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DO NOVO
TESTAMENTO
Curso de Introdução
à Crítica Textual
Recursos Recomendados
1. Introdução à Crítica Textual
Anderson, Amy, and Wendy Widder. Textual Criticism of the Bible. Edited by
Douglas Mangum. Revised Edition. Vol. 1. Lexham Methods Series. Bellin-
gham, WA: Lexham Press, 2018.
Apresentação
• Parte de uma série de livros introdutórios sobre Métodos de Estudo Bíblico
• Versão revisada e atualizada
• Descreve a prática da Crítica Textual no Novo e Velho Testamento
• Introdução abrangente e simplificada
Conteúdo
• Introdução à Crítica Textual
• Panorama da Crítica Textual
• Introdução à Crítica Textual do Antigo Testamento
• Introdução à Crítica Textual do Novo Testamento
• Crítica Textual e a Bíblia Hoje
Descrição da Editora
O livro Textual Criticism of the Bible fornece um ponto de partida para o estudo da críti-
ca textual do Antigo e do Novo Testamento. Neste livro, você será apresentado ao mun-
do dos manuscritos bíblicos e aprenderá como os estudiosos analisam e avaliam todos
O livro Textual Criticism of the Bible examina a disciplina, explica a terminologia técnica
e demonstra em vários exemplos como várias questões textuais são avaliadas. Con-
ceitos complicados são claramente explicados e ilustrados para preparar os leitores
para um estudo mais aprofundado com textos mais avançados sobre crítica textual ou
comentários acadêmicos com discussões detalhadas de questões textuais. Você pode
não se tornar um crítico textual depois de ler este livro, mas estará bem preparado para
fazer uso de uma ampla variedade de recursos de crítica textual.
Apresentação
• Introdução à história do texto e da edição em português
• Aparato Crítico qualificado
• Aparato de Pontuação
• Material produzido para auxiliar tradutores
Descrição da Editora
A quinta edição do Texto Grego do Novo Testamento da United Bible Society (UBS5) com
aparato crítico foi projetada para tradutores e estudantes de línguas originais. Como
NA28 (Nestlè-Aland, vigésima oitava edição), esta é a principal edição do texto original
do Novo Testamento. Ele contém o mesmo texto grego que NA28, diferindo apenas em
alguns detalhes de pontuação e parágrafos.
Apresentação
• Adaptado e expandido das notas textuais de Bruce Metzger ao texto da 4a. Edição
da UBS
• Preparado para pastores e estudantes que precisam de ajuda para navegar nas
informações do aparato crítico da UBS
• Contém comentários textuais às 1390 variantes textuais apresentadas no UBS4
Descrição da Editora
Esta edição é baseada no amplamente conhecido Comentário Textual sobre o Novo
Testamento Grego de Bruce M. Metzger. Ele foi projetado especialmente para traduto-
res que não receberam treinamento formal em crítica textual. Isso permite que eles - e
outras pessoas interessadas no texto origina do Novo Testamento grego - descubram
mais facilmente as razões pelas quais certas variantes de leitura do Novo Testamento
têm maior probabilidade de serem originais do que outras.
MARCELO BERTI
Sejam muito bem vindos ao curso
de Introdução à crítica textual do
Novo Testamento!
Meu nome é Marcelo Berti. Neste curso nós vamos
estudar um pouquinho mais sobre o texto do Novo
Testamento. Este é um curso livre oferecido pelo
Instituto Schaeffer, do Dois Dedos de Teologia.
Tá preparado?
CRÍTICA TEXTUAL
Aula 1
Crítica Textual por Marcelo Berti.
Neste Curso de Crítica Textual nós vamos fazer uma grande apresentação, uma introdução
deste assunto, um assunto tão importante para as nossas igrejas, especialmente nos nossos
dias. Mas antes de entrar propriamente na matéria, eu gostaria de apresentar para vocês o
que nós vamos fazer.
1 | Motivos: A primeira parte do nosso curso contém as duas primeiras aulas e nós
vamos perguntar quais são os motivos de estudar a Crítica Textual. Na primeira aula,
nós vamos definir Crítica Textual e apresentar as suas características e na segunda aula
nós vamos falar um pouquinho sobre as variantes textuais: o que elas são, de onde elas
vêm e o que nós podemos fazer com elas.
2 | Materiais: Na segunda parte do nosso curso, nós vamos falar sobre os materiais
envolvidos na Crítica Textual e nessa aula nós teremos uma aula sobre os materiais,
nós vamos fazer uma introdução aos manuscritos, conhecer um pouco melhor alguns
desses documentos, e nos aproximar um pouco mais das evidências manuscritas do
Novo Testamento.
3 | Métodos: E, por fim, nós vamos falar sobre Métodos da Crítica Textual. Na terceira
parte, nós teremos duas aulas e iremos observar como o processo da Crítica Textu-
al aconteceu, e como nós chegamos no estado atual na academia, no que se refere
ao estudo do Texto do Novo Testamento. Em outras palavras, nós vamos observar de
maneira abrangente, mas introdutória, elementos importantes e fundamentais para a
disciplina da Crítica Textual.
Para o bem deste curso, gostaria também de recomendar alguns materiais para você.
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
2 | Livro: Recomendo também que você procure o livro de Crítica Textual produzido
por Amy Anderson e Wendy Widder. Esse é provavelmente o livro introdutório de Crítica
Textual mais recente, mais atualizado e é muito bem organizado. Vale a pena ter acesso
a esse livro! E você vai perceber que grande parte do nosso curso, grande parte do con-
teúdo é derivado das páginas desse livro.
3 | Texto Grego: Também recomendo que você visite a loja da SBB e lá você encontre
um livro chamado Novo Testamento Grego chamado UBS, a quinta edição. Essa é a edi-
ção mais atual do texto crítico disponível em português com a história do texto, com a
história da edição em português, um aparato crítico qualificado. Nós vamos apresentar
para vocês como o aparato funciona, como que o aparato da UBS funciona e como nós
podemos tirar bom proveito desse material. Mas o UBS é um dos poucos textos críticos
que tem crítica de pontuação. Além de demonstrar onde estão os elementos das Críti-
cas Textuais e as evidências disponíveis, esse texto também tem um aparato de pon-
tuação, que nos ensina ou que nos ajuda a pensar sobre como nós podemos pontuar o
texto, dividir frases, vírgulas e outros sinais importantes para a interpretação do texto. E
no aparato de pontuação você vai encontrar como diferentes versões pontuam, dividem
e, assim, entender melhor como o texto tem sido explicado. Não somente na sua forma
textual, mas também na sua edição textual, incluindo traduções mais recentes. Além
disso, esse material foi feito para tradutores. Então, ele tem muita informação sintetiza-
da importante para pessoas que trabalham em primeira mão com a tradução do texto
das escrituras, para que eles possam fazer isso de uma maneira bem clara, objetiva e
direta. Esse é um texto extremamente importante, vale a pena visitar.
AULA 1 @institutoschaeffer
Introdução
Apresentação
3 | Por mais de 1.400 anos o NT foi copiado à mão: Além disso, por mais ou
menos 1400 anos todo o texto do Novo Testamento foi copiado à mão. Diferente dos
nossos dias, que cópia é basicamente um copiar e colar, no passado o texto era mantido
através da cópia dos documentos, de modo manual. E por 1400 anos foi assim que a
igreja preservou seu texto: copiando à mão.
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
eu consigo comparar com o texto onde eu estou copiando, mas como nós não temos
os originais nós precisamos acessar o texto do Novo Testamento através da investi-
gação dessas cópias feitas por 1400 anos à mão com pessoas que cometeram todos
os tipos de erros concebíveis. As evidências textuais do Novo Testamento manifestam
uma clara demonstração que os Escribas não eram muito diferentes de nós. Eles tam-
bém cometiam erros, eles também ficavam cansados, eles também pulavam palavras,
eles também esqueciam uma palavra ou, eventualmente, copiavam uma palavra de uma
maneira errada.
5 | Temos cerca de 6.000 mss gregos do NT e não existem dois mss idên-
ticos: Somente dos manuscritos gregos, nós temos aproximadamente 6000 manus-
critos e nenhum deles é idêntico. Nós não temos, nesse vasto material disponível para
nosso estudo, sequer dois documentos que sejam idênticos. Desse modo, nós temos
um texto copiado por séculos, à mão, que manifestam uma série de erros e equívocos
de transmissão e de cópia e nós temos uma ampla gama de material para investigar.
Considere, por exemplo, a quantidade de matéria disponível para consulta no Institut für
Neutestamentliche Textforschung (Instituto de Pesquisa do Texto do Novo Testamento),
que é um instituto que mantém os números atualizados de manuscritos descobertos.
Além da lista catalogada de cada um dos manuscritos disponíveis para consulta, no
Virtual Room do INFT nós podemos acessar um grande acervo digital de manuscritos
com fotos e sua devida transcrição. Ou seja, é possível ver a imagem do manuscrito,
bem como seu texto transcrito e cotejado por acadêmicos de vários lugares do mundo.
É sem sombra de dúvidas, a disponibilidade desse material é um grande avanço para
o estudo do texto do Novo Testamento. Agora, de acordo com o INTF, hoje nós temos
disponíveis 5989 manuscritos gregos catalogados, sendo 140 papiros, 323 maiúsculos
(manuscritos escritos em letras maiúsculas), 2951 minúsculos (manuscritos escritos
em letras minúsculas) e por fim, 2484 lecionários (que são manuscritos preparados
para liturgia da igreja). Esse material todo totaliza 2.138.041 páginas de manuscrito.
Uma ampla gama de evidências para serem analisadas. Ou seja, o texto do Novo Tes-
tamento, em termos de quantidade, não tem paralelo no mundo. É o conjunto de livros
com a maior quantidade de livros preservadas na história. Mas isso também é um gran-
de dilema porque, apesar de ser excelente a grande disponibilidade de documentos, nós
também temos o grande desafio de navegar pelo meio de toda essa evidência manus-
crita para encontrar nas cópias produzidas manualmente por 1400 anos aquilo que nós
acreditamos ser o texto original.
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
É por isso que nós estudamos a Crítica Textual. Porque a Crítica Textual é que nos
habilita a navegar por esse amplo e vasto caminho das evidências textuais. É a Crítica
Textual que ajuda a investigar e a avaliar as evidências; a investigar e avaliar os textos
preservados nesses documentos. A Crítica Textual é fundamental para que eu e você
possamos conhecer as evidências que vão nos levar a conhecer, por meio das cópias,
o texto original.
Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised
Edition., vol. 1, Lexham Methods Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 11-12.
É isto que a Crítica nos oferece. É isto que o estudo da Crítica Textual nos faz. É
isto que o crítico textual faz quando ele trabalha com o texto das escrituras. Robert
Stewart diz o seguinte:
“Eu sou grato a Deus por críticos textuais. Quem quer que leia o Novo Testamento tem
com eles uma dívida. E isso não é apenas uma opinião, é um fato - um fato que muitos são
felizmente inconscientes. A dívida que o leitor do NT que não tem nenhum treinamento
em línguas bíblicas tem com o tradutor é óbvio. Mas, até mesmo aqueles que sabem ler a
Bíblia em sua linguagem original estão em dívida com os críticos textuais.”
Robert B. Stewart, “Why New Testament Textual Criticism Matters: A Non-Critic’s Perspective”
in Robert B. Steward ed., The Reliability of the New Testament (Minneapolis, MN:FortPress,
2011), 1.
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Daniel Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel L. Bock,
Buist Fanning, Interpreting the New Testament: Introduction to the Art and Science of Exegesis
(Wheaton:IL, Crossway, 2006), 33.
Opa! Já não são mais as exatas palavras, nós estamos falando de um texto que você
pode confiar. Um texto confiável na nossa opinião seria um texto que nos leva às exatas
palavras dos apóstolos. Mas, ainda assim, essa não é a única definição encontrada. Amy
Anderson também diz o seguinte: a Crítica Textual é “o processo de avaliação de varian-
tes no texto bíblico para determinar qual leitura é provavelmente a mais antiga.”(Amy
Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revi-
sed Edition., vol. 1, Lexham Methods Series [Bellingham, WA: Lexham Press, 2018], 199).
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Por isso, é importante que o estudante saiba que muito daquilo que se escreve e que se
fala sobre Crítica Textual nos nossos dias, oferece uma nova ênfase e direção a Crítica
Textual clássica. Mais recentemente se tem dito que o trabalho do crítico textual não é
chegar nas exatas palavras dos autógrafos, mas chegar no mais perto disso possível.
Eles entendem que a distância entre o dia em que o texto foi escrito e a primeira cópia
disponível tem um gap que é impossível se transpor. E, baseado nisto, eles dizem que
nós precisamos chegar no texto mais antigo possível.
Não é à toa que muitas vezes os iniciantes em Crítica Textual ficam com um certo re-
ceio de se aprofundar nessa disciplina porque parece que a Crítica Textual, ao invés de
oferecer uma convicção daquilo que se lê no texto original, oferece uma dúvida de “será
que é isso mesmo que nós encontramos no texto?”. Mas o bem da verdade, quando nós
olhamos para a Crítica Textual, pelo menos da sua maneira mais clássica, nós procura-
mos pelo texto mais antigo, aquele texto que chamamos de “Texto original”. Esse é o
texto mais antigo possível de ser alcançado. Em outras palavras, através do estudo das
muitas cópias do antigo testamento, nós vamos encontrar a leitura mais antiga possível,
que nesse momento nós estamos chamando de texto original.
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
“Primeiro, uma forma conhecida como Texto-Antecedente, isto é, uma forma de texto (ou
mais de um) descoberto por trás de um escrito do Novo Testamento que desempenhou
um papel na composição desse escrito. Esse texto antecedente pode ter afetado partes
maiores ou menores de uma escrita. Em linguagem menos cuidadosa, este texto ante-
cedente é um “original pré-canônico” do texto de certos livros, representando um estágio
anterior na composição do que se tornou um livro do Novo Testamento.”
Eldon Epp, “The Multivalence of the Term “Original Text” in New Testament Textual Criticism,”
Harvard Theological Review 92 (1999), 22.
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
“Em segundo lugar, a forma textual do Texto-Autógrafo, isto é, a forma textual que saiu da
escrivaninha de Paulo ou de um secretário, ou de outros escritores de partes do que se
tornou nosso Novo Testamento. Livros inteiros nesta definição de originalidade normal-
mente seriam próximos em forma aos escritos do Novo Testamento como os possuímos”
Eldon Epp, “The Multivalence of the Term “Original Text” in New Testament Textual Criticism,”
Harvard Theological Review 92 (1999), 22.
3 | Texto-Canônico: Mas nem sempre tem sido assim. Há uma terceira forma de de-
finir: o texto canônico. Eventualmente, críticos textuais, comentaristas e até mesmo os
escritores de sites usam definição de “texto original” para descrever o texto canônico.
Mas o que é isto? Texto canônico não é o texto que sai das mãos do apóstolo Paulo. É
o texto que é recebido pela igreja. O texto recebido pela igreja é o texto aprovado pela
igreja e, então, o texto que tem autoridade. O texto canônico descreve esse estado não
de escrita, mas de aceitação do texto. Neste caso, a forma do texto no momento em que
ele é recebido pela comunidade é descrito como o texto original. Este seria o terceiro
modo de descrever o “texto original”.
“Terceiro, uma forma do Texto-Canônico, isto é, a forma textual de um livro (ou uma cole-
ção de livros) no momento em que adquiriu autoridade consensual ou quando sua cano-
nicidade foi (talvez mais formalmente) buscada ou estabelecida, como quando foi feita
uma coleção das cartas paulinas ou do evangelho quádruplo, ou - no nível de detalhe
- quando frases como “em Roma” ou “em Éfeso” poderiam ter entrado ou sido removidas
do texto. Uma grande dificuldade, claro, é determinar o ponto em que a “canonicidade” -
qualquer que seja a definição - foi atribuída a uma escrita.”
Eldon Epp, “The Multivalence of the Term “Original Text” in New Testament Textual Criticism,”
Harvard Theological Review 92 (1999), 22-23.
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
4 | Texto-Interpretativo: E, por fim, existe um uso mais incomum do termo, que des-
creveria o texto interpretativo, que é a forma textual que um livro tem, quando editado
pela igreja. Texto interpretativo seria quando o texto recebe determinados comentários.
Isto aparece de maneira mais particular quando o estudante da Crítica Textual parte
para o estudo dos textos nos manuscritos. E em um manuscrito específico ele encontra
o texto original daquele autor com seus comentários marginais eventualmente feitos.
Eventualmente, usa-se texto interpretativo para descrever esta situação.
Eldon Epp, “The Multivalence of the Term “Original Text” in New Testament Textual Criticism,”
Harvard Theological Review 92 (1999), 23.
Quando nós usamos texto original, nós estamos pensando no texto tal como saiu das
mãos dos seus autores. A intenção da Crítica Textual é nos levar a conhecer o texto tal
como Paulo escreveu (i.e., o texto autógrafo) e não somente como a igreja o recebeu.
A nossa intenção não é descobrir qual era o texto de Calvino, nem o texto de Lutero. A
nossa intenção é descobrir qual é o texto apostólico, o texto original. A Crítica Textual
nos ajuda a navegar por essas muitas evidências disponíveis no mundo para nos levar
com segurança até o texto original, o texto tal como escrito pelos apóstolos.
“O propósito e objetivo da crítica textual é chegar o mais próximo possível do texto origi-
nal [texto-autógrafo]. Negar isso é não compreender do que se trata a crítica textual.”
D. A. Carson, The King James Version Debate: A Plea for Realism (Grand Rapids, MI: Baker
Book House, 1979), 74.
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
As pessoas que olham para evidências textuais como se fossem número numa página
esquecem das histórias contadas por cada uma daquelas letras. Eles esquecem das
histórias passadas por cada um destes materiais, eles esquecem da história que este
texto deixa na história, as marcas que ele deixa nas areias do tempo para nos demons-
trar como este texto chega até nós. Fundamentalmente importante e, infelizmente, mui-
tas vezes esquecido.
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale
Bible Dictionary (New York: Doubleday, 1992), 414.
Mas o que nós queremos dizer quando nós falamos sobre história do texto? O que nós que-
remos, qual o significado desta expressão “História do texto”? Da mesma maneira que nós
vemos eventualmente a expressão “texto original” ser usada com significados distintos, é
importante que nessa aula introdutória nós também definamos o que nós queremos dizer
com “História do texto”.
A história do texto, em palavras mais simples, seria a natureza do processo pelo qual o texto
do Novo Testamento foi transmitido até nós. Nós queremos entender a natureza do proces-
so. Algo aconteceu para que aquele texto que Paulo e os apóstolos escreveram no primeiro
século chegasse até nós nos dias de hoje. Esse processo, qual é a natureza desse processo?
É essa história que nós estamos preocupados em observar quando nós estudamos Crítica
Textual. Nós sabemos que durante os primeiros 1400 anos da história da igreja isso foi feito
de maneira manual, mas com a invenção da imprensa, esse texto começou a ser publicado,
editado e produzido em forma de livro. E de lá para cá nós temos uma outra série de histórias
sobre como o texto editado e impresso do Novo Testamento chegou até nós. E para isso,
precisamos conhecer algumas coisas:
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
ao momento mais antigo da transmissão, porque esse era o modo como se escrevia
naqueles dias. Quando nós encontramos pergaminhos, nós sabemos mais ou menos
que entre o início dessa jornada e até o avanço do papel nós temos aí um longo período
que esse material de escrita foi utilizado para transcrever o Novo Testamento. O modo,
a caneta usada pelos Escribas pode nos ajudar a entender, a tinta usada por eles pode
nos ajudar a entender onde nós encontramos esses manuscritos e como eles compõe
a história da transmissão do texto.
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
cassa no mundo antigo, mesmo nos períodos posteriores à imprensa. Nós vemos que
a disponibilidade de manuscritos não era como hoje. Hoje nós temos acesso a quase
qualquer manuscrito a um clique de distância. Nós podemos visitar o site de INTF, por
exemplo, ou o site do The Center for the Studies of New Testament Manuscripts (Centro
de Estudos dos manuscritos do Novo Testamento) e nós vamos encontrar bibliotecas
com imagens de altíssima qualidade de manuscritos. Nós conseguimos dar um zoom
e aproximar para ver se o escriba escrevia com a mão direito ou com a mão esquerda,
baseado nos tipos de traços e caligrafias que ele deixa no seu texto. Mas esta disponibi-
lidade que nós temos hoje era impensável no mundo antigo. A mobilidade era diferente
do que acontece nos nossos dias. Por outro lado, isso não significa que os textos fos-
sem estáticos, i.e., uma vez que foram escritos em uma região ficariam ali para sempre.
A verdade é que existia a troca de informações no mundo antigo, mas não tão ampla
como nos nossos dias, evidentemente. E era normal que textos também viajassem para
diferentes regiões do mundo antigo e não necessariamente o lugar onde o manuscrito
foi encontrado significa que esse é o lugar onde o manuscrito foi escrito. Eventualmente,
nós vamos encontrar na evidência manuscrita, evidências de que o manuscrito encon-
trado em uma determinada região pertencia a um outro local (ou tipo-texto). Conhecer
sobre a disponibilidade de informação e a mobilidade dos textos nos ajuda a contar a
história desse texto.
Como Parker disse e Parker mesmo disse: “Entender a história do texto é essencial, por-
que é fundamental para se entender o que o texto é.” (D.C. Parker, An Introduction to the
New Testament Manuscripts and their Texts [New York, NY: Oxford, 2012], 183). O que
Parker quer dizer é que todos esses elementos que compõem a história da transmissão
nos ajudam a entender o que o texto, em última análise, é. Por isso que esse elemento
da história da transmissão do texto é tão importante para a Crítica Textual.
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
1 | Crítica Textual e História: Em primeiro lugar nós temos que lembrar que a Crí-
tica Textual tem um papel importantíssimo na sua relação com a história. Como nós
acabamos de demonstrar, a história da transmissão do texto nos oferece janelas de
oportunidades para se entender a história do Cristianismo. Mas existe um movimento
de mútua influência entre a Crítica Textual e a história, uma vez que elementos da Crí-
tica Textual nos ajudam a entender a história, o conhecimento da história nos ajuda a
entender o contexto no qual esses manuscritos foram feitos. Esta relação entre Crítica
Textual e história é fundamental. O estudo dos próprios manuscritos, das versões, das
citações demonstra o quanto a Crítica Textual é dependente da pesquisa histórica.
Nós aprendemos muito, através da história, quando nós estudamos o processo da
transmissão do texto.
Michael Holmes, “New Testament Textual Criticism” in Scot McKnight, Introducing New Testa-
ment Interpretation (Grand Rapids, MI:Baker Books 1989), 53.
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
não defende, corre o risco de se apresentar aquilo que a escritura não fala. Se o texto
da escritura é fundamental para a exegese, se o texto da escritura é fundamental para a
Teologia, a Crítica Textual é essencial nesse processo. São disciplinas que não podem
ser dissociadas.
4 | Ministério Pastoral: Muitas das definições que hoje nós usamos sobre como
a igreja deve funcionar são baseadas na exegese e na Teologia de textos que eventual-
mente precisam ser definidos e determinados. A Crítica Textual é fundamentalmente
importante para a prática eclesiástica. Nunca me esqueço quando um aluno em um
determinado seminário me escreve perguntando sobre a validade de estudar Crítica
Textual. E como ele sabia que eu estava trabalhando como pastor, ele perguntava se
existia qualquer relação entre Crítica Textual e a vida prática da igreja. Minha resposta
para ele foi “a Crítica Textual nunca me ofereceu nenhum parâmetro pragmático para me
desenvolver na igreja. Crítica Textual nunca acrescentou na minha vida nenhum elemento
prático ou pragmático para a estruturação de uma igreja, mas o respeito que ela me fez
ter pelo texto e pelo estudo das escrituras que ela me fez ter, ela mudou completamente
o modo como eu enxergo a igreja.”. A crítica Textual não é um livro de pragmática, que
diz “faça isso” ou “faça aquilo” na igreja, mas quando nós estudamos profundamente
esta disciplina nós ganhamos um amor e uma paixão por este texto historicamente
preservado por Deus, através do trabalho de copistas por toda a história, que me deu
um respeito profundo, que tudo aquilo que eu hoje ensino na igreja, que tudo aquilo que
eu prego hoje na igreja é derivado deste apreço que eu tenho por este texto e o apreço
que eu tenho por este texto foi elevado à milésima potência, a partir do estudo da Crítica
Textual. Crítica Textual não é um estudo para ser guardado em um lugar escondido. A
Crítica Textual traz vida, inclusive para a vida da igreja e para a vida pessoal. Na minha
vida pessoal eu aprendi muito sobre o que significa ser discípulo de Cristo, o que signifi-
ca levar a causa de Cristo a sério, o que significa levar uma vida missional, levando essa
mensagem traduzida para as outras pessoas. Eu aprendi muito sobre a história da igreja
e da missão de Cristo ao redor do mundo estudando Crítica Textual. E isso me deu um
apreço renovado pelo importante trabalho de tradução, que hoje muitas pessoas dedi-
cam suas vidas para que línguas indígenas possam ter acesso ao texto das escrituras.
Me deu um novo apreço, um renovado, pela importância do texto na missão cristã, no
processo de levar essa mensagem para outros lugares. A Crítica Textual influenciou em
muito a minha percepção sobre todas estas coisas.
Eu repito as palavras de Gordon Fee no livro Listening to the Spirit in the Text: “Eu começo
com uma convicção singular e passional: que o fim adequado para toda Teologia verda-
deira é a doxologia. Teologia que não começa e termina em adoração não é bíblica de
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
modo nenhum, mas é apenas o produto da filosofia ocidental. Do mesmo modo, quero
insistir que o objetivo último da verdadeira exegese é a espiritualidade.” Gordon D. Fee,
Listening to the Spirit in the Text (Grand Rapids, MI; Cambridge, 2000), 5.
Gordon Fee é impressionante nos seus comentários e no seu trabalho como crítico tex-
tual, mas ele sabe que o fim do seu trabalho é uma vida pronta para ouvir a voz de Deus
nas Escrituras. É uma vida espiritualmente empolgante porque ele entende que o fim
último de tudo o que fazemos é a adoração.
AULA 1 @institutoschaeffer
CRÍTICA
TEXTUAL
Aula 2
MARCELO BERTI
Sejam muito bem vindos ao curso
de Introdução à crítica textual do
Novo Testamento!
Meu nome é Marcelo Berti. Neste curso nós vamos
estudar um pouquinho mais sobre o texto do Novo
Testamento. Este é um curso livre oferecido pelo
Instituto Schaeffer, do Dois Dedos de Teologia.
Tá preparado?
Introdução
Seja bem vindo à segunda aula da Crítica Textual do Novo Testamen-
to. Nesta aula nós vamos conversar sobre variantes textuais. De acor-
do com aquilo que nós vimos na primeira aula, a Crítica Textual é fun-
damentalmente necessária porque na tradição manuscrita do Novo
Testamento nós encontramos muitas variantes textuais. Em outras
palavras, a história da transmissão deste texto, do dia em que saiu
da mão dos apóstolos até o dia em que ele passa a ser impresso, de-
monstra que os escribas que copiaram esse texto cometeram todos
os tipos concebíveis de erros.
E, nessa aula nós vamos falar sobre a realidade destas variantes tex-
tuais, sobre as antigas e atuais estimativas relacionadas a quantida-
de de variantes textuais, além de apresentar a definição, os tipos e a
classificação das variantes textuais. Em outras palavras, nessa aula
vamos nos aventurar ao estudo das intrigantes variantes textuais do
Novo Testamento.
CRÍTICA TEXTUAL
Aula 2
I. Realidade das Variantes Textuais
Mas vamos começar pelo início: Existem mesmo variantes textuais no Novo Testamento?
Essa é uma pergunta importante porque, eventualmente, nós encontramos pessoas negando
a existências das variantes textuais, como se o texto do NT, do dia em que saiu da mão de
Paulo até o dia em que chegou às nossas mãos fosse exatamente o mesmo em uma trans-
missão contínua, não alterada, não interrompida por absolutamente nada. Mas a verdade é
que quando nós olhamos para a história da transmissão do texto e o processo pelo qual esse
processo aconteceu nós vamos perceber que estas variantes, de fato, aconteceram e que
elas são atestadas pela evidência manuscrita sobrevivente, pela história da igreja primitiva e
medieval, por edições históricas, edições críticas e traduções contemporâneas.
2 | História da Igreja Primitiva: Além disso, nós vamos observar que a história da igreja
primitiva já atestava a existências de variantes textuais. Desde os dias de Irineu nós en-
contramos informações de que o texto das escrituras tinha diferentes versões em suas
cópias.
1 Uma breve nota sobre terminologia: Eventualmente usa-se o termo !"#$%#&'() para se descrever manuscritos neotestamentários. Friederick
Wisse, por exemplo, afirma que em Lucas existem 59 mss tem um perfil "#$%#&'( entre os manuscritos Kr, isto é, representam fielmente o
mesmo texto (Frederik Wisse, *+#,-$(./#,0#'+(1,%($,'+#,2/344&.53'&(6,361,783/93'&(6,(%,036945$&"',78&1#65#:,34,;""/,'(,'+#,2(6'&<
69(94,=$##>,*#?',(%,'+#,=(4"#/,(%,@9># [Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1982], 93). Isso, entretanto, não significa que os manuscritos
sejam textualmente idênticos, pois a classificação de mss perfeitos é feita à exclusão de leituras sem sentido, leituras deslocadas, seja por di-
tografia, haplografia, problemas de audição ou transposição de letras, itacismos, ν-móvel, ou problemas de grafia e por fim, leituras singula-
res. Ou seja, o que a paleografia eventualmente chama de ‘perfeito’ não são manuscritos idênticos, mas mss que representem perfeitamente
o perfil textual de um determinado grupo de mss. Uma vez que esses erros são facilmente percebidos (e na maioria das vezes não afeta o
sentido do texto), pode-se dizer que representam perfeitamente o perfil textual sem serem textualmente idênticos.
2 Daniel Wallace, “Can We Trust the New Testament” in A#&68#6'&6B,C#494D,E(F,2(6'#G"($3$H,I>#"'&54,0&44,'+#,A#3/,C#494,361,0&4/#31,
-("9/3$,29/'9$# [Grand Rapids, MI: Kregel, 2006], 54.
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CRÍTICA TEXTUAL
a. Irineu: Ao comentar sobre o texto de Apocalipse capítulo 13:18, Irineu diz que a versão
que ele usa foi “encontrada em todas as cópias boas e antigas”. Irineu entendia que à
sua disposição existiam cópias posteriores e que existiam cópias que não eram boas e,
por outro lado, ele encontrou seu texto em todas as cópias bem antigas.
b. Orígenes: deixa uma larga descrição de como o processo aconteceu. Observe o que
Orígenes vai dizer: “As diferenças entre os manuscritos se tornaram grandes, seja por
negligência de alguns copistas ou pela audácia perversa de outros; eles se esquecem
de verificar o que transcreveram ou, no processo de verificação, aumentam ou diminuem
conforme desejarem.”3 Em outras palavras, desde os momentos mais antigos da igreja
nós encontramos evidências de que este texto passou por um processo de cópias, que
potencializou a existência de variantes textuais.
3 | História da Igreja Medieval: No período medieval nós vamos encontrar isto acon-
tecendo da mesma maneira: Período medieval, período marcado por instabilidade, por
um processo de cópia mais formal e mais controlado, nós percebemos também uma
crescente tendência de se padronizar o texto.
a. Padronição do Texto Bizantino: Nós vemos, através das evidências manuscritas, que
o período medieval também proporcionou um processo de estabilização desse texto,
fazendo correções, alterações, à medida em que esse texto era copiado. Nós percebe-
mos que a evidência manuscrita desse período atesta esse processo de cópia aconte-
cendo, acompanhado da sua devida explicação eventual, às vezes expansão, às vezes
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b. Lorenzo Valla (1405-57): “Talvez o humanista bíblico mais conhecido e mais influente
do século XV foi Lorenzo Valla (1405–1457). Valla ensinou retórica em Pavia, entrou ao
serviço de Alfonso I, rei de Nápoles, em 1435 e obteve um cargo na corte papal de Roma
em 1448. Já conhecido por expor a Doação de Constantino como uma falsificação, ele
embarcou em um projeto de cotejode manuscritos Grego e Latinos do NT. A circulação
de suas notas manuscritas foi necessariamente limitada; não se tornaram amplamente
acessíveis até 1505, quando foram publicados por Erasmo sob o título Adnotationes in No-
vum Testamentum (...) Os humanistas bíblicos muitas vezes comparavam o texto original
a uma fonte clara e as traduções e transcrições corrompidas a canais poluídos (...) Valla
tinha uma compreensão excepcionalmente clara da natureza e do desenvolvimento his-
tórico de um texto. Ele desafiou seus críticos a responderem ‘O que é Escritura Sagrada?
Qualquer tradução do Antigo ou Novo Testamento se qualifica? Mas há uma infinidade
e variedade de traduções conflitantes!’ Na ausência de um autógrafo, ele disse, o crítico
textual precisava escolher entre diversas leituras nos manuscritos sobreviventes”7
c. Erasmo de Roterdã: Na primeira edição de seu texto impresso, sobre o qual nós con-
versaremos mais na próxima aula, também incluiu uma série de problemas tipográficos.
Além disso, ele precisou revisar o seu trabalho algumas vezes e aconteceu que pessoas
diferentes passaram a estudar versões diferentes em momentos diferentes da história.
Erasmo publica cinco diferentes edições, cada vez melhorando o texto, à medida em
que ele encontrava novas informações e recebia novas críticas sobre o texto que ele
imprimia. Mas o que é interessante é que a segunda edição do seu trabalho, foi aquela
utilizada por Martinho Lutero na sua tradução para o alemão, ao passo que a sua tercei-
ra edição foi utilizada por William Tyndale na tradução para o inglês. É possível perceber
no trabalho de Erasmo de Roterdã, num período em que o processo de cópia é muito
melhor controlado, em que a transmissão é muito mais formal, que ainda assim os erros
6 Amy Anderson and Wendy Widder, *#?'93/,2$&'&5&4G,(%,'+#,N&O/#, ed. Douglas Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods
Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 118.
7 Erika Rummel, “The Renaissance Humanists,” in ;,E&4'($H,(%,N&O/&53/,K6'#$"$#'3'&(6D,*+#,0#1S/,'+$(9B+,'+#,A#%($G3'&(6,-#$&(14,
Vol. 2 (Grand Rapids, MI; Eerdmans, 2009), 289-90.
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foram cometidos. De tal forma que existem hoje diferenças entre a tradição do texto do
Novo Testamento em língua alemã e em língua inglesa baseadas nas diferentes edições
produzidas por Erasmo de Roterdã. Além disso, observe o que Edwin Yamauchi nos fala
sobre o próprio texto de Erasmo: “Embora Erasmo tenha afirmado que usou ‘as cópias
mais antigas e corretas do Novo Testamento’, o prazo de impressão imposto pelo editor
o obrigou a confiar em apenas sete manuscritos bastante tardios e inferiores disponíveis
em Basileia.”8 O próprio processo de selecionar mss para sua edição foi um fator limita-
dor para o texto que acabou por produzir.
4 | Edições Históricas: Outro detalhe que eventualmente passa despercebido, é que en-
tre as edições históricas nós vemos amplo testemunho para a existência das variantes
textuais. No que se refere ao Novum Instrumentum produzido por Erasmo, além das
diferenças editoriais feitas pelo próprio Erasmo, os editores subsequentes também re-
alizaram ajustes no texto e adicionaram ao mesmo a evidência manuscrita disponível
a cada um deles (como veremos melhor na próxima aula). Robert Estiene (a.k.a. Ste-
phanus) produziu quatro diferentes versões entre 1546-1551), Teodoro Beza produziu
nove entre 1565 e1604, e finalmente os irmãos Elzevir produziram sete edições entre
1624 e 1678. A famosa frase “Textum ergo habes nunc ab omnibus receptum, in quo
nihil immutatum aut corruptum damus” (Portanto, agora tens o texto recebido por todos,
no qual nada oferecemos de alterado ou corrupto) que deu origem ao termo Textus Re-
ceptus (Texto Recebido) foi encontrado apenas a partir da segunda edição produzida
em 1633. Além disso, o processo de identificação de variantes não parou por aí, sendo
devidamente expandido por John Mill (1707), Johan Bengel (1687-1752), Johan Gries-
bach (1745-1812), Constantine von Tischednorf (1841-1872), Westcott e Hort (1828-
1892) para citar alguns.
5 | Edições Críticas: Se você manusear qualquer edição crítica do texto grego do Novo
Testamento, você vai perceber a existência de variantes textuais. Permita-me dar alguns
exemplos:
a. Diferença Numérica: Considere por exemplo o texto grego editado por Maurice Robin-
son e William Pierpont, o The New Testament in the Original Greek - Byzantine Textform:
A edição de 2005 tem 140.283 palavras e apresenta 6.814 diferenças com o texto da
Nestlè- Aland27 e 1.800 com o Textus Receptus, além de 500 variações entre os textos
Bizantinos. Já a edição de 2018 tem 140.281 palavras e 6.813 diferenças com a NA28,
além de 552 variações do texto Bizantino.
8 Edwin Yamauchi, “Erasmus’ Contribution to New Testament Scholarship,” Q&1#4,#',+&4'($&3,RS (Oct. 1987): 10.
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c. Texto Digital: Permita-me dar mais um exemplo: Se você, hoje, comprar uma ver-
sãoimpressa da Nestle-Aland 28, que é a versão crítica utilizada pelos exegetas, e você
comprar uma versão digital, em alguns momentos você pode encontrar diferenças em
termos de pontuação e em termos de parágrafos utilizados nestas duas edições, que
são as edições do mesmo documento, do mesmo texto, uma impressa e outra digital. E
ainda assim, nós temos a possibilidade de encontrar um erro humano de formatação e
a versão digital ser organizada de maneira distinta. Se você quiser conhecer mais sobre
isso, procure um artigo meu, publicado pela Coalizão do Evangelho, falando sobre a di-
fícil tarefa de se pregar a partir do texto original.9
6 | Traduções em Português: Se você abrir hoje a sua Bíblia em português, você vai
encontrar evidências de variantes textuais. Aliás, se você tiver mais de uma versão,
você vai ter a chance de perceber ainda mais onde estas variantes estão. Dependendo
da versão que você tenha à sua disposição, você vai encontrar que em determinados
lugares do Novo Testamento você tem um texto entre colchetes e todas as vezes que
você encontra este texto entre colchetes na sua Bíblia, os editores daquele texto estão
dizendo para você que aquele texto tem ao menos uma variante textual significativa.
