
grego de “Hermes”, divindade grega responsável pelos meios
de comunicação e linguagem (HEIDEGGER, 2003, p. 73). Na
sua origem, hermenêutica pretende suscitar o sentido e
compreensão das palavras.

A interpretação dos textos sagrados dos cristãos é quem


deu à hermenêutica o status de teoria da interpretação. No
entanto, com a “nova hermenêutica”, há de se considerar que
os mundos do texto e do leitor tendem a fundirem-se no
processo interpretativo. Essa fusão deu à hermenêutica uma
sustentação que a filosofia espera de seus temas e, com isso, a
hermenêutica como campo de conhecimento está mais
inserida nos temas da filosofia que nas resenhas das
interpretações dos textos sagrados, pelo menos enquanto
teoria. Não obstante, o processo hermenêutico, realmente,
está envolvido num sistema composto de via dupla, na qual
leitor e texto são mediados por outras duas condições vitais: o
mundo do texto e o mundo do leitor. É importante
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compreender essa dimensão contemporânea da hermenêutica.


Porque é nesse sentido que ela se distancia da exegese. Ao
longo desses primeiros parágrafos a distinção ficará mais
clara, pelo menos à maneira de vermos tal problema.

A fusão desses dois mundos, do leitor e do texto, que


também podemos chamar de “fusão de horizontes”, como
Gadamer (1997), é a maneira de expressar que um
determinado leitor, em qualquer lugar ou em qualquer tempo,
possa realizar uma leitura e análise de um texto e interpretá-lo
de modo prático e usual; ou seja, uma produzir uma forma de
compreensão que o permita fazer do resultado dessa análise
um ajuste á sua vida pessoal ou da comunidade à qual
pertence. Nesse sentido, o distanciamento do processo da
hermenêutica do processo de conhecimento do texto é a
finalidade com que o pesquisador ou estudante investe sobre
o texto. E, no caso hermenêutico, a finalidade é a prática de
algo que está intrínseco ao texto ao ser escrito.

Uma coisa deve ser entendida ainda: o trabalho que


submete o texto à possível aplicação prática, também depende
de uma compreensão histórica, estrutural e conjuntural à
parte. Entendendo assim, embora muitos escritores da nova
hermenêutica possam ter omitido essa possibilidade em seus
materiais, torna-se clara a necessidade da realização de um
levantamento que permita ao leitor uma aproximação do
mundo do texto para entender com mais segurança o próprio
texto.

Essa aproximação com o mundo do texto é o que


podemos dar o nome de exegese. É aproximação no sentido
de esforçar-se em desvendar aquilo que o texto pretendia em
seu momento histórico, existencial e em seu ambiente
politicamente organizado. Nesse sentido, podemos entender
que a exegese é um suporte obrigatório à hermenêutica. Dessa
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forma, ambas são interpretação e ambas estão ligadas ao


texto, mas com finalidades distintas e coexistenciais.
A interpretação e a exposição sempre se davam conta de
grande preocupação evangelística e pastoral. Seu
interesse primordial não era tanto “fazer exegese” da
Escritura como levar o leitor a uma assimilação pessoal,
prática, com todas suas implicações, da grande afinidade
e verdades da revelação de Deus culminante em Jesus
Cristo, sendo assim, exegese e assimilação são
inseparáveis (MARTINES, 1984, p. 18).
Exegese e hermenêutica são inseparáveis no processo de
interpretação da Bíblia. E são ferramentas a serem dominadas
pelo teólogo e pelo pesquisador dos textos sagrados. A
exegese oferece a matéria prima para a hermenêutica realizar
o trabalho de lapidação, conforme a exigência prática.
A hermenêutica pode ser confundida com a exegese. No
entanto, os termos em si já trazem uma distinção importante,
pois hermenêutica vem do grego hermeneuein e se traduz por
interpretar. A hermenêutica e a exegese se aplicam a qualquer
tipo de texto, principalmente textos mais antigos. Assim,
qualquer tipo de texto pode ser objeto de estudo exegético.
Considerando a distância entre os textos antigos e a
sociedade atual, faz-se necessário o estudo sistemático dos
textos bíblicos, um apanhado técnico que antecede ao
trabalho hermenêutico e isso é função das técnicas da
exegese.
Vamos tentar fazer uma analogia para entender o que
queremos explicar com essa comparação. Imagine que as
autoridades tendem a realizar um julgamento de um crime e
que os materiais colhidos pelos agentes estejam à disposição
do júri.
Ao analisar as provas, o juiz e o júri irão verificar que
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decisão hão de tomar, conforme a legislação vigente. Para


isso, será feito um trabalho de perícia em cada um dos
elementos que compõem a cena do crime. Se houver
testemunhas, elas serão convocadas a depor e esclarecer o
que presenciam. Se forem encontrados elementos utilizados
no crime, eles serão recolhidos e periciados. Depois de todo
esse trabalho, o juiz e o júri decidiram, em conformidade
com a legislação quem foi o culpado e em que
circunstâncias o crime ocorreu.
A reação do júri, normalmente, está relacionada ao
impacto que o crime causou aos seus sentimentos e os
horrores que os relatos lhes causaram. Nesse caso, as
sensações que os advogados e os promotores causaram no
júri poderá determinar o veredito.
Cada elemento é uma chave importante nesse
processo de julgamento. As provas e os trabalhos dos
peritos não podem ser ignorados, nem mesmo os materiais
encontrados na cena do crime podem ser rejeitados. Nesse
sentido é que podemos estabelecer o papel dos métodos de
interpretação.
Desses papéis podemos entender que a exegese seria
o trabalho técnico dos peritos, agentes e escrivãs por trás do
processo. Seria ante jurídico exercer um veredito sem levar
em consideração as provas materiais de um crime.
O aspecto sentimental por trás daquilo que o júri sente
está relacionado à forma de vida da sociedade, ou seja, o
impacto emocional que sentiram é aquilo que o crime causa
neles. E, esse impacto o levará a entender o quão brutal, ou
não, foi aquele ato. Esse juízo da brutalidade influenciará
na decisão do jure, ou seja, a culpa será definhada pela
intensidade do sentimento real e prático do júri. É dessa
maneira que entendemos a hermenêutica, o impacto prática
Metodologia de Exegese Bíblica 12

causado por um evento à uma determinada comunidade ou


grupo.
Nesse processo, cada um demonstrará aquilo que
moveu seus sentimentos ou decisões. Eles poderão usar as
provas técnicas em parte ou de forma completa, mas serão
analisadas todas elas, a fim de não ocorrer interpretação
que acabe determinando culpa em vez de inocência ou vive
versa.
Particularmente não vejo supressão da exegese pela
hermenêutica ou da hermenêutica pela exegese, mas vejo
duas formas de interpretação que podem ser
complementares. E, o fato de ambas terem uma história que
se desenvolve mutualmente, alguns entendem que uma
evoluiu da outra. Mas o salto da exegese para a
hermenêutica foi uma necessidade que a história da
linguística exigiu; que o campo da interpretação dos Textos
Sagrados dos cristãos tinha que considerar elementos
culturais; que o evangelho fosse compreendido no mundo
estranho ao mundo bíblico e que os textos bíblicos tivessem
condições de serem assimilados segundo o local de vida
dos leitores contemporâneos e não transformar os leitores
atuais em máquinas do tempo, se comportando como
pessoas que viveram milênios de distância deles. Assim,
exegese e hermenêutica se completam, porque uma trás a
compreensão antiga e a outra transfere essa compreensão
antiga à uma condição contemporânea.
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2. EXEGESE: POR UM CONCEITO E UMA DEFESA


Após ter lido um artigo publicado na revista
“Caminhos”, da cidade de Goiânia, escrito pela Drª. Maria
Aparecida de Andrade Almeida e por Pedro Paulo A.
Funari, foi possível perceber que a compreensão de
mutualidade e interdependência entre hermenêutica e
exegese não é um pensamento solitário de minha parte. Isso
porque o artigo trabalha com o conceito de exegese em
conformidade com aquilo temos exposto ao longo de nosso
discurso. As leituras da Drª. Maria Aparecida são aquelas
das quais também temos nos apossado e sua
especialização1 nos dá a garantia de que há interesse nas
diversas áreas de análise da história pelas teorias de
interpretação da Bíblia. No conceito presente no artigo,
fica claro que a exegese, como método, é um conjunto de
procedimentos (que nós entendemos como técnicas),
utilizadas para estabelecer o sentido de um texto (mas
especificamente estrutural), (textual, literário, dos
motivos/temas, do processo de composição e outros) a fim
de extrair dele suas mensagens (no tempo em que foram
escritos) (ALMEIDA & FUNARI, 2016, p. 47, adição
nossa).
A análise contida no artigo ainda esclarece que o
trabalho de exegese é necessário sempre que um texto
suscita um interesse durável (LACOSTE, 2004, p. 698), ou

1
Maria Aparecida de Andrade Almeida é Pós-Doutor em História e
Arqueologia pela Universidade Estadual de Campinas. Doutora e Mestre em
Ciências da Religião/Literatura e Religião no Mundo Bíblico pela Uni-
versidade Metodista de São Paulo. Bacharel em Teologia pela Faculdade
Dehoniana de Taubaté. Tem experiência nas áreas Teológica e Bíblica,
atuando nos campos Educacional e Pastoral. Integrante do Grupo de Pesquisa
Arqueologia da Repressão e da Resistência.
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seja, que tem a pretensão de mantê-lo vivo na vida de quem


tem interesse pelos seus resultados na vida prática. Manter
um texto vivo em uma comunidade é papel da
hermenêutica. No entanto, para dar vida ao texto é preciso
ter domínio amplo do material e isso é a exegese quem
oferece. Por isso, realiza-se o trabalho exegético para
apresentar o sentido primário a fim de a hermenêutica
torná-lo permanente ou duradouro.

2.1 SOBRE A TERMINOLOGIA


O termo exegese vem do grego
ἐξηγέομαι (exegeomai) e pode ter significado de relatar em
detalhe, dizer, reportar, descrever, colocar diante em grande
detalhe, expor. O termo em si tem origem no
substantivo, ἐξήγησις (exegesis), que pode significar
também narração de uma descrição detalhada, narrativa,
descrição; colocação algo adiante em grande detalhe,
explicação, interpretação e significa ainda conduzir, guiar,
dirigir, governar, explicar pormenorizadamente, interpretar,
ordenar, prescrever, aconselhar, arrancar para fora do texto
(FREEDMAN, 1992, p. 682-3).
É importante considerar também a distinção entre
Eisegesis, que realiza uma introdução de alguma coisa ao
texto, segundo o desejo particular e de interesse próprio,
independente daquilo que o texto propõe. Diferente disso, a
exegese é, literalmente, “tirar de dentro para fora” (ex-ago),
extrair o significado, interpretar (FREEDMAN, 1992, p.
682-3). Essa extração de algo que está no texto exige uso
de métodos e técnicas científicas, com auxílio das ciências
humanas (história, geografia, arqueologia, paleografia,
história das religiões comparadas, entre outras)
(ALMEIDA & FUNARI, 2016, p. 47). A ofertas que as
Metodologia de Exegese Bíblica 15

técnicas e métodos científicos dispõem podem oferecer


certo grau de precisão em relação às características e
particularidades dos materiais literários, essa oferta não
pode ser desprezada em hipótese alguma (lembre do
veredito que citamos acima).
Considerando tanto a etimologia do termo quanto seu
significado, entendemos que Exegese Bíblica é um
conjunto de procedimentos investigativos, com a intenção
de desvendar aquilo que cada autor, estrutura da obra,
formas literárias, ambiente de vida (ou sitz im Leben),
cenários que o envolve, entre outros.
Ao que parece, alguns dos especialistas em
interpretação bíblica, fazem do trabalho da exegese e
hermenêutica, um ambiente com a nomenclatura de
“Exegese Bíblica” (VIRKLER, 1987, p. 9-33). É o caso
também de Uwe Wegner (2001), que entende o termo
sempre no sentido de explicação e interpretação, de
encontrar a real interpretação dos textos que formam o
Antigo Testamento e o Novo Testamento. Assim, esse
trabalho composto, que engloba exegese e hermenêutica,
resumido na expressão “Exegese Bíblica”, se apropria do
conhecimento a respeito das línguas originais (gramática,
semântica e sentido do hebraico, aramaico e grego), da
confrontação dos diversos textos bíblicos e das técnicas
aplicadas na linguística e na filosofia (WEGNER, 2001, p.
11).
Para ser mais específico, não me distanciarei daquilo
que a Drª. Maria Aparecida conclui no artigo, na verdade
reitero aquilo que ela mesma extrai de Wilhelm Egger:
O uso de uma metodologia na exegese do texto bíblico
não é fortuito, mas cumpre duas funções específicas:
viabilizar a obtenção do conhecimento científico da
Metodologia de Exegese Bíblica 16

Bíblia e possibilitar a sistematização lógica desse saber.


O método em exegese, por conseguinte, requer o
emprego de uma ordenação dos diferentes processos
serão empregados para alcançar determinados resultados.
Entende-se por processo, a forma como determinada
técnica é aplicada, isto é, o modo específico de executar o
método (EGGER, 1994, p. 48).
Procurar determinar os espaços ocupados tanto pela
exegese quanto pela hermenêutica e o que ambas realizam
com seus resultados é fundamental. Particularmente me
ponho na posição de conciliador em relação aos termos
“exegese”, “hermenêutica” e “Exegese Bíblica”. Diria
então que os espaços de trabalhos definem-se no uso das
técnicas e métodos científicos dos quais cada uma se
apropria. No caso em que hermenêutica apela em encontrar
os sentidos dos textos para sua prática e permanência, sua
distinção não é muito clara em relação ao trabalho da
exegese. Dessa forma, me ponho na condição de apoiar a
expressão “Metodologia de Exegese”, para traçar um limiar
entre os conceitos e também à função da exegese em
relação à hermenêutica no processo de interpretação
bíblica, pois “Metodologia”, implica especificamente uso
de técnicas e são essas técnicas que diferem os resultados
de uma e outra.
Metodologia de Exegese Bíblica 17

CAPÍTULO II
BRAVE HISTÓRICO DA INTERPRETAÇÃO
MODERNA E A CONTRIBUIÇÃO DO MÉTODO
HISTÓRICO CRÍTICO

A interpretação dos textos sagrados não é algo novo e


os processos de interpretação foram se desenvolvendo, de
início, lentamente. Isso porque o aspecto religioso, com
crenças em torno da “Palavra Divina”, eram fatores que
reduziam a investida em novidades. Com o passar dos
séculos e a experiência com novas culturas e novos
conhecimentos foram, aos poucos, permitindo inovações no
processo de interpretação.

