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Faculdade Batista do Rio de Janeiro

Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil

ÉTICA

Rio de Janeiro / RJ
Módulo I
O Evangelho e as Boas Obras
Filipenses 1: 3-11 como um Guia de Ética Bíblica

Lição 1

Após esta seção, você deve ser capaz de:


• Descrever a ênfase de Paulo sobre o caráter moral
• Identificar os componentes éticos de Fil 1: 3-11
• Discernir a influência da identidade

Introdução
Ao início da nossa introdução à ética evangélica, queremos nos concentrar na palavra,
"evangélica."
•O chamado cristão para salvação é um chamado para viver diante de Deus e entre
os outros à luz do que Deus tem feito para o Seu povo na história da salvação.
•O que significa este chamado cristão para viver uma vida ética à luz da ênfase bíblica
sobre tudo que Deus tem feito e tudo que Ele tem prometido fazer em Jesus Cristo
por Seu povo?

Filipenses 1.3–11 (NAA) esta passagem é um indicador sobre a direção do nosso estudo de
ética cristã.

1. Que o Amor seja abundante:


a. A oração do Paulo é que o amor dos cristãos na cidade de Filipos deveria ser
abundante.
b. Paulo está orando por uma transformação moral nos cristãos desta igreja, um
comportamento moral que seja transformado cada vez mais diante de Deus e entre
uns aos outros.

2. A Exigência de Conhecimento e Discernimento:


a. Observe a crença de Paulo de que essa transformação ocorre por meio do que ele
chama de conhecimento e toda percepção.
b. Há um paralelo bíblico nesta ideia em que Paulo falará em Romanos 12.2.

3. A Compreensão Intelectual é Insuficiente Em Si


a. A compreensão intelectual é insuficiente em si
b. É necessário ter um grau de compreensão intelectual, ao mesmo tempo que existem
outros fatores que atuam concomitantemente na vida de um cristã. Entre eles são:
i. Vida de oração
ii. Paixão (desejos renovados)
iii. Graça
iv. Ajuda comunitária
v. Formação Discipular
c. É possível que a compreensão intelectual não seja o suficiente em si para uma vida
boa, integra e ética, mas certamente é um componente necessário a fim de que tenha
um certo grau de compreensão ética, segundo Paulo.

4. As Marcas da Moralidade nas Orações de Paulo:


a. Paulo percebeu que a única maneira pela qual os requisitos da lei poderiam ser
atendidos era através de uma união vital com a ética .Ele usa frases como: “que
começou boa obra em vocês” e “participantes da graça comigo”.
b. Os escritos de Paulo foram contextuais, projetados para abordar situações concretas.

5. A Mentalidade Eterna de Paulo:


a. As orações de Paulo se concentram em questões eternas que são de significado
pessoal.
b. Paulo não se concentra nas preocupações deste momento.
c. Paulo tinha o costume de enfatizar a oração sobre os assuntos espirituais mais
importantes na vida de um cristão como uma prioridade de intercessão..
d. Paulo orou sobre coisas mundanas e comuns, como cura. Mas, na maioria das vezes,
ele orou em favor dos outros por questões espirituais.

6. A Ética é importante
a. Estes princípios devem ser baseados e fundamentos no evangelho e numa teologia
ortodoxa e evangélica.
b. Wells, no seu livro “Losing Our Virtue” (“Perdendo Nossa Virtude”) sugere que em
muitas igrejas evangélicas haveria uma falta de ensino ético e moral. Ele argumenta
que não há uma estrutura imaginativa em muitas congregações, uma estrutura
imaginativa que seja moldada pelas escrituras em geral e pelo evangelho
especificamente.
c. O resultado é que muitas igrejas não tem um ministério forte focado na ética cristã.

7.A Influência da Identidade e da Perspectiva na Vida Ética


a. Devemos identificar o que é o bom, perfeito e agradável na vida ética de um cristão
diante de Cristo.
b. Em qualquer questão ética, uma pessoa é impactada pelo próprio auto entendimento
e pela própria autoidentidade.
c. A ética crista envolve duas dimensões do ser: quem nós somos e quem nós pensamos
que somos. Essas duas dimensões quando alinhadas informam e dirigem nossos
comportamentos e decisões em qualquer situação.

Lição 2
A Acusação Antinomiana

Após esta seção, você deve ser capaz de:


•Definir o que é a acusação do antinomianismo contra a ética evangélica
•Explicar a tensão histórica entre justificação e ética

Introdução: Ética Protestante e Evangélica em Questão


Ao pensarmos sobre a ética evangélica, faremos bem em refletir sobre as acusações que
foram feitas contra a ética na tradição protestante. A tradição protestante e evangélica do
ensino ético se baseia principalmente na graça de Jesus Cristo que é descrita com tanta
beleza pelo apóstolo Paulo em particular e também pelos outros autores do Novo
Testamento. Se desejarmos enquadrar nossa abordagem ética à luz do evangelho
neotestamentário, faremos bem em observar que a partir do século dezesseis em diante, seja
em na forma de polêmicas católicas romanas ou estudos mais recentes do NT, uma acusação
foi levantada contra essa leitura de Paulo e da vida ética. Podemos chamá-la a acusação
antinomiana.

1.A Teoria da Justificação Pela Fe é Eticamente Anêmica?


a. Douglas Campbell, teólogo Metodista, escreveu The Deliverance of God (A Libertação
de Deus), um estudo sobre a doutrina da justificação na teologia de Paulo, Campbell
descreve o que ele chama da “teoria da Justificação pela fé”.
b. “Esta teoria clássica da justificação pela fé faz pouca contribuição para a capacidade
de um cristão viver uma vida ética. Esta teoria é eticamente anêmica.
c. Esta teoria lança um ataque contundente ao comportamento ético como base e
fundação da Salvação. Este ataque, que fornece uma influência eficaz sobre o
indivíduo não salvo, também condena a "religião" vazia e as instituições eclesiásticas
que são potencialmente opressoras. Depois de reduzir a condição de salvação da
perfeição ética à fé apenas, a teoria não pode consistentemente antecipar e esperar
que indivíduos auto interessados se empreenderem mais no desenvolvimento de um
comportamento ético deles!
d. Não há nenhuma influência, motivação, ou pressão adicional que poderia ser
colocado sobre eles para motivá-los a uma vida ética. Toda motivação anteriormente
para uma vida ética veio principalmente da ameaça e do inferno, mas esse problema
agora foi resolvido, deixando o cristão "salvo" com pouquíssima motivação de buscar
uma vida ética).

2. A História da Acusação Antinomiana: os Escritos de Paulo


a. Notavelmente, essa não foi a primeira vez que estes argumentos contra a doutrina da
justificação pela fé foram utilizados, acusando esta doutrina de levar pessoas a uma
vida de frouxidão moral terminando em antinomianismo. Nós vemos estes mesmos
argumentos sendo feitos nos próprios escritos de Paulo (Rom. 5 e 6.1).

3. Reconciliando Graça e Boas Obras


a. A conexão bíblica entre boas obras e a graça de Deus é justamente um
relacionamento rico e complexo.
b. O que veremos ao considerarmos a união do cristão com Ele e, por consequência, a
posse de todos os benefícios de Deus que o Cristão tem por meio Jesus, é que
Campbell tem apresentado um quadro terrivelmente reduzido do ensino atual dos
protestantes sobre a ética cristã, seja no século dezesseis ou na teologia protestante
e evangélica de hoje.
c. À medida que realmente entendemos as categorias e tópicos bíblicos, veremos que a
união com Cristo nos conecta a uma série de benefícios espirituais que impactam
diretamente a vida cristã.
d. Estes benefícios consistem não apenas à obra expiatória de Cristo que ocorre para
nos trazer à vida com Deus, mas consiste também na obra sacerdotal, profética e real
de Cristo que continua a nos separar e nos santificar no dia a dia.
e. A salvação de Jesus transforma o povo Dele. Nós não somos "indivíduos definidos
por interesse próprio", para usar a frase de Campbell. Nossas vidas não pertencem a
nós mesmos.

4. Novas Motivações
a. O cristão evangélico salvo por Cristo Jesus agora não sofre mais as ameaças do
inferno para motivá-lo ao um bom comportamento. Um cristão verdadeiro tem outras
motivações encontradas em seu novo ser regenerado, um novo “eu” em Cristo Jesus.
b. A crítica de Campbell não fornece uma abordagem historiográfica útil para que o aluno
de ética possa ter uma compreensão adequada de uma ética protestante baseada na
Bíblia, nem um esboço amplo o suficiente do ensino do Apóstolo Paulo sobre o
assunto.
c. Antinomianismo é uma acusação contra os evangélicos que remonta não apenas aos
debates da grande reforma do século XVI, por mais significativos que estes debates
pudessem ter sidos, mas aos debates mais importantes da própria época do Paulo.
d. Os desafios destes debates foram tão significativos que Paulo considerava importante
que o assunto do antinomianismo fosse levantado explicitamente em seus escritos
para a Igreja em Roma.