Eventualmente, os editores colocam no material uma nota de rodapé e explicam com
frases parecidas com essas “a frase descrita não se encontra nos melhores manuscri-
tos.” ou “esta frase aparece diferente em outros manuscritos.” Mas seja como for, se
você prestar atenção no seu Novo Testamento em português, você vai perceber que
os editores e tradutores deixaram ali informações sobre a variação do texto. Em outras
9 Marcelo Berti, “Atenção aos Detalhes” – Coalizão Pelo Evangelho (28, fevereiro, 2019).
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palavras, é inegável a existência de variantes textuais. Nós não temos como ignorá-las,
nós não temos como evitá-las. Elas estão aí e nós temos que aprender a como lidar
com elas.
A valiosa coleção de manuscritos, nos diz Tommy Wasserman e Peter Gurry, versões e
citações do Novo Testamento que temos concorda significativamente em geral, mas o
impressionante número de vezes que o Novo Testamento foi copiado explica por que há
tantas diferenças entre eles.
Tommy Wasserman and Peter Gurry. A New Approach to Textual Criticism: An Introduction to
the Coherence-Based Genealogical Method (Resources for Biblical Study Book 80, Atlanta: SBL
ress, 2017), 1.
O que estes dois autores estão dizendo é que a existência destas muitas variantes que
nós temos hoje se dá, em primeiro lugar, em função da quantidade de informações que
nós temos, evidências manuscritas que nós temos à nossa disposição. Se nós tivés-
semos um único manuscrito de todo o Novo Testamento, nós não teríamos nenhuma
variação. Mas como nós temos milhares de manuscritos do Novo Testamento, nós tam-
bém temos milhares de variantes textuais atestadas por toda a história da tradição da
transmissão deste texto.
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a. John Mill (1707): Talvez a primeira mais importante estimativa de quantidade de va-
riantes do Novo Testamento foi feito por John Mill em 1707. Depois de 30 anos de ava-
liação de manuscritos, ele coletou cerca de 30.000 variantes textuais!
b. Richard Bentley (1713): Poucos anos mais tarde, Bentley afirmou o seguinte sobre as
variações textuais: “Se mais cópias fossem cotejadas, o número de variantes seria ainda
maior.”10 Em outras palavras, Bentley não estava surpreso com a identificação da exis-
tência de 30.000 variantes textuais, e segundo sua própria estimativa, esse número não
era representativo da realidade.
c. Frederick Henry Ambrose Scriviner (1861): Scriviner escreveu o talvez mais importan-
tes textos sobre a crítica textual do século XIX, e é na opinião de muitos, um dos maiores
críticos textuais que nós encontramos na história. De acordo com o conhecimento que
tinha na ocasião, ele entendia que existiam ao menos 120.000 variantes.11
d. Phillip Schaff (1883): Poucos anos mais tarde, em seu livro de introdução ao texto do
Novo Testamento Grego, Schaff estimou que existiam 150.000 variantes textuais no NT.12
10 Richard Bentley, ‘Remarks upon a Late Discourse of Free-Thinking,’ *+#,T($>4,(%,A&5+3$1,N#6'/#H ed. Alexander Dyce; 3 vols.; Lon-
don: Robson, Levey, and Franklyn, 1838, 3:349-350.
11 F. H. A. Scrivener, ;,-/3&6,K6'$(195'&(6,'(,'+#,2$&'&5&4G,(%,'+#,J#F,*#4'3G#6',%($,'+#,U4#,(%,N&O/&53/,I'91#6'4 Cambridge: Deighton, 1861, 3.
12 Philip Schaff, ;,2(G"36&(6,'(,'+#,=$##>,*#4'3G#6',361,'+#,76B/&4+,V#$4&(6. New York: Harper & Brothers, 1883, 176.
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f. Eberhard Nestle (1897): Um pouco mais conservador, o primeiro editor do Novum Tes-
tamentum Graece estimou entre 120.000 e 150.000.14
h. Louis Pirot e Léon Vaganay (1934): Talvez a última estimativa que possa ser apre-
sentada a de Pirot16 e Vaganay17 que estimaram no mesmo ano, o mesmo número de
variantes textuais: 250.000.
O que está acontecendo é que no decorrer do tempo novos manuscritos foram conhecidos,
novo manuscritos foram descobertos, novos manuscritos foram estudados, colados e com-
parados. E, à medida em que esse exercício foi feito, percebeu-se que a quantidade de dife-
renças entre eles era imensa até o ponto em que parou-se de contar e passou-se a estimar
a quantidade. Hoje, com a quantidade de manuscritos que nós temos, nós não conhecemos
ninguém que os tenha estudado completamente e que possa oferecer um número para des-
crever. Mas o ponto é o seguinte: a estimativa do início do século passado é que nós tínha-
mos cerca de 250.000 variantes no Novo Testamento.
a. Kenneth Willis Clark (1966): O paleógrafo e professor da Duke University, depois de tra-
balha com mss em bibliotecas nos Estados Unidos e Canadá (1937), de ter catalogado
manuscritos da biblioteca do Mosteiro de Santa Catarina (1952), e das bibliotecas dos
patriarcados Gregos e Armênios (1953), sugeriu em um artigo teológico que existiam
entre 150.00 e 250.000 variantes textuais no NT.18
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b. Merrill Parvis (1962): No mesmo período, Parvis estima que existam 300.000 varian-
tes, e em pouco tempo essa estimativa torna-se o número padrão.19
c. Número Padrão: Depois de Merril Parvis, o número padrão em quase todas as estima-
tivas apresentadas foi a de 300.000 variantes textuais.20
d. Bart Erhman (2005): Mas somente mais recentemente no livro “O que Jesus disse?
O que Jesus não disse?” é que Bart Ehrman usou um número que se tornou o número
repetido ad infinitum ad nauseam, nós cansamos de ouvir esse número. Bart Ehrman
sugeriu que existiam 400.000 variantes textuais. Este é um número que nós ouvimos
em debates, este é um número que nós ouvimos em livros, este é um número que nós
vemos em revistas publicadas, mesmo no Brasil. Nós encontramos este número como
um número padrão, mas este é um número estimado, baseado na crescente quantidade
de manuscritos conhecidos, colados e estudados.
e. Daniel Wallace (2006): O professor de grego e crítica textual do Dallas Theological Se-
minary, além de estimar um número similar ao proposto por Ehrman, nos ajuda a enten-
der a proporção desse número quando comparado ao número de palavras do NT: “Por
um lado, quando consideramos todas as evidências textuais do NT, as variações chegam
aos milhares. Para as aproximadamente 138.000 palavras no texto grego do NT, existem
entre 300.000 e 400.00 variantes textuais. Grande parte da razão para esse número de va-
riantes é a abundância de manuscritos do NT que nós temos hoje”21 Em outras palavras,
para cada palavra do NT, existem aproximadamente três variantes textuais.
f. Problemas: Mas existem problemas com todas estas estimativas. Existem pelo me-
nos 3 problemas em todas estas estimativas:
I. Responsável: Primeiro, nós não sabemos quem é que faz essas estimativas. O que
mais chama a atenção, mesmo na literatura acadêmica, quando se fala sobre variantes
textuais é que ela sempre é definida por alguém que não o próprio autor. Normalmente,
usa-se a expressão “estima-se”, “calcula-se”, “fala-se”, mas nós não sabemos quem
estima, quem calcula ou quem fala. Nós não sabemos quem é o autor das estimativas,
exceto aqueles que dizem que a estimativa existe.
19 Merrill M. Parvis, ‘Text, NT,’ *+#,K6'#$"$#'#$)4,P&5'&(63$H,(%,'+#,N&O/#D,;6,K//94'$3'#1,765H5/("#1&3. New York: Abingdon, 1962, 4:595.
20 K. Elliott and Ian Moir, 036945$&"'4,361,'+#,*#?',(%,'+#,J#F,*#4'3G#6'D,;6,K6'$(195'&(6,%($,76B/&4+,A#31#$4. Edinburgh: T&T Clark,
1995, 21; Eldon Jay Epp, ‘The Multivalence of the Term “Original Text” in New Testament Textual Criticism,’ HTR, 1999, 52; Eckhard Sch-
nabel, ‘Textual Criticism: Recent Developments,’ *+#,Q35#,(%,J#F,*#4'3G#6',I'91D,;,I9$8#H,(%,A#5#6',A#4#3$5+. Grand Rapids: Baker
Academic, 2004, 59.
21 Daniel Wallace. “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” &6 Darrel L. Bock, Buist Fanning,,K6'#$"$#'&6B,'+#,J#F,*#4'3<
G#6'D,K6'$(195'&(6,'(,'+#,;$',361,I5A#,(%,7?#B#4&4L (Wheaton:IL, Crossway, 2006), 34.
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II. Método: Segundo, nós não sabemos como essas estimativas foram realizadas. Es-
sas estimativas foram baseadas em cálculos estatísticos? Foram baseados em previ-
sões? Baseados no tamanho dos manuscritos? Foram baseados em quais manuscri-
tos? Como esse exercício foi feito?
III. Critério: Terceiro, nós sabemos exatamente o que se está contabilizando porque o
próprio conceito de variante textual não é o mesmo adotado pelos diferentes autores.
Em outras palavras: nós não sabemos quem estima; não sabemos como se calcula; e nós
não sabemos o que se calcula. Baseado nestes três problemas, recentemente, Peter Gurry
publicou um artigo apresentado o problema e oferecendo sua sugestão de como esse pro-
cesso poderia ser feito de modo mais criterioso, apresentado a metodologia, os limites de
usa investigação e a definição do que pretende contabilizar.22
Em sua definição metodológica, Peter Gury entendeu que deveria considerar porções peque-
nas do Novo Testamento. Ele entendeu que ele vai fazer uma estimativa baseado em aná-
lises exaustivas de pequenos trechos do Novo Testamento. E como referência ele usa três
trabalhos interessantes: o primeiro, publicado por Bruce Morril,23 trata-se de uma dissertação
no texto de João 18; o segundo foi produzido por Matthew Solomon24 numa dissertação em
Filemom; por fim, Gury adiciona o trabalho de Tommy Wasserman25 no livro de Judas. Estes
três autores listam todas as variantes conhecidas em toda a história da transmissão e, ba-
seado no exercício que eles fazem nessas pequenas porções de texto do Novo Testamento,
Peter Gury propõe, então, calcular a partir dali, estimar o número de variantes para o resto do
Novo Testamento. Então, baseado nos números encontrados por estes autores, Peter Gury
expande sua estimativa para o Novo Testamento e conclui o seguinte:
“Sugerimos que uma estimativa razoável para o número de variantes textuais no Novo
Testamento grego (sem incluir diferenças de grafia) é de cerca de 500.000. Esta estima-
tiva - e enfatizamos que ainda é uma estimativa - é baseada em uma amostra de cerca
de três por cento de todo o Novo Testamento grego e inclui minúsculos, maiúsculos e
alguns lecionários”
Peter Gurry, “The Number of Variants in the Greek New Testament: A Proposal Estimate,” NTS
62, no. 1 (2016), 119.
22 Peter Gurry, “The Number of Variants in the Greek New Testament: A Proposal Estimate,” J*I,]^, no. 1 (2016), 119.
23 M. Bruce Morrill, !;,2(G"/#'#,2(//3'&(6,361,;63/H4&4,(%,;//,=$##>,036945$&"'4,(%,C(+6,R[)L University of Birmingham, 2012.
24 Matthew Solomon, !*+#,*#?'93/,E&4'($H,(%,-+&/#G(6)L New Orleans Baptist Theological Seminary, 2014.
25 Tommy Wasserman, *+#,7"&4'/#,(%,C91#D,K'4,*#?',361,*$364G&44&(6L Coniectanea Biblica New Testament Series 43; Stockholm: Almqvist
& Wiksell, 2006.
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Nessa conclusão, nota-se a importante frase: “sem incluir diferenças de grafia”. Diferente dos
nossos dias, onde os acordos ortográficos são claros e os editores de textos nos dizem onde
as palavras erradas estão mal escritas, no mundo antigo não existia este tipo de mecanismo,
não existia este tipo de correção de como um termo deveria ser escrito. E, por isso, a diferen-
ça de grafia foi excluída em sua estimativa. Peter Gurry não quer saber se uma palavra, que
deveria ter sido usada com um ν foi escrito como dois νν (e.g. Ιοανην ou Ιοαννην), pois nesses
casos não existe qualquer alteração de significado. Ele simplesmente quer saber onde estão
as variações, baseado na estimativa, usando estes textos como base para definir qual é o
número final do Novo Testamento. E baseado na estimativa que ele faz, ele diz que existem
500.000 variantes textuais que não incluem grafias. E esta estimativa, ele diz é apenas uma
estimativa, de uma pequena parte do NT. A diferença é que nesse caso, sabemos quem a
sugere, que critérios usa e o que ele pretende contabilizar.
Note, entretanto, que não estão incluídos papiros aqui. No seu método, ele conta apenas
minúsculos, maiúsculos e lecionários. E também não inclui todos os lecionários. Ele está
preocupado com o texto grego do Novo Testamento tal como não preservado nas tradições
litúrgicas da igreja, que seriam os lecionários. Em outras palavras, aquele número estimado
por Bart Ehrman e Daniel Wallace é agora apresentado por Peter Gury com um aumento de
100.000 variantes.
Em outras palavras, de um modo bem conservador podemos dizer que existem pelo menos
500.000 variantes textuais em toda a tradição manuscrita do Novo Testamento. E é aqui que
o cabelo de muitos ficam em pé: “Caramba, nós temos tudo isso de variação, nós temos todas
essas diferenças! Como nós podemos confiar neste texto, se nós temos todas essas variações
perto de nós?”. E é aqui que nós precisamos começar a refinar a estimativa para realmente
entender o impacto deste número no texto, de fato. E para isso, precisamos definir o que que-
remos dizer com o termo “variante textual”.
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CRÍTICA TEXTUAL
Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale
Bible Dictionary (New York: Doubleday, 1992), 413.
1 | Leitura: Existem, basicamente, dois diferentes usos para este termo. e o primeiro, e
mais comum, é aquilo que hoje usa-se o termo “leitura” para descrever. Uma leitura é
qualquer variação de grafia entre os manuscritos, como sugere Daniel Wallace: “Uma
variante textual é qualquer alteração entre os manuscritos do Novo Testamento onde
não existe uniformidade no uso das palavras.”26 Se você encontrar entre os manuscritos
qualquer tipo de variação de leitura de qualquer natureza, seja mudança de ordem das
palavras, seja mudança de ortografia, seja mudança de grafia, seja mudança de sintaxe;
qualquer tipo de variação. Hoje, prefere-se usar o termo “leitura” para descrever esta va-
riação textual. Nós temos uma leitura distinta, uma outra leitura. Esse texto tem várias
leituras. Este termo melhor descreve esse conceito de qualquer diferença.
2 | Variante: De modo um pouco mais preciso, variante textual é uma dessas muitas
leituras, que ela pode ser significativa para a crítica textual, como sugere Epp: “O ter-
mo ‘variante’ (ou ‘variante textual’) é reservado para as leituras que são significativas nas
principais tarefas da crítica textual do NT, conforme especificado acima: determinar as
relações dos manuscritos, localizar o manuscrito dentro da história textual e transmissão
do NT, e no estabelecimento do texto original ou o texto mais antigo possível do NT.”27 Em
outras palavras, uma variante pode ser importante, seja para a história da transmissão
do texto ou para o sentido do próprio texto.
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CRÍTICA TEXTUAL
por exemplo, problemas de grafia e de ordem de palavras, são insignificantes para o estudo
do texto do Novo Testamento. Apenas aquelas que impactam de alguma forma a história
da transmissão deste texto ou que impactam, de alguma forma, o sentido deste texto é que
podem ser consideradas significativas para a Crítica Textual.
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Como nós já mencionamos, o processo de cópia feito à mão gerou uma série de erro aci-
dental, uma série de problemas que foram totalmente não intencionais. Permita-me de-
monstrar alguns exemplos de mudanças não intencionais que nós encontramos no texto.
Por exemplo, eventualmente nós encontramos confusão de grafia.
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1 | Mudança de Grafia: Considere o texto de 1 Timóteo 3:16, que diz: “Aquele // Deus
que foi manifestado em carne”. Esta mudança do texto, que aparentemente é tão sig-
nificativa, que é usada por muitas pessoas para mostra como o texto é adulterado; Na
verdade, se você observar as letras gregas que compõe as palavras “aquele” e “Deus”
você percebe que é muito provavél que diferença aqui tenha acontecido de maneira
acidental: ΘC - Theós (Deus) e ΟC - hós (Aquele). A letra Θ seguida de um sigma mai-
úsculo, essa letrinha que parece um C, é a abreviação da palavra “Deus”. Mas a palavra
ος, tem um omicron maiúsculo, Ο, também seguido por esse sigma, C. A principal di-
ferença entre estas duas letras é que a primeira tem um pequeno traço no meio. Este
pequeno traço é a diferença entre “Deus” e “Aquele” no texto de 1 Timóteo 3:16. Uma
variante textual, que pode ter muito bem aparecido por um Escriba, que na sua pressa
de escrever, esquece ou adiciona um pequeno traço.
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 437–438.
2 | Homofonia (sons similares): Nós encontramos palavras que têm o mesmo som, a
homofonia. Estas palavras que têm sons iguais, eventualmente, aparecem no Novo
Testamento. Por exemplo, se você usa a versão ACF, em Romanos 5:1 você vai ler:
“Tendo sido, pois, justificados pela fé, tenhamos paz com Deus”. Enquanto, se você
usa uma versão ARA, você leria “Nós temos paz com Deus”. A diferença entre o con-
vite a uma vida de paz, descrito pela revista e corrigida, e uma declaração de certeza,
“nós temos paz”, é baseado na diferença de uma letra, que tem o mesmo som em gre-
AULA 2 @institutoschaeffer
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go. ἔχομεν é a palavra grega usada aqui e no indicativo ela significa “nós temos”, ela
descreve certeza. Mas ἔχωμεν no subjuntivo significa “tenhamos”, ela descreve um
certo elemento de contingência no texto. A diferença entre estas duas leituras basica-
mente se dá na diferença da letra omicron (ο) na palavra ἔχομεν, e da letra omega (ω)
ἔχωμεν, que tem som similar. É verdade, por outro lado, que provavelmente existiam
diferenças de entonação, mas ambos tem som de “o”. E é muito possível que a diferen-
ça entre estes dois textos tenha acontecido de maneira acidental pela confissão entre
as letras Omicron (ο) e Omega (ω), a diferença de um “o” curto e um “o” alongado para
nós, que acabou entrando no texto do Novo Testamento por ter som similar.
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 452.
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“Alguns manuscritos de João 1:13 lêem ἐγεννήθησαν [nasceram] (P66, א, B2, etc.) en-
quanto outros lêem ἐγεννήθη [vieram a existir] (itb, Irenaeuslat, Tertuliano, Origenlat1⁄2,
etc.); ambos significam “nasceram” [i.e. vieram a existir] embora venham de duas raí-
zes diferentes, γίνομαι e γεννάω, respectivamente.”
Paul D. Wegner, A Student’s Guide to Textual Criticism of the Bible: Its History, Methods & Results
(Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2006), 47.
“As palavras entre colchetes não estão em muitos manuscritos, mas parecem ser ne-
cessárias para captar o pensamento do v. 14, que é interrompido pelo comentário
entre parênteses ἵνα... δαιμόνια (para que estivessem com Ele, os enviasse a pregar e
tivessem autoridade para expulsar demônios). Por outro lado, essas palavras podem
ter entrado no texto quando os copistas acidentalmente recopiaram essas palavras
do início do v. 14. A fim de indicar a incerteza quanto à leitura original, as palavras καὶ
ἐποίησεν τοὺς δώδεκα foram colocadas entre colchetes.”
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 66.
“O nome Ἰωνᾶ (de Jonas), lido na maioria das testemunhas posteriores e seguido por
Segond, é muito provavelmente uma mudança feita por copistas sob a influência do
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
nome Bar-Jona de Mt 16:17. A leitura Ἰωαν (ν) ᾶ reflete uma confusão dos copistas
com o nome de uma mulher mencionada apenas por Lucas (ver Lucas 8: 3; 24:10) (...)
É possível que os nomes Ἰωάννου e Ἰωνᾶ sejam duas formas gregas do mesmo nome
hebraico. Se os tradutores seguirem o princípio de consistência na grafia do nome de
uma pessoa, a grafia do nome aqui e em Mateus 16:17 será a mesma, independente-
mente do texto seguido.”
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 167.
“Várias versões anteriores lêem o grego ΑΛΛΟΙΣ como a única palavra ἄλλοις (aos
outros). A leitura no texto significa que não é direito de Jesus conceder lugares de
honra (a qualquer pessoa); é Deus quem dará esses lugares àquelas pessoas para
quem os preparou. Alguns cristãos primitivos usavam esse versículo para argumen-
tar que Jesus era, portanto, subordinado a Deus e não igual a Deus. A mudança para
ἄλλοις pode ter sido deliberada a fim de rejeitar tal visão de Cristo, uma vez que a lei-
tura variante significa “Não cabe a mim conceder (a vocês, os discípulos), mas (devo
conceder) a outros [ἄλλοις] para quem foi preparado.”
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 90.
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
7 | Fissão (separação indevida de uma palavra): De modo similar, nós vemos a fissão,
quando palavras que deveriam ter sido lidas juntas, foram separadas. Considere Ro-
manos 7:14: “Sabemos // Por um ado eu sei que a Lei é espiritual”. Aqui nós temos um
exemplo clássico de fissão. οἴδαμεν é a palavra traduzida como “nós sabemos”, ao
passo que οἶδα μέν seria traduzido como “por um lado eu sei”. Se lidos de maneiras
separadas ou unidas, nesse caso que é interessante, ambas as leituras dão sentido ao
texto. Mais interessante ainda é que nós mudaríamos o texto da primeira pessoa do
singular para a primeira pessoa do plural ou vice versa, dependendo de como você en-
tende o texto aqui. O importante é demonstrar que faz sentido no argumento de Paulo
tanto a primeira pessoa do plural “nós sabemos”, como a primeira pessoa do singular
“eu sei”, uma vez que este é um texto em que nós vemos Paulo falando a respeito de
si. Algo que acontece no contexto que pode explicar o que acontece aqui, mas obser-
ve esta é uma variante textual que muito provavelmente aconteceu por acaso. Seja na
fissão ou na fusão das palavras usadas por Paulo neste texto.
“Influenciado pelo uso frequente de Paulo do “eu” nos vv. 7 a 25, alguns copistas e
Pais da Igreja dividiram o verbo οἴδαμεν em οἶδα μέν (eu sei, de fato). Mas fazer isso
negligencia a necessidade neste ponto do argumento de Paulo de uma declaração
com a qual os leitores concordariam. Paulo freqüentemente apresenta tais declara-
ções usando οἵδαμεν.”
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 301.
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
sua primeira cláusula. Quando nós olhamos para exemplos como este nós percebemos
quem, embora sejam muitas as variantes, elas aconteceram de maneira acidental e são
facilmente explicadas. Este tipo de equívoco nós percebemos facilmente e rapidamen-
te, não ficamos nem um pouco surpresos com a existências deles.
“Por causa do homoeoteleuton (τὸν πατωνα ἔχει ... τὸν πατωνα ἔχει), K L e a maioria
dos minúsculos, seguidos pelo Textus Receptus, omitiram acidentalmente a segunda
parte do verso (ὁ ὁμολογῶν... ἔχει [quem confessa ... tem). As palavras, entretanto,
pertencem ao texto original, sendo fortemente apoiadas por A B C P muitos minús-
culos vg syrp, copsa, arm eth al.”
Bruce Manning Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament, Second Edition
a Companion Volume to the United Bible Societies’ Greek New Testament (4th Rev. Ed.)
(London; New York: United Bible Societies, 1994), 641.
9 | Omissões ou Adições: Por fim, nas mudanças não intencionais aqui, nós vemos
omissões ou adições, dependendo de como você entende o texto. Considere, por
exemplo, o texto de Paulo em Efésios 1:1: “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vonta-
de de Deus, aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso.”. Essa expressão
“em Éfeso”, eventualmente, não é encontrada na tradução manuscrita, o que pode ser
fruto da omissão acidental de um escriba ou quem sabe de uma explicação de um Es-
criba, que resolveu adicionar esta expressão para explicar uma lacuna de quem sabe
uma teoria de uma carta circular de Paulo, uma carta que ele escreveu para muitas
pessoas, como, eventualmente, se explica a carta de Éfeso.
“As palavras ἐν Ἐφέσῳ [em Éfeso] estão ausentes em várias testemunhas importantes
(𝔓46 * אB * 424c 1739), bem como nos manuscritos mencionados por Basílio e no tex-
to usado por Orígenes. Certos aspectos internos da carta, bem como a designação de
Marcião da epístola como “Aos Laodiceanos” e a ausência em Tertuliano e Efraém de
uma citação explícita das palavras ἐν Ἐφέσῳ [em Éfeso] levaram muitos comentaristas
a sugerir que a carta pretendia ser uma encíclica, cópias sendo enviadas a várias igre-
jas, das quais a de Éfeso era a principal. Visto que a carta é tradicionalmente conhecida
como “Aos Efésios”, e visto que todas as testemunhas, exceto as mencionadas acima,
incluem as palavras ἐν Ἐφέσῳ, o Comitê decidiu mantê-las, mas entre colchetes.”
Bruce Manning Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament, Second Edition
a Companion Volume to the United Bible Societies’ Greek New Testament (4th Rev. Ed.)
(London; New York: United Bible Societies, 1994), 532.
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Seja como for, todas estas variantes textuais podem ter aparecido de uma maneira comple-
tamente acidental. Elas não foram usadas para distorcer o texto. Elas simplesmente acon-
teceram porque os escribas, assim como nós, eram pessoas que cansavam e às vezes per-
diam a atenção. Eu tenho uma dificuldade no meu processo de leitura. Eu leio muitas vezes
a mesma linha porque meus olhos não estão muito bem alinhados. E este tipo de equívoco
na hora de ler acontecia também com os nossos escribas, que, eventualmente, copiavam a
mesma linha ou pulavam uma linha na hora de escrever o seu texto. E estas são variantes
textuais, são alterações, que nós encontramos na história da transmissão do texto, mas são
não intencionais e muito provavelmente pouco significantes para a crítica textual.
B. Mudanças Intencionais
Mas existe um segundo grupo, existem aquelas que nós chamamos de mudanças intencio-
nais. Estas mudanças intencionais precisam ser estudadas com um pouco mais de aten-
ção e, eventualmente, elas são importantes. Mas que tipo de alterações intencionais nós
encontramos no Novo Testamento?
“Os nomes da genealogia dos vv.6b-11 vêm de 1Cr 3:5, 10-17. De acordo com 1Cr 3:10
(também 1Rs 15: 9ss), o nome desse rei era Asa. No entanto, está claro que o nome
“Asaph” é a forma mais antiga de texto preservada nos manuscritos do NT, uma vez que
manuscritos de várias famílias e tipos de texto diferentes concordam na leitura de “Asa-
ph”. Além da evidência do manuscrito, é mais provável que os copistas tenham notado
que “Asafe” era o nome de um salmista (compare os títulos dos Salmos 50 e 73-83) e
corrigissem o nome para “Asa”, o rei de Judá. Manuscritos posteriores, bem como o
Textus Receptus, lêem Ἀσας (Asa).”
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 1.
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
“A citação nos vv.2 e 3 vem de dois textos diferentes do AT. A primeira parte vem de
Mal 3: 1 e a segunda parte é de Is 40: 3. É fácil ver, portanto, por que os copistas teriam
mudado as palavras “no profeta Isaías” para a leitura mais geral “nos profetas” (ἐν
τοῖς προφήταις). R.T. France (The Gospel of Mark, p. 60) chama isso de “uma ‘corre-
ção’ óbvia.” A leitura no texto UBS4 também é apoiada pelas primeiras testemunhas
representativas dos tipos de texto alexandrino e ocidental.”
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce M.
Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche Bibelge-
sellschaft, 2006), 57.
3 | Harmonização: Em João 19:20 diz que quando Jesus Cristo foi pregado, existia uma
placa que estava escrita sobre ele e ele descreve a placa do seguinte modo: “Estava
escrito em aramaico, latim e grego”. Se você olhar no texto grego você vai encontrar a
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
“A menção aqui [Lc 23:38] das três línguas (grego, latim e hebraico) em que a inscrição
na cruz foi escrita é quase certamente um comentário adicionado por um copista, pro-
vavelmente retirado do texto de João 19:20. Todas as evidências sugerem que a adi-
ção não é original: (a) está ausente de várias das primeiras e melhores testemunhas;
(b) as testemunhas que inserem as palavras diferem entre si (...) e (c) não há explica-
ção satisfatória para a omissão da declaração, se originalmente presente no texto.”
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 153.
4 | Melhorias Literárias: Por exemplo, Mateus capítulo 6 descreve a oração do Pai Nos-
so nos seguintes termos, no contexto do ensino da oração do Pai Nosso: “E seu Pai,
que vê o que é feito em segredo, te recompensará”. Alguns manuscritos tardios adicio-
nam ali “publicamente” (ἐν τῷ φανερῷ). Ele te vê em segredo, mas ele te recompensa
de maneira pública. Dificilmente esta melhoria ou esta inserção do texto aqui poderia
ser feita acidentalmente. Na verdade, ela serve para demonstrar um equilíbrio entre
aquilo que acontece em secreto e de maneira pública.
“A frase ἐν τῷ φανερῷ (publicamente) está ausente dos primeiros manuscritos dos
tipos de texto alexandrino, ocidental e egípcio. Parece ter sido adicionado por copistas
a fim de fazer um paralelismo explícito com as palavras anteriores ἐν τῷ κρυπτ in (em
segredo). O ponto em toda a seção, no entanto, não é tanto a abertura da recompensa
do Pai, mas sua superioridade à mera aprovação humana (compare osvv.6e18).”
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 7.
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Bruce Manning Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament, Second Edition
a Companion Volume to the United Bible Societies’ Greek New Testament (4th Rev. Ed.)
(London; New York: United Bible Societies, 1994), 112.
Ou seja, os escribas, quando copiavam o texto, eventualmente cometiam erros não in-
tencionais. Eles cometiam erros que eram frutos de distração, cansaço; depois de um
longo dia de trabalho eles não estivessem mais prestando tanta atenção. Existem tam-
bém algumas alterações que são claramente intencionais e é aqui que nós encontra-
mos a grande dificuldade da crítica textual: O que nós fazemos, então, com aquelas
mudanças que são intencionais?
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Inviável
Insignificante Significativa
Viável
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
A. Inviáveis e Insignificantes
“Várias mudanças ortográficas são leituras sem sentido. Essas podem acontecer quan-
do o escriba está cansado, sem atenção, ou talvez não conheça o grego tão bem assim.
Alguém poderia pensar que os escribas que cometeram tais erros poderiam impactar
profundamente as cópias do texto. Mas, na verdade, leituras sem sentido quase sempre
não são duplicadas pelo próximo escriba. Além disso, leituras sem sentido nos ensinam
muitas coisas sobre como os escribas trabalhavam. Por exemplo, um antigo manuscrito
de Lucas e João, conhecido como P75, tem algumas variantes sem sentido interessantes.
Mas elas envolvem uma ou duas letras em cada uma dessas ocasiões, sugerindo que
esse escriba copiava o texto uma ou duas letras por vez. De fato, esse escriba era muito
cuidadoso. Ele ou ela era uma pessoa detalhista.”
Daniel Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel L. Bock, Buist
Fanning, Interpreting the New Testament: Introduction to the Art and Science of Exegesis.
(Wheaton:IL, Crossway, 2006), 35-6.
1 | Leituras Sem Sentido: “Embora, como apóstolos de Cristo, pudéssemos ter sido
um peso, tornamo-nos bondosos // bebes // cavalos entre vocês, como uma mãe que
cuida dos próprios filhos” (1Tessalonissences 2:7).
“Alguns manuscritos lêem νήπιοι (bebês); e outros, seguidos pela maioria das tradu-
ções, lêem ἤπιοι (bondosos). As palavras são semelhantes na grafia. Por um lado, se
νήπιοι for original, o olho de um copista pode ter acidentalmente pulado sobre a letra
ν, uma vez que a palavra anterior ἐγενήθημεν termina com a mesma letra (um caso de
haplografia). Por outro lado, se ἤπιοι for original, um copista pode ter acidentalmente
copiado a letra ν duas vezes (um caso de ditografia). Qualquer explicação é possível (...).
Paulo usa a palavra “bebê” quase uma dúzia de vezes em outras cartas, mas sempre em
referência a seus convertidos e não a si mesmo. Mas, uma vez que os manuscritos que
apóiam a leitura νήπιοι são geralmente mais confiáveis do que aqueles que lêem ἤπιοι,
a decisão de usar νήπιοι foi feita principalmente com base em evidências externas.”
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 424.
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
2 | Erros Claros e Demonstráveis: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os pro-
tejas do Maligno // Não rogo que os tire do Maligno (João 17 :15).
“Os escribas acidentalmente pularam das palavras ἐκ τοῦ κόσμου [ek tou kósmou] no
meio do versículo para as mesmas palavras no final do versículo. Por esse motivo, as
palavras “embora eu não seja do mundo” estão faltando no final deste versículo em
várias tradições textuais.”
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 206-7.
3 | Leituras Singulares: “Mas quando ficaram sabendo que ele era judeu, todos grita-
ram a uma só voz durante cerca de duas horas: ‘Grande é a Àrtemis dos efésios!’ //
‘Grande é a Àrtemis dos efésios!” (Atos 19:43).
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
No Codice Vaticano, o clamor dos habitantes da cidade, “Grande é a Ártemis dos Efé-
sios!” é escrito duas vezes. Em todos os outros manuscritos, ele é escrito apenas
uma vez. Esta ditografia pode ter resultado da palavra imediatamente anterior para
“clamor”, que tem as mesmas letras finais de “dos efésios”. É semelhante a este:
κράζοντων μεγάλη ἡ Ἄρτεμις Ἐφεσίων (krazontōn megalē hē Artemis Ephesiōn).
Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised
Edition., vol. 1, Lexham Methods Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 25.
4 | Diferença de Grafia e Significado: “Eu chorava // celebrava muito, por não ter sido
encontrado alguém digno de abrir o rolo nem de olhar para dentro dele” (Apocalipse 5:4).
O texto da grande maioria dos manuscritos, representada aqui tanto pelo Texto Majo-
ritário como pelo Textus Receptus, e os mais antigos manuscritos da tradição textual
do NT lêem aqui ἔκλαιον - eklaion (chorava), como pode-se notar na UBS5, NA28 e no
SBLGNT. Entretanto, o Códice Sinaítico em sua leitura original traz uma variação ortográ-
fica, muito provavelmente causada por desatenção do escriba, e apresenta a leitura sem
sentido ἔκλααν - eklaan. Percebendo a leitura sem sentido, o primeiro corretor do Códice
(normalmente datado em algum momento no 4o. sec) sugeriu uma alteração interes-
sante, trocando ἔκλααν - eklaan por ἔκλεον - ekleon (celebrava), produzindo uma leitura
que embora tenha ‘significado’, continua sem sentido no texto. Em outras palavras, na
tentativa de corrigir uma leitura sem sentido, o primeiro corretor criou outra.
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
B. Viáveis e Insignificantes
“O maior grupo de variantes textuais são resultado de mudanças ortográficas, das quais
a grande maioria não pode ser nem mesmo traduzida. Considere por examplo os se-
guintes exemplos. ‘João’ é escrito ou como ᾽Ιωάννης [Ioánnes] ou ᾽Ιωάνης ’Ioánes] nos
manuscritos. Todo nú [letra ’n’ em grego] móvel no NT ou está presente ou ausente nos
manuscritos. Essa mudança não afeta em nada o texto. Os escribas eram criativos com
a ortografia em caso de ditongos, especialmente quando os mesmos envolvem um iota
[letra ‘i’ em grego]. Mas na maioria das vezes ele não afeta um iota no sentido. Esse tipo
de mudanças ortográficas pertence à categoria insignificante.”
Daniel Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel L. Bock,
Buist Fanning, Interpreting the New Testament: Introduction to the Art and Science of
Exegesis. (Wheaton:IL, Crossway, 2006), 35.
1 | Diferenças Intraduzíveis: “A ele vinha toda a região da Judeia e todo o povo de Jerusa-
lém. Confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão” (Marcos 1:5).
a. Texto Crítico:
ὑπʼ αὐτοῦ ἐν τῷ Ἰορδάνῃ ποταμῷ
hypʼ autou en tō Iordanē potamō
b. Texto Majoritário:
ἐν τῷ Ἰορδάνῃ ποταμῷ ὑπʼ αὐτοῦ
en tō Iordanē potamō hypʼ autou
A grande maioria dos manuscritos (02 07 09 011sup 013 017 021 024 028 030 034 037
0410451213356911812434657978810051071142415822372ƒ1ƒ13 MT TR) nesse caso
lê o texto como ἐν τῷ Ἰορδάνῃ ποταμῷ ὑπ’ αὐτοῦ (en tō Iordanē potamō hyp’ autou)
ao passo que importantes e antigos manuscritos (01 03 019 33 SBL b c f ff2 q) prefe-
rem ὑπ’ αὐτοῦ ἐν τῷ Ἰορδάνῃ ποταμῷ (hyp’ autou en tō Iordanē pota). Nesse caso, tal
diferença não faz a menor diferença, sendo que ambas as leituras continuariam sendo
traduzidas do mesmo modo, a saber “eram batizados por ele no rio Jordão.”
