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Table of Contents

Prefácio à edição brasileira


Prólogo
Introdução
Capítulo 1 – Teonomia e ética
Capítulo 2 – Teonomia e o escopo da Lei
Capítulo 3 – Teonomia e autonomia
Capítulo 4 – Teonomia e lei natural
Capítulo 5 – Teonomia e antinomianismo
a ntinomianismo
Capítulo 6 – Teonomia e legalismo
Capítulo 7 – Teonomia e o uso apropriado da Lei de Deus
Capítulo 8 – Teonomia e hermenêutica
Capítulo 8 – Teonomia e lei civil
Capítulo 10 – Teonomia e respostas
Conclusão
Lista de leitura sugerida para o estudo adicional de teonomia
Sobre o autor
Ética & a lei de Deus
Uma introdução à teonomia

William O. Einwechter
© 1995, de William O. Einwechter
Título do original: Ethics & God’s Law: An Introduction to Theonomy 
Edição publicada pela
Preston/Speed Publications
(Mill Hall, Pensilvânia, EUA)

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por


EDITORA MONERGISMO
Caixa Postal 2416
Brasília, DF, Brasil - CEP 70.842-970
Telefone: (61) 8116-7481 - Sítio: www.editoramonergismo.com.br

1a edição, 2009

1000 exemplares

Tradução:
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Revisão:
Revisão : Túlio César Costa Leite
Capa:
Capa: Raniere Maciel Menezes

PROIBIDA A REPRODUÇÃO POR QUAISQUER MEIOS ,


SALVO EM BREVES CITAÇÕES , COM INDICAÇÃO DA FONTE .

Todas as citações bíblicas foram extraídas da


versão Almeida
versão Almeida Corrigida e Fiel  (ACF),
 (ACF),
salvo indicação em contrário.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Einwechter, William O.

Ética e a lei de Deus: uma introdução à teonomia / William O. Einwechter, tradução Felipe Sabino de Araújo Neto –
Brasília, DF: Editora Monergismo, 2009.

Título original: Ethics & God’s Law: An Introduction to Theonomy 


ISBN 978-85-62478-09-3

1. Ética 2. Bíblia 3. Teologia

CDD 230
Sumário
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
PRÓLOGO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1 – TEONOMIA E ÉTICA
CAPÍTULO 2 – TEONOMIA E O ESCOPO DA LEI
CAPÍTULO 3 – TEONOMIA E AUTONOMIA
CAPÍTULO 4 – TEONOMIA E LEI NATURAL
CAPÍTULO 5 – TEONOMIA E ANTINOMIANISMO
CAPÍTULO 6 – TEONOMIA E LEGALISMO
CAPÍTULO 7 – TEONOMIA E O USO APROPRIADO DA LEI DE DEUS
CAPÍTULO 8 – TEONOMIA E HERMENÊUTICA
CAPÍTULO 8 – TEONOMIA E LEI CIVIL
CAPÍTULO 10 – TEONOMIA E RESPOSTAS
CONCLUSÃO
LISTA DE LEITURA SUGERIDA PARA O ESTUDO ADICIONAL DE TEONOMIA
SOBRE O AUTOR
Prefácio à edição brasileira

A lei de Deus tem valor intrínseco. A importância, bem-aventurança e


obrigatoriedade de estudá-la e obedecê-la é contínua, a despeito das circunstâncias ao
nosso redor, ou do cenário no qual vivemos. Todavia, quando a lei de Deus é desprezada ou
rejeitada, mesmo por aqueles que deviam honrá-la, torna-se ainda mais imperativo que os
cristãos sejam exortados a prestar à lei o valor que lhe é devido. O que poucos parecem
perceber é que rejeitar a lei equivale a rejeitar o seu Legislador, ou seja, o Deus que a
revelou.
Ética e a lei de Deus 
Deus   é uma tentativa, bem sucedida creio eu, de apresentar os
principais fundamentos da ética bíblica, bem como refutar alguns equívocos comuns sobre
ela. O termo teonomia pode
teonomia pode parecer estranho e até assustador para alguns, mas ele quer
dizer simplesmente “a lei de Deus”. Visto que a lei de Deus está contida na Bíblia, quando
falamos de teonomia ou ética teonômica, estamos falando de “ética bíblica”, “ética da lei de
Deus” ou simplesmente “a ética ensinada na Bíblia”. E visto que a Bíblia é o cetro pelo qual
o Rei celestial governa a sua criação, devemos prestar atenção a todos os seus ensinos,
incluindo aqueles sobre ética pessoal, familiar, eclesiástica e social.
Einwechter é escritor exímio, que sempre expôs com clareza, coerência e firmeza
mesmo as doutrinas mais difíceis da Bíblia.[1]
Bíblia. [1] O
 O autor demonstra a mesma habilidade no
presente livro, e eu não hesitaria em recomendá-lo inclusive àqueles que ainda são neófitos
na fé cristã. O crente experiente também será beneficiado, pois caso não seja um
teonomista, provavelmente verá que não lhe apresentaram corretamente “a outra visão”,
principalmente no capítulo sobre “teonomia e lei civil”. E com certeza
certeza os teonomistas serão
fortalecidos e encorajados com a exposição cuidadosa de Einwechter, bem como por sua
atitude num debate por vezes muito hostil.
Boa leitura!

— Felipe Sabino de Araújo Neto


10 de maio de 2009
Prólogo

O renascimento bem-vindo da ortodoxia Reformada no Ocidente após séculos de


declínio notório tem sido necessariamente acompanhado por um interesse elevado na lei
bíblica. Isso não é surpreendente, visto que de todas as expressões do Cristianismo
ortodoxo, nenhuma dá maior ênfase à relevância da lei escriturizada de Deus que o
Calvinismo histórico e confessional. Em seu excelente livro Lectures in Systematic Theology ,
Theology ,
primeiramente publicado no século XIX, o notável calvinista R. L. Dabney observou que “a
visão que tenho apresentado da Lei, como a expressão necessária e imutável da retidão de
Deus, mostra que sua autoridade sobre as criaturas morais é inevitável”. O crente
reformado ortodoxo sempre manteve que a lei é um reflexo do caráter imutável de Deus e,
portanto, não pode mudar, assim como ele não pode.
No volume presente, Ética e a Lei de Deus , William Einwechter apresenta sucinta,
mas potentemente a concepção mais consistente dessa visão Reformada da lei, hoje
conhecida como teonomia. O fato que essa visão tem ocasionado certa controvérsia não
somente no evangelicalismo moderno (que é abundante em antinomianismo), mas também
na comunidade Reformada contemporânea, testemunha o quanto a fé Protestante se
desviou de sua rica herança.
Espero que o trabalho bem argumentado do Pastor Einwechter reforce a fé dos
calvinistas históricos na lei escrita de Deus e convença outros da validade desta visão que
honra a Deus.
Não haverá nenhum reavivamento genuíno à parte da disseminação do evangelho
puro, e não haverá nenhuma disseminação do evangelho puro à parte de um reavivamento
do entendimento Reformado da lei.
— Rev. Andrew Sandlin
Introdução
Se existe uma palavra que melhor descreva o estado do mundo e da igreja com
respeito à ética, teria que ser a palavra confusão. Ora, não é difícil entender porque o
mundo não pode encontrar nenhuma concordância sobre o padrão ético para lidar com o
caos moral da era presente, mas é mais difícil explicar a divisão na igreja sobre a questão da
ética. Como pode a igreja de Jesus Cristo não ter nenhuma resposta bíblica unificada à crise
moral do momento? Esse fracasso deveria ser profundamente perturbador para todo
verdadeiro filho de Deus. Essa incapacidade de dar uma solução bíblica bem articulada à
confusão moral que nos confronta desonra a Deus, leva a um estilo de vida perverso entre
os cristãos, prejudica nosso próximo, e atrapalha o nosso testemunho ao mundo por
contribuir à noção comum que a igreja é irrelevante. É triste dizer, mas parece ser verdade,
que “o sal da terra” perdeu seu “sabor” e agora, em grande medida, “para nada mais presta
senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens” (Mt 5.13).
Contudo, há razão para acreditar que essa situação inaceitável está começando a
mudar. O Senhor Deus, para a glória do seu próprio nome e para o avanço do seu reino, está
trabalhando em sua igreja para levantar crentes que estão plenamente comprometidos em
princípio e prática à doutrina Reformada cardinal do sola Scriptura
sola  Scriptura (somente
 (somente a Escritura).
Pela graça de Deus um número crescente de cristãos estão respondendo à crise ética no
mundo aplicando a doutrina do sola  sola  Scriptura 
Scriptura  à questão da ética. Essa aplicação fiel e
consistente da Escritura somente à questão da ética veio a ser conhecida em nossos dias
como “teonomia”.[2]
“teonomia”.[2]
Mas, tristemente, no tempo presente há muito mal entendido na igreja com respeito
à teonomia. Alguns creem que a teonomia é uma conspiração perigosa para destruir a
liberdade civil e escravizar os cidadãos nas algemas da lei mosaica. Outros veem a
teonomia como um retorno a um tipo de “legalismo farisaico” que joga a liberdade do
cristão no chão. Enquanto outros simplesmente não sabem o que pensar; para eles o termo
“teonomia” soa estranho ou mesmo misterioso. O que, então, é “teonomia”? O propósito
O  propósito
deste livro é fornecer uma resposta básica e direta a essa pergunta. Espero que esta breve
introdução à ética teonômica dê ao leitor um entendimento fundamental dos aspectos
essenciais da teonomia, e também esclareça muitos dos equívocos sobre a teonomia que
estão em circulação. Por fim, é nossa esperança que o leitor não somente será convencido
convencido
que a teonomia é a abordagem bíblica à ética como também será motivado a estudar mais
sobre o assunto.[3]
assunto.[3]
UMA DEFINIÇÃO DE TEONOMIA
Capítulo 1 – Teonomia e ética
Para entender a ética teonomista devemos primeiro definir as palavras “teonomia” e
“ética”. Tendo feito isto, seremos capazes de dar uma definição básica do sistema ético da
teonomia.
O significado essencial da palavra “teonomia” é muito claro. Ele vem das palavras
gregas theos,
theos, significando “Deus”, e nomos,
nomos, significando “lei”. Portanto, nossa palavra
portuguesa “teonomia” significa “lei de Deus”, ou “a lei de Deus” (cf. Rm 7.22, 25; 8.7).
Assim, embora a palavra “teonomia” possa a princípio soar estranha para nós, não há nada
estranho sobre o seu significado; ela significa simplesmente “a lei de Deus” e está
relacionada à frase do Antigo Testamento, “a lei do Senhor” (Sl 19.7). Mas pa ra definir a
palavra teonomia, como ela é usada hoje, devemos colocá-la em seu contexto normal.
Teonomia é usada como um título (rótulo) para designar uma abordagem particular à ética
cristã. Teonomia refere-se à visão que a lei de Deus é o padrão para a ética cristã. Portanto,
se haveremos de entender apropriadamente o significado da “teonomia”, devemos definir
também a palavra “ética”.
Nossa palavra portuguesa “ética” é derivada do termo grego (ethikos
(ethikos)) para “morais”.
Morais são princípios ou padrões de conduta que fixam uma diferença entre
comportamento aceitável e inaceitável. Portanto, ética tem a ver com conduta humana, e
com o estudo dos padrões de comportamento moral. O objetivo da ética é estabelecer qual
é a conduta moral apropriada ao fazer uma distinção entre certo e errado. A ética lida com
“dever”, isto é, ela procura determinar o que uma pessoa deveria fazer entre cursos
alternativos de conduta. Ao estabelecer padrões morais ela capacita uma pessoa a julgar
como deveria agir. Noah Webster forneceforne ce uma definição útil de ética: “A doutrina da
moralidade ou maneiras sociais; a ciência da filosofia moral, que ensina aos homens seus
deveres e as razões deles. Um sistema de princípios morais; um sistema de regras para
regulamentar as ações e maneiras dos dos homens na sociedade”.
sociedade”.[4]
[4]
Portanto, ética, como uma ciência, refere-se ao estabelecimento
e stabelecimento de princípios morais
fundamentais que servirão como uma regra para prescrever a conduta justa e boa. O
objetivo da ética é construir um sistema coerente de moralidade que ensina ao homem o
que ele deveria fazer, como deveria agir, e porque deveria agir da maneira prescrita. A ética
procura responder três questões: “Qual é o motivo da ação humana?”; “Qual é o padrão da
ação humana?”; e “Qual é o fim ou propósito da ação humana?”.[5]
humana?”.[5]
Porque a ética está preocupada em criar um sistema de moralidade, a palavra é
frequentemente usada em referência ao código de conduta ensinado por uma pessoa,
filosofia ou religião em particular (e.g., ética marxista; ética confucionista; ética grega; ética
hindu, etc.). Portanto, a expressão “ética cristã” refere-se
refere-se ao sistema de moralidade
apresentado na Bíblia e ensinado pelos seguidores de Jesus Cristo.
O que então é “teonomia”? Teonomia
Teonomia é aquela visão da ética cristã que crê que a lei
de Deus como revelada na Escritura é a única regra apropriada e o único padrão aceitável
para julgar o certo ou errado de todo e qualquer comportamento humano. Somente a lei de
Deus determina o que o homem deveria fazer e porque deveria fazê-lo. A ética teonômica,
portanto, apresenta a lei de Deus como o padrão supremo de verdade e justiça, e procura
aplicar os preceitos da lei santa de Deus a toda ação do homem e a cada esfera da vida.
Teonomia é simplesmente a expressão da doutrina do sola Scriptura
sola  Scriptura no
 no reino da ética.[6]
ética. [6]
Tendo dado uma definição básica de teonomia, é necessário que passemos agora a
uma descrição mais aprofundada das características essenciais da teonomia. Essa
descrição, que é dada nos capítulos que seguem, é crucial para um entendimento
apropriado da ética teonômica.
UMA DESCRIÇÃO DE TEONOMIA
Capítulo 2 – Teonomia e o escopo da Lei