5.O Evangelho Completo


a. Qual é a promessa integral de Jesus para ser aplicada a cada faceta da vida cristão
durante de cada fase da existência humana? A resposta à esta pergunta não se
apenas aplica simplesmente a justificação ou expiação do pecador (libertação do
pecado), mas também se aplica em relação à a obra de santificação na vida de um
cristão. Ou seja, a obra contínua de Cristo no tempo presente.
b. Esta obra de santificação é o pacto e a promessa de Jesus de levar avante a tarefa
de nos santificar e nos transformar naqueles que gradativamente vão se tornando
santos na vida presente.
c. Esta santificação é a consequência inevitável de ter sido declarado justos diante o
tribunal do Juiz do Universo.
d. É esses tipos de conexões atuais com justificação que nos ajudam a pensar bem
sobre a ética evangélica à luz da história do evangelho de Jesus.

Para Refletir
•Historicamente antinomianismo pode ser definido assim: O Antinomianismo. Literalmente,
esta palavra significa "contra a lei" e carrega a ideia que por causa da graça de Deus, os
cristãos não são obrigados a obedecer a nenhum conjunto de regulamentos ou “leis” como
um meio de agradar a Deus. Na era da Reforma do século dezesseis, vários grupos de
anabatistas foram considerados antinômicos, como também foi Anne Hutchinson no início do
período da colonização americana.
•Na ética antinomianismo pode ser definido assim: o Antinomianismo. Literalmente, "contra
ou em oposição à lei". Antinomianismo como um termo teológico cristão afirma que a graça
por meio da fé aboliu a lei (Gálatas 3:11; Efésios 2: 8–9) e que, portanto, o cristão não está
mais sujeito à lei em nenhum sentido. Levado ao extremo, o antinomianismo leva a uma
conduta licenciosa, senão eticamente questionável. Que o antinomianismo era um problema
na igreja primitiva é evidente pelas repetidas advertências contra isso encontradas em vários
escritos do Novo Testamento.

Lição 3
Definindo a Liberdade

Após esta seção, você deve ser capaz de:


• Descrever a relação entre a liberdade e a lei;
• Reconhecer o paradoxo da liberdade quando for vista através das lentes da modernidade
tardia.

Introdução: Um Termo Vago e Incompreendido


Quando pensarmos sobre a ética evangélica e tentarmos definir as boas obras e uma vida
integra à luz do evangelho, uma categoria-chave que prova ser de suma importância é o
conceito da liberdade.
O conceito da liberdade cristã na ótica de uma cosmovisão bíblica incluí os conceitos como
a compreensão do que significa ser liberto do pecado, da morte e do domínio do Diabo.
O conceito de “liberdade” que é tão profundamente e prevalentemente presente nas culturas
ocidentais, ainda é tão frequentemente mal compreendido. Jean-Luc Nancy pontua que a
experiência contemporânea da liberdade para muitas pessoas é que tal conceito seja
traduzido na seguinte analogia: "uma experiência de um quilômetro de largura, mas com
apenas um centímetro de profundidade."

1.Observação de Hütter
a. O que significa ser livre?
b. O teólogo católico romano e eticista Reinhard Hütter oferece observações úteis sobre
as tensões experimentadas na cultura ocidental e nas tradições intelectuais da ética
cristã.
c. Ele também oferece observações interessantes sobre outros tipos de ética que têm
se desenvolvido dentro da cultura ocidental. Estas são as palavras do Hütter sobre a
experiência contemporânea de liberdade:
i. Este desespero leva o ser humano a sonhar um sonho falso que seja possível de
exercer a liberdade humano por meio de um ato soberano de auto criatividade ou
autoexpressão humana pelo qual a própria pessoa se transforma por meio de
exercitar a vontade humana e acaba resultando na criação de um "novo" ser
humano autêntico feita por sua própria criação.
ii. Esta tendência cultural se expressa nas seguintes formas na cultura moderna:
geneticamente ou cirurgicamente escolhendo o tipo de corpo desejado na parte
de uma pessoa, escolher do gênero desejado de uma pessoa, escolher os valores
desejado pelo qual uma pessoa viverá e os destinos desejados da vida que sejam
livremente escolhido de acordo com os desejos e anseios idiossincráticos do ser
humano) - e o pesadelo de Hades de vitimização infinita por "o sistema ” – ou seja,
a vitimização da pessoa individual pelas estruturas anônimas do poder econômico,
do poder político e cultural, a vitimização da pessoa pelo poder da própria
composição genética da pessoa, e a vitimização da pessoa pela vontade de
exercer o poder na parte de todos que estão ao redor da pessoa individual, Born
to Be Free, 123.

2. O Paradoxo da Liberdade na Cultura


a. Hütter aponta para duas histórias muito diferentes entre as quais pessoas modernas
oscilam na situação contemporânea da cultura moderna.
i. Por. Um lado a liberdade é vista como um valor absoluto. Há a liberdade
humana; o ser humano deve gozar desta liberdade; o ser humano deve usar
esta liberdade a fim de definir o “estilo de ser humano” que ele ou ela queira
ser.
ii. Por outro lado, Hütter fala de um determinismo real que o ser humano
busca compreender e muitas vezes explorar em discussões políticas e
culturais. Pessoas falam de serem determinadas ou vitimadas por várias
situações fora do controle individual - seja por a genética, pela educação,
ou pelas situações econômicas e/ou políticas.
b. Por um lado, o ser humano é chamado a ser totalmente livre (autêntica); ainda, o ser
humano é preso ao destino e as circunstâncias dele e de fato está sem nenhuma
liberdade de verdade. c.Jean Paul Satré, o grande filósofo e escritor existencialista,
disse que o ser humano é "condenado de ser livre".

3.As Tensões da Liberdade na Igreja


a. Esta tensão está também dentro da Igreja e da teologia cristã contemporânea e se
manifesta em pensamento confuso sobre a natureza da liberdade em geral e a
liberdade cristã em particular. Debates sobre a definição e natureza da liberdade
provocam disputas ásperas dentre da comunidade cristã, sobre questões éticas.
b. Hütter, observa como essas tensões já entraram um bom tempo atrás na Igreja,
dizendo o seguinte: “A falácia de grande parte da crença e do etos do protestantismo
contemporâneo é menos lei, e mais liberdade; melhore ainda, nenhuma lei, toda
liberdade ... Biblicamente falando, uma outra relação entre lei e liberdade deve ser
impressionado sobre nós e expressado por nós: menos lei, menos liberdade; sem lei,
sem nenhuma liberdade, Hutter, 135.”
c. Hütter está sugerindo que na esfera do evangelho, a lei não é uma coisa ruim. Muitas
vezes, a cultura secular diz que a liberdade humana precisa ser protegida exatamente
contra a essas ameaças geradas por grupos que tem uma meta-narrativa absoluta de
um grupo. Qualquer discussão ou conversa sobre leis, regras, expectativas e
costumes representa uma tentativa de impor a vontade de poder de um grupo de
pessoas sobre outros.

4. A Liberdade do Evangelho
a. Hütter sugere que na medida em que seguimos essas tendências culturais seculares,
estaremos indo exatamente contra a natureza das implicações éticas contidas no
evangelho de Jesus Cristo.
b. Quando a Bíblia fala de Deus nos libertando pelo poder do evangelho, o que a Bíblia
quer dizer com este ensino? Paulo ensina que devemos zelar para manter a liberdade
espiritual que está em Cristo Jesus - como Paulo escreve em Gálatas 5:1: “Para a
liberdade foi que Cristo nos libertou”.
c. Qual é a realidade celestial a qual Paulo se refere neste versículo? O que ele quis
dizer quando ele falou que o cristão tivesse sido liberto do pecado, da morte e do
diabo? É a esta pergunta que devemos focar nossa atenção quando começarmos a
definir o que significa o conceito e o lugar das boas obras de acordo com o evangelho
de Jesus – o evangelho que é, antes de qualquer coisa, um evangelho da liberdade
verdadeira para os pecadores.

Módulo II

Lição 4
Cristo e Discipulado: Liberdade Evangélica
Após esta seção, você deve ser capaz de:
• Definir o conceito da liberdade de acordo com o evangelho de Jesus Cristo

Introdução: Investigando a Liberdade Evangélica


Como devemos pensar sobre a liberdade à luz do evangelho do Cristo Jesus? Como
podemos ser discipulados e transformado por Ele? Precisamos definir liberdade não pelas
definições culturais, nem simplesmente por abordagens filosóficas, mas antes de mais nada,
devemos definir a liberdade canonicamente, biblicamente, e exegeticamente - isto é,
devemos definir liberdade de acordo com o ensino da palavra de Deus.