As mudanças de endereço cultural das classes


intelectuais obrigavam a retomada das antigas tradições a
fim de tornarem os textos interpretáveis. A Halacá, por
exemplo, era uma instrução em conformidade com os
textos escritos, uma maneira de interpretar a lei e torná-la
prática às novas experiências do povo. (LOHSE, 2000, p.
158). Esses princípios da práxis precisavam estar de acordo
com princípios fundamentais das tradições antigas.
Desde que nenhum princípio ou lei podiam ser
estabelecidos por invenção, mas sim por relação com um
princípio que já existisse, os rabis tornavam-se
especialistas em deduzir inferências da lei existente ou
oral ou escrita, a fim de abranger todos os casos que
possivelmente lhes viessem a ser postos. Os. Registros
desses casos e dos respectivos argumentos e que
constituíam o Halakath (TENNEY, 1995, p. 137).
O que se pode observar nesse sentido e que a Halacá
é o meio por onde de mantém o ponto de encontro entre os
fundamentos das tradições antigas. Isso é um exemplo de
que o passado deve ser compreendido e reajustado. Essa
Metodologia de Exegese Bíblica 18

compreensão do passado não é um ato aleatório ou de


interesse à revelia, mas um ato de responsabilidade com a
formação histórica dos fundamentos de uma tradição ou
comunidade. É isso que a exegese representa para o
trabalho teológico, respeito às tradições e aos fundamentos
(respeito, mas não veneração).
O conhecimento da lei era peculiar a todo israelita,
mas as possibilidades de um conhecimento mais avançado
dependiam da habilidade de leitura. Mas é possível
perceber que o advento do Cristo, na pessoa de Jesus,
trouxe aos israelitas convertidos ao cristianismo, no
primeiro século, uma exigência de analisar e interpretar os
textos à luz de sua experiência. Com isso, aquelas
interpretações da Lei precisavam ser reavaliadas e o retorno
aos fundamentos e tradições passa por uma nova etapa.
A forma de pensamento mediada entre judeus e
gregos fortaleceu a compreensão dos cristãos e transformou
a interpretação da lei numa mensagem capaz de ultrapassar
os limites culturais e geográficos de Israel (ROBERT &
FEUILLET, 1967, p. 148). Foi um trabalho complexo e
marcante na interpretação da literatura judaica, mas
reavivar tradições antigas e torná-las atuais foi trabalho de
quem tinha domínio da língua e das tradições. Ainda não se
pode chamar esse procedimento de metodologia de exegese
no sentido que usamos atualmente, mas um embrião
daquilo que se pode chamar de exegese.
Nos séculos posteriores ao primeiro século, a
interpretação tem poucos avanços em relação a métodos,
mas a preocupação com a transposição do texto e
mensagem levou os cristãos a utilizarem um sistema
alegórico de interpretação. E por muitos séculos a igreja,
fez uso do método alegórico. Mas, em função dos exageros
Metodologia de Exegese Bíblica 19

e da suposta autoridade do clero, as interpretações


alegóricas se tornaram um dos principais motivos da
reforma religiosa.
Um principais interpretes desse método foi Filon de
Alexandria, perto do ano 20 a.C. ao 54 d.C. Depois dele,
Orígenes também usa o método alegórico. E, seguindo o
mesmo caminho de Filon, Ambrósio de Milan, Agostinho e
outros. Por mais de mil anos, a alegoria fora o método de
interpretação mais usado pela igreja.
A exegese enquanto método científico tem seu perfil
moldado a partir da era moderna, a partir do século XVII,
quando Jean Astruc (1684-1766) fez documentos sobre
memória original dos textos do Antigo Testamento.
explicando que as repetições do pelo uso variado de
“Elohim” (derivado do documento A) e “Jeová”
(Documento B), abrindo portas para a hipótese dos
documentos com a distinção de quatro fontes bíblicas para
o pentateuco: J (javista), E (Eloista), D (Deutoronomista) e
P (Sacerdotal) (cf. FITZMYER, 2005, p. 22).
No início do século XX com a filosofia hermenêutica
de Wilhelm Dilthey, Martin Heidegger e Hans-Georg
Gadamer, ocorreram mudanças significativas na exegese,
pois se via com clareza a necessidade de distingui-la da
hermenêutica que vinha nascendo com a compreensão da
relação entre o autor, o texto e o leitor. Nessa mesma
direção, Os trabalhos exegéticos de Karl Barth e de Rudolf
Karl Bultmann, que ao analisarem o material antigo, viram
que o conhecimento sobre eles, como realmente foram
produzidos, não eram compatíveis com a linguagem atual.
Era uma linguagem mítica e o homem moderno tinha
adquirido uma visão científica do mundo. Isso dá ao campo
Metodologia de Exegese Bíblica 20

da interpretação mais amplitude de recursos e novas


perspectivas de interpretação.
Os desafios de interpreta da Bíblia ainda são
inúmeros, mas as alternativas e descobertas vem abrindo
caminho cada vez mais prazeroso no desenvolvimento dos
procedimentos de interpretação. A distância entre a
sociedade atual e a sociedade da qual os textos falam não
existe mais. No entanto, o trabalho dos peritos conta com
ferramentas cada vez mais interessantes e tornando capaz
de se aproximar com registros históricos paralelos. A
Bíblia é um material literário e histórico e a leitura bíblica
precisa ser também uma leitura histórica. Sem compreender
essa história, corre-se o risco de também não compreendê-
la.
A cultura da sociedade que vivenciou e preservou as
experiências contidas na Bíblia são profundamente distintas
das culturas ocidentais, onde a Bíblia possui grande
influência no comportamento. As diferenças culturais entre
Ocidente e Oriente são gigantescas. A falta de
conhecimento quanto condições sociais e culturais do
ambiente bíblico é um fator que torna a aproximação plena
da sociedade ocidental praticamente impossível.
A compreensão e domínio das estruturais linguísticas,
particularmente a literária é um fator que torna a
interpretação ainda mais dolorosa. A Bíblia não foi escrita
em idioma contemporâneo, mas basicamente em Hebraico
e Grego. E isso nos distancia significativamente da
interpretação real, porque em muitos casos não há palavras
em português para traduzir expressões da época.
A tentativa de superar esses obstáculos elevou a
necessidade de juntar às técnicas novas ofertas da
linguística, das análises literárias, da história e da
Metodologia de Exegese Bíblica 21

arqueologia. Métodos surgiram como ferramentas de


interpretação que pudessem romper as barreiras da
distância. O Método Histórico Crítico é um desses
mecanismos de superação e, seu surgimento remete aos
primeiros trabalhos realizados por Nicolal de Lira (1270-
1349) e Jean Astruc (1684-1766).
A principal forma de trabalho do Método Histórico
Crítico está na identificação do gênero literário.
Compreender os gêneros literários é passo importante no
processo analítico dos textos (BERGER, 1998, p. 14). O
Método Histórico Crítico ainda é largamente empregado na
interpretação bíblica realizada por especialistas exegetas e
teólogos acadêmicos.
O método Histórico Crítico possui alguns princípios que
fundamentam seu funcionamento:2
a) Histórico
É histórico porque lida com textos antigos, situando-os
no contexto histórico em que foram escritos e redigidos até a
sua forma final. Procura identificar também a autoria e
destino dos textos. A análise de conjuntura para textos e a
análise realizada pelo método Histórico-gramatical podem
servir de apoio ao Método Histórico Critico. Há um espaço
mais adiante que mostrará como essa atividade pode ser
desenvolvida.
b) Crítico
Ele ajusta-se como crítico por usar critérios para julgar
o texto de forma objetiva, com relação aos aspectos históricos

2
Esses princípios fazem parte da análise de Joseph A. Fitzmyer, na obra A
Bíblia na Igreja (ver em REFERÊNCIAS).
Metodologia de Exegese Bíblica 22

e literários, empregando o estilo da crítica literária sobre as


formas e gêneros dos textos.

c) Analítico
Sua característica de princípio analítico consiste em se
esforçar na tentativa de dar ao leitor melhor compreensão da
intenção do autor do texto e maior abertura ao entendimento
da revelação Divina nos textos bíblicos.
Todos os métodos que trabalham com textos antigos
possuem passos específicos no processo de interpretação. O
método Histórico-crítico inicia seus trabalhos com perguntas
preliminares em relação ao texto. Vejamos:
A série de perguntas por em que se iniciam os trabalhos
desse método baseiam-se na sequência: sobre a autoria, data e
local de composição dos textos, a unidade ou integridade, o
motivo e propósito da redação do texto, dependência literária
de outros textos, o esquema e o conteúdo que compõem suas
partes.
Apesar de muitos estudantes iniciais terem preocupação
com a ideia de “crítica”, é necessário entender que esse
método propõe excelente abertura às análises mais amplas em
relação ao texto. A “crítica” presente nele á uma postura
metodológica e não um juízo de valor sobre os textos. O
princípio dessa crítica é de base textual e procura determinar
quais são os textos mais antigos e melhores manuscritos dos
diversos livros da Bíblia, a família e a que tradição pertence.
Outra fonte extremamente importante de análise dos
textos que o método Histórico-crítico usa é a análise
filológica. Essa análise se volta para os aspectos gramaticais,
semânticos, morfológicos e sintáticos dos textos bíblicos, com
a finalidade de descobrir o sentido das palavras e frases nas
Metodologia de Exegese Bíblica 23

sentenças presentes em cada porção dos textos. Para entender


que esse método é uma soma de outros métodos, essa análise
é extremamente próxima à que o método Histórico-gramatical
realiza.
Dentre as diversas ferramentas usadas pelo método, há
aquela que procura encontrar os sentidos das palavras usadas
ao longo do texto. Essa é uma ferramenta de análise literária
que tem importância significativa em relação ao uso de
palavras próprias de cada autor, porque pretende designar os
sentidos dessas palavras desde o sentido lexical até o
semântico. Observe:
 Sentido textual: designa os significados como estão
apresentados no dicionário, sentido lexical.
 Sentido Contextual: É o sentido das palavras e frases no
contexto mais amplo em que se encontram, da vida à história.
 Sentido Relacional: É o sentido de determinadas palavras
ou frases na obra inteira do autor ou num conjunto de obras,
uma perspectiva da peculiaridade dos autores e a maneira
com que cada um escreve.
É preciso entender que não há um método perfeito. É
importante usar métodos variados em todos os trabalhos de
exegese e de hermenêutica. O uso exclusivo de um único
método indica fragilidade e incompetência no processo de
interpretação.
A deficiência do método Histórico-crítico é que ele se
restringe à procura do sentido do texto bíblico nas
circunstâncias históricas de sua produção e não alcança outras
potencialidades manifestadas no decorrer da história da
Igreja. Mas o método pode se tornar dinâmico, a partir do
momento em que o especialista entenda que essa seja sua
limitação, é permitido adicionar a ele outros elementos que o
Metodologia de Exegese Bíblica 24

tornarão mais eficientes, particularmente, neste aspecto dos


efeitos do texto ao longo da história.
O Método Histórico Crítico faz uso de várias técnicas e
métodos científicos como complementares do processo de
interpretação e análise de textos. Essas ciências e métodos
devem ser considerados pelo pesquisador e teólogo porque
envolvem o mundo de existência dos textos e apresentam
informações significativas. Vejamos quais são e como podem
contribuir:

a) A Arqueologia
É importante entender que os interesses pela história
está sempre no presente, que as sociedades antigas não tinham
motivações para retornarem à história dos seus antepassados.
Normalmente seus interesses eram em torno de preservação
de certas tradições e costumas. No entanto, nos últimos dois
séculos, os interesses científicos em torno da história vêm
sendo ampliados e, com isso, dados preservados pelo tempo,
em lugares anteriormente desconhecidos, passaram a integrar
a estante da biblioteca das ciências. Neste caso, a Arqueologia
tem dado significada contribuição.
O trabalho de escavações, a partir da própria
experiência dos arqueólogos, vem criando um corpo de
técnicas que, naturalmente vem se aperfeiçoando. Os novos
métodos de escavação foram aparecendo de acordo com os
desafios encontrados em cada novo sítio. O próprio conceito e
objeto da Arqueologia veem sendo modificado, já que sua
tentativa de encontrar os princípios de formação das
sociedades e de sua história vem se distinguindo aos poucos
da busca local que era feito nos séculos XVI e XVII
(MOMIGLIANO, 2004, p. 87).
Metodologia de Exegese Bíblica 25

Com relação aos materiais que envolvem os eventos


bíblicos, de início, a arqueologia trabalhava a partir de dados
de dentro da própria Bíblia. Quando isso era feito, com a
particularidade exclusiva da Bíblia, para os conservadores e
literalistas foi uma época de segurança pessoal. Mas,
atualmente, a arqueologia bíblica se emancipou e já não
trabalha mais a partir da Bíblia. Alguns dados conquistados
atualmente pela Arqueologia questionam informações dadas
pela Bíblia, informações que antes eram vistas como
verdadeiras e seguras. Essas descobertas e informações
devem ser acompanhadas rotineiramente pelo exegeta, pois
podem surgir dados culturais e sociais importantes no
processo interpretativo e histórico da Bíblia.

b) Antropologia
O ser humano é algo presente em praticamente todo
evento. Ele quem se interessa por preservar suas tradições.
Esse ser humano é visto nas mais diversas dimensões nas
áreas das ciências. Mas a principal metodologia de estudo do
ser humano é a Antropologia. Diferente do que muitos
leitores pensam, a Antropologia não está limitada ao estudo
das características físicas do ser humano, nem mesmo apenas
em sua evolução estrutural, mas também em torno do
conhecimento sobre sua culturas, hábitos e costumes. Sua
abordagem científica está relacionada com a sociológica, mas
se interessa por fatores da vida humana e comunitária que a
sociologia se limita, tais como: linguagem, arte, religião,
folclore, mitos e lendas. Talvez, do ponto de vista prático, a
Antropologia, no ramo da cultura, seja aquela que mais
influencia a coleta de dados para a exegese bíblica. Entender
diferenças entre grupos sociais, os limites de seus hábitos, ou
traços particulares de grupos nacionais em relação a pequenos
grupos da mesma sociedade é uma área na qual a
Metodologia de Exegese Bíblica 26

Antropologia Cultural tem prioridade no processo de análise.


Além disso, ela pode estudar característica humana como
honra e vergonha, educação e escola, família e lar; as relações
entre homem e mulher, patrões e empregados.
A antropologia analisa ainda a condição e natureza
humana na perspectiva das religiões. Nesse ramo, ela
apresenta funções da religião em determinada cultura. É
evidente que se trata de uma análise específica do papel da
religião em um ambiente sociocultural, ou seja, uma cultura
marcada pela religião e/ou uma religião marcada por uma
cultura. No entanto, em textos religiosos, particularmente
na Bíblia, as alusões ao ser humano passam pelo filtro
religioso, em casos do Antigo Testamento, a religião
judaica e no Novo Testamento, a perspectiva cristã.
A análise da religião, nesse campo da Antropologia,
entende que a religião conduz a sociedade em um caminho
de compreensão que permite fazer do ambiente religioso
um ambiente influenciador:
1) Psicológico: provê apoio, consolação e
reconciliação. A religião provê suporte emocional para
vencer e capacitar o homem a um relacionamento com o
Divino e os demais seres humanos.
2) Transcendental: provê segurança e direção,
optando para um campo de reflexão do qual a natureza
fragilizada do mundo físico não tem qualquer domínio. A
religião faz provisão de absoluto ponto de referência no
qual o homem pode adequar-se a um mundo de constantes
mudanças.
3) Sacralização: ela vem legitimar a vida e as práticas
religiosas a partir de normas e valores próprias para uma
determinada sociedade, ou ajustá-los à outra. Leva o
Metodologia de Exegese Bíblica 27

indivíduo a fazer parte de alvo social comum e torna


legítimos os alvos de um grupo e os significados de
alcançar estes alvos. Ela age numa sociedade, levando-a a
legitimar e justificar a sua organização, sua maneira de ser
e de fazer.
4) Profética: critica normas e valores, como os
profetas do Antigo Testamento. Assim como a religião
regulamenta normas e valores, ela condena aquelas normas
e valores que não são corretos aos seus olhares.
5) Identificação: a religião diz quem é o ser humano a
si mesmo, traz identidade e pessoalidade. “Religião
proporciona o senso individual de identidade, desde o
distante passado ao ilimitado futuro. Este indivíduo
expande seu ego ao fazer seu espírito significante para o
universo e o universo significante para ele. Desta forma a
religião contribui para a integração da personalidade”.
6) Maturação: ela marca a passagem de um indivíduo
pela sua vida na sociedade. Desde que a vida é sagrada e
relacionada ao supernatural, esta função marca os estágios
da vida e se expressa através dos ritos de passagem. Ela
marca e ajuda fixar momentos importantes na vida do
indivíduo dentro de uma comunidade, tais como:
nascimento, batismo, noivado, casamento, funeral, etc.
Legitima rituais para marcar entradas e saídas do universo
da vida (GRUNHAN, 1979, p. 239).

c) Sociologia
A bíblia reflete algumas sociedades humanas,
ambientes diferentes e condições sociais diversas. Com
isso, o material literário da Bíblia resulta da incorporação
de traços sociais do ambiente onde que nasceu. Mais
Metodologia de Exegese Bíblica 28

importante no contexto da exegese bíblica é que a


abordagem sociológica da Bíblia vem despertando renova-
do interesse. Sua contribuição tem sido importante no
aprimoramento do método histórico-critico. A sociologia
pode contribuir com significativo material e ampliar a
compreensão exegética em muitos pontos (WEGNER,
2001).

d) Análise Comparativa
O olhar sobre o mundo no contexto da Bíblia é
predominantemente judaico e o exegeta não pode deixar de
observar outros documentos do oriente antigo. Os avanços
em conhecimento sobre línguas semíticas e orientais
ajudaram no entendimento de certas culturas e tradições
antigas que faziam divisas com os judeus, permitindo um
conhecimento mais amplo sobre o mundo bíblico. Depois
do desenvolvimento dessas áreas de conhecimento ficou
evidente que há ideias que perpassam os textos religiosos
do Oriente antigo sobre vários temas bíblicos. Temas como
a criação do mundo e da humanidade, o dilúvio e as mi-
grações de povos são comuns nestes textos. Descobertas de
manuscritos antigos abriram perspectivas novas para os
estudos da Bíblia. Como ocorreu em 1945, no Egito,
chamada de Biblioteca Copta de Nag Hammadi (POIRIER;
MAHÈ, 2007) e outra em 1947, na Palestina, em cavernas a
oeste do Mar Morto, são os chamados Manuscritos do Mar
Morto ou Documentos de Qumran (MARTINEZ, 1995, p.
15-29).
Alguns fatos que ocorreram no Antigo Oriente foram
desvendados em trabalhos arqueológicos no século
passado. Com essas descobertas e a publicação do Ancient
Near Eastern Texts Relating to the Old Testament with
Metodologia de Exegese Bíblica 29

Supplement, editado por James B. Pritchard (1969), foi


possível entender que houve participação ampla em relação
ao povo diverso dos judeus em eventos narrados do
material bíblico. A importância é de entender que há
possibilidade de se encontrar boas informações nesse
material que envolve alguns relatos e que também estão no
Antigo Testamento. O método histórico-crítico pode
determinar o contexto histórico de um texto. A
determinação do contexto histórico no qual um texto foi
produzido é fundamental para se entender a linguagem, as
circunstâncias e o contexto histórico ao qual se refere.
Nessa questão, a análise comparativa é uma ferramenta
riquíssima para estabelecer juízos interpretativos, sem a
exclusividade do olhar judaico.
Metodologia de Exegese Bíblica 30

CAPÍTULO III

LITERATURA BÍBLICA: HEBRAICA, GREGA E


SUAS PARTICULARIDADES

A Bíblia não foi escrita em nossa língua, embora


possamos encontrar boas versões em língua portuguesa.
Mas é importante ao estudante ter o melhor domínio
possível dos dois principais idiomas da Bíblia: O Hebraico
e o Grego.
Ambos os idiomas, o Hebraico e o Grego, são línguas
que não são mais faladas como eram faladas na época dos
textos bíblicos. Isso se dá pela condição histórica de
desenvolvimento delas. Isso significa que os próprios
textos bíblicos podem ter sofrido alterações ao longo de seu
desenvolvimento.
A mudança que pode ocorrer nos textos da Bíblia
deve-se ao fato de que os textos foram escritos ao longo
dos séculos, mesmo sendo textos pertencentes a um mesmo
livro, ou seja, há textos de um mesmo livro que foram
escritos em épocas diferentes e, por isso, pode apresentar
textos com significativas mudanças, dependendo do grau
de evolução que a língua sofreu, ao longo de seu
desenvolvimento, de uma parte do texto à outra. Essa
condição do texto será apresentada nas linhas abaixo.
Metodologia de Exegese Bíblica 31

1. IDIOMAS DA BÍBLIA

Embora o conhecimento a respeito dos textos


sagrados originais não seja ainda o desejado, em função de
sua fragmentação e acessibilidade, entender os idiomas nos
quais os textos foram escritos é fundamental para se ter
abertura a um conhecimento mais profundo daquilo que ele
propõem. Então, compreender e ser capaz de produzir uma
tradução é o passo inicial para se trabalhar o texto. Mas o
trabalho de tradução não é algo simples de se realizar, mais
complexo do que o esperado é quando se percebe que
algumas expressões não se adequam às ideias
contemporâneas. Sendo assim, desse trabalho de tradução
também resulta uma intervenção interpretativa.
Para podermos entender o processo de tradução,
precisamos entender almas questões importantes dos
idiomas da Bíblia.