2 | Diferença de Grafia (usos de ν): “Surgiu um homem enviado por Deus, cujo nome era
João” (João 1:6)
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
3 | Diferença no Uso de Vogais (ex.1): “Portanto, você que julga os outros é indesculpá-
vel; pois está condenando a si mesmo naquilo em que julga, visto que você que julga,
pratica as mesmas coisas” (Romanos 2:1)
4 | Diferença no Uso de Vogais (ex.2): “pois vocês sabem que a prova da sua fé produz
perseverança” (Tiago 1:3)
Daniel Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel L. Bock, Buist
Fanning, Interpreting the New Testament: Introduction to the Art and Science of Exegesis.
(Wheaton:IL, Crossway, 2006), 35.
C. Significativas e Inviáveis
28 Para um tratamento mais abrangente, procure pelo artigo “Era Júnia uma Apostola?”, escrito pelo autor e publicado pela revista Teologia
Brasileira. Versão em PDF no Academia.edu do autor.
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Com base no peso da evidência do manuscrito, o Comitê foi unânime em rejeitar Ἰουλίαν
(ver também a próxima variante no v.15) em favor de Ἰουνιαν, mas estava dividido quanto à
forma como o último deveria ser acentuado. Alguns membros, considerando improvável
que uma mulher estivesse entre os denominados “apóstolos”, entenderam que o nome
era masculino Ἰουνιᾶν (“Junias”), considerado uma forma abreviada de Junianus (ver
Bauer-Aland, Wörterbuch, pp. 770 f.). Outros, no entanto, ficaram impressionados com
os fatos de que (1) o nome latino feminino Junia ocorre mais de 250 vezes em inscrições
gregas e latinas encontradas somente em Roma, enquanto o nome masculino Junias
não foi atestado em nenhum lugar, e (2) quando os manuscritos gregos começaram
para ser acentuado, os escribas escreveram o feminino Ἰουνίαν (“Junia”).
Bruce Manning Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament, Second Edition
a Companion Volume to the United Bible Societies’ Greek New Testament (4th Rev. Ed.)
(London; New York: United Bible Societies, 1994), 475–476.
2 | Casos de Expansão: “Conforme está escrito no profeta Isaías: Enviarei à tua frente o
meu mensageiro; ele preparará o teu caminho voz do que clama no deserto: ‘Preparem
o caminho para o Senhor, endireitem as veredas para Ele’ [Todo vale será aterrado e
todas as montanhas e colinas, niveladas. As estradas tortuosas serão endireitadas e
os caminhos acidentados, aplanados. E toda a humanidade verá a salvação de Deus] ”
(Marcos 1:3)
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
A adição das palavras καὶ πίνει (e beber) é uma adição natural inserida por escribas,
talvez sob a influência da passagem paralela em Lucas 5:30, que tem as palavras “Por que
você come e bebe?” Essa leitura mais curta do texto foi seguida por Mateus (9:11), que
acrescentou as palavras ὁ διδάσκαλος ὑμῶν (seu professor). Este acréscimo de Mateus
foi, por sua vez, inserido em diferentes lugares em Marcos 2:16 por alguns copistas.
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 64.
D. Viáveis e Insignificantes
Bart Ehrman, Misquoting Jesus: The Story Behind Who Changed the Bible and Why (New
York:NY, HarperCollins, 2005), 207.
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
1 | Liturgia: Considere Lucas 11:2: “Ele lhes disse: “Quando vocês orarem, digam: Pai
// Pai nosso // Pai nosso que está nos céus.”. Neste texto de Lucas nós encontramos
três variantes significativas para o entendimento do texto. As mais antigas leituras, por
exemplo, inclusive o mais antigo papiro disponível para o texto de Lucas, usa somente a
palavra “Pai”. Ao passo que nós vemos o “Pai Nosso” sendo utilizado em vários unciais
a partir do quinto século. Nós vemos também “Pai nosso que estás nós céus” sendo
usado mais posteriormente por outros documentos. Quando nós olhamos para este
texto nós estamos lendo o ensino de Cristo sobre a oração do Pai Nosso e a pergunta
que nós fazemos é: Quais destas versões ou quais destas variantes descreve o texto
original do autor? Por que quando nós estudamos crítica textual é isto que nós queremos
saber: Qual é o texto que Lucas escreveu aqui? Qual é a palavra que Jesus usou aqui? E
quando nós olhamos para as variantes disponíveis e nós estudamos as suas variantes
textuais nós percebemos a possibilidade de tentar explicar qualquer uma delas, como
estas variantes foram organizadas na transmissão. É bem possível que o texto de Lucas
aqui seja “Pai” e que escribas posteriores, tentando harmonizar com o texto conhecido
do Pai Nosso em Mateus, usaram “Pai Nosso”, que é a forma textual mais conhecida
da oração do Pai Nosso. Mas imagina que interessante estudar as variantes textuais
e perceber que neste texto nós vemos a palavra “Pai” sendo utilizada no lugar de “Pai
Nosso”. Será que isto lança luz sobre o modo como Cristo ensinava? Será que isso lança
luz sobre o modo como ele ensinou de diferentes maneiras várias vezes ou quem sabe
a mesma oração? O que nós observamos aqui é um importante estudo de uma variante
textual que é ao mesmo tempo significativa e viável.
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 130.
2 | Teologia: Considere o texto de João 5:44: “Como vocês podem crer, se aceitam glória
uns dos outros, mas não se preocupam com a glória que vem do Deus único // daquele
que é Único”. Estas são alterações que fazem diferença no texto e que podem ser explica-
das de qualquer um dos dois lados.
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
A leitura variante, que omite θεοῦ, não é significativa para a tradução, pois o significado
é o mesmo. Embora as primeiras e importantes testemunhas omitam θεοῦ, parece ser
necessário no contexto. Um copista aparentemente omitiu acidentalmente as letras ΘΥ (a
contração usual para θεοῦ) de ΤΟΥΜΟΝΟΥΘΥΟΥ.
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 175.
3 | Cristologia: Considere João 6:69: “Nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus” ou
“Cristo Filho de Deus” ou “Filho de Deus” ou “o Cristo” ou “o Cristo o Santo de Deus” ou “o
Cristo o Filho do Deus Vivo”. Todas estas variantes textuais apresentadas aqui tem o seu
apoio na tradição da igreja; nem todos da mesma maneira. Por exemplo, “o Filho de Deus”
é descrito somente em algumas versões anteriores à vulgata e aparece na siríaca. “Aquele
que é o Cristo” só é citada por Tertuliano. “Cristo o Santo Filho de Deus” aparece no P66 e
outros manuscritos que nós vamos conhecer na semana que vem. “Tu és o Cristo, Filho do
Deus vivo”, que é basicamente o que diz o texto de Mateus, nós encontramos em manus-
critos tardios. Mas “o Santo de Deus”, esta declaração nós vamos encontrar no P66, nos
Sinaíticos, nós vamos encontrar nos Vaticanos. E muito provavelmente melhor descreve
o sentido original aqui.
“A leitura do texto, que tem um suporte manuscrito muito bom, foi expandida de várias
maneiras por copistas, talvez em imitação de expressões em 1:49; 11:27; e Mat 16:16.
Leituras mais longas incluem “o Cristo, o Santo de Deus” (ver Segond) e “aquele Cristo, o
Filho do Deus vivo.
Roger L. Omanson, A Textual Guide to the Greek New Testament: An Adaptation of Bruce
M. Metzger’s Textual Commentary for the Needs of Translators (Stuttgart: Deutsche
Bibelgesellschaft, 2006), 179.
Em outras palavras, nós estamos falando de leituras que são significativas para o texto e para
a história do texto e que são ao mesmo tempo viáveis na sua explicação da história da trans-
missão. Este é o grupo de variantes do Novo Testamento. Este é o grupo que nós precisamos
considerar. Mas nós não precisamos ficar muito preocupados também porque não é sempre
que este tipo de variante acontece no texto do Novo Testamento. Aliás, estas são as exceções.
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Se você fizer por um momento uma análise entre o texto grego do Novo Testamento do Texto
Recebido e a mais recente edição crítica da Nestlè-Aland, você vai perceber que este texto é
96% idêntico:
“O texto do Novo Testamento foi copiado de modo estável através dos séculos. Isso
pode ser mensurado pelas diferenças entre o texto grego por trás da KJV (TR) e aquele
por trás das traduções modernas do NT. Ainda que a KJV seja uma tradução de mais de
quatrocentos anos, ela é baseada em manuscritos significativamente mais tardios que
as traduções modernas. Ele representa um texto que cresceu através dos séculos. Ain-
da assim existem apenas cerca de cinco mil diferenças entre o TR e a NA27. Em outras
palavras, eles concordam em mais de 96% das vezes.”
Daniel Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism” in Darrel L. Bock,
Buist Fanning, Interpreting the New Testament: Introduction to the Art and Science of Exegesis
(Wheaton:IL, Crossway, 2006), 34.
Em outras palavras, existem apenas 4% de variações que precisam ser consideradas. E aqui
cabe, então, uma última pergunta: Quantas variantes nós temos que são ao mesmo tempo
viáveis e significativas? Porque esta é uma pergunta muito diferente do que aquela que nós
fizemos no começo. Quantas variantes existem? Meio milhão de variantes é um número
assustador, mas considerando a classificação destas variantes, quantas delas são ao mesmo
tempo significativas e viáveis?
E para responder esta pergunta eu vou usar o texto da UBS. O texto da UBS, que é o texto
grego que eu sugeri a vocês na primeira aula, na sua terceira edição, descrevia 1440 variações
textuais que eram viáveis e importantes. E destas, o comitê classifica como: {A} um texto
certo; {B} um texto quase certo; {C} situações em que o comitê teve dificuldades em decidir
onde colocar o texto; {D} variantes que o comitê teve dificuldades em se chegar a uma decisão.
Na terceira edição da UBS, das 1440 variantes listadas, 126 foram classificadas como {A};
474 como {B}; 699 como {C}; e 144 como {D}. Em outras palavras, 10% de todas as variantes
listadas naquele texto eram consideradas entre aquelas que os editores tinham alguma
dificuldade. Mas Kurt Aland e Barbara Aland, quando fizeram uma análise daquele aparato,
disseram o seguinte:
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Kurt Aland and Bárbara Aland, The Text of the New Testament (Grand Rapids:MI, Eerdmnas, 1986), 45.
Talvez eles estivessem um pouco cautelosos e nós vemos um otimismo aparecendo nas
outras versões. Por exemplo, a quarta edição muda completamente o cenário: das 1390
variantes listadas, 515 receberam a classificação {A}, 541 receberam {B}, 326 receberam {C}
e apenas 9 variantes textuais foram descritas como {D}.
E na edição mais recente, aquela que provavelmente você tem em mãos, a quinta edição, nós
temos 1392 variantes textuais, das quais 505 são A, 523 são B, nós temos 354 para C e apenas
10 com D. Mais recentemente, a quinta edição do texto grego da UBS passou por nova revisão,
com um novo comitê, mas as divisões das notas manteve de certa forma o mesmo padrão:
das 1392 variantes listadas, 505 (36%) receberam nota {A}, 523 (38%) receberam nota {B}, 352
(25%) receberam nota {C} e apenas 10 (1%) receberam nota {D}. Considerando a forma atual
do texto, que tem 138.213 palavras, o número de variantes listadas está um pouco acima de
1%. Ou seja, as variantes classificadas como {A} refletem apenas 0.36% de todo o texto, ao
passo que as variantes classificadas como {B} representam 0.37% e aquelas classificadas
como {C} representam apenas 0.36% do texto como um todo. Com isso, podemos dizer que
o comitê teve grande dificuldade em apresentar o texto em apenas 0.007% de todo o texto do
NT tal como impresso na UBS5.
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
E aí, o que você acha deste assunto? O que você achou desta
nossa segunda aula? Como você foi impactado pelo assunto
desta aula, pelas variantes textuais? Quais são as perguntas
que você tem sobre o assunto? Não esquece de deixar sua
pergunta aqui em baixo. Não esquece de deixar seu comentário.
Não esquece de curtir, compartilhar e espalhar este vídeo com
outras pessoas também para que mais pessoas possam sentar
e conversar sobre variantes textuais. E, se der, me segue também
lá no instagram: @mmwberti. Você vai me encontrar lá e nós
podemos conversar também sobre crítica textual.
Esta aqui foi a segunda aula e eu espero você para a próxima
aula, na próxima semana, segunda-feira às 10 da manhã, onde
nós vamos continuar a conversa das variantes textuais. E o que
nós vamos conversar vai ser o seguinte: Onde nós encontramos
estas variantes textuais? Onde elas estão presentes? E nesta
aula nós vamos conhecer mais de perto os documentos que
preservam tanto o texto como as variantes neste processo de
transmissão. Eu espero por você!
AULA 2 @institutoschaeffer
CRÍTICA
TEXTUAL
Aula 3
MARCELO BERTI
Seja bem vindo à terceira aula do
curso de Crítica textual do Instituto
Schaeffer de Teologia e Cultura,
do Dois Dedos de Teologia!
Meu nome é Marcelo Berti e hoje nós vamos estudar
os documentos do Novo Testamento. Vamos conhecer
quais eles são, como se classificam e qual a importância
deles para o estudo do texto do Novo Testamento.
Introdução
“A Crítica Textual do Novo Testamento desfruta de uma vergonhosa riqueza no
que diz respeito às fontes de informação sobre o texto do Novo Testamento. Ao
contrário de muitos textos clássicos ou patrísticos, que foram preservados em
apenas algumas cópias tardias ou, em casos extremos, apenas uma única cópia,
agora destruída, existem hoje milhares de cópias do Novo Testamento em várias
línguas antigas. Além disso, quase todo o Novo Testamento grego pode ser re-
construído com base em citações de escritores antigos.”
Michael Holmes, “Textual Criticism” in David Alan Black and David S. Dockery,
Interpreting the New Testament: Essays on Methods and Issues (Nashville, TN:
Broadman & Holman Publishers, 2001), 48
Sejam bem vindos à terceira aula do curso de Crítica textual do Dois Dedos
de Teologia! Nas duas primeiras aulas nós perguntamos ou respondemos
a pergunta “Por que nós estudamos Crítica Textual?” e nós observamos
seus motivos. Primeiro, nós consideramos a definição da Crítica Textual,
e então definimos as Variantes Textuais. Nós observamos que daquele
número imenso de variantes textuais apresentadas por aí, apenas uma pe-
quena parte dela, de fato, entra no nosso aparato crítico, e dessas apenas
uma pequena porcentagem tem suas dificuldades para serem explicadas.
Na aula de hoje nós vamos entrar em um ponto que eu entendo ser o mais
importante de todo o estudo: nós vamos conversar sobre os materiais da
crítica textual. A intenção dessa aula é apresentar uma breve introdução
aos manuscritos de uma perspectiva bem abrangente, buscando apresen-
tar a classificação dos manuscritos, sua datação, descrição e mais alguns
detalhes. Por fim, eu vou ensinar a você a como usar o aparato crítico da
sua UBS5, demonstrando como essa evidência manuscrita é organizada e
como você pode tirar maior proveito dela.
CRÍTICA TEXTUAL
Aula 3
I. Introdução aos Manuscritos
“Antes do século XV, quando Johannes Gutenberg inventou os tipos móveis para a im-
prensa, todas as cópias de qualquer obra de literatura eram feitas à mão (daí o nome
“manuscrito”). Nos séculos anteriores à produção múltipla simultânea de cópias via di-
tado (em que muitos escribas em um scriptorium copiavam um texto ditado a eles por
um leitor), todas as cópias manuscritas foram feitas individualmente, cada escriba pro-
duzindo uma cópia de um exemplar.”
1 | Produzidos por Escribas Quando nós falamos de manuscritos nós estamos pensan-
do em um tipo de documento que foi produzido por Escribas. A palavra latina que des-
creve a nossa palavra “manuscrito” é “manu scriptus.” Essa é a palavra que no mundo
antigo era usada para descrever trabalhos feitos à mão por aqueles que eram profissio-
nais da cópia. Escriba era, via de regra, um profissional usado para transcrever textos
especialmente em obras literárias grandes.
Quando nós falamos do Novo Testamento, nós estamos falando muito provavelmente
de pessoas não profissionais da cópia, especialmente antes do seu período de oficiali-
zação da religião cristã. Eram pessoas que copiavam o texto pelo interesse e preocupa-
ção no texto e não necessariamente profissionais, como nós vamos encontrar em anos
posteriores. Mas os Escribas eram responsáveis por produzir toda obra. Eles não eram
responsáveis apenas pelo texto, eram responsáveis pelo todo daquela obra.
Por exemplo, livros no mundo antigo eram muito caros e difíceis, por causa das dificulda-
des de se confeccionar um livro. Um livro não era simplesmente escrito, ele era confec-
cionado. Nós vemos no modelo de produção dos livros, que o processo de se montar um
livro era relativamente custoso, caro e demorado. Para os nossos padrões de velocidade,
certamente, a produção de um livro era algo realmente demorado. Levaria meses para
que um Escriba conseguisse preparar o seu material e escrever o seu livro. Não à toa, é
comum encontrar entre as frases deixadas pelos próprios escribas em seus documentos
relatos de que eles estão cansados. Existe um manuscrito, por exemplo, que traz o seguin-
te colofão (colofão é aquela nota adicional, que o Escriba adiciona ao texto descrevendo
aquilo que acontece), ele diz o seguinte: “Como trabalhadores se alegram em ver seu país
natal, do mesmo modo é o fim de um livro para aqueles que trabalham [em sua escrita].”
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
O terminar aquela obra era descrito como um alívio de chegar à sua casa depois de
uma longa viagem. Mas, apesar desse retrato de um trabalho enfadonho e custoso,
eventualmente, nós encontramos notas a respeito da fé desses Escribas. Manuscritos
cristãos, especialmente os mais tardios, deixavam pequenas notas para descrever
quem era a pessoa que produzia aquele material e Gérar Garitte listou 51 exemplos
deste mesmo colofão. Ou seja, esta nota adicional escrita por um Escriba em um de-
terminado manuscrito.
ἡ μεν χειρ ἡ γραψασα σήπεται τάφῳ
γραφή δε μένει εἰς χρόνους πληρεστάτους
Bonito, não é? Especialmente quando você sabe o que significa. O que ele disse aqui é
o seguinte: “A mão que escreveu [isso] apodrece em uma tumba. Mas o escrito perma-
nece até a plenitude dos tempos.” Existia, na perspectiva do Escriba responsável por
este colofão, a convicção que o texto da escritura bíblica permaneceria para sempre
independente da sua fragilidade. Ele sabia que, apesar de que em algum momento ele
viesse a morrer, aquele texto que ele copiou, a palavra de Deus, não seria perdida de
modo nenhum.
2 | Produzidos à mão: Parece obvio o suficiente dizer que as cópias manuscritas eram
feitas à mão. Mas quando nós realmente pensamos sobre este assunto, nós começa-
mos a nos perguntar: “Como eles escreviam à mão?” ou “Que tipo de materiais eles
utilizavam?” ou ainda “Como eles preparavam seus documentos?”.
a. Caneta: A caneta é um destes elementos que parecem tão comuns para nós, mas
que passa por um processo de desenvolvimento. Nos manuscritos cristãos nós vamos
conhecer a respeito daquela caneta de pena somente a partir do quinto século. Até
esse momento da história, as canetas típicas eram aquelas usadas pelos antigos gre-
gos criadas a partir do junco. Junco é um tipo de planta que, eventualmente, é usado
para flechas. Ele é leve, é fino, é de fácil manuseio. Ele era desidratado, cortado, afiado,
apontado e usado como caneta. Os antigos Escribas do Novo Testamento usavam esse
tipo de material para escrever o texto do Novo Testamento. Sobre a caneta, Metzger
afirma: “Desde os tempos mais antigos, os gregos escrevem em pergaminho e papiro
com junco, e eventualmente com um pequeno pincel. Quando o talo do junco era própria
e completamente desidratado, uma das pontas era afiada e dividida em duas partes
iguais. Nós ouvimos pela primeira vez a respeito de caneta de pena por volta do quinto/
sexto século, mas ser sem dúvidas usado antes disso.”1
1 Bruce Manning Metzger, Manuscripts of the Greek Bible: An Introduction to Greek Paleography. (New York, NY: Oxford, 1981), 18.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
b. Tinta: Mas usando este tipo de material, eles precisavam também de um tipo de
tinta específica e a mais comum era uma tinta à base de carbono, de cor preta, feita de
fuselagem, goma e água. Esta mistura era muito comum, especialmente para a produ-
ção de papiros. Quando você lê um papiro escrita com uma caneta feita de junco, você
percebe que a letra ali escrita tem um tom mais escuro, especialmente nos manuscritos
mais antigos. O único problema é que este tipo de tinta não aderia ao pergaminho. Per-
gaminho, como nós vamos ver, a matéria prima dele era o couro animal e esta tinta não
aderia muito bem à superfície. Por isso, eles precisaram desenvolver um segundo tipo,
uma nova tecnologia para a tinta. Essa tinta era derivada da galha de carvalho. A galha
de carvalho, que é aquele material viscoso que nós vemos muitas vezes em árvores, era
especialmente utilizada para este fim. Ela era desidratada e a partir do pó tirado da galha
do carvalho com água era misturada e se adicionava goma arábica à mistura. Para dar
o tom certo eles usavam sulfato de ferro, o que dava para aquela tinta uma tonalidade
distinta, já não tão preta quanto aquela encontrada especialmente nos papiros. Com
o tempo, essa tinta vai sofrendo ação do tempo, em função do sulfato de ferro ela ga-
nha uma coloração mais marrom, do tipo ferrugem. E essa tinta foi tão especialmente
usada, essa nova tecnologia foi tão aderida, que até mesmo papiros passaram a ser
escritos com essa tinta. Só tinha um pequeno detalhe, que acho que era impossível de
perceber no passado: essa tinta com o tempo soltava pequenas porções de ácido sulfú-
rico, que vinham a corroer o material, especialmente o papiro. Por isso, não é incomum,
que quando você visita imagens de manuscritos do Novo Testamento você percebe que
em alguns lugares onde a escrita estava feita ou havia sido feita nós encontramos lacu-
nar e marcas, riscos ou rasgos ou até mesmo furos, que foram provocados pela tinta. E
a ironia que nós vemos aqui é que aquela tinta que foi usada para preservar o texto, no
decorrer do tempo acabou por corrompê-lo.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
3 | Caligrafia Formal e Informal: Mas no período de cópias manuais existiam dois tipos
dois tipos de caligrafias comumente utilizadas: aquela que é chamada de formal e aque-
la que é chamada de informal.
a. Informal: Era a mão cursiva geralmente utilizadas para situações ordinárias e eventos
do dia a dia, como lista de compras, cartas, e outras coisas mais corriqueiras.
b. Formal: Mas à mão formal tinha um modelo distinto e descrevia uma tipografia dis-
tinta dos outros escritos. Esse tipo formal de letras maiúsculas juntas sem espaço, que
é aquela que nós vemos até mesmo nos mais antigos papiros do Novo Testamento,
descreve um detalhe muito interessante a respeito das pessoas que escreviam aquele
texto. As pessoas por trás da produção dos mais antigos papiros, dos unciais, eles tra-
tavam aquele texto como algo formal, como algo que era para ser levado a sério, não
era algo corriqueiro e do dia a dia, como a própria letra, a própria tipografia usada pelo
Escriba parece sugerir.
“Na antiguidade, dois estilos de escrita eram usados para se escrever em grego eram
normalmente usados: formal e informal. Ambos existiram lado a lado. A mão formal é
conservadora, mas a informal pode mudar rapidamente, como formas que tendem a
invadir a formal. O estilo informal poderia ser escrito rapidamente, e era empregada para
escritos não literários, documentos do dia a dia, cujas letras, contos, recibos, petições,
obras e coisas do tipo. Contrações e abreviações de palavras frequentemente usadas
(como o artigo definido e algumas palavras) eram comuns. Obras literárias, por outro
lado, eram escritos com um estilo mais formal, que era caracterizado pelo uso de letras
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Bart Ehrman and Bruce Manning Metzger. The Text of the New Testament: Its Transmission
Corruption and Restoration. 4th Edition. (New Yourk, NY: Oxford, 2005), 17.
a. Capital: Essa é uma letra que nós conhecemos do material arqueológico disponível
do mundo antigo, que são textos que sobreviveram ao tempo talhados em pedra, metal
e assim por diante, que, por serem escritas em superfícies mais rígidas, precisavam ser
talhadas com instrumentos que não permitiam com tanta facilidade o uso de curvas.
Desse modo, o tipo Capital das letras gregas era sempre angular, sempre mais retos.
b. Unciais: Uma versão adaptada da letra Capital é o tipo Unciais, que são textos mai-
úsculos, sempre com letras maiúsculas, sempre sem espaçamento sem separação de
sílabas e frases, com pouquíssimas marcas de pontuação ou sinais diacríticos.
c. Cursiva: Para o uso diário, o tipo Uncial de escrita tomava muito tempo, e por isso
usava-se o tipo cursivo para textos não literários. Além de ser mais conveniente, letras
cursivas era normalmente simplificadas bem como combinadas quando o escriba jun-
tasse duas ou mais letras sem levantar a caneta (ligadura).
d. Minúsculas: Mas é interessante notar que a partir do nono século da era cristã os ma-
nuscritos gregos do Novo Testamento passam a desenvolver um novo modo, um novo
modo de se escrever, que são conhecidos como minúsculos, que são muito mais artís-
ticos, que são muito mais detalhados. Este tipo de escrita começa no nono século e a
partir dali os manuscritos são copiados e transcritos nesse tipo de letra. É nesse período
que a acentuação passa a ficar cada vez mais clara, as pontuações, que desde o sexto
século eram feitas, mas aqui se tornam usadas com muito mais intensidade. Quando
nós olhamos a história da transmissão do texto, nós vemos estes desenvolvimentos
2 O uso da expressão ‘tipografia’ aqui é intencionalmente anacrônico, uma tentativa de ajudar os alunos a entenderem o ‘tipo de escrita’
usada pelos escribas.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale
Bible Dictionary (New York: Doubleday, 1992), 418.
a. Não Controlado: O modo não controlado era quando um indivíduo entendia que deve-
ria copiar um texto e iniciava sua cópia, fazia isso por interesses pessoais, ou de comu-
nidades menores.
Bruce Manning Metzger, Manuscripts of the Greek Bible: An Introduction to Greek Paleography.
(New York, NY:Oxford, 1981), 21.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
b. Controlado: Mas a cópia formal ou controlada era realizada, em grande parte, através
de um processo de scriptorium, por assim dizer. Existia um leitor (αναγώστης). Esse
leitor lia enquanto escribas o copiavam. Existia um corretor, responsável por verificar a
qualidade da cópia feita. O trabalho dos corretores era anotar na própria estrutura do tex-
to seus comentários de acertos e erros. E este tipo de controle, que nós vemos em obras
formais do mundo antigo, nós percebemos de maneira incipiente nos nossos papiros,
as mais antigas evidências do Novo Testamento, mas nós vamos perceber também nos
tempos posteriores. Nós vamos encontrar papiros que tem largas marcas de corretores,
pessoas de diferentes mãos fazendo pequenas notas para demonstrar que aquele texto
estava sendo passado por um processo rigoroso de controle. Existe um processo para
garantir que aquela cópia feita por um indivíduo seja revisada por um segundo ou até
mesmo terceiro. Em algumas obras do Antigo Testamento nós vemos que esse proces-
so durou por várias gerações. Esse processo controlado marca o ambiente onde a igreja
já é oficial e existe paz suficiente, na qual os recursos se tornam mais abundantes. No
período medieval todos esses processos são desenvolvidos e melhorados. Mas é muito
bonito de observar que mesmo nos papiros nós vemos que, embora essas cópias não
controladas, eram feitas por pessoas com zelo profundo pelo texto que confiavam.
“Nesse cenário “um leitor (αναγώστης - anagostes) leria o texto em voz alta, devagar e
de modo distinto, a partir do exemplar [a ser copiado] enquanto vários escribas sentados
à sua volta, escreveriam produzindo simultaneamente tantas novas cópias quanto es-
cribas trabalhando. Apesar de multiplicar a produtividade, a prática do ditado multiplica
os tipos de erros que podem entrar no texto. Uma fonte particular de problema advinha
da circunstância de que certas vogais passaram a ser pronunciadas do mesmo modo.
Por outro lado, muitos erros de transcrição poderiam ser percebidos pelo διορθωτής
(corretor) do scriptorium, que verificava a assertividade do trabalho terminado de cada
um dos escribas. O trabalho dos corretores e um manuscrito é usualmente revelado por
caligrafia diferente, tinta diferente e a alocação secundária do seu trabalho em relação
ao trabalho principal. A exclusão de texto poderia ser indicada pela aplicação de parên-
tesis em uma passagem; por cancelar uma letra ou letras por meio de um traço através
delas; por colocar um ponto sobre o texto, ou abaixo dele, ou ao lado; ou por combinar
um desses métodos”
Bruce Manning Metzger, Manuscripts of the Greek Bible: An Introduction to Greek Paleography.
(New York, NY:Oxford, 1981), 21-22.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
“Um rolo de papiro, pergaminho ou couro usado para escrever um documento ou obra
literária. O rolo de papiro do Egito pode ser identificado desde 2500 aC. Uma das pro-
duções literárias mais famosas do antigo Egito é o Livro dos Mortos. Os judeus usaram
rolos de couro para escrever os livros do Antigo Testamento. A maioria dos rolos desco-
bertos na área do Mar Morto foi escrita em couro, embora alguns tenham sido escritos
em papiro. Os cristãos da primeira geração liam o Antigo Testamento em rolos. Jesus
leu “um rolo” (Lucas 4:17), e Paulo pode ter usado “rolos” para ler o Velho Testamento
(ver 2 Timóteo 2:13). É possível que os primeiros cristãos usassem rolos ao produzir os
livros do Novo Testamento. Alguns manuscritos antigos do Novo Testamento foram es-
critos em rolos (P13 P18 P98), mas todos esses papiros foram escritos no verso de ou-
tros escritos existentes. Portanto, nenhuma dessas obras foi composta originalmente
no formato de rolo. Até onde sabemos, os cristãos do primeiro século e os posteriores
usaram predominantemente o códice”
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
lia e produzia os seus próprios livros. Um detalhe muito interessante para você entender
o quanto os Cristãos gostavam do códice: todos os manuscritos Cristãos que sobrevive-
ram ao tempo, somente os não neotestamentaros são em formato de rolo. Nós temos um
exemplar de Irineu e nós temos alguns exemplares de livros apócrifos, que foram preser-
vados em forma de rolo. Todos os outros manuscritos do Novo Testamento e grande par-
te da literatura cristã neotestamentária são também encontrados nesse formato. Existem
várias explicações para esta preferência, nós realmente não temos uma resposta definiti-
va, mas uma dela é que muito provavelmente os Cristãos no seu período inicial, procuran-
do demonstrar a distinção que eles tinham com o judaísmo, ao invés de carregarem os
seus livros sagrados em rolos, eles preferiram os carregar em livros. E a grande vantagem
é que isso permitiu que os Cristão tivessem acesso rápido ao texto do Novo Testamento
e pudessem fazer conferências daquilo que era dito e aquilo que estava escrito, o que foi
um grande avanço para o estudo do texto, como nós observamos.
c. Arte: Existia uma certa arte relacionada à produção desses códices de pergaminho,
como nos diz Metzger: “Como o lado peludo do pergaminho era um pouco mais ama-
relado que o lado da carne, escribas motivados por estética organizariam cuidadosa-
mente as folhas de pergaminho de um modo que, onde quer que se abrisse o códice, o
lado da carne de um lado estaria frente a frente com o lado da carne da outra folha, e o
mesmo aconteceria com o lado com pelo. Do mesmo modo, na produção de um códice
de papiro, escribas tendiam a organizar as folhas de papiro de tal modo que a direção
das fibras das duas páginas frente a frente seriam ou horizontais ou verticais.”3
3 Bruce Manning Metzger, Manuscripts of the Greek Bible: An Introduction to Greek Paleography. (New York, NY:Oxford, 1981), 15.
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CRÍTICA TEXTUAL
“Manuscritos de papiro, em forma de códice, foram usados pelos cristãos desde os pri-
meiros tempos até o século VIII. Eles constituem apenas 3% dos manuscritos de texto
contínuo do NT e menos de 2% de todos os manuscritos do NT, embora, é claro, muito me-
nos do que na quantidade de texto grego existente do NT, já que a maioria dos papiros são
altamente fragmentários. Qualitativamente, entretanto, eles gozam de uma importância
inversamente proporcional à pequena quantidade de texto que preservam atualmente.”
Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale
Bible Dictionary (New York: Doubleday, 1992), 417.
8 | Papiro: De acordo com Plinio, “[a] civilização, ou pelo menos a história da humani-
dade depende do uso de papiros”. Ele sabia que o material histórico disponível para
o mundo e a sua história seria contada através daquilo que se escreve no papiro. E
sabendo disso, Plinio dedica grande tempo para descrever como o mundo antigo fazia
isso. Se você olhar no livro dele, a História Natural,4 você vai descobrir, por exemplo,
onde esses manuscritos eram cultivados, quantos tipos de papiros existiam, como
eles eram preparados.
a. Localização: Plinio vai nos dizer que Egito, Síria e Babilônia tinham um centro de pro-
dução de papiros. Embora fosse um material relativamente barato, o acesso ao papiro
no mundo antigo era difícil. Você precisaria comprar de mercadores ou estar no local
onde estes produtos eram produzidos. Diferente do nosso mundo globalizado, que tudo
está a um Ifood de distância de nós, no mundo antigo, se você quisesse comprar papiro,
a melhor maneira era visitar esses lugares ou encontrar mercadores que o forneçam
fora dali. De acordo com Plínio:
“O papiro cresce nos pântanos do Egito ou nas águas lentas do rio Nilo, quando trans-
bordam e ficam estagnadas, em poças que não ultrapassam alguns côvados de profun-
didade. O papiro também cresce na Síria, nas margens do mesmo lago em torno do qual
cresce o cálamo de cheiro doce; e o rei Antíoco costumava empregar as produções da-
4 Pliny the Elder, The Natural History, ed. John Bostock (Medford, MA: Taylor and Francis, Red Lion Court, Fleet Street, 1855), 3185-89.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
quele país apenas como cordame para fins navais; pois o uso de spartum ainda não ha-
via se tornado comumente conhecido. Mais recentemente, foi entendido que um papiro
cresce no rio Eufrates, nas proximidades da Babilônia, a partir do qual um tipo de papel
semelhante pode ser facilmente produzido: ainda, no entanto, até o presente momento
os partas preferem impressionar seus personagens sobre panos”
Pliny the Elder, The Natural History, ed. John Bostock (Medford, MA: Taylor and Francis, Red
Lion Court, Fleet Street, 1855), 3187.
b. Qualidade: Quando fala sobre qualidade, olha só como Plínio descreve a qualidade
dos papiros do seu período, no primeiro século. (I) Papiro Augusta. O papiro Augusta foi
dado em homenagem a Augusto Cesar e ele tinha esse título porque somente os papi-
ros mais finos, os melhores exemplares, seriam usados para o imperador. Todo produto
que tivesse essa qualidade seria dedicado ao trabalho do imperador; (II) Papiro Liviana
foi batizado em nome de sua esposa e era o segundo melhor tipo de papiro disponível
no mundo. E, então, vem a Hierática. (III) Papiro Hierática era usado para a produção de
livros sagrados. Eram materiais usados no mundo antigo para a produção de materiais
religiosos importantes. Muito interessante que a terceira mais importante qualidade de
papiros para produção de literatura era dedicada para livros religiosos ou livros sagra-
dos. Nós não conseguimos fazer uma referência cruzada para entender qual era o tipo
de papiro que os cristãos utilizavam, mas é interessante saber que existem estes tipos
de classificações e este tipo de processo no mundo antigo.
c. Fragilidade: Outro detalhe interessante, é que os papiros não eram tão frágeis como
eventualmente nós pensamos. O Papiro era um excelente material de escrita e é lógico
que a longo prazo, e quando nós falamos em longo prazo estamos falando de um perío-
do muito longo, eles vieram a se perder. Mas a verdade é que se eles fossem protegidos
da umidade, eles durariam por séculos. Evidência disso nas descobertas dos Papiros
descobertos entre os documentos do Mar Morto, que sobreviveram separados da hu-
manidade por séculos, quando protegidos adequadamente. Mas, de fato, não era uma
estrutura tão firme, não era uma estrutura tão consistente quanto nós vamos encontrar,
por exemplo no pergaminho.
“Ao contrário da opinião popular de longa data, o papiro não era particularmente frágil,
com durabilidade muito inferior ao pergaminho. O papiro torna-se quebradiço e sujeito
à desintegração instantânea, no entanto, quando é repetidamente umedecido e secado.
Ele sobrevive, portanto, apenas quando protegido da umidade em edifícios, cavernas,
jarros ou mesmo no solo das áreas praticamente livres de chuva do Egito, Palestina e
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Mesopotâmia, desde que o papiro não esteja nem muito perto da superfície nem tão
profundamente enterrado como a ser afetado por um lençol freático crescente. Tam-
bém se presume que o papiro era caro, mas o fato de que grandes quantidades foram
usadas, muitas vezes com margens largas e grandes espaços não escritos, e que a
reutilização (embora bastante viável) era rara, indica que às vezes, pelo menos, o papiro
como um o material de escrita era bastante barato”
Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale
Bible Dictionary (New York: Doubleday, 1992), 417.