A teonomia afirma que a lei revelada de Deus é o padrão para a ética. Mas o que se
quer dizer por lei revelada de Deus e qual é o escopo dessa lei?
Quando a teonomia afirma que o padrão para a ética é a lei de Deus, ela refere-se à
lei moral revelada na Escritura.
Escritura . A lei moral é aquela lei[7]
lei[7] que
 que estabelece o padrão ético de
conduta para todos os homens em qualquer lugar. Ela incorpora a vontade de Deus para
todos os homens em termos do caráter e comportamento deles. A Pergunta 93 do
Catecismo Maior de Westminster questiona, “Que é a lei moral?”, e responde: “A lei moral é
a declaração da vontade de Deus, feita ao gênero humano, dirigindo e obrigando todas as
pessoas à conformidade e obediência perfeita e perpétua a ela – nos apetites e disposições
do homem inteiro, alma e corpo, e no cumprimento de todos aqueles deveres de santidade
e retidão que se devem a Deus e ao homem…”.
A lei moral é baseada na própria natureza santa de Deus (1Pe 1.15-16), e estabelece
a justiça de Deus que os homens devem imitar em suas próprias vidas (Mt 5.48; Ef 5.1). O
Senhor diz ao homem: “Porque eu sou o SENHOR vosso Deus; portanto vós vos santificareis,
e sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11.44). Visto que a lei moral é um reflexo da
natureza santa do Deus soberano da criação, ela deve ser universal (obrigatória sobre
todos os homens em qualquer lugar) e imutável (obrigatória sobre todas as dispensações),
porque o próprio Deus não pode mudar (Ml 3.6; Tg 1.17; Sl 102.25-27), e como Criador ele
é rei sobre toda a terra (Gn 1.1; Sl 47.2). A lei moral é, portanto, a regra imutável de
conduta correta para todos os homens e para todos os tempos. Será sobre a base desta lei
moral que Deus julgará todos os povos e nações (Sl 9.7-8, 16-20; 96.10, 13; 98.2, 9; Atos
17.31; Rm 2.5-12; 3.19).
A lei moral é resumida na Escritura nos Dez Mandamentos (Ex 20.1-17; Dt 4.13; 5.6-
21). A significância dos Dez Mandamentos é explicada para nós no Catecismo Maior de
Westminster:
A lei moral acha-se resumidamente compreendida nos dez mandamentos, que
foram dados pela voz de Deus no monte Sinai e por ele escritos em duas tábuas de
pedra, e estão registrados no capítulo vigésimo do Êxodo. Os quatro primeiros
mandamentos contêm os nossos deveres para com Deus e os outros seis os nossos
deveres para com o homem. (P. 98)
Mas as palavras dos Dez Mandamentos constituem o escopo total da lei moral
revelada de Deus? Ou Deus deu uma revelação mais detalhada da sua vontade para o
homem? E se sim, onde?
Ao responder as questões acima é útil considerar o significado da palavra do Antigo
Testamento para lei, que é torá.
torá. Visto que tendemos a definir o conceito de lei no sentido
legal limitado de mandamentos e estatutos explícitos, um entendimento da palavra
hebraica torá 
torá  é muito útil para entender o escopo da lei moral. O termo hebraico torá
denota essencialmente os conceitos de ensino, instrução e direção. A torá  torá  fornece aos
homens instrução sobre como viver e revela os princípios de conduta que os homens
deveriam seguir em suas relações uns com os outros e em sua adoração a Deus.
Concernente à palavra torá,torá, Jocz declara: “O substantivo é derivado do verbo hebraico
 yarah 
 yarah  (lançar, atirar). No uso bíblico, ele cobre uma variedade ampla de significado:
informar, instruir, guiar, conduzir, etc. A torá 
torá  existe para fornecer direção, visando o
propósito de fazer a vontade de Deus… ela nunca é simplesmente lei no sentido legal. Ela é
sabedoria, uma expressão de devoção a Deus, um estilo de vida”.[8]
vida”.[8] É
 É por meio da torá que
torá que
“Deus mostra seu interesse em todos os aspectos da
aspectos da vida do homem, que deve ser vivida
sob sua direção e cuidado. A lei de Deus permanece em paralelo à Palavra do Senhor para
significar que a lei é a revelação da vontade de Deus (e.g., Is 1.10)”.[9]
1.10)”. [9] A torá dá
torá dá direção
apropriada à vida do homem ao revelar ao homem a conduta moral que Deus requer dele.
A lei (torá
(torá)) de Deus refere-se a toda a instrução moral
moral que Deus revelou ao homem.
Sempre que Deus instrui o homem em seus deveres morais, ali Deus dá sua lei moral.
Consequentemente, a lei de Deus não é declarada apenas nos códigos mais formais de lei
tais como os Dez Mandamentos ou o Livro do Pacto (Ex 20.22-23.33), mas a lei de Deus é
revelada também no contexto da narrativa histórica, profecia, salmos, provérbios e
epístolas! Portanto, a revelação da lei moral se estende além dos Dez Mandamentos e inclui
toda a Palavra de Deus. Os Dez Mandamentos resumem os princípios essenciais da lei
moral, mas esses princípios são desenvolvidos, explicados, ilustrados e aplicados em todo o
restante da Escritura.
Consequentemente, a teonomia ensina que o padrão de ética é o todo da Palavra de
Deus, desde Gênesis a Apocalipse. A lei do Senhor é revelada por Moisés e os Profetas, e por
Jesus e os Apóstolos. A teonomia é zelosa em sustentar todo o conselho de Deus (Atos
20.20, 27), como dado nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento, como sendo a lei de
Deus. A teonomia evita o erro de limitar a base para o padrão ético somente a uma porção
da Palavra de Deus. Regras obrigatórias de conduta são encontradas em todas as partes da
Escritura. A teonomia afirma que toda  toda  a Escritura é dada por inspiração de Deus e é
proveitosa para instrução na justiça (2Tm 3.16).
A teonomia afirma também que a Palavra de Deus é uma revelação completa da
vontade de Deus para o homem, e como tal, é suficiente para falar com autoridade
obrigatória a cada questão da vida. A lei de Deus é perfeita, e fornece instrução para nos
equipar a determinar o que é certo e errado em cada e toda situação (Sl 19.7-10; 119.99,
104, 128). Não precisamos de outra fonte que não a Escritura inspirada para definir justiça
(2Tm 3.16-17). A Confissão Belga fornece uma maravilhosa declaração resumida sobre a
suficiência completa da Escritura:
Cremos que esta Sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e
suficientemente ensina tudo o que o homem deve crer para ser salvo. Nela, Deus
descreveu, por extenso, toda a maneira de servi-lo. Por isso, não é lícito aos
homens, mesmo que fossem apóstolos “ou um anjo vindo do céu”, conforme diz o
apóstolo Paulo (Gálatas 1.8), ensinarem outra doutrina, senão aquela da Sagrada
Escritura. É proibido “acrescentar algo à Palavra de Deus ou tirar algo dela”
(Deuteronômio 12.32; Apocalipse 22.18,19). Assim se mostra claramente que sua
doutrina é perfeitíssima e, em todos os sentidos, completa.[10]
completa.[10]
A lei de Deus apresenta o padrão para a ética pessoal, familiar, eclesiástica e social.
De acordo com Dt 6.8-9, a lei de Deus deve guiar todas as nossas deliberações, todas as
nossas ações, tudo o que acontece em nossos lares, e tudo o que transpira além dos nossos
lares. A lei moral é um padrão ético abrangente que deve dirigir o indivíduo, o pai, o
presbítero e o magistrado civil. Todos devem se curvar diante da autoridade da lei e, nisto,
buscar sabedoria e direção para toda boa obra; pois sem a lei e o testemunho não haverá
nenhuma luz em nós (Is 8.20), mas na lei de Deus encontraremos uma luz verdadeira para
o nosso caminho (Sl 119.105, 130). Nunca devemos confiar em nossa própria sabedoria na
ética, antes, em todos os nossos caminhos devemos reconhecer a autoridade e perfeição da
lei de Deus e permitir que ela dirija as nossas veredas (Pv 3.5-7).
A teonomia ensina que a lei de Deus como revelada nas Escrituras do Antigo e Novo
Testamento é o único padrão autoritativo de ética, e que a Bíblia é inteiramente suficiente
para nos instruir na justiça para cada esfera da vida. O moto da teonomia poderia muito
bem ser “o
“o todo da Bíblia para o todo da vida ”.
Capítulo 3 – Teonomia e autonomia