1.1 HEBRAICO3

O hebraico pertence às línguas semíticas que surgiram


no Oriente Médio a partir do segundo milênio a.C. e que foi

3
Esse trecho do trabalho resulta de uma análise, resenha e observações
extraídas do Artigo: Características da Língua Hebraica: Hebraico Arcaico,
Hebraico Pré e Pós-Exílico, Hebraico de Qumran e Hebraico Massorético de
Tiberíades. Publicado na Revista Estudos da Religião. São Bernardo do
Campo: Nª 21; páginas 165-195. Ano XV, dezembro, 2001. Da Autoria do
Professor Edson de Faria Francisco, É linguista e professor do Departamento
de Bíblia da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), responsável
pelas disciplinas Hebraico Bíblico e Grego Bíblico e Doutor na área de
Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas pela Universidade de São
Paulo (USP).
Metodologia de Exegese Bíblica 32

um fator importante no desenvolvimento histórico e


cultural dessa região do mundo. Essas línguas foram
encontradas ao longo de vasta região do Oriente Médio, se
estendendo desde a Mesopotâmia até a Arábia e a Etiópia
incluindo a região siro-palestina. A denominação de
“línguas semíticas”, criada por August S. Schlözer. Essa
denominação está relacionada com o personagem Sem (Gn.
10.21-31), um dos filhos de Noé, ancestral dos povos
semita.
Aas línguas semíticas foram e continuam sendo
estudadas entre diversos linguistas. Alguns as classificam
nos seguintes grupos: Grupo nordeste (norte-oriental):
acádico, assírio e babilônico; Grupo noroeste (norte-
ocidental): hebraico, hebraico samaritano, aramaico,
siríaco, ugarítico, fenício, canaanita, moabita, edomita,
púnico e nabateu (FRANCISCO, 2001).
As características mais relevantes que são comuns
entre as línguas semíticas são que todas são escritas da
direita para a esquerda, exceto o acádico e o etíope que são
escritos da esquerda para a direita. Além dessa
peculiaridade, os sistemas alfabéticos são consonantais.
Algumas línguas semíticas desapareceram há muitos
séculos, como o acádico, o ugarítico, o fenício, o moabita,
o assírio e o babilônico, enquanto outras são faladas, ainda,
por pequenas populações do Oriente Médio. Neste
contexto, o árabe é a língua semítica mais falada hoje e o
hebraico, depois de ressurgido desde o século XVI e como
língua falada desde o século XX, é hoje usado por cerca de
mais de seis milhões de pessoas no moderno Estado de
Israel (FRANCISCO, 2001, p. 2).
Metodologia de Exegese Bíblica 33

1.1.1. O Hebraico ao Longo da História


Como toda língua, o hebraico passou por alterações
ao longo de sua evolução. Suas estruturas gramaticais e
fonéticas sofreram modificações. A datação dos períodos
históricos da língua hebraica pode ser classificada da
seguinte forma:
a) Hebraico arcaico: séc. XIII ao séc. X a.C.;
b) Hebraico pré-exílico ou hebraico clássico: séc. X ao VI
séc. a.C.;

c) Hebraico pós-exílico ou hebraico tardio: Xi séc. ao II


séc. a.C.;

d) Hebraico de Ḥirbet Qumran: II a.C. ao II séc. d.C.;

e) Hebraico rabínico ou hebraico talmúdico ou ainda neo-


hebraico: II séc. ao séc. X;

f) Hebraico medieval: séc. X ao séc. XV e;

g) Hebraico moderno ou hebraico israelense: séc. XVI ao


séc. XXI (FRANCISCO, 2001, p. 3).

Para pesquisadores, das diferentes evoluções acima,


os três primeiros (arcaico, pré-exílico e pós-exílico) são
considerados desenvolvimento do hebraico bíblico. Sobre
as literaturas produzidas em cada estágio do hebraico
bíblico, algumas são relevantes para o estudo do processo
de desenvolvimento. É possível diferenciar o Hebraico
bíblico a partir de alguns textos, conforme descrição
abaixo:
a) Arcaico:
Metodologia de Exegese Bíblica 34

Gênesis 49, Êxodo 15, Números 23 e 24,


Deuteronômio 32 e 33, Juízes 5.2-31, 1Samuel 2.1-10;
2Samuel 22.2-51; 2Samuel 23.1-7; Salmo 18, Salmo 29,
Salmo 68 etc.;

b) Pré-exílico ou hebraico clássico:


O Pentateuco, Josué, Juízes, 1Samuel e 2Samuel,
1Reis e 2Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Amós, Oseias,
Miqueias etc.;

c) Pós-exílico ou hebraico tardio:


Esdras, Neemias, I Crônicas e II Crônicas, Ester,
Rute, Lamentações, Eclesiastes, Daniel, Cântico dos
Cânticos, Joel, Obadias, Ageu, Zacarias etc.;

d) Hebraico de Hirbet Qumran:


Habacuque, o Testamento dos Doze Patriarcas, a
Regra da Associação, o Documento de Damasco, a Regra
da Guerra, o Rolo do Templo etc.;

e) Hebraico rabínico ou hebraico talmúdico ou neo-


hebraico:
A literatura tanaítica, a literatura amoraítica, a Mishná
(a seção do Talmude escrita em hebraico) etc.;

f) Hebraico medieval:
Comentários de rabinos como Rashi (rabino Salomão
Metodologia de Exegese Bíblica 35

ben Isaque), Naḥmânides (rabino Moisés ben Naḥman de


Gerona), Maimônides (rabino Moisés ben Mai-mon),
Abraão ibn Ezra, Davi Qimhi de Narbonne, Saadia ha-
Gaon, poemas de judeus espanhóis como Salomão ibn
Gabirol, Judá ha-Levi, entre outros.

g) Hebraico moderno ou hebraico israelense:


A literatura rabínica e israelense moderna em todas as
áreas (poesia, história, ciência, educação etc.). Literatura
rabínica: Jacob ben Ḥayyim e Elias Levita. Na poesia pode-
se citar alguns nomes: Amós Oz, S. Y. Agnon, Nathan
Alterman, Ḥayyim Naḥman Bialik, Reuven Rubin, A. B.
Yehoshua, entre outros.
Para entendermos o que cada uma dessas evoluções
representa para a interpretação do texto bíblico e o trabalho
do exegeta, vejamos algumas particularidades entre elas.
A Bíblia Hebraica foi composta entre o século XII e o
II século a.C. e o seu vocabulário possui muitas palavras
relacionadas com o a religião, moral e emoção, além de
haver palavras relacionadas da vida diária, animais
domésticos e utensílios domésticos. O número de palavras
da Bíblia Hebraica é limitado, um pouco mais de 8.000
vocábulos e cerca de 2.000 deles são palavras ou
expressões que ocorrem só uma vez ao longo de seu texto
(é o que chamamos de hapax legomenon) (SILVA, 2000, p.
137). Estudos indicam que hapax legomenon encontra-se
nos livros de Jó, Cântico dos Cânticos, Isaías, Provérbios,
Naum, Lamentações e Habacuque. Já os que apresentam
menor registro são I Crônicas, II Crônicas, I Reis, II Reis,
Josué, Êxodo, I Samuel e II Samuel (FRANCISCO, 2001,
p. 3).
Metodologia de Exegese Bíblica 36

O hebraico é uma língua semítica norte-ocidental do


grupo cananeu. Assim que os israelitas se estabelecerem na
terra de Canaã, por volta do século XIII a.C., adotaram a
língua dos cananeus, o canaanita e, do canaanita, surgiu o
hebraico. Os ancestrais dos israelitas provavelmente eram
arameus e falavam uma antiga forma de aramaico (Gn
31.47 e Dt 26.5). No texto bíblico hebraico, o idioma dos
israelitas não é chamado de “hebraico”, mas língua de
Canaã ( ) ou judaico ( ) (II Rs 18.26; 18.28;
Is 36.11; 36.13; Ne 13.24 e II Cr 32.18), dando a ideia de
ser um “idioma oficial” de Judá e de Jerusalém. No
entanto, é possível que haja também variações regionais em
relação ao sul e ao norte das comunidades de Israel ao
longo dos séculos. Percebe-se isso ao estudar as línguas
modernas, alguns jargões, gírias e sotaques podem
diferenciar algumas palavras, ou até mesmo os sentidos
delas.
As partes do texto hebraico mais antigas ou chamadas
de hebraico arcaico, foram composição por volta do século
XII a.C. (Gênesis 49.3-27, Êxodo 15.2-18 e Juízes 5.2-31).
Mas alguns desses materiais podem ter surgidos na
monarquia durante os séculos XI-X a.C. (Salmo 18 e 68). É
importante entender que esses textos são na sua totalidade
poéticos e transmitidos oralmente de geração em geração e,
depois colocados por escrito.
As variações são significativas e interessantes entre o
hebraico arcaico e o pré-exílico, variação de cerca de 200
anos. Elas dão a alguns termos, vocábulos e raízes verbais,
distinção a textos importantes da história dos patriarcas e
da jornada dos hebreus no Êxodo. No caso dos estudos e
trabalhos exegéticos, cabe uma análise específica,
incluindo a compreensão de incursões de termos novos em
Metodologia de Exegese Bíblica 37

fatos antigos. Como os textos bíblicos podem ter sua


sincronia afetada pelo interesse da montagem dos eventos,
sem levar em conta a linguagem que distingue tal evento, o
trabalho sem atenção a tais características pode
comprometer o resultado. Observe o quadro a seguir.

(FRANCISCO, 2001, p. 4-5)


Metodologia de Exegese Bíblica 38

A maior parte dos livros do Antigo Testamento teve


sua composição perto do período que antecede o exílio
babilônico (esse período fica entre os séculos X ao VI
a.C.). É uma literatura que possui significativa diferença da
descrita arcaica. Esse hebraico evoluído, pré-exílico ou
clássico foi o auge da língua hebraica, coincidente com o
apogeu político, social, cultural e econômica de Israel (nos
tempos da monarquia de Saul, Davi e Salomão, séc. XI e X
a.C.).
Já o hebraico pós-exílico, que se desenvolve em
sequência do pré-exílico, sofreu modificações em sua
estrutura linguística e os livros que foram escritos na época
exílica e pós-exílica refletem um novo estágio. Os
estudiosos denominam a linguagem dos livros bíblicos pós-
exílicos de hebraico pós-exílico ou hebraico tardio, o qual é
o estágio seguinte ao hebraico utilizado na compo-sição
dos livros da Bíblia Hebraica que foram escritos antes do
exílio babilônico. De acordo com hebraístas, o hebraico
pós-exílico representaria a língua da maioria dos livros
bíblicos.
Com o retorno do exílio na Babilônia (538 a.C.),
época em que ocorreram as atividades de Esdras, Neemias,
Ageu e de Zacarias, o aramaico era a língua comum de
comunicação entre os exilados judeus e também uma forma
popular de hebraico que mais tarde se tornaria o hebraico
rabínico. É possível que o hebraico ainda era falado na
região da Judeia (ao sul, mas nas relações diárias entre os
judeus). No entanto, na Galileia e Samaria o aramaico era o
mais utilizado.
O hebraico pós-exílico é fortemente influenciado pelo
aramaico e também herdou elementos do hebraico pré-
exílico na composição dos livros bíblicos pós-exílicos.
Metodologia de Exegese Bíblica 39

Nesse hebraico pós-exílico, há abundantes aramaísmos nos


livros de Esdras, Neemias, Daniel, Jó, Crônicas, Ester,
Eclesiastes e Cântico dos Cânticos. Além do vocabulário, o
aramaico também influenciou a sintaxe e a morfologia do
hebraico pós-exílico.
De acordo com a opinião de hebraístas, dentre todos
os livros bíblicos pós-exílicos, os das Crônicas seriam os
mais instrutivos em demonstrar o hebraico pós-exílico e
suas diferenças em relação ao pré-exílico. Vejamos
algumas diferenças em livros bíblicos pré-exílicos em
comparação com os seus cognatos encontrados nos livros
bíblicos pós-exílicos.

(FRANCISCO, 2001, p. 7).

Até a Idade Média, o texto Hebraico era composto


unicamente por consoantes. Durante o sec. VII a X, os
massoretas elaboraram três sistemas de vocalização para o
texto da Bíblia Hebraica (são os chamados Textos
Massoréticos “TM”). Estes sistemas são conhecidos como:
Babilônico (sec. VII a IX), sistema com sinais vocálicos
colocados sobre as letras; Palestino (sec. VIII a IX)),
Metodologia de Exegese Bíblica 40

sistema com sinais vocálicos colocados sobre as letras e;


Tiberiense (sec. VIII a X), com sistema de sinais vocálicos
colocados sobre, sob e dentro das letras. O exemplo para
essa vocalização está na primeira e terceira imagens acima.