9 | Pergaminho: O pergaminho era a opção mais durável, mais acessível, mas também
mais cara. Mais acessível no sentido de que você não precisaria ir até o Egito, à Babi-
lônia ou à Síria para comprar o seu Papiro. Qualquer indivíduo que tivesse um animal
poderia aproveitar do seu couro para fazer daquilo um pergaminho. Os tipos de animais
que eram usados para fazer o material básico dos Pergaminhos eram ovelhas, bezerros,
cabras, antílopes e até mesmo outros animais. O couro extraído destes animais era co-
locado ao sol para secar, era, então, suavizado com uma pedra pome e, então, recortado
para ser produzido, para se iniciar o processo de cópia de um texto. Somente o proces-
so de preparação demoraria um longo tempo de trabalho. Mas o mais interessante é o
seguinte, a qualidade do pergaminho era dependente da idade do animal. Quanto mais
jovem o animal, maior a qualidade. Mas aí nós temos um problema: quanto mais jovem,
menor a quantidade de pergaminhos que se consegue produzir a partir daquele couro. E
aqui você percebe o dilema: quando se produzem em larga escala, você precisa ter uma
larga quantidade de pergaminho disponível. E existia um tipo de pergaminho que era da
mais alta qualidade chamado velon, que era feito, que era extraído do couro de animais
não nascidos. Ele era tão fino e tão delicado para escrita, que eram usados somente
para grandes edições de altíssimo custo porque isso demoraria muito mais tempo para
se produzir; a própria preparação desse material demoraria muito tempo. Você pode
perceber, a produção de um livro no mundo antigo demora muito tempo. É um processo
longo, complicado, demorado. Não era feito às pressas, não era feito de qualquer modo,
mas seja como for, via de regra, uma vez que esse pergaminho fosse esticado, fosse co-
locado, ele era raspado, os pelos eram extraídos dos animais através da raspagem, ele
era suavizado e as linhas horizontais eram colocadas, os distanciamentos eram feitos
e é muito interessante notar que em diferentes lugares do mundo diferentes técnicas
eram usadas para se preparar um códice, por exemplo, um livro. E o modo como as
linhas eram traçadas, os instrumentos que eram usados foram identificados por estu-
diosos da paleografia e através desse tipo de evidência não textual encontrado em um
documento é possível se datar e até mesmo se localizar um manuscrito do Novo Tes-
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CRÍTICA TEXTUAL
tamento baseado nessas informações. Fantástico, não é verdade? Mas tem um outro
elemento muito interessante que acontece no processo de produção desses pergami-
nhos: além de passar por todo esse detalhamento, todo esse processo de preparação,
esses manuscritos depois de propriamente preparados eles eram organizados de um
modo muito bonito. Quando você abre um documento medieval antigo ou até mesmo
um dos mais antigos, quando você abre um livro cristão feito em pergaminho, você que
os Escribas foram cuidadosos o suficiente para garantir que a parte do pergaminho que
era a parte que tinha o pelo e a parte que ela interna ficassem sempre juntas. Então,
você percebe que ele com muito cuidado monta aquele documento, para que desse lado
você veja a parte mais escura do couro e quando você vira a parte interna você vê nas
duas páginas o mesmo lado do couro, a parte mais clara. Existe uma arte, uma ciência
de montar isso que nós conseguimos notar inclusive nos papiros, nos documentos do
Novo Testamento.
“Pergaminhos eram feitos de couro de ovelhas, bezerros, cabras, antílopes e outros ani-
mais. Quanto mais jovem o animal, melhor era a qualidade do couro. Velino era a melhor
qualidade de um pergaminho extrafino, e eventualmente extraído de animais ainda não
nascidos. Velino era preparado para volumes de luxo, talvez para a apresentação de có-
pias para realeza, e seriam pintados de roxo e escritos com tinta de ouro ou prata. Depois
que os pelos fossem removidos por meio de sua raspagem, o couro era lavado, suavizado
com pedra pome e embebidos em cal. Antes de ser usado para escrita, linhas horizontais
bem como margens verticais eram marcadas pela pontuação da face com um instrumen-
to afiado e desenhado com o auxílio de uma régua. Em muitos casos essas linhas guias
podem ainda ser percebidas, bem como os pontos originalmente feitos pelos escribas
para o orientar na marcação do pergaminho. Diferentes escolas de escribas empregam
diferentes procedimentos nele para o marcar, e ocasionalmente é possível para o acadê-
mico contemporâneo identificar o lugar de origem de um manuscrito por comparar os
padrões de marcação com outros manuscritos cujo local de origem é conhecido”
Bruce Manning Metzger, Manuscripts of the Greek Bible: An Introduction to Greek Paleography.
(New York, NY:Oxford, 1981), 14-15.
10 | Papel: É evidente que o papel se torna a opção mais adequada, mais acessível, mas
ela se torna também a mais tardia. Embora sendo conhecida muito tempo antes do
processo em que foi usado para o mundo ocidental, o papel só vai ser usado a partir do
décimo segundo século. Quando você encontra um documento cristão escrito em pa-
pel, você está diante de um documento escrito depois do décimo segundo século. Sem
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CRÍTICA TEXTUAL
dúvida, mais adequado, mais acessível, mas nós só passamos a usar no período poste-
rior no desenvolvimento da transmissão do texto do Novo Testamento. Observe que até
este momento nós não falamos nada sobre o texto do Novo Testamento, nós apenas
mencionamos os manuscritos e documentos os quais nós encontramos o texto. E nós
aprendemos muita coisa sobre o texto, nós aprendemos muito sobre a transmissão, nós
aprendemos muito sobre a história. E este é um elemento, infelizmente, muito ignorado
no estudo da crítica textual porque desassocia o texto da sua história, da sua tradição
e da sua transmissão, o que torna essa área do conhecimento tão rica, que torna essa
área do conhecimento tão interessante.
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CRÍTICA TEXTUAL
1 | Vergonhosa Riqueza de Materiais: Existe uma frase usada a torto e a direito nos deba-
tes de YouTube, que aparece com frequência na internet, a tal “embarrassment of riches”.
Daniel Wallace provavelmente popularizou essa frase em seus debates com Bart Ehrman.
Inclusive, este é o nome de um dos capítulos do livro que ele edita falando sobre altera-
ções do Novo Testamento, mas é bem provável que quem cunhou essa expressão tenha
sido um homem chamado Eldon Jay Epp; ele diz o seguinte: “No caso do NT, no entanto, os
milhares de manuscritos e as centenas de milhares de leituras apresentam uma verdadeira
e vergonhosa riqueza, e os críticos textuais do NT raramente empregaram emendas, prefe-
rindo assumir que a leitura original em praticamente todos os casos está em algum lugar
presente neste vasto reservatório de material.”5 A ideia é: nós temos uma embaraçosa,
vergonhosa fonte de riqueza entre os manuscritos. Essa expressão é usada por Michael
Holmes6, Daniel Wallace7, ela vai ser repetida por apologetas a torto e a direito. Felizmente,
entretanto, essa afirmação descreva bem a realidade. Por causa disso, nós precisamos
organizar esse material e grandes categorias são utilizadas; três categorias principais:
nós temos os Manuscritos Gregos. Versões e Citações dos pais da igreja. Nós organiza-
mos esses materiais desse modo para facilitar o acesso.
5 Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Doub-
leday, 1992), 415.
6 “A crítica textual do Novo Testamento desfruta de vergonhosa riqueza no que diz respeito às fontes de informação sobre o texto do
Novo Testamento. Ao contrário de muitos textos clássicos ou patrísticos, que foram preservados em apenas algumas cópias tardias ou,
em casos extremos, apenas uma única cópia, agora destruída, existem hoje milhares de cópias do Novo Testamento em várias línguas
antigas.” - Michael Holmes, “Textual Criticism” in David Alan Black and David S. Dockery, Interpreting the New Testament: Essays on
Methods and Issues (Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 2001), 48.
7 “A riqueza de material disponível para se determinar a leitura original do Novo Testamento é assustadora (…) Ela é de fato uma vergo-
nhosa riqueza” - Daniel Wallace, “An Embarrassment of Riches” in J. Ed. Kosmoszewski, M. James Sawyer, Daniel Wallace, Reinventing
Jesus: How Contemporary Skeptics miss the Real Jesus and Mislead Popular Culture (Grand Rapids: MI, Kregel, 2006), 82.
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CRÍTICA TEXTUAL
3 | Manuscritos Gregos: Os Manuscritos, por sua vez, são classificados em quatro gru-
pos: os Papiros, os Unciais, os Minúsculos e os Lecionários. O modo como eles são
organizados é uma tentativa de definir, a partir do estado geral do documento, o nome
que ele carrega.
a. Papiros: Papiros são descritos assim por causa do material em que são escritos e por-
que são escritos em caracteres unciais.
b. Unciais: Os unciais, por outro lado, são também escritos em caracteres unciais, mas
eles estão preservados no pergaminho. Em outras palavras, a diferença entre um Papiro,
em termo de classificação, e um uncial é que o primeiro é escrito em papiro, em letras
maiúsculas, e o outro em pergaminho e também em letras maiúsculas.
c. Minúsculos: Os minúsculos, por outro lado, são este texto que já tem essa nova carac-
terística no processo de transmissão, que são os textos escritos com letras minúsculas,
aquele tipo de letra que a partir do nono século começa a fazer parte da história da trans-
missão do texto.
d. Lecionários: Os Lecionários são porções litúrgicas do texto, utilizadas pela igreja como
forma de leitura anual, seja na presença da comunidade, seja em momentos mais pos-
teriores de maneira pessoal, mas eles descrevem o momento, o movimento litúrgico da
igreja. Por exemplo, nos Lecionários é comum que frases de Jesus ou trechos ou histó-
rias de Jesus sejam utilizadas em diferentes ordens para descrever a ocasião da liturgia,
ocasião no ano da liturgia da igreja e para que isso aconteça de uma maneira interessante
eles adicionam sentenças de entrada, de transição, para facilitar a leitura. Os Lecionários
testemunham a devoção que os cristãos tinham e como a devoção cristã funcionava em
termos litúrgicos para a igreja. Em diferentes momentos da história nós percebemos que
o ciclo litúrgico tinha diferentes seleções de textos, demonstrando o processo de reflexão
da escritura que existia na igreja primitiva.
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CRÍTICA TEXTUAL
das Versões descrevem esse genuíno interesse dos cristãos em fazer com que essa men-
sagem, de fato, chegasse até os confins da terra. Existe aqui um elemento missionário
que precisa ser relembrado e resgatado: esse processo de traduzir as escrituras para que
novas pessoas possam também conhecer a Deus e serem instruídos por sua verdade.
Nós vemos que Latim e Siríaco são provavelmente as mais antigas traduções que nós en-
contramos do Novo Testamento, mas não muito tempo depois nós vamos encontrar Cop-
ta, Armênico, Etíope, Gótico e o Esloveno sendo traduzidos. E alguns elementos aqui são
sensacionais, por exemplo: a primeira obra desse idioma sobrevivente na história desse
povo é o Novo Testamento. Foram os missionários cristãos que traduziram as escrituras
para que esse povo pudesse ter acesso às palavras de Deus, se tornou o primeiro alfabe-
to, se tornou o primeiro livro desse grupo de povo, que é exatamente o que hoje milhares
de tradutores fazem ao redor do mundo. É a isso que hoje missionários dedicam suas
vidas. Eu tive o privilégio de estar em uma aldeia indígena no noroeste do Pará, quando
eles receberam pela primeira vez a versão traduzida inteira da bíblia feita, transformada,
em áudio para aqueles que não sabiam ler. A escrita daquela comunidade foi desenvol-
vida por missionários, o texto daquela comunidade foi desenvolvido por missionários, o
primeiro livro daquela comunidade foi produzido pelos missionários com textos do Novo
Testamento. E hoje eles têm a bíblia inteira em sua língua. Esse processo missionário é
o mesmo processo que nós olhamos na história da igreja, na história da transmissão do
texto. Quando nós estudamos Crítica Textual, nós aprendemos sobre a expansão do reino
através dessas traduções feitas aqui.
“À medida que o cristianismo se espalhou pelo mundo antigo, o Novo Testamento foi
traduzido para outras línguas, começando com o latim, siríaco e copta. Essas traduções
testemunham o texto grego antigo que serviu como seu texto fonte”
Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised
Edition., vol. 1, Lexham Methods Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 141–142.
5 | Pais da Igreja: Além disso, nós vamos encontrar as citações feitas pelos Pais da igreja.
Citações dos pais da igreja são classificadas por idioma, por data e por região. Geralmen-
te, as datas dos pais da igreja em si são bem fáceis de serem traçadas pela história da
igreja, pelos lugares onde eles moram, por onde eles viveram, e isso nos ajuda a entender
como o texto era lido e compreendido em cada uma das regiões, quando eles escrevem
usando os textos das escritura. Eventualmente, eles copiam, eventualmente, eles citam
de maneira livre. Eventualmente, eles interpretam. Seja como for, eles oferecem para nós
pequenas marcas de como esse texto do Novo Testamento era lido e interpretado em
diferentes idiomas, diferentes datas e diferentes regiões do mundo.
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CRÍTICA TEXTUAL
Tendo organizado todo esse material, a grande pergunta que vem é: Como nós vamos dar
datas para tudo isso? Tirando os pais da igreja, que nós conseguimos entender como eles
funcionam, como nós vamos datar um manuscrito? Como eu sei que aquele manuscrito é do
quarto, quinto, sexto século? Como eu identifico isso?
E o processo de datação dos manuscritos envolve uma série de análises e brevemente eu vou
descrever para vocês esses princípios de paleografia.
a. Códice Vaticanus 354: Considere, por exemplo, o exemplo do códice vaticanos 354,
datado em 949. Esse é um daqueles manuscritos que nós só conseguimos saber com
precisão quando ele foi escrito porque o Escriba que o copiou deixou uma pequena
nota no final com as seguintes palavras: “Miguel, monge e pecador, que terminou esse
trabalho no mês de Março, no quinto dia, na sexta hora, no ano 6.457 anno mundi”, que é o
modo como eles contavam o calendário, considerando o dia em que eles se supunham
a criação do mundo, que seria o nosso 949 dC, sendo essa a sua “sétima indicação.”9
Observe, nós sabemos a exata hora em que esse manuscrito foi escrito e o conteúdo do
manuscrito, eventualmente, serve como descrição disso.
8 Bruce Manning Metzger, Manuscripts of the Greek Bible: An Introduction to Greek Paleography. (New York, NY:Oxford, 1981), 49.
9 Idem, p.120.
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CRÍTICA TEXTUAL
nosso calendário). No fólio 199 lê-se novamente: “O inútil sacerdote Manuel, o humilde.
O Fim do Evangelho, fim do ano.”10
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CRÍTICA TEXTUAL
a. Papiros de Herculano: Nós sabemos qual é a data limite para a produção desses
porque eles foram encontrados em uma livraria que carbonizada a partir da erupção
do Monte Vesúvio, em 79 dC. Ou seja, nenhum dos documentos que estão ali pode
ser posterior a esse momento. Esse tipo de situação, de evidência arqueológica, que
também não é comum de acontecer, eventualmente acontece com documentos do
Novo Testamento.
b. Papiro de Oxirrinco 1.103: Conhecido como Papiro 10, esse documento tem uma
pequena porção de Romanos 1:1-7 e muito provavelmente foi escrito por um aprendiz.
Esse documento de mão, de alguém que está aprendendo, foi originalmente não datado.
Exceto pelo fato de que ele foi encontrado junto com um contrato que foi datado entre
315.13 Em outras palavras, esse documento não pode ser nem muito antes nem muito
posterior desses documentos que estavam juntos, que pertenciam ao mesmo achado,
às mesmas evidências. Evidências arqueológicas servem como processo de datação,
mas novamente não é muito comum que isso aconteça com textos do Novo Testamento.
Via de regra, são os indicadores da papirologia que vão descrever isso.
13 “O manuscrito estava anexado a um contrato datado em 316 AD, com outros documentos do mesmo período” - Philip W. Comfort,
A Commentary on the Manuscripts and Text of the New Testament. (Grand Rapids, MI: Kregel, 2015), 49.
14 Philip Comfort, Encountering the Manuscripts: An Introduction to New Testament Paleography & Textual Criticism (Nashville, TN:
Broadman & Holman, 2005), 106.
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CRÍTICA TEXTUAL
manuscritos paleográficos”15
b. Comparação de Estilo: “Uma vez que a maioria dos manuscritos não tem informações
cronológicas, a sua data aproximada deve ser determinada na base de considerações
de estilo de escrita. Agora, a evolução da escrita é um processo gradual e uma forma
abre espaço para outra de modo quase imperceptível. Um considerável lapso de tempo
é geralmente requerido para se produzir mudanças significativas na forma das letras e
na aparência geral do manuscrito.”16
15 Idem, 105.
16 Bruce Manning Metzger, Manuscripts of the Greek Bible: An Introduction to Greek Paleography. (New York, NY:Oxford, 1981), 49.
17 Idem, Ibid.
18 Elijah Hixson, “Dating Myths, Part One” in Elijah Hixon and Peter J. Gurry, Myths and Mistakes in New Testament Textual Criticism
(Downers Grove, IL: InterVarsity, 2019), 101.
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CRÍTICA TEXTUAL
Quando nós tiramos o elemento físico da leitura, nós tiramos esse toque com a realidade,
nós aumentamos a distância e transformamos as variantes, as leituras do Novo Testamento
em pequenas letras associadas à nota de rodapé de um comentário textual, de um aparato
crítico. É fundamental que a gente volte os nossos olhos inclusive para os textos e para os
documentos do Novo Testamento para entender.
A. PAPIROS
“De modo geral, os manuscritos em papiro estão entre as testemunhas mais importantes
para reconstruir o texto original do Novo Testamento. Não é o material em que estão escritos
(papiro) que os torna tão valiosos, mas a data em que foram escritos. Vários dos papiros mais
importantes datam do segundo século ao início do terceiro. Esses manuscritos, portanto, for-
necem as mais antigas testemunhas diretas do autógrafo”
Philip Comfort, Encountering the Manuscripts: An Introduction to New Testament Paleography &
Textual Criticism (Nashville, TN: Broadman & Holman, 2005), 56–57.
Os Papiros, de acordo com Larry Hurtado: “O principal valor dos papiros do NT é, obviamente, não
seu material de escrita, mas sua idade. (…) Existe um bom número de papiros (e alguns manuscritos
19 Brooke Foss Westcott and Fenton John Anthony Hort, The New Testament in the Original Greek, 2: Introduction [and] Appendix
(2d ed.; London: Macmillan, 1896), Introduction, 31.
20 D.C. Parker, “The Majuscle Manuscripts of the New Testament”, in Bart Ehrman and Michael Holmes, The Text of the New Testament
in Contemporary Research: Essays on the Status Quaestionis (1d ed.; Grand Rapids: MI: Eerdmanns, 1995), 37.
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CRÍTICA TEXTUAL
de pergaminho também) que são datados consideravelmente cedo, contendo nossas primeiras tes-
temunhas dos escritos do NT, e estes então têm um significado histórico único.”21
1 | Mais Antiga Evidência: Os Papiros são as mais antigas evidências que nós temos
do texto do Novo Testamento. Se o nosso objetivo é chegar no texto mais antigo pos-
sível, aquele texto original dos apóstolos, é fundamental que as leituras e evidências
que estão mais próximas do período mais antigo sejam fundamentalmente importantes
para este processo. Imagine, por exemplo, uma brincadeira de telefone sem fio. Quanto
mais longe do primeiro ou da mensagem original, mais esse processo ganhou informa-
ções ou perdeu informações ou foi adulterado. O Novo Testamento não é, de maneira
alguma, uma brincadeira de telefone sem fio, mas a ideia de quanto mais próximo nós
conseguirmos chegar da análise do texto das evidências, mais próximos do texto mais
antigo possível, do texto original, nós chegamos. E diferente da brincadeira do telefone
sem fio, a tradição manuscrita nos oferece esse amplo vasto campo de informação
para perceber onde essas informações foram perdidas, como elas foram destorcidas
ou como nesse processo de comunicação dessa mensagem nós conseguimos, ainda,
ouvir nos nossos dias aquilo que os apóstolos escreveram a primeira vez. Os Papiros
são os mais antigos testemunhos que nós temos.
a. Poucos e Fragmentários: “No que se refere aos manuscritos dos escritos do NT, exis-
tem boas e más notícias. A má notícia bem conhecida é que os manuscritos existentes
que podem ser plausivelmente datados do segundo século são lamentavelmente pou-
cos em número, e nenhum deles nos dá um texto completo de qualquer escrito do NT.
Na verdade, o manuscrito existente do segundo século as evidências consistem prin-
cipalmente em algumas folhas incompletas, embora derivem coletivamente de vários
manuscritos. Mesmo se aceitarmos o argumento de Skeat de que P64, P67 e P4 repre-
sentam o mesmo manuscrito de vários Evangelhos do final do século II, a quantidade
de texto preservada no corpo total do material manuscrito do segundo século ainda é
frustrantemente pequena. Os manuscritos mais antigos que nos dão uma porção subs-
tancial do texto paleograficamente são datados do início do século III ou por aí. P45
(Evangelhos e Atos) e P46 (Epístolas Paulinas) datam de ca. 200-250 dC, os códices do
Evangelho P66 e P75 de ca. 200 CE e P47 (Apocalipse) ca. 250-300 EC, e P72 (Judas e
1-2 Pedro), terceiro ao quarto século dC.”22
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CRÍTICA TEXTUAL
b. Bem Antigos: “Por outro lado, a boa notícia é que uma pequena parte das testemunhas
manuscritas do segundo século e / ou do início do terceiro século foi enriquecida com a
recente publicação de três volumes de papiros de Oxirrinco. Os volumes 64-66 nos dão
até então desconhecidos Materiais de papiro do NT que compreendem folhas de sete ma-
nuscritos de Marcos, quatro de João, dois de Apocalipse e um de Lucas, Atos, Romanos,
Hebreus e Tiago. As datas desses manuscritos variam do segundo século ao quinto ou
sexto as primeiras são folhas do século 7 dC de três manuscritos de Marcos datados do
segundo ou início do terceiro século, Oxy. 4405 (uma nova parte de P77, contendo Matt
23: 30-34, 35-39, segundo / terceiro século), Oxy. 4403 (p 103 Mateus 13: 55-56; 14: 3-5,
segundo / terceiro século), Oxy. 4404 (P104 Mateus 21: 34-37, 43, 45, final do segundo
século). Antes da publicação desses fragmentos, a NA27, o único manuscrito do segundo
século disponível era o famoso P52 (Ryl. 457, João 18: 31-33, 37-38), P90 (P Oxy. 3523, 18:
36-19: 1; 19: 2-7), e (possivelmente) P98 (P.IFAO 237b, Rev. 1: 13-20). Mesmo se adicionar-
mos a combinação de manuscrito recentemente postulada de P4-P64-P67 já menciona-
da, e concedermos a proposta (discutível) de que o manuscrito data do final do século II,
e se também adicionarmos papiros do NT geralmente datados de ca. 200 DC, como P66,
P75, P46, ainda está claro que os fragmentos de Oxirrinco muito recentes adicionam signi-
ficativamente a um corpo muito limitado de material manuscrito para o segundo século.”23
c. Quantidade: De acordo com INTF Stats (Out 2020), atualmente existe 140 Papiros,
dos quais 1520 páginas foram catalogadas, 1266 páginas Indexadas (faltam 254), 1283
Transcritas (faltam 237), 1311 Imagens disponíveis (faltam 209). A NA28 lista apenas 127
desses Papiros.
2 | Convenção de Escrita: Eles apresentam convenção de escrita, que tiveram alta influên-
cia na tradução manuscrita do Novo Testamento:
a. Qualidade: A qualidade do tipo de escrita da maioria dos papiros sugere que não foram
produzidos por copistas profissionais, como aqueles que produziram cópias caríssimas
de textos literários mais longos. “Como esses documentos foram criados no início da
história do Cristianismo, muitos papiros parecem ter sido copiados por escriba não pro-
fissional e, como resultado, podem demonstrar alguma inconsistência na qualidade da
cópia, com erros e alterações sendo bastante comuns. Ao mesmo tempo, eles estão mais
próximos no tempo da escrita do NT e, portanto, extremamente valiosos para estabelecer
o texto.”24
23 Idem, pp.6-7.
24 Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods
Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 127.
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CRÍTICA TEXTUAL
b. Correções: Os Escribas que foram responsáveis pelos Papiros não eram profissio-
nais, mas ainda assim existia uma preocupação com a qualidade da cópia. O modo
como as letras eram escritas, o modo como o material era preparado, tudo indicava
um cuidadoso processo de reprodução de conteúdo. Inclusive as correções sugerem
que desde os momentos mais antigos do processo de cópia dos manuscritos do Novo
Testamento existia a preocupação de ter o texto mais correto possível. Quando eles
voltavam e adicionavam notas no texto, eles estavam querendo garantir que aquele do-
cumento que sai das suas mãos saia correto, que aquele erro que eventualmente tenha
acontecido no meio do caminho seja corrigido sem que o texto seja perdido. “Existem
várias indicações de que a cópia dos primeiros textos cristãos no segundo século envol-
veu convenções escribais que emergiram rapidamente obtiveram influência impressio-
nante e, pelo menos em alguns casos e ambientes, havia uma preocupação com uma
cópia cuidadosa e precisa.”25
c. Abreviações: Essas correções mostram esse cuidado e essa preocupação por cópias
corretas, mas existem dois elementos que chamam a atenção a respeito da fé desses
Escribas. O primeiro deles são as abreviações que eles fazem chamados de “nomina
sacra”. São chamados de nomina sacra porque são aplicados a nomes sagrados. Por
exemplo, as palavras Deus, Senhor, Cristo, Filho e Espírito Santo eram abreviadas e eram
escritas com distinto traço para demarcar aquela palavra em diferença de todas as ou-
tras. Essa nomina sacra usada, que em processos posteriores foi usada inclusive para
outras palavras como ἄνθρωπος (homem e assim por diante. Nós vemos nos Papiros
antigos que eles eram usados como nome sagrado, o que descreve que os autores
daqueles documentos não eram qualquer tipo de pessoa; eram pessoas realmente pre-
ocupadas com a transmissão correta daquele texto, cuja fé estava sendo expressa ali
mesmo nas entrelinhas. Na verdade, nas linhas, nas próprias linhas do texto copiado. Di-
ficilmente essas foram marcar inventadas pelos apóstolos, mas certamente a tradição
mais antiga do cristianismo demonstra esse zelo pelo nome sagrado.
d. Staurograma: É uma tentativa de se fazer um σταυρος, uma cruz nos lugares onde
a palavra, onde o substantivo σταυρος ou σταυροω, o verbo, eram usados para des-
crever a crucificação de Jesus. Nesses lugares existe a inserção de um staurograma
descrevendo a fundamental importância da crucificação de Cristo para os Escribas que
produziam esse material. Interessante que o staurograma é a mais antiga evidência que
nós temos em termos artísticos da crucificação de Cristo Jesus. O Papiros, antes das
posteriores produções artísticas que nós vamos ver acontecendo com o desenvolver da
25 Larry Hurtado, Texts and Artifacts: Selected Essays on Textual Criticism and Early Christian Manuscripts (London: T&T Clark,
2017), 10.
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CRÍTICA TEXTUAL
história, nascem com pequenas pinceladas, com pequenas canetadas literalmente dos
seus Escribas no passado. Essas convenções de escritas, que nascem ali ou que apare-
cem para nós pelo menos nas primeiras vezes nos papiros, vão se estender por toda a
tradição. Mas é fato, esses documentos foram escritos no início da história, como Amy
Anderson e Wendy Widder dizem: “mas muitos desses papiros parecem ter sido copia-
dos por escribas não profissionais e, como resultado, podem demonstrar alguma incon-
sistência na qualidade da cópia, com erros e alterações sendo bastante comuns.”. Os pa-
piros têm esse elemento: por não terem sido produzidos naquele momento de controle
ou com a devida liberdade que se precisava, esses manuscritos, eventualmente, sofrem
de inconsistências. Mas, ainda que os papiros sejam muito importantes para o texto do
Novo Testamento, o apelo ao papiro não foi algo que aconteceu de maneira imediata.
3 | Prestígio: A verdade é que o prestígio dos papiros no estudo do texto do Novo Tes-
tamento é um prestígio recente, não foi sempre assim. Em primeiro lugar porque eles fo-
ram descobertos em larga escala apenas mais recentemente na história, mas até mesmo
quando poucos manuscritos eram conhecidos, eles não eram propriamente utilizados.
b. Descoberta dos Papiros de Oxirrinco: O que acontece é que em 1897 Grenfell e Hunt
descobrem os papiros de Oxirrinco. O primeiro fragmento é descoberto por eles e pou-
co tempo depois nós temos mais de cinquenta papiros sendo publicados. De repente
nós temos uma enchente de novas evidências sendo apresentadas. Por exemplo, em
AULA 3 @institutoschaeffer
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c. Descoberta dos Papiros Chester Beatty: Isso vai acontecer quando os papiros de
Chester Beatty são, finalmente, encontrados e publicados entre 1933 e 1937 por Sir.
Frederic Kenyon. Esse homem é quem introduz os mais importantes papiros que nós
temos nos nossos dias, como por exemplo o P45, datado do terceiro século; o P46, da-
tado do ano 200; e o P47, do terceiro século. Esses documentos combinavam algo que
até então era desconhecido: eles eram antigos e eram extensos. Eles tinham grandes
porções do Novo Testamento sendo apresentadas.
d. Descoberta dos Papiros Bodmer: Esse tipo de descoberta só vai ser, então, aumen-
tada com a descoberta dos papiros de Bodmer. Repentinamente nós encontramos na
década de 50 mais quatro papiros que pareciam ser extremamente importantes para o
Novo Testamento: o Papiro 66 datado aproximadamente no ano 200, o Papiro 72 do ter-
ceiro ou quarto século e o Papiro 75 do terceiro século. Novamente, esses documentos
publicados entre 1956 e 1962 mudaram a perspectiva a respeito dos papiros e da impor-
tância desses textos para o estudo do Novo Testamento. Novamente, nós encontramos
grande quantidade de texto preservada em materiais bem antigos e bem anteriores aos
grandes unciais.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
sensacionais” e que não tem predominante autoridade por ser conhecido apenas na re-
gião do Egito; (VI) 1946: Gunther Zuntz inicia o estudo do texto das epístolas de Paulo a
partir dos mais antigos manuscritos de Paulo (p46); a ideia era avaliar o valor e a relação
entre os mss; (VII) 1952: 21a. Edição do NA cita 28 papiros; (VIII) 1956: Descoberta de
Bodmer papyri (esp. P66); (IX) 1963: 25a. Edição do NA 37 papiros; (X) 1966: O primeiro
NTG a listar todos os papiros conhecidos foi a primeira edição da UBS. E é a partir, então,
desse período da história, na década de 60, que os papiros se tornam relevantes e têm
um prestígio elevado para se estudar o texto do Novo Testamento. Observe o que Epp
diz, ele diz: “Ao fim da década de 60, então, os papiros asseguram sua posição por entrar
na formação da teoria do texto crítico e passaram a ser totalmente utilizados em estabe-
lecer o texto crítico do NT. Agora, depois de quatro ou cinco décadas durante o período
que inúmeros papiros adicionais foram publicados, todos os papiros do NT desfrutam
dessa proeminência adquirida.”26
b. Novas Variantes Textuais: “Por outro lado, eles forneceram novas variantes que de-
safiam as leituras já conhecidas. Ênfase especial é dada, e com razão, a esses primeiros
manuscritos de NA, onde se diz que são “de particular significado por causa de sua idade”
e, claramente, são de suma importância para estabelecer o texto do NT mais antigo que
pode ser alcançado”28
26 Eldon Jay Epp, “The Papyrus Manuscripts of the New Testament” in Barth Ehrman and Michael Homes, New Testament in Contem-
porary Research: Essays on the Status Quaestionis. Second Edition (Leiden: Brill, 2013), 30.
27 Idem, p.24
28 Idem, Ibid.
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a. Papyrus Bodmer II: Gostaria apenas de demonstrar ou ilustrar esses papiros com 3
desses papiros que nós já mencionamos: o primeiro deles é o P66. Publicado em 56, em
Genebra, na Suíça, datado do ano 200 aproximadamente. Nós vemos nele fragmentos
do Evangelho de João. Ele apresenta correções durante o seu texto; tem uso consisten-
te do nomina sacra; e faz 10 usos do staurograma. Esse texto antigo e importante do
Novo Testamento demonstra o lugar que ele tem na nossa reflexão sobre qual é o texto
mais antigo e o mais antigo possível nos originais. Esse texto que nós vemos e que é
muito importante, de acordo com Philip Comfort, que é um autor bem conservador no
modo como ele traz datas nos manuscritos; ele diz o seguinte: “O escriba original era
relativamente livre em sua interação com o texto; ele produziu várias leituras singulares
que revelam sua interpretação independente do texto.” Em uma análise mais sistemática,
James Royce encontrou 128 leituras singulares nesse papiro, das quais 14 eram pro-
blemas de grafia, 5 eram sem sentido, mas ainda sim tinham 109 variantes conhecidas
nesse texto. Em outras palavras, a pessoa responsável por esse texto, de um modo dife-
rente daquele que nós vamos encontrar em anos posteriores, era relativamente livre na
sua interação. Todos os papiros são assim? Não, mas esse é um dado interessante a se
manter em mente. Eventualmente, os papiros têm leituras singulares mais comuns que
todos os outros manuscritos. E via de regra, quando nós encontramos leituras singula-
res, nós temos um certo ceticismo quanto a sua validade.
b. Chester Beatty Papyrus I: Considere, por exemplo, o P45. Publicado em 1933, tam-
bém datado entre 200 e 250. Nele nós encontramos fragmentos dos Evangelhos e Atos,
mas nesse manuscrito nós encontramos poucos lapsus calami. O que é isso? É aquele
equívoco de escrita, quando a caneta meio que sai do eixo, aquele equívoco não inten-
cional. Nós encontramos pouquíssimos exemplos disso e o texto também tem poucas
correções, mas existe um uso frequente de nomina sacra e nós encontramos também
usos do staurograma. Diferente do P66, o P45 parece ter sido escrito por um escriba
muito competente. O modo como ele escreve, o cuidado que ele tem, a caligrafia que ele
usa, nós percebemos que a sua interação com o texto é menos livre e em função disso
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
passa até por menos correções. “A escrita é muito correta, e apesar de não ter preten-
sões caligráficas, reflete o trabalho de um escriba competente.”29
c. Papyrus Bodmer XIV-XV: Conhecido como P75, esse ms foi publicado em 1961, e
datado entre 250 e 300. Contém fragmentos do Evangelho de João e Lucas e tem 116
correções associadas ao texto, frequente uso de nomina sacra e usa também stauro-
gramas em pelo menos 3 ocasiões do livro de Lucas, que é a porção que nós temos com
o uso dos verbos relacionados ao staurograma. Esse é um texto diferente dos outros
dois anteriores. O P75 contém extensas porções de Lucas e João, tornando como uma
das primeiras cópias desses evangelhos. P75 parece ter sido cuidadosa e fielmente
copiado, de modo que alguns estudiosos argumentam que ele é produto de um escri-
ba profissional, de tão bem escrito e tão bem tratado esse texto, o modo como esse
homem escreve, esse homem ou essa mulher, esse escriba, era por alguns identifica-
do como profissional. O fato é: diferentes níveis de qualidade no documento e no tipo
de escrita são encontrados no papiro, mas nós temos aqui os mais antigos testemu-
nhos do novo testamento e, a partir das leituras variantes que nós encontramos nesses
textos, nós temos os mais antigos comentários que nós conhecemos a respeito do
texto do Novo Testamento. “O manuscrito contém extensas porções de Lucas e João,
tornando-o uma das primeiras cópias desses Evangelhos. P75 parece ter sido cuidadosa
e fielmente copiado, de modo que alguns estudiosos argumentam que é o produto de um
escriba profissional.”30
B. UNCIAIS
“A maior parte dos Unciais é menos fragmentária e contém mais conteúdo do que os papiros,
incluindo manuscritos que contêm todo o Novo Testamento ou até mesmo a Bíblia inteira.
No momento em que os Unciais estavam sendo produzidos, o Cristianismo havia ganhado
reconhecimento oficial, então maior é a probabilidade que um Uncial tenha sido copiado por
um escriba profissional.”
Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised
Edition., vol. 1, Lexham Methods Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 131–132.
29 Frederic G. Kenyon.
30 Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods
Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 129.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
“Datando entre os séculos IV e X dC, a maioria dos Unciais é posterior à maioria dos
papiros, embora haja sobreposição. A maior parte dos Unciais são menos fragmentá-
rias e contêm mais conteúdo do que as testemunhas em papel, incluindo várias que
contêm todo o Novo Testamento ou mesmo a Bíblia inteira. Na época em que as mai-
úsculas estavam sendo produzidas, o cristianismo havia ganhado reconhecimento
oficial, então a probabilidade é alta de que um manuscrito em maiúscula fosse copia-
do por um profissional. Dois dos maiúsculos mais importantes são Codex Sinaiticus
(01 )אe Codex (B 03), mas outros também merecem atenção.”
Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised
Edition., vol. 1, Lexham Methods Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 131–132.
a. Anteriores a Constantino:
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
I. Códice Sinaítico – ( אSéculo IV): “O mais antigo manuscrito completo do Novo Testa-
mento é Códice Sinaitico ( א01), um Uncial que data do século IV. O Códice foi descober-
to por Constantin von Tischendorf no Mosteiro de Santa Catarina na Península do Sinai,
embora a proveniência original seja desconhecida. Um colofão no final de Ester, o Antigo
Testamento conecta um grande número de correções no Sinai ao estudioso e mártir Pan-
filo e sugere que o manuscrito pode ter sido localizado em Cesaréia Marítima durante o
século VI ou VII. Sinai é uma das testemunhas mais importantes do Novo Testamento
devido à sua data inicial e integridade textual. Sua afiliação textual é mais ou menos Ale-
xandrina, embora leituras ocidentais também estejam presentes. A parte do Sinai do Novo
Testamento está alojada na Biblioteca Britânica; no entanto, outras partes estão em São
Petersburgo, Leipzig e na Basílica de Santa Catarina.”31
II. Códice Vaticano – B (Século IV): “Sabe-se que o Codex (B 03) está presente na Biblio-
teca do Vaticano pelo menos desde o século XV, mas não foi disponibilizado para estudo
até que uma edição fac-símile foi lançada em 1889-1890. Um manuscrito do século IV
de proveniência desconhecida, o Vaticano originalmente continha o Antigo e o Novo Tes-
tamento, além da maioria dos apócrifos, ou livros deuterocanônicos. Muitos estudiosos
consideram o texto do Vaticano o melhor texto grego do NT. Essa atitude é apoiada por
sua estreita concordância com o texto de P75 em Lucas e João, demonstrando uma tra-
dição de cópia cuidadosa que preservou a forma mais antiga do texto. O Códice Vaticano
é considerado o principal representante do agrupamento Textual Alexandrino. As edições
críticas modernas tendem a seguir o texto do Vaticano mais de perto do que qualquer
outro manuscrito.”32
III. Códice Alexandrino – A (Século V): “Se você visitar a British Library em Londres,
encontrará dois grandes códices exibidos lado a lado. O primeiro é Códice Sinaítico e o
outro é o Códice Alexandrino (A 02). Em 1627, o patriarca de Constantinopla presenteou
o códice ao Rei Carlos 1 da Inglaterra. O Códice Alexandrino data do século V e contém
o Antigo e o Novo Testamento, embora falte quase todo o texto de Mateus, parte de
João e a maior parte de 2 Coríntios. Os estudiosos suspeitam que o códice foi produzi-
do a partir de vários exemplares diferentes e que essa é a razão de sua afiliação textual
desigual. Nos evangelhos, o Alexandrino é exemplo mais antigo do agrupamento textual
bizantino, enquanto no restante do Novo Testamento, ele se classifica junto com B e א
como representante do tipo de texto alexandrino.”33
31 Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods
Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 132–133.