1.Senhor de Tudo, Servo de Tudo


a. Martinho Lutero Sobre o Conceito da Liberdade: “Um cristão é um senhor livre sobre
todas as coisas e não se submete a ninguém. Um cristão é um súdito e servidor de
todas as coisas e se submete a todos.” (Lutero, Da Liberdade do Cristão, Kindle, Lugar
644 de 1811.)
i. Cristãos são completamente livres, não sujeitos a ninguém
ii. Cristãos são sujeitos a todos e servem a todos.
b. João Calvino Sobre o Conceito da Liberdade: “Ora, é um ponto transcendental saber
que estamos consagrados e dedicados a Deus, para que não cogitemos nada além
disso, nem falemos ou meditemos, ou façamos a não ser para sua glória, pois o
sagrado não se aplica a usos profanos sem grave ofensa a ele.” (Calvino, livro três
das famosas Institutos da Religião Cristã, Kindle, Lugar 18735 de 47372.)
i. “...não nos pertencemos em nossos planos e ações, nossa razão não deve estar
no comando, e muito menos nossa vontade...” “Pelo contrário, somos de Deus.”
ii. “Ora, como a peste mais eficaz é fazer com que os homens se percam, quando se
conformam a suas próprias inclinações, assim o único porto de salvação é nada
saber, nem por si mesmo querer, senão tão-somente seguir ao Senhor, indo ele à
frente.”

2. Onde Reside a Responsabilidade pela Liberdade Cristã?


a. Calvino expressa essa mesma dialética notável em concordância com o Lutero, mas
diferentemente, Calvino aponta com mais clareza como esta liberdade cristã é
teocêntrica em seu foco e sua natureza.
i. Deus é responsável pela existência, pelo florescimento humano, e pela salvação
humana.
ii. Deus é responsável pela santidade do cristão, pela pureza do cristão e pela glória
do cristão diante do tribunal da justiça Dele.
iii. Deus é o provedor de tudo na vida cristã e os cristãos são os que dependem, os
dependentes do Senhor em tudo.
iv. A vida cristã evangélica é uma chamada para se ter uma vida marcada pela Fé.
b. John Webster: (Citado por Michael Allen em Reformed Theology, página 85.)
i. “Liberdade evangélica . . . é a liberdade que vem de não ser finalmente
responsável por meu próprio ser”.
ii. “Liberdade e obediência são, portanto, básicas para a vida ativa de santidade
porque estes dois conceitos dirigem a atenção do cristão para fora, longe da
preocupação obsessa da autoestima pecaminosa e em direção à uma vida
alicerçada e fundamentada na verdade do amor e da lei de Deus.”
c. O cristão não é ultimamente responsável por si mesmo.
i. O cristão não precisa continuar a viver uma vida de agarrar-se e segurar assuas
próprias coisas. o cristão é liberto da auto- escravidão e do auto-interesse para
que possa dar tudo que ele ou ela é em serviço aos outros.
ii. A liberdade é o resultado do amor e da salvação de Deus e não o estímulo em prol
do amor e da salvação divina.
d. O que significa definir liberdade cristã pela história maior da narrativa do evangelho?
O cristão vive:
i. na liberdade oferecida pela obra de Cristo já feita em prol do seu povo.
ii. na liberdade oferecida na obra expiatória e propiciatória da morte de Cristo feita
de uma vez por todo na cruz do Calvário
iii. Na liberdade da união com Cristo Jesus realizado por meio do ministério do
Espírito Santo que lhe dá uma nova natureza nesta vida
e. O que significa definir liberdade de acordo com o evangelho? É o Espírito Santo que
está santificando, separando, e chamando o cristão para conforma-lo cada vez mais
a imagem ética de Cristo Jesus na sua vida cotidiana e se envolver no serviço Dele,
à igreja Dele e ao mundo perdido.

Lição 5
Metafísica e Ética: Indicativo e Imperativo

Após esta seção, você deve ser capaz de:


• Reconhecer a natureza e a ordem da linguagem em torno dos mandamentos de Deus;
• Examine como as declarações indicativas levam à ação.

Introdução: O Padrão de Bênção e Mandato


Deus nos chama para viver bem diante Dele somente depois de Deus já ter providenciado os
recursos necessários para que nós possamos viver uma vida diante Dele. Este é um ritmo
constante que se encontra na Bíblia. É só depois de dar vida, provisão e promessa, e todos
os tipos de bênçãos, que Deus encontra o homem e a mulher em Genesis 1 com um mandato,
um chamado, e vocação para que eles pudessem realizar e cumprir. Só depois de libertar
Israel da escravidão do Egito, foi que Deus deu a Israel uma lei que ordenou e exigiu deles
um certo comportamento como o povo Dele. Mesmo nos Dez Mandamentos, eles são
encabeçados pela declaração: "Eu sou o SENHOR, teu Deus, que o tirei" - da escravidão, do
Egito, de tantos problemas, da morte em si. A declaração indicativa do que Deus já tem feito
e já está fazendo sempre precede a declaração imperativa do que Deus espera que o povo
Dele faça em resposta a Ele.

1.O Ritmo no Exemplo de Jesus


a. João 8--Jesus encontrou uma mulher apanhada em flagrante adultério.
b. Ele não diz a ela que em primeiro lugar ela devesse reformar suficientemente a vida
dela antes de ter a esperança de receber uma oferta da graça e perdão na parte de
Deus.
c. Ele a oferece uma simples declaração que é tanto declarativa quanto indicativa: "Seus
pecados estão perdoados".
d. Na sequência dessa demonstração da graça divina, na sequência dessa declaração,
Ele chama esta mulher para uma nova vocação, para uma nova vida, para uma vida
de santidade, para uma vida de gratidão, para uma vida que será marcadamente
diferente da jornada da vida dela anterior.

2.O Equilíbrio do Ritmo


a. Paulo, mais do que qualquer outro autor bíblico, demonstra essa ordem dinâmica do
indicativo-imperativo em todas nas epístolas dele.
b. Richard Gaffin: “Em suma, o imperativo sem o indicativo leva a um legalismo
soteriológico, a usar o imperativo tanto para alcançar quanto para garantir a salvação
da pessoa; isso faz com que Paulo fosse um Moralista. Por outro lado, o indicativo
sem o imperativo tende a um tipo de antinomianismo; isso faz com que Paulo fosse
algum tipo de Místico”. (Gaffin, By Faith, Not by Sight: Paul and the Order of Salvation,
p. 72).
c. Gaffin está observando uma das maneiras pelas quais diferentes pessoas têm
interpretado Paulo e o seu corpus escrito.
i. Alguns leriam os imperativos nas cartas de Paulo sem considerar adequadamente
o uso do indicativo nessas cartas como um todo. Ao fazer isso, estas pessoas
concentram em uma série de mandamentos que Paulo enfatiza sobre o que o
cristão deve estar fazendo para que seja um cristão bom e fiel. Separados do
contexto atual em que os imperativos se encontram nas cartas de Paulo e
separados dos precedentes indicativos em que os imperativos se relacionam nos
escritos de Paulo, que é um ambiente de graça, não há outra alternativa se não
for algum tipo de legalismo sendo ensinado.
ii. Por outro lado, Gaffin sugere que aqueles que prefiram se concentrar e enfatizar
as declarações indicativas do Paulo – como o que Cristo fez, como Ele nos
justificou, como Ele nos deu Seu Espírito, como Ele agiu de uma vez por todas em
nosso favor, como Ele fez expiação e absorveu a maldição do pecado em nosso
favor – ao remover estas declarações indicativas acerca da fé cristã do contexto
maior da obra contínua de Cristo na vida de um cristão acaba transformando o
Paulo em algum tipo de místico. Um místico, na definição do Gaffin, seria alguém
que sugeriria que Deus, há muito tempo atrás e fizesse algo em uma terra muito
distante que pudesse ser de interesse para nós hoje. Todavia, o que Ele fez
naquela terra distante tão longe no passado não tem nenhuma exigência e
expectativas nas vidas das pessoas e não tem um significado real para o meio
pelo qual devem viver na vida cotidiana.

3. Compreendendo o Indicativo e o Imperativo


a. São distintos -A ação salvífica de Deus em favor do cristão e o chamado de Deus por
ação visível na vida de um cristão não são a mesma coisa.
b. São emparelhados - Estes dois conceitos não são distintos e separados. Paulo
sempre os coloca juntos. (Efésios 1–3 e 4-6) Paulo sempre associa o indicativo e o
imperativo na sua teologia. Mesmo quando os distinguirmos os dois conceitos, não
podemos separá-los totalmente.
c. São ordenados - Na teologia de Paulo existe uma assimetria no relacionamento entre
o uso do indicativo e o uso do imperativo. O indicativo sempre se fundamenta no
imperativo. O uso do imperativo, na teologia do Paulo, é baseado no indicativo e, como
consequência, o imperativo deve ser entendido sempre na luz do indicativo. (Efésios
5.1-2) A sequência é: indicativa (“filhos amados”) e a consequência (“sejam
imitadores”) é o imperativo.