1.2 GREGO4
O grego foi uma língua não só importante para o
mundo cristão, mas também para o conhecimento humano
comum. A difusão do conhecimento da filosofia foi
consideravelmente beneficiada pelo idioma grego.
A língua grega é um idioma surgido na Grécia, por
volta de 1500 a.C. Mas suas origens são do mundo indo-
europeu de 3000 a.C. É do mesmo grupo que deu origem
aos grupos linguísticos: indo-iraniano, eslavo, báltico,
itálico, germânico (de onde saíram o alemão, holandês,
sueco, inglês etc.), céltico, albanês, armênio, entre outras
ramificações linguísticas. Semelhante ao Hebraico, o grego
passou por várias fases de formação e evolução ao longo da
história.
O Grego foi formado por volta entre 1500-900 a.C),
quando Homero, compôs a Ilíada e a Odisséia. Neste
mesmo período surgiram outros dialetos gregos como o
micênico, o ático, o dórico, o eólico e o jônico. Já entre o
período de 900-330 a.C., o ático destacou-se, tornando-se o
padrão e clássica do grego. Não obstante, o ático foi a

4
Descrição, análise e reflexão extraídas do Artigo: Grego Bíblico: Breve
Histórico. De Autoria do Professor Edson de Faria Francisco, linguista e
professor do Departamento de Bíblia da Universidade Metodista de São
Paulo (UMESP), responsável pelas disciplinas Hebraico Bíblico e Grego
Bíblico e Doutor na área de Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas
pela Universidade de São Paulo (USP).
Metodologia de Exegese Bíblica 41

principal fonte para os tradutores da Septuaginta e dos


escritores do Novo Testamento.
No período helenístico, entre 330 a.C. a 330 d.C., o
grego transformou-se em língua universal ao longo do
Mediterrâneo e Oriente Médio. A forma linguística que
surgiu nesta época é conhecida como koinê, utilizada no
período de dominação grega e romana. Tanto o Novo
Testamento como a Septuaginta é composto neste dialeto
grego.
Em 330-1453, ocorre a divisão do Império Romano e
a língua grega conhecida como bizantina, fica na porção
oriental do império (Império Bizantino), com capital em
Constantinopla. No entanto, não param por aí as alterações
no grego, porque do séc. XI em diante surgiu o grego
moderno, ou demótico, com algumas semelhanças com o
koinê.
O Jônico (1300-900 a.C.), usado na Jônia foi usado
por Homero, Hesíodo, Hipócrates, Arquíloco, filósofos pré-
socráticos, entre outros. Já o grego Ático, ou clássico (900-
330 a.C.), foi derivação do jônico. O Ático chegou a ser
usado até o século IV a.C., fase marcada pelo apogeu da
literatura grega clássica. Autores como Platão, Aristóteles,
Heródoto, Tucídides, Xenofonte, Isócrates, Lísias,
Demóstenes, Ésquines, Ésquilo, Sófocles, Eurípedes,
Aristófanes, Menandro, entre outros, utilizaram o Grego
Ático em seus escritos de filosofia.
Surgiu, durante os dois primeiros séculos da era
cristã, um movimento literário que buscava o uso de formas
clássicas do dialeto ático. É o movimento do Aticismo ou
grego helenístico literário, um tipo sofisticado de literatura,
tendo como padrão o Grego Ático do período clássico.
Alguns textos da época foram afetados por esse
Metodologia de Exegese Bíblica 42

movimento, dentre eles estão os textos de Sabedoria de


Salomão, Epístola de Jeremias, 2, 3 e 4 Macabeus, Lucas e
Hebreus. O presbítero Luciano (sec. III) tentou adaptar o
koinê bíblico para o ático.
O koinê, que significa “comum”, “profano”, e
também conhecido como grego helenístico, é caracterizado
por ser uma língua coloquial do período dos domínios
grego e romano, abrangendo desde o tempo de Alexandre
Magno (IV séc. a.C.) até o tempo de Constantino (IV séc.
d.C.). Era uma linguagem simplificada e popular do
período helenístico. Tem origem em dialetos gregos,
principalmente o ático. No entanto, há vocábulos do jônico
presentes no léxico usado paras tradução de seus textos, em
função das influências de materiais da gramática e léxico
antigos. Também há alguns termos do dórico. Além de
influência de unidades gregas antigas, da mesma forma, há
termos de procedência hebraica e aramaica presentes no
léxico, na sintaxe e na gramática.
Boa parte dos autores do Novo Testamento não
empregavam o grego ático nem a literatura grega clássica.
No entanto, os textos de Lucas e Hebreus apresentam
alguns traços literários refinados baseados no ático. O koinê
manteve-se usado até perto de 1822 (contexto de uso em
comum com as variações do grego bizantino, que não era
falado nas ruas, mas era uma forma da língua grega
utilizada na literatura). Mas, perto do séc. XI, uma língua
coloquial se desenvolveu, separadamente, tornando-se o
dialeto demótico (ou grego moderno), e se tornou a língua
oficial da Grécia no século 20.
Os interessados em entender com mais clareza sobre a
gramática, estilos e vocabulário do grego koinê devem
fazer leituras da Septuaginta, do Novo Testamento, dos
Metodologia de Exegese Bíblica 43

apócrifos do Novo Testamento, das obras de Epíteto,


Flávio Josefo, Filon de Bizâncio, Apolodoro, Nicolau de
Damasco.
O grego bizantino, que serviu para escrever muitas
obras, na verdade usado exclusivamente para literatura
pode ser encontrado nas obras de Justiniano I, João
Crisóstomo, Gregório de Nazianzo, Gregório de Nissa,
Basílio da Cesareia, João Damasceno, João de Cesareia,
João de Citópolis, Leôncio de Bizâncio, Anastácio I de
Antioquia, Hipácio de Éfeso, Eulógio de Alexandria,
Teófanes de Bizâncio, entre outros.

1.2.1 Particularidades do Grego do Novo Testamento


O texto do Novo Testamento é mais coloquial que o
koinê da Septuaginta. Ele também apresenta vários
elementos semíticos e traços do hebraico. Além disso, o
semitismo influencia o texto do Novo Testamento
significativamente e podemos destacar palavras com
influência semítica, influência na sintaxe e nos semitismos
resultantes da tradução do hebraico ou do aramaico para o
grego, assim como de termos comuns preservados ao longo
da história.
As diferenças na redação, verbetes e alguns padrões
estilísticos de Mateus Marcos e Lucas se devem ao fato de
que o grego do Novo Testamento não é homogêneo, por
haver diferentes níveis do Koinê. O texto de Mateus é um
intermediário entre o grego de Lucas e o grego menos
evoluído de Marcos. O texto de Marcos é composto de um
grego sem polimento e com influência da sintaxe hebraica e
aramaísmos. Já o texto de Lucas e Atos dos Apóstolos
apresentam cunho culto, próximos do grego ático. Por isso,
Metodologia de Exegese Bíblica 44

o autor de Lucas é considerado o material literário mais


qualificado do Novo Testamento. Não obstante essas
particularidades dos sinóticos, o texto do Evangelho de
João, bem como as epístolas que levam o mesmo nome,
possui grego puro no vocabulário e na gramática; diferente
das epístolas de Paulo, que apresentam Koinê vernacular
muito regular e percebe-se com influência da Septuaginta.
É importante chamar à atenção para o texto do
Apocalipse. Ele apresenta Koinê comum, possuindo o nível
mais baixo do grego do Novo Testamento. Nele existem
desvios gramaticais, falta de concordância no gênero
gramatical de substantivos e de adjetivos, além do uso
trocado entre o nominativo (caso que indica o sujeito da
frase) e o acusativo (caso que indica o objeto direto da
frase). Além disso, o sofreu influência hebraica ou
aramaica, com linguagem judeu-grega das sinagogas, muito
próximo ao linguajar do mercado e da rua (FRANCISCO,
2014, p. 6).
Os séculos e evolução do Grego permitiram que uma
série de situações da vida viesse a ser expressas de formas
diferentes de épocas anteriores. A proximidade com
culturas e visões diferentes também deram ao campo
semântico algumas alterações. Nas sentenças abaixo
podemos perceber as mudanças:

a) Termos com novos significados

- (mensageiro, enviado, legado. No N.T.


assume o sentido de “anjo”), Mt 2.13; Lc 1.26; Ap 1.20;

- (ereção, emigração, ação de levantar. No


Metodologia de Exegese Bíblica 45

N.T. assume o sentido de “ressurreição”), Jo 11.24; Ap


20.5;

- (língua, idioma No N.T. assume o sentido de


“dom de línguas”), At 2.4; I Co 13.1;

- (servo, servente, criado. No N.T. assume o


sentido de “diácono”), Mt 20.26; II Co 6.4; 11.23;

- (assembleia popular, lugar de assembleia.


No N.T. assume o sentido de “igreja, a Igreja”), Rm 16.16;
I Co 12.28;
- (supervisor, superintendente. No N.T.
assume o sentido de “bispo”), At 20.28; Fp 1.1; Tt 1.7;

- (mudança de opinião, mudança de mente. No


N.T. assume o sentido de “conversão”, “arrependimento”),
II Co 7.9;

- (presença, visita de alguém especial,


presença (invisível) dos deuses. No N.T. assume o sentido
de “volta de Cristo”, “advento messiânico de Cristo”), Mt
24.3; I Ts 2.19; Fl 2.12;

- (ancião, velho. No N.T. assume o


sentido de “presbítero”), At 11.30; 15.2; I Tm 5.1;

- (favor, graça, benefício. No N.T. assume o


sentido de “carisma”, “dom espiritual”), II Tm 1.6; I Pe
4.10;
Metodologia de Exegese Bíblica 46

- (ungido, consagrado. No N.T. assume o


sentido de “Cristo”), Mt 2.4; Mc 1.1; Cl 3.24.

b) Termos de origem aramaica

- (pai), Mc 14.36; Rm 8.15; Gl 4.6;

- (Hacéldama [campo de
sangue]), Mt 27.8; At 1.19;

- (Betesda [casa da
misericórdia]), Jo 5.2;

- (Betsaida [casa da pesca]), Mt


11.21; Mc 6.45; Lc 9.10;

-
(Deus meu, Deus meu, por que me aban-donaste?), Mc
15.34;

- (Gábata [calçada]), Jo
19.13;

- (Getsêmani
[lagar de azeite]), Mt 26.36; Mc 14.32;

- (Gólgota [crânio,
caveira]), Mt 27.33; Mc 15.22; Jo 19.17;
Metodologia de Exegese Bíblica 47

(abra-te), Mc 7.34;

- (riqueza, posses), Mt 6.24; Lc 16.13;

- (o nosso Senhor,
vem), I Co 16.22.

- (meu mestre, meu senhor),


Mc 10.51; Jo 20.16;

- (menina levanta-te),
Mc 5.41.

c) Termos de origem hebraica

- (certamente, amém), Mt 5.18; Mc 3.28; Lc


4.24; Jo 1.51;

- (Armagedon [monte de
Megido]), Ap 16.16.

- (Baal, senhor), cf. Rm 11.4;

- (Beelzebu, Belzebu), Mt
10.25; 12.24; Mc 3.22; Lc 11.15;
Metodologia de Exegese Bíblica 48

- (Belial), II Co 6.15;

- (Betânia [casa da barca]), Mt


21.17; Mc 11.11; Lc 24.50; Jo 12.1;

- (Belém [casa do pão, casa do


alimento]), Mt 2.1; Lc 2.4; Jo 7.42;

- (Geena [vale de Hinom]), Mt 5.22;


Mc 9.45; Tg 3.6;

-
(Deus meu, Deus meu, por que me abandonas-te?), Mt
27.46;

-
(Jerusalém [cidade da paz?]), Mt 23.37; Mc 11.15; Jo 2.23;

- (corbã, oblação), Mc 7.11;

- (messias, ungido, consagrado,


Cristo), Jo 1.41; 4.25;

- (Moloque), At 7.43;
Metodologia de Exegese Bíblica 49

- (páscoa), Mt 26.2; Mc 14.1; Lc 2.41;


At 12.4;

- (meu mestre, eu senhor), Mt 26.25; Mc


9.5; Jo 1.38;

- (tolo, burro, insensato), Mt 5.22;

- (Sabaote, Exércitos, Hostes), Rm


9.29; Tg 5.4;

- (sábado), Mt 12.8; Mc 2.27; Lc


6.7; Jo 5.9; At 1.12;

- (saduceu), Mt 22.23; Mc
12.18; Lc 20.27; At 4.1;

- (Satã, Satanás), Mt
4.10; Mc 1.13; Lc 10.18; Ap 2.9;

- (fariseu), Mt 23.26; Mc 3.6; Lc


7.36; At 23.6-9.

Todas essas influências e evoluções no material do


Novo Testamento devem ser compreendidas pelos
interpretes da Bíblia. Em todos os trabalhos analíticos, nos
quais deparamos com alguns desses termos, podemos ser
Metodologia de Exegese Bíblica 50

surpreendidos com alguma tradução/interpretação confusa


em relação ao de costume, exatamente por conta dessas
particularidades. É importante entender que o campo
semântico, quando transita de uma cultura para outra, pode
também corresponder á uma fusão de horizontes da época
em que o material foi escrito, exigindo a compreensão do
Sitz Im Leben (lugar de vida, ou lugar em que se nasce e
vive uma cultura). Assim, as origens de cada termo são
coincidentes com a forma de uso do grupo atual, mas com
uma dose cultural anterior.
Metodologia de Exegese Bíblica 51

CAPÍTULO IV

TEXTO BÍBLICO: ESTRUTURA, DELIMITAÇÃO E


DESMONTAGEM

É importante o estudante entender que o material


desse livro não pretende substituir os trabalhos de
metodologia de exegese feitos por outros autores. Cada
especialista tem seu próprio estilo de trabalho e tem
referência por técnicas de seu gosto. Isso significa que
todos podem contribuir de forma diferente e em trabalhos
diversos.
O texto bíblico está submetido a um conjunto de
regras gramaticais próprias das línguas Hebraica e grega.
Diante disso, cada pesquisador deve ter domínio ou
material de pesquisa referente a tais gramáticas. O
conhecimento dessas regras pode auxiliar em muito a
interpretação do texto antes de iniciar o processo de busca
pelas ciências auxiliares.
Depois da investida na gramática, podemos passar
entender o processo de tradução e desmontagem do texto.
Nenhum detalhe deve passar despercebido Pedro
pesquisador durante o processo de desmontagem.
A tradução do texto deve preceder à delimitação do
espaço literário a ser trabalhado, como nosso espaço é
breve, o texto traduzido aqui já estará delimitado. No
entanto, ao traduzir um texto extraído da Bíblia, o estudante
deve entender que não há texto delimitado nos textos
originais e ele precisará traduzir uma extensão maior antes
de delimitar. Ao passar adiante, mostraremos como o
processo de tradução e delimitação pode ser desenvolvido.
Metodologia de Exegese Bíblica 52

1. ESTRUTURA DO TEXTO

O texto não deve ser visto como algo que surge


apenas do interesse de quem o escreve, muito menos algo
que nasce da casualidade, mesmo que seja poético. Por
natureza, os textos sempre querem se referir a alguma coisa
ou a alguém. Para que ele atenda a esse critério, constrói-se
dentro de um regulamento no qual cada partícula que o
compõe estabelece relação com outra, se amarrando de
forma a montar um enredo.
As regras que determinaram um texto, basicamente, é
a gramática de uma língua sob a qual está submisso. Sendo
assim, essa submissão permite que seus componentes sejam
estudados, até certo grau, sem a presença do seu escritor
primário. Mas há um conjunto comportamental por parte do
estudante que lhe permite esse acesso; isto é, há
procedimentos que dependem da postura para a
compreensão do texto.
Quando falamos de comportamento no ato de estudo e
leitura, dizemos da sensibilidade de cada uma que acessa o
texto. O leitor deve ser capaz de perceber, no texto, após o
trabalho de tradução, aquilo que lhe interessa naquele
momento. É o interesse em torno daquilo que o texto lhe
oferece, ou que lhe direciona ao texto, que moverá o
restante do comportamento interpretativo.
A regra gramatical deve ser dominada pelo estudante
e interprete, tanto de sua língua quanto da língua primária
do texto bíblico. A estrutura gramatical regula as sentenças
que formam um texto, desde as figuras dos textos até ao
nível da estrutura da narração (FITZMYER, 2005, p. 46).
Uma análise mais responsável permitirá entender que
as palavras isoladas podem não apresentar o sentido que o
Metodologia de Exegese Bíblica 53

autor desejou, pois elas são unidas em sentenças e não de


forma aleatória. Estão ligadas umas às outras de forma
interdependente. Mais um detalhe relevante, as palavras
podem estar em lógica própria do autor (MERTINEZ,
1987, p. 143). Por mais simples que seja uma sentença, a
ordem dos elementos de um texto pode auxiliar o leitor a
entender a intenção do autor. Nessas sentenças o uso de o
sujeito, vocativo ou um aposto e predicados não tem a
intenção apenas estética, mas de levar seu leitor a perceber
a ênfase ou explicação (MERTINEZ, 1987, p. 144).
Quando falamos de sensibilidade do estudante,
estamos nos referindo ainda à capacidade de perceber e
saber a importância no texto de algumas partículas do
texto, tais como: adjuntos, preposições, artigos e outros
conectores. Um exemplo básico é quando, durante a leitura
ou tradução, o pesquisador se depara com os adjuntos
“não” ou “pode”. Esses dois termos são bem distintos e
dificilmente dirão coisas diferentes de “negação” ou
“afirmação”
Veja:
(Êx. 20.13)
“Não” matarás.
O texto não deixa dúvidas de que o “Não”, adjunto
adverbial de negação, está excluído outra hipótese. Exclui-
se, nesse texto, qualquer possibilidade de “talvez”, “é
possível” ou “quem sabe”.

(Mc. 15.5)
“Mas Jesus não lhe respondeu nada...”
Este é um caso no texto grego do Novo Testamento.
Metodologia de Exegese Bíblica 54

A pretensão do autor é a mesma com o “Não”, adjunto


adverbial de negação que encontramos no texto de Êxodo
20.13, ou seja, dar uma negativa. Nada foi dito por Jesus
naquele momento, sem alternativa além do “não”.
Os dois exemplos acima são pequenos e simples
exemplos de leitura com sensibilidade se comparado ao
volume de possibilidades que existem no texto da Bíblia.
Há níveis de análise que podem contribuir ainda mais, se
considerarmos elementos como a sintaxe, a semântica e os
outros níveis da análise literária a fim de procurar maior
aproximação da intenção do autor (MERTINEZ, 1987, p.
145).
Num primeiro momento, é necessário ter em mãos o
material literário a ser trabalhado. Neste aspecto, o texto
deve estar com os limites necessários à interpretação, ou
seja, deve conter um início e um fim. Isso é o que
chamamos de delimitação de texto. E para realizar essa
tarefa, é necessário entender passo a passo os critérios para
a realização dessa delimitação do texto. Mais adiante
mostraremos esse trabalho na prática. Sendo assim, para
uma boa análise da estrutura gramatical deve-se primeiro
traçar os limites do texto a ser trabalhado. Essa é uma
questão fundamental.
Cabe ressaltar que algumas informações podem ser
acrescentadas à leitura a partir de determinadas classes
gramaticais de palavras. No caso dos adjetivos, podem
implicar uma miríade de dados que o interpretante
necessita para seu trabalho. Os adjetivos pátricos, por
exemplo, podem apresentar ideia de origem, nacionalidade
ou função da pessoa: os “samaritano” (habitante de
Samaria), “nazareno” (habitante de Nazaré), carpinteiro
(profissão de quem produz mobílias), entre outros.
Metodologia de Exegese Bíblica 55

2. DELIMITANDO O ESPAÇO DE TRABALHO

A delimitação do espaço de trabalho é o traçado do


limite de onde posso começar e onde devo encerrar as
atividades de tradução e análise estrutural. Quando se
escreve um texto, normalmente o autor quer ser
compreendido e, com isso, ela planeja uma estratégia na
qual envolve o leitor e deixa claro para ele onde sua
argumentação ou narração termina. Na prática, o autor
inicia, desenvolve e conclui sua literatura. Como podemos
saber onde ele começa e onde termina? Há alguns traços
característicos de uma narração. Nesses traços, o autor
envolve elementos que indicam o movimento de sua
narração e, encontrando esses elementos, podemos
compreender o percurso lógico de início e fim.