32 Idem, p.133.
33 Idem, Ibid.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
a. Similaridade com Papiros: O que é interessante é que os antigos unciais são também,
em termos de texto ou tipo de texto, nós encontramos que eles são muito parecidos
com os próprios papiros, descrevendo que essa antiguidade do texto encontrada no
papiro encontra sua extensão ou seus exemplares maiores ali naqueles documentos
também.
I. Poucas Páginas: 35% dos Unciais Sobreviventes tem mas do que duas folhas.
Apenas 59 Unciais (22%) contém mais de 30 folhas;
II. Mais que 100 Páginas: Apenas 44 Unciais (16%) tem mais de 100 folhas. Des-
ses, 17 contém entre 100 e 199 folhas,
III. Mais que 200 Páginas: 16 têm entre 200 e 299 folhas, 9 têm entre 300 e 399, e
apenas dois tem mais de 400 páginas (Códice Bezae com 415 e o Claramontano
com 533 páginas).34
I. Nomina Sacra: Unciais antigos como 0220, 0171, 0169 e 0162 fazem uso de
contrações para nomes sagrados de maneira relativamente consistente (talvez
por serem fragmentários). Grandes Unciais, como Sinaítico e Vaticanos usam com
frequência, mas não mantém consistência no uso. O Vaticano, por exemplo, no NT
abrevia as palavras, Deus, Senhor, Jesus, Cristo e Espírito, e no AT, eventualmente
homem, Israel e Jerusalém.
34 Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Dou-
bleday, 1992), 420–421.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
II. Titlói: “Os τιτλόι (títulos) são pequenos resumos das divisões apresentadas
para cada uma das κεφαλάια e normalmente encontram-se no início dos evan-
gelhos.” (Marcelo Berti, Atenção aos Detalhes, nt.9). Esses títulos serviram como
orientação para o leitor encontrar as histórias nos evangelhos.O primeiro manus-
crito a apresentar esses títulos foi o Códice Alexandrino.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
a. Códice Vaticano
b. Códice Sinaítico
I. 1761: viajante italiano vitalino Donati descreve um mss parecido com o Sinaíticus. Suas
anotações são publicadas apenas em 1879;
II. 1860: Tischendorf fala sobre o mss (descrevendo eventos entre 1844-1859);
III. 1862: Tischendorf publica parcialmente o texto do mss pela primeira vez (volume único);
IV. 1869: Edição em quatro volumes é republicada;
V. 1911: Kirsopp Lake publica o texto completo do NT do mss pela primeira vez;
VI. 1922: K.Lake publica o OT pela primeira vez;
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
C. MINÚSCULOS
“Os minúsculos são manuscritos escritos em forma de letra cursiva, em vez de em forma de
letra uncial separada. O minúsculo veio depois do Uncial - numa época em que os bizantinos
estavam produzindo em massa cópias da Bíblia por meio de ditado oral. Como a velocidade de
cópia era um problema, os escribas usavam a forma cursiva em vez da forma uncial.”
Philip Comfort, Encountering the Manuscripts: An Introduction to New Testament Paleography &
Textual Criticism (Nashville, TN: Broadman & Holman, 2005), 87.
Os minúsculos são tratados como textos tardios e secundários para a crítica textual, mas eu
gostaria de tirar essa áurea de secundariedade desse texto. Por exemplo, Amy Anderson diz o
seguinte:
“De longe, o maior grupo de testemunhas gregas são os manuscritos minúsculos, totalizando
mais de 2.800 manuscritos. Escritos em letras minúsculas, os mss minúsculos foram produ-
zidos durante um período de expansão da igreja, quando monges dedicados passavam seus
dias no scriptorium do mosteiro, copiando as escrituras. A prolífica cópia desse período de
tempo levou ao alto número de minúsculos. O minúsculo cede principalmente entre os sécu-
los XI e XIV, embora toda a extensão vá do século IX até bem depois da invenção da impren-
sa. A maioria dos minúsculos apóia a tradição textual bizantina, também chamada de Texto
Majoritário, mas há um bom número de exceções importantes”
Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised
Edition., vol. 1, Lexham Methods Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 136-37.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
É nesse momento que nós temos um período de cópia proliferada dos textos do Novo Testa-
mento. É nesse período que as cópias ganham produções em larga escala. Antigamente es-
critos quase que de maneira individual, no período de cópia dos minúsculos nós temos uma
grande produção de manuscritos. A diferença entre o processo de cópia no scriptorium e o
processo de cópia antes dele, é que o escriba que preparasse um documento durante o período
não controlado ou no período anterior ao período scriptorium na igreja na história da tradição,
ele escrevia um documento, ele apresentava um documento.
No scriptorium um documento poderia ser copiado por dezenas de escribas, o que potenciali-
zava não só a produção, como também favoreceu com que esses documentos se tornassem
os documentos de maior quantidade na nossa história da transmissão do texto. Além disso,
diferente do período inicial do processo de cópias, o acesso a materiais tornou-se muito mais
abundante com o uso do papel. Com isso, a velocidade na produção de manuscritos cresceu
vertiginosamente. Não é à toa que os minúsculos representam a maioria dos manuscritos do
NT e tenha exercido grande domínio na forma textual do NT. Observe o que Barbara Aland e
Klaus Wachtel falam sobre eles:
“Afinal, o texto do Novo Testamento não precisava ser redescoberto após a ‘idade das trevas’
antes que pudesse ser reproduzido no novo tipo de letra. Ele havia sido preservado por meio
de uma tradição textual ininterrupta, sancionada pelo uso eclesiástico estabelecido (...) Mas
há várias indicações de que o texto Koine na forma padronizada típica do segundo milênio
passou a dominar a tradição somente depois que o Novo Testamento começou a ser trans-
mitido na escrita minúscula.”
Barbara Aland and Klaus Wachtel, “The Greek Minuscles of the New Testament” in Barth Ehrman
and Michael Holmes, The Text of the New Testament in Contemporary Research: Essays on the Sta-
tus Quaestionis. 2nd Edition (Leiden: Brill, 2013), 71.
1 | Tradição Textual: Os minúsculos representam uma mesma tradição textual nos apa-
ratos críticos. Apesar de serem muitos, eles eventualmente vêm descritos com peque-
nas letras. No aparato da UBS5 nós os encontramos sendo descritos pelas letrinhas
BYZ, de Bizantino. Esse é o texto que normalmente inclui um grande número de manus-
critos. Eles são catalogados assim porque via de regra eles representam o mesmo tipo
de texto. Essa ampla tradição textual não deve, entretanto, ser confundida com o texto
do Textus Receptus.
“Por causa do grande número de minúsculos e porque muitos deles representam ba-
sicamente a mesma tradição textual, os estudiosos agruparam a maioria dos manus-
critos usando o símbolo do M gótico (𝔪) na NA e a abreviado como Byz na UBS. Ao
mesmo tempo, eles separaram testemunhas minúsculas particulares que diferem signi-
ficativamente da leitura da maioria. Esses minúsculos são constantemente citados nos
aparatos da NA28 e do UBS5”
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised
Edition., vol. 1, Lexham Methods Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 137.
a. Mss 33 (Sec IX): “Contém todo o NT, exceto o Apocalipse, com alguns capítulos faltan-
do em cada evangelho, e tem sido chamado de “rainha dos cursivos” porque seu texto é
semelhante ao tipo de texto alexandrino encontrado nos grandes unciais.”35
b. Mss 565 (Sec XIII): “Produzido no século IX e alojado na Biblioteca Nacional Russa em
São Petersburgo, Codex 565 é outro dos primeiros minúsculos existentes. É uma cópia
luxuosa dos Evangelhos, com pergaminho manchado de púrpura e escrita e ornamenta-
ção em ouro. Tem algumas leituras que se alinham com o agrupamento textual Cesareno,
mas muitas vezes concorda com os manuscritos alexandrinos e é conhecido por ter leitu-
ras que, de outra forma, são desconhecidas.”36
c. Mss 579 (Sec XIII): “Parece ser uma cópia de um ms muito mais antigo dos evangelhos
com um tipo de texto alexandrino, especialmente em Marcos, Lucas e João. Não só tem o
“final mais longo” de Marcos (16: 9-20), mas também o final mais curto”37
d. Mss 614 (Sec XIII): “Contém o livro de Atos e as Epístolas em um texto com muitas
afinidades com o chamado tipo texto Ocidental.”38
e. Mss 700 (Sex XI): “Este manuscrito difere muito do Textus Receptus (quase 2.750
vezes) e tem muitas leituras singulares. Uma de suas leituras mais marcantes inclui uma
variação do Pai Nosso”39
f. Mss 1739 (Sec X): “Este manuscrito do século X contém Atos, bem como as Epístolas
Paulina e Católica, e é mantido no Monastério Lavra no Monte Athos. Além de ser um
excelente exemplo do agrupamento textual alexandrino, o Códice 1739 é importante para
as notas feitas pelo escriba, um monge chamado Ephraim, nas margens, citando os pais
35Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary (New York:
Doubleday, 1992), 422.
36 Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods
Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 138-39.
37 Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary (New York:
Doubleday, 1992), 422.
38 Idem, Ibid.
39 Philip Comfort, Encountering the Manuscripts: An Introduction to New Testament Paleography & Textual Criticism (Nashville, TN:
Broadman & Holman, 2005), 89.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
da igreja primitiva (nenhum depois de Basílio, que viveu em meados do século IV) e ofere-
cendo leituras variantes. O trabalho cuidadoso de Efraim, a idade das citações marginais
e a qualidade do texto bíblico sugerem que 1739 reproduz fielmente um exemplar muito
mais antigo.”40
b. Similaridades nas Diferenças: O que nós vemos é que a partir do estudo detalhado
dos minúsculos, maior clareza se tem tido a respeito das conexões que esses documen-
tos fazem. Ainda que o texto chamado bizantino ou os minúsculos, como também são
conhecidos, sejam tardios, representem um tipo de texto comum, eles podem represen-
tar para nós essas interações, essas conexões, através das suas idiocicracias, através
das suas diferenças. E são esses elementos que são tão importantes para entender
como esses manuscritos são catalogados.
40 Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods
Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 139.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
“O ponto crítico a ser percebido é que essas genealogias podem ser rastreadas com
segurança até a época dos Unciais. Assim, eles nos permitem traçar linhas de desenvol-
vimento que vão até o período inicial e nos ajudam a entender como os representantes
solitários da tradição anterior se relacionam uns com os outros. Por meio de tais gene-
alogias, é possível determinar as maneiras pelas quais os manuscritos do Novo Tes-
tamento variam uns dos outros, entender por que essas variações surgiram e estudar
a persistência de certas leituras e formas do texto na tradição. Com base em nossas
conclusões, poderemos então melhorar significativamente os critérios externos usados
para estabelecer o texto inicial.”
Barbara Aland and Klaus Wachtel, “The Greek Minuscles of the New Testament” in Barth
Ehrman and Michael Holmes, The Text of the New Testament in Contemporary Research:
Essays on the Status Quaestionis. 2nd Edition (Leiden: Brill, 2013), 73.
b. Hodges-Farstad (1995):
I. Texto Baseado no texto K de von Soden (com preferências para Ka)
II. Difere do texto de Robinson-Pierpont (2005) 6813 vezes em questões de
ortografia e oferece 552 leituras distintas;
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
“Os editores não imaginam que o texto desta edição represente, em todos os detalhes,
a forma exata dos originais. Por mais desejável que esse texto seja, muito trabalho adi-
cional deve ser feito antes que ele possa ser produzido. Deve-se, portanto, ter em mente
que o presente trabalho, The Greek New Testament According to the Majority Text, é
preliminar e provisório. Representa um primeiro passo na direção de reconhecer o valor
e a autoridade da grande massa de documentos gregos sobreviventes. A utilização des-
ses documentos nesta edição deve ser submetida ao escrutínio e avaliação de estudio-
sos competentes. Tal escrutínio, se realizado corretamente, pode resultar em um maior
progresso em direção a um Novo Testamento grego que reflete mais precisamente os
autógrafos inspirados.”
Zane Hodges, Arthur Farstad, The Greek New Testament According to the Majority Text
(Nashville: Thomas Nelson, 1982), x.
“As leituras primárias da forma de texto bizantina são estabelecidas de maneira direta:
sujeito a confirmação adicional, quando uma leitura no aparato de von Soden é identifi-
cada por um K em negrito, essa leitura se torna o texto principal na presente edição (K
= Κοινη = o tipo texto Bizantino). Onde von Soden não faz nenhuma declaração sobre
K em negrito, seu texto principal representa a leitura bizantina, e é reproduzido sem al-
terações. Onde seu K em negrito é dividido, o subgrupo Kx é seguido (Kx representa o
componente dominante dentro de K em negrito). Onde Kx é dividido, as leituras dos sub-
grupos K menores são incluídas na avaliação. Quando Kx e os vários subgrupos K estão
intimamente divididos, leituras alternativas são exibidas na margem lateral nas proxi-
midades da parte do texto afetada. Em todos os momentos, os fatores transmissio-
nais, transcricionais, externos e internos pertinentes são considerados como elementos
componentes do peso. Nos relativamente poucos casos em que o texto ou aparelho
principal de von Soden foi confirmado como estando errado, outras fontes pertinentes
foram usadas para correção.”
William Pierpont, Maurice Robinson, The New Testament in the Original Greek: Byzantine
Textform 2005 (Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2006), x.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
41 Gregory Lanier, “Dating Myths” in Peter Gurry and Elijah Hixon, Myths and Mistakes in New Testament Textual Criticism (Downers
Grove, IL:InterVarsity, 2019. Atlanta: SBL Press, 2017), 114.
42 Idem, Ibid.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
os Bizantinos. Também não existem variações em 54% do texto dos dezesseis Unciais e
Minúsculos (incluindo quatro Bizantinos) em um período de mil anos. Além disso, o tex-
to Bizantino como um todo concorda integralmente com a nova edição da Editio Critica
Maior (ECM) no texto de Atos e das Epístolas Católicas em 94%, isto é, a forma do texto
com a qual deveria ser diametralmente oposta, de acordo com a teoria. Nos evangelhos,
o percentual de concordância com a NA27 e a maioria das leituras é de no mínimo 86%,
mas talvez o número seja maior assim que novas colagens se tornarem disponíveis. Para
afirmar o mesmo de outro modo, o core da tradição se mantém admiravelmente estável
através do tempo, de modo que as diferenças entre os dois textos, apesar de polarizado,
é de fato apenas uma pequena porção.”43
d. Raízes Antigas: “Mesmo entre os seus opositores, a pesquisa das últimas décadas
tem demonstrado uma centena de leituras específicas que podem ser classificadas como
Bizantinas não são, por assim dizer, conflações tardias ou corrupções resultado de uma
recensão tardia, mas de fato são atestadas por manuscritos de até um milênio mais re-
cente. Por exemplo, P45, p46 e P66 tem mais de cem leituras com a tradição Bizantina
contra os mais antigos Unciais, e outros manuscritos cronologicamente mais antigos
como 02, 032 e algumas versões contém o que posteriormente veio a ser chamado como
variante Bizantina”44
e. Padronização: “Aquilo que posteriormente veio a se chamar texto ‘Bizantino’ se desen-
volveu progressivamente através do tempo; isto é, uma multidão de leituras Bizantinas
pode ser identificada desde 200 d.C., mas a tradição Bizantina madura não se solidifica
com clareza até 900 d.C.”45
Isso é importante perceber: a diferença entre texto Bizantino ou texto dos minúsculos e leitu-
ras desse período. Leituras são encontradas, como disse Gregory Lanier, até mesmo em 200
dC. O que acontece é que esse texto maduro, produzido em larga escala, com caracteres mi-
núsculos, passa a acontecer a partir do nono século e se solidifica a partir do décimo século.
D. LECIONÁRIOS
“Lecionários são livros litúrgicos que fornecem leituras diárias ou semanais para uso na igreja
e devocionais. Os lecionários não têm texto contínuo, mas têm passagens extensas, por isso
são valiosos como testemunhas das primeiras palavras.”
Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised
Edition., vol. 1, Lexham Methods Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 140.
43 Idem, pp.115-16.
44 Gregory Lanier, “Dating Myths” in Peter Gurry and Elijah Hixon, Myths and Mistakes in New Testament Textual Criticism (Downers
Grove, IL:InterVarsity, 2019. Atlanta: SBL Press, 2017), 116-17.
45 Idem, Ibid.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
“Os lecionários não são manuscritos de texto contínuo, mas manuscritos que são organiza-
dos por leituras das Escrituras designadas para dias designados. Os lecionários formavam
a parte mais importante da liturgia da igreja grega. Uma vez que apenas alguns versículos
seriam lidos de uma porção das escrituras, os lecionários naturalmente acrescentaram es-
clarecimentos - como o nome “Jesus” em um texto que simplesmente dizia “ele” ou acres-
centaram “os discípulos” quando o texto bíblico tinha “eles . ” Por causa de seu uso constante
na liturgia divina, eles exerceram uma forte influência nos manuscritos posteriores, fazendo
com que o texto crescesse com o tempo. Ainda assim, eles resistiram à atualização de outras
maneiras, preservando leituras arcaicas devido ao seu uso constante em cultos de adoração.”
Daniel B. Wallace, “Textual Criticism of the New Testament,” ed. John D. Barry et al., The Le-
xham Bible Dictionary (Bellingham, WA: Lexham Press, 2016).
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
1 | Texto: Na imagem que você vê nós temos um pequeno recorte da versão digital des-
se aparato crítico com letras ampliadas para facilitar a nossa leitura. Nesse texto nós
encontramos não toda a evidência manuscrita e também nós não encontramos todas as
variações possíveis. Nós encontramos aquelas que são significativas, nós encontramos
aquelas que são viáveis e nós as encontramos organizadas em termos de evidência,
como nós apresentamos aqui: existem papiros, existem unciais, existem minúsculos
e existem lecionários. Além, claro, das versões e pai da igreja, que nós já conversamos
sobre isso no passado.
2 | Variantes: A primeira coisa que eu quero mostrar para vocês é que em Marco 1 esse
texto tem 4 diferentes variantes. Nós já falamos sobre essas variantes no passado, na
aula passada, mas nós não trabalhamos com ela de maneira detalhada.
a. ἐν τῷ Ἠσαΐᾳ τῷ προφήτῃ: Observe que a primeira leitura diz “Em o Isaias o profeta”
traduzido de maneira bem literal, palavra por palavra.
b. ἐν Ἠσαΐᾳ τῷ προφήτῃ: Já a segunda seria “Em Isaias o profeta”, sem o uso do artigo.
Essas duas leituras, embora preservadas em diferentes manuscritos, não são traduzi-
das de maneira nenhuma em português. Nós não sabemos qual a diferença do uso do
artigo com nomes próprios, nós não sabemos qual é a função dele ali. Tudo o que nós
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
sabemos é que, embora sejam duas as variantes apresentadas, elas refletem basica-
mente o mesmo contexto, o mesmo conteúdo.
c. ἐν τοῖς προφήταις: Um pouco mais abaixo, na quarta linha, nós encontramos uma
segunda leitura, que seria “Nos profetas”.
d. Ἠσαΐᾳ καὶ ἐν τοῖς προφήταις: no final, na penúltima linha, nós encontramos a última
variante chamada “Em Isaias e em os profetas”. Nós percebemos, quando comentamos
sobre esse texto, que esse texto parece ser um pouco mais tardio, uma vez que o mes-
mo é descrito tendo a conflação de duas ideias separadas.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
7 | Pais da Igreja: E, por fim, os pais da igreja em uma cor que parece aí um pouco mais
roxo.
8 | Visão Geral: Quando nós olhamos para todas as evidências apresentadas aqui, nós
temos uma clara visão de como eles organizam esse material. Se você perceber, ele
segue a mesma ordem que nós usamos para apresentar as evidências textuais: os pa-
piros, os unciais, os minúsculos, os lecionários, as versões e os pais da igreja. Essa é a
típica ordem de um manuscrito e nós os vemos separados aqui por variantes textuais.
9 | Avaliação: Um último detalhe que vale a pena mencionar é aquele {A}, colocado entre
chaves antes de toda a informação do aparato crítico. Esse azin{A}ho descreve a nota
de confiabilidade oferecida pelos editores do texto, do aparato, e que essa é a leitura
original ou mais provavelmente original. Nesse caso, a certeza de que essa é a leitura
original desse texto. Em outras palavras, quando você olhar para um aparato crítico da
UBS, você vai encontrar todas essas informações ali.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
10 | Mais Informações: Se você voltar os seus olhos para a introdução, descrição dos
documentos e até mesmo aquela lista que eles oferecem com datas e o local onde en-
contram, você pode aprender muito sobre crítica textual. E a partir do conteúdo que nós
apresentamos nesta aula você é capaz de agora avaliar e conhecer melhor as informa-
ções expressas aqui.
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Conclusão
O desejo que eu tinha, o desejo que tenho em apresentar essa aula
com a quantidade de detalhes que nós apresentamos é para ajudar
o estudante da crítica textual a não sintetizar as variantes textuais
a pequenas notas no fundo de um aparato, para que a gente con-
siga observar a grande riqueza de conteúdo e informação que nós
encontramos aqui. A beleza da história da transmissão do texto, a
beleza da história da missão da igreja e a beleza da propagação do
evangelho sendo expressa através da proliferação de manuscritos
pelo mundo. Nós encontramos muita coisa boa aqui e eu espero que
essa aula tenha ajudado a você a entender o valor dos materiais, dos
manuscritos do Novo Testamento.
E aí, o que você achou? Gostou desta aula? Deixa seus comentários
aí! Não se esquece aí de curtir, de compartilhar, de ativas o sininho
para as notificações porque semana que vem tem mais! Segunda-
-feira, 10 horas da manhã, nós voltamos para dar continuidade a essa
aula! E na próxima aula nós vamos entrar para o Método da Crítica
Textual. Nós vamos começar a falar sobre como todas essas evi-
dências que nós temos aqui são analisadas. Como você deve saber,
existem diferentes métodos. A questão é: qual deles melhor repre-
senta o processo da Crítica Textual?
Espero que você tenha gostado desta aula. Espero que você cur-
ta e compartilhe. Se quiser me seguir no instagram, me segue lá
@mmwberti e nós podemos conversar mais sobre isso. Eu espero
você segunda-feira, 10 horas da manhã, para continuarmos o estudo
aqui. Até mais!
AULA 3 @institutoschaeffer
CRÍTICA
TEXTUAL
Aula 4
MARCELO BERTI
Sejam muito bem-vindos à quarta
aula do curso de crítica textual do
Instituto Schaeffer de Teologia e
Cultura do Dois Dedos de Teologia.
Meu nome é Marcelo Berti, e na aula de hoje, nós vamos
estudar os métodos da crítica textual. Vamos fazer
um breve histórico do texto grego, vamos conhecer o
primeiro instrumento do Novo Testamento impresso,
vamos conhecer o Textus Receptus, o mais importante
texto do NT produzido no período anterior a Reforma
Protestante, e finalmente, vamos conhecer a teoria do
texto majoritário.
Introdução
“Por causa dos milhares de manuscritos, versões e citações patrísticas do Novo
Testamento, temos hoje centenas de milhares de variantes textuais. Essas duas
considerações - o número de manuscritos e o número de variantes - criaram uma
controvérsia sem fim entre os estudiosos: quais prioridades eles deveriam seguir
ao examinar todos esses dados? Quais métodos eles devem usar para determi-
nar exatamente qual é a redação do texto original?”
Daniel B. Wallace, “Textual Criticism of the New Testament,” ed. John D. Barry et al.,
The Lexham Bible Dictionary (Bellingham, WA: Lexham Press, 2016).
Aula 4
I. Breve História do Texto Grego
Antes disso, gostaria de fazer uma breve recapitulação dessa história da transmissão que
nós definimos nas primeiras aulas, mas que são muito importantes para o processo que va-
mos trabalhar, que é o método da crítica textual do Novo Testamento.
“E, em suas mortes, eles foram feitos objetos de esporte, pois foram amarrados nos es-
conderijos de bestas selvagens e feitos em pedaços por cães, ou cravado em cruzes, ou
incendiados, e, ao fim do dia, eram queimados por servirem de luz noturna.”1
Esse é o testemunho que temos do sofrimento e perseguição aos cristãos. Esse era o
momento em que não existia privilégio, festividade ou recursos para produções mais
elaboradas no processo de cópias do texto do Novo Testamento. Considere também a
perseguição de Trajano, que em seu livro História dos Francos disse:
1 Tacitus, Cornelius. Annales (Latin). Edited by Charles Dennis Fisher. (Medford, MA: Perseus Digital Library, 1906), 15.44.
2 Gregório de Tours, História dos Francos, 1.30.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Nesse momento da história, estamos falando sobre pessoas que estão sendo persegui-
das, mortas, famílias destruídas pela perseguição consistente do império. Nesse mo-
mento da história da igreja, as cópias não foram feitas de modelo muito formal. Não
havia um scriptorum.3 As cópias foram muito mais informais e individuais. Além disso,
nesse período havia uma perseguição direcionada aos documentos cristãos, como nos
diz Eusébio de Cesareia:
“Todas as coisas na verdade foram cumpridas em nossos dias, quando vimos com nos-
sos próprios olhos as casas de oração lançadas de cima a baixo até seus alicerces, e
as Escrituras sagradas e inspiradas entregues às chamas no meio dos mercados, e os
pastores das igrejas, alguns se escondendo vergonhosamente aqui e ali, enquanto outros
foram ignominiosamente capturados e ridicularizados por seus inimigos.”4
3 !"#$%&'#$() (singular) ou *"#$%&'#$+ (plural) era o lugar designado para a cópia de manuscritos. Uma espécie de escritório preparado
para a cópia de manuscritos. O mais antigo relato de um *"#$%&'#$() parecem vir da igreja de San Giovanni Evangelista em Rimini, cujo
patrono, Galla Placidia (450dC) continha uma sala na qual se entende, era usada para cópia manuscritos. O desenvolvimento do *"#$%,
&'#$() como uma ferramenta de manutenção do texto do NT se multiplica com o surgimento e avanço das regras monásticas, das quais
os monges Beneditinos são um excelente exemplo. Contudo, apenas após do séc. IX é que o *"#$%&'#$() torna-se o centro de produção
e reprodução do texto do NT no Império Bizantino. A relação entre o desenvolvimento do *"#$%&'#$() e da multiplicação das cópias do
texto Bizantino não é acidental (ver gráfico abaixo). O primeiro manuscrito bizantino a conter informações adicionadas por escribas
com indicação de atividade em *"#$%&'#$() é o ms GA 461, também conhecido como Uspenskii Gospels. Esse manuscrito contém os
quatro evangelhos e foi escrito pelo escriba Nicholas de Stoudios em 835dC, um monge e posteriormente um superior do mosteiro de
Stoudios. Para mais informações sobre o *"#$%&'#$() na tradição bizantina, ver: !"#$&&(#-./0$1#$/-/&-*&$/2-00-/+#--/%#'3$2"$+0$/4$/5$*+26$'7/
8&&$/4-0/*-)$2+#$'/4$/9#$"-/:;<=>?/*-&&-)1#-/;@<<A, ed. G. Cavallo, G. De Gregorio, and M. Maniaci, 2 vols., Biblioteca del Centro per il
Collegamento degli Studi Medievali e Umanistici nell’Università di Perugia, vol. 5 (Spoleto, 1991); B'4$"$/C#-"$/4-00DE&+0$+/)-#$4$'2+0-,
ed. P. Canart and S. Lucà (Rome, 2000); A. Cataldi Palau, “The Burdett-Coutts Collection of Greek Manuscripts: Manuscripts from
Epirus,” B'4$"-*/)+2(*"#$%&$ 54–55 (2006): 31–57, esp. 1–23.
4 Eusebius of !"#$"%&". FG-/9""0-*$+*&$"+0/H$*&'#I. Edited by T. E. Page,et al. Translated by Kirsopp Lake and J. E. L. Oulton.. The Loeb
Classical Library. (London; New York; Cambridge, MA: William Heinemann; G. P. Putnam’s Sons; Harvard University Press, 1932). 2:255.
5 Harry Y. '"()*#+ 5''J*/K/L-+4-#*/$2/&G-/9+#0I/BG(#"G/=/8/H$*&'#I/'M/9+#0I/BG#$*&$+2/F-N&* (New Haven: Yale University Press, 1995), 1505.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
oficial. É aqui que a produção controlada dos manuscritos começa a acontecer. Temos
claras evidências disso, inclusive, na história da igreja. Eusébio, quando conta a história
do imperador Constantino, em uma carta que ele teria recebido do próprio Constantino,
ele diz:
“Acontece, através da providência favorita de Deus nosso Salvador, que grande núme-
ro de pessoas se uniu à santíssima igreja da cidade que é chamada pelo meu nome
[Constantinopla]. Parece, portanto, altamente necessário, uma vez que essa cidade está
avançando rapidamente na prosperidade em todos os outros aspectos, que o número
de igrejas também deva aumentar. Você, portanto, recebe com prontidão a minha deter-
minação neste nome. Eu pensei que era conveniente instruir sua Prudência a encomen-
dar cinquenta cópias das Sagradas Escrituras, cuja provisão e uso, que você conhece
mais necessárias para a instrução da Igreja, sejam escritas em pergaminho preparado
de forma legível e em uma forma conveniente e portátil, por escribas profissionais mi-
nuciosamente experientes em sua arte.”
6 Eusebius of Caesaria, “The Life of the Blessed Emperor Constantine,” in Eusebius: Church History, Life of Constantine the Great, and Ora-
tion in Praise of Constantine, ed. Philip Schaff and Henry Wace, trans. Ernest Cushing Richardson, vol. 1, A Select Library of the Nicene and
Post-Nicene Fathers of the Christian Church, Second Series (New York: Christian Literature Company, 1890), 549.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
“No final do século IV DC, o Papa Dâmaso I (366-384) encarregou seu secretário Jerônimo
(Eusebius Sophronius Hieronymus) de revisar as versões latinas da Bíblia. A Bíblia latina
precisava de revisão e padronização por causa das muitas variações nos manuscritos
agora classificados como o antigo latim. A abundância de traduções latinas variadas cau-
sou problemas em ambientes litúrgicos e dificultou as discussões teológicas. A igreja
precisava de um texto uniforme e confiável.”
Em outras palavras, a igreja passa a escrever em latim, pensar em latim, falar em latim.
A vulgata de Jerônimo é um grande exemplo desse processo de latinização da igreja e
a reflexão da igreja, especialmente, aquela que conhecemos por católica, passa então a
refletir na língua do Império Romano. Esse processo de latinização fez com que o pro-
cesso de cópias dos manuscritos do Novo Testamento fosse privilegiado na linguagem
latina. Por isso, mesmo com o processo de oficialização do cristianismo, as cópias ma-
nuscritas do Novo Testamento, mesmo nesse período, já não são muitas.
Quando nós olhamos para as obras sobreviventes, evidências sobreviventes, nós per-
cebemos que mesmo neste momento da história, a quantidade de cópias não era tão
grande. Por outro lado, quando nós olhamos a quantidade de cópias de manuscritos
latinos sobreviventes desse período em diante, nós vemos isso sendo feito em larga
escala e grande quantidade.
7 Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods Series
(Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 87–88.
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CRÍTICA TEXTUAL
agora, uma grande cisma. A igreja ocidental latinizada que reproduza agora os manus-
critos de maneira latina e a igreja que hoje nós conhecemos como igreja ortodoxa, uma
igreja primariamente de língua grega.
Nesse momento, nós vamos perceber com as evidências que nós temos disponíveis,
uma grande produção de manuscritos gregos, como se o texto passasse a ser nova-
mente copiado em grande escala.
Quando nós olhamos para a história da transmissão do texto e nós olharmos para a
quantidade de manuscritos divididas por século, conseguimos explicar o motivo de nós
termos tantas cópias manuscritas em períodos posteriores, e o motivo de nós termos
nos momentos em que nós temos:
“A influência do texto Bizantino foi auxiliada por fatores históricos, esse foi o texto que
se tornou popular em Constantinopla quando foi distribuído por todo o Império Bizantino,
onde a língua grega foi preservada. Não é nenhuma surpresa que tenha sido esse o texto
que veio a dominar a tradição grega a partir do sétimo século, e que hoje, é a maioria das
testemunhas sobreviventes conhecidas desse tipo de texto.”8
8 Bruce Metzger and Bart Ehrman, The Text of the New Testament: Its Transmission Corruption and Restoration. (New Yourk, NY: Oxford,
2005), 280.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
demonstram que embora antigas, elas não têm a mesma qualidade de transmissão que
nós vamos ver nos períodos posteriores onde a produção é controlada.
Além disso, note que a partir do quarto século até o nono século, antes do início de
produção dos minúsculos na igreja, nós temos um pequeno número de manuscritos
sobreviventes. Ainda nesse período, nós não temos, apesar de ter a possibilidade de
manutenção e de transcrição do texto, o que nós vemos nesse período é que a ênfase
da igreja estava muito mais preocupada em reproduzir os textos latinos que gregos. Per-
cebemos que no início do século XI, vemos que a produção de minúsculos e a produção
de uma cidade de manuscritos do Novo Testamento literalmente explode.
Se você perceber esse gráfico dividido por século, você pode notar que o texto que nós
chamamos de Bizantino, os minúsculos, em grande parte, é um texto que acontece no
segundo milênio da era cristã.9
5 | Interesse Renovado no Texto Grego no Ocidente: Quando então que passasse a ter
um renovado interesse no texto grego no ocidente? O que é que acontece para que o
grego volte a ser importante para a igreja ocidental e seja conhecido no mundo ociden-
tal ? Na verdade, o que acontece é uma série de pequenos movimentos que vão combi-
nar com a expulsão e a destruição de Constantinopla.
A. Renascentismo: Por exemplo, Coluccio Salutati já tinha iniciado entre 1331 e 1406
um movimento de estudo do texto grego das obras clássicas e do latim nas obras
clássicas. Em 1397, ele convida Manuel Crisoloras para ensinar grego clássico em
Florença. Esse é, sob muitos aspectos, aquilo que se define como início da renascen-
ça. Esse processo de voltar os olhos para os textos clássicos como um movimento
que volta a infundir na Europa o desejo por conhecer as grandes obras do passado.
Sobre esse momento, Judith Odor afirma:
“As raízes do movimento para reviver o grego começaram bem antes do Renascentis-
mo na Europa, antes da vitória decisiva do Império Otomano sobre Constantinopla em
1453. Pavimentando o caminho para esse novo interesse pelos valores clássicos e
pela educação, Manuel Crisolaras (1350–1415) foi convidado a Florença de Constan-
tinopla para tutorar a elite intelectual e política no sul da Itália. Crisolaras treinou toda
uma geração de acadêmicos em língua e literatura grega, mudando assim a academia
na Itália e, por extensão, na Europa. Quando Constantinopla caiu, a Europa estava pron-
ta para receber seus estudiosos de braços abertos.”10
B. Queda de Constantinopla: Mas foi no dia 29 de maio de 1453 que Hagia Sofia,
9 N.B. No vídeo da aula o professor usa equivocadamente a expressão “segundo século”. Na verdade, como o gráfico deixa claro, a maioria
dos mss pertence ao segundo milênio da história cristã.
10 Judith Odor, “The Historical-Grammatical Approach,” in Social & Historical Approaches to the Bible, ed. Douglas Mangum and Amy
Balogh, vol. 3, Lexham Methods Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2016), 29.
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CRÍTICA TEXTUAL
maior igreja cristã do mundo, se torna a maior mesquita do mundo. Com a invasão
do Império Otomano, também conhecido como Império turco, essa igreja foi tomada
e transformada em uma grande Mesquita, e Constantinopla, que havia sido o centro
da reprodução dos textos e manuscritos do Novo Testamento, é destruída. Esse dia
ficou conhecido entre os gregos como Terça Negra. Os seus estudiosos, fugindo da
perseguição, levam consigo os seus documentos e invadem a Europa com eles, reno-
vando ainda mais o seu interesse por conhecer as obras gregas. Sobre esse momen-
to, Daniel Wallace diz:
“Após um cerco de sete semanas pelos Otomanos, a grande cidade de Constantinopla
caiu. Três dias depois daquela “terça-feira negra” (como alguns gregos ainda a cha-
mam), a maior igreja do mundo, Hagia Sophia, tornou-se a maior mesquita do mundo.
Constantinopla, anteriormente Bizâncio, foi a cidade que Constantino, o Grande, tornou
a capital do Império Romano em a.d. 330. Nos 1100 anos seguintes, os escribas de
língua grega copiaram fielmente tanto a literatura clássica quanto a bíblica. Quando a
cidade caiu, muitos dos escribas e monges fugiram para a Europa Ocidental, trazendo
com eles seus manuscritos. Naquela época, o grego antigo era virtualmente desconhe-
cido no Ocidente e já era desconhecido há um milênio. Agora, a enxurrada de manus-
critos vindos de Constantinopla impulsionou a Renascença e deu origem à Reforma.”11
O que nós vemos é que, historicamente, o interesse pelo texto grego clássico e o texto
grego do Novo Testamento, começa no momento em que a Renascença está ganhando
formato na Europa Ocidental.
