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por
Solano Portela
Introdução
O Que é Calvinismo?
Alguns podem pensar que vamos lidar com “Os Cinco Pecados do
Calvinismo”. Apesar dessa idéia possivelmente trazer entusiástica
reação de aprovação da parte de certos setores da igreja, quero
esclarecer que não estaremos tratando dos “Pecados do Calvinismo”
nem iremos escrever contra o calvinismo. Nossa preocupação é com os
pecados que ameaçam os calvinistas. Esses, vale esclarecer, não são
pecados que caracterizam os calvinistas. Eles podem ser encontrados
em muitos campos de persuasão cristã e, nesse sentido, o alerta é
generalizado. Nossa preocupação é, entretanto, a de que os calvinistas
não se considerem imunes a esses perigos pois os pecados que vamos
mencionar também representam séria ameaça ao seu testemunho como
cristãos eficazes na Igreja de Deus.
O Intelectualismo Estéril
Vou citar o que me disse um grande amigo meu, e não gostaria que
entendesse que eu o estou acusando de orgulho espiritual. Faço a
citação apenas como exemplo de como devemos nos guardar, porque
às vezes imperceptivelmente, estamos nos colocando, como calvinistas,
numa casta especial de iluminados, cujo resultado será o
desenvolvimento desse tão perigoso orgulho espiritual do qual
devemos fugir. Após haver lido extensivamente vários trabalhos sobre
justificação e de ter ouvido uma brilhante exposição desta doutrina,
dentro da perspectiva bíblica/reformada, ele me disse: “Estou
impressionado e chegando à conclusão de que ninguém sabe na
realidade o que é a justificação…” Continuando, disse: “o nosso povo
não tem a mínima idéia do que significa ser justificado.”
Notem que essas palavras foram ditas não com orgulho, mas com
humildade e profunda admiração pelo trabalho de Cristo, mas quero
chamar atenção para o fato de que essa apreensão doutrinária, e até
essa apreciação das doutrinas da graça, traz em si a semente latente e
destruidora que pode germinar, sem muito esforço, em orgulho
espiritual. Minha resposta, na ocasião, foi: “Sabem, meu irmão, elas
sabem sim. Se uma pessoa foi realmente resgatada pelo precioso
sangue de Cristo ela sabe experimentalmente o que é justificação”.
Temos que nos mirar no exemplo do cego curado por Jesus, em João 9.
Ele não sabia muitas coisas. Havia discernido autoridade, nas palavras
de Jesus, por isso fez o que ele mandou e o classificou como “profeta”
(v. 17). Não sabia, entretanto, a razão da sua cura. Não sabia a
procedência ou o destino do soberano que o curara (Vs. 12 e 25). Além
do lodo com o qual havia sido untado, não sabia, obviamente, explicar
como fora curado (vs. 11 e 27). Uma coisa porém ele sabia e isso lhe era
suficiente naquela ocasião: “uma cousa sei, eu era cego e agora vejo”.
Por que podemos ter comunhão genuína com aqueles que não são
calvinistas? Porque se verdadeiramente salvos, somos irmãos, filhos do
mesmo Deus soberano. Porque apesar das inconsistências verificadas
nas suas formulações teológicas, por mais que digam que a salvação
foi fruto do pretenso “livre arbítrio” do homem; por mais que, em seus
discursos, venham a inferir uma subordinação das ações de Deus a
este “livre arbítrio”, quando se põem de joelhos e oram, oram a um
Deus soberano que tudo pode, a um Deus que é tudo e oram a ele
reconhecendo que nada são.
Incoerências Humanas
Temos que reconhecer que nós mesmos, como seres humanos falíveis,
nunca somos totalmente coerentes com nossas premissas. Querem um
exemplo? Sabemos da importância do Dia do Senhor, do domingo.