2.1 INDICATIVOS DE INÍCIO DE NARRAÇÃO


a) Tempo e espaço
1) O tempo: pode indicar início, continuação,
conclusão ou repetição de um episódio. As expressões
sempre deixam margem para compreender que os
personagens da narração não estão mais no mesmo tempo
que estavam antes. Às vezes encontramos expressões como
“No dia seguinte...” (Mc 11.12); “E aconteceu que”, “Num
daqueles dias” (Lc 20.1).
2) O espaço: Localiza fisicamente a ação e dá noção
de movimento ou trânsito de personagem. Isso ocorre
quando o autor transfere os personagens de um cenário para
outro, tanto cenário geográfico quanto cenário de evento.
Nos casos dos textos bíblicos, essa mudança de espaço
corresponde a alguns cenários geográficos comuns das
Metodologia de Exegese Bíblica 56

regiões do Oriente. Alguns exemplos são: “partiu dali” (Jo


4.46, II Sm 11.1; II Rs 4.38; Mt 2.1, 4.1, 8.5; Mc 16.1 e Lc
1.5

b) Atores ou personagens
Os textos narrativos são os mais claros com relação ao
numero de personagens. Nos textos bíblicos do Novo
Testamento esse número de personagens raramente
ultrapassa três. O surgimento de um novo personagem
indica nova ação, percepção ou mera aparição, ou atividade
de alguém que não era contado e de repente passa a atuar
na narrativa (Mc 1.45, 9.28; Lc 5.15; Mt 17.19).

c) Argumento
Em uma carta, por exemplo, esse critério é mais
complicado, mas nas narrativas é mais simples. É comum
que na medida em que um autor esgota seus argumentos ele
mude de assunto. Essas mudanças exigem também que os
elementos não estão mais na mesma cadeia de ideia ou
compreensão da anterior, indicando que há um assunto
novo e deve ser visto em si mesmo. Os exemplos claros são
a expressões como: “finalmente...”, “quanto a...”, “a
propósito de...”, “por essa razão...” (I Cor 12.1; II Tm 4.6;
Rm 7.13; 11.1).

d) Vocativo ou novos destinatários


Quem viveu no século XX viveu algo que era muito
comum em sociedades letradas e antigas. É que muitos se
comunicavam com cartas, o que raramente se faz na
atualidade. Na maioria das cartas o nome do destinatário ia
Metodologia de Exegese Bíblica 57

logo no envelope ou no início do texto. No caso de textos


bíblicos, é comum encontrar a pessoa a quem o texto se
destina e, assim que é manifestado o destinatário, iniciam-
se os argumentos ou informações desejadas pelo autor. Está
claro que, nesse caso, uma narrativa se inicia e um tema
passa a ser debatido. O pesquisador e exegeta deve ter
atenção nesses tipos de detalhes para que tenha condições
de ter em mãos um espaço literário exato para trabalhar,
não perdendo tempo com divagações por um texto que não
pertence ao tema que deseja trabalhar. Veja alguns
exemplos: Ef 5.22-25; G1 3.1; I Jo 4.1 Ap 2.1.

g) Introdução ao discurso
Alguns textos narrativos apresentam falas particulares
de personagens, que resolvem em algum momento
expressarem um sentimento ou contar uma parábola,
explica-la ou até mesmo um proverbio. É uma maneira de
introduzir a fala de um personagem e também pode
funcionar como separação entre algo ocorrido e o
comentário pelo personagem. Essa introdução ocorre de
forma mais comum nos algumas frases antes da história ou
argumento propriamente dito. Exemplo: Lc 15.7; 18.6-9.

h) Mudança de estilo
Em algumas ocasiões o autor pode alternar entre tipos
diferentes de exposição, do discurso para a narrativa,
poesia, prosa, etc., ou mescla um tipo com outro. O texto
pode parecer confuso no primeiro momento, mas perceber-
se-á, na medida em que se prossegue com a leitura, que
fora incluído ao texto uma exposição poética ou outro
estilo. Um exemplo: Lc 13.31-33; Jz 5.1; F1 2.5-6; Mt
Metodologia de Exegese Bíblica 58

11.1-2; F1 2.11-12.

2.2 INDICATIVOS DE TÉRMINO


a) Atuantes ou personagens
Desde o início de um texto são apresentados alguns
personagens e seus papeis. Na medida em que o texto vai
se desenvolvendo, alguns desses personagens deixam o
texto e outros novos aparecem. Mas é comum que ao fim
da narrativa o número de personagens diminua. Isso se
deve a vários motivos, dentre eles o fim da narrativa. É o
que ocorre em Mateus 17.19. A narrativa começa no
versículo 14, com a multidão, um homem e vão surgindo
mais personagens, os discípulos, o menino e no versículo
19 encerra com Jesus e seus discípulos. Vejamos os
exemplos: Mc 1.45; Lc 5.15; Mt 17.19; Mc 9.28.

b) Espaço
A questão do deslocamento dos personagens em uma
narrativa deve sempre causar impacto no intérprete. Esse
deslocamento é um incidente precioso para interpretação,
pois ele pode indicar, além de mudança de cenário, uma
nova semântica. Observe esse texto:
“ Mas ele, acenando-lhes com a mão para que se
calassem, contou-lhes como o Senhor o tirara da prisão, e
disse: Anunciai isto a Tiago e aos irmãos. E, saindo,
partiu para outro lugar. Logo que amanheceu, houve
grande alvoroço entre os soldados sobre o que teria sido
feito de Pedro. E Herodes, tendo-o procurado e não o
achando, inquiriu as sentinelas e mandou que fossem
justiçadas; e descendo da Judéia para Cesaréia,
demorou-se ali.”
Metodologia de Exegese Bíblica 59

Esse texto está em Atos 12. Se o observarmos, Atos


12, a partir dos versículos 17 até o 19, veremos que há um
deslocamento em cadeia e, a partir do verso 20, inicia-se a
perícope da morte de Herodes. Sendo assim, Atos 12.17-19
encerra a perícope anterior e o versículo 20 começa a nova
perícope. Mais exemplos: II Sm 19.40; Mc 1.39; At 14.6-7.

c) Tempo
A passagem dos dias e das horas também é indicativa
de mudança de uma narrativa para outra. Apesar de a
maioria dos textos da Bíblia não terem precisões de datas,
há alguns indicativos de passagem do tempo. Essa
passagem pode indicar que a ação narrada está acabando,
pode acontecer a expansão do tempo ou o chamado tempo
terminal, o qual o autor dá a narrativa por concluída.
Alguns desses exemplos podem ser vistos em Nm 20.29;
Gn 32.22; I Rs 10.25; At 10.48; Jo 13.30; At 4.3.

d) Ação ou função de partida


É comum que as narrações apresentem movimentos
de personagens em momentos de chegada e de saída. O
interprete do texto deve estar atento, pois expressões como
sair, despachar, expulsar podem indicar término de uma
narrativa. Alguém, normalmente o personagem pivô da
narrativa, sai de cena, separando-se dos demais. Observe
essa narrativa:
Saulo, porém, se fortalecia cada vez mais e confundia os
judeus que habitavam em Damasco, provando que Jesus
era o Cristo. Decorridos muitos dias, os judeus
deliberaram entre si matá- lo. Mas as suas ciladas vieram
ao conhecimento de Saulo. E como eles guardavam as
Metodologia de Exegese Bíblica 60

portas de dia e de noite para tirar-lhe a vida, os


discípulos, tomando-o de noite, desceram-no pelo muro,
dentro de um cesto (At. 9.22-25).
Com atenção, o leitor pode perceber que há uma
cadeia de eventos na qual o conjunto de personagens se
destina a mudarem de lugar com uma função de retirada ou
ação de partida. Outros exemplos podem ser encontrados
em: Mc 8.13; I Sm 16.23; Mc 8.13.

e) Ação ou função terminal


Há certas ocasiões em um texto que não podem ser
entendidos como o encerramento. A morte do protagonista
é um caso desses. Mas também é possível que após um
desses eventos seja dada uma lição final por meio de uma
mensagem resumida ou uma oração. Ações como morrer,
sepultar, uma oração de encerramento, admirar-se, ficar
angustiado, converter-se, temer, glorificar e etc. Nesse
texto:
Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a
terra autoridade para perdoar pecados (disse então ao
paralítico): Levanta- te, toma o teu leito, e vai para tua
casa. E este, levantando-se, foi para sua casa. E as
multidões, vendo isso, temeram, e glorificaram a Deus,
que dera tal autoridade aos homens (Mt. 9.6-8).
é possível ver com clareza que o encadeamento dos fatos
estão em seus momentos finais, pois, após a ocorrência do
milagre e a ida do personagem beneficiado para sua casa,
só resta agradecer e reconhecer o milagre. Outros exemplos
Gn 49.33; Mt 9.8.

f) Ruptura do Diálogo
Metodologia de Exegese Bíblica 61

Em textos antigos, alguns autores não tinham uma


articulação de desenvolvimento como a que ocorrem em
literaturas modernas e contemporâneas. Diante disso,
quando os eventos estão em fase de encerramento, o autor
não tem interesse em prolongar sua narração e faz uma
ruptura abruta. Isso ocorre porque se chega ao clímax da
discussão, o herói dá a ultima palavra, ou às vezes uma
breve conclusão radical, como ocorre em Lucas 14.5-6:
“Então lhes perguntou: Qual de vós, se lhe cair num poço
um filho, ou um boi, não o tirará logo, mesmo em dia de
sábado? A isto nada puderam responder”. Nesse texto não
há reflexões, explicações, ajustes ou qualquer outro tipos
de argumentação, pois o autor quer fazer um relato objetivo
diante da informação que teve de suas testemunhas. Outro
exemplo como esse pode ser lido em Atos 11.17-18.

g) Comentário
Alguns escritores, na intenção de orientar seu leitor,
fazem incursões aos seus relatos, explicando algumas
situações que aparecem do relato. Neste caso, o narrador
pode interromper para fazer algumas observações que dão
o sentido do relato ou expor o sentimento dos personagens.
O caso de João 2.19-22 é bom para entender como isso
pode ocorrer:
Respondeu-lhes Jesus: Derribai este santuário, e em três
dias o levantarei. Disseram, pois, os judeus: Em quarenta
e seis anos foi edificado este santuário, e tu o levantarás
em três dias? Mas ele falava do santuário do seu corpo.
Quando, pois ressurgiu dentre os mortos, seus
discípulos se lembraram de que dissera isto, e creram na
Escritura, e na palavra que Jesus havia dito.
Percebeu a tentativa de esclarecer o sentido do que ele
Metodologia de Exegese Bíblica 62

registrou acima? Outro exemplo está em Jo 2.24-25.

h) Sumário
A propósito de dar fim a um possível relato extenso
demais ou evitar retomá-lo novamente, o autor pode
resumir, ou fazer uma apresentação sumária para encerrar
uma narrativa e iniciar outra. Pode ser uma breve perícope.
Em alguns casos o autor interrompe sua narração e
apresenta de forma resumida aquilo que acabou de expor,
como em Lucas 3.18.

2.3 ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DA PARTE DE


DESENVOLVIMENTO DO TEXTO
a) Ação
É característico que cada evento em uma narração
tenha movimentos característicos em relação à estrutura do
texto como um todo. Neste caso, com referência à
introdução, desenvolvimento e conclusão, cada
desencadeamento tem por característica o movimento dos
personagens. É comum que todos os personagens da
história estejam presentes e em plena atividade; ou seja,
todos os personagens estão em execução das proposições
que iniciaram a narrativa. Essa característica é a que nos dá
a garantia de que a história está em pleno vapor e não se
trata de início e nem de encerramento, mas o cerne da
narrativa. Exemplos: Gn 18.16; Jz 2.6; I Sm 19.11; Mc
6.17.

b) Campo Semântico
Metodologia de Exegese Bíblica 63

Quando o autor desenvolve um texto, seja ele


narrativo ou com intenção de informar seu leitor, ele cria
um cenário capaz de transportar seu leito ao ambiente dos
personagens. Esse senário montado é composto por
elementos residenciais que podemos chamar de semântica.
A Semântica é esse conjunto de elementos que,
mutuamente, se dão sentido. Imaginemos um caso: cama,
guarda-roupa, cômoda, criado-mudo. Esses são elementos
da semântica de um quarto ou dormitório. Observe que
cada elemento é amarrado ao outro formando um conjunto
da lógica existencial de um quarto ou dormitório. Mas, é
bom entender que em culturas diferentes e em gêneros de
textos também diferentes, a semântica pode ser estranha à
do leitor ou ter elementos subjetivos. No entanto,
independente das circunstâncias, no ambiente semântico as
palavras estão cercadas por uma unidade de sentidos.
Assim, na Bíblia é possível encontrar o campo semântico
em várias circunstâncias, de acordo com a cultura de sua
época e local.
O campo semântico pode revelar muito sobre o
andamento de um texto. Numa perícope, por exemplo, ele
funciona como pano de fundo, mesmo que não seja
utilizado pelo autor explicitamente para com a finalidade
de delimitar, por natureza ele acaba revelando essa
condição do texto. Em Gênesis 22.6-10, são utilizadas
palavras do campo semântico “sacrifício”: lenha, fogo,
cutelo, cordeiro, altar.

c) Intercalação
Durante a tradução de um texto e a tentativa de sua
delimitação é importante dar atenção á máxima extensão
possível. Porque as narrações dependem muito do estilo de
Metodologia de Exegese Bíblica 64

cada autor. É possível que, em certos contos, os


personagens assumem particularidades ou outro entra em
cena e puxa a atenção para um problema pessoal,
interrompendo a narrativa.
Um caso interessante é o fato que é narrado em Lucas
8.40-56. Jesus, a caminho da casa de Jairo, é interrompido
pelo surgimento de uma mulher doente. Neste caso, a
perícope é interrompida e conduzida em função da mulher
com o fluxo de sangue. Mas é importante lembrar que a
narrativa que se iniciou irá chegar ao fim, após essa
interrupção. Então, uma ação pode ser iniciada,
interrompida e retomada mais adiante; ou seja, um episódio
dentro do episódio, muito comum também em Marcos.
Veja: 3.1-3; 4-5ª; 5b-6; 5.21-24, 25-34, 35-43.

e) Quiasmo
O quiasmo consiste a partir da repetição de frases ou
termos iguais, mas de forma cruzada e conservando uma
simetria. Isto provoca uma significação particular na
expressão e reforça uma ideia, já que a repetição cruzada
causa surpresa e leva a refletir sobre o dito. Pode ser uma
sequência de frases aparece de forma invertida (Is 6.10). É
possível encontrar, no centro do quiasmo, um elemento
isolado (Is 53.4-5a). Pode servir para evidenciar a
importância do elemento que está no centro (Lc 4.16c-20).
Pode também assinalar a reversão da situação inicial. O
elemento central é apenas o fator que provoca ou explica
tal processo (Lc 11.8).
Metodologia de Exegese Bíblica 65

3. DESMONTAGEM DO TEXTO

O que é um texto? A palavra em si tem sua origem na


palavra tecido. Mas seu concito é Texto diz que é um
conjunto de palavras e frases encadeadas, capaz de ser
interpretado, ou seja, com sentido e que transmite uma
mensagem. Sendo assim, o texto é resultado de
articulações, isto é, palavras e frases se articulam para
formar o texto. Diante disso, é possível classificar, ordenar
e avaliar separadamente cada um dos elementos dessa
articulação. É nesse sentido que falamos em desmontagem
de texto, ou seja, separar os elementos que o formam. Mas
o leitor deve estar consciente de que a desmontagem de um
texto deve ser feita depois da delimitação e a delimitação
ser feita depois da tradução.
Para o exegeta e pesquisador de teologia é preciso dar
um passo ousado, antes de iniciar a desmontagem do texto.
Ele precisa traduzir o texto, para evitar dependência de
traduções de pessoas das quais não fazem tal trabalho com
isenção ideológica.