6 | Invenção da Imprensa: É nesse momento que mais um evento acontece e acaba por
mudar completamente o modo da manutenção do texto do Novo Testamento, que foi
a invenção da imprensa em 1954, por Johannes Gutenberg. Sobre ele, F. Oakley afirma:
“Na década de 1440, o alemão Johann Gutenberg começou a experimentar maneiras no-
vas e misteriosas de abordar a impressão. O mesmo fizeram muitos outros europeus,
todos em busca de uma maneira mais rápida e barata de produzir livros. Normalmente,
se os europeus não escrevessem à mão, eles usavam carimbos ou xilogravuras - uma
melhoria, mas ainda dolorosamente lenta. E os métodos de impressão usados no Oriente,
principalmente a impressão em bloco, eram desconhecidos na Europa.”
“Gutenberg tinha uma vantagem: ele era hábil em gravura e trabalho em metal. Enquanto
morava em Estrasburgo, Gutenberg aperfeiçoou várias ideias exclusivas: um molde por-
tátil que se ajustava para moldar qualquer letra com precisão e em grandes quantidades;
uma liga de estanho durável que derreteu e solidificou rapidamente e sem distorção; uma
tinta à base de óleo; e uma impressora modificada. Por volta de 1440, ele reuniu os com-
ponentes necessários para a impressão produzida em massa, mas se ele imprimiu algo
em Estrasburgo, não sobreviveu.”
11 Daniel ,"**"-#, “Erasmo and the Book that Changed the World Five Hundred Years Ago,” Unio Cum Christ, 2:2, 2016. 30.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
“Em 1448, Gutenberg voltou para sua cidade natal de Mainz e pediu dinheiro empresta-
do para sua gráfica. Ele não conseguiu pagar os empréstimos consideráveis e, em 1455,
seu credor e sócio executou a hipoteca, tomando posse das fontes de Gutenberg para
dois projetos em andamento: uma Bíblia impressa em quarenta e duas linhas por página
e um saltério.”12
A soma desses eventos, a saber o renovado interesse pelo texto grego e a invenção da
imprensa, é que acaba por gerar em toda a Europa um desejo de se voltar às fontes, um
Ad Fonts, é o que acontece durante a Renascença. É desse momento em diante que a
manutenção das cópias dos textos já não é mais feita através de um processo manual,
mas ele pode ser feito através de um processo quase que industrial, feito em larga esca-
la, muito melhor controlado do que havia sido feito até aqui.
“Até esta invenção, todos os livros tinham que ser feitos à mão, com os escribas escre-
vendo-os meticulosamente, letra por letra. Os livros foram escritos da mesma maneira por
milhares de anos. Com a invenção de Gutenberg, agora os livros se tornaram acessíveis.
Combinado com o dilúvio de manuscritos gregos na Europa Ocidental, o conhecimento
aumentou dramaticamente.”13
12 F. Oakley, “Gutenberg Produces the First Printed Bible (1456),” Christian History Magazine-Issue 28: The 100 Most Important Events in
Church History (Carol Stream, IL: Christianity Today, 1990).
13 Daniel Wallace, “Erasmo and the Book that Changed the World Five Hundred Years Ago,” Unio Cum Christ, 2:2, 2016. 30.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
2 | Publicado por Erasmo de Roterdã: Erasmo de Rotterdam era, sem sombra de dúvi-
das, na ocasião, um dos maiores conhecedores do grego, da sua geração. Ele era im-
pressionante nos seus estudos, o seu trabalho, literalmente, mudou a história do mundo.
Erasmo de Rotterdam faz simplesmente, um dos muitos dominós que estão caindo e
14 J. Keith !""#$%%, “The Text of New Testament,” in A History of Biblical Interpretation: The Medieval through the Reformation Periods,
ed. Alan J. Hauser, Duane F. Watson, and Schuyler Kaufman, vol. 2 (Grand Rapids, MI; Cambridge, U.K.: William B. Eerdmans Publishing
Company, 2009), 230.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
vão levar a Reforma Protestante. O próprio grito da Reforma Protestante Sola Scriptura,
só foi possível por causa do grito de Ad Fonts, de Erasmo de Rotterdam. Foi essa volta
a fonte que nós vemos em Erasmo de Rotterdam, e a influência que ele tinha inclusive,
em um dos seus “inimigos” Martinho Lutero, faz com que ele seja extremamente impor-
tante para a história da igreja, para a história da Reforma Protestante.
“Um humanista, teólogo, monge agostiniano e sacerdote, Erasmo foi o estudioso mais
proeminente da Europa no século XVI. Ele foi educado e ensinado nas principais universi-
dades européias. Nesses vários locais, ele criou seu amor pela literatura clássica e pelos
pais da igreja, dois ingredientes-chave para suas tentativas ao longo da vida de combinar
humanismo e cristianismo.”15
A. Sua História: Erasmo de Rotterdam tem uma história muito interessante. Nascido
em 1467 em Roterdã na Holanda. Ele é filho ilegítimo de um padre católico e com 20
anos ele decide se tornar monge em Steyn, um mosteiro com uma ampla biblioteca
de literatura clássica. Com 25 anos, ele é ordenado monge agostiniano, mas não
suporta a vida reclusa do mosteiro. Em 1495, com 28 anos, Erasmo se muda-se para
Paris para aproveitar da Universidade, passa por seu período mais pobre, passa fome,
entra em conflito com os acadêmicos escolásticos e muda-se para Inglaterra. Na
Inglaterra é desafiado por John Colet a estudar o Novo Testamento de modo mais
sério. Foi então que resolveu dedicar-se a aprender Grego.
B. Seu Treinamento: Em 1500, quando tinha 32 anos, Erasmo volta para a cidade de
Paris, onde ele pretende começar a iniciar o grego, no ano de 1500. Para você enten-
der o nível de afinco que esse homem tem, em 1516, 16 anos depois da usa decisão
de iniciar a estudar grego, Erasmo vai publicar a primeira versão impressa do Novo
Testamento grego.
C. Sua Dedicação: Em 12 de abril de 1500, ele escreve uma carta para o seu amigo
John Collett, que foi seu professor na área de Novo Testamento enquanto ele estava
na Inglaterra. Para esse amigo ele diz o seguinte:
“Eu dediquei toda a minha atenção aprender grego. A primeira coisa que eu vou fazer
assim que o dinheiro chegar, é comprar alguns autores gregos; E se sobrar algum di-
nheiro, eu vou comprar comida e roupas.”16
15 Anna Marie &$'()$(, “Erasmo, Desiderio,” ed. David M. Whitford, ed., T&T Clark Companion to Reformation Theology, (London; New
York: T&T Clark, 2012), 402.
16 John W *+,""-., Craig Ringwalt /'$+0)$(, Collected Works of Erasmus: The Correspondence of Erasmo: Letters 1-141 (Toronto:
Toronto Press, 1974), 252.
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CRÍTICA TEXTUAL
Eu entendo que esse é um homem que prefere ler, do que comprar roupas bonitas. Ele
prefere repetir todas as suas camisas polos nos seus vídeos, do que trocá-las em cada
um deles só porque ele prefere guardar dinheiro para comprar seus próprios livros.
Tentando explicar o seu interesse por estudar grego, em uma carta para um amigo
chamado Antoon van Berger, cunhada no dia 16 de Março de 1501, ele diz o seguinte:
“Mas a meu ver agora, é melhor aprender, mesmo um pouco tarde, as coisas que deve-
mos entender primeiro, do que nunca aprendê-las em absoluto.”
“Erasmo recebeu mais estímulos para seus estudos do Novo Testamento das anota-
ções sobre o Novo Testamento pelo humanista italiano Lorenzo Valla, que ele desco-
briu em uma abadia perto de Louvain em 1504 e que ele publicou em 1505. Adnotatio-
nes do próprio Erasmo, que acompanharam seu Novo Testamento edição, superou o
trabalho da Valla em qualidade e abrangência. Considerando que Valla foram breves
notas críticas textuais, as anotações de Erasmo ofereceram não apenas uma crítica
textual mais extensa, mas também exegese literária e teológica.”17
“A erudição latina, por mais ampla que seja, ela é deficiente e imperfeita sem o grego.
No latim nós temos, na melhor das hipóteses, pequenos riachos e piscinas turvas, en-
quanto o grego tem as fontes mais claras e rios que fluem com ouro.”18
17 Donald K. 123#+, Historical Handbook of Major Biblical Interpreters (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1998), 185.
18 John W *+,""-., Craig Ringwalt /'$+0)$(, Collected Works of Erasmus: The Correspondence of Erasmo: Letters 142-297 (Toronto:
Toronto Press, 1975), 25.
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CRÍTICA TEXTUAL
Em uma carta a John Colet, seu antigo professor de Grego, escrita em algum momen-
to em 1504, Erasmo diz o seguinte:
“Agora estou ansioso para estudar a literatura sagrada [isso em 1505] a todo o vapor; Eu
tenho completo desafeto por qualquer coisa que me distraia disto, ou que me atrase (...) a
partir daqui, eu pretendo me dedicar as Escrituras e passar o resto da minha vida nela.”20
“A edição bilíngue de Erasmo era um texto grego com uma nova tradução ou revisão do la-
tim, não uma reprodução da Vulgata latina. Foi plausivelmente argumentado por de Jonge
que a principal intenção de Erasmo ao publicar este Novum Instrumentum era estabelecer
sua própria nova versão latina. A afirmação do longo título em latim do Novum Instrumen-
tum de que esta seria uma versão revisada e melhorada pode dar alguma pista para seu
propósito. Visto que nenhum NT grego impresso existia na época, sua edição não poderia,
portanto, reivindicar ser um texto “revisado” do NT grego, e a alegação de que esta edição
era uma melhoria deve, portanto, ser aplicada ao latim. Assim, ao publicar um NT latino re-
visado, Erasmo estava fornecendo uma edição melhor das Escrituras na língua europeia,
o latim, promovendo assim a elevação espiritual e moral da Europa.”21
19 Joi Christians, “Erasmo and the New Testament,” Trinity 19 NS (1998), 54.
20 John W *+,""-.4 Craig Ringwalt /'$+0)$(, Collected Works of Erasmus: The Correspondence of Erasmo: Letters 142-297 (Toronto:
Toronto Press, 1975), 86.
21 J. Keith !""#$%%4 “The Text of New Testament,” in A History of Biblical Interpretation: The Medieval through the Reformation Periods,
ed. Alan J. Hauser, Duane F. Watson, and Schuyler Kaufman, vol. 2 (Grand Rapids, MI; Cambridge, U.K.: William B. Eerdmans Publishing
Company, 2009), 233.
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CRÍTICA TEXTUAL
B. Sua Oposição: No entanto, quando ele publicou esse texto, quando esse texto
chega ao conhecimento da igreja latina, a grande preocupação dos acadêmicos
naquele momento é que as Escrituras estavam sendo violadas e jogadas fora. Ob-
serve o tipo de reclamação que Erasmo de Rotterdam recebeu. Martin Dorp, um dos
22 O'3()/E2*&#()-2&()/P)2- avaliado entre 8.000 e 12.000 euros, e vendida por 15.000 euros. Ver http://www.sothebys.com/en/auc-
tions/ecatalogue/2013/the-mendham-collection-l13409/lot.16.html.
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CRÍTICA TEXTUAL
C. Sua Rejeição: Ele também não foi aprovado, o seu trabalho não foi recebido. Na
verdade, reclamando para Noel Beda em 15 de julho, de 1525, ele diz que quando ele
muda, lá ele encontra um carmelita que o opõe veementemente o acusando de ser o
anticristo, por tentar atualizar a linguagem da vulgata. Ele foi chamado de anticristo:
“Após o lançamento da primeira edição [Novum Instrumentum], mudei-me para Lou-
vain, onde os teólogos me acolheram em seu círculo, embora esta fosse a menor
das minhas ambições. Quando a obra apareceu, o carmelita Egmondanus levantou
uma grande confusão, alegando que eu era o anticristo.”25
23 John W *+,""-., Craig Ringwalt /'$+0)$(, Collected Works of Erasmus: The Correspondence of Erasmo: Letters 298-445 (Toronto:
Toronto Press, 1975), 86.
24 Procure pelo artigo “Expondo os erros da NVI” e você verá o mesmo tipo de reação de fundamentalistas contra uma nova tradução.
25 John W *+,""-., Craig Ringwalt /'$+0)$(, Collected Works of Erasmus: The Correspondence of Erasmo: Letters 1535-1657 (Toronto:
Toronto Press, 1975), 135.
26 Pierre Cousturrier; in: Richard H. 5,#(%$(, Erasmus of Christendom (New York:NY, Crossroad, 1982), 135.
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tão conhecidas e tão defendidas, sofreu do mesmíssimo modo. Ele também teve
os seus dias de novidade, também teve seus dias de oposição; mas observe o que
ele fala sobre o seu próprio trabalho.
“Portanto, se eu cometi um erro ou me coloquei em risco, o erro e o risco são exclu-
sivamente meus. Meu único propósito no Novo Testamento era estabelecer um texto
puro e lançar luz sobre os problemas que claramente causaram o tropeço de muitos.”27
A intenção de Erasmo de Rotterdam era oferecer um texto puro. A intenção, a pro-
posta e a pesquisa do seu trabalho eram nobres. Ele faz aquilo que até aquele mo-
mento, ninguém na história tinha feito. Ele oferece não somente a primeira versão,
mas ele oferece a sugestão de que a Vulgata precisava ser atualizada. Um argu-
mento muito forte contra a suposta autoridade de Roma.
4 | O Texto Grego de Erasmo não era tão bom quanto ele pensava: Entretanto, o texto
grego usado por Erasmo de Rotterdam não era tão bom quanto ele pensava. Ele dizia
ter escrito a partir dos mais antigos manuscritos e dos mais corretos. Entretanto, nós
precisamos interpretar isso considerando o que ele tinha a sua disposição. Sem som-
bra de dúvidas, os mais antigos e os melhores que ele teve acesso.
“Embora Erasmo tenha afirmado que usou ‘as cópias mais antigas e corretas do Novo
Testamento’, o prazo de impressão imposto pelo editor o obrigou a confiar em apenas
sete manuscritos bastante tardios e inferiores disponíveis em Basileia.”28
“Todos esses manuscritos não eram nem antigos nem particularmente valiosos. O Có-
dice de Apocalipse foi mutilado nos últimos seis versos, então Erasmo os retraduziu em
grego do latim; e algumas partes de sua versão feita por ele mesmo, que são encontra-
das (no entanto, alguns editores podem falar vagamente) em nenhum manuscrito grego
conhecido, traduções ainda se encontram no nosso texto recebido”29
27 John W *+,""-., Craig Ringwalt /'$+0)$(, Collected Works of Erasmus: The Correspondence of Erasmo: Letters 1535-1657 (Toronto:
Toronto Press, 1975), 135.
28 Edwin Yamauchi, “Erasmo’ Contribution to New Testament Scholarship,” Fides et historia 19 (Oct. 1987): 10.
29 Frederick Henry Ambrose Scrivener, A Plain Introduction to the Criticism of the New Testament, ed. Edward Miller, Fourth Edition.,
vol. 2 (London; New York; Cambridge: George Bell & Sons; Deighton Bell & Co., 1894), 183–184.
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5 | Texto Grego de Erasmo era Problemático: Mas, o texto dele, além de tardio, ele
também era problemático. Existem quatro problemas fundamentais na primeira publi-
cação de Erasmo de Rotterdam, as duas primeiras graves.
A. Sugestões feitas por Erasmo não usadas por seus editores: A primeira delas
é que sugestões feitas por Erasmo para os seus editores elas não foram usadas.
Erasmo sugeriu alterações ou propostas de textos que os seus editores rejeitaram.
30 Daniel 6,"",2-, “Erasmus and the book that Changed the World Five Hundred Yeras Ago”, Unio Cum Christ, 2:2, 2016. 30.
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Isso pode ser visto na comparação entre as anotações de Eramos no Códice 2 (isso
mesmo, ele deixou suas notas no próprio manuscrito!) com o texto do Novum Ins-
trumentum.
B. Sugestões não feitas por Erasmo e usadas por seus editores: Em alguns mo-
mentos, os seus editores adicionaram alterações no seu texto que não teriam sido
aprovadas por Erasmo. Embora tenha sido publicado por Erasmo, essa interação
com seus editores fez com que sugestões não tenham sido recebidas e sugestões
não feitas terem sido usadas.31
C. Muitos erros tipográficos: Além disso, o texto continha muitos erros tipográfi-
cos, apesar de ser produzido pela imprensa às pressas da produção, Erasmo de
Rotterdam na sua publicação, permitiu que muitos erros tipográficos fizessem par-
te desse seu trabalho, e foi uma obra muito mal produzida. O próprio Erasmo de
Rotterdam, em uma carta do dia 1 de julho, de 1515, diz o seguinte:
Erasmo sabia que ele tinha feito muito trabalho, mas tinha feito muito rápido. Ele
mesmo descreve a sua primeira edição mais como uma precipitação, do que uma
publicação eventualmente chamada de catadão.33 Frederick Henry Scrivener, um
dos maiores críticos, quando olha para o texto primeiro texto de Erasmo diz o se-
guinte: “A primeira edição de Erasmo no que se refere aos erros tipográficos, é o livro
mais deficiente que eu conheço.”34
31 Esses dois problemas foram apresentados em detalhes no artigo: Kenneth Willis Clark, “Observations on the Erasmian Notes in Codex
2” in J.L. Sharpe III, The Gentile Bias and other Essays, Novum Testamentum Suplement, Vol. 54 (Brill, 1980), 752-55.
32 John W Omalley, Craig Ringwalt Thompson, Collected Works of Erasmus: The Correspondence of Erasmo: Letters 298-445 (Toronto:
Toronto Press, 1975), 186.
33 Uma brincadeira do professor relembrando o termo latino usado pelo próprio Erasmo para descrever o seu trabalho: Q%#+-"$%$&+&()/3-,
#$(*/R(+)/-4$&()S. Para uma apresentação mais detalhada do Novum Instrumentum, ver QP/F-N&'/4+*/9*"#$&(#+*/-/+/L-M'#)+/T#'&-*&+2&-S.
Para uma conversa sobre o assunto, procure pelo BTCast 214 8/$2M0(U2"$+/4-/9#+*)'/2+/L-M'#)+/T#'&-*&+2&-.
34 Frederick Henry Ambrose Scrivener, A Plain Introduction to the Criticism of the New Testament, ed. Edward Miller, Fourth Edition.,
vol. 2 (London; New York; Cambridge: George Bell & Sons; Deighton Bell & Co., 1894), 184–185.
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Quando nós olhamos para essas alterações baseadas, inclusive dos manuscritos
que ele usou, nós percebemos que embora tenha sido a primeira edição, ela era
uma edição claramente deficiente. Um exemplo para ilustrar isso pode ser visto na
imagem acima, na qual vemos a primeira página do lado interno do livro. Perceba
que no alto da imagem lemos Novum Instrumentum. O que segue essa expressão é
o título da obra escrito em formato de ampulheta. Nesse título, ele descreve quais
são as fontes que ele usa, incluindo os pais da igreja.
Na imagem, adiciono um pequeno traço vermelho, e é ali que eu gostaria que você
concentrasse sua atenção. O termo que vem antes da palavra sublinhada, é um
nome muito conhecido: Cyrilli que em português conhecemos como Cirilo. O termo
posterior lemos Hieronymi, que em nosso idioma seria Jerônimo. Depois nós temos
Cipriano, nós temos Ambrosio, Hilário, e assim por diante. Mas o termo sublinhado
é alguém chamado Vulgarii. Mas, quem é Vulgarii?
Na verdade, não é ninguém. Não existe nenhum pai da igreja com o nome de Vulga-
rii. A expressão Vulgarii é o termo genitivo que seria traduzido por ‘da Bulgária’ uma
referência a Teofilacto de Ocrida. Olha só que pequeno deslize de atenção. O que
acontece é que Teofilacto era da Bulgária, e ao invés de inserir o nome de Teofilac-
to e dizer Teofilacto da Bulgária, ele só escreveu da Bulgária, omitindo o nome do
autor. Agora, se esse erro que estava na capa do trabalho, imagina o que tinha no
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D. Obra Mal Produzida: Tem uma série de problemas no livro. Considere essa visão
panorâmica de suas primeiras quatro edições:
I. Primeira Edição (1516): “De acordo com Erasmo, ele teve acesso a apenas seis
manuscritos, nenhum deles completo. Seu melhor e mais antigo manuscrito (Código
1) era do século X, mas ele não o usava muito porque, por algum motivo, não confiava
nele. Nos Evangelhos havia quatro dos manuscritos, o mais antigo do século XV. Em
Atos e Epístolas Gerais eram em três os mss usados, o mais antigo do século 13. Nos
livros paulinos eram apenas quatro manuscritos todos tardios. Em Apocalipse ele
tinha apenas um manuscrito (do século XII), e faltava a última página, então Erasmo
teve que retraduzir os últimos seis versos de Apocalipse do Latim para o grego. Onde
seus manuscritos não eram claros ou eram defeituosos, Erasmo consultou a Vulgata,
resultando em pelo menos uma dúzia de lugares onde a leitura não era apoiada por
nenhum manuscrito grego. Devido à pressa para publicá-lo, ocorreram muitos erros
de impressão na primeira edição. O próprio Erasmo disse que esta obra foi “preci-
pitada em vez de editada”35 John Hausschein (Basileia) encontrou nada menos do
que 501 itacismos no texto impresso de Erasmo. Além disso, ele manteve o uso do
ν-móvel em verbos colocados antes de termos iniciados em consoantes.
II. Segunda Edição (1519): A segunda edição, tem anotações ampliadas muito ver-
dadeiras, e traz na sua declaração dizendo que ela foi ainda mais cuidadosa, que a
versão anterior e erros da primeira edição são corrigidos, principalmente sobre as
autoridades de um novo códice, o novo códice que ele teve acesso. Baseado nesse
novo manuscrito, a segunda edição é produzida. Na segunda edição de Mills em
1707, identifica 400 novas alterações no texto, entre a primeira e a segunda edição.
400 alterações, de acordo com Mills, foram para melhor, e 70 para pior, ou seja, ele
conseguiu piorar, ainda assim, o seu texto. Quando nós olhamos para esse trabalho,
observamos o cuidado que ele teve por fazer, nós percebemos que ele ficaria insa-
tisfeito com isso, e claro, ele faria uma nova edição.
“A segunda edição tem anotações ampliadas e muito verdadeiramente traz em seu
título a declaração, ‘multo quam antehac diligentius ab Er. Rot. recognitum’, pois uma
grande parte dos erros de impressão, e não poucas leituras da primeira edição, são
então corrigidas, sendo as correções feitas principalmente sob a autoridade de um
novo códice.”36
35 Charles W. 78,0-8, “Textus Receptus,” ed. Chad Brand et al., Holman Illustrated Bible Dictionary (Nashville, TN: Holman Bible Pu-
blishers, 2003), 1577.
36 Frederick Henry Ambrose 928#:-(-8, A Plain Introduction to the Criticism of the New Testament, ed. Edward Miller, Fourth Edition.,
vol. 2 (London; New York; Cambridge: George Bell & Sons; Deighton Bell & Co., 1894), 185.
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III. Terceira Edição (1522): A terceira edição seria ainda mais cuidadosa, com ainda
mais ajuda de outras pessoas. Ele produz então, a terceira edição, que vai se tor-
nar a versão mais usada no processo da reforma protestante. A terceira edição de
Erasmo de Rotterdam é aquela que vai ser usada especialmente, na reforma de fala
inglesa, e nós vamos perceber o impacto desse texto na reforma protestante de
uma maneira muito interessante. No entanto, Scrivener, quando olha para a segun-
da e terceira edição, ele encontra ainda 118 alterações. Nestas 118 alterações, ele
diz que a mais importante alteração foi o texto de 1João 5:78, também conhecido
como o parêntese joanino, aquela expressão que descreve a mais explícita expres-
são da Trindade no texto de Erasmo de Rotterdam, do qual Scrivener diz o seguinte:
“A terceira edição (1522) é principalmente notável por sua inserção de 1João 5: 7, 8
no texto grego em consequência da controvérsia de Erasmo com Stunica e H. Stan-
dish, Bispo de Santo Asafe (falecido em 1534), e com um antagonista muito mais
fraco, Edward Lee, depois arcebispo de York, que se opôs à sua omissão de uma
passagem que nenhum códice grego conhecido continha até a ocasião.”37
O códice Monteforteanos, da perspectiva de Scrivener, era um manuscrito que con-
tinha um texto desconhecido em toda a tradição manuscrita conhecida por ele.
Até aquele momento, ela não tinha aparecido em nenhum outro lugar, embora se
encontrasse esse texto nas versões latinas dos dias de Erasmo. No que se refere a
Erasmo, ele não teria incluído essa passagem porque os manuscritos gregos que
dispunha não continha esses versos. Diga-se de passagem que nas duas primeiras
edições do seu texto, Erasmo não o incluiu. Isso fez com que teólogos criticassem
veementemente as edições de Erasmo, especialmente Stunica. A tradição diz que
enquanto preparava sua terceira edição, Erasmo teria dito que se encontrasse um
manuscrito grego com o Comma Johanneum ele o incluiria, mas tal afirmação não
foi encontrada.
Por excesso de conflitos com os seus opositores, Erasmo em determinado mo-
mento, teria dito que se encontrasse um manuscrito que tivesse, ele colocaria, e
foi mais ou menos o que aconteceu. Nós conhecemos um pouco melhor essas
histórias nos livros, e ao que parece, forjou-se um manuscrito em Cambridge onde
adicionou-se esse texto ao texto de João, que foi colocado na mão de Erasmo de
Rotterdam, e baseado nisso, ele incluiu a contragosto o texto na sua terceira edição.
Sobre o Códice Montifortianus, Scrivener diz o seguinte: “Este manuscrito foi ouvido
pela primeira vez entre a publicação da segunda (1519) e terceira (1522) edição de Eras-
mo de seu N. T., e depois que ele declarou publicamente, em resposta aos objetores, que
se algum manuscrito grego pudesse ser encontrado contendo a passagem, ele iria inse-
ri-lo em sua revisão do texto; uma promessa que ele cumpriu em 1522.” 38 Ehrman-Metz-
37 Idem, p.186.
38 Idem, ibid.
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ger completam: “Foi baseada no testemunho exclusivo e tardio [do Códice Montfortia-
nus, MS.61] que Erasmo foi convencido a incluir essa passagem certamente espúria no
texto de 1João. O manuscrito, que é notavelmente novo e limpo por toda parte (…) dá
toda a aparência de ter sido produzido expressamente com a finalidade de confundir
Erasmo”39
“Tendo em vista a escassez de evidências externas e a probabilidade transcricional de
que o Comma tenha surgido por motivos teológicos, essa leitura teria sido relegada a
uma nota de rodapé histórica se não fosse por certos eventos do século XVI. Obser-
vando que o Comma ocorreu apenas em manuscritos latinos mas era desconhecido
em qualquer manuscrito grego conhecido por ele, Erasmo a omitiu de suas edições
do Testamento grego em 1516 e 1519. Stunica, editor do Poliglota Complutense (im-
presso em 1514; publicado em 1522), atacou a Erasmo por omitir o Comma e o in-
cluiu em seu próprio texto, traduzido do latim. Em resposta a um clamor mais amplo,
Erasmo sustentou que ele havia procurado muitos manuscritos gregos, mas não havia
encontrado nem mesmo um que contivesse o Comma. O mss 61, contendo o Comma
e aparentemente produzido na época para esse fim, foi trazido à atenção de Erasmo e,
temendo uma resposta negativa à sua edição, ele incluiu a vírgula na terceira edição de
1522, mas não sem suspeita de que o mss 61 tivesse sido revisado do latim. A leitura
foi aceita na terceira edição Stephanus de 1550 e no texto de Elzevir de 1633, mais
tarde conhecido como Textus Receptus. Em seguida, alcançou grande aceitação na
Vulgata Clementina de 1592, que se tornou a Bíblia oficial da Igreja Católica Romana,
e na edição de Rheims. Não originalmente na Bíblia de Lutero, editores posteriores
adicionaram-no ao seu texto começando em 1582. Embora anteriormente colocado
entre colchetes por Tyndale como questionável, a leitura foi adotada em russo. Assim,
o Comma ganhou ampla aceitação nos séculos XVI e XVII”40
“Como parece claro nos nossos dias, o manuscrito grego foi provavelmente produzi-
do em Oxford por volta de 1520 por um frade franciscano chamado Froy, que pegou
as palavras disputadas da Vulgata Latina”41
39 Bart !'8+,(;and Bruce Manning 1-%<=-8. The Text of the New Testament: Its Transmission Corruption and Restoration (New Yourk,
NY: Oxford, 2005), 88.
40 Carroll D. *)>?8(, “Johannine Comma,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Doubleday, 1992), 883.
41 Bart !'8+,( and Bruce Manning Metzger. The Text of the New Testament: Its Transmission Corruption and Restoration (New Yourk, NY:
Oxford, 2005), 146.
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sa. Lutero usou a segunda edição do texto de Erasmo para sua tradução do Novo Tes-
tamento para o Alemão (sem comma Johanennum). William Tyndale usou a terceira
edição como base para sua tradução do Novo Testamento para o Inglês. Também foi
o texto base da tradução de Genebra, da King James Bible, e de basicamente toda tra-
dução protestante até 1881 (com Comma Johanennum). O texto do Novo Testamento
de Erasmo, tal como editado por Stephanus e Ezelvier, tornou-se o mais importante
texto base para traduções e estudos acadêmicos por quase 300 anos (com Comma
Johanennum)!
Em outras palavras, o texto de Erasmo de Rotterdam é extremamente importante para
a história da crítica textual e a história da transmissão do texto, assim, ele se torna
de acordo com os historiadores, a mais importante contribuição para a reforma pro-
testante. De acordo com o Roger Olson, a influência dessa obra sobre a reforma é
incalculável:
“Talvez a mais importante de todas as contribuições de Erasmo tenha sido a produção
do texto crítico do Novo Testamento Grego em 1516. A influência dessa obra sobre a
Reforma é incalculável. Tornou-se a base da tradução de Lutero para o alemão e for-
neceu aos estudiosos de toda cristandade o modelo para trabalhos de interpretação e
tradução (…) O texto de Erasmo revelou que a Vulgata era uma tradução relativamente
inferior e esse fato estimulou e preparou o crescente movimento para traduzir a Bíblia
nos idiomas do povo da Europa.”42
42 Roger *")$(, História da Teologia Cristã: 2000 anos de Tradição e Roforma, (São Paulo: SP, Vida Nova, 2001), 372-3.
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“A terceira edição [de Erasmo] foi novamente modificada, mas não o suficiente para corrigir
suas deficiências massivas. Esta terceira edição foi a base para o ‘Textus Receptus’ e foi publi-
cada por várias pessoas com poucas mudanças nos quatro séculos seguintes. Reconhecendo
a superioridade do texto de Ximenes, Erasmo baseou-se nele para fazer centenas de mudanças
em sua quarta (1527) e quinta (1535) edições, mas estas não foram reproduzidas com frequ-
ência. Assim, principalmente porque teria sido distribuído primeiro, custou menos e era menor
em tamanho, o trabalho de Erasmo se tornou o texto padrão por centenas de anos.”43
“O texto grego de Erasmo era a base do Novo Testamento grego de Robert Estienne
(1550) e das edições do Novo Testamento de Teodoro Beza, cujos textos, por sua vez,
formariam a base da Versão King James (1611) e do Testamento grego Elzevir (1633)
que veio a ser conhecido como Textus Receptus (“o texto recebido”).”44
43 Charles W. 78,0-84 “Textus Receptus,” ed. Chad Brand et al., Holman Illustrated Bible Dictionary (Nashville, TN: Holman Bible Publishers,
2003), 1577.
44 Donald K. 123#+, Historical Handbook of Major Biblical Interpreters (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1998), 190.
45 @7@A/@7@;7!: Frederick Henry Ambrose Scrivener, A Plain Introduction to the Criticism of the New Testament, ed. Edward Miller,
Fourth Edition., vol. 2 (London; New York; Cambridge: George Bell & Sons; Deighton Bell & Co., 1894), 189-90.
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CRÍTICA TEXTUAL
“A quarta edição de Stephanus (Genebra, 1551), que contém duas versões latinas (a
Vulgata e a de Erasmo), é digna de nota porque nela, pela primeira vez, o texto do Novo
Testamento foi dividido em versos numerados.”47
B. Teodoro Beza (1556): O mesmo vai acontecer com Teodore Beza. “Teodoro Beza,
o amigo e sucessor de Calvino em Genebra e um eminente erudito clássico e bíblico,
46 Elliot Ritzema and S. Michael Kraeger, “Textus Receptus,” ed. John D. Barry et al., The Lexham Bible Dictionary (Bellingham, WA: Lexham
Press, 2016).
47 Bruce Manning 1-%<=-8, United Bible Societies, A Textual Commentary on the Greek New Testament, Second Edition a Companion Volu-
me to the United Bible Societies’ Greek New Testament (4th Rev. Ed.) (London; New York: United Bible Societies, 1994), XXIII.
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publicou nada mesmo que nove edições do Novo Testamento Grego entre 1565 e 1604,
e uma edição póstuma em 1611 (…) Acompanhado por anotações e sua própria versão
do Latim, bem como a Vulgata Latina, essas edições contem uma boa dose de infor-
mações textuais retiradas de vários manuscritos que Beza teria pessoalmente colado,
bem como manuscritos colados por Henry Stephanus, filho de Robert Stephanus.”48
“Em 1556, Beza publicou uma tradução em latim anotada do Novo Testamento grego,
que apareceu em várias impressões. Em suas Annotationes, Beza implementou as su-
gestões de Desiderius Erasmo sobre as abordagens críticas e comparativas de leituras
textuais variantes. Embora tenha sido atacado por emendar o texto em apoio à sua
própria agenda dogmática, seus instintos textuais eram bastante conservadores. (As
ênfases teológicas reformadas aparecem em suas Annotationes e em suas traduções
latinas, como uma doutrina reformada da eleição nas notas de Beza sobre tous sōzō-
menous em Atos 2:47.) Em 1565 Henri Estienne publicou a célebre edição de Beza do
Novo Testamento grego (incluindo a tradução anotada da Vulgata e do latim de Beza),
que estabeleceu sua reputação como o principal crítico bíblico de sua geração.”49
C. Irmãos Elzevir: (1633): Aqui, nós encontramos a origem do texto recebido, o texto
recebido que é tão aclamado entre aqueles que defendem a Almeida Corrigida e Fiel,
tem a origem no trabalho de Erasmo de Rotterdam, Stephanus e Beza, particularmente.
Elzevir eles publicam, eles adicionam, mas fazem poucas alterações no texto. O que
chama atenção é que todos esses acadêmicos e eruditos que trabalham com esse
texto, eles não têm condições de ter acesso aos documentos do Novo Testamento
como nós temos. Disse que Erasmo de Rotterdam, por exemplo, teria conhecido va-
ticanos, mas a verdade é que as suas cartas atestam o fato de que ele tinha conheci-
mento de algumas variações textuais presentes neste códice que lhe foi apresentado
pelo bispo curador do Vaticano. Desse texto que ele recebe, ele usa apenas uma des-
sas como indicações no texto de Atos, e não faz nenhuma outra menção.
Os grandes unciais não haviam sido descobertos, os papiros não haviam sido desco-
bertos, a teoria não havia sido desenvolvida. O que nós temos é o início do processo
de crítica textual baseada nos estudos dos manuscritos, feito por homens compe-
tentes que observaram os manuscritos que tinham a sua disposição e produziram o
melhor texto que eles tinham. Era essencialmente um texto tardio. Apesar do Códice
Bezae ser do quinto século, grande parte do material usado ele era do século XII e XIII.
48 Bart !'8+,( and Bruce Manning 1-%<=-8, The Text of the New Testament: Its Transmission Corruption and Restoration (New Yourk, NY:
Oxford, 2005), 151.
49 Donald K. 123#+, Historical Handbook of Major Biblical Interpreters (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1998), 153–154.
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CRÍTICA TEXTUAL
Sem dúvida, o melhor texto possível diante das evidências disponíveis, mas longe de
ser uma versão inspirada, como sugerem alguns dos seus defensores.
“O Textus Receptus não é o texto recebido no sentido de que foi recebido de Deus em
oposição a outros manuscritos gregos. Em vez disso, é o texto recebido no sentido de que
era o padrão na época dos irmãos Elzevir. No entanto, a base textual do TR é um peque-
no número de manuscritos minúsculos coletados aleatoriamente e relativamente tardios.
Em cerca de uma dúzia de lugares sua leitura é atestada por nenhuma testemunha de
manuscrito grego conhecido.”53
“O texto que ele editou não era, no entanto, igual em qualidade aos seus métodos, em
grande parte por causa dos recursos manuscritos severamente limitados com os quais
ele teve que trabalhar. Consequentemente, seu texto acabou representando na forma im-
pressa de uma forma tardia e corrompida do tipo-texto Bizantino.”54
50 Eldon Jay !004 “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Doubleday,
1992), 427–428.
51 A. T. B$>-8%)$(, An Introduction to the Textual Criticism of the New Testament (Nashville, TN: Broadman Press, 1925), 20.
52 Amy @(C-8)$(;and Wendy 6#CC-8, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods Series
(Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 119.
53 D. A. D,8)$(, The King James Version Debate: A Plea for Realism (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1979), 36.
54 Michael E$"+-), “Textual Criticism” in David Alan Black and David S. Dockery, E2&-#%#-&$2C/&G-/O-V/F-*&+)-2&7/9**+I*/'2/W-&G'4*/+24/
E**(-* (Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 2001), 52.
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3 | Melhor Texto Possível: “Deve-se afirmar desde já que o Textus Receptus não é um texto
ruim. Não é um texto herético. É substancialmente correto. Hort expôs bem a questão: ‘Com
relação à grande maioria das palavras do Novo Testamento, como da maioria dos outros
escritos antigos, não há variação ou outro fundamento de dúvida e, portanto, não há espaço
para crítica textual’. Hort continua: ‘A proporção de palavras virtualmente aceitas por todas
as mãos como levantadas acima de qualquer dúvida é muito grande; não menos, em um
cálculo aproximado, do que sete oitavos do total. O oitavo restante, portanto, formado em
grande parte por mudanças de ordem e outras trivialidades comparativas, constitui toda
a área de crítica.’ É claro, portanto, que o Textus Receptus preservou para nós um texto
substancialmente preciso, apesar dos longos séculos que antecederam a era da impressão,
quando copiar à mão era o único método de reproduzir o Novo Testamento.”