4. Aplicando o Ritmo Hoje


a. O cristão precisa seguir os padrões de pensamentos revelados na Palavra de Deus.
b. O discípulo de Jesus deve prestar atenção especial na maneira pela qual o indicativo
na teologia bíblica sempre procede e alicerça o imperativo na teologia bíblica.
c. O discípulo cristão deve se manter atento na maneira pela qual uma metafísica
cristológica bíblica sempre se fundamenta e dirige um chamado cristológica bíblica à
vida ética cristã.

Lição 6
Fé, Esperança e Amor

Após esta seção, você deverá ser capaz de:


• Reconhecer a ética incorporada e expressada na vida de Jesus;
• Comparar e contrastar a ética dos mundos cristão e greco-romano.

Introdução: Apresentando a Ética da Virtude


O cristianismo não é a única fonte de teorias éticas que existe no mundo atual. Muitas outras
abordagens, sejam elas religiosas ou filosóficas, apresentam visões diferentes em relação a
como determinar as questões principais da ética. Uma das tendências ou tradições mais
significativas do pensamento ético ao longo dos tempos, que poderia ser vista tanto nos
círculos cristãos quanto não-cristãos, tem sido intitulada "a ética da virtude".

1. Definindo Virtude
a. Virtudes são hábitos ou padrões comportamentais que são praticadas na vida. São
práticas contínuas que se tornam habituais na vida de alguém.
b. Estas práticas acabam marcando e transformando o caráter de uma pessoa.
c. A virtude pretende vincular um determinado comportamento à pessoa que o pratica,
isto é, o que é externo de uma pessoa em relação ao que é interno, o que é ocasional
na vida de alguém em relação ao que é perpétuo.
2. Virtudes Greco-Romanas e Cristãs Contrastantes
a. No mundo Greco-romano, no contexto histórico ao mundo do NT, vemos que as
virtudes eram amplamente elogiadas, tanto nas escolas religiosas quanto nas escolas
filosóficas.
b. Os cristãos adotaram a mesma linguagem da virtude.
c. Os cristãos criticaram as virtudes clássicas da cultura greco-romana de acordo com
as características do evangelho de Jesus, pelo qual o cristão se esforçava a conformar
se na vida.
i. Porque Jesus estava disposto a exercer Sua força na fraqueza, a virtude cristã
ensinava e valorizava a pessoa que não fosse orgulhosa, que não fosse
prepotente, mas, segundo o exemplo de Paulo, que fosse forte no meio de suas
fraquezas.
ii. A fé cristã sempre valorizou a pessoa que fosse humilde e que tivesse um
comportamento acompanhado por arrependimento na vida cotidiana.

3. Fé, Esperança e Amor como Virtudes Cristãs Distintivas


a. Os cristãos procuraram redefinir essas virtudes, até mesmo reinterpretá-las, com as
virtudes de caráter que fossem louvadas no cânon das Escrituras Sagradas. Em
particular, teólogos cristãos, até hoje, têm enfatizado o incomparável caráter e valores
personificados na pessoa e a vida de Jesus de Nazaré
b. b.Os cristãos têm sido reconhecidos e apontados por certas virtudes que são
distintivas de uma vida cristã definida pelo evangelho – fé, esperança e amor.
c. Muitas vezes estas três virtudes são chamadas das virtudes teológicas. Encontradas
no escrito de Paulo, em 1 Cor 13, essas três virtudes são um resumo sucinto de todas
as outras virtudes bíblicas. Elas continuaram a dominar o pensamento ético cristão
até os dias de hoje.
d. John Frame define essas virtudes da seguinte forma:
i. Fé = é confiar na promessa de Deus acima de qualquer outra consideração
(Frame, Doutrina da Vida Cristã, p. 328).
ii. Esperança = é a fé direcionada ao aspecto do futuro da salvação, o "ainda não".
Como a fé, é firme e segura, não hesitante e desejosa e é baseada na revelação
de Deus (p.332).
iii. Amor = Lealdade ao Deus do Pacto em Cristo Jesus (Fidelidade a Deus leva a
ação em favor de Deus), gratidão a Deus, uma vida reorientada por Deus,
imitando o amor de Deus por meio das nossas ações (sacrificando a vida em favor
dos outros), e amando os inimigos (p.332-342).
e. Gratidão de acordo com o Catecismo de Heidelberg:
Pergunta 2: “O que é que você̂ precisa saber para viver e morrer nessa consolação?”
Resposta: “Primeiro, como são grandes meus pecados e miséria; segundo, de que modo sou
liberto de todos os meus pecados e miséria; terceiro, de que modo devo ser grato a Deus por
uma tal libertação.3”1. Rm 3.9, 10; 1Jo 1:10. 2. Jo 17.3; At 4.12; 10.43. 3. Mt 5.16; Rm 6.13;
Ef 5.8-10; 1Pe 2.9, 10.

4. Modelando as Virtudes de acordo com Cristo


a. Somos chamados como cristãos a viver de acordo com certos padrões e hábitos de
comportamento: hábitos que marcam a nossa identidade, nossas qualidades de
caráter
i. Estes hábitos não são simplesmente subjetivos; eles não são simplesmente sentidos;
não são simplesmente emotivos, mas são qualidades de caráter que invariavelmente
se trasnformam em comportamento visível.
ii. As virtudes de uma pessoa inevitavelmente moldarão a obediência ou desobediência
da pessoa às leis objetivas de Deus, aos requisitos de Deus, e às proibições de Deus.
b. Ao estudarmos a ética cristã bíblica à luz do evangelho, é crucial nos concentrarmos
na pessoa de Cristo: Quais são as características que vemos Nele? Qual o exemplo
Dele, como um servo? Como Ele se entrega pelo bem dos outros? (e outros
perguntas)
c. Principalmente, foi no ato propiciatório Dele na cruz do Calvário que Ele demonstrou
estes valores teológicos essenciais.
i. A Fé: Na Cruz, Ele sabia que era o cordeiro de Deus que tiraria os pecados do
mundo. Ele sabia que até no grito da derrelicção, que Deus era o Deus Dele até
mesmo no momento abandono na cruz.
ii. A Esperança: Na entrega da sua vida à morte, Ele se entregou na esperança da
ressurreição.
iii. O Amor: Tudo foi feito na Cruz do Calvário com uma só motivação, o amor do
Redentor pelo Seu rebanho.
d. Cristo Jesus exemplificou estes valores mais do que qualquer outro indivíduo na
história bíblica. Por essa razão, a ética cristã também valoriza grandemente estas
virtudes teológicas de fé, esperança e amor.

Conclusão
Por meio da sua vida e morte, Jesus exemplifica e personifica várias virtudes que os cristãos
valorizam. Quando olhamos para Ele, vemos a virtude personificada. Em Cristo Jesus, nossas
expectativas e pressuposições éticas podem ser redefinidas à luz do que Cristo Jesus
demonstra em sua vida. Ao olharmos para virtudes como fé, esperança e amor, temos nossa
ética definida e disciplinada pelo evangelho, pela pessoa e obra de Jesus Cristo.

Módulo III

Lição 7
Quais são as Boas obras?

Após esta seção, você deve ser capaz de:


• Definir boas obras de acordo com o Catecismo de Heidelberg
http://www.heidelberg-catechism.com/pdf/lords-
days/O%20CATECISMO%20DE%20HEIDELBERG%20(Portuguese).pdf
• Analisar as motivações para boas obras na Confissão Escocesa
(http://www.monergismo.com/textos/credos/confissao_escocesa.htm).

Introdução: Quais são boas obras?


Esta pergunta é feita porque o alvo é de ter uma abordagem sobre a prática das boas obras
e a natureza de uma boa vida cristã moldada não apenas pela Bíblia em geral, mas
especificamente ter estas duas ideias (boas obras e boa vida) moldadas pelos benefícios do
evangelho ganhados na cruz do Calvário e pela promessa do evangelho agora oferecida a
todos que seguem Cristo Jesus.