3.1 TRADUZINDO UM TEXTO BÍBLICO

A exegese bíblica é feita tanto em texto hebraicos


quanto em textos do grego koinê. No entanto, o espaço
desse trabalho não é suficiente para desenvolver ambos os
idiomas. Sendo assim, daremos prioridade ao texto grego,
porque questões práticas e também por ser capaz de fazer
retorno, em certos casos, a eventos do Antigo Testamento.
Há bons materiais para serem usados em tradução do
texto grego. Alguns são mais interessantes que outros, mas
é preciso definir a importância da tradução par depois se
Metodologia de Exegese Bíblica 66

definir o material de suporte que deve ser utilizado. Dentre


esses materiais sugerimos o Léxico Grego-Português do
Novo Testamento, baseado em Domínios Semânticos, de
Johannes Louw e Eugene Nida, pois tem seus verbetes
classificados por afinidade de significado semântico.
Também indicamos o Léxico dos autores Frederick W.
Danker, S. Wilbur Gingrich, mais popular entre os
estudantes de teologia. Essas indicações não são em função
de políticas comerciais, mas pelo fato de serem encontrados
com facilidade no marcado de livros e atenderem aos
requisitos básicos para tradução. Mas a tradução pode
exceder à essas indicações.
Vamos aos que interessa para essa parte.
Recorreremos a um texto conhecido e já o colocaremos
delimitado para facilitar o trabalho de explicações. A etapa
de tradução será feita de forma interlinear para o leitor se
familiarizar com o processo. Nosso texto será o de Lucas
19.1-10.
Metodologia de Exegese Bíblica 67

Esse texto será traduzido de forma sistemática e,


depois, passaremos a apresentar os mecanismos de
desmontagem, mostrando a lógica por trás da
desmontagem, bem como algumas sugestões de
agrupamento de informações. Inicialmente o traçado linear
será apenas para o grego-português, sem a classe de
palavras. Essa análise de classe de palavras será feita mais
adiante.
O leitor observará que a tradução, inicialmente,
parecerá confusa. Essa confusão é em função de a tradução
ser de forma interlinear, ou seja, palavra a palavra,
expressão a expressão. Neste momento interlinear ainda
não é feito o ajuste sintático e gramatical.

E entrando estava passando por Jericó e eis que um homem

Nome chamado Zaqueu e ele era


Metodologia de Exegese Bíblica 68

chefe dos cobradores de impostos e ele era rico E ele estava


procurando ver

Jesus quem ele é e não ele foi capaz por causa da

multidão porque em estatura pequena era e tendo correndo


para

a frente, ele subiu em um sicômoro que ele poderia ver

ele por aquele [caminho] ele estava prestes a passar E como

ele veio ao lugar tendo procurado Jesus disse

Para ele, Zaqueu, tendo se apressado, desce hoje

de fato, na sua casa, cabe a mim ficar e tendo apressado

ele desceu e o recebeu com satisfação e, vendo isso


Metodologia de Exegese Bíblica 69

todos resmungaram dizendo: Com

um pecador homem, ele entrou para alojar, além disso

Zaqueu disse ao Senhor: Eis a metade

de mim das posses Senhor aos pobres eu dou

E se alguém de qualquer coisa que eu tenha enganado, eu


restauro

Quádrupla disse mais a ele Jesus

Hoje a salvação para a casa veio porque

Também ele é um filho de Abraão, veio de fato o Filho

do homem para procurar e salvar o que foi perdido


Metodologia de Exegese Bíblica 70

Após a realização da tradução interlinear é importante


realizar o ajuste sintático e gramatical do texto. Isso deve
ser feito porque a estrutura sintática do texto grego possui
peculiaridades que o diferencia substancialmente do
português. Um exemplo é a inversão do sujeito e seu
adjetivo. Em português é dito. “o templo é magnífico”, mas
no grego essa sequência fica “magnífico é o templo”. Essa
inversão se dá por causa dos casos, como ocorre na frese
“pecador homem”. Este é um caso
“dativo”, semelhante à sintática dos predicados nominais,
no qual há um sujeito e seu adjetivo. Neste caso, o ajuste é
feito conforme os predicados em português “homem
pecador”.
As alternativas de ajustes são realizadas conforme a
capacidade literária de cada tradutor. Esse é um dos
motivos que leva à ocorrência de várias versões da Bíblia
em Português. Mas o estudante, ao fazer um trabalho de
exegese, deve procurar realizar seu trabalho com o cuidado
de, sempre que encontrar uma tradução confusa, buscar
respostas em material específico de tradução – Dicionários,
Léxicos e Gramáticas – evitando consultar traduções de
Bíblias e cair no mesmo equívoco que algumas caíram.
Vamos ao ajuste. Colocaremos as linhas conforme o
disposto no texto grego e, depois um texto corrido e
ajustado. Sempre que quisermos incluir um fragmento
explicativo o colocaremos entre colchetes [na cidade], para
o leitor entender que é uma tradução-adição.

Passando por Jericó, quando entrava [na cidade], eis que um


homem,
chamado pelo nome de Zaqueu, que era
Metodologia de Exegese Bíblica 71

chefe dos cobradores de impostos e rico. E ele estava


procurando ver
quem é Jesus, mas não tinha condições por causa da
multidão, porque era de pequena estatura. E tendo corrido à
frente, subiu em um sicômoro para que pudesse ver;
Pois por aquele [caminho] ele estava prestes a passar. E,
Passando ele pelo lugar procurado [por Zaqueu]. Jesus disse a
Zaqueu: Desce depressa. Hoje
de fato, cabe a mim ficar na sua casa. E tendo se apressado,
desceu e o recebeu regozijando-se. Vendo isso,
todos resmungaram dizendo: Com
um homem pecador ele entrou [em casa] para alojar-se. Em
consequência disso
Zaqueu disse ao Senhor: A metade
de minhas posses Senhor, darei aos pobres
E, se de alguém, qualquer coisa eu tenha fraudado, restauro
Quatro vezes. Disse mais Jesus a ele:
Hoje veio a salvação para essa, porque
ele também é um filho de Abraão. O Filho
do homem, de fato veio, para procurar e salvar o que foi
perdido.
Vejamos como pode ficar o ajuste final, com as
devidas colocações gramaticais.
Passando por Jericó, quando [Jesus] entrava [na cidade], eis
que um homem, chamado pelo nome de Zaqueu, que era chefe
dos cobradores de impostos e rico - ele estava tentando ver
quem Jesus era, mas não tinha condições por causa da multidão
Metodologia de Exegese Bíblica 72

e porque era de pequena estatura - Correu à frente, subiu em


um sicômoro para que pudesse vê-lo - Pois aquele era o
[caminho] pelo qual estava prestes a passar. E, passando ele
[Jesus] pelo lugar procurado [por Zaqueu]. [Vendo-o], Jesus
disse a Zaqueu: Desce depressa. Hoje, de fato, convém que eu
fique na sua casa. E, depressa, desceu e o recebeu regozijando-
se.
Vendo isso, todos resmungaram dizendo: Com um homem
pecador ele entrou [na casa], para alojar-se. Em consequência
disso, Zaqueu disse ao Senhor: A metade de minhas posses
Senhor, darei aos pobres. E, se de alguém, qualquer coisa eu
tenha fraudado, restauro quatro vezes mais. Disse mais Jesus a
ele: Hoje veio a salvação para essa, porque ele também é um
filho de Abraão. O Filho do homem, de fato veio, para procurar
e salvar o que foi perdido.

3.1.1 Tradução Termo a Termo com Análise


Morfológica/Sintática

LEGENDA
1, 2, 3– indicam pessoa (eu, tu GMS – Genitivo Masculino
ele), primeiro, segunda e terceira Singular
pessoas
Adj. - Adjunto GNP – Genitivo Neutro Plural
Adv. Adverbio IIA – Indicativo Imperfeito
Ativo
AFS – Acusativo Feminino IIM – Indicativo Imperfeito
Singular Passivo
AIA – Aoristo Indicativo Ativo IPro – Pronome Interrogativo
AIM – Aoristo Imperativo N – Nome, substantivo
Médio
AMA – Aoristo Imperativo NMS - Nominativo, Masculino
Ativo Singular
AMA – Imperativo Aoristo P – Plural
Ativo
AMS - Acusativo Masculino PAA – Particípio Aoristo Ativo
Singular
Metodologia de Exegese Bíblica 73

ANA - PIA – Presente Indicativo Ativo


ANA - Aoristo Infinitivo Ativo PNM – Presente Indicativo
Médio ou Passivo
APA - Aoristo Particípio Ativo PPA – Presente Particípio Ativo
NMP – Nominativo Masculino
Plural
Art. – Artigo PPM – Participativo Presente
Médio ou passivo
ASA – Aoristo Subjetivo Ativo PPro – Pronome Pessoal
Conj – Conjunção Prep. Preposição
DFS – Dativo Feminino S – Singular
Singular
DMP – Dativo Masculino Plural V – Verbo
DMS – Dativo Masculino V-IIA - Verbo Imperativo
Singular Indicativo Ativo
DNS – Dativo Neutro Singular VMS – Vocativo Masculino
Singular

Tabela Tradução Morfológica/Sintática


Termo Grego Tradução Análise
Morfológico/Sintá
tica
Καὶ E Conj
εἰσελθὼν Tendo Entrado, V-PAA-NMS
διήρχετο Estava passando V-IIM/P-3S
τὴν - Art-AFS
Ἰεριχώ*. Jericó. N-AFS
Καὶ E Conj
ἰδοὺ Ver, V-AMA-2S
ἀνὴρ Homem N-NMS
ὀνόματι Nome N-DNS
καλούμενος Chamado V-PPM/P-NMS
Ζακχαῖος, Zaqueu, N-NMS
καὶ E Conj
Metodologia de Exegese Bíblica 74

αὐτὸς Ele PPro-NM3S


ἦν Era V-IIA-3S
ἀρχιτελώνης, um chefe de N-NMS
cobrança de
impostos
καὶ E Conj
αὐτὸς Ele PPro-NM3S
πλούσιος· Rico. Adj-NMS
καὶ E Conj
ἐζήτει Procurava V-IIA-3S
ἰδεῖν Ver V-ANA
τὸν - Art-AMS
Ἰησοῦν Jesus, N-AMS
τίς Quem IPro-NMS
ἐστιν, é, V-PIA-3S
καὶ E Conj
οὐκ Não Adv
ἠδύνατο Era capaz V-IIM/P-3S
ἀπὸ por causa de Prep
τοῦ o Art-GMS
ὄχλου, multidão, N-GMS
ὅτι Por causa de Conj
τῇ - Art-DFS
ἡλικίᾳ Em estatura N-DFS
μικρὸς Pequeno Adj-NMS
ἦν. Era V-IIA-3S
καὶ E Conj
προδραμὼν Tendo corrido V-APA-NMS
εἰς Para Prep
τὸ O Art-ANS
Metodologia de Exegese Bíblica 75

ἔμπροσθεν adiante Adv


ἀνέβη Subiu V-AIA-3S
ἐπὶ Em, ou dentro Prep
συκομορέαν, sicômoro, N-AFS
ἵνα Para que Conj
ἴδῃ Pudesse ver/vê- V-ASA-3S
αὐτόν, ele, -lo PPro-AM3S
ὅτι Por Conj
ἐκείνης Aquele DPro-GFS
ἤμελλεν Estava pretes V-IIA-3S
διέρχεσθαι. Passar V-PNM/P
καὶ E Conj
ὡς Como Adv
ἦλθεν Viria V-AIA-3S
ἐπὶ Para Prep
τὸν O Art-AMS
τόπον, lugar, N-AMS
ἀναβλέψας Olhou para cima, V-APA-NMS
ὁ - Art-NMS
Ἰησοῦς Jesus N-NMS
εἶπεν Disse V-AIA-3S
πρὸς Para Prep
αὐτόν ele, PPro-AM3S
Ζακχαῖε, Zaqueu, N-VMS
σπεύσας apressado V-APA-NMS
κατάβηθι· desça; V-AMA-2S
σήμερον hoje Adv
γὰρ De fato, realmente Conj
ἐν Em Prep
τῷ A Art-DMS
Metodologia de Exegese Bíblica 76

οἴκῳ Casa N-DMS


σου De você PPro-G2S
δεῖ Cabe, convem V-PIA-3S
με me PPro-A1S
μεῖναι. ficar. V-ANA
καὶ E Conj
σπεύσας Apressado V-APA-NMS
κατέβη, Desceu V-AIA-3S
καὶ E Conj
ὑπεδέξατο Recebeu V-AIM-3S
αὐτὸν ele, -o PPro-AM3S
χαίρων. satisfeito. V-PPA-NMS
καὶ E Conj
ἰδόντες Tendo visto V-APA-NMP
πάντες Todos Adj-NMP
διεγόγγυζον murmuraram, V-IIA-3P
resmungaram
λέγοντες dizendo, V-PPA-NMP
ὅτι - Conj
Παρὰ Com Prep
ἁμαρτωλῷ Pecador Adj-DMS
ἀνδρὶ Homem N-DMS
εἰσῆλθεν Entrado V-AIA-3S
καταλῦσαι. Ficar, alojar-se. V-ANA
σταθεὶς Tendo estado V-APP-NMS
δὲ Além disso, de Conj
mais a mais
Ζακχαῖος Zaqueu N-NMS
εἶπεν Disse V-AIA-3S
πρὸς Para Prep
Metodologia de Exegese Bíblica 77

τὸν O Art-AMS
Κύριον Senhor N-AMS
Ἰδοὺ Veja, V-AMA-2S
τὰ A Art-ANP
ἡμίσιά* Metade Adj-ANP
μου meus PPro-G1S
τῶν Das Art-GNP
ὑπαρχόντων, Posses V-PPA-GNP
Κύριε, Senhor N-VMS
τοῖς Para os Art-DMP
πτωχοῖς Pobres Adj-DMP
δίδωμι, dou, V-PIA-1S
καὶ E Conj
εἴ Se Conj
τινός De alguém IPro-GMS
τι Alguma coisa IPro-ANS
ἐσυκοφάντησα Tenho defraudado, V-AIA-1S
ἀποδίδωμι Eu restaurarei V-PIA-1S
τετραπλοῦν. quadruplo. Adj-ANS
εἶπεν Disse V-AIA-3S
δὲ Mais Conj
πρὸς Para Prep
αὐτὸν Ele PPro-AM3S
ὁ - Art-NMS
Ἰησοῦς Jesus, N-NMS
ὅτι - Conj
Σήμερον Hoje Adv
σωτηρία Salvação N-NFS
τῷ À Art-DMS
Metodologia de Exegese Bíblica 78

οἴκῳ Casa N-DMS


τούτῳ Essa DPro-DMS
ἐγένετο, Tem chagado, V-AIM-3S
καθότι Porque Adv
καὶ Também Conj
αὐτὸς Ele PPro-NM3S
υἱὸς Um filho N-NMS
Ἀβραάμ De Abraão N-GMS
ἐστιν· é: V-PIA-3S
ἦλθεν Veio V-AIA-3S
γὰρ De fato, Na Conj
verdade
ὁ O Art-NMS
Υἱὸς Filho N-NMS
τοῦ - Art-GMS
ἀνθρώπου Do homem N-GMS
ζητῆσαι Buscar, procurar V-ANA
καὶ E Conj
σῶσαι Salvar V-ANA
τὸ Aquele, aquilo Art-ANS
ἀπολωλός. perdido. V-RPA-ANS

3.2 DESMONTAGEM DA ESTRUTURA

A desmontagem de um texto deve fixa-se na proposta


de fragmentar em unidades lógicas ou que apresentem
sentido, desde uma simples palavra a uma oração completa.
Ou, para ficar mais claro, o estudante pode optar por
separar as frases com seus verbos. É importante lembrar
que a sensibilidade do exegeta quem encontrará as partes
Metodologia de Exegese Bíblica 79

condizentes com a necessidade de interpretar. Esse


procedimento permitirá ao estudante ter maior domínio
sobre o texto. E, para dar maior agilidade, cada seguimento
terá um numero de identificação e também a definição dos
atuantes.
1- Passando por Jericó,
2- quando [Jesus] entrava [na cidade],
3- eis que um homem,
4- chamado pelo nome de Zaqueu,
5- que era chefe dos cobradores de impostos e rico
6 - ele estava tentando ver quem Jesus era,
7- mas não tinha condições
8- por causa da multidão e
9-porque era de pequena estatura
10- Correu à frente,
11- subiu em um sicômoro para que pudesse vê-lo
12- Pois aquele era o [caminho]
13- pelo qual estava prestes a passar.
14- E, passando ele [Jesus]
15- pelo lugar procurado [por Zaqueu].
16- [Vendo-o], Jesus disse a Zaqueu:
17- Desce depressa.
18- Hoje, de fato,
19- convém que eu fique na sua casa.
20- E, depressa,
21- desceu e o recebeu com satisfação.
Metodologia de Exegese Bíblica 80

22- Vendo isso,


23- todos resmungaram dizendo:
24- Com um homem pecador ele entrou [na casa],
25- para alojar-se.
26- Em consequência disso, Zaqueu disse ao Senhor:
27- A metade de minhas posses Senhor, darei aos pobres.
28- E, se de alguém, qualquer coisa eu tenha fraudado,
29- restauro quatro vezes mais.
30- Disse mais Jesus a ele:
31- Hoje veio a salvação para essa,
32- porque ele também é um filho de Abraão.
33- O Filho do homem, de fato veio,
34- para procurar e salvar o que foi perdido.