“Mas o caso é ainda melhor do que esta apresentação, pois Hort conclui: ‘Reconhecendo
plenamente o dever de abstinência de decisão peremptória nos casos em que a prova deixa
o julgamento em suspenso entre duas ou mais leituras, descobrimos que, pondo de lado as
diferenças de ortografia, as palavras em nossa opinião ainda sujeitas a dúvida constituem
apenas cerca de um sexagésimo de todo o Novo Testamento. Na segunda estimativa, a pro-
porção de variações comparativamente triviais é além da medida maior do que na primeira;
de modo que a quantidade do que pode em qualquer sentido ser chamado de variação
substancial é apenas uma pequena fração de toda a variação residual, e dificilmente pode
formar mais do que uma milésima parte de todo o texto.’ O verdadeiro conflito na crítica
textual do Novo Testamento diz respeito a esta milésima parte de todo o texto.”55
4 | Texto sem Inspiração: Para algumas pessoas, o texto original é o texto recebido pela
igreja, e não o texto escrito pelos apóstolos. O texto recebido pela igreja torna-se, então,
a mais importante fonte para o testemunho do texto dos apóstolos.
“Através do seu estudo dos escritos e Jerônimo e dos Pais da Igreja, Erasmo tornou-se
muito bem informado sobre as leituras variantes do texto do Novo Testamento. De fato,
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CRÍTICA TEXTUAL
todas as leituras variantes mais importantes hoje conhecidas pelos eruditos já eram co-
nhecidas de Erasmo, há mais de 460 anos atrás, e discutidas nas notas (previamente
preparadas) que ele colocou em suas edições do Texto Grego do Novo Testamento.”57
“Essa teoria está sendo apresentada na literatura popular a pastores e leigos em todos
os lugares, muitos dos quais nunca leram uma refutação no mesmo nível e que não
estão equipados para fazer o trabalho mais avançado que demonstra que a teoria é
falsa. Além disso, porque os defensores da TR associam esta teoria com uma visão
elevada das Escrituras, companheiros evangélicos com uma visão igualmente elevada
das Escrituras freqüentemente ficam um pouco nervosos em falar abertamente, por
medo de serem suspeitos por seus pares.”60
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CRÍTICA TEXTUAL
“Embora o cuidado geral do copista e a preocupação com a exatidão tenham prevalecido du-
rante o processo de cópia, nenhum manuscrito ou exemplar intermediário pode ser reivindicado
com certeza para refletir o autógrafo preciso. Várias falhas humanas ocorreram naturalmente
durante a era da cópia manuscrita de documentos; essas falhas aparecem entre os manuscri-
tos em vários graus, assumindo a forma de erro do escriba ou alteração intencional. A tradição
do manuscrito deve ser considerada em sua totalidade, levando-se em consideração os fatores
de transmissão que permitiram o surgimento de tal variação.”
“O texto dominante dessa tradição dos escribas é considerado pelos editores como o que re-
flete mais de perto o que foi originalmente revelado por Deus por meio dos autores humanos
do Novo Testamento. A presente edição, portanto, exibe esse texto consensual dominante con-
forme aparece em todo o Novo Testamento grego. Este volume de forma de texto Bizantino é
oferecido como uma representação precisa do texto canônico do Novo Testamento, a palavra
escrita de Deus de acordo com o grego original”61
Texto majoritário não é derivado do textus receptus, mas é uma teoria muito próximo. O texto
é muito próximo e a fonte por trás do texto é muito parecida. No entanto, o método é comple-
tamente diferente, e cabe aqui, essa divisão. Boa parte dos críticos textuais não conseguem
identificar a diferença entre defensores do texto recebido e do texto majoritário. Até mesmo
bons acadêmicos da área da crítica textual e teólogos, não conseguem entender as diferen-
tes nuances entre aqueles que defendem o texto recebido pela igreja no texto dos irmãos
Elzevier de 1633, e a teoria do texto Bizantino, que é uma coisa completamente diferente.
1 | Teoria Recente: Teoria do texto majoritário ou o texto Bizantino, é uma teoria ex-
tremamente recente. Quando Westcott-Hort publicam em 1881 o Novo Testamento
no idioma original, eles levantam um incômodo em uma série de pessoas que tem no
texto tradicional, o texto recebido, a referência do texto histórico.
61 William A#-80$(% and Maurice B$>#()$(, The New Testament in the Original Greek: Byzantine Textform 2005, with Morphology.
(Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2006), I.
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CRÍTICA TEXTUAL
A. John Burgon: Da mesma maneira que Erasmo recebeu oposição dos tradiciona-
listas, Westcott-Hort vão receber também dos tradicionalistas dos seus dias, John
Burgon, em especial. Ele publica um livro A Revisão Revisada, fazendo uma crítica da
versão revisada em inglês, que usava agora o texto de Westcott-Hort, não mais o tex-
to recebido como texto para o inglês. Ele publica um livro que se torna uma referência
nos ataques ao texto de Westcott-Hort. Depois de sua morte, apesar de não se ouvir
mais defesas desse texto, nós só vamos encontrar defensores do texto majoritário
muitos anos depois.
1881: Westcott and Hort publicam The New Testament in the Original Greek e de-
fendem a inferioridade e a natureza tardia do texto Sírio (Bizantino). Provocam uma
reação entre os defensores do texto tradicional, dos quais John Burgon torna-se um
dos principais opositores.
1883: John Burgon publica o livro Revision Revised a partir de 3 artigos anteriormente
publicados no Quarterly Review e torna-se uma obra referência para adeptos do Texto
Tradicional. Argumento Baseado na inspiração verbal e plenária e na preservação
providência, Burgon defendia que o texto original havia sido preservado por Deus em
todas as eras e que hereges são responsáveis pela corrupção do texto. desse modo,
a única fonte confiável da verdade divina seria o texto encontrado na maioria dos
manuscritos. Burgon também defendeu que os manuscritos Bizantinos anteriores ao
4o. Sec se desgastaram e, portanto, não podem ser encontrados. Também defendeu
que argumentos baseados em evidência interna não são aceitáveis, pois o texto é
definido pela “evidência objetiva” da quantidade de manuscritos.
1888: Após a morte de Burgon, ninguém defendeu a causa do texto tradicional até
1961. Frederic Scrivener (1831-1891) e Herman Hoskier (1864-1938) podem ser in-
cluídos como opositores da proposta de Westcott-Hort, mas nenhum deles poderia
ser contato entre os defensores da teoria de Burgon.
B. Zane Hodges: É na década de 60, no século passado, que nós vamos encontrar uma
organização de uma teoria, que embora não tenha sido definida por John Burgon, foi a
uma teoria que tinha em comum com Burgon a sua insatisfação com o texto publicado
por Westcott-Hort e com o texto crítico de edições que o sucederam. Na década de 60,
Hodges começa a escrever em larga escala em defesa do texto majoritário.
1961: Publica o artigo “The Ecclesiastical Text of Revelation” e inicia a fase mais re-
cente da defesa do texto Bizantino.
1962: Publica o artigo “The Critical Text and the Alexandrian Family of Revelation”,
uma crítica à família Alexandrina no texto de apocalipse.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
1969: Publica o artigo “The Greek Text of the King James Version “ e inicia um vívido
debate com Gordon Fee sobre a metodologia da crítica textual.
1982: Com Arthur Farstad e Zane Hodges publica o Greek New Testament according
to the Majority Text, a primeira edição impressa do TM. Essa edição era fundamen-
talmente norteada pelo trabalho de von Soden e baseada em edições impressas ape-
nas. Apesar de representar o texto Bizantino, do qual o TR é derivado, essa edição do
GNT tem 1838 diferenças textuais com o TR.
“Os editores desse texto não imaginam que o texto dessa edição representa em todos
os particulares a exata forma dos originais. Ainda que certeza textual seja desejável,
muito mais trabalho é necessário antes que o mesmo seja alcançado. Deve-se manter
em mente que a presente obra, The Greek New Testament According to the Majority
Text, é ao mesmo tempo preliminar e provisório. Ela representa o primeiro passo na
direção do reconhecimento do valor e da autoridade da grande massa de documentos
gregos sobreviventes. O uso desses documentos nessa edição deve ser objeto de es-
crutínio e investigação por acadêmicos competentes. Tal escrutínio, se devidamente
empregado, pode resultar no desenvolvimento do progresso em direção a um Novo
Testamento Grego que mais adequadamente reflete o autógrafo inspirado”63
C. Jacob van Bruggen: Em 1976 van Bruggen publica o The Ancient Text of the New
Testament,64 e defende veementemente a teoria do texto majoritário. Esse livro é pro-
vavelmente a melhor defesa da teoria até a publicação da defesa do mesmo método
publicada por Maurice Robinson.
62 Arthur G,8)%,C;and Zane E$C=-), Greek New Testament according to the Majority Text. (Nashville,TN: Thomas Nelson, 1982), V.
63 Idem, p.x.
64 Jakob van Bruggen, FG-/82"$-2&/F-N&/'M/&G-/O-V/F-*&+)-2& (Premier Printing, 1976).
65 844-24(): Atualmente, Pickering não defende mais o TM, antes uma forma minoritária do mesmo, chamada f35. Novos livros e artigos
foram escritos e publicados pelo autor que os mantém no seu próprio site.
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CRÍTICA TEXTUAL
crítica textual que eu li na minha vida. Eu li basicamente de capa a capa. Esse foi um
livro que foi muito influente no Brasil, embora não tenha conseguido grandes defen-
sores fora daqui.
Com boas críticas à teoria de WH, ele interage pouco com a evidência primária e basica-
mente reproduz os argumentos de John Burgon. Seus próprios testes da verdade que
ele oferece, são basicamente, a ressurreição dos argumentos oferecidos por Burgon,
que foi em larga escala, a grande influência por trás dos escritos do Wilbum Pickering.66
E. Harry A. Sturz: Em 1984 Sturz publica o livro The Byzantine Text-Type and New
Testament Textual Criticism, no qual defendeu a antiguidade do texto Bizantino a
partir de comparações do mesmo com os papiros.
Diferença Importante: Harry Sturz não era um adepto da Teoria do Texto Majoritário,
mas era defensor de um tipo de maioria de tipos-textos. Ou seja, uma leitura tem a
maior probabilidade de representar o texto original se tiver suporte na maioria dos
tipos-textos (e não na maioria dos manuscritos).
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
“O texto grego bizantino recém-editado apresentado nesta edição difere ligeiramente das
versões anteriores. Todas as leituras foram cuidadosamente reexaminadas, com algu-
mas alterações feitas no texto principal após nova reavaliação. Vários erros tipográficos
foram corrigidos e a ortografia foi padronizada por toda parte. A teoria subjacente foi re-
visada à luz de novos conhecimentos baseados em extensa pesquisa de comparação.”67
G. Perfil dos Defensores do Texto Majoritário: A teoria do Texto Majoritário é uma te-
oria recente que em grande parte é produzida nos Estados Unidos. Tem alguns defen-
sores, como von Bruggen na Europa,68 mas não encontrou tantos defensores assim
na sua história. Quando consideramos os principais defensores da teoria do Texto
Majoritário, nota-se que todos os seus adeptos são conservadores, seja em sua teo-
logia ou método. No que se refere à teologia, todos subscrevem a alguma variação do
fundamentalismo. Já na metodologia, pouco desenvolvimento desde Burgon é per-
cebido (com a possível exceção do desenvolvimento recente com Maurice Robinson).
“Apenas uma pequena parte de críticos textuais autênticos estão dentro do campo tradi-
cional. Burgon merece esse prêmio. Hodges, Wisselink, van Bruggen, Robinson e Paul An-
derson também pertencem a este lugar. Hills é o único defensor da TR que se qualifica.
Assim, o movimento TM não é um movimento entre críticos textuais, mas um movimento
popular dentro de círculos conservadores apoiado por um estudioso ocasional.”69
2 | Texto Majoritário não é o Texto Recebido: A teoria do texto majoritário não pode ser
confundida com o texto recebido, e isso fica muito claro William Pierpont and Maurice
Robinson escrevem a sua abertura do texto Bizantino da sua edição. Eles descrevem
que esse texto tem mais de 1800 diferenças com o texto recebido. Esse é um texto mui-
to similar, 1.2% de variação, se você contar a diferença entre o Bizantino e o Receptus,
mas é uma teoria completamente diferente.
67 William A#-80$(% and Maurice B$>#()$(, The New Testament in the Original Greek: Byzantine Textform 2005, with Morphology.
(Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2006), II.
68 Para defensores Brasileiros, considere, Paulo Anglada, W+2(*"#$&'0'C$+/4'/O'3'/F-*&+)-2&'. Knox, 2014.
69 Daniel 6,"",2-, “The Majority Text Theory: History, Methods, and Critique” in Bart D. Ehrman and Michael Holmes, FG-/F-N&/'M/&G-/
O-V/F-*&+)-2&/$2/B'2&-)%'#+#I/L-*-+#"G/,/9**+I*/'2/&G-/!&+&(*/^(+-*&$'2$*. 2nd Edition (Leiden: Brill, 2013), 723.
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CRÍTICA TEXTUAL
“As primeiras edições do Textus Receptus assemelham-se diretamente com o tipo texto
Bizantino, mas frequentemente diverge dele em ocasiões significativas. Nessas edições
o texto deriva primeiramente de uma pequena e limitada seleção de manuscritos tardios,
como os utilizados por Erasmo, Ximenes ou seus sucessores imediatos. O texto dessas
edições impressas difere do texto Bizantino em mais de 1800 ocasiões, geralmente em
função da inclusão de leituras não bizantinas mal atestadas.”70
3 | Três Diferentes Teorias: A teoria por trás do texto majoritário é defendida por três
diferentes grupos.
A. Teoria Mista: O primeiro grupo, nós vamos chamar de um grupo que defende uma
interação mista no processo de avaliação de manuscritos. Eles vão usar a leitura que
consiste na maioria dos manuscritos, mas vão defender que a decisão final da valida-
de daquela leitura variante precisa ser reconstruída a partir da história da transmissão
do texto. De uma maneira muito interessante, a maioria desses autores defendem a
leitura, mas que ela não pode ser o único critério usado para isso. O conhecimento da
história da transmissão do texto precisa ser considerado também.
Proposta:
1. Uma leitura atestada na maioria dosmanuscrito é mais provavelmente original do
que as outras;
2. Decisão final depende da reconstrução da história do texto;
3. O resultado é um método no qual as duas premissas centrais estão em conflito.
“Qualquer leitura atestada de forma esmagadora pela tradição do manuscrito tem mais
probabilidade de ser original do que seu (s) rival (is). Esta observação surge da própria
natureza da transmissão do manuscrito. Em qualquer tradição em que não haja gran-
des rupturas na história de transmissão, a leitura individual que tem o início mais antigo
é a que tem mais probabilidade de sobreviver na maioria dos documentos. E a primeira
leitura de todas é a original. (...) A decisão final sobre as leituras deve ser feita com
base na reconstrução de sua história na tradição manuscrita. Isso significa que para
cada livro do Novo Testamento, um genealogia de manuscritos deve ser construído”
70 William A#-80$(% and Maurice B$>#()$(, The New Testament in the Original Greek: Byzantine Textform 2005, with Morphology.
(Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2006), I.
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CRÍTICA TEXTUAL
B. Exclusividade: Existe um segundo grupo que pode ser é definido como os exclu-
sivistas. Os exclusivistas seriam defendem a exclusividade do texto Bizantino como
descrição do texto original. Para eles, somente a maioria pode ser considerada como
descrição do texto majoritário.
Proposta:
1. Defendem a exclusividade do texto Bizantino e seguem a maioria a todo custo
2. Divergem, entretanto no ponto de partida
• Pierpont-Robinson seguem a maioria (Kx de von Soden)
• Pickering favorece o grupo Kr de von Soden (que ele chama f35)
• Resultado são 1186 diferenças entre os textos
“A forma de texto Bizantina preserva com uma consistência geral o tipo de texto do
Novo Testamento que dominou o mundo de língua grega. Esse domínio existiu pelo
menos desde o século IV até a invenção da imprensa no século XVI. De acordo com
a teoria atual, presume-se que este texto nos séculos anteriores ao quarto tenha do-
minado a principal região de língua grega do Império Romano (sul da Itália, Grécia e
Ásia Menor) - uma região grande e diversa dentro da qual manuscrito, versional , e a
evidência patrística está faltando durante a era pré-quarto século, embora seja a região
primária do domínio da forma de texto bizantina nos séculos subsequentes. Do ponto
de vista da transmissão, espera-se que um único formato de texto predomine entre a
vasta maioria dos manuscritos na ausência de mudanças radicais e bem documenta-
das na tradição do manuscrito” 71
C. Prioridade: Existem aqueles que são mais cautelosos seguindo a linha de van
Bruggen, vão defender a prioridade do texto Bizantino. O texto Bizantino era o pri-
meiro, e existem explicações do porquê ele não é mais, mas eles aceitam a ideia de
conflações no texto Bizantino, harmonizações, e entendem que existem processos
de edição no texto Bizantino, e eles lidam melhor com a evidência.
Proposta:
1. Defendem a Prioridade do texto Bizantino, não sua exclusividade
71 William A#-80$(%;and Maurice B$>#()$(, The New Testament in the Original Greek: Byzantine Textform 2005, with Morphology.
(Bellingham, WA: Logos Bible Software, 2006), V.
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CRÍTICA TEXTUAL
“O fato de o texto Bizantino já ser usado no século 4 como um texto normal prova
que ele deve ser de uma data anterior e não foi considerado ‘novo’. Se este texto não
for seguido distintamente pelos Pais Egípcios e, ao mesmo tempo, for encontrado
nos primeiros escritos sobreviventes de Antioquia e arredores, então temos todas
as razões para supor que nossa visão sobre a história textual mais antiga mudaria
consideravelmente se soubéssemos mais sobre o espaço em branco que sobrou no
mapa histórico: Antioquia antes do século IV. Isso não é tão estranho. Antioquia foi
a primeira igreja a enviar missionários aos pagãos e foi a base a partir da qual Paulo
e Barnabé trabalharam. Como tal, é uma das primeiras igrejas a respeito da qual po-
demos supor que possuía arquivos antigos com as primeiras cópias de Evangelhos
e para as Epístolas.”72
4 | Fundamento Teológico: Esses três grupos têm opiniões diferentes sobre como o
método funciona, mas eles defendem basicamente, aquilo que nós chamaríamos de
texto majoritário. São duas as premissas fundamentais da Teoria do Texto Majoritário:
Ou como diz Wilburn Pickering, em sua tese de mestrado, An Evaluation of the Contri-
buition of John William Burgon to New Testament Textual Cristicism
72 Jakob van Bruggen, The Ancient Text of the New Testament. (Premier Printing, 1976), 14-15.
73 Theodore H-%#), FG-/W+_'#$&I/F-N&7/9**+I*/+24/L-3$-V*/$2/&G-/B'2&$2($2C/]-1+&-. (Fort Wayne: Institute for Biblical Textual Studies,
1987), 192.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Não existe qualquer evidência no texto da Escritura de que a maioria dos manuscritos
seria um modo como Deus preservaria esse texto. Sim, o texto é inspirado, sim ele
dura para sempre, mas o modo como isso seria feito não é descrito no texto apos-
tólico. Não tem nenhum lugar. Seja na exegese, seja na teologia das Escrituras, que
tenha de qualquer maneira uma relação entre essas duas coisas. Esse é o principal
calcanhar de Aquiles dessa teoria. Ela parte de um pressuposto inverificável que pre-
cisa ser presumido para que a análise das evidências seja, então, realizada.
B. Texto Original está na Maioria: Quando você estabelece que o texto inspirado foi
preservado na tradição bizantina, a resposta está basicamente dada. Todo o trabalho
a da crítica textual, de toda a investigação, na verdade vai ser uma mera confirmação
do pressuposto já definido. Mesmo van Bruggen, comete essa falácia metodológica:
“Há, portanto, todos os motivos para reabilitar o texto da Igreja novamente. Já foi acei-
to por séculos e séculos pela Igreja Grega como o texto antigo e correto. Seu direito
não precisa ser comprovado. A pessoa que pensa que sabe mais do que aqueles que
preservaram e transmitiram o texto no passado deve vir com a prova. As igrejas da
grande Reforma adotaram deliberadamente esse texto antigo quando tomaram o texto
grego novamente como ponto de partida87. Este texto merece ser reconhecido como
confiável, a menos que uma contraprova real possa ser dada a partir de um texto me-
lhor recuperado. No entanto, não existem textos melhores”75
C. Breves Objeções:
Sobre a Objetividade: Enquanto a preferência pela maioria é definida pela busca da
‘objetividade’ o fundamento da teoria é colocado sobre aquilo que se acredita que
74 Wilburn A#2F-8#(=,“An Evaluation of the Contribution of John William Burgon to New Testament Textual Criticism” (Th.M. thesis,
Dallas Theological Seminary, 1968), 91.
75 Jakob van 58?==-(, FG-/82"$-2&/F-N&/'M/&G-/O-V/F-*&+)-2&. (Premier Printing, 1976), 24.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Deus fez: isto é, que Deus preservou o texto na tradição Bizantina. Essa ‘suposição’
nada objetiva é que coordena toda a análise textual. Essa suposição tem três proble-
mas: (1) Não é possível verificar objetivamente se Deus preservou o texto na tradi-
ção Bizantina; (2) Não é possível verificar empiricamente se Deus preservou o texto
na tradição Bizantina; (3) Não é possível verificar logicamente se Deus preservou o
texto na tradição Bizantina. Esse argumento não demonstrável é apenas assumido
como verdadeiro, sem qualquer necessidade ou possibilidade de verificação (como
van Bruggen claramente sugere na citação acima).
5 | A práxis do método é estatística: Diferente do que se pensa, a busca pelo texto majo-
ritário não é uma busca pelo texto original, mas por uma construção estatística do texto
possível e melhor preservado, naquilo que se entende ser na maioria das evidências.
Observe o que Arthur Farstad e Zane Hodges dizem no seu texto grego.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Ou seja, qualquer vez que você encontrar um texto defendido pela maioria esmagadora
das evidências, ali você encontra ou tem maior probabilidade de encontrar o texto origi-
nal. Do mesmo livro, um pouco à frente, eles dizem:
“A tradição do manuscrito de um livro antigo irá, sob qualquer condição, exceto as mais
excelentes, se multiplicar de tal forma regular em razoável com o resultado de que as có-
pias mais próximas do autógrafo normalmente terão o maior número de descendentes.”
Esse cenário hipotético desenhado pelos defensores do texto majoritário, é que quanto
mais se copia um texto, mais correto ele fica. Quanto mais cópias nós fazemos de um
determinado texto, mais parecido com o original ele fica. Nós não precisamos ter cópias
qualificadas, nós precisamos ter quantidades de cópias, porque quanto mais copiada,
mais parecido com o original ela vai ficar. O que é exatamente o oposto do que nós ve-
mos na história da transmissão do texto, tal como demonstrado pelas evidências.
Para defender sua teoria, eles vão defender isso a partir de probabilidades matemáti-
cas. Zane Hodges vai construir com seu irmão David Hodges, o modelo estatístico para
avaliação de leituras para o qual eles vão demonstrar que essas probabilidades, que a
sua teoria ela é defensável a partir de probabilidades matemáticas. Invés de estudar a
evidência do texto tal como a tradição a tradição de Transmissão do texto acontece, Ho-
dges prefere produzir um cenário hipotético, e a partir dele, propor um estudo de proba-
bilidade matemática para dar suporte a esse cenário hipotético, que é distinto daquele
que nós encontramos na tradição manuscrita:
“Este argumento não é simplesmente tirado do nada. O que está envolvido pode ser dito
de variadas formas em termos de probabilidades matemáticas”78
De acordo com os defensores do Texto Majoritário79 esse tipo de análise torna a Crítica
Textual mais objetiva. Baseado nisso, Russel Hills afirma:
77 Idem, p.XXVII.
78 Zane E$C=-) and David M. E$C=-), “The Implications of Statistical Probability for Text History” (Material não publicado).
79 Russell E#""), “A Defense of the Majority Text.” Ph.D. diss., (California Graduate School of Theology, 1985), 113.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
“O TM requer muito menos decisões textuais por parte do crítico individual e, portanto,
menos subjetividade e menos dependência da razão humana”
Será que nós não temos nenhum jeito mais objetivo de fazer isso? A resposta é: conte
os manuscritos, estabeleça um modelo estatístico de análise de evidência, e você vai
chegar lá. Por outro lado, Timothy Ralston, por outro lado, tomou o modelo probabilístico
de Zane Hodges e aplicou de fato. Ele disse o seguinte:
“O modelo estatístico de Hodges, que está no cerne da teoria do texto majoritário, exige
que um tipo de texto [e aqui é uma pressuposição que está por trás do processo estatís-
tico] se torne menos homogêneo ao longo do tempo à medida que o efeito cumulativo de
erros de escribas e emendas são transmitidas em gerações subsequentes de manuscri-
tos. Esse efeito é observado entre os manuscritos alexandrinos nesse estudo. No entanto,
o caso é o oposto com os manuscritos bizantinos, que se tornam mais homogêneos ao
longo do tempo, negando a pressuposição estatística de Hodges.”81
Em outras palavras, o próprio pressuposto da estatística é negado pelo estudo das evi-
dências. Esse é o problema da crítica textual defendida pelo texto majoritário. Ela não
lida com as evidências na sua história, nem com o seu contexto histórico, muito menos
com sua transmissão. Prefere-se ler números em uma página a frio e estabelecer uma
maneira de se contar qual é o texto que melhor se encaixa ao Novo Testamento.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
“A forma eclesiástica final do Texto Majoritário foi concretizada somente após o século VIII.
A trajetória resultante da tradição textual contradiz a hipótese do Texto Majoritário produzi-
da a partir do modelo estatístico teórico de produção de manuscritos [i.e. o modelo de Zane
Hodges]. Mais estudos de comparação são agora necessários para verificar essas observa-
ções iniciais. Também é hora de os proponentes sérios do Texto Majoritário reexaminar seu
modelo à luz das realidades impostas por tais agrupamentos de manuscritos”82
82 Timothy J. B,")%$(, “The ‘Majority Text’ and Byzantine Origins.” New Testament Studies 38 (Jan 1992): 136.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
mais tardia desse texto, provavelmente, não é o melhor caminho, exceto, se você supõe
que a maioria preserva o original, algo que a evidência não parece suportar. A defesa
do método, então, tem que ser baseada em suposição. Como é que nós vamos de-
fender que essa maioria de manuscrito que nós encontramos aqui na evidência não
seja encontrada na sua forma anterior antes do quarto século? Porque essa é a grande
pergunta. Se esse é um texto apostólico, porque antes do quarto século nós não encon-
tramos nesse texto apostólico, e é aqui que as suposições começam a ser mais impor-
tantes que as evidências.
“Por que os antigos manuscritos sobreviventes mostram um outro tipo de texto? Por-
que são os únicos sobreviventes da sua geração, e porque sobreviveram devido ao
fato que eram de um tipo diferente. [em outras palavras, se fosse bizantino, teria sido
destruído. Eles sobreviveram por que eram de um outro tipo texto] (...) Certamente
existiam maiúsculos exatamente tão veneráveis quanto os sobreviventes Vaticanus
e Sinaiticus, e que, como seções do Alexandrinus, apresentavam um texto Bizantino.
Mas eles foram renovados na sua forma de escrita minúscula e sua aparência maiús-
cula desapareceu.”83
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
discussões feitas por pessoas que aqui, não são versadas no assunto, sugerem que
esse texto estava lá de outras formas e tentam demonstrar, mas a verdade é conhe-
cida, inclusive dos defensores do método. Não existem as versões anteriores, não
existe texto Bizantino na sua forma formal anterior no quarto século. A explicação é
que eles desapareceram. Wilburn Pickering diz:
É uma boa suposição, mas é uma suposição, até o momento não substanciada pela
evidência. É nada mais do que uma suposição. “Os exemplares bizantinos desgasta-
dos pelo uso foram descartados dessa maneira como parece provável.” Não, não pa-
rece provável, parece suposto. Em outras palavras, crê-se de forma tão intensa, que
eles foram desgastados e destruídos, que Pickering, não tem sequer a esperança de
se encontrar uma evidência manuscrita que ofereça suporte a sua suposição. Mauri-
ce Robinson, que é, na minha opinião, o crítico textual mais importante do movimento
majoritário ele disse o seguinte:
“O texto Bizantino preserva com uma consciência geral tipo de texto do Novo Tes-
tamento que dominou o mundo de língua grega. Esse domínio existiu pelo menos
desde o século IV até a invenção da imprensa no século XVI. De acordo com a teo-
ria atual, este texto também é presumido nos séculos anteriores ao quarto [século]
como tendo dominado a principal de língua grega do Império Romano.”85
Olhando para as evidências espalhadas, e ele sabe que o texto que dominou o mun-
do de língua grega, é o texto Bizantino, é esse texto posterior ao 11º século como já
demonstramos. Ele é presumido, ele não é demonstrado, esse é o ponto, esse é outro
calcanhar de Aquiles desta teoria. Por isso, é tão difícil explicar a completa ausência
de um tipo texto em manuscritos gregos, em versões anteriores ao quarto século em
citações do pai da igreja. Essa, sem sombra de dúvida, é uma grande dificuldade em
todo o texto majoritário.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Versões: Nenhuma versão anterior ao quarto século reflete a tradição Bizantina. Isso
é visto em traduções do texto grego realizadas ao redor do mundo antes do séc.IV,
como por exemplo, nas versões Copta (Egito), Latinas (Europa) e Síria (Turquia), além
diferentes regiões do mediterrâneo, como as versões Armênias, Georgianas, e etc.
Todas essas versões têm exemplares anteriores ao séc. IV, mas nenhuma é classi-
ficada como refletindo um texto Bizantina. Ou seja, não é razoável supor que o texto
Bizantino era Majoritário nos primeiros séculos. As evidências sugerem o oposto.
Pais da Igreja: Todo estudo crítico do texto dos pais da igreja apontam para o fato
de que nenhum deles usou o texto da tradição Bizantina nos três primeiros séculos.
O mais antigo uso de leituras distintamente Bizantino foi o Asterius, o herege de An-
tioquia (341dC). Os Pais da Igreja não apenas usam o texto, eles oferecem comentá-
rios para variantes textuais. Em alguns casos, variantes conhecidas em vários luga-
res no passado são desconhecidas nas variantes sobreviventes, ou mal atestadas.
Eventualmente o oposto aconteceu. Isso significa que não sabemos qual era o texto
majoritário nos três primeiros séculos. A suposição dos defensores do TM de que
o texto bizantino existia antes do séc. IV é necessária para o argumento, e por essa
razão não o podem abandonar. Infelizmente também, não conseguem demonstrar de
modo objetivo, ou ao menos de modo plausível a sua validade.
7 | Rejeição Histórica: Por fim, a terceira grande fraqueza desse método é a sua rejeição
histórica. As evidências são completamente ignoradas. Os escribas, suas escritas, o
seu texto, a sua história de Transmissão, tudo isso, é secundário ao contar manuscritos.
O que importa é que eles sejam maioria.
“O problema com a visão do texto majoritário, de acordo com a maioria dos críticos tex-
tuais, é que ela também parece desconsiderar a história. Embora noventa por cento de
todos os manuscritos pertençam ao tipo de texto bizantino, essa forma de texto não se
tornou o padrão até final do processo de transmissão. Os dados existentes revelam que a
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
maioria dos manuscritos por volta de 800 D.C pertenciam ao texto alexandrino. Portanto,
a maioria não é uma entidade fixa - ela muda a cada século.”86
8 | Fracasso: Em função desses tendões de Aquiles, que tem essa teoria, esses três gran-
des pontos fracos (i.e. estatística como práxis, suposição como fundamento, rejeição his-
tórica), a teoria do TM fracassou em encontrar defensores recentes. Nós não encontra-
mos artigos novos publicados em jornais acadêmicos que sejam revisados e criticados
por outros acadêmicos. Aí, nós percebemos que até mesmo o próprio desenvolvimento
da teoria perdeu o seu momento de ímpeto. Em 2008, com a morte de Hodges, percebe-
mos que até a própria sociedade do texto majoritário, cujo Pickering foi o primeiro a presi-
dente, deixa de existir as publicações, deixam de ser feitas até mesmo o centro de estudo
e preservação do texto majoritário de Paul Anderson. Parou de funcionar, e até onde
eu tenho notícias, parou de exercer suas funções. Com exceção de alguns defensores
no Brasil, ela não tem encontrado adeptos na academia. Pickering talvez seja o melhor
representante no Brasil. Tem outros defensores desse texto no Brasil, mas dificilmente,
eles encontram eco além dos leigos a quem eles ensinam. Sobre o TM, Carson diz que:
“Essa teoria está sendo apresentada na literatura popular a pastores e leigos em todos os
lugares, muitos dos quais nunca leram uma refutação no nível e que não estão equipados
para fazer o trabalho mais avançado que demonstra que a teoria é falsa.”87
A rejeição do texto crítico não é uma questão de liberalismo, não é uma questão de re-
jeição da inspiração, mas é na verdade, uma rejeição do princípio teológico fundamental
que define que a inspiração e o texto Bizantino de mãos dadas. Na verdade, homens
como Carson, que defende profundamente a autoridade das Escrituras e a inspiração,88
tem severas resistências a essa teoria. Em um de seus livros, ele vai apresentar uma de-
fesa moderna do texto bizantino e com as próprias respostas para eles.
86 Daniel B. 6,"",2-, “Textual Criticism of the New Testament,” ed. John D. Barry et al., FG-/d-NG+)/5$10-/]$"&$'2+#I (Bellingham, WA:
Lexham Press, 2016).
87 D. A. D,8)$(, FG-/Z$2C/[+)-*/\-#*$'2/]-1+&-7/8/T0-+/M'#/L-+0$*) (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1979), 42.
88 Considere os livros: FG-/924(#$2C/8(&G'#$&I/'M/BG#$*&$+2/!"#$&(#-*/-/!"#$%&(#-/+24/F#(&G dos quais D.A. Carson é editor.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Gordon Fee é outro defensor da autoridade das Escrituras e da inspiração dos textos
das Escrituras. Considerando a proposta de Hodges, Fee afirma
“Meu ponto é que até mesmo o chamado texto majoritário é um texto que evoluiu. Como a
evidência sobrevivente claramente indica, não existe nenhum exemplo completo desse tex-
to senão depois do século VIII, um ponto que Hodges cuidadosamente evita comentar (…)
Por fim, é importante dizer novamente que se a crítica textual moderna tem dificuldades em
explicar de modo preciso a origem do texto Bizantino, os problemas da explicação de Hod-
ges é ainda maior. Alguns de nós insistiríamos que ele parasse de falar em teorias e genera-
lidades e demonstrasse em números e exemplos substanciais a partir da própria evidência
disponível que sua teoria é também histórica. Nesse quesito nós também o convidamos a
parar de tratar a evidência de modo gentil e comece a tomá-la com a devida seriedade (…)
Eu estou apenas propondo que, se Hodges deseja derrubar Hort, ele precisa fazê-lo com
evidência de verdade, não com manuscritos hipotéticos que até o momento não existem”89
Quando você usa critérios que definem esse modo, você sempre tem a resposta que
você procura e é isso que nós encontramos no livro A Identidade do Novo Testamento,
de Pickering. Carson diz que:
“No final das contas, Pickering tenta forjar uma conexão necessária entre sua compreen-
são da crítica textual e uma visão elevada das Escrituras. Pickering é mais cuidadoso do
que a maioria nesse aspecto; mas as observações finais para seu segundo apêndice (no
7Q5) e todo o seu primeiro apêndice (“Inspiração e Preservação”), entregam esta perspec-
tiva no final. Mas, como em outros escritores, também em Pickering: a conexão é baseada
em afirmações sem evidências, em afirmações sem reflexão teológica séria.”91
89 Gordon G--, “Modern Textual Criticism and the Majority Text - A Rejoinder” Journal of Evangelical Theological Society 21/2 (June,
1978), 159-60.
90 Gordon G--, “The Majority Text and The Original Text of the NT” in Jay Eldon Epp and Gordon Fee, Studies in the Theory and Method
of New Testament Textual Criticism. (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1993), 207.
91 D. A. D,8)$(, The King James Version Debate: A Plea for Realism (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1979), 122.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Em outras palavras, Pickering está querendo dizer que até mesmo a reflexão teológica
que defende a associação entre inspiração e maioria, carece de reflexão teológica. Mas,
ainda assim, Carson continua:
“Devo apenas acrescentar que, mesmo que o tipo de texto bizantino fosse um dia de-
monstrado estar mais próximo dos autógrafos do que as outras tradições textuais (uma
eventualidade da qual, neste ponto, eu mal posso conceber), a crença em formulações tra-
dicionais da inspiração bíblica não seria afetada em nada. Concedido isso, os defensores
da tradição bizantina devem desistir de todas as declarações que sugiram ou impliquem
que os defensores de qualquer outra visão necessariamente arriscam uma visão hetero-
doxa da Escritura”92
Esse é o argumento principal usado pelos defensores do texto majoritário e que ganha
tamanha apelo com leigos, pastores e estudantes por aí. Se você tem uma visão eleva-
da das Escrituras, você deveria defender esse texto, que é o que nós encontramos em
todos esses livros citados entre os defensores, com a exceção de Maurice Robinson.
Seus textos realmente evitam isso. De uma maneira geral, esse é o grande problema da
teoria do texto majoritário. D.C Parker vai dizer o seguinte:
“Em suma, o problema fundamental com a teoria do Texto Majoritário não é que ela seja
historicamente errada, mas que é uma teoria pré-crítica que tenta usar ferramentas críti-
cas. Sempre será uma anomalia, uma teoria do passado para a qual seus adeptos estão
tentando encontrar um novo suporte.”93
Críticos textuais renomados como D.C Parker vão dizer que esse é um modelo suficien-
te e historicamente equivocado, embora muito conhecido, especialmente no Brasil.
