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Resenha
Dario de Araujo Cardoso*
* Doutor em Semiótica e Linguística Geral pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Hu-
manas da Universidade de São Paulo, Mestre em Teologia e Exegese pelo CPAJ, Mestre em Ciências
da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professor assistente de Teologia Pastoral no
CPAJ.
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de Deus. Por meio dela, Deus não apenas anuncia, mas realmente produz a
vida da igreja. Destaca, no entanto, que a pregação da palavra não se resumia
ao sermão, mas estava presente em todo o culto por meio das leituras, orações
e cânticos. No pensamento de Calvino, as bênçãos comunicadas pela palavra
eram distribuídas pelos sacramentos. Eles são, portanto, um ato primariamente
de Deus e não dos homens. Através do batismo, Deus confirma que nos fez
participantes da morte e da ressurreição de Cristo. Na Ceia do Senhor, Cristo
se faz presente dando-se a si mesmo com todos os seus benefícios. Por fim,
Horton demonstra que os benefícios espirituais da piedade cristã são experi-
mentados na vida comunitária.
Diante disso, o culto público é o tema do capítulo 8 – O culto público como
um “teatro celestial” da graça. Para Calvino, no culto público a igreja militante
e a igreja triunfante se reúnem para apreciar as obras de Deus e compartilhar
as dádivas que recebemos dele. Em seguida, Horton faz uma descrição do
pensamento do Calvino acerca do uso das artes visuais e da música no culto.
Em ambos, a principal preocupação de Calvino era que o foco do crente não
fosse desviado da verdadeira adoração a Deus.
O capítulo 9 – Aceso com ousadia: oração como “o exercício principal
da fé” – tem a oração como foco. Aqui é mostrado que a oração é tanto um
exercício público quanto particular e que essas esferas não devem ser separa-
das. A oração é descrita como o primeira e principal parta de piedade. Todas
as demais ações piedosas derivam de invocar o nome do Senhor. Para Calvi-
no, a oração precisa ser cheia de emoção e de confiança no Senhor e deve ser
reconhecida como o meio pelo qual Deus realiza os seus propósitos e mostra
sua generosidade para conosco.
Lei e liberdade na vida cristã é o título do capítulo 10. Aqui o problema
da relação entre lei e evangelho é tratado sob a perspectiva dos três usos da lei
propostos por Melanchton e adotados por Calvino. Dessa forma, a salvação
somente pela graça e por meio da fé não entra em conflito com uma vida de
santidade movida pela gratidão e orientada pelos mandamentos da Palavra
de Deus.
No capítulo 11 – A nova sociedade de Deus – o tema é a igreja. Para os
reformadores, o que caracteriza a igreja não é o seu vínculo institucional, nem
a santidade dos seus membros (afirmação que à primeira vista nos surpreende),
mas o evangelho que, como foi visto no capítulo 7, é a manifestação visível
de Deus na palavra pregada e nos sacramentos. Horton mostra que na visão de
Calvino a verdadeira igreja é aquela que está transformando e não afastando
pecadores. Para Calvino, a disciplina não era uma marca da igreja, mas uma
aplicação da palavra e dos sacramentos promovida por pastores e presbíteros.
Discussão polêmica que vale a pena ler. Nela encontra-se também uma palavra
aos contemporâneos desigrejados. O capítulo traz uma boa apresentação do
pensamento do Calvino sobre generosidade e hospitalidade dos crentes, unidade
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confortável. A nota negativa fica para a capa escura que dá um tom soturno
(fruto de um estereótipo) que destoa da perspectiva ampla e luminosa que a
obra apresenta sobre a piedade de Calvino. Expressamos nossos cumprimentos
à Editora Cultura Cristã pela iniciativa e nossa expectativa pela publicação de
outras obras na série Teólogos e a Vida Cristã.
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