3.3 ATORES POR SEGUIMENTOS

a) Complexo 01 –introdutório
1 Passando por Jericó,
Jesus age
2 quando [Jesus] entrava [na cidade],

3 eis que um homem,


4 chamado pelo nome de Zaqueu,
5 que era chefe dos cobradores de
impostos e rico Zaqueu age
6 ele estava tentando ver quem Jesus
era,
7 mas não tinha condições
Metodologia de Exegese Bíblica 81

8 por causa da multidão e A Multidão Age

9 porque era de pequena estatura


10 Correu à frente,
11 subiu em um sicômoro para que
Zaqueu age
pudesse vê-lo
12 Pois aquele era o [caminho]
13 pelo qual estava prestes a passar.

b) Complexo 02 – desenvolvimento
14 E, passando ele [Jesus]
15 pelo lugar procurado [por Zaqueu].
16 [Vendo-o], Jesus disse a Zaqueu:
Jesus age
17 Desce depressa.
18 Hoje, de fato,
19 convém que eu fique na sua casa.

20 E, depressa,
Zaqueu age
21 desceu e o recebeu com satisfação

22 Vendo isso,
23 todos resmungaram dizendo:
24 Com um homem pecador ele entrou A Multidão Age
[na casa],
25 para alojar-se

26 Em consequência disso, Zaqueu disse


ao Senhor:
27 A metade de minhas posses Senhor,
darei aos pobres. Zaqueu age
28 E, se de alguém, qualquer coisa eu
tenha fraudado,
29 restauro quatro vezes mais
Metodologia de Exegese Bíblica 82

c) Complexo 03 – conclusivo
30 Disse mais Jesus a ele:
31 Hoje veio a salvação para essa,
32 porque ele também é um filho de
Abraão. Jesus age
33 O Filho do homem, de fato veio,
34 para procurar e salvar o que foi
perdido.

O estudante pode perceber que o complexo de atores


dos textos antigos, neste caso o grego koinê, o número de
atores é bastante resumido. Nesse texto, há três atores numa
cadeira de ações simples para montagem da estrutura
narrativa:
Complexo 01 - introdutório
Jesus – Zaqueu – A multidão
Zaqueu
Complexo 02 - desenvolvimento
Jesus – Zaqueu – A multidão
Zaqueu
Complexo 03 - conclusivo
Jesus

Ao realizar esse mapeamento, o pesquisador deverá


realizar as seguintes análises. Quem aparece mais no texto?
Quem é o ultimo a agir? Respondendo essas perguntas, ele
poderá determinar com mais clareza quem são os atuantes
principais (protagonista) quem são os personagens de
Metodologia de Exegese Bíblica 83

composição do cenário. Veja: Zaqueu (4 vezes); Jesus (3


vezes) e; A multidão (2 vezes).
O fato de Jesus aparecer menos vezes que Zaqueu,
não indica que Jesus é coadjuvante. Isso porque a literatura
do evangelho é um modelo de biografia. Neste caso, Jesus
é protagonista de todo evangelho. Mas, Zaqueu é o ponto
central da verdade prática dessa parte do evangelho, ou
seja, dessa perícope.

3.4 EXEMPLO DE ANÁLISE

a) Atores por partes estruturais


Complexo 01 - introdutório
1 Passando,
Jesus age
2 entrava,

3 um homem,
4 Zaqueu,
5 chefe
cobradores de impostos Zaqueu age
rico
6 tentando ver
7 não tinha condições

8 A Multidão Age

9 de pequena estatura
10 Correu,
11 Subiu Zaqueu age
Sicômoro
vê-lo
Metodologia de Exegese Bíblica 84

12 era
13 Estava
passar.
Complexo 02 - desenvolvimento
14 Passando
15 lugar procurado
16 disse:
Jesus age
17 Desce depressa.
18 Hoje,
19 convém que eu fique na sua casa.

20 depressa
21 Desceu
Recebeu Zaqueu age
com satisfação

22 Vendo
23 Resmungaram
24 um homem pecador A Multidão Age
entrou [na casa],
25 alojar-se

26 Disse
27 A metade
minhas posses Senhor
darei
aos pobres. Zaqueu age
28 Alguém
fraudado,
29 Restauro
quatro vezes mais
Complexo 03 - conclusivo
Metodologia de Exegese Bíblica 85

30 Disse:
31 salvação,
32 ele também é
filho de Abraão.
33 O Filho do homem Jesus age
Veio
34 Procurar
Salvar
perdido.

Depois desse referente (Zaqueu), já se pode traçar


alguns caminhos para o processo de trabalho mais amplo da
exegese. Neste caso, as palavras fortes (chaves) devem ser
extraídas das ações de Zaqueu ou que se referem a ele.
Complexo 01 - introdutório
3 um homem,
4 Zaqueu,
5 chefe
cobradores de impostos Zaqueu age
rico
6 tentando ver
7 não tinha condições

9 de pequena estatura
10 Correu,
11 Subiu
Sicômoro Zaqueu age
vê-lo
12
13
Complexo 02 - desenvolvimento
20 depressa
Metodologia de Exegese Bíblica 86

21 Desceu
Recebeu Zaqueu age
com satisfação

26 Disse
27 A metade
minhas posses Senhor
darei
aos pobres. Zaqueu age
28 Alguém
fraudado,
29 Restauro
quatro vezes mais

b) Verbos por partes estruturais


Á claro que o estudante pode extrair algo mais. Pode
inclusive retirar algo da ação de Jesus, ou da multidão que
se refere a Zaqueu. Mas, para simplificar, vamos extrair os
verbos que estão diretamente associados à Zaqueu e sua
presença.
Complexo 01 - introdutório
Ver, Correu, Subiu, vê-lo

Complexo 02 - desenvolvimento
Desceu, Recebeu, regozijando-se, Disse, darei, fraudado,
Restauro
Complexo 03 - conclusivo
Ausente
Metodologia de Exegese Bíblica 87

a) Adjetivos por partes estruturais


Complexo 01 –introdutório

3 um homem,
4
5 chefe dos cobradores de impostos
Zaqueu age
rico
6
7

9 de pequena estatura
10
11 Zaqueu age
12
13

Complexo 02 – desenvolvimento
20
Zaqueu age
21 regozijando-se

3.4.1 Análise por associação Verbo-Adjetivo

Depois de extrair do texto algumas palavras fortes


(verbos e adjetivos nesse caso), podemos prosseguir com
outro modelo de análise a partir dessa seleção. Em primeiro
plano, pegaremos os adjetivos e suas possíveis relações.
Mas é preciso realizar um trabalho em torno da seleção dos
adjetivos e verbos. Para orientar o leitor, faremos uma
breve análise sociológica, antropológica e cultural para
servir como exemplo de análise. Como a dimensão da
análise pode ser extremamente ampla, iremos focar mais no
adjetivo sob a reflexão de causa-condição do personagem,
Metodologia de Exegese Bíblica 88

Zaqueu, caso específico de nosso trabalho.


“Chefe dos cobradores de impostos” ( ) é
uma única palavra no grego, como se fosse um título, como
exemplo “embaixador”, uma palavra que resume o representante
diplomático de país. Dessa forma o termo resume
a ideia de “Chefe” ( ) entre aqueles que “cobravam
impostos”, ou “coletor” ( ) - Algumas traduções
podem apresentar a tradução de “Publicano” para cobrador
de impostos. Semelhante associação entre o prefixo “ ”
ocorre com o sacerdote. O sacerdote comum é Hiereus
( ) o Sumo sacerdote é sendo assim, o
prefixo “ ” está relacionado com aquele que é mais
antigo, mais importante, o modelo ideal, o principal ou o
chefe. O uso desse prefixo não deixa dúvidas sobre a
posição de nosso personagem no contexto de sua história,
ou seja, ele realmente é apresentado como “chefe dos
coletores de impostos”, se considerando o texto.
É preciso compreender a dimensão dessa análise e
seus limites. Para entender melhor o trabalho de exegese
aqui presente e esses limites, observamos o seguinte. A
exegese é um trabalho de pesquisa e, como tal, deve partir
de princípios fundamentais que a orientem e lhe dê uma
objetividade. Por consequência, essa análise do adjetivo
está inserida em um contexto sócio-político em dado
momento da história. Dessa forma, precisamos descortinar
alguns aspectos dessa pesquisa.
Para uma análise sócio-política, contextualizamos
tanto o personagem quanto seus adjetivos. Aqui temos um
ambiente histórico bem definido, no qual há uma cidade
, um indivíduo e sua função social
.
Metodologia de Exegese Bíblica 89

Para iniciarmos essa análise em torno do adjetivo,


associado ao sujeito e o local onde vive, precisamos traçar
um perfil de busca que saia do ambiente mais amplo ao
mais restrito, ou seja, do macro para o micro ambiente. E,
vendo dessa forma, o ponto de partida será Império
Romano, nesse século; a Palestina na época de Jesus e dos
apóstolos, a Judéia e o micro ponto Jericó. Observe a
imagem abaixo.

Do ponto de vista da vida romano nessa época (séc. I


d.C.), havia um grande avanço administrativo, para fins de
melhorar o controle por parte da administração. No
primeiro século foram reduzidos os poderes dos
magistrados e houve um maior controle do império sobre as
Metodologia de Exegese Bíblica 90

divisas arrecadadas com a cobrança de impostos. Para


aperfeiçoar o controle sobre as províncias, também foi
criado um sistema de correspondência a fim de manter as
autoridades romanas informadas de acontecimentos em
toda extensão dos domínios imperiais. Na organização
imperial dessa época Herodes, reivindicou de 25-33% dos
grãos da palestina e 50% do fruto das árvores. Essa taxação
incluía taxas per capta em dinheiro. Além disso, Herodes
impõe taxas indiretas no trânsito de comércio e no mercado
de troca. O Templo reivindicava taxas em espécie e em
dinheiro. Sobre isso, Flávio Josefo menciona o fato de que
após a morte de Herodes, o Grande, uma delegação de
judeus é enviada a Roma para se queixar sobre as altas
taxas com Augusto.
Entre os anos que Jesus era adulto já não era mais
Herodes “O Grande” quem governava a Judeia, mas seu
filho Herodes Antipas, também chamado de Herodes
Tetrarca da Judéia. Governador desde o início da era cristã
até o ano 39 depois de Cristo. Esse foi o Herodes que
mandou prender e decapitar João Batista. Ele é, entre os
herodianos, o mais citado no Novo Testamento (Lc 3.1;
9.7-9; 13.31-32; 23.7-12; Mt 14.1-12).
Quanto aos que cobravam impostos, precisamos
diferenciar duas classes. A primeira era formada de homens
muito ricos, normalmente romanos, que venciam o leilão
para adquirir o direito de cobrar os impostos em
determinada região. Já a segunda classe de publicanos era
de trabalhadores contratados pelos primeiros, normalmente
judeus e não tão ricos quanto aos da primeira classe.
O Império Romano arrendava o direito de cobrança
de impostos para quem desse o maior lance para tal. Assim,
o arrendatário pagava adiantado uma parte da soma dos
Metodologia de Exegese Bíblica 91

impostos que ainda iria colher de determinado distrito. Esse


era o publicano. Depois disso, os publicanos recebiam o
direito de cobrar os impostos e, evidentemente, cobravam
taxas inflacionadas. Muitas vezes, cobravam um valor
muito maior do que o devido, já que não havia um preço
fixo do quanto poderiam cobrar, pois variavam entre 25 a
50%. Com isso, Zaqueu, nosso personagem provavelmente
foi esse tipo de publicano, da região de Jericó, pois ele é
chamado de “chefe dos publicanos” (Lc 19.2), apesar de ser
um judeu.
Os cobradores de impostos τελώνης (telônes) eram
muito desprezados pelos judeus do primeiro século,
estando na base da escala de vergonha e honra da qual
fariseus encontravam no topo. Os τελώνης eram
normalmente equiparados a pecadores (Mt 9.10-11; 11.19;
Mc 2.15-16; Lc 5.30; 7.34; 15.1); gentios (Mt 18.17) e
prostitutas (Mt 21.31-32). Esse ponto é bem ilustrado na
oração feita pelo fariseu da parábola de Jesus: “Ó Deus,
graças te dou porque não sou como os demais homens,
roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este
publicano” (Lc 18.11). Eles eram desprezados por serem
judeus que trabalhavam direta ou indiretamente em prol do
império Romano e por comumente extorquirem o povo,
cobrando mais do que deveriam (Lc 3.12-13). Também
eram desprezados por serem o símbolo maior de um
sistema econômico que privilegiava as pessoas ricas e
oprimia as mais pobres. Os cobradores de impostos eram
normalmente malquistos como pessoas muito corruptas e,
de fato, por vezes tinham como obrigação desapropriar
casas e transformar devedores em escravos.
A região da Palestina, dominada pelos romanos na
época de Jesus, tenha a família herodiana como
Metodologia de Exegese Bíblica 92

governantes e Herodes Antipas, o Tetrarca da Judéia era o


Governador. A cidade de Jericó, pertencente aos limites da
Judeia, era cidade com um fator interessante, pois possuía,
na época, no seu entorno, a plantação de uma especiaria
muito valiosa e procurada para a “limpeza“, “purificação”
da pele, e para a fabricação de pomadas cicatrizantes e de
perfumes, pela sua fragrância especial: O Bálsamo de
Jericó. Com essa informação, pode-se perceber que a taxa
de imposto sobre os produtos de Jericó eram altas, pois
Herodes havia imposto uma cobrança de 50% do fruto das
árvores. E, neste caso o Bálsamo de Jericó era o principal
produto da cidade em que Zaqueu atuava como chefe dos
cobradores de impostos.
Sobre a altura de Zaqueu não há muitos informações,
nem com relação a metragem ou a causa dela. A altura
média dos judeus adultos do séc. I, segundo pesquisadores,
ficava entre 1,60 ou 1,78 m (É uma diferença considerável
em se tratando da altura humana 18 cm). Mas a informação
de 1,60 m é mais sensata. Diante disso, para alguém de
1,60 m, vê como “de baixa estatura” quem tem entre 1,0 e
1,40m para baixo. O fato é que sua altura era um dos
impedimentos para conseguir ver Jesus passando pelo
caminho, na entrada de Jericó. No entanto, deve-se associar
à essa dificuldade sua condição social de indesejável.
Imaginemos um homem de altura inferior, porte físico em
desvantagem em relação à maioria, no meio de uma
multidão, trabalhando em uma profissão odiada por essa
mesma multidão. Subir em uma árvore é uma alternativa
que, além de proporcionar segurança, dava maior garantia
de visão.
Embora seu desejo fosse ver, acabou resultando em
ser visto e também chamar a atenção das demais pessoas da
Metodologia de Exegese Bíblica 93

multidão. Esse chamado de atenção que a multidão recebe,


resultou em sua reprovação em relação à atitude de Jesus
em entrar na casa de Zaqueu e alojar-se nela. De um ponto
de vista mais objetivo, todo evento dessa perícope é
movido pelo interesse de Zaqueu em ver Jesus e decidir
encontra-lo naquele caminho à entrada de Jericó. Todos os
outros fatores estão atrelados ao desejo. Qualquer análise
além da que realizamos deve seguir na mesma direção, já
que o narrador deixa claro que o desejo o moveu.
Muitos outros fatores podem ser levados em conta
nessa análise literária. Informações sobre o texto e a
narração de Lucas também deve ser levado em conta. No
evangélico de segundo Lucas, o vocábulo plousios
( ) é usado por cerca de 11 vezes em e apenas 3
vezes em Mt e 2 vezes em Mc. Duas vezes Lucas usa o
verbo enriquecer (ploutein), ausente em Mt e Mc. No
discurso da planície, Lucas contrapõe, à série de bem-
aventuranças (6.20-23), uma série de maldições contra os
ricos (6.24-26). Na parábola de 12.16-21, o evangelista fala
de um rico insensato "não enriquecido para Deus". Jesus
aconselha a não convidar os ricos para "almoço ou jantar"
(14.12). O rico, incapaz de ver o pobre Lázaro à sua porta,
acaba no inferno (Lc 16.19-31). O jovem "muitíssimo rico"
(Lc 18.22-23) vira as costas à proposta de Jesus dando
margem à afirmação do Mestre, segundo a qual os
possuidores de riqueza, com dificuldade entrarão no Reino
de Deus (Lc 18.24s). A s vultosas ofertas lançadas no
tesouro do Templo, pelos ricos, são privadas de valor (Lc
21.1ss). Apresentando Zaqueu como plousios, Lucas indica
tratar-se de uma pessoa da pior espécie, com
desqualificação social, porque comandava os cobradores de
impostos e sem grande possibilidade de obter salvação.
Metodologia de Exegese Bíblica 94

Com essa pequena análise, o estudante poderá


compreender a extensão de uma pesquisa exegética, mas
deve estar ciente também que há vários ramos do
conhecimento que podem ser consultados em uma
pesquisa. A extensão, na verdade, dependerá da
necessidade e da motivação, mas contará também com a
sensibilidade do pesquisador.
O estudante pode levantar a seguinte questão: Mas
isso é exegese? Acaba aí? A resposta é, em parte, sim.
Porque se quisermos associar esse texto com uma prática
contemporânea, já estará por conta da hermenêutica. Por
outro lado, não acaba apenas nesse levantamento, se
considerarmos a dimensão das buscas a serem realizadas,
desde as análises literárias, às históricas e sociológicas.
Tudo depende do interesse pelas dimensões que o texto
oferece. Para estender ainda mais, só restam redefinir as
outras palavras fortes e realizar as buscas em torno da
semântica das palavras, o sitz im leben entre outros.
Metodologia de Exegese Bíblica 95