Talvez, a melhor maneira de terminar essa aula seria relembrando as palavras de Benja-
min Warfield, um dos maiores e mais importantes defensores da inspiração, e um antigo
adepto da metodologia crítica na crítica textual:
“A questão toda é, no entanto, simplesmente uma questão de fato, e deve ser determinada
apenas pelas evidências, investigadas sob a orientação de bom senso reverente e since-
ro. A natureza do Novo Testamento como um livro divino, cada palavra do qual é preciosa,
nos pede que sejamos peculiarmente e até dolorosamente cuidadosos aqui: cuidadosos
para não intrometer nossas suposições grosseiras no texto, e cuidados para não deixar
nenhuma das suposições ou deslizes dos escribas nele”94
92 Idem, p.123.
93 D.C. Parker, An Introduction to the New Testament Manuscripts and Their Texts. (Cambridge: Cambridge University Press, 2008), 175.
94 Benjamin B. 6,8I#-"C, An Introduction to the Textual Criticism of the New Testament (London: Hodder and Stoughton, 1890), 208.
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Conclusão
Essa foi a nossa primeira aula sobre metodologia de crítica textual,
nessa aula nós estudamos um pouquinho sobre a história do texto
grego, nós vimos o Novum Instrumentum, o primeiro texto publicado,
nós vimos um pouquinho sobre o texto recebido e a teoria do texto
majoritário, e nós começamos então, nosso processo de investiga-
ção de como aquelas variantes textuais precisam ser processadas.
Aqui, tivemos uma aula grande e comprida, mas que mais uma vez,
cheia de informação para você. Até mais!
AULA 4 @institutoschaeffer
CRÍTICA
TEXTUAL
Aula 5
MARCELO BERTI
Sejam bem-vindos à última aula
de crítica textual oferecida pelo
Instituto Schaeffer de Teologia e
Cultura. Meu nome é Marcelo Berti
e hoje nós vamos estudar mais um
método da crítica textual do Novo
Testamento.
Na aula de hoje, vamos falar sobre mais um método da crítica
textual, conhecida como texto crítico. Eventualmente,
texto majoritário e texto crítico são colocados lado a lado
como duas opções distintas de crítica textual, sabendo-se
que existem ainda muitas outras, mas nesse curso, nós
vamos focar nessas duas apenas, pois no nosso contexto
brasileiro, em particular, essas são as duas teorias mais
conhecidas. A teoria do texto recebido não é propriamente
uma teoria de crítica textual, mas reflete uma decisão de
crítica textual sobre o texto do Novo Testamento, e nós
acabamos conversando sobre ela.
1 Tacitus, Cornelius. Annales (Latin). Edited by Charles Dennis Fisher. (Medford, MA: Perseus Digital Li-
brary, 1906), 15.44.
CRÍTICA TEXTUAL
Aula 5
I. Breve História do Texto Crítico
1 | O ponto de partida: A história do texto crítico, para surpresa de alguns, começa com
o texto recebido. Na verdade, o processo iniciado de publicar baseado em estudos de
manuscritos iniciado por Erasmo de Rotterdam, é o que vai levar ao desenvolvimento
do texto crítico. O autor do livro Um Guia de Estudo para a Crítica Textual Da Bíblia, Paul
D. Wegner diz o seguinte: “Quando Erasmus comparou manuscritos para escolher entre lei-
turas, ele usou alguns dos mesmos princípios, pelo menos na forma elementar, aqui foram
desenvolvidos por críticos do texto em anos posteriores.”2 A verdade é que esse processo
de voltar a olhar para o texto do Novo Testamento grego iniciado por Erasmo de Rotter-
dam, abriu portas para o estudo continuado de manuscritos, aquele interesse em voltar
a estudar as fontes da teologia, as fontes do texto grego do Novo Testamento, teve
uma grande guinada com a Reforma Protestante, e a partir de então, diversas vezes,
muitas pessoas passaram pelo processo de encontrar e estudar novos manuscritos,
oferecendo alternativas ao texto recebido impresso e conhecido por toda a Europa.
2 | Longo Processo: O texto crítico moderno, aquele que nós conhecemos hoje, inclu-
sive o impresso, na UBS, na quinta edição, é resultado de um longo processo. Nós não
vemos o texto crítico como uma teoria que vem sendo formada na tentativa de explicar
de alguma forma diferente o texto do Novo Testamento, muito pelo contrário, a teoria
crítica é desenvolvida com pequenos passos em direção da construção e melhoria,
inclusive, de um aprimoramento da teoria à medida que o tempo foi passando.
“Embora o NTG de Erasmo tenha sido uma contribuição marcante para o estudo do texto
grego do Novo Testamento, seu trabalho teve valor limitado para estabelecer a forma mais
2 Paul D. Wegner, A Student’s Guide to Textual Criticism of the Bible: Its History, Methods & Results (Downers Grove, IL: InterVarsity
Press, 2006), 210.
3 Bruce Metzger and Bart Ehrman, The Text of the New Testament: Its Transmission, Corruption and Restoration (New Yourk, NY:
Oxford, 2005), 149.
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CRÍTICA TEXTUAL
antiga do texto, uma vez que ele teve acesso a apenas alguns manuscritos tardios. Muitos
manuscritos anteriores do NT vieram à luz nos séculos após a publicação do Textus Re-
ceptus. A era moderna tem sido uma época de coleta e estudo de milhares de manuscritos,
observando suas semelhanças e variações.”4
B. John Fell (1675): Em 1675, John Fell, bispo de Oxford, publica a versão do
texto grego baseado na edição de 1636, mas ele adiciona pela primeira vez, um
aparato crítico comparando cerca de cem manuscritos. Inclusive, usando versões
e traduções antigas. O processo de procurar por variantes textuais, de estudar
manuscritos, ofereceu para esses homens a perspectiva de que existia um grande
manancial de evidências nos manuscritos da tradição conhecida até ali, que pode-
riam ser usados para se estudar o texto do Novo Testamento. Note que é o texto
de Elsevier, de 1633, que serve como base para o trabalho de John Fell.
“Um passo mais importante à frente foi dado no Testamento grego, publicado pela Ox-
ford University Press em 1675. Este elegante volume (cujo texto grego é principalmente
o de Elzevir 1633) foi supervisionado por John Fell [1625-86], Deão da Igreja de Cristo,
4 Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods
Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 119.
5 Frederic G. Kenyon, Handbook to the Textual Criticism of the New Testament (London; New York: Macmillan and Co., 1901), 233.
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CRÍTICA TEXTUAL
(...) Seu breve mas interessante Prefácio não só discute as causas de várias leituras,
e descreve os materiais usados para sua edição, mas toca naquele preconceito fraco
e ignorante que já havia sido levantado contra a coleta de tais variações no texto da
Escritura (...) Esta edição é mais valiosa pelo impulso que deu aos pesquisadores sub-
sequentes do que pela riqueza de seus próprios estoques de materiais novos, embora
seja declarado na página de título como derivado de mais de 100 mss. ‘O Bispo Fell
não dava grande valor ao testemunho patrístico, como vimos: o uso de versões que
ele claramente apresentou, mas daquelas então disponíveis, ele só apresenta o gótico
e copta revisado por Marshall: sua lista de manuscritos até agora intocada é muito
escassa. (...) No entanto, este pequeno volume (pois assim devemos considerá-lo) foi
o pai legítimo de uma das obras mais nobres em toda a extensão da literatura bíblica”6
C. John Mill (1707): Em 1707, nós temos a uma mudança de rota. John Mill, que
era professor da escola de Oxford, na Inglaterra, publica um texto grego com um
extenso aparato crítico. Aquele movimento começado anos antes por Brian Walton
e desenvolvido por John Fell, é elevado agora a um nível muito superior de análise
de variantes. John Mill faz uso de muitos manuscritos, versões e citações dos
pais da igreja. Ele identificou 31.000 leituras e 21.000 variantes textuais. Estabele-
ceu uma série de princípios entre os manuscritos para avaliação das diferenças
textuais, foi o primeiro a sugerir uma relação genealógica entre manuscritos, foi o
primeiro a sugerir que existia um processo de transmissão que manuscritos sendo
copiados, deixavam marcas históricas, e essas marcas históricas, poderiam ser
observadas através do seu estudo.
John Mill pode ser considerado, quem sabe, como o próprio fundador da crítica
textual moderna. O modo como ele trabalha, o modo como ele acumula evidên-
cias o modo como ele avalia as evidências, serve como um processo de desen-
volvimento que cresce na Europa e se desenvolve, especialmente, na pessoa de
Johann A. Bengel.
“Um gigantesco passo foi dado pelo NTG de John Mill de 1707, pois seu extenso apa-
rato abrangeu mais de 31.000 leituras e mais de 21.000 variantes textuais. O tamanho
desse grupo de variantes levantou questões perturbadoras sobre a validade do Textus
Receptus. Além disso, em seus prolegômenos e notas textuais, Mill enunciou vários
princípios críticos de texto importantes, incluindo o julgamento de que quanto mais
obscura uma leitura, mais autêntica, e ele implicava que possam existir relações genea-
lógicas entre os manuscritos. Por essas virtudes, Mill pode ser propriamente chamado-
6 Frederick Henry Ambrose Scrivener, A Plain Introduction to the Criticism of the New Testament, ed. Edward Miller, Fourth Edition.,
vol. 2 (London; New York; Cambridge: George Bell & Sons; Deighton Bell & Co., 1894), 199–200.
AULA 5 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
D. Johann Bengel (1725-1742): Bengel publicou uma série de livros que serviram
para modificar o entendimento da tradição do texto. Em 1325, ele publica sua pri-
meira versão do texto grego. Em 1734 ele publicou um texto grego seguindo o
Textus Receptus, mas ele adiciona um aparato crítico com avaliação das evidên-
cias. Em 1742, baseada no seu aparato crítico, ele desenvolve vinte e sete critéri-
os para avaliação das diferentes variantes. Coletando as variantes definidas por
Mills, um altíssimo número, ele precisava entender como se pode avaliar essas
diferenças, como se avaliam as variantes textuais. Ele foi o primeiro a classificar
os manuscritos de acordo com o seu texto. É ele que vai começar a demonstrar
como essa leitura de avaliação de evidências devem ser feitas, e aquela sugestão
de que os manuscritos poderiam ser agrupados a partir dos seus relacionamentos
genealógicos, foi então, colocado para funcionar em Bengel.
Outro detalhe interessante sobre o Novo Testamento de Bengel é que ele incluiu
no seu aparato crítico um sistema de avaliação dividido em cinco notas. Eles di-
vidiam entre A, B, C, D, E, entre as letras gregas evidentemente, para dizer isso, em
um modelo muito parecido com aquele que nós encontramos no aparato da UBS
5. Letra A, De acordo com ele, letras eram letras originais, para as quais ele tinha
completa certeza, Letra B, eram letras superiores ao texto recebido, mas ele não
tinha a mesma certeza. A letra C, o gama, seriam a leituras que seriam igualmente
boas ao do texto recebido. Letras D, menor, seriam inferiores. Letras E, seriam lei-
turas que precisariam ser rejeitadas. Esse processo de classificar a evidência con-
hecida e analisada, abriu portas para o funcionamento e o processo de funciona-
mento dos aparatos críticos em anos posteriores.
“Foi Bengel quem começou a prática de agrupar os manuscritos em famílias com base
em suas leituras. Ele também traçou critérios para avaliar leituras variantes, incluindo o
princípio de que a leitura mais difícil é mais provavelmente a original. Bengel, que impri-
miu o Textus Receptus, também foi o primeiro a indicar na margem uma classificação
das leituras variantes, com α indicando a leitura original, β indicando uma leitura que
era melhor do que a leitura no texto, γ uma leitura tão boa como a do texto, δ uma leitura
menos valiosa do que a do texto, e ε uma leitura sem valor. O trabalho de Bengel permitiu
que os estudiosos “pesassem” o valor dos manuscritos que apoiam uma determinada
leitura, em vez de simplesmente contá-los.”8
7 Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Doub-
leday, 1992), 6:428.
8 Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Doub-
leday, 1992), 6:428.
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CRÍTICA TEXTUAL
E. Johann Jakob Griesbach (1775): Foi em 1775 que Johann Jakob Griesbach in-
fluencia o processo de se produzir edições críticas do texto do Novo Testamento.
Boa parte da sua carreira, ele gastou coletando e cotejando manuscritos. Boa par-
te da sua carreira foi dedicada a conhecer manuscritos em diferentes regiões do
mundo, e ele colou esses manuscritos para identificar as suas diferenças. Ele deu
muita atenção aos pais da igreja, as versões que até então, eram pouco estudadas
como gótica, armênia e síria. Ele identifica três tipos de textos entre os manu-
scritos. Ele chama o texto de Orígenes, Ocidental e Constantipolitano. Embora os
nomes sejam diferentes, e aqui começamos a identificar o que anos mais tarde
vai ser chamado de texto Alexandrino, Ocidental e Bizantino. Embora os manu-
scritos não sejam exatamente os mesmos, o processo de identificar manuscritos
por grupos começou a ser utilizado por Griesbach. Ele propôs quinze cânons para
avaliação e estabeleceu o fundamento para trabalhos posteriores.
“Sua conclusão, baseada na evidência patrística e versional, de que a leitura mais curta
na oração do Pai Nosso em Lucas 11:3- 4 deveria ser preferida foi notavelmente confir-
mada alguns anos depois quando as leituras dos Códice Vaticano foram publicadas, pois
descobriu-se que todas as omissões eram suportadas por esse antigo manuscrito.”9
Muito interessante que o trabalho dele de sugerir o que poderia ter acontecido,
uma hipótese na ocasião, foi verificada pela existência da evidência material, con-
firmando que as suas suposições estavam então, corretas.
9 Bart Ehrman and Bruce Metzger, The Text of the New Testament: Its Transmission Corruption and Restoration. (New Yourk, NY:
Oxford, 2005), 167.
10 ERRATA: No vídeo o professor diz ‘bíblico’. O correto entretano é ‘crítitco.’
AULA 5 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
evidências eram distintas do texto recebido, e demonstrou que aquilo que parecia
ser o início da demonstração do que hoje nós chamamos de inferioridade do texto
recebido, mudando a direção do texto do estudo do Novo Testamento.
“A nova era começa com o nome de Karl Lachmann, que ilustra, não pela última vez, o
estímulo que pode ser dado à crítica bíblica pelo aparecimento na arena de um estu-
dioso formado em outros campo de estudos. Lachmann foi um grande erudito clássico
antes de voltar sua atenção para o texto do Novo Testamento; e, ao fazê-lo, aplicou-lhe
os princípios críticos que havia praticado ao editar os clássicos da literatura grega e
romana. Pela primeira vez na história da crítica do Novo Testamento, ele deixou de
lado a tradição recebida e começou a reconstituir o texto a partir das autoridades mais
antigas existentes. Sua primeira edição apareceu em 1831, desacompanhada de qual-
quer declaração das autoridades utilizadas ou dos princípios seguidos, exceto uma
breve nota afirmando que ele pretendia reproduzir o texto das mais antigas Igrejas
do Oriente, e onde havia dúvida sobre este assunto ele tinha preferido aquela leitura
que era apoiada pelas Igrejas italiana e africana, e que conseqüentemente ele havia
ignorado as evidências do Textus Receptus. Para obter mais informações, o leitor era
encaminhado a um artigo em um periódico alemão (Theologische Studien und Kritiken,
1830). A conseqüência natural dessa reticência foi que sua obra foi mal compreendi-
da, mesmo por aqueles que teriam mais probabilidade de simpatizar com ela. Quando,
entretanto, seu caráter passou a ser apreciado, ele foi instado a produzir outra edição
com uma declaração completa dos princípios seguidos e as autoridades consultadas
para a constituição do texto.”11
É no estudo do texto do Novo Testamento iniciado por Karl Lachmann, uma nova
metodologia. O texto pode ser impresso baseado na avaliação crítica das suas ev-
idências e não necessariamente na reprodução do texto recebido com uma adição
de um aparato crítico. Falando sobre ele, Westecott e Hort dizem o seguinte:
“Um novo período começou em 1831, quando pela primeira vez um texto foi construí-
do diretamente a partir dos documentos antigos sem intervenção de qualquer edição
impressa, quando a primeira tentativa sistemática foi feita para substituir o método
científico pela escolha arbitrária nas determinações de várias leituras. Em ambos os
aspectos, o editor, Lachmann, regozijou-se em declarar que estava cumprindo os prin-
cípios e intenções não realizadas de Bentley, conforme estabelecido em 1716 e 1720.”12
Por outro lado, embora o texto de Lachmann tenha ganhado apoio entre Weste-
cott e Hort, Scrivener é extremamente crítico do texto de Lachmann. Ele, como um
11 Frederic G. Kenyon, Handbook to the Textual Criticism of the New Testament (London; New York: Macmillan and Co., 1901), 244.
12 B. F. Westcott and F. J. A. Hort, Introduction to the New Testament in the Original Greek (New York: Harper and Brothers, 1882), 13.
AULA 5 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
grande crítico textual que era, volta para o texto e investiga o modo como as evi-
dências foram analisadas. A idéia de se produzir um texto baseado em princípios
críticos parece interessante, mas será que os princípios críticos teriam sido bem
utilizados por Lachmann, Scrivener parece sugerir que não. Ele disse o seguinte:
Scrivener foi muito crítico, e com precisão. Ele demonstrou que embora a ideia de
Lachmann pudesse ter alguma validade, o processo pelo qual ele usa as suas idéias
não foi. O seu texto não era, de maneira nenhuma, um texto superior. Na verdade, a
grande parte do seu texto era baseada em apenas poucos manuscritos.
O aparato crítico é usado ainda hoje por estudiosos modernos. O modo como ele
cataloga, o modo como ele explica e o modo como ele interpreta as evidências
descrita no seu aparato, ainda deixa acadêmicos de cabelo em pé. Se Tischendorf
não tivesse existido e produzido tanto quanto produziu, Scrivener teria sido um
grande crítico textual do passado. Constantine von Tischendorf merece um certo
destaque em função daquilo que ele produz, em termos de do estudo do texto do
Novo Testamento.
13 Frederick Henry Ambrose Scrivener, A Plain Introduction to the Criticism of the New Testament, ed. Edward Miller, Fourth Edition.
vol. 2 (London; New York; Cambridge: George Bell & Sons; Deighton Bell & Co., 1894), 232-33.
AULA 5 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
14 Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods
Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 120–121.
15 Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Dou-
bleday, 1992), 428.
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CRÍTICA TEXTUAL
Como aconteceu com Griesbach, que propôs alguns entendimentos do texto que
vieram a ser confirmados pela descoberta material posterior, Westcott e Hort, ti-
veram muitas de suas propostas validades pela descoberta dos papiros.
O que nós podemos dizer sobre o livro que eles produziram The New Testament in
the Original Greek? O que é que eles queriam dizer com esse título nessa obra?
16 Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods
Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 121.
17 Idem, Ibid.
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CRÍTICA TEXTUAL
Enquanto Lachmann e outros procuravam encontrar o texto com o seu estado nos dias de
Orígenes no quarto século, ou nos dias anteriores ao quarto século, Westecott e Hort tem
uma ideia um pouco mais ousada. Eles querem descobrir o original. A preocupação não é
somente com o texto manuscrito recebido pela igreja, eles querem encontrar o texto dos
apóstolos. Foi uma obra publicada em dois volumes, sem aparato crítico, no qual o segundo
volume, inclui uma introdução ao texto e um apêndice com princípios críticos utilizados.
1 | Genealogia: A grande contribuição dessa obra foi que eles organizaram os man-
uscritos de maneira genealógica. Aquilo que nós já vimos aparecer na história,
passa por um processo de refinamento à medida que os manuscritos são estuda-
dos, e agora, eles são organizados de maneira clara por um método de genealogia
apresentado nessa obra.
18 Frederic G. Kenyon, Handbook to the Textual Criticism of the New Testament (London; New York: Macmillan and Co., 1901),
250–251.
19 Michael Holmes, “Textual Criticism” in David Alan Black and David S. Dockery, Interpreting the New Testament: Essays on Methods
and Issues (Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 2001), 54.
AULA 5 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
2 | Os Tipos-Texto: Outro grande avanço que eles fazem é identificar nesse processo
de genealogia quatro diferentes tipos de grupos de texto que fazem parte da história
da transmissão. Eles disseram que existia um texto Neutro, um texto Alexandrino,
um texto Ocidental e um texto Sírio. Essa divisão, é provavelmente, a grande con-
tribuição dessa obra. De acordo com Eldon Jay Epp, eles fazem essa argumentação
de textos que se desenvolveram no início do cristianismo. Anteriormente, esses tex-
tos passaram a existir e foram multiplicados a partir dali, e é por isso que ele seriam
– pelo menos era assim que eles explicavam – o texto.
“Como eles editaram seu texto, entretanto, é mais importante do que sua afirmação
audaciosa [de voltar ao original]. Em suma, Westcott e Hort argumentaram que quatro
tipos de texto existiram ou se desenvolveram nos primeiros séculos do Cristianismo,
que eles chamaram de “Neutro”, “Alexandrino”, “Ocidental” e “Sírio”22
3 | Texto Neutro: Descrevendo o texto Neutro, eles diziam que ele era o mais antigo
e livre de contaminação, como a palavra neutro já sugere. Neutro, para eles, eram
os textos combinados do Sinaíticus do Vaticanus. Olhando para os grandes Unci-
ais recém descobertos, eles olham para aquele texto e diziam que a combinação
desses dois manuscritos é a evidência mais antiga que nós temos, e certamente,
aquela que tem menor contaminação. Nas palavras deles, eles diziam o seguinte:
20 B. F. Westcott and F. J. A. Hort, Introduction to the New Testament in the Original Greek (New York: Harper and Brothers, 1882), 57.
21 Benjamin B. Warfield, An Introduction to the Textual Criticism of the New Testament (London: Hodder and Stoughton, 1890), 141–142.
22 Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Dou-
bleday, 1992), 429.
AULA 5 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
Observe o modo como eles defendem o texto aqui. Qualquer leitura que concorde
entre o Sinaíticus e o Vaticanus, essa leitura deve ser a leitura original. Essa busca
por um texto neutro, mais antigo e com menos alterações, estava completamente
errado. Aland, Kurt e Barbara Aland escrevem em sua introdução do texto do Novo
Testamento:
4 | Texto Alexandrino: Defendendo os seus tipos textos, eles diziam que o tipo de
Texto Alexandrino era a versão polida do Neutro. Era uma tentativa de melhorar o
texto chamado de Neutro, encontrado no Sinaiticus e no Vaticanus.
23 B. F. Westcott and F. J. A. Hort, Introduction to the New Testament in the Original Greek (New York: Harper and Brothers, 1882), 225.
24 Aland, Kurt and Barbara Aland, The Text of the New Testament: An Introduction to the Critical Editions and to the Theory and
Practice of Modern Textual Criticism. (Grand Rapids, MI:Eerdmans, 1989), 14.
AULA 5 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
25 B. F. Westcott and F. J. A. Hort, Introduction to the New Testament in the Original Greek (New York: Harper and Brothers, 1882), 131.
26 Bart Ehrman and Bruce Metzger, The Text of the New Testament: Its Transmission Corruption and Restoration. (New Yourk, NY: Ox-
ford, 2005), 179.
27 Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods
Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 127.
AULA 5 @institutoschaeffer
CRÍTICA TEXTUAL
esse texto, o texto de Códice Bezae, como um texto que tinha amor a paráfrase.
Eles sabiam que o texto era inflado, continha explicações, e até mesmo, algumas
inserções no meio do caminho. Eles diziam o seguinte:
“De qualquer forma, quando todas as concessões foram feitas para possível licença indi-
vidual, o texto D [que é o Códice Bezae] apresenta uma imagem mais verdadeira em que
os Evangelhos e Atos foram mais lidos no terceiro e provavelmente uma grandearte do
segundo século.”28
A verdade é que essa definição que Westecott e Hort dão para o Texto Ocidental,
embora seja muito veemente, nós vamos observar que eles provavelmente tam-
bém estavam equivocados. O Códice Bezae, que tem a data no quinto século, é
um texto realmente muito maior, muito abrangente. O Texto Ocidental pode en-
contrar as suas raízes em tempos anteriores com certeza, mas não propriamente
no Códice Bezae como que quase uma descrição laudatória, vista em Westecott e
Hort. Na verdade, Anderson e Widder, novamente vão dizer:
“O Codex Bezae (D 05) data do século V e contém a maioria dos Evangelhos, Atos e um
fragmento de 3 João. (…) o texto de Bezae foi muito estudado porque se afasta do texto
“normal” do Novo Testamento mais do que outros manuscritos, e é o principal represen-
tante grego do grupo textual ocidental. O texto de Atos é quase um décimo mais longo
do que o texto encontrado em NA28.O texto de Atos é quase um décimo mais longo que
o texto encontrado em NA28.”29
É um texto tão expandido que ele chega a ser 10% maior em Atos do que o texto
que nós encontramos nas nossas edições hoje em dia. “Nenhum manuscrito co-
nhecido tem tantas e tão notáveis variações do que geralmente é considerado o texto
normal do Novo Testamento. A característica especial do Códice Bezae é a adição livre
(e omissão ocasional) de palavras, frases e até mesmo incidentes.”30
28 B. F. Westcott and F. J. A. Hort, Introduction to the New Testament in the Original Greek (New York: Harper and Brothers, 1882), 149.
29 Amy Anderson and Wendy Widder, Textual Criticism of the Bible, ed. Douglas Mangum, Revised Edition., vol. 1, Lexham Methods
Series (Bellingham, WA: Lexham Press, 2018), 134–135.
30 Bart Ehrman and Bruce Metzger, The Text of the New Testament: Its Transmission Corruption and Restoration. (New Yourk, NY:
Oxford, 2005), 71.
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6 | Texto Bizantino: Eles diziam que era tardio e secundário e eles demonstram
isso de várias formas. Uma das maneiras que eles demonstram o fato de que o
texto é secundário são as conflações. As leituras que pegam duas versões difer-
entes e antigas e fazem uma só. Uma diz “Cristo” a outra diz “Senhor”, esse tipo
de exercício que demonstra que o Texto Sírio era tardio.Nas palavras de Jay Epp:
O argumento de Epp diz que não existiam leituras Bizantinas anteriores ao quarto
século, quem sabe antes de 350. Nas próprias palavras dos autores, eles dizem:
“O texto sírio deve, de fato, ser o resultado de uma ‘recensão’ no sentido próprio da pa-
lavra, obra de tentativa de crítica, realizada deliberadamente por editores e não apenas
por escribas.”32
Eles entendiam que o Texto Sírio tinha sido editado para descrever em um pro-
cesso de recensão, para fazer aquilo que, provavelmente, Vacontece com Jerôn-
imo, quando ele produz a Vulgata e compila uma edição oficial do Texto Latino.
Westcott e Hort estavam convencidos de que no Texto Sírio, esse processo tinha
acontecido. Aliás, eles estavam convencidos de que isso tinha acontecido pelo
menos duas vezes. A medida que o texto crescia em sua diversidade, eles passam
por um processo de fazer uma recensão na Siríaca, e depois, eles passam por uma
segunda recensão de um processo que vai terminar por volta de 350, e que vai dar
o formato do Texto Sírio, conhecido como Bizantino nos nossos dias, atribuindo
isso a Luciano de Antioquia.33 Luciano seria então, o responsável por realizar essa
recensão do Texto Bizantino, o Texto Sírio como eles usavam.
“As qualidades que os autores do texto sírio parecem ter mais desejado impressionar
são lucidez e integridade. Eles estavam evidentemente ansiosos para remover todos os
obstáculos do caminho do leitor comum, na medida em que isso pudesse ser feito sem
recurso a medidas violentas. Eles estavam aparentemente igualmente desejosos de
que ele tivesse o benefício do material instrutivo contido em todos os textos existentes,
desde que não confundisse o contexto ou introduzisse aparentes contradições. Con-
seqüentemente, novas omissões são raras e, onde ocorrem, geralmente contribuem
para a aparente simplicidade. Por outro lado, novas interpolações são abundantes, a
31 Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Dou-
bleday, 1992), 429.
32 B. F. Westcott and F. J. A. Hort, Introduction to the New Testament in the Original Greek (New York: Harper and Brothers, 1882), 133.
33 ERRATA: O Professor equivocadamente diz “Luciano de Samosata”.
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Esse é o ponto que todos os defensores do texto majoritário demonstram ser com-
pletamente equivocados na teoria de Westecott e Hort. Essa teoria também já foi
completamente abandonada, até mesmo por defensores do texto crítico. Klaus
Wachtel, que trabalha no Instituto de Estudos dos Textos do Novo Testamento, diz
o seguinte: “A noção de uma antiga recensão feita por Luciano originando assim ao
texto imperial Bizantino já foi amplamente abandonada.”35
O que eles estão dizendo é que, a partir dessa reconstrução da história da trans-
missão do texto, essa história proposta por eles, eles teriam identificado como que
o Novo Testamento teria chegado até eles, e como nós poderíamos chegar até o
texto do Novo Testamento.
34 B. F. Westcott and F. J. A. Hort, Introduction to the New Testament in the Original Greek (New York: Harper and Brothers, 1882), 134-35.
35 Klaus Wachtel, “The Byzantine Text of the Gospels: Recension or Process?” (SBL Presentation, 2009 - material não publicado).
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Autógrafo
Alexandrino Neutro
Sirio
Textus Receptus
“O resultado de todas essas deduções é deixar B quase sozinho; e Hort não se esquiva
dessa conclusão. É melhor, sem dúvida, ter o apoio de outras testemunhas antigas e con-
fiáveis. A combinação אB, em particular, é muito forte, uma vez que os dois MSS. são sufi-
cientemente semelhantes para mostrar que descendem de um ancestral comum e, ainda
assim, suficientemente diferentes para mostrar que esse ancestral comum deve estar a
uma distância considerável deles e, conseqüentemente, não muito longe dos próprios
autógrafos. Mas a superioridade de B é tal que nenhuma leitura atestada por ela (óbvios
deslizes da caneta, é claro, exceto) pode ser ignorada com segurança sem a mais cuida-
dosa atenção; e, na maioria dos casos, suas provas devem ser consideradas decisivas.”36
“Um importante resultado do esquema de Westcott e Hort e do texto que ele produziu
foi a destruição completa do Textus Receptus - um equivalente geral de seu texto sírio.
Embora Lachmann, Tischendorf, Tregelles e outros tenham deslocado o Textus Recep-
tus ao afirmar a autoridade lógica das testemunhas mais antigas, foram Westcott e
Hort que forneceram uma demonstração impressionante e consistente de como e por
que este texto posterior mais completo se desenvolveu a partir do mais antigo - sua
explicação vagamente genealógica do processo de fusão patentemente observável.
Desta e de outras maneiras, Westcott e Hort prepararam o cenário para a agenda do
século 20 na crítica textual do NT.”37
36 Frederic G. Kenyon, Handbook to the Textual Criticism of the New Testament (London; New York: Macmillan and Co., 1901), 260.
37 Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Dou-
bleday, 1992), 429.
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O que Wegner está dizendo com isso, que não somente o Westecott e Hort erraram
em propor quatro tipos textos como propuseram, como a própria reconstrução que
eles ofereceram da história da transmissão do texto estava provavelmente errada.
Westecott e Hort, embora tenham feito um excelente trabalho em compilar evi-
dências e escrever um texto, eles não foram suficientes para descrever, não foram
bem sucedidos em basicamente nenhuma das defesas do seu processo.
“Todo método de crítica textual corresponde a alguma classe de fatos textuais: a melhor
crítica é aquela que leva em conta toda classe de fatos textuais e atribui a cada método
seu uso e classificação apropriados. Os princípios básicos da crítica textual são idêntic-
os para todos os escritos. As diferenças na aplicação surgem apenas de diferenças na
quantidade, variedade e qualidade das evidências: nenhum método é inaplicável, exceto
pela falta de evidências. Os fatos mais óbvios naturalmente atraem a atenção primeiro;
e é apenas em um estágio posterior de estudo que qualquer um provavelmente com-
preenderá espontaneamente aqueles fatos mais fundamentais a partir dos quais a crítica
textual deve começar se quiser alcançar uma certeza comparativa.”39
Embora esse método tenha sido refinado a partir de vários processos de outros
homens que também passaram pelo processo de conhecer manuscritos, estu-
38 Paul D. Wegner, A Student’s Guide to Textual Criticism of the Bible: Its History, Methods & Results (Downers Grove, IL: InterVarsity
Press, 2006), 219.
39 B. F. Westcott and F. J. A. Hort, Introduction to the New Testament in the Original Greek (New York: Harper and Brothers, 1882), 19.
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dar manuscritos além do surgimento dos papiros e do estudos dos papiros, nós
percebemos que o método que eles ofereceram baseado na análise externa, o
manuscrito e o seu documento, e interna, da sua transcrição e da sua relação
com o texto, mudaram o modo como a crítica textual era feita. Foi essa a grande
contribuição de Westcott e Hort, a teoria de modo geral, não mais um método
definido de como a teoria deve ser construída e de como as variantes devem ser
analisadas, mudou completamente o modo como se faz crítica textual. Esse é o
princípio fundamental que ainda hoje, está por trás do ecleticismo racional, ou a
teoria que está por trás do texto crítico nos nossos dias.
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40 Eldon Jay Epp, “Textual Criticism: New Testament,” ed. David Noel Freedman, The Anchor Yale Bible Dictionary (New York: Dou-
bleday, 1992), 432–433.
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Se você observar o texto de Arthur Farstad e Zane Hodges,42 ele vai modificar a
teoria do texto Bizantino incluindo uma análise intrínseca, interna. Se você ler com
atenção o texto de Pickering, você vai perceber que ele sequer menciona isso. A
razão pela qual ele não menciona, é que ele entende que esses textos são subje-
tivos, esses critérios são subjetivos. A verdade é que toda a teoria do texto ma-
joritário é fundamentado em critérios subjetivos que associam inspiração ao texto
da maioria. Seja como for, o texto crítico dos nossos dias entende que esses dois
elementos são importantes e diferentes defensores do texto crítico, terão difer-
entes inclinações.
Quando você observa o texto da UBS, você vê que os autores daquele aparato
dão forte atenção para a evidência externa quando listam no seu aparato o modo
como eles estão sendo catalogados. Nós não temos ali, uma clara identificação
de como os processos internos foram realizados. Por isso, o livro e comentário do
Roger Omason é tão importante. Nós vemos como as evidências internas fazem
parte do processo. Essa parte que nós vemos neste segundo livro, é fundamental-
mente importante porque nós começamos a perceber que a crítica textual não é
feita exclusivamente da contagem e da análise dos manuscritos. Nós precisamos
parar para entender as próprias evidências. Como é que essa leitura se encaixa
com a tradição? Como é que essa leitura se encaixa com a transmissão do texto?
Como que essa leitura favorece ou desfavorece ao estilo do autor? Como que essa
leitura explica a origem das demais? E assim por diante.
O texto crítico usa essa análise interna e externa dos manuscritos de uma manei-
41 Daniel B. Wallace, “Textual Criticism of the New Testament,” ed. John D. Barry et al., The Lexham Bible Dictionary (Bellingham, WA:
Lexham Press, 2016).
42 ERRATA: O Professor fala Maurice Robinson, mas ele estava errado.
43 Daniel B. Wallace, “Textual Criticism of the New Testament,” ed. John D. Barry et al., The Lexham Bible Dictionary (Bellingham, WA:
Lexham Press, 2016).
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2 | Avaliação histórica das evidências: Nós temos que explicar a história da trans-
missão do texto, nós temos que explicar o texto como ele chega até nós, temos
que contar a história das variantes, temos que conhecer esse processo, nós não
queremos dissociar o texto, as variantes, da sua própria história.
“Uma das mais importantes orientações que governa todas as outras considerações é
esta: a variante com a maior chance de ser original é aquela que melhor explica a exis-
tência das outras variantes (…) É importante enfatizar que a expressão “melhor explica”
é aqui definida em termos tanto da consideração externa como interna, por que o prer-
requisito para se chegar a uma conclusão a respeito de uma variante é a reconstrução
de sua história.”44
3 | O método do texto crítico tem basicamente três passos. Como nós já vimos,
nós vamos realizar a coleta e organização das evidências, vamos avaliar os signifi-
cados e as implicações destas evidências baseados em considerações internas e
externas, e vamos construir a história da transmissão do texto.
“A crítica textual, a arte e a ciência que busca reconstruir o texto original de um do-
cumento, é necessária nas cartas paulinas porque os autógrafos morreram e as có-
pias existentes diferem umas das outras. Envolve três tarefas principais: (1) reunir e
organizar as evidências; (2) desenvolver uma metodologia pela qual avaliar e avaliar
a significância e as implicações das evidências, a fim de determinar qual das leituras
variantes mais provavelmente representa o texto original; e (3) reconstruir a história da
transmissão do texto, na medida permitida pelas evidências remanescentes. Além dis-
so, dá uma contribuição para as questões da formação do corpus paulino (ver Cânon)
e da integridade das cartas.”45
44 Michael Holmes, “New Testament Textual Criticism” in McKnight, Scot ed., Introducing New Testament Interpretation (Grand Ra-
pids, MI:Baker Books 1989), 56.
45 Michael W. Holmes, “Textual Criticism,” ed. Gerald F. Hawthorne, Ralph P. Martin, and Daniel G. Reid, Dictionary of Paul and His
Letters (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1993), 927.
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Esse é o processo de como a crítica textual é feita nos nossos dias. De acordo com
Daniel Wallace,
“A variante textual que tem maior reivindicação de autenticidade será encontrada nas
testemunhas mais antigas, melhores mais espalhadas geograficamente. Ela se encaix-
ará no contexto e no estilo do autor e será a fonte óbvia das leituras rivais. [as leituras
variantes podem ser claramente atribuídas às mudanças feitas na cópia do texto mais
autêntico].”46
46 Daniel B. Wallace, “Textual Criticism of the New Testament,” ed. John D. Barry et al., The Lexham Bible Dictionary (Bellingham, WA:
Lexham Press, 2016).
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Conclusão
Essa é a teoria e a história do texto crítico, esse é o modo como a
teoria funciona. Nesse curso, nós vimos os porquês, estudamos os
motivos de se estudar a crítica textual, nós conhecemos os mate-
riais da crítica textual, e nós iniciamos uma conversa sobre o mé-
todo, sobre como a crítica textual funciona. Agora, nós abrimos um
espaço para que você, estudante da Escritura, possa desfrutar das
ferramentas disponíveis.
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