1. Definindo Boas Obras - O Catecismo de Heidelberg


Pergunta 91: “Mas, o que são as boas obras?”
Resposta: “Somente as obras que são feitas pela verdadeira fé que estão em conformidade
com a lei de Deus e para a Sua glória e não aquelas obras que se baseiam na nossa própria
opinião ou em preceitos de homens.”
a. Boas Obras Procedem de uma fé verdadeira
i. Boas obras são aquelas ações concretas que procedem e que estão baseadas em
uma fé evangélica que seja verdadeira e genuína em seu caráter.
ii. As boas obras procedem fé e têm a sua origem no poder transformadora da
mensagem evangélica.
b. Boas Obras Seguem a Lei de Deus.
i. Boas obras não são fundadas na imaginação ou nas instituições dos homens.
ii. Os costumes sociais, as tendências pessoais, as abordagens culturais da vida não
são a fonte da orientação e a disciplina espiritual que deve levar o cristão sincero
a viver de acordo com a vontade de Deus neste mundo.
c. Boas Obras Trazem glória a Deus. Boas obras são feitas em o nome de Deus e para
glória de Deus para que o renome Dele seja magnificado, em vez do ser humano.

2. Examinando as Motivações:
a Confissão Escocesa Confissão Escocesa de 1560, capítulo 14:
“Assim, afirmamos serem boas obras somente as que são praticadas com fé,7 segundo o
mandamento de Deus,8 que, em sua lei, expôs o que lhe agrada. Afirmamos que as obras
más não são apenas as que se praticam expressamente contra o mandamento de Deus,9
mas também as que em assuntos religiosos e de culto a Deus, não têm outro fundamento
senão a invenção e a opinião do homem. Desde o princípio Deus as vem rejeitando, como
aprendemos das palavras do profeta lsaías10 e de nosso Senhor Jesus Cristo: “Em vão me
adoram, ensinando doutrinas e mandamentos de homens”.
a. Motivado pela Fé. A Bíblia indica que a fé evangélica é a motivação principal atrás de
qualquer boa obra que é declarada justa antes da justiça de Deus.
b. Motivado pelo conhecimento Evangélico.
i. Levítico 10 conta da experiência do Nadabe e Abiú. Num momento de zelo diante
do Senhor, eles queriam oferecer adoração a Deus. Mas a resposta de Deus foi de
matá-los na hora. Zelo à parte do conhecimento não é suficiente. Autenticidade
subjetiva e um desejo de agradar a Deus não é suficiente numa vida de ética
diante do Senhor.
iii. Não é suficiente que a ação moral flua da fé ou de uma postura autêntica, sincera
e apropriada na parte da pessoa. Atuação ética deve ser alinhado com a lei e os
mandamentos de Deus. Deve corresponder aos padrões objetivos de Deus
revelados na Palavra de Deus.
c. Motivado para glorificar a Deus (Westminster Breve Catecismo) Pergunta 1: Qual é o
fim principal do homem?
Resposta 1: O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre.
i. As ações éticas não simplesmente fluem apenas de uma postura subjetiva correta,
de acordo com o padrão objetivo apropriado, mas também devem ser direcionadas
para o propósito correto: a glória de Deus, não a gloria do ser humano.
ii. Qual é o objetivo principal da vida humana? (O objetivo principal - não o único
objetivo da vida, mas o objetivo que estará por trás e além de tudo os mais outros
objetivos.) O cristão é chamado a viver pela fé, de acordo com a Lei de de Deus,
para a glória de Deus.
iii. A fé verdadeira de um cristão mostra dependência de Deus. Mais importante, a fé
evangélica mostra a confiabilidade de Deus. A confiança que um cristão
demonstra em Deus manifesta a confiabilidade do Deus em quem o cristão confia.
A dependência do cristão na lei divina mostra a sabedoria do Senhor, não a
habilidade de usar o raciocínio humano. É esta confiança que providencia o
impulso pelo qual o caminho a seguir para viver a vida ética no mundo
contemporâneo é realizado na parte de um cristão evangélico.

Conclusão:
Em todos os sentidos, o ato ético, as boas obras, aponta na direção oposta do Cristão que
faz o ato. A boa obra aponta na direção oposta da capacidade humano e do próprio know-
how da pessoa. Boas obras evangélicas apontam na direção do Deus em quem o cristão
confia, o Deus cuja lei o cristão segue, e o Deus cuja glória o cristão procura engrandecer.
Isso é o que significa ter boas obras definidas pela Bíblia no sentido mais amplo, e pelo
evangelho no sentido mais específico.

Lição 8
A Dinâmica da Fé e da Lei

Após esta seção, você deve ser capaz de:


• Explicar a relação entre fé e lei, tanto dentro como fora da estrutura da justificação.

1. Justificado pela Fé, não pela Lei


a. A natureza dupla da promessa do evangelho afeta nosso pensamento sobre as boas
obras e uma vida de obediência. João Calvino disse que, ao sermos unidos a Cristo
no evangelho, recebemos dois benefícios: (Calvin, Institutas, III,13, 8-9):
i. descobrimos que agora não temos mais um juiz no céu, mas um Pai celestial.
ii. descobrimos que pelo Espírito Santo somos regenerados e renovados pelo
Espírito para obedecer a Deus.
b. Calvino e outros falaram de como a justificação ocorre sola fideo, somente pela fé.
Gálatas 2 e Romanos 3 que descrevem biblicamente como cristãos poderiam ser
justos diante de Deus por causa da fé somente. Precisamos pensar:
i. Como esta justificação somente pela fé se conecta com as demandas contínuas
da lei na vida do cristão?
ii. Quais são e não são as implicações da justificação pela fé em relação à vida de
um cristão diante de Deus?
c. Paulo fala que ninguém poderia ser justificado diante de Deus pela Lei, ou seja,
simplesmente por guardar os mandamentos Dele. O ser humano não consegue fazer
isso com sua própria habilidade; todos são pecadores. (Rom 1-3)

2. Quando a Fé e a Lei Estão Juntas


a. Tendo falhado devido ao pecado, agora o cristão é justificado pela fé por meio da obra
propiciatória de Cristo, a propiciação perfeita pelo pecado.
b. É crucial notar que Paulo não se opõe a lei em todos os sentidos ou em toda ocasião.
Ele só se opõe a qualquer combinação da fé e da lei que seria para contribuir a
salvação de um cristão diante de Deus.
c. Em Romanos 13.8–13, Paulo fala sobre como o cristão guarda a lei como testemunho
de amor para o seu próximo. Os crentes são chamados a guardar alei de Deus.
d. Na Bíblia, a fé e a lei não estão em oposição absoluta. Paulo se opõe a eles apenas
na questão que uma combinação da fé e as obras não poderiam contribuir a
justificação de um cristão diante de Deus. O cristão vive pela fé:
i. porque a fé aponta para fora da pessoa em direção ao Deus que salva.
ii. porque a fé aponta para Cristo.
iii. porque a fé é o instrumento pelo qual a justiça de Cristo se torna a justiça do cristão
e o pecado dele se torna o pecado que é colocado sobre Cristo.
e. Com respeito a santificação, a fé e a lei não estão mais em oposição. Pela fé:
i. o cristão guarda a lei
ii. o cristão ouve a lei.
iii. O cristão se deleita na Lei do Senhor como um guia por uma vida que agrada a
Deus.

3. A Lei como um Dom de Graça


a. A lei de Deus é um dom de instrução que vem ao encontro do cristão no
complexidades da vida real com a sabedoria e autoridade do Senhor para ajudar o
cristão viver uma vida de santidade neste mundo tenebroso e moralmente confuso.
b. A fé e a lei, longe de estarem em oposição absoluta, são opostas apenas por Paulo
na questão da justificação de um cristão diante de Deus.
i. Uma vez que o cristão é unido a Cristo, declarado justo, por causa da obra de
Cristo feita na Cruz, tudo está transformado, incluindo aética da pessoa.
ii. Uma vez que o cristão é aceito diante de Deus por causa de Cristo, agora ele está
numa posição em que pode deileitar-se na lei revelada de Deus.
iii. O cristão agora ora para que a vontade dele seja mudada e transformada, se
deleita naquilo em que ele sabe que agrada a Deus, e busca a santidade que
agrada ao Senhor.
c. O cristão precisa entender o que Paulo diz sobre justificação pela fé como algo que é
didaticamente separada do entendimento das boas obras.
i. Paulo localiza estritamente esta distinção entre à justificação pela fé e boas obras
em relação a questão da salvação eterna.
ii. A soma e essência da vida cristã é que ela é uma vida de boas obras conforme a
lei de Deus e expressada visivelmente diante de Deus e diante do homem sendo
baseado no poder transformador do evangelho.

Lição 9
Paulo, Tiago e Boas Obras

Após esta seção, você deverá ser capaz de:


• Identificar as diferenças entre as perguntas que Paulo e Tiago respondem em suas cartas
em relação à justificação;
• Reconhecer a justificação tanto como um evento da salvação, quanto como uma evidência
da salvação.