A ética da teonomia é contrastada pela ética da autonomia. O que é autonomia? A


palavra “autonomia” é derivada de duas palavras gregas, autos,autos, significando “eu”, e nomos,
nomos,
significando “lei”. Eticamente falando, autonomia significa que o homem é uma lei para si
mesmo. O homem autônomo alega o direito de governar a si mesmo de acordo com as
normas morais que ele acha
ele acha apropriado estabelecer; ele alega a autoridade de sua própria
razão independente de ser o juiz do que é verdadeiro e falso, bom e mau.
Assim então, autonomia é claramente o oposto de teonomia; pois, assim como a
teonomia afirma o governo da lei de Deus, a autonomia afirma o governo da lei do homem.
A ética autônoma é antropocêntrica (centrada no homem), enquanto a ética teonômica é
teocêntrica (centrada em Deus). A essência da autonomia ética é aquela do homem
estabelecendo as normas morais do caráter e conduta humanos por
humanos  por algum padrão
padrão diferen
diferente
te
da lei revelada de Deus; seja esse padrão a razão humana, a tradição, religião ou filosofia. A
teonomia está procurando fazer aquilo que é correto aos olhos do Senhor (1 Reis 15.5, 11;
22.43); a autonomia é todo homem fazendo o que “parece bem aos seus olhos” (Juízes 17.6;
21.25; Dt 12.8). Teonomia é alguém andando no conselho do Senhor (Sl 16.7; 32.8; 73.24);
autonomia é alguém andando no seu próprio conselho (Sl 81.12) ou no conselho do ímpio
(Sl 1.1). Talvez uma das declarações mais claras na Escritura que contrasta o caminho da
teonomia e o caminho da autonomia é encontrada em Jeremias 7.23-24:
Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e
vós sereis o meu povo; e andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que
vos vá bem. Mas não ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos, mas andaram nos
seus próprios conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para
trás, e não para diante (cf. também Jr 10.2-3; 11.8; 18.12; 23.17).
Qualquer sistema ético que rejeite a lei de Deus como o único e supremo padrão de
certo e errado, deve necessariamente ser um sistema ético que é autônomo em seu cerne,
isto é, uma lei para si mesmo. Se Deus é o criador de todas as coisas, então sua natureza
santa deve ser o padrão de santidade e justiça entre os homens que foram criados à sua
imagem (Gn 1.27; 1Pe 1.14-16; Cl 3.10; Ef 4.24). A lei revelada de Deus, que é uma
transcrição do seu santo caráter, deve ser necessariamente a única regra verdadeira que
define para o homem o que é bom e correto, o que o homem deveria fazer e ser. Dessa
forma, rejeitar a lei de Deus e estabelecer alguma regra rival de ética é suprimir a verdade
em injustiça e adorar e servir à criatura antes que ao Criador (Rm 1.18-25). A promessa de
autonomia foi central na tentação da Serpente, “sereis como Deus, sabendo o bem e o mal”
(Gn 3.5). A sedução de Satanás que levou o homem ao pecado foi a mentira que ele não
precisava depender de Deus e da sua Palavra para o conhecimento do bem e do mal, mas
que ele poderia ser o seu próprio deus[11]
deus [11] e
 e conhecer e determinar essas coisas por si só.
Autonomia na ética é o homem seguindo a mentira de Satanás e vivendo sua rebelião
contra Deus e sua lei. É a tentativa do homem de ser o seu próprio deus. Essa autonomia na
ética é a própria essência do humanismo.
Portanto, não pode haver tal coisa como neutralidade ética. Eticamente falando, há
somente duas opções possíveis: teonomia ou alguma forma de autonomia. Ou você serve ao
Criador e vive pelos padrões que ele revelou, ou serve a criatura e vive pelos padrões de
sua própria confecção ou escolha.[12]
escolha.[12] É
 É vão para uma pessoa alegar que está ocupando um
meio termo entre teonomia e autonomia, pois essa própria alegação é uma rejeição da
autoridade de Deus e o governo de sua lei sobre aqueles feitos à sua imagem. A
imagem.  A Escritura
Escritura, e
a Escritura somente,
somente , deve ser a base para a nossa ética ! Deus não concedeu autonomia a
nenhuma esfera da vida. O indivíduo, a família, a igreja, e o Estado (sim, o Estado também!)
devem se submeter a Deus e à sua lei como a única fonte verdadeira,
verdadeira, infalível e autoritativa
para o conhecimento do bem e do mal. Ninguém tem liberdade para determinar para si
mesmo, ou para os outros, o que é bom e mau. Alguém alegar tal liberdade é apenas expor a
sua rebelião contra Deus.
Uma forma enganosa de teonomia existe na igreja cristã hoje. Esse tipo de teonomia
presta serviço labial à lei de Deus, mas então continua para determinar quais mandamentos
dessa lei moral serão mantidos. Nesse sistema, somente aqueles mandamentos que são
julgados estar em sintonia com o tempo, que são considerados praticáveis para hoje, ou que
estão de acordo com as noções modernas de amor, lealdade e justiça sobrevivem como
padrões de ética. Mas quando os homens ou a igreja julgam a lei de Deus, e anulam ou
alteram quaisquer dos mandamentos de Deus sem autorização bíblica direta da parte de
Deus isso é autonomia, pois no final é a própria sabedoria e senso moral do homem que se
torna o padrão. Muitíssimos cristãos hoje são como aqueles em Israel que hesitavam entre
duas opiniões. Numa situação a lei de Deus é aceitável, mas em outra situação a “lei de
Baal” (e.g., leis promulgadas por um Estado humanista, ou por filósofos e psicólogos
seculares) é encontrada mais em ritmo com os tempos e mais aplicável e racional. Mas a
pessoas como essas o Senhor ainda fala: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se
o SENHOR é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o”
segui-o” (1 Reis 18.21).
A teonomia se opõe a todas as formas de autonomia na ética, e chama todos os
homens em todo lugar a se arrependerem de sua rebelião e abraçar a lei de Deus como o
único padrão de ética para toda esfera da vida. Os teonomistas aplicam com ousadia as
palavras de Jesus à questão dos padrões morais e éticos: “ninguém pode servir a dois
senhores” (Mt 6.24). Autonomia é o homem servindo a si mesmo e vivendo de acordo com
sua própria lei. Teonomia é o homem servindo a Deus e vivendo de acordo com a lei de
Deus.
Capítulo 4 – Teonomia e lei natural
“Lei natural” é um termo enganoso, pois significa coisas diferentes para pessoas
diferentes. Uma visão secular da lei natural[13]
natural[13] diferirá
 diferirá radicalmente de uma visão cristã
da lei natural. E mesmo entre cristãos há diferenças de opinião sobre muitas das questões
relativas à definição e uso da lei natural. Aqui nos limitaremos a uma discussão da
evidência bíblica.
De acordo com a Bíblia, Deus revela sua glória, natureza santa e a lei moral através
da criação, providência e consciência do homem (Sl 19.1-6; Atos 14.17; 17.23-31; Rm 1.19-
31; 2.14-15). Chamamos essa manifestação
manifestação de “revelação natural”, pois ela é a verdade
mostrada ao homem por meio das obras de Deus no reino criado. A lei natural é uma parte
dessa revelação natural. A lei natural é, portanto, a revelação da lei moral de Deus por meio
da criação, providência e consciência
consciência do homem. Porque a revelação natural está em todos
os tempos e em todos os lugares claramente apresentada diante do homem e no homem,
todos são responsáveis, e todos serão julgados por ela (Rm 1.19-31). A teonomia reconhece
plenamente a verdade bíblica da revelação natural e da lei natural. Contudo, a teonomia
também afirma fortemente a insuficiência da lei natural como o padrão de ética por causa
das limitações do homem como uma criatura, e por causa de sua queda no pecado.
Sendo uma criatura, o homem precisa da Palavra do Criador para interpretar e
entender corretamente todas as coisas. Deus, não o homem, é a medida de todas as coisas e
a fonte de todo conhecimento e verdade, incluindo o conhecimento do bem e do mal.
Portanto, mesmo no Jardim do Éden, quando o homem ainda era perfeito e sem pecado, ele
precisava da Palavra externa de Deus para instruí-lo e guiá-lo na santa vontade de Deus (Gn
1.28-29; 2.16-17). O homem tinha uma consciência pura, e a criação não tinha sido sujeita à
maldição, e ainda assim a lei natural não era suficiente. Requeria-se que a Palavra de Deus
ensinasse ao homem o caminho do dever e a vereda da justiça.
Se o homem sem pecado precisava da Palavra de Deus e não poderia guiar-se
somente pela lei natural, quanto mais deve o homem caído necessitar da Palavra de Deus a
fim de aprender o conhecimento do bem e do mal. Se a lei natural era insuficiente antes da
queda, ela é duplamente inadequada agora porque a capacidade do homem de discernir a
lei natural foi grandemente afetada pela queda. Em primeiro lugar, a própria criação está
agora sob a maldição do pecado (Gn 3.17-19; Rm 8.19-22). Portanto, embora a criação
ainda testemunhe a glória e o poder de Deus (Sl 19.1-6; Rm 1.19-20), ela não mais pode
servir como uma revelação infalível de padrão ético.[14]
ético.[14]   Em segundo lugar, o homem é
agora uma criatura pecadora e rebelde que busca suprimir a verdade da lei natural em sua
injustiça (Rm 1.18). É certamente verdade que “a obra da lei” foi “escrita em seus corações”
(Rm 2.14-15), mas a consciência poluída do homem não é de forma alguma um guia
confiável para discernir o que é justo, bom e correto (Pv 16.25; 1Tm 4.2; Tito 1.15; Hb 9.14;
10.22). Podemos confiar na consciência do homem caído, cujo “coração é enganoso,
é enganoso, mais do
que todas as coisas, e perverso” (Jr 17.9), para ser o juiz final do que é bom e mau?
A doutrina da depravação total nos ensina que é tolo crer que o homem em si
mesmo, ou em conselho com outros, será capaz de estabelecer um sistema ético
perfeitamente justo sobre a base da lei natural. Com respeito a isso, Van Til disse:
Essa doutrina da depravação total do homem deixa claro que a consciência moral
do homem, como ele é hoje, não pode ser a fonte de informação sobre o que é o
bem ideal
ideal ou sobre qual é o padrão do bem… É nesse ponto particularmente que o
cristão precisa manter sem qualquer apologia e sem qualquer concessão que é à
luz da Escritura, e da Escritura somente,
somente , que todas as questões morais devem ser
respondidas. A Escritura como uma revelação externa tornou-se necessária por
causa do pecado do homem. Nenhum ser vivo pode sequer apresentar o problema
moral como deveria, ou fazer as perguntas morais como deveria, a menos que o
faça à luz da Escritura. O homem não pode de si mesmo encarar verdadeiramente o
problema moral, muito menos respondê-lo.[15]
respondê-lo. [15]
O único resultado de fazer a lei natural o padrão de ética para o homem caído será
confusão e erro.[16]
erro.[16]
O que o homem precisa é uma declaração escrita objetiva da lei moral de Deus. Isso
é exatamente o que Deus deu-lhe nas páginas da Sagrada Escritura. A Palavra de Deus
coloca diante do homem o padrão infalível de ética. A Bíblia revela a lei moral com a
precisão da comunicação escrita. O homem não precisa “procurar” padrões morais na
região turva da lei natural, mas precisa apenas se voltar para a luz radiante da Escritura
para ler os mandamentos explícitos e os princípios morais revelados nela (Sl 119.105). A
Palavra de Deus dá luz e entendimento mesmo aos símplices (Sl 119.130).
Essa superioridade da revelação bíblica sobre a revelação natural não significa que
haja qualquer contradição entre
contradição entre a lei natural como revelada na natureza, e a lei moral como
declarada na Escritura. A unidade entre a lei natural e a lei bíblica é expressa na Confissão
de Fé Batista de Londres:
A mesma lei que uma vez foi inscrita no coração humano continuou a ser uma
regra perfeita de justiça após a queda. E essa lei foi dada por Deus sobre o monte
Sinai e inscrita em duas tábuas de pedra, na forma de dez mandamentos. Os quatro
primeiros mandamentos contêm nossos deveres para com Deus, e, os outros seis
mandamentos, nossos deveres para com os homens.[17]
homens.[17]
Há somente uma lei moral, pois há somente um Deus verdadeiro que é a fonte de
todas as coisas, incluindo a lei moral.
Todavia, a teonomia afirma fortemente que a lei bíblica é muito superior à lei
natural como manifestação da vontade de Deus, pois a lei bíblica é escrita, infalível,
objetiva, detalhada e abrangente. A lei bíblica excede em muito a lei natural como revelação
da lei santa de Deus. Dessa forma, devemos “confessar que toda a regra do viver justo,justo , e
instrução na fé também, são mais plenamente entregues nas Escrituras Sagradas , à qual
nada pode, sem criminalidade, ser adicionado, e da qual nada pode ser tirado”.[18]
tirado”.[18]
Seria apropriado o homem rejeitar a interpretação escrita infalível de Deus sobre a
esfera moral, e substitui-lá pela interpretação falível da sua própria razão independente e
consciência caída? Certamente não! Portanto, a lei bíblica deveria ser reconhecida por
todos como o padrão supremo de ética. Afirmemos com Davi a perfeição completa e
desejabilidade da lei escrita de Deus acima da revelação natural:
A lei do SENHOR  é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do S ENHOR é fiel, e dá
sabedoria aos símplices. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o
mandamento do SENHOR é puro, e ilumina os olhos. O temor do S ENHOR é limpo, e
permanece eternamente; os juízos do SENHOR são verdadeiros e justos juntamente.
Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do
que o mel e o licor dos favos. (Salmo 19.7-10)
Capítulo 5 – Teonomia e antinomianismo