CAPÍTULO V

ORIENTAÇÕES SOBRE AS ABORDAGENS DA


CRÍTICA

O desenvolvimento das ciências e da lingüística


permitiu aos especialistas e tradução e interpretação
avaliarem os textos da Bíblia por uma perspectiva menos
conservadora, ou seja, de forma que ficaram mais claras as
inconsistências literárias e também peculiaridades
narrativas e de gêneros que antes não havia possibilidade
de serem percebidas.
Diante desse avanço da lingüística e do conhecimento
dos gêneros, foram desenvolvidas diversas possibilidades
de reconhecimento dos problemas relacionados à redação
dos textos bíblicos. Ainda mais coisas podem ser
encontradas com essas diferentes formas críticas em
relação aos gêneros, são as formas específicas das fontes
literárias. Com isso, o estudante pode perceber a dimensão
e a complexidade que o estudo da literatura bíblica pode
oferecer. Vejamos como a crítica entende as
inconsistências presentes no texto bíblico
Metodologia de Exegese Bíblica 96

1. CRÍTICA LITERÁRIA (OU DAS FONTES)

A Crítica Literária tem como trabalho caminhar ao


encontro do processo de formação das obras literárias
históricas. Ela faz esse trabalho buscando as etapas nas
quais um texto foi construído. Nessa questão, ela pretende
distinguir aquilo que os autores utilizaram até a conclusão,
analisando se houve alguma incursão ao longo do trabalho
em relação ao trabalho final.
Considerando as características do texto bíblico e da
maneira com que foi estruturado como literatura.
Percebemos que a Bíblia, assim como boa parte de
literaturas narrativas antigas, é resultado de uma transição
da oralidade ao texto por um processo no qual o evento da
experiência não se faz mais presente e a linguagem escrita
deve cumprir o papel de ligação entre a experiência e a
comunidade. “importa ficarmos atentos à poderosa
influência da tradição oral que, direta ou indiretamente,
contribuiu muito mais para a estrutura literária do que
somos capazes de perceber por causa de nossa orientação
livresca com relação ao texto” (GOTTWALD, 1988, p. 84).
Com isso, o Antigo Testamento se destaca na característica
de influência da tradição oral.
Os textos resultantes de tradição oral costumam
apresentar certos exageros nas características de
personagens, ações de personagens e fatos envolvendo
atuantes de certos eventos. Assim, é possível entender que
certos registros, podem conter um apelo linguístico sem a
pretensão de se tornar ou de apresentar verdades ou a
realidade.
Entre as formas orais comuns identificadas como
subjacentes aos textos bíblicos estão as seguintes:
Metodologia de Exegese Bíblica 97

narrativas que tratam de antepassados importantes ou


figuras religiosas num estilo imaginativo repleto de
prodígios, estilo que transcende a experiência cotidiana, e
que pode servir para explicar as origens de traços
geográficos, instituições e costumes; hinos e cânticos de
ação de graças que celebram uma vitória na guerra ou
uma libertação da fome, doença ou opressão atribuindo a
mudança da sorte à divindade; lamentações que
pranteiam a morte de pessoas importantes ou deploram
catástrofes públicas; leis que regulam o comportamento
comunal; regulamentos sacerdotais que orientam as
práticas rituais; ditos proféticos que proclamam
julgamento ou salvação para indivíduos ou nações;
aforismos ou provérbios artísticos que destilam sabedoria
extraída de ampla experiência (GOTTWALD, 1988, p.
84).

O resultado final da literatura do Antigo Testamento é


que todas as tradições foram reunidas e tornadas obras
autorizadas. Os textos começaram como pequenos
fragmentos e, depois, se juntaram formando os livros.
Com os textos do Novo Testamento não foi diferente,
porque os cristãos iniciam com um pequeno grupo de
seguidores e décadas mais tarde a consciência da
necessidade do registro de sua fé aparece. O evangelho
mais antigo é Marcos, datado do ano 70 d.C.. Os textos são
divididos em fontes: de Marcos, de Lucas, de Mateus, de
João e outra fonte conhecida como “Q”. Assim, o
ajustamento dessas fontes é um terreno interessante para a
Crítica Literária e também para o exegeta.
Uma observação importante, contida no texto de
Lucas nos mostra o quanto clara é a condição de pesquisa e
ajuntamento dos fragmentos usados para compor todo o
evangelho, veja:
Metodologia de Exegese Bíblica 98

Visto que muitos houve que empreenderam uma narração


coordenada dos fatos que entre nós se realizaram,
conforme nos transmitiram os que desde o princípio
foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra,
igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada
investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito,
excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem
(BÍBLIA, Lucas, 1.1-3).

Quando a produção do evangelho de Lucas estava em


desenvolvimento, o texto de Marcos o serviu como fonte e,
da mesma forma, serviu para Mateus. Assim, após a coleta
do material, procedeu-se a sincronização do texto. Nisso, a
perspectiva particular de cada autor, ou grupo de autores,
prevaleceu. Na composição, quando percebe a fala do
narrador, na verdade, percebe-se a posição analítica do
autor. A decisão de quem reúne os materiais coletados das
testemunhas dão ideia da possibilidade as obras manterem
relação com interesses diferentes mais dos autores que das
testemunhas.
a maioria dos textos bíblicos foram escritos “em
mutirão”, isto é, foram transmitidos e modificados ao
longo das gerações, a princípio, oralmente. Sabemos
também que cada geração adaptou, reformulou e
enriqueceu tais textos, a partir de novas experiências
(SILVA, 2000, p. 175).

Esse arcabouço de possibilidades de intervenções ao


texto até sua faze final é uma característica que permite à
Crítica Literária observar contradições e determinar se há
unidade e conformidade ou disparidade e inconsistências.
Mesmo encontrando interferências em um texto, quando
comparado a oro, ainda é precipitação criar juízo
desqualificador ao texto final, pois há varias formas de se
Metodologia de Exegese Bíblica 99

trabalhar um texto e dá-lo condições de ser compreendido.


Neste caso, é importante conhecer a causa das diferenças
ou disparidades em textos que abordam de forma diferente
os mesmos eventos.
É possível encontrar nos textos bíblicos algumas
repetições e confusões no uso de alguns termos. Isso nos
chama a atenção, como o que ocorre em Jo 4,47 e 4,49;
4,50 e 4,53. Vejamos:
47 Quando ele soube que Jesus tinha vindo da Judéia
para a Galiléia, foi ter com ele, e lhe rogou que
descesse e lhe curasse o filho; pois estava à morte.

49 Rogou-lhe o oficial: Senhor, desce antes que


meu filho morra.

50 Respondeu-lhe Jesus: Vai, o teu filho vive. E o


homem creu na palavra que Jesus lhe dissera, e
partiu.

53 Reconheceu, pois, o pai ser aquela hora a mesma


em que Jesus lhe dissera: O teu filho vive; e creu
ele e toda a sua casa.

Há casos em que o mesmo episódio foi narrado mais de


uma vez, por autores diferentes e que demonstram
particularidades notáveis. Mesmo tendo usado fontes
próximas ou semelhantes, alguns matem particularidades
de seus autores. Essa é uma questão que deve chamar a
atenção do estudante. Há, por exemplo, a ideia de que o
evangelho de marcos possua mais de uma versão e que, na
ocasião que serviu de fonte para Lucas, tinha uma redação
diferente; mas, com Mateus tenha ocorrido de essa versão
ter passado já por uma atualização (THEISSEN, 2009).
Metodologia de Exegese Bíblica 100

Isso demonstra que os textos podem estar envolvidos em


ambientes de interesses ideológicos ou teológicos bem
distintos. Vejamos o caso da Oração do Pai Nosso.

Mateus 6.9-13 Lucas 11.2-4


Pai nosso, que estás nos Pai, santificado seja o teu
céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; o
nome; venha o teu reino; pão nosso cotidiano dá-
faça-se a tua vontade, assim nos de dia em dia; perdoa-
na terra como no céu; o pão nos os nossos pecados,
nosso de cada dia dá-nos pois também nós
hoje; e perdoa-nos as nossas perdoamos a todo o que
dívidas, assim como nós nos deve; e não nos deixes
temos perdoado aos nossos cair em tentação.
devedores; e não nos deixes
cair em tentação; mas livra-
nos do mal [pois teu é o
reino, o poder e a glória para
sempre. Amém].

Ao estudante que se deparar com casos desse tipo,


recomendamos que recorra ao texto grego e compare os
termos se realmente pertencem ao mesmo radical. Feito
isso, é preciso analisar as particularidades de cada autor, a
fim de identificar se as diferenças estão relacionadas com a
fonte ou com algum tipo de intervenção do autor para
apresentar sua visão sobre o evento narrado.
Metodologia de Exegese Bíblica 101

2. CRÍTICA DOS GÊNEROS LITERÁRIOS

Segundo Hermann Gunkel, em culturas com forte


traço de oralidade em seus períodos históricos mais
remotos a variedade de gêneros literários podem
representar diferentes contextos sociais e, por consequência
perspectivas da vida prática. Com isso, H. Gunkel
desenvolve o que conhecimentos hoje por “Crítica dos
Gêneros” na avaliação e análise dos gêneros literários. A
partir desse princípio de gêneros em contextos sociais
diferentes, a Crítica dos Gêneros Literários se emprenha em
determinar a estrutura formal de um texto; comparar tal
texto com outros estruturalmente semelhantes, a fim de
identificar o Gênero Literário; em que situação esse Gênero
era usado e sua finalidade (SILVA, 2000, p. 187).
Todo contexto social possui também um conjunto
próprio de ideias sobre a composição de seus mundos, ou
seja, há um campo semântico para cada palavra usada nos
diversos gêneros literários de uma obra. Não é diferente
para os livros que compõem o Antigo e o Novo Testamento
segundo; isto é, cada um possui uma estrutura semântica
vigente nos eventos reunidos em forma de gêneros
literários. Essa semântica e a maneira com que sua
estrutura é apresentada fornecem elementos para o trabalho
exegético.
É preciso entender que, apesar de todas as análises
propostas por qualquer crítica, os autores ou grupo de
autores dos livros da Bíblia, ao desenvolverem seu trabalho
literário, não tinham em mente uma articulação proposital
ou desejavam realizar uma demonstração de aparelhos
literários de sua época. Eles, de forma espontânea, fizeram
seu trabalho de recolherem os testemunhos e construírem
as narrativas de forma que pudessem relatar aquilo que as
Metodologia de Exegese Bíblica 102

comunidades cristãs necessitam aprender. O que os críticos


fazem hoje, é tentar reconstruir a arquitetura literária para
entender como e de que forma os materiais serviram para
formar a rede de textos bíblicos que existe hoje. A partir
daí, é possível encontrar gêneros literários que serviram
para auxiliá-los nesse trabalho. Assim que encontrados, os
gêneros literários podem servir como fonte orientadora dos
propósitos e dos interesses das comunidades, bem como
apresentar seu estilo de vida cristã mediante a semântica
presentas nas composições dos gêneros.
Dentre os gêneros encontrados na Bíblia temos a
Novela, como ocorre na história de José (Gn 37; 39-48;
50), a narrativa contida no livro de Jó (1-2; 42,7-17) e o
livro de Rute.
É possível encontrar também várias narrativas
históricas, nas quais é possível encontrar fatos mensuráveis
associados a elementos ideológicos ou teológicos como em:
ISm 18,10-16 (exposição de fatos vv. 10b-11.13.16;
exposição de visão religiosa: vv. 10a. 12.14-15); II Sm 5,6-
12 (exposição de fatos: vv. 5-10a.ll; exposição de visão
religiosa: vv. 10b. 12); lRs 16,23-26 (exposição de fatos:
vv. 23-24; exposição de visão religiosa: vv. 25-26)
(SILVA, 2000, p. 190).
Além desses ricos gêneros literários ainda são
encontrados as sagas, as lendas, as construções de direitos
apodíticos e casuísticos, além dos vários modelos de
exposições proféticas e oráculos que podem varias de autor
para autor e de uma escola para outra.
Não se podem deixar de fora os modelos poéticos,
que tendem a se estender desde os poemas dos salmos até
os textos de sabedoria e provérbios. As estruturas são
complexas se considerarmos que cada um desses gêneros
Metodologia de Exegese Bíblica 103

podem ter subdivisões, como ocorre em salmos. No caso


dos Salmos, há um variado número de subdivisões,
inclusive com gêneros mesclados uns aos outros.
No Novo Testamento, são encontradas narrativas de
biografias, como ocorrem nos evangelhos. Mas há também
outros gêneros; as cartas, por exemplo, que possuem
características variadas e assuntos diversos. Não deve ficar
de fora desse conjunto os textos de gênero apocalíptico,
que podem aparecer em textos particulares, como nos
últimos capítulos de Daniel, Mateus de Lucas, ou, em
material próprio, como o livro do Apocalipse.
Hermann Gunkel avalia que em situações da vida em
comunidade acaba por dar formas próprias a discursos.
Neste caso, entender o Sitz im Leben, permite compreender
em que casos ou circunstâncias um ambiente pode dar
formas à expressão literária. Desse forma, Gunkel entende
por Sitz im Leben uma situação padrão motivadora do
surgimento dos Gêneros Literários; uma atividade
generalizada, partilhada e repetível. Para termos como
exemplo podemos citar as festas litúrgicas, a pregação
missionária, a derrota em uma guerra compartilhada por
toda uma nação ou povo.
Sitz im Leben não se trata de acontecimento histórico,
por exigir a presença de personagens e cenários específicos.
O bom exemplo deixado por Arenhoevel, citado por Cássio
M. da Silva (SILVA, 2000, p. 187), dá uma boa explicação
sobre a diferença entre um fato histórico e um Sitz im
Leben:
um acidente entre dois motociclistas oferece material
para três tipos diferentes de discurso: a descrição
acalorada feita por um transeunte a seus amigos, o
boletim de ocorrência escrito por um policial e o sermão
Metodologia de Exegese Bíblica 104

de um padre sobre a fugacidade da vida humana. O Sitz


im Leben não é o acidente, mas a situação na qual se fará
uma descrição do acidente. A conversa entre amigos
apresentará detalhes e expressões totalmente diferentes
dos detalhes e das expressões presentes no boletim
policial e no sermão. Mesmo desconhecendo o fato e a
identidade dos que o descrevem, apenas analisando as
três versões, somos capazes de reconstruir o contexto em
que cada uma delas foi utilizada, bem como as prováveis
intenções de seus autores.

O trabalho que realizamos no processo de


interpretação do texto bíblico permite-nos avaliar e analisar
cada partícula do texto e nos aproximar daquilo que as
testemunhas tendem a desejar com seus relatos ou com sua
participação no evento. Lembremo-nos da situação do
julgamento, dos jurados e das provas técnicas. Da mesma
forma que se recolhem informações técnicas para avaliar
determinada situação ou evento, podemos aproveitar o
relato das testemunhas para entender um evento ou uma
narração. Neste caso, onde estão as testemunhas? Elas
podem ser encontradas na narração ou em outros
documentos históricos, como citamos antes no conjunto de
técnicas na Análise Comparativa (p. 27). As testemunhas
podem ser de diversas naturezas, desde a vida em
comunidade até sua relação mais estreita com o mundo que
a cerca.
É importante entender que o princípio do uso das
provas técnicas nos permite avançar na direção daquilo que
um determinado evento significa ou daquilo que um autor
tinha intenção de dizer. Mas os autores bíblicos não estão
presentas para atestar as interpretações. Isso nos coloca
diante da possibilidade hermenêutica de interpretação. As
várias suposições diante de uma narrativa é o limiar entre o
Metodologia de Exegese Bíblica 105

que a exegese pode oferecer e o que a hermenêutica


apresenta como recurso diante da ausência da prova
técnica. Mas é recomendável que o pesquisador esgote
todas as possibilidades da coleta de dados para as provas
técnicas, pois a hermenêutica é uma interpretação de risco,
principalmente quando ela valoriza mais a imaginação que
a técnica.
O trabalho do teólogo e do exegeta é evitar por nos
lábios do autor de um texto aquilo que ele não tinha a
intenção de dizer. Valorizar e respeitar o texto da Bíblia é
ser capaz de investir tempo no estudo sobre sua origem,
seus valores ao longo da história, investir em pesquisas
afirmativas sobre suas narrativas, comparar suas versões e a
relação com outros materiais, a fim de evitar fazer de seu
material literário um livro de ciências ou de história
natural.
A Bíblia é um livro com pretensões religiosas, não
históricas, filosóficas ou científicas. Para esses
conhecimentos já temos um conjunto de obras específicas e
montadas ao longo da história para este fim. Chegar ao
conhecimento da intenção dos autores bíblicos, ou se
aproximar dessa intenção, nos fará entender que eles
pretendiam apresentar uma mensagem para seus
descendentes, a fim de fazê-los entender sua condição
diante do Deus que criam. É evidente que todo esse
trabalho não foi para apresentar um mero conhecimento
sobre os fatos históricos que viviam.
Metodologia de Exegese Bíblica 106

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