Temos a convicção que neste dia devemos nos reunir e adorarmos o
nosso Deus. A maioria de nós, aqui, nunca pensaria esquecer o nosso
culto dominical para nos envolvermos em, vamos dizer, uma partida
de futebol. Entretanto muitos de nós torcemos bastante por este ou
aquele clube de futebol. Secretamente apoiamos tanto o divertimento
quanto o ganha-pão naquele dia, ou pelo menos fechamos os olhos e
estabelecemos um duplo padrão de comportamento: um para nós e
para os nossos filhos e outro, desculpável, para aqueles por quem nós
torcemos. Chegamos até a inventar uma categoria de cristãos, “os
atletas de Cristo”, que sacramentaliza, cristianiza e justifica a atividade
no domingo. Isto é: peça a nossa opinião e condenaremos o esporte
dominical. Observe a nossa prática e condescendência e verificará uma
aceitação tácita dos esportes praticados no Dia do Senhor. O que é
isso? Incoerência humana, para sermos bem gentis, e Deus nos
agüenta!
O apóstolo Pedro, escrevendo em sua primeira carta (1.22 e 23) nos fala
do amor cristão que aniquila o orgulho. Neste trecho lemos: Tendo
purificado as vossas almas, pela vossa obediência à verdade, tendo em
vista o amor fraternal não fingido, amai-vos de coração uns aos outros,
ardentemente, pois fostes regenerados, não de semente corruptível,
mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é
permanente.
A base deste amor é a regeneração comum (v. 23) que todos os cristãos
têm em Cristo Jesus. Ele é também o nossos exemplo, pois no verso 17
lemos que ele julga “sem acepção de pessoas”, isto é, com equidade de
tratamento. O amor comissionado no versículo 22 possui três
características:
· É questão de obediência (“obediência à verdade”),
· Tem que ser sincero (“não fingido”) e
· Tem que ser intenso (“ardentemente”)
Tendo sido regenerados pelo Deus vivo e pela Palavra viva, de nada
podemos nos orgulhar, nem mesmo da nossa compreensão de Deus e
de Sua majestade, pois só dele procede a iluminação para o
entendimento das verdades espirituais e ele deseja que sejamos
caridosos e pacientes na instrução da Sua Palavra. Que Ele nos livre do
pecado do orgulho espiritual.
O Pós-modernismo e a Tolerância
1. Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por intermédio de homem
algum, mas sim por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os
mortos),
2. e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia:
3. Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo,
4. o qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente
século mau, segundo a vontade de nosso Deus e Pai,
5. a quem seja a glória para todo o sempre. Amém.
6. Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos
chamou na graça de Cristo, para outro evangelho,
7. o qual não é outro; senão que há alguns que vos perturbam e querem
perverter o evangelho de Cristo.
8. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro
evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema.
9. Como antes temos dito, assim agora novamente o digo: Se alguém vos
pregar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema.
10. Porventura procuro eu agora o favor de homens, ou o de Deus? Ou
procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de
Cristo.
Nos versículos 1 a 5, Paulo fez a sua apresentação, indicando a sua
autoridade apostólica, demonstrando que ela vem de Deus e não de
homens. A carta foi primariamente dirigida à Igreja da Galácia, mas
teve ampla circulação entre as demais igrejas. Paulo dá glória a Deus e
indica que Jesus Cristo se deu por nós para nos livrar das maldades
desta era, passando a tratar de um problema que estava surgindo
naquela igreja: a aceitação de um evangelho adulterado.
Para que não pairasse qualquer dúvida sobre o seu zelo, sobre sua
posição, ele repete mais uma vez as mesmas palavras, no versículo 9.
Não quer ser mal-entendido, não quer deixar "passar em branco", não
quer parecer precipitado - é um pensamento depurado e destilado sob
o fogo do zelo e sob o direcionamento sobrenatural do Espírito Santo.
Podemos negligenciar o aviso contido e pensar que Paulo se referia
somente à sua situação específica. Afinal, não temos mais judaizantes
em nosso meio! Muitos de nós chegam a fazer, corretamente, a
aplicação destas palavras à pregação da Igreja Católica Romana, com
suas adições e condições anexadas à Graça salvadora de Cristo. Isto
não basta, temos que analisar o que está acontecendo no campo
chamado "evangélico". Tristemente iremos, em muitas ocasiões,
encontrar a proclamação de "outro" evangelho.