A palavra “antinomiano” significa “contra a lei” e, teologicamente, refere-se


refere -se àqueles
na igreja que enfatizam tanto a liberdade cristã da condenação da lei, que minimizam ou
mesmo removem a responsabilidade do cristãos guardar a lei agora que já está justificado.
O grito do antinomiano é que o cristão “não está debaixo da lei, mas debaixo da graça”,
deixando implícito que a graça de Deus em Cristo de alguma forma anula a obrigação que o
crente tem de guardar a lei moral. O antinomianismo “é sintomático de um padrão de
pensamento presente em muitos círculos evangélicos que a ideia de guardar os
mandamentos de Deus não é consoante com a liberdade e espontaneidade do cristão, que
 guardar  a
 a lei tem suas afinidades com o legalismo e com o princípio das obras, e não com o
princípio da graça”.[19]
graça”. [19] Hodge declara que o antinomianismo, “como a palavra indica, é a
doutrina que Cristo cumpriu de tal forma todas as exigências da lei moral em favor de todos t odos
os eleitos, ou de todos os crentes, que eles estão livres de todas as obrigações de cumprir
seus preceitos como um padrão de caráter e ação”.[20]
ação”. [20] Portanto,
 Portanto, o antinomista rejeita a lei
de Deus como o padrão da ética cristã.
A teonomia está em aberta oposição a todas as formas de antinomianismo. A
teonomia ensina que a lei de Deus é o padrão de viver santo, e que todos os crentes estão
plenamente obrigados a andar de acordo com os justos mandamentos da lei. Contrário ao
que o antinomista diz, a fé em Jesus Cristo não anula a lei para o cristão, mas sim
estabelece-a (Rm 3.31)! A Confissão de Fé de Westminster diz corretamente:
A lei moral obriga para sempre a todos a prestar-lhe obediência, tanto as pessoas
justificadas como as outras, e isto não somente quanto à matéria nela contida, mas
também pelo respeito à autoridade de Deus, o Criador, que a deu. Cristo, no
Evangelho, não desfaz de modo algum esta obrigação, antes a confirma.
Isso, contudo, não sugere que a teonomia minimiza de alguma forma a graça de Deus
ou a justiça imputada de Cristo. A teonomia afirma plenamente a justificação pela fé
somente (Ef 2.8-9), e se gloria na cruz de Cristo (Gl 6.14) e na graça de Deus (Gl 2.21; Rm
11.5-6; Ef 1.6). A teonomia repudia qualquer tentativa de basear a justificação sobre as
obras da lei (Rm 3.19-20; Gl 3.10-13; Tito 3.5).
Mas aqueles que aderem à teonomia também creem que a justificação e a
santificação não podem ser separadas; pois essas são partes da obra única de Deus em
salvar o seu povo do pecado. Na justificação o crente é liberto da  penalidade 
 penalidade  do pecado,
enquanto na santificação o crente é progressivamente liberto do poder 
do poder  do
 do pecado. E o que é
pecado? “Pecado é a transgressão da lei” (1Jo 3.4, ARA). Portanto, a santificação deve ser
vista como o processo pelo qual os crentes são trazidos crescentemente a uma
conformidade à vontade de Deus, deixando de serem transgressores da lei e se tornando
cumpridores da lei (Rm 6.1-6; 7.25; 8.4; 1Jo 2.3-8; 3.4-9). Os cristãos devem se tornar
santos assim como Deus é santo (1Pe 1.14-16), e serem renovados à imagem da justiça de
Deus (Ef 4.24; Cl 3.10). Onde a imagem da justiça de Deus é encontrada? Na lei moral, que é
um reflexo da natureza santa de Deus, e em Jesus Cristo, que guardou perfeitamente todos
os mandamentos da lei moral! Dessa forma, o objetivo da santificação é que os crentes
sejam conformados à imagem de Cristo (Rm 8.29) e glorifiquem a Deus guardando todos os
mandamentos da lei moral. O poder para santificação vem por meio do dom do Espírito
Santo, que escreve a lei de Deus sobre os corações e mentes do povo de Deus (Rm 8.1-4; Hb
8.9-10).
A alegação antinomista que a graça nos livra da responsabilidade de guardar a lei de
Deus é totalmente equivocada. Quando Paulo diz, “não estais debaixo da lei, mas debaixo
mas  debaixo da
graça” (Rm 6.14), ele não pode estar ensinando que o cristão está agora livre da obrigação
de guardar a lei moral, como os antinomistas afirmam, pois ele já tinha dito que os crentes
não devem apresentar seus “membros ao pecado por instrumentos de iniquidade” (Rm
6.13). Visto que “toda transgressão é pecado” (1Jo 3.4), Paulo deve estar mandando os
crentes pararem de ser transgressores da lei. Além do mais, Paulo continua e explica que os
cristãos são agora “servos da justiça” (Rm 6.18-22).
6.18-22). Visto que essa justiça é mais tarde
identificada por Paulo como “a justiça da lei” (Rm 8.4), Paulo deve estar ensinando aos
cristãos que a forma deles servirem a Deus é guardando a sua santa lei.
Portanto, a frase, “não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça”, não pode estar
pode estar
ensinando o que os antinomistas dizem que está! O ponto de Paulo é simplesmente este:
aqueles que estão em Cristo são capazes de quebrar o domínio do pecado em suas vidas,
pois não estão mais limitados ao recurso de apenas um código escrito de mandamentos que
lhes diz o que deveriam fazer, mas não lhes dá a capacidade para cumprir esses
mandamentos; pelo contrário, aqueles que têm a graça de Deus operando em sua alma pelo
poder do Espírito do Cristo ressurreto são agora capazes de obedecer aos mandamentos de
Deus. Estar debaixo da lei é ter apenas os recursos da lei. Estar debaixo da graça é ter os
recursos da graça, i.e., as riquezas de Cristo! Paulo é muito cuidadoso em deixar certo que
suas palavras sobre estar debaixo da graça e não da lei não sejam entendidas num sentido
antinomista, ao declarar enfaticamente que ele não está dando licença aos crentes para
transgredir a lei: “Pois que? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da
graça? De modo nenhum” (Rm 6.15). A graça graç a não ensina o cristão a negar a lei, mas sim
ensina-o a guardar a lei (cf. Tito 2.11-12)!
O antinomista também afirma que sua liberdade cristã livra-o da responsabilidade
de guardar a lei de Deus. Mas essa visão é claramente antibíblica. A verdadeira liberdade
cristã não é liberdade para estabelecer o nosso próprio padrão ético a despeito da lei de
Deus (autonomia), mas é a liberdade para servir a Deus e viver pelos padrões éticos de sua
santa lei (teonomia). Em Cristo, somos libertos do pecado para nos to rnarmos “servos da
justiça” (Rm 6.18). A verdadeira liberdade espiritual é andar em obediência aos
mandamentos de Deus: “E andarei em liberdade; pois busco os teus preceitos.” (Sl 119.45).
A lei de Deus é “a lei perfeita da liberdade” para o cristão (Tg 1.25;
1.25; 2.12).
Uma forma muito prevalecente de antinomianismo é a visão que o cristão está
inteiramente livre da obrigação de obedecer à lei do Antigo Testamento porque os crentes
estão agora debaixo “da lei de Cristo” (1Co 9.21). Essa visão permite que a lei do Antigo
Testamento forneça “sabedoria” para o cristão em suas decisões éticas, pois o Antigo
Testamento ainda é reconhecido como Escritura inspirada. Todavia, essa sabedoria
proveniente da lei do Antigo Testamento não é considerada obrigatória para
obrigatória para o cristão, pois
essas leis são apenas 
apenas  para Israel. O cristão pode ganhar sabedoria da lei do Antigo
Testamento, mas, aparentemente, ele não está sob obrigação de obedecê-la. Esses
antinomistas têm, dessa forma, criado uma nova categoria de revelação: a sabedoria não
obrigatória da parte de Deus![21]
Deus! [21] Essa
 Essa visão permite ao homem sentar-se para julgar a lei
de Deus, e aceitar ou rejeitar sua sabedoria moral como bem parecer a ele! ele! Essa abordagem
à lei do Antigo Testamento mina grandemente a ética cristã, pois anula uma das fontes
primárias da lei moral: a lei revelada por meio de Moisés e dos Profetas. Com efeito, esse
ensino cancela a autoridade de
autoridade de quase 4/5 da Sagrada Escritura para estabelecer o padrão
ético obrigatório para
obrigatório para hoje!
A teonomia repudia fortemente essa visão antinomista da lei do Antigo Testamento,
e o faz pelas seguintes razões. Em primeiro lugar, é um erro muito sério apresentar uma
diferença entre a “lei do SENHOR” (i.e., Iavé ou Jeová) e a “lei de Cristo”, pois o “S
“SENHOR” e
“Cristo” são um (Dt 6.4; Jo 1.1-4;
1.1-4; 10.30; 14.8-11). Não pode haver nenhuma diferença
fundamental entre a lei do Antigo Testamento e a lei de Cristo, pois há somente “um
legislador” (Tg 4.12; Is 33.22), e esse “legislador” é Cristo (Gn 49.10)! O padrãopadrã o moral
ensinado por Moisés e o Profeta “como” Moisés (i.e., Jesus Cristo; cf. Dt 18.15-18;
18.15-18; Atos 3.22-
23) são igualmente a Palavra de Deus e igualmente obrigatória sobre os homens.
Em segundo lugar, Jesus Cristo mesmo ensinou enfaticamente a autoridade contínua
dos preceitos morais da lei do Antigo Testamento para o seu reino, quando disse:
Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir.
Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou
um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um
destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será
chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será
chamado grande no reino dos céus. (Mt 5.17-19)
Jesus declara aqui que os seus discípulos são responsáveis em praticar e ensinar os
princípios éticos e morais contidos na lei e nos profetas. Como Calvino diz, “não devemos
imaginar que a vinda de Cristo nos livrou da autoridade da lei: pois ela é a regra eterna de
uma vida santa e devota, e deve, portanto, ser tão imutável quanto a justiça de Deus, a qual
ela abrange, e que é constante e uniforme”.[22]
uniforme”.[22] Cristo
 Cristo ensinou seus seguidores a guardar a
lei moral revelada
revelada no Antigo Testamento. A “lei de Cristo” é que amemos a Deus e ao nosso
próximo guardando a lei de Deus (Mt 22.36-40).
Em terceiro lugar, os apóstolos de Cristo ensinam também que a lei moral do Antigo
Testamento é obrigatória para a dispensação do Novo Testamento (Rm 3.31; 6.18; 7.12, 14,
16, 22, 25; 13.8-10; 15.4; Hb 8.10; Tg 2.8-12; 4.11; 1Jo 2.7; 5.2-3). Não há nem mesmo a
mínima insinuação que os apóstolos consideravam a lei moral revelada no Antigo
Testamento como sendo ab-rogada para o cristão. Para eles, a lei revelada por meio de
Moisés era a “lei perfeita de liberdade” (Tg 1.25; 2.12). Paulo resumiu a visão apostólica
sobre a autoridade da lei moral do Antigo Testamento quando escreveu que toda a
Escritura (incluindo a lei do Antigo Testamento!) é proveitosa para instrução na justiça
para os crentes do Novo Testamento (2Tm 3.16). Quando Deus nos instrui no caminho da
justiça (i.e., nos dá sabedoria moral), ele espera que o obedeçamos!
Em quarto lugar, o propósito expresso de Deus na Nova Aliança é escrever sua lei
sobre o coração e mente dos crentes em Jesus Cristo (Hb 8.9-10; 10.16), e dar-lhes o
Espírito Santo “para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a
carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8.4). Ora, qual é a lei q ue está em vista nessas
promessas aos crentes da Nova Aliança? Não é necessário uma graduação em teologia para
perceber que deve ser a mesma lei moral revelada na Antiga Aliança  (cf. Jr 31.33); a lei que é
resumida nos Dez Mandamentos, aplicada nas jurisprudências do Antigo Testamento, e
exposta por todo o restante da Escritura do Antigo Testamento!
A teonomia repudia o ódio antinomista pela lei de Deus e confessa com o salmista,
“Oh! quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia”, e, “melhor é para
para mim a lei
da tua boca do que milhares de ouro ou prata” (Sl 119.97, 72). O teonomista concorda com
Paulo, e crê que a lei é santa, justa, boa e espiritual (Rm 7.12, 14), busca “servir à lei de
Deus” (Rm 7.25), e declara “tenho prazer na lei de Deus” (Rm 7.22)!
(Rm 7.22)!
Capítulo 6 – Teonomia e legalismo
É importante entender que o legalismo não deve ser simplesmente igualado com a
lei ou uma ênfase sobre guardar a lei. Legalismo, biblicamente falando, não é o uso da lei,
mas o uso incorreto da
incorreto da lei (i.e., um uso não prescrito por Deus). Como o antinomianismo, o
legalismo tem muitas facetas e toma várias formas. Que seja claramente conhecido de
antemão que o sistema ético da teonomia condena todos os tipos de legalismo.
O tipo mais evidente de legalismo é a visão que uma pessoa pode ser justificada
diante de Deus sobre a base de sua própria obediência às obras da lei. Esse foi o erro dos
fariseus. É também o erro do pelagianismo. Igualmente falsa é a visão semi-pelagiana que a
justificação é uma mistura de graça e obras (e.g., Catolicismo Romano). A teonomia rejeita
fortemente qualquer sistema de salvação pelas obras da lei. Todos os homens são
pecadores e transgridem a lei de Deus (Rm 3.10, 23), e como tal, a lei não pode salvá-los;
ela pode apenas condená-los como transgressores que merecem a maldição da lei (Rm
3.19-20; Gl 3.10). Para o homem pecador, a lei que foi ordenada para a vida (Rm 7.10)
torna-se uma ministração de condenação e morte (2Co 3.7, 9). A única esperança para os
transgressores da lei é a salvação pela graça por meio da fé na obra consumada de Jesus
Cristo (Gl 2.16; 3.11-13, 21-22; Rm 3.22-31).
Outra faceta do legalismo é aquela de enfatizar a obediência à lei, enquanto
negligencia enfatizar também o espírito no qual a lei deve ser guardada. Essa atitude
legalista geralmente envolve uma observância meticulosa de detalhes pequenos da lei (que
a pessoa deveria cumprir), mas omite “o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a
fé” (Mt 23.23). O legalista falha em praticar a verdadeira justiça, mostrar misericórdia aos
outros, e amar a Deus como resultado de um coração de fé. Esse era outro erro dos fariseus.
A teonomia repudia totalmente tal legalismo, e ensina uma abordagem à lei que,
embora enfatizando a obediência cuidadosa a todos os mandamentos de Deus, não falha em
chamar os homens a servirem a Deus de coração, no espírito de amor e submissão. A
verdadeira obediência a Deus envolve tanto  tanto  conformidade externa como 
como  submissão
interna. Devemos temer ao Senhor e amá-lo de todo o nosso coração, alma e força (Dt 6.5).
Se haveremos de agradar a Deus, devemos abordar a lei da mesma forma que o salmista:
“Dá-me
“Dá-me entendimento, e guardarei a tua lei, e observá-la-ei
observá-la- ei de todo o meu coração” (Sl
119.34). Uma obediência à lei que é meramente exterior falha no teste da verdadeira
obediência (cf. Mt 5.17-6.18; 23.13-3). A obediência autêntica busca a glória de Deus (1Co
10.31), e é motivada pelo amor a Deus (1Jo 5.2-3). Moisés instrui o povo de Deus no que o
Senhor deseja para eles:
Agora, pois, ó Israel, que é que o S ENHOR teu Deus pede de ti, senão que temas o
SENHOR  teu Deus, que andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao
SENHOR  teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma, que guardes os
mandamentos do SENHOR, e os seus estatutos, que hoje te ordeno, para o teu bem?
(Dt 10.12-13; cf. Dt 11.1, 13. 22)
Jesus disse aos seus discípulos: “Se me amais, guardai os meus mandamentos” (Jo
14.15, 21). O Senhor Jesus também resumiu o dever do homem na lei moral em termos de
amor a Deus e amor pelo nosso próximo (Mt 22.36-40; cf. Dt 6.5; Lv 19.18). A verdadeira
obediência à lei de Deus começa no coração e é motivada pelo amor.
Outro tipo de legalismo é aquele que falha em enfatizar ou considerar
apropriadamente a centralidade do Espírito Santo na santificação. Nessa visão, é a própria
lei que tem o poder de santificar; tudo o que alguém tem que fazer é aplicar-se em guardar
a lei e ele se tornará justo em todas as suas atitudes e ações. Contudo, a lei em si e de si
mesma, como um código escrito de mandamentos, não tem o poder para santificar o crente.
A lei pode ordenar o caminho da justiça, mas não pode fornecer a motivação ou o poder
para o homem andar no caminho da justiça (2Co 3.6, 17-18; Rm 7.6-25). É o Espírito Santo,
somente, que pode capacitar o crente a cumprir os requerimentos santos da lei (Rm 8.2-4).
Deus, por meio do seu Espírito, deve operar em nós tanto para desejarmos como para
cumprirmos a sua boa vontade (Fp 2.13). A lei é muito importante em nossa santificação,
mas somente como um instrumento do Espírito Santo para nos reprovar, corrigir e guiar na
justiça.
Uma forma final de legalismo a ser observada é a prática de adicionar tradições
humanas à lei de Deus. Essas tradições, que são supostamente baseadas na lei de Deus,
estabelecem padrões humanos de justiça, anulando na verdade os padrões de Deus, e leva
os homens a transgredirem os verdadeiros mandamentos de Deus (Mt 15.1-9). Esses
mandamentos de homens são usados pelos hipócritas para se exaltarem e condenarem
todos os que não vivem por suas tradições. Os escribas e fariseus usaram
usaram suas tradições
para condenar a Cristo e os seus discípulos! A teonomia não tem lugar para tais pessoas ou
suas tradições! A ética da teonomia é baseada somente nos mandamentos de Deus! As
tradições humanas, quer por negação ou por adição aos padrões justos da lei de Deus, e
toda mudança na lei de Deus, são algo estritamente proibido (Dt 4.2; 12.32).
A teonomia rejeita todos os tipos de legalismo e ensina que a lei de Deus não deve
ser usada incorretamente pelos homens para sua própria justificação ou exaltação. A
teonomia sustenta que a salvação é pela graça por meio da fé, e que o desenvolvimento
dessa salvação graciosa significa que os crentes guardarão os mandamentos de Deus pelo
poder do Espírito, por amor a Deus e ao próximo. A teonomia se opõe ao legalismo,
ensinando que o motivo da ação humana é amar aos outros, e não amar a nós mesmos, e
que o fim ou propósito da ação humana é a glória de Deus, e não a nossa própria glória.
Capítulo 7 – Teonomia e o uso apropriado da Lei de Deus
Tendo mencionado no capítulo anterior o uso incorreto da lei de Deus, pode ser útil
estabelecer neste capítulo o que a teonomia professa com respeito ao uso apropriado da lei.
Paulo disse: “Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente” (1Tm
1.8). Observaremos brevemente seis usos “legais” da lei de Deus.
Primeiro, a lei de Deus informa aos homens a natureza e vontade santa de Deus, e o
dever deles andarem em obediência aos mandamentos de Deus (1Pe 1.16; Mt 5.48; Ec
12.13). A lei deve ser usada para ensinar a sã doutrina com respeito a Deus e a
responsabilidade do homem para com Deus.
Em segundo lugar, a lei convence os homens do seu pecado e justa condenação
diante de Deus (Rm 3.19-20; 7.7-11; 2Co 3.9; Gl 3.10; Tg 2.8-13). A lei deve ser usada na
pregação do evangelho aos pecadores. A lei age para convencer e condenar poderosamente
o perdido.
Em terceiro lugar, a lei age para conduzir os homens à salvação pela fé em Jesus
Cristo (Gl 3.21-24; Rm 7.24-25; 3.19-26). Tendo convencido os homens de seu pecado, e
fechado a boca deles sob a maldição de Deus, a lei é usada para direcioná-los à a sua única
esperança: a graça de Deus em Jesus Cristo! Esses três primeiros usos da lei são declarados
na resposta à Pergunta 95 do Catecismo Maior:
A lei moral é de utilidade a todos os homens, para os instruir sobre a natureza e
vontade de Deus e sobre os seus deveres para com ele, obrigando-os, a andar
conforme a essa vontade; para os convencer de que são incapazes de a guardar e
do estado poluto e pecaminoso da sua natureza, corações e vidas; para os
humilhar, fazendo-os sentir o seu pecado e miséria, e assim ajudando-os a ver
melhor como precisam de Cristo e da perfeição da sua obediência.
Em quarto lugar, a lei é um meio de graça para a santificação do crente. Por meio da
lei moral revelada na Escritura, Deus comunica sua graça aos seus filhos (Atos 20.32). Jesus
orou ao Pai: “Santifica-
“Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Uma
Uma parte
central dessa verdade santificadora é a lei, pois como o salmista declara, “a tua lei é a
verdade” (Sl 119.142). Além do mais, Deus resiste ao soberbo, mas dá graça ao humilde (Pv
3.34; Tg 4.6). A lei é o instrumento mais excelente para nos humilhar!
Em quinto lugar, a lei é a regra de vida para o crente (Sl 119.105, 133; Js 1.8). A lei
ensina ao cristão a vontade de Deus, e refreia-o do mal. A Confissão de Fé de Westminster
contém uma declaração excelente sobre o uso da lei na vida cristã:
Embora os verdadeiros crentes não estejam debaixo da lei como pacto de obras,
para serem por ela justificados ou condenados, contudo, ela lhes serve de grande
proveito, como aos outros; manifestando-lhes, como regra de vida, a vontade de
Deus, e o dever que eles têm, ela os dirige e os obriga a andar segundo a retidão;
descobre-lhes também as pecaminosas poluções da sua natureza, dos seus
corações e das suas vidas, de maneira que eles, examinando-se por meio dela,
alcançam mais profundas convicções do pecado, maior humilhação por causa deles
e maior aversão a eles, e ao mesmo tempo lhes dá uma melhor apreciação da
necessidade que têm de Cristo e da perfeição da obediência dele. Ela é também de
utilidade aos regenerados, a fim de conter a sua corrupção, pois proíbe o pecado;
as suas ameaças servem para mostrar o que merecem os seus pecados e quais as
aflições que por causa deles devem esperar nesta vida, ainda que sejam livres da
maldição ameaçada na lei. Do mesmo modo as suas promessas mostram que Deus
aprova a obediência deles e que bênção podem esperar, obedecendo, ainda que
essas bênçãos não lhes sejam devidas pela lei considerada como pacto das obras -
assim o fazer um homem o bem ou o evitar ele o mal, porque a lei anima aquilo e
proíbe isto, não é prova de estar ele debaixo da lei e não debaixo da graça.