1. Paulo e Tiago se contradizem?


a. A relação entre Tiago 2 e Romanos 4: tem sido sugerido que o ensino do Tiago
contradiz o ensino de Paulo, ou pelo menos, o ensino de Tiago complexifica ou
questiona as leituras protestantes de Paulo, que enfatizam a justificação pela fé
somente.
i. Paulo, em Romanos 3-4 e Gálatas - fala à respeito da justificação sendo pela fé a
despeito da lei, ou a despeito das obras da Lei.
ii. Tiago, em Tiago 2 - Abraão teria sido justificado pelas obras.
b. Como um cristão poderia fazer sentido desses dois textos tão diferentes?
i. O cristão precisa afirmar o seu compromisso evangélico com a autoridade da
Palavra de Deus. Cada afirmação doutrinaria nas Escrituras deve ser moldada por
todas as outras declarações que se relacionam com aquela determinada doutrina
sendo considerada.
ii. A Bíblia tem uma mensagem que é coerente e consistente. Quando tiver qualquer
problema interpretativo, o cristão precisa mergulhar mais profundamente no
conteúdo bíblico para entender a natureza desta coerência teológica e bíblica.

2. Três diferentes interpretações entre Paulo e Tiago


a. Paulo contra Tiago sobre a questão da fé: Paulo e Tiago teriam significados diferentes
para o meio pelo qual eles usam o termo “fé” nestes dois contextos:
i. Tiago em Tiago 2: “fé” é conhecimento cognitivo. Tiago pode dizer: “Até os
demônios acreditam” ou exercer algum tipo de fé. Ele claramente não queria
sugerir que os demônios tivessem colocados a confiança salvífica deles em Deus.
iii. Paulo em Romanos 4 (e outros lugares): “fé” é uma confiança volitiva naquele algo
ou alguém. Ele usa a palavra de "fé" no sentido básico que se uma pessoa se
colocar nas mãos de um outro, ela depositaria plena confiança naquela
pessoa.
b. Paulo contra Tiago na justificação de Abraão: Cada texto aponta para a história de
Abraão e fala de uma forma ou de outra sobre a justificação deste patriarca. Cada
texto estaria apontando para um evento diferente na vida de Abraão como um
exemplo da conceituação da justificação sendo destacada pelos autores, Paulo e
Tiago.
i. Paulo, em Romanos 4 falaria de Abraão sendo declarado justo, ou considerado
justo (Gênesis 15.6), quando ele crê na promessa de Deus revelada a ele. Este
evento teria ocorrido antes do evento narrado em Gênesis 17, quando Abraão
obedeceu a ordem de Deus de se submeter à circuncisão.
ii. Tiago, em Tiago 2 falaria sobre um evento que aconteceu mais tarde na vida de
Abraão (Gênesis 22), quando Deus chamou o Abraão para sacrificar o filho da
promessa, Isaque. Abraão obedeceu a ordem de Deus.
iii. Resumindo: De acordo com Tiago 2, Abraão é justificado através de obediência a
Deus. De acordo com Romanos 4, Abraão foi justificado pela fé antes mesmo de
receber o sinal da aliança, o ato da circuncisão.
c. Paulo contra Tiago sobre a justificação como um evento ou como evidência: A terceira
visão interpretativa a ser considerada é que o exame da palavra fé poderia ter
significado diferentes, por conta da particularidade com que cada autor
neotestamentário aborda seu argumento. Os eventos na vida de Abraão não são
simplesmente tomados numa sequência temporal diferenciada, mas há um referencial
diferente para a palavra "justificação" a partir de Paulo e Tiago.
i. Paulo está falando da justificação como o evento pelo qual alguém é declarado
justo diante de Deus.
ii. Tiago está falando de justificação como o evento ou ocasião em que alguém
demonstra a realidade de ter sido justificado diante de Deus.
iii. Na ótica do Paulo, é o julgamento proléptico (um ato escatológico que é trazido do
futuro de volta à história e ao tempo presente) que é dado em Genesis 15.6
baseado apenas através da instrumentalidade da fé.
iv. tras ocasiões manifestam ou evidenciam essa justificação como sendo descrita
como algo que já foi recebida por uma pessoa (Tiago 2.24). A disposição de
Abraão em sacrificar seu filho e a demonstrar a justificação verdadeira dele.

3. Paulo e Tiago Respondem as Perguntas Diferentes


a. Paulo e Tiago falam sobre justificação a partida de referências diferentes e pontos de
vista diferentes.
b. Paulo fala de como a justificação – justificação inicial, definitiva, e última diante de
Deus, está somente em Cristo e ela considerada como recebida somente pela fé.
c. Tiago não aborda essa questão da justificação da maneira como Paulo. Tiago
pergunta como podemos saber quem realmente é justificado e como a realidade desta
justificação poderia ser visto, manifestado e/ou evidenciado em público.
d. Tiago fala de como um cristão poderia ser provado e legitimado publicamente na
declaração de fé dele por meio das suas ações.

4. Justificação Como um Evento e Como Evidência


a. Gênesis 15:6 corretamente diz que Abraão é justificado pela fé.
b. Gênesis 22, ao mesmo tempo, mas de uma maneira diferente, fala de como Abraão
pode ser conhecido por ter sido justificado pela fé.
c. Não é à toa que Deus diz no capítulo 22:12, "Agora sei que você teme a Deus." É
evidente. É manifesto. É demonstrado que Abraão é fiel, está unido ao Messias e,
portanto, é justificado.
d. Longe da obediência dele ou as obras dele em conforme da lei em alguma forma
merecendo a justificação diante de Deus, Tiago enfatiza que são as boas obras da
pessoa que já crê que manifestam e evidenciam a união dela com Cristo.
e. É essa união com Cristo que de fato o justificou anteriormente quando Deus entrou
em aliança com Abraão em Genesis 15.

Módulo IV

Lição 10
Motivações para Obediência

Após esta seção, você deve ser capaz de:


• Descrever as várias motivações para obediência;
• Reconhecer respostas corretas à graça de Deus.

1.Introdução: Por Que Obedecer?


O que nos motiva a fazer boas obras, para amar os outros, e para seguir a vontade
de Deus? Existem muitas motivações que a Bíblia descreve em diferentes textos e
lugares para se viver a vida cristã.
a. Há a motivação de obedecer a Deus para evitar danos terrenos e ser
possivelmente prejudicados.
b. Há a motivação de obedecer a Deus para ajudar os outros, aqueles que se
encontram precisando algum tipo de apoio.
c. Há a motivação de obedecer a Deus simplesmente para agradar a Deus, entre
muitas outras motivações.
d. No entanto, há um princípio central ou permanente sobre a motivação da
obediência que é consistentemente referenciado em toda a Bíblia. Faríamos
bem em contemplar esta motivação especial com mais detalhe.
2. Motivado pela Fé
Somos motivados pela fé. Somos chamados a viver pela fé.
a. Gálatas 5.6 - Boas obras podem ser descritas, como Paulo as descreve em Gal 5.6,
como a fé operando por meio do amor. 6Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão,
nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor. (Gálatas 5.6 NAA).
Dois textos das Escrituras declaram explicitamente um princípio bíblico importante:
qualquer ato que não brote da fé não traz a honra a Deus.
b. Hebreus 11 - trata extensivamente com o assunto dos grandes heróis da fé cristã.6“De
fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porque é necessário que aquele que se
aproxima de Deus creia que ele existe e que recompensa os que o buscam.”
i. Hebreus 11.6 oferece um comentário sobre a natureza da fé verdadeira que
motivou estas proezas.
ii. Hebreus 11 elogia o fato que estes atos foram feitos para glorificar a Deus.
iii. "Pela fé", este herói fez isso e fez aquilo; “Pela fé”, um herói suportou tal e tal.
“Pela fé” o cristão agrada a Deus e sem fé é impossível agradar a Deus.
c. Romanos 14 - aborda essa ideia da fé numa maneira diferente. Romanos 14.20–23
(NAA) 20Não destrua a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na
verdade, são puras, mas não é bom quando alguém come algo que causa escândalo.
21É bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa que leve
um irmão a tropeçar. 22A fé que você tem, guarde-a para você mesmo diante de Deus.
Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova. 23Mas aquele que
tem dúvidas é condenado se comer, pois o que ele faz não provém de fé; e tudo o que
não provém de fé é pecado.
i. Deus deseja sempre, em todos as circunstâncias, ser nosso Provedor.
ii. Sem fé, tudo o que fizermos, mesmo que objetivamente se encaixe dentro da lei
de Deus, é declarado como pecado.

3. Respondendo com Gratidão


Será que a gratidão para com Deus não deva ser a motivação principal que leva a
obediência na vida cristã?
a. As pessoas sugerem que gratidão, ou a bênção da graça dada ao cristão no passado,
seja a razão por gratidão na vida cristã presente.

Lição 11
Lutero sobre a Lei e o Evangelho

Após esta seção, você deve ser capaz de:


• Explicar como Lutero distingue entre lei e evangelho.