A Tolerância de Cristo
Os Alertas de Provérbios
Com certeza, não podemos nunca deixar que este pecado encontre
guarida em nossa vida e nem que venhamos a nos acomodar sem
meditação e sem estudo e conhecimento das verdades de Deus.
3. Visto como pelo seu divino poder nos têm sido doadas todas as coisas que
conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos
chamou para a sua própria glória e virtude,
4. pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas,
para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-
vos da corrupção, das paixões que há no mundo.
5. Por isso mesmo vós, reunindo toda vossa diligência, associai com a vossa fé,
a virtude; com a virtude, o conhecimento;
6. com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a
perseverança; com a perseverança, a piedade;
7. com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor.
8. Porque, estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que
não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso
Senhor Jesus Cristo.
9. Pois aquele a quem estas coisas não estão presentes é cego, vendo só o que
está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora.
10. Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior confirmar a
vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em
tempo algum.
11. Pois, desta maneira, é que vos será amplamente suprida a entrada no reino
eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Essa questão é tão importante para Pedro que ele, sob a divina
inspiração do Espírito Santo, repete a admoestação, no verso 10,
quando indica que devemos procurar, “com diligência cada vez
maior” a confirmação da nossa vocação e eleição através da prática do
conhecimento de Deus, que vem pela dedicação ao continuado
aprendizado e pela conseqüente vida santa, que Ele requer de cada um
de nós. Que Deus nos livre do pecado da acomodação no aprendizado
de Suas verdades.
5. O pecado do isolamento
A Abordagem do Antiquário
Jesus diz que aquelas pessoas pagavam tributo à memória dos profetas
e líderes religiosos do passado. Eles prezavam tanto a história, que
cuidavam e enfeitavam os sepulcros. Proclamavam a todos que os
profetas eram homens bons e nobres e atacavam quem havia rejeitado
os profetas. Diziam eles: “se estivéssemos lá, se vivêssemos naquela
época, não teríamos feito isso!” Mas Jesus não se impressiona e os
chama de hipócritas! A argumentação de Jesus é a seguinte: Se vocês se
dizem admiradores dos profetas, como é que estão contra aqueles que
representam os profetas e proclamam a mesma mensagem que eles
proclamaram? Ele testa a sinceridade deles pondo a descoberto a
atitude no presente para com aqueles que hoje pregam a mensagem de
Deus e mostra que eles próprios seriam perseguidores e assassinos dos
proclamadores da mensagem dos profetas.
O Nosso Teste
Esse é também o nosso teste: uma coisa é olhar para trás e louvar
homens famosos, mas isso pode ser pura hipocrisia se não aceitamos,
no presente, aqueles que pregam a mensagem de Lutero e de Calvino.
Somos mesmo admiradores da Reforma, daqueles grandes profetas de
Deus? Se não aplicamos na vida prática as doutrinas reformadas o
nosso interesse é apenas o de antiquários. Estamos promovendo e
encorajando o pecado do isolamento, com esse tipo de visão da
história?
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(4) Kenneth Scott Latourette, A History of Christianity (N. York: Harper & Row,
1953, 1975) pp. 26, 114, 123, 124.
(5) Ian Hamilton, palestra: “O Propósito que Governa o Culto Reformado”, no
VI Simpósio do Projeto Os Puritanos, Águas de Lindóia, 6-13 de junho de 1997.
(12) D. M. Lloyd-Jones, Rememorando a Reforma (S. Paulo: PES, 1994) pp. 2-5.
Este livreto foi publicado no site da 1a. Igreja Presbiteriana do Recife contendo
uma versão preliminar publicada na revista "Os Puritanos". A versão publicada
aqui é a completa. Este texto completo foi publicado pela Editora PES e pode ser
adquirido através do site da editora http://www.editorapes.com.br
Fonte: http://www.solanoportela.net/