Finalmente, a lei fornece a base para uma sociedade justa e bem ordenada (Dt 4.6-8;
Sl 33.12; Pv 14.34; Rm 13.1-7). A lei de Deus, como revelada na Escritura, apresenta o
padrão perfeito de justiça civil. Quando a lei de Deus é a base para a lei civil de uma nação,
os malfeitores serão punidos e o mal, restrito (Dt 17.12-13; 1Tm 1.8-10). O justo será
protegido e conhecerá a verdadeira liberdade civil (Tg 1.25; Sl 119.45). Os cristãos viverão
“uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade” (1Tm 2.2). A nação que
honra o Senhor e age de acordo com os padrões da lei de Deus experimentará bênção, paz e
prosperidade (Sl 2.10-12; Dt 28.1ss).
A teonomia defende esses usos “legais” da lei, e rejeita qualquer
qualquer uso da lei não
prescrito por Deus em sua Palavra. A Confissão Belga declara: “Ainda usamos os
testemunhos da Lei e dos Profetas para confirmarmo-nos no Evangelho e, também, para
regularmos nossa vida em toda honestidade, para a glória de Deus, conf ormeorme sua vontade”.
A teonomia concorda de coração!
Capítulo 8 – Teonomia e hermenêutica
Hermenêutica refere-se à ciência da interpretação; ela lida com os princípios
apropriados da exegese. De modo geral, a teonomia sustenta o princípio Protestante
histórico da interpretação histórico-gramatical. Isso indica que a teonomia exige uma
exegese cuidadosa da Escritura que leva em conta todo dado relevante de qualquer texto
particular. Esse dado inclui os detalhes sintáticos e léxicos juntamente com o contexto
literário, histórico e teológico.
O desafio específico para a teonomia é interpretar e aplicar a lei bíblica ao nosso dia
e cultura. Essa apresentação da abordagem teonômica para interpretar a lei de Deus
começará observando três perspectivas fundamentais que a teonomia traz para essa tarefa.
Em primeiro lugar, a teonomia não advoga (como alguns têm acusado) uma transferência
direta simplista da lei bíblica para os nossos dias. A teonomia não ensina que deveríamos
pegar as leis dadas a Israel, e sem uma consideração dos fatores teológicos e culturais
únicos a Israel, fazer essas leis nossas para hoje. Em segundo lugar, a teonomia crê que o
princípio moral que informa (sustenta) cada mandamento é universal e imutável, e que
esse princípio (uma vez confirmado por exegese cuidadosa) pode e deve ser aplicado ao
nosso dia e cultura. Em alguns casos será relativamente fácil descobrir o postulado moral,
visto que o próprio mandamento é declarado em termos de um princípio universal;
enquanto em outros isso será mais difícil, pois o mandamento é declarado em termos da
posição única de Israel como a nação pactual do Antigo Testamento. Em terceiro lugar, a
teonomia reconhece plenamente a dificuldade de interpretar e aplicar a lei bíblica. Os
teonomistas não alegam ter todas as respostas ou ter resolvido todas as perguntas sobre
como entender o texto bíblico. A tarefa de interpretar e aplicar a lei bíblica requer
humildade, diligência e habilidade.
Mais especificamente, a abordagem teonômica à interpretação e aplicação da lei
bíblica é baseada em cinco princípios hermenêuticos. O primeiro, e talvez o mais
importante, é o princípio que somente Deus, o Legislador, tem a autoridade de adicionar ou
tirar algo daquilo que ele ordenou: “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem
diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do S ENHOR  vosso Deus, que eu vos
mando” (Dt 4.2; cf. Dt 12.32). Por causa desse princípio, deveríamos assumir a validade e
autoridade contínua de cada e todo mandamento de Deus na Escritura, a menos que Deus
mesmo indique mais tarde na Escritura[23]
Escritura [23] que
 que uma lei particular foi mudada, modificada
ou repelida. Deve haver uma clara garantia bíblica antes de podermos dizer que um
mandamento de Deus não é mais obrigatório para nós hoje. É pura presunção o homem
colocar de lado qualquer lei de Deus sem autorização escrita definida para fazê-lo,
procedente do próprio Legislador.
Além do mais, visto que a lei moral é universal e imutável, deveríamos assumir uma
continuidade entre os requerimentos morais da lei do Antigo Testamento e os padrões
morais para a igreja do Novo Testamento.[24]
Testamento. [24]   Portanto, em termos da lei do Antigo
Testamento, o cristão deveria considerar seus mandamentos específicos obrigatórios, a
menos que o Novo Testamento explicitamente ensine outra coisa. Dessa forma, a
abordagem bíblica à lei do Antigo Testamento é baseada sobre uma suposição de
continuidade, juntamente com o reconhecimento do status  status  do Novo Testamento como
sendo a autoridade final sobre o uso e aplicação da lei do Antigo Testamento nesta
dispensação.
Outro princípio muito importante de interpretação é o reconhecimento que a lei do
Antigo Testamento consiste de dois tipos de leis: cerimoniais e morais. Essa distinção dupla
é evidente em muitos textos bíblicos: “Fazer justiça e juízo é mais aceitável ao SENHOR do
que sacrifício” (Pv 21.3); “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não
sacrifício” (Mt 9.13; cf. Os 6.6; Am 5.15, 21-24;
21 -24; Sl 40.6-8; 50.8ss; Jr 7.22-23; Mt 12.7). As leis
cerimoniais 
cerimoniais  regulavam a adoração de Israel, e forneciam meios pelos quais o pecado
poderia ser expiado através do sacerdócio e dos sacrifícios de animais. Sob a classificação
da lei cerimonial deveríamos incluir aquelas leis que diziam respeito especificamente à
separação de Israel das nações pagãs (e.g, as leis dietéticas, Dt 14.3-21), e sua vida na terra
de Canaã (e.g., as leis de herança, Nm 27.8-10; o casamento levita, Dt 25.5-10; a guerra
santa contra os cananistas, Dt 20.16-18).
As leis morais do
morais do Antigo Testamento definiam os padrões justos de conduta para o
povo pactual de Deus. As leis morais são declaradas como preceitos e máximas gerais (e.g.,
“não furtarás”), ou como jurisprudências que prescrevem a conduta num caso específico,
de forma que estabelece o dever moral para todos os casos assim relacionados (e.g., Ex
23.4).[25]
23.4).[25] É
 É importante entender que as leis civis de Israel não constituem uma terceira
categoria de lei; as leis civis são na verdade um sub-sistema da lei moral. A lei civil de Israel
é a expressão da lei moral em termos
te rmos da ética social e política. Consequentemente, a lei civil
de Israel estabelece princípios universais de justiça civil e retidão política.
Deve ser reconhecido que nem sempre é claro a qual categoria, cerimonial ou moral,
pertencem certas leis do Antigo Testamento. Todavia, essas são as categorias bíblicas, e
devemos aderir a elas. Um fracasso em discernir apropriadamente se uma lei do Antigo
Testamento é cerimonial ou moral levará ao uso incorreto do Antigo Testamento nesta era
da Nova Aliança. Por que? Espero que os dois princípios a seguir deixem isso claro.
O terceiro princípio da interpretação teonômica é o ensino do Novo Testamento que
as leis cerimoniais do Antigo Testamento eram tipológicas em natureza, prenunciando a
pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo; consequentemente, a vinda de Cristo trouxe uma
mudança na lei e pôs um fim à observância dessas sombras do Antigo Testamento (Cl 2.17;
1Co 5.7; Hb 9.9; 10.1; 1Tm 4.3-5; Ef 2.14-15; Gl 2.3; 5.2-6). O cumprimento da lei cerimonial
em Cristo, e o fato que essas leis não são mais obrigatórias hoje são claramente ensinados
no Novo Testamento. A Confissão Batista de Londres dá um resumo útil da lei cerimonial e
sua relação com Cristo:
Além desta lei, comumente chamada de lei moral, Deus houve por bem dar leis
cerimoniais ao povo de Israel, contendo diversas ordenanças simbólicas: em parte,
de adoração, prefigurando Cristo, as suas graças, suas ações, seus sofrimentos, e os
benefícios que conferiu; e, em parte, estabelecendo várias instruções de deveres
morais. As leis cerimoniais foram instituídas com vigência temporária, pois mais
tarde seriam ab-rogadas por Jesus, o Messias e único Legislador, que, vindo no
poder do Pai, cumpriu e revogou essas leis.
A vinda de Cristo e o estabelecimento da igreja do Novo Testamento alteraram
também o status do
status do Israel do Antigo Testamento. A membresia no povo pactual não é mais
limitada ao Israel nacional, mas está aberta a todos os que creem em Jesus Cristo, a
despeito do seu pano de fundo ético ou nacional (Ef 2.11-22; Gl 3.16, 26-29). A circuncisão
e a identificação de uma pessoa com a nação de Israel deixou de ser uma necessidade para
o crente do Novo Testamento (Gl 2.3-5; 5.1-6; 6.15). A igreja de Cristo não está limitada aos
palestinos e judeus, mas está expandida em todo o mundo e abrange todas as nações (Mt
28.19-20; Sl 2.6-9). O Israel do Antigo Testamento era um tipo da igreja do Novo
Testamento, e o reino de Israel na Palestina prenunciava o reino mundial do Messias (Rm
4.11-13; Gl 6.16). Por conseguinte, segue-se definitivamente que as leis do Antigo
Testamento relacionadas à separação de Israel das nações e a sua vida na terra de Canaã
foram ab-rogadas, visto que essasessas eram “ordenanças típicas” designadas somente até “o
tempo da reforma” em Cristo e o estabelecimento da ordem do Novo Testamento nele.
Contudo, isso não significa que a lei cerimonial não tenha nenhum valor ou aplicação
para os crentes hoje. Como Calvino explica: “Com respeito às cerimônias, há alguma
aparência de mudança ocorrendo; mas foi apenas o uso delas que foi abolido, pois o seu
significado foi mais plenamente confirmado. A vinda de Cristo não tirou nada nem mesmo
das cerimônias, mas pelo contrário, confirma-as
confirma-as exibindo a verdade de sombras…”.[26]
sombras…”. [26]
Assim, quando essas leis são estudadas à luz do seu cumprimento em Cristo, elas retêm
importância como uma ferramenta de ensino para melhor entender a Cristo, sua obra e sua
igreja.[27]
igreja.[27]   A teologia que fundamenta a lei cerimonial é a mesma teologia que Cristo
cumpre; a primeira é aquela teologia em sombras, mas Cristo é essa teologia na substância.
A Confissão Belga expressa tal verdade assim:
Cremos que as cerimônias e figuras da lei terminaram com a vinda de Cristo e que,
assim, todas as sombras chegaram ao fim. Por isso, os cristãos não devem mais
usá-las. Contudo, para nós, sua verdade e substância permanecem em Cristo Jesus,
em quem têm seu cumprimento.
O quarto princípio hermenêutico é a afirmação do Novo Testamento que as leis
morais do Antigo Testamento foram confirmadas por Cristo e os seus apóstolos como
sendo obrigatórias para hoje (Mt 5.17ss; 22.36-40; Rm 8.1-4; 13.8-10; 1Co 7.19). O Novo
Testamento confirma plenamente a autoridade contínua da lei moral revelada nas
Escrituras do Antigo Testamento (2Tm 3.16-17).[28]
3.16-17).[28]   Os apóstolos falam de Cristo
oferecendo um sacrifício melhor e instituindo um sacerdócio melhor, mas nunca falam de
Cristo instituindo padrões morais melhores.[29]
melhores.[29]   O Novo Testamento aprofunda o nosso
entendimento da lei moral de Deus, mas não nos dá uma nova lei moral.[30] moral. [30]   O Novo
Testamento completa a revelação de Deus ao homem e, portanto, completa a revelação da
lei moral de Deus.
Mas alguém procurará em vão no Novo Testamento sequer um versículo que
deprecie qualquer dos padrões morais do Antigo Testamento. O Novo Testamento exibe
uma harmonia perfeita entre os padrões éticos revelados por Moisés e os Profetas e
aqueles revelados por Jesus e os apóstolos. Portanto, a Escritura do Novo Testamento nos
instrui a considerar as leis morais do Antigo Testamento como obrigatórias hoje, e a
considerar as leis cerimoniais como sendo ab-rogadas. Um fracasso em reconhecer esse
ensino abrirá a porta para o abuso da lei do Antigo Testamento na igreja do Novo
Testamento.
O princípio final para a interpretação da lei bíblica que será observado nesta
apresentação é a necessidade de levar em consideração as diferenças culturais entre os
tempos bíblicos e os nossos dias. Se haveremos de aplicar apropriadamente os princípios
eternos da lei de Deus ao mundo moderno, as descontinuidades culturais devem ser
entendidas e transpostas. A tarefa neste respeito é discernir e separar o padrão obrigatório
da lei moral a partir de sua expressão
expressão cultural no Antigo e Novo Testamento,
Testamento,[31]
[31] e
 e então
aplicar esse padrão obrigatório à nossa cultura e cenário. Como declarado anteriormente,
muitos dos mandamentos bíblicos são dados em termos de padrões morais universais.[32]
universais. [32]
O problema para nós quando lidando com essas leis não é interpretação ou aplicação;
nosso problema é obediência! No entanto, os mandamentos bíblicos que declaram a lei
moral em termos da cultura bíblica requerirão de nós determinar o princípio moral que
fundamenta o mandamento.[33]
mandamento.[33]   É a lei moral que informa o mandamento que é
obrigatório, e não necessariamente a expressão cultural da lei. A dimensão cultural da
interpretação bíblica é desafiante, todavia muito necessária. Contudo, devemos nos
precaver para que o elemento da cultura não seja usado pelos inimigos da lei de Deus para
cancelar o ensino e autoridade da santa Palavra de Deus.[34]
Deus.[34]
A abordagem teonômica à ética cristã requer o estudo diligente e cuidadoso da lei de
Deus. Os teonomistas reconhecem plenamente que a interpretação e aplicação da lei bíblica
é um trabalho duro e difícil, e rejeitam qualquer abordagem simplista ao assunto. Se os
cristãos hão de conhecer e entender a lei de Deus, e aplicá-la apropriadamente a toda
esfera da vida, eles devem prestar atenção ao mandamento de Deus para meditar na lei do
Senhor dia e noite.
Capítulo 8 – Teonomia e lei civil