Introdução: A Importância de Distinguir a Lei e o Evangelho


Martinho Lutero, importante reformador do século dezesseis, argumentou que distinguir a lei
do evangelho é absolutamente fundamental para a teologia e o ministério cristão.
Em seu texto “Como os Cristãos Deveriam Considerar Moisés”, ele disse o seguinte:
O primeiro sermão, e a doutrina, é a Lei de Deus. O segundo é o evangelho. Esses dois sermões não
são a mesma coisa. Portanto, nós devemos ser capazes de entender e apreender bem a questão para
que possamos saber como diferenciá-los. Nós precisamos conhecer o que a Lei é, e o que é o
Evangelho. A Lei ordena e requer que façamos determinadas coisas. A Lei é, portanto, dirigida
unicamente ao nosso comportamento e consiste em fazer exigências, pois Deus fala através dela,
dizendo, “Faça isso, evite aquilo, é isto o que Eu espero de você”. O Evangelho, entretanto, não prega
aquilo que nós temos que fazer ou evitar. Ele não provê exigências, mas inverte a abordagem da Lei,
faz exatamente o oposto, e diz, “Isto é o que Deus fez por você; Ele permitiu que o Seu Filho se fizesse
carne por você, e deixou-O ser sacrificado no seu lugar”. Então, há dois tipos de doutrinas e dois tipos
de obras, aquelas de Deus e aquelas dos homens. Da mesma maneira como nós e Deus estamos
separados uns do Outro, essas duas doutrinas estão amplamente separadas uma da outra, pois o
Evangelho ensina exclusivamente o que nos foi dado por Deus, e não – como no caso da Lei – o que
nós devemos fazer e dar a Deus. http://www.e-cristianismo.com.br/historia-do-
cristianismo/lutero/lutero-como-os-cristaos-deveriam-considerar-moises.html

1. Condições e Declarações: (de acordo com Lutero)


As teses de Heidelberg: http://www.ascensao.org.br/site/wp-content/uploads/2011/04/Teses-
de-Heidelberg-Prédicas-na-Ascensão.pdf
a. A lei é qualquer declaração ouvida como condição para uma vida segura e aceita
diante de Deus. Na tese 26 das Teses do Catecismo de Heidelberg, Lutero escreveu:
"A lei diz: ‘Faz isto’, mas nunca é feito”.
b. O evangelho é qualquer declaração ouvida como uma promessa ou uma declaração
de uma vida que já é segura e aceita diante de Deus. Como ele diz nas Teses de
Heidelberg de 1518 na tese 26, “a graça diz: ‘Crê neste’, e já está tudo feito”.
c. Ele não identifica a lei com o antigo testamento e nem identifica o evangelho
exclusivamente com o Novo testamento.
d. Ele nem mesmo identifica a Lei com os imperativos e o evangelho com os indicativos.
e. Para Lutero, o mesmo texto pode ser lei para uma pessoa e evangelho para outra
pessoa.

2. O Fim Público da Lei


No pensamento do Lutero, um texto pode ser tanto a lei para alguém em um momento, quanto
o evangelho para essa mesma pessoa num outro momento.
a. O Grande Catecismo de Lutero não chama o Decálogo, ou os Dez Mandamentos,
pelo nome de “lei”. Isso é feito precisamente porque os Dez Mandamentos podem ser
ouvidos por alguns como lei e por outros como evangelho. Como Lutero diz: “Agora o
tempo da lei termina de duas ... maneiras: primeiro, ... pela vinda de Cristo na carne
no tempo designado pelo Pai. ... Além disso, o mesmo Cristo, que assim veio uma vez
em o tempo designado também chega a nós diariamente e de hora em hora em
espírito” (Grande Catecismo, Dez Mandamentos).
b. Lutero fala de um fim público da lei ao respeito à justificação do cristão. Para Lutero,
esta justificação é nada menos do que aquela vinda de uma vez por todas de Cristo
para fazer expiação e propiciação por nossos pecados e nos trazer perante o Pai no
céu - não apenas perdoados, mas exaltados no Santo dos Santos por meio da Sua
morte.

3. O Fim Pessoal da Lei


Em segundo lugar, no entanto, há o que ele se refere como um fim pessoal da lei. Este é um
caso repetido ou “diário” e de “hora em hora”.
a. Precisamos expulsar a lei da consciência como a base e fundação do nosso
relacionamento para com Deus. Estamos sempre propensos a voltar a ver nosso
relacionamento com Deus como um relacionamento condicional e baseado em nosso
desempenho moral.
b. Lutero nos faz lembrar que nossa apreciação do fim público da lei como meio da nossa
salvação deve levar a uma constante e repetida apropriação do fim pessoal da lei na
nossa própria salvação.
c. Lutero fala de um uso da lei bíblica que não seja condicional e, portanto, pode ser
considerado como um presente de Deus a nós e não uma ameaça que vem de Deus
contra nós. Por exemplo, Salmo 119: Ele fala que este salmo é uma ocasião em que
a lei divina não é mais "a lei," no sentido que seja algo que é contra nós levando à
condenação.
i. Davi se deleita na lei divina como algo que vem como um presente de Deus, não
como uma condição pelo qual o cristão esteja em comunhão e continue em
comunhão com Deus.
ii. A lei de Deus funciona como uma instrução de Deus para alguém, um cristão, que
já está seguramente dentro da família de Deus.
iii. Lutero diz o seguinte: “Concordamos que Moisés seja lido e ouvido como profeta
e testemunha ao Cristo. Concordamos que dos escritos dele possamos tirar alguns
bons exemplos que possam ser aplicados em nossas vidas e nossas famílias.
Todavia, não permitiremos que de forma alguma que Moisés e os seus escritos
tenham domínio sobre a consciência de um verdadeiro cristão. Neste caso, deixe
que ele, Moisés, seja morto e enterrado, e ninguém saiba onde o sepulcro dele
seja localizado” (Comentário aos Gálatas).

4. A Lei Como um Presente de Graça


Neste comentário citado a cima, que tem origem nas palestras de Lutero em 1535 sobre
Gálatas 5: 3, Lutero sinaliza como o contraste entre a lei e o evangelho é apenas com respeito
à justificação de um cristão diante Deus.
a. Visto que agora sabemos que somos amados de Deus, adotados em Sua família,
casados com Cristo e reivindicados para sempre pela morte de Jesus na Cruz em
nosso favor, a lei divina não é mais uma ameaça por nós.
b. A lei está morta para nós pensando nela como um caminho pelo qual devemos
produzir a nossa própria justiça diante de Deus para ganhar a aceitação Dele.
c. Todavia, no que diz ao respeito à nossa santificação, no que diz respeito à nossa vida
cristã, agora, a lei é uma graça e um dom na vida de um cristão.
d. A lei está longe de ser contrastada absolutamente com o evangelho na teologia de
Lutero. Na verdade, agora a lei pode ser uma exemplificação do evangelho na vida
de um cristão.
e. As ações que venham da lei sejam feitas como resultado da graça divina já dada e
recebida em Cristo Jesus e não como um meio por qual alguém queira ganhar a graça
divina que ainda não fosse recebida pela fé em Cristo Jesus.

Conclusão:
Frequentemente, Lutero tem sido mal interpretado por os seus intérpretes.
a. Tem sido sugerido que o contraste feito por ele entre a lei e o evangelho é
paradigmático e global, ou seja, que se aplica a todos os textos bíblicos de todas as
maneiras concernente a questão do relacionamento entre a lei e o evangelho.
b. Isso seja uma forma bastante redutiva para entender as sutilezas da teologia do
Lutero.
c. Tem sido interpretado por alguns intérpretes que Lutero ensina que todo imperativo
encontrado na Bíblia seja lei, todo indicativo encontrado na Bíblia seja o evangelho.
i. Estes intérpretes fazem de alguma forma, a sugestão de que os cristãos, seguindo
a teologia do Lutero, devam ouvir e entender cada um desses textos apenas de
uma maneira só, como sendo um contraste absoluto entre lei e a graça.
ii. Olhando para as palavras de Lutero com os olhos do leitor contemporâneo, no
entanto, e sua pregação particular e seu trabalho expositivo, podemos ver que
Lutero tem uma visão muito matizada à respeito do relacionamento entre a lei e o
evangelho.
d. Em contraste, a distinção entre lei e graça só se aplica à justificação pela fé como a
fundação da salvação do cristão.
i. A distinção entre os dois conceitos termina no cristão, sendo este justificado pela
fé diante de Deus, na obra expiatória de Cristo de uma vez por todas.
ii. Ainda, essa distinção entre lei e a graça em Lutero tem haver também com a nossa
continua apropriação desta justificação e a aceitação de que agora desfrutamos
diante de Deus.
e. O evangelho da graça é um lembrete da liberdade que nós verdadeiramente já
possuímos em Jesus Cristo.
i. Tendo a lei já sido condenada à morte e jazendo no sepulcro, onde merece ser
esquecida, temos o poder do Espírito de expulsá-la da consciência como o meio
pelo qual recebemos aceitação diante de Deus.
ii. Tendo feito isso, estamos livres para ouvir os mandamentos de Deus agora numa
forma diferente – não como ameaças, não como avisos, não como raios de
relâmpagos que vêm do alto. Mas sim como presentes, como boas instruções para
o modo de Deus nos fazer florescer neste mundo, o caminho que o cristão deve
seguir para agradar a Deus, como orientação sobre os meios pelo quais que
possamos abençoar nosso próximo, e como um indicador do caminho que leva a
uma vida de bondade aqui neste mundo e a glória no mundo que está

Lição 12
Calvino na Lei e no Evangelho

Após esta seção, você deve ser capaz de:


• Identificar a posição do Calvino sobre a lei e o evangelho;
• Explicar os três usos da lei de acordo com Calvino;
• Comparar e contrastar as posições de Calvino e Lutero em relação à lei e ao evangelho.

1. A Importância de Distinguir a Lei e o Evangelho


a. João Calvino e a tradição reformada--Calvino e Calvinistas têm ensinado que a lei e
o evangelho devem se relacionar um ao outro em maneiras apropriadas na luz plena
do evangelho de Jesus Cristo.
i. Este relacionamento entre a lei e o evangelho deve se expressar claramente as
exigências morais de Deus que são demonstradas tanto no AT como no NT, ou
seja, as demandas morais de Deus revelada no tempo antes e depois da
encarnação de Jesus Cristo.
ii. Calvino concorda com Lutero que distinguir entre lei e evangelho é fundamental
para a teologia cristã. Calvino escreveu o seguinte na Institutas, livro III, xvii, 2:
“Por esta razão, também as promessas que nos eram oferecidas na lei teriam sido
todas ineficazes e sem préstimo, não as socorresse a bondade de Deus através
do evangelho.”
b. A Lei não Pode Justificar--Calvino argumenta que a lei é “ineficaz e sem préstimo”
para nos justificar diante de Deus.
i. É ineficaz, não porque fornece um meio ruim pelo qual uma pessoa poderia ser
justificada diante de Deus.
ii. É ineficaz porque o ser humano não tem a energia ou a capacidade moral de
percorrê-la perfeitamente.
iii. Como seria mais tarde declarado na Confissão de Westminster, a lei de Deus
requer uma obediência que seja pessoal, perfeita e perpétua. Calvino afirma isso
da mesma forma um século antes da publicação desta Confissão de Westminster.
iv. Calvino argumentou que embora a obediência humana fosse pessoal, muitas
vezes esta obediência era inautêntica. A lei não pode ser o caminho pelo qual um
ser humano pode ser ______________ diante de Deus.

2. Três Usos da Lei


- Calvino ensina que a lei tem três usos válidos na vida de um cristão:
a. O Uso Civil da Lei - No pensamento de Calvino, a lei divina orienta o meio pelo qual
as sociedades funcionam e criam condições sociais que levam ao florescimento dos
indivíduos.
i. A Lei divina restringe o pecado que sempre está latente no coração humano.
ii. Todos, pagãos e cristãos, se comportariam muito pior na sociedade se não fosse
pela consciência generalizada da lei divina de Deus encontrada na consciência de
todos.
iii. Em geral, esta consciência social se alinha com os princípios morais expressados
e codificados nos dez mandamentos.
b. O Uso Pedagógico da Lei - Essa é a função pela qual a Lei mostra a alguém a sua
necessidade e sua falha moral diante das exigências da Lei divina.
i. Ao perceber esta falha a pessoa é levada à fé em Cristo como a solução do seu
problema, o pecado.
ii. A lei mostra o que é exigido do ser humano diante de Deus.
iii. Calvino, portanto, argumentou que Deus pretendeu que esse uso pedagógico da
Lei levaria a pessoa a ver os seus pecados e confessá-los e, principalmente, voltar
a Cristo para salvação e encontrar perdão Nele.
c. O Uso Educacional da Lei - Calvino argumenta que esta visão da Lei tem haver com
o uso principal dela na vida cristã. A lei dirige e molda a vida cristã de alguém como
uma resposta ao perdão recebido de Cristo Jesus. Nas Institutas, II, vii, 5, Calvino
ensina:
“E nós?... Não há dúvida de que o ensino perfeito de justiça que o Senhor reivindica
para a lei tem validade perpétua. Não contentes com isso, porém, trabalhamos
vigorosamente para planejar e forjar boas obras sobre boas obras em nossa própria
força. O melhor remédio para curar essa falha será fixar este pensamento
firmemente na mente: a lei foi divinamente transmitida ... para nos ensinar a justiça
perfeita.

3. É Necessário Ter Conhecimento da Lei.


Calvino argumenta que mesmo a consciência de um cristão exige que haja a lei, porque o
cristão ainda tem pecado reminiscente na vida interior dele. O pecado reminiscente afeta não
apenas a vontade - que é a capacidade de saber o que é certo e fazer o que a pessoa sabe
que deve ser feito, mas também o pecado reminiscente afeta a mente e o Coração. O pecado
reminiscente afeta o conhecimento e amor pelas coisas que o cristão deve ter na vida cristã.
a. O fato é que o cristão quando é deixado sozinho, acaba faltando em sabedoria e
discernimento na vida ética cristã.
b. Não é suficiente ter um desejo subjetivo e autêntico de amar a Deus, ou seja, ter um
zelo emocional por Deus. O zelo por Deus deve estar emparelhado com o
conhecimento de Deus.
c. Esta ética expressa na vida cristã requer tanto conhecimento intelectual de Deus
quanto a disciplina pessoal.
d. Uma vida cristã disciplinada assim requer que haja habituação na vida da pessoa
seguindo as práticas descritas na Lei de Deus.
e. A lei não torna o cristão inocente, mas a Lei faz com que o cristão seja maduro e
completo. O uso do Calvino do termo "perfeito" fala de maturidade ou integridade na
vida do cristão.

4. O Objetivo Principal da Lei é a Instrução


a. Portanto, Calvino concorda com Lutero que a lei não deve ser um meio qual o cristão
pode ser justificado diante de Deus. Ninguém é capaz de guardar a Lei totalmente
para adquirir a justiça e aprovação perfeita antes do tribunal de Deus.
b. No entanto, a lei também tem uma função maior na vida de um cristão. O cristão é
educado por Ele por meio de Sua lei para expressar a gratidão, a fé e o amor por
Deus. O cristão é educado pela Lei sobre a forma apropriada pelo qual Deus o chama
para caminhar no caminho da justiça perfeita.
c. Este terceiro uso da lei, como meio educacional, de acordo com Calvino, é o principal
uso da lei na vida de um cristão.
5. A Influência de Calvino nas Tradições Reformadas e Luteranas
a. O ensino de Calvino, tem sido paradigmático tanto para as tradições reformadas
quanto, ironicamente, para as tradições luteranas.
b. Philippe Melâncton, que também lecionou na Universidade de Vitemberga, fez uma
contribuição notável no desenvolvimento da tradição teológica luterana. Foi a
influência de Melâncton que também levou os luteranos a falar e afirmar os três usos
da Lei, embora o próprio Lutero não usasse essa linguagem.
c. Lutero certamente expressou as ideias de que a Lei ensina, a Lei instruí, a Lei é um
dom para moldar a expressão da obediência cristã, mas ele não esboçou os três usos
da Lei como Calvino o fez.
i. Lutero só falou dos dois usos da Lei.
ii. Foi o Melâncton e Calvino e outros na tradição reformada da segunda geração da
Grande Reforma do século dezesseis que elaboraram do terceiro uso da lei como
o uso principal da Lei para o cristão. Aquele desenvolvimento doutrinário tem
marcado tanto as tradições Reformadas e Luteranas ao longo dos séculos até os
dias de hoje.

6. A Lei Deve Nos Conduzir a Cristo antes da Ação


É bom observar que, como a Grande Reforma ocorreu em etapas, a clareza doutrinaria
foi trazida ao longo do tempo. A preocupação de Calvino em falar de todos os três usos
da Lei era de manter a atenção do cristão focado tanto na amplitude do ensino bíblico a
respeito da Lei que ensina que a Lei dever ser colocado diante do cristão como um
espelho para mostrar as falhas dele e conduzi-lo a Cristo, quanto nas ênfases dos autores
bíblicos que celebram a Lei como um presente dado aos já salvos por Deus.
a. A lei é tratada principalmente como um dom de Deus que é dada para instruir o povo
de Deus em justiça.
b. A lei deve conduzir o cristão a Cristo antes de levá-lo a seguir o exemplo Dele. A
distinção de Lutero aqui é útil. Cristo é um presente antes de ser um exemplo - mas
porque Ele é um presente, Ele também se torna um exemplo para o Seu povo.

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