Um dos distintivos mais importantes da teonomia é sua visão sobre a lei civil e o
magistrado civil. A teonomia ensina que a lei de Deus como revelada na Escritura apresenta
o padrão moral para tudo da vida, incluindo o social e político.
político . A teonomia mantém que a lei
de Deus deveria formar a base para toda lei civil, e que o magistrado civil é um servo de
Deus, e é responsável em sustentar todos os aspectos da lei moral que se relacionam
diretamente com a ordem social, a moralidade pública e a justiça civil. A autonomia na ética
sócio-política é simplesmente tão ofensiva a Deus como a autonomia na ética pessoal. A
discussão que segue apresentará algumas das características básicas da abordagem
teonômica à lei civil.
Deus, que é Rei sobre toda a terra (Sl 47.2, 7-8), estabeleceu três instituições
separadas para o nosso bem e para a ordem da sociedade humana. Essas instituições são: a
família (Gn 2.24; Cl 3.18-21), a igreja (Gn 12.1-3; Ef 1.22-23; 2.19-22), e o Estado (Gn 9.5;
Rm 13.1-7). Cada uma recebeu autoridade de Deus para desempenhar suas respectivas
comissões. Ora, quando Deus dá autoridade aos homens, ele
homens,  ele sempre dá claras instruções
sobre o propósito, limites e usos dessa autoridade.
autoridade . A Palavra de Deus revela essas instruções
necessárias (torah
(torah,, ou leis) de forma que a família, a igreja e o Estado sejam totalmente
equipados para toda boa obra (2Tm 3.16-17). Isso tudo parece razoavelmente claro.
Todavia, muitos cristãos que creem que a Escritura deveria estabelecer as leis de conduta
para a família e a igreja, rejeitam rapidamente o ensino da teonomia que o Estado também
é obrigado a aderir às leis bíblicas como o padrão para todas as suas atividades e legislação.
Os teonomistas evitam tal inconsistência evidente e mantém apropriadamente que cada
instituição estabelecida por Deus está obrigada à autoridade da lei de Deus revelada na
Escritura.
A visão teonômica da lei civil é centrada sobre o ensino bíblico com respeito ao
Estado e o magistrado civil:
Deus, o Senhor Supremo e Rei de todo o mundo, para a sua glória e para o bem
público, constituiu sobre o povo magistrados civis que lhe são sujeitos, e a este fim,
os armou com o poder da espada para defesa e incentivo dos bons e castigo dos
malfeitores.[35]
malfeitores.[35]

A Bíblia ensina distintamente que o magistrado civil recebe sua autoridade de Deus
e que deve agir como ministro (servo) de Deus. Que esse é o caso é visto por declarações
bíblicas diretas (Rm 13.4, 6; Is 43.28); pelo fato que Deus é aquele que o coloca em
autoridade (Dn 4.25, 32, 34-37; Jo 19.11; Rm 13.1; 1Pe 2.14); pelo fato que todos aqueles
que governam sobre homens são ordenados a governar no temor de Deus (2Sm 23.3; 2Cr
19.6-7); pelo fato que todos os reis e juízes da terra são ordenados a servir ao Senhor e
prestar homenagem ao seu Filho (Sl 2.10-12); e pelo fato que Jesus Cristo, o Senhor
ressurreto e assunto ao céu, é agora Rei dos reis e Senhor dos senhores com autoridade
soberana sobre todas as nações (Sl 2.1-12; 110.1-7; Fp 2.9-11; ApAp 1.5; 17.14; 19.16).
Além do mais, a Bíblia não deixa nenhuma dúvida com respeito ao propósito do
Estado e a função do magistrado civil. O Estado é designado por Deus para executar sua ira
sobre os malfeitores, e louvar e defender aqueles que andam na justiça (Rm 13.1-6; Pv
17.5). Isso significa que o Estado foi comissionado por Deus para administrar  justiça na
sociedade (Dt 1.16-17; 16.18). Ao Estado pertence o poder da justiça distributiva, que
consiste em dar a cada homem aquele julgamento e equidade, proteção ou punição que a lei
requer. Portanto, é evidente que o magistrado civil foi designado para reforçar a lei. Mas
qual lei o
lei o magistrado deve enaltecer e reforçar sobre aqueles sob sua jurisdição?[36]
jurisdição? [36] Não
 Não é
clara a resposta bíblica a
bíblica a essa pergunta? Se o magistrado é o servo de Deus designado para
executar a vingança de Deus sobre os malfeitores, então deve ser a lei de Deus  Deus   que o
magistrado deve administrar e reforçar![37]
reforçar![37]
Requer-se que o magistrado civil conheça a lei de Deus e sempre mantenha a
Escritura diante dele, de forma que governará no temor de Deus e julgará de acordo com o
padrão justo da lei de Deus (Dt 17.18-20; 2Cr 19.6-7). Nenhum outro padrão é aceitável! É
por meio da sabedoria revelada na Palavra de Deus que o governador e o juiz são
capacitados para “decretar justiça” (Pv 8.15-17).
8.15-17). O magistrado é chamado a imitar o justo
trono de Deus ao governar de acordo com a lei justa de Deus (Sl 47.9; 97.2; Pv 16.12; 20.8;
25.5). A Escritura louva o governador que sustenta a lei de Deus e protege
apropriadamente o justo e pune o ímpio (Pv 21.3; 29.2, 4, 14), mas “o que justifica o ímpio,
e o que condena o justo, tanto um como o outro são abomináveis ao S ENHOR” (Pv 17.15). A
Bíblia condena “o trono de iniquidade” como uma administração “que forja o mal por uma
lei” porque tal lei assalta o justo e condena o sangue inocente (Sl 94.20-21).
94.20-21). O Senhor diz,
“ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que prescrevem opressão” (Is 10.1), e “ai
… dos que justificam ao ímpio por suborno, e aos justos negam a justiça!” (Is 5.22 -23).
Dessa forma, é evidente que não pode existir nenhuma neutralidade 
neutralidade   na lei civil. Um
magistrado esquecerá a lei de Deus e louvará o ímpio, ou guardará a lei de Deus e
contenderá com eles (Pv 28.4). Uma administração civil governará de acordo com a lei de
Deus (teonomia) e será um “trono de justiça”, ou rejeitará a lei de Deus e governará de
acordo com a lei do homem (autonomia) e será um “trono de iniquidade”.
Tendo comissionado o governo civil para governar de acordo com a sua lei e
estabelecer a justiça na terra, o Senhor equipa o Estado com o poder da espada (Gn 9.5-6;
Rm 13.3-4). O poder da espada é a autoridade de infligir punição sobre aqueles que violam
a lei. É esse poder de reforçar a lei por meio de punição que é um terror para o ímpio e
dessa forma, uma força restritora sobre o mal na sociedade (Dt 19.20; 21.21; Pv 21.11; Ec
8.11). Deus concede ao Estado o direito de requerer o pagamento de compensação e
restituição (Ex 21.18-19, 22; 22.1, 8-9), de infligir punição corporal (Dt 25.1-3, 21; Pv
19.29; 20.30; 26.3), e executar aqueles que são dignos de morte (Ex 21.12-17; Dt 19.12-13,
16-21).[38]
16-21).[38]
Agora a pergunta óbvia e pertinente é esta: quando o Estado deveria usar este poder
da espada? Quais ações dos homens o Estado deveria punir, e como deveriam essas ações
(crimes) ser punidas? Essas são as questões centrais de penologia. Todo sistema de ética
deve definitivamente abordar essas questões. Por qual padrão 
padrão  deveria o Estado definir
crime e a justa punição para crimes particulares? O Estado tem autonomia para determinar
essas questões por si mesmo? A Escritura responde enfaticamente: não! O Senhor Deus que
deu ao Estado o poder da espada deu também revelação específica na Bíblia sobre como e
quando o Estado deveria usar esse poder. Onde na Bíblia ele revelou essas coisas? Ele as
revelou nos códigos da lei civil de Israel. Nos estatutos civis e nas jurisprudências do Antigo
Testamento, Deus revela as demandas da lei moral em termos da justiça civil. Por toda a lei
do Antigo Testamento o magistrado civil será instruído quanto a qual pecado[39] pecado [39] (mal)
 (mal) ele
deverá punir, e como deverá puni-lo.
A lei de Deus revelada por meio de Moisés e os Profetas apresenta os padrões de
crime e punição que todas as nações deveriam seguir (Dt 4.6; Sl 2.10-12; Pv 8.15; 28.4). Ao
discernir a “equidade geral”[40]
geral”[40] revelada
 revelada na lei civil de Israel, o Estado será instruído em
como formular suas próprias leis de acordo com a lei moral de Deus. Rejeitar as leis do
Antigo Testamento que lidam com a justiça civil é deixar o Estado sem nenhum padrão
escrito objetivo para cumprir o seu mandato dado por Deus. Daria Deus ao Estado o poder
terrível da espada, e então falharia em dar ao Estado instruções específicas sobre como e
quando usar essa espada? Se você rejeita a lei civil do Antigo Testamento como o padrão,
então sua resposta deve ser
deve ser sim.[41]
sim.[41]
O fator perturbador é que muitos cristãos negam que Deus pretenda que as nações
sejam obrigadas aos princípios de justiça revelados na lei civil de Israel. Antes, esses
cristãos substituiriam o padrão da lei escrita de Deus pelo padrão da lei natural. Esse pode
parecer a muitos ser o padrão mais aceitável para as nações, mas a substituição da lei
bíblica pela lei natural levanta inúmeras questões importantes que os proponentes da lei
natural precisam responder.
Em primeiro lugar, onde na Bíblia é ensinado expressamente, ou mesmo por
implicação, que o governo civil é subordinado somente somente  à lei natural, e não aos padrões
justos da lei bíblica? Se Deus se agradou em trazer a revelação da sua santa Palavra a uma
nação, não considerará ele também essa nação responsável por governar de acordo com os
padrões de justiça que fez conhecido nessa Palavra? Em segundo lugar, visto que a lei
natural e a lei bíblica são na verdade a revelação da mesma lei moral por meio de canais
diferentes, por que escolher o canal inadequado da lei natural[42]
natural [42]   em vez da revelação
perfeita e infalível da Escritura? Por que escolher a lei natural que não revela nada sobre a
natureza do governo civil, ou o uso e limites do poder do Estado, em e m vez da Palavra de Deus
que dá essas orientações?[43]
orientações?[43]   Alguns podem responder dizendo que vivemos numa
sociedade secular que não aceita a autoridade ou os padrões éticos da lei bíblica. Contudo,
se a lei natural e a lei bíblica são a revelação da mesma leil ei moral, como os padrões éticos da
lei natural serão de alguma forma mais fáceis para o incrédulo aceitar do que os padrões
éticos da Bíblia?[44]
Bíblia?[44]   Se não existe nenhuma esperança que uma sociedade pluralista
aceitará o padrão da lei bíblica, que base existe para esperar que tal cultura humanista
chegará a um entendimento verdadeiro e comum sobre o que constitui a lei natural? Em
terceiro lugar, por que deveriam os cristãos entregar a “espada” da Palavra de Deus para o
conceito esquivo da lei natural em nossa batalha para estabelecer a justiça em nossa nação?
Qual possível vantagem existe em deixar de lado a poderosa Palavra do Deus vivo à medida
que buscamos chamar essa nação ao arrependimento e ao seu dever de “servir ao Senhor
com temor… e beijar o Filho” (Sl 2.10-12)?
2.10 -12)? Em quarto lugar, qual padrão da ética social e
política deveria um magistrado civil usar para guiá-lo nas decisões e julgamentos que deve
tomar como ministro de Deus, a lei bíblica ou a lei natural? O magistrado civil deve usar a
Bíblia para a sua ética pessoal e ética familiar, mas então deixar a Bíblia de lado quando diz
respeito ao seu ofício de magistrado civil? Os cristãos que propõem a lei natural como a
regra para a ética social e política precisam fornecer as respostas bíblicas para
bíblicas para as questões
acima.
Os cristãos defensores da lei natural também precisam fornecer uma refutação
bíblica às palavras discernidoras de Symington:
É o dever das nações, como súditos de Cristo, tomar a Lei de Cristo como sua regra.
Elas são propensas a pensar que é suficiente que tomem, como seu padrão de
legislação e administração, a razão humana, a consciência natural, a opinião
pública ou a conveniência política. Nenhum desses, contudo, nem de fato todos eles
juntos, podem fornecer um guia suficiente nas questões do Estado. Sem dúvida, as
nações pagãs, que não possuem a vontade revelada de Deus, devem ser governadas
pela lei da natureza: mas essa não é boa razão pela qual aqueles que têm uma
revelação da vontade divina deveriam se restringir ao uso de uma regra imperfeita.
É absurdo afirmar que, porque a sociedade civil está fundamentada na natureza, os
homens devem ser guiados, na direção de suas questões e na consulta de seus
interesses, unicamente pela luz da natureza… A verdade é queé que a revelação é dada
ao homem para suprir as imperfeições da natureza; e nos restringir à última, e
renunciar a primeira, em todo caso no qual ela é competente para nos guiar, é ao
mesmo tempo condenar o dom de Deus e destruir o fim para o qual foi dada.
Afirmamos, então, que a Bíblia deve ser a nossa regra, não somente em questões de
natureza puramente religiosa, em questões relacionadas com consciência e
adoração a Deus, mas em questões de natureza civil e política também. Dizer que
em tais questões não temos nada a ver com a Bíblia, é manter o que é
manifestadamente impossível. Requerer que as nações, que possuem o sagrado
volume, se confinem, em suas questões políticas, à luz turva da natureza, não é
mais absurdo do que requerer que os homens, quando o sol está nos céus, ignorem
o seu esplendor e sigam para os seus deveres ordinários pelos raios débeis de uma
vela fina. De fato, se as nações são súditos morais, elas estão obrigadas a regular
sua conduta pelas leis que o seu Governador moral se agradou em lhes dar; e como
elas são súditas do Mediador, elas devem estar sob a lei do Mediador contida nas
Escrituras. Ele não colocou seus súditos morais em ignorância de sua vontade, nem
permitiu que a procurassem no meio das obscuridades e imperfeições de uma lei
que o pecado mutilou e desfigurou. Nas Sagradas Escrituras da verdade, ele lhes
deu uma exibição mais legível e completa dos princípios da justiça imutável e
eterna, do que aquela que é encontrada na lei da natureza.[45]
natureza.[45]
A teonomia rejeita a afirmação que a lei natural deveria ser o padrão, e ensina que
as nações são obrigadas a princípios universais e imutáveis de justiça revelados na lei civil
de Israel. A lei do Antigo Testamento é um modelo de justiça para toda esfera da vida,
incluindo a esfera civil (Dt 4.6-8). Portanto, a penologia revelada na lei civil de Israel
deveria ser a regra para a lei civil hoje. As punições prescritas na lei perfeita do Senhor (Sl
19.7) estabelecem a justiça perfeita. O próprio Novo Testamento declara que todas as
penalidades designadas para a violação da lei civil de Israel eram apenas “a justa
retribuição” (Hb 2.2). O Senhor não violou o princípio de justiça lex talionis (“olho por
olho”, cf. Ex 21.24-25;
21.24-25; Dt 19.21),[46]
19.21),[46] que
 que ele ordenou os juízes seguir, quando estabeleceu
as sanções penais da lei civil de Israel. As penalidades não eram muito severas, nem muito
tolerantes. Na lei de Deus a punição sempre equivale ao crime.[47]
crime.[47]
Não somente a lei de Deus estabelece os deveres e funções dos magistrados civis,
mas também estabelece as qualificações necessárias para aqueles que governarão na esfera
civil: “E tu dentre todo o povo procura homens capazes, tementes a Deus, homens de
verdade, que odeiem a avareza; e põe-nos sobre eles por maiorais de mil, maiorais de cem,
maiorais de cinquenta, e maiorais de dez” (Ex 18.21). Se uma nação há de conhecer a
benção da retidão e justiça sob a lei de Deus, seus governadores devem ser homens que
abertamente temam a Deus e sirvam-no como seus ministros (2Sm 23.3; 23.3; Rm 13.1-6),
submetendo-se à sua lei em todos os seus deveres e decisões. Buscar estabelecer leis justas
sem levar em consideração a condição espiritual dos homens que legislam e reforçam as
leis é um exercício em futilidade. Há perfeita harmonia, contudo, na lei do Senhor: ela
insiste sobre leis justas e  homens justos. Dessa forma, assim como não temos nenhum
direito à autonomia ao fazer nossas leis civis, da mesma forma não temos nenhum direito à
autonomia na escolha de nossos líderes civis. A lei de Deus requer que escolhamos apenas
homens que sejam sábios e capazes, que conheçam as Escrituras, e que temam a Deus e
honrem a Jesus Cristo, confessando-o publicamente como Rei dos reis e Senhor dos
senhores (Ex 18.21; Dt 1.13; 17.15; Sl 2.10-12; Ap 1.5; 19.16).
A teonomia também afirma que a verdadeira liberdade civil pode ser conhecida
somente numa nação onde a lei de Deus seja o padrão para a lei civil. Isso porque a
verdadeira liberdade no mundo de Deus não é liberdade para fazer o que lhe agradar
(autonomia), mas liberdade para fazer o que é certo e bom (teonomia). A lei de Deus
apresenta o caminho da justiça; dessa forma, ela é a lei perfeita de liberdade (Tg 1.25). O
salmista disse: “E andarei em liberdade; pois busco os teus preceitos” (Sl 119.45). A lei é a
verdade de Deus, e é a verdade que nos liberta (Sl 119.142; Jo 8.31-32). A lei humanista,
que é baseada na mentira, promove a iniquidade, e esse é o caminho da prisão e morte (Jo
8.34; Pv 14.12).
Adicionalmente, a lei de Deus promove a liberdade civil definindo os limites do
poder do Estado. O Estado não pode controlar ou legislar onde ele não tem garantia
bíblica.[48]
bíblica.[48] O
 O magistrado deve permanecer dentro dos limites de sua autoridade legítima.
O indivíduo, a família e a igreja devem ser livres da opressão de um Estado injusto, para
que possam cumprir suas responsabilidades diante de Deus. Da mesma forma, a lei de Deus
dá aos cidadãos um padrão pelo qual possam julgar as ações do Estado. Se o Estado
ultrapassa os seus limites, os cidadãos estão justificados em resistir à tirania do Estado
(Atos 4.19; 5.29; Mt 22.21).[49]
22.21).[49]   Sem a medida da lei de Deus, os cidadãos nunca podem
estar seguros sobre quando o Estado deve ser resistido.
A teonomia também defende a separação da igreja e o Estado. A igreja e o Estado
são instituições distintas, cada uma tendo o seu próprio ministério claramente definido por
Deus. O Estado é um ministro de justiça civil para assegurar os direitos dos seus cidadãos e
para punir os malfeitores (Dt 19.13; 25.1-2; Rm 13.1-4; 1Pe 2.14). A igreja é um ministro de
graça através da pregação da Palavra de Deus e a administração dos sacramentos (Mt
28.19-21; 26.26-28; 1Tm 3.15; 4.13). O Estado não deve controlar (governar) a igreja, nem
deve a igreja controlar (governar) o Estado. Contudo, ambos,
ambos, igreja e Estado, devem agir
sob a autoridade e lei de Cristo; ambos,
ambos, igreja e Estado, devem servir ao reino de Deus
cumprindo suas respectivas comissões; ambos devem
ambos devem assistir um ao outro e influenciar um
ao outro para o bem. O Estado deve proteger a igreja dos ímpios, e fornecer a tranquilidade
e liberdade doméstica que capacitará a igreja a cumprir o seu chamado sem perturbação ou
temor (1Tm 2.2; Is 49.23).[50]
49.23). [50] O Catecismo Reformado Presbiteriano (1949) afirma: “O
Estado serve ao interesse da igreja quando, reconhecendo a independência da Igreja,
exerce sua autoridade para preservar a moral pública
p ública e honrar a verdadeira religião.”
A igreja deve ensinar ao Estado os princípios da Palavra de Deus pelos quais o
Estado deve ser governado. A igreja tem a função profética de repreender o Estado quando
este se aparta da lei de Deus e chamar o magistrado civil de volta aos caminhos da justiça
(Is 10.1-2; Amós 5.10-12; 2Sm 12.1-14; Jr 1.9-10; Mc 6.18). A igreja deve preparar homens
em caráter e conhecimento para serem magistrados eficazes e piedosos. A igreja deve
fornecer o fundamento para uma sociedade justa e livre evangelizando e discipulando os
cidadãos na fé cristã, e ensinando-lhes a pagar seus impostos e dar todo o devido respeito e
obediência às autoridades civis sobre eles (Rm 13.1, 7; 1Pe 2.13-14; Mt 22.21).
A teonomia condena fortemente a visão secular atual da separação da igreja e do
Estado, que na verdade promove a separação do Estado e de Deus e a autoridade de sua lei.
Essa perversão secular da doutrina bíblica da separação institucional da Igreja e do Estado
é na verdade uma tentativa do homem autônomo deificar o Estado, e fazer da palavra do
Estado a lei da nação em lugar da Palavra de Deus, que deveria ser a lei da nação (Sl 2.-13).
2. -13).
Finalmente, que seja claramente conhecido que a teonomia não crê na salvação por
meio da política. A teonomia é uma doutrina de ética. Ela ensina o padrão ético que deveria
governar uma nação e sua lei civil. Mas a esperança teonomista para trazer uma nação em
conformidade à lei de Deus não está na política ou nos políticos, mas em Jesus Cristo
somente! A salvação num nível pessoal e nacional é do Senhor (Is 33.22). É somente por
meio da vontade e poder soberano do Deus trino que um povo pode abandonar os seus
pecados e se tornar uma sociedade justa e temente a Deus, que honre ao Senhor Jesus
Cristo e guarde a sua lei. A evangelização dos perdidos e a edificação dos crentes são
essenciais para qualquer verdadeira reforma nacional.
Além do mais, os teonomistas creem que a reforma é necessária em todos os níveis,
não apenas no governo civil. A teonomia lança um chamado profético a indivíduos, à
família, à igreja e ao Estado para se arrependerem e reconhecerem Cristo como senhor e
sua lei como a regra suprema de ética. A teonomia busca reformar a política, mas não
procura uma reforma por meio da política. O humanista confia no “Estado messiânico” para
salvar a ele e a sua sociedade. O teonomista coloca a sua fé no Messias.
UMA DECISÃO POR TEONOMIA
Capítulo 10 – Teonomia e respostas
Os capítulos anteriores tentaram fornecer uma base, uma definição e uma descrição
não-técnica da ética teonômica. Neste último último capítulo, você, leitor, será desafiado a
responder ao que tem sido lhe apresentado neste livro fazendo uma decisão pela
decisão  pela teonomia.
 teonomia.
Espero que você já tenha sido convencido que a teonomia é o sistema de ética ensinado na
Escritura. Espero que você já tenha visto como essa teonomia é simplesmente a extensão
consistente do sola Scriptura para
Scriptura  para a esfera da ética. Espero que você já tenha sido induzido
a abraçar a lei de Deus, como revelada na Escritura, como sendo o padrão supremo para
determinar o certo ou errado de todo e qualquer comportamento humano. Se você já foi
convencido (ou se já estava antes de pegar este livro) da verdade da teonomia, então este
último capítulo servirá para solidificar sua resolução em viver de acordo com a lei de Deus
e encorajar outros a fazer o mesmo.
Mas se você ainda não foi persuadido que a teonomia é a abordagem bíblica à ética,
então espero que este capítulo, que apresenta a teonomia a partir de uma perspectiva um
pouco diferente que os capítulos anteriores, assegure-lhe da verdade e poder da ética
teonômica e faça com que você faça uma decisão pela
decisão pela teonomia.
 teonomia. Considere cuidadosamente
as sete razões seguintes pelas quais todo cristão e toda igreja deveria abraçar de coração a
teonomia.
 A teonomia glorifica
glorifica a Deus
Nosso maior propósito na vida é glorificar a Deus. Glorificamos a Deus quando
pensamos e vivemos de uma forma que ele seja honrado acima de tudo o mais e receba a
glória devida ao seu nome. A teonomia glorifica a Deus por exaltá-lo ao seu lugar
apropriado como o Criador e Rei soberano de toda a terra. A teonomia declara que “o
SENHOR é o nosso Juiz; o S ENHOR é o nosso legislador; o S ENHOR é o nosso rei” (Is 33.22)! A
teonomia é uma abordagem à ética completamente teocêntrica. Ela magnifica somente a lei
de Deus, e condena totalmente a mentira de Satanás que os homens podem ser os seus
deuses e determinar o bem e o mal por si mesmos (autonomia).
A teonomia glorifica a Deus reconhecendo e proclamando que a própria natureza de
Deus é a fonte da lei moral que obriga todos os homens em todos os lugares (1Pe 1.14-16).
Deus é a fonte de todas as coisas, incluindo a lei moral. A teonomia ensina que tudo o que é
justo, bom e verdadeiro vem de Deus (Tg 1.17). Além do mais, a teonomia glorifica a Deus
exaltando sua Palavra como o padrão de ética todo-suficiente, infalível e último. Os
teonomistas amam declarar que a lei escrita do Senhor é perfeita! Todo outro sistema de
ética de alguma forma difama a glória de Deus, mas a teonomia glorifica plenamente a Deus
exaltando sua natureza santa, autoridade soberana e Palavra escrita.
 A teonomia apresenta
apresenta o verdadeiro
verdadeiro dever do homem
homem
A teonomia se foca no tema bíblico central que o homem é responsável por
obedecer a Deus (Ec 12.13-14). Ela confronta sem embaraço o homem autônomo moderno
com o chamado para obedecer à lei de Deus e adverte os homens das consequências
terríveis de falhar em assim fazê-lo. A teonomia prega o evangelho bíblico de
arrependimento do pecado e fé no Senhor Jesus Cristo, deixando claro a todos que seguir a
Jesus Cristo significa um comprometimento de se esforçar para andar em completa
obediência à lei de Deus. A teonomia permanece em oposição definida ao espírito
prevalecente de antinomianismo na igreja hoje. Ela desafia uma igreja mundana e
desobediente a se arrepender, retornar à lei de Deus como o padrão de viver santo, e
pregar a lei bíblica do púlpito. A teonomia não tem medo de confrontar o cristão moderno
com as palavras do apóstolo João: “Aquele que diz: Eu conheço-o,
conheço-o, e não guarda os seus
mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade” (1Jo 2.4).
A teonomia não permite nenhuma concessão na ética.
ética . Sua mensagem é direta e clara:
“Diligentemente guardareis os mandamentos do SENHOR vosso Deus, como também os seus
testemunhos, e seus estatutos, que te tem mandado” (Dt 6.17). Não é surpreendente, então,
que a teonomia tem encontrado hostilidade tanto no mundo como na igreja antinomista.
Todavia, os teonomistas não são desencorajados por isso, pois não buscam ser populares,
mas fiéis ao Senhor Deus, confiando que ele honrará, em seu próprio tempo e da sua forma,
o ensino e pregação fiéis da sua santa lei. Os teonomistas veem em Esdras um homem
piedoso, e buscam seguir seu exemplo digno: “Porque Esdras tinha preparado o seu
coração para buscar a lei do S ENHOR  e para cumpri-la e para ensinar em Israel os seus
estatutos e os seus juízos”
juízos” (Esdras 7.10). A teonomia não se distrai com questões inferiores,
mas vai direto ao cerne da questão, e ensina que o verdadeiro dever do homem é obedecer
a lei de Deus.
 A teonomia é a verdadeira
verdadeira ética
ética de amor
Muitos exaltam o amor como a virtude mais sublime, e portanto, fazem do amor o
princípio norteador de ética. “Faça o que o amor exigir”, somos informados. Mas o que isso
significa, e como devemos determinar o que o amor verdadeiramente exige? A ética
autônoma do amor fracassa porque não pode dar uma direção concreta quanto ao que o
amor exige, e deixa que as pessoas decidam por si mesmas. Uma ética indefinida de “amor”
é tão útil quanto um sistema ético que meramente instrui as pessoas a serem “boas”.
A teonomia articula a verdadeira ética do amor porque não somente chama os
homens a amarem a Deus e o seu próximo, mas ensina também a verdadeira conduta de
amor, isto é, o verdadeiro padrão de amor. O Senhor Jesus ensinou que os dois maiores
mandamentos na lei eram os mandamentos nos instruindo a amar a Deus de todo o nosso
coração, e amar o nosso próximo como a nós mesmos (Mt 22.37-40). Mas como
expressamos o nosso amor a Deus e aos outros? A Bíblia diz que amamos a Deus quando
guardamos os seus mandamentos (Jo 14.15; 1Jo 5.3; Dt 10.12-13). A lei bíblica nos instrui
sobre como amar a Deus! A lei nos apresenta a natureza santa de Deus, e nos educa sobre
como adorar e servir ao Senhor da forma que lhe agrada. Além do mais, a Palavra de Deus
declara que amamos ao nosso próximo quando o tratamos da forma que a lei de Deus nos
manda tratá-lo (Rm 13.8-10; 1Co 13.3-8; Gl 5.13-14). O amor verdadeiro não prejudica
outra pessoa, mas faz aquelas coisas que realmente ajudam a satisfazer as necessidades da
outra pessoa. Portanto, a lei de Deus é o padrão de amor pois a lei nos ensina como agradar
a Deus, e fazer o bem ao nosso próximo. Uma ética de amor que não esteja fundamentada
na lei bíblica é uma ética baseada numa visão humanista de amor, que frequentemente
torna-se não mais que uma casca para a luxúria. A teonomia é a verdadeira ética de amor
pois está baseada na lei de Deus. Como Paulo diz, “o cumprimento da lei é o amor” (Rm
13.10).
 A teonomia é a resposta
resposta apropriada
apropriada à graça
A Bíblia ensina claramente que a obediência a Deus é a única resposta apropriada à
sua graça. Deus nos redime do cativeiro do pecado, de forma que possamos ser o seu povo
e servi-lo zelosamente guardando os seus mandamentos (Ex 19.4-6; 20.1-2; Ef 2.10; Tito
2.14). Aqueles que foram justificados pela fé devem se apresentar totalmente a Deus como
uma oferta de gratidão por sua salvação graciosa:
Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos
em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não
sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do
vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita
vontade de Deus. (Rm 12.1-2)
Quando Paulo chama os crentes a provarem a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus, ele está exortando-os a viver de acordo com a lei de Deus que é boa (Rm 7.12, 16),
agradável (Ef 5.8-10) e perfeita (Sl 19.7).
Antes da salvação éramos os servos do pecado, mas agora que fomos justificados
pela graça, nos tornamos os servos da justiça (Rm 6.16-23; Jo 8.34-35); isto é, devemos
servir a Deus e obedecer à sua lei que é a verdadeira regra de justiça. Paulo proclama a
resposta apropriada à graça quando diz: “Porque a graça de Deus se há manifestado,
trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às
concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente”
(Tito 2.11-12). Onde devemos aprender como viver sóbria, e justa, e piamente, senão na lei
de Deus? Portanto, é evidente que a teonomia é a única resposta apropriada
a propriada à graça.
 A teonomia é o caminho
caminho da bênção
bênção
A bênção de Deus é prometida àquele que guarda a lei de Deus. E o salmista diz:
“Bem-aventurados
“Bem-aventurados os retos em seus caminhos, que andam na lei do S ENHOR. Bem-
aventurados os que guardam os seus testemunhos,
testemunhos, e que o buscam com todo o coração” (Sl
119.1-2);
119.1-2); e, “Bem-aventurado
“Bem-aventurado o homem que teme ao S ENHOR, que em seus mandamentos
tem grande prazer” (Sl 112.1). O Senhor Jesus ensinou, “bem-aventurados
“bem -aventurados os que ouvem a
palavra de Deus e a guardam” (Lc 11.28). O apóstolo declara, “bem-aventurados
“bem -aventurados aqueles
que guardam os seus mandamentos” (Ap 22.14; cf. Sl 1.1-3,1.1 -3, 6). No sentido bíblico, uma
“bênção” é um dom da graça divina que traz alegria e conforto, prosperidade e força. E
como os textos acima ensinam, a bênção de Deus está sobre aquele que anda na lei do
Senhor.
Demonstramos que a obediência a Deus é acompanhada pela bênção de Deus com
base em dois fatores. Primeiro, a própria lei é um dom da graça dado para o nosso bem (Dt
10.13). A lei é um manual para viver a “boa vida” no mundo criado por Deus. Guardando a
lei nós andamos em harmonia com a ordem moral estabelecida por Deus para sua criação.
A lei instrui aqueles feitos à imagem de Deus sobre como dominar apropriadamente o
mundo criado por Deus (Gn 1.27-28). Segundo, Deus está a favor  daquele
 daquele que guarda a lei, e
contra aquele
contra aquele que a transgride (Dt 7.9-10; Ex 20.5-6). O rico favor de Deus está sobre seu
filho obediente. O poder e presença de Deus são manifestos na vida daqueles que amam ao
Senhor e sua lei. O Senhor “conhece” o caminho do justo, mas o caminho do transgressor é
difícil, terminando em destruição e ruína (Sl 1.6; 37.38; Pv 13.15).
A bênção de Deus é também prometida à nação que honra ao Senhor e vive por sua
lei (Sl 33.12). A justiça (i.e., viver de acordo com os padrões morais da lei de Deus) exalta
uma nação, mas o pecado (i.e., transgressão da lei de Deus) trará vergonha e desgraça a um
povo (Pv 14.34). Se uma nação e os seus líderes honrarem a Jesus Cristo como seu
Soberano, e servirem-no com temor piedoso, piedoso, dizendo a ele, “Seja tu nosso Governador,
Guardião, Guia e Proteção, tua Palavra nossa lei, teus caminhos nossa vereda escolhida”,
então essa nação será abençoada; mas se não, a ira de Deus se acenderá e essa nação
perecerá (Sl 2.9-10). Como a bênção de Deus reside sobre o Estado que segue a sua lei,
assim sua maldição reside sobre o Estado que rejeita os seus estatutos (Dt 28.1-68; Is 5.22-
24). A Escritura diz: “Os ímpios serão lançados no inferno, e todas as nações que se
esquecem de Deus” (Sl 9.17).
9.17).
Devemos entender que o repúdio da lei de Deus não somente significa a perda de
sua bênção, mas também a recepção de sua maldição:
Ai dos que puxam a iniquidade com cordas de vaidade, e o pecado com tirantes de
carro!… Ai dos que ao mal chamam bem, e ao a o bem mal; que fazem das trevas luz, e
da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo! Ai dos que são sábios a
seus próprios olhos, e prudentes diante de si mesmos!… Por isso, como a língua de
fogo consome a palha, e o restolho se desfaz pela chama, assim será a sua raiz
como podridão, e a sua flor se esvaecerá como pó; porquanto rejeitaram a lei do
SENHOR dos Exércitos, e desprezaram a palavra do Santo de Israel. (Is 5.18, 20-21,
24)
Dois caminhos são postos diante de cada homem, e cada um deve escolher que
caminho tomará: “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho
proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a
tua descendência” (Dt 30.19). Visto que a teonomia ensina a obediência
obediência a toda a lei de Deus,
esse certamente é o caminho da bênção.
 A teonomia é o caminho
caminho da vitória
vitória
O cristão como um indivíduo, e a igreja como o corpo de Cristo, estão ambos em
guerra com o mundo, a carne e o diabo. A teonomia sustenta que, se haveremos de triunfar
sobre esses inimigos, devemos buscar e guardar a lei de Deus (Lv 26.3-8, 17, 25; Dt 11.22-
25; 28.7, 33, 48-52, 68). A guerra de Israel com os cananitas para conquistar a terra e
estabelecer o reino de Deus em Canaã é um tipo da guerra da igreja com os inimigos de
Deus para conquistar o mundo e estabelecer o reino de Cristo em toda nação. A fórmula
para a vitória que Deus revelou a Josué no dia da invasão de Canaã dá à igreja instruções
vitais para vitória sobre os nossos inimigos hoje:
Esforça-te, e tem bom ânimo; porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a
seus pais lhes daria. Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, para teres o
cuidado de fazer conforme a toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não
te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que prudentemente te
conduzas por onde quer que andares. Não se aparte da tua boca o livro desta lei;
antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo
quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem
sucedido. Não to mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te
espantes; porque o SENHOR teu Deus é contigo, por onde quer que andares. (Js 1.6-
9)
A fórmula para vitória é clara: coragem e obediência a todos os mandamentos de
Deus!
Além do mais, Paulo nos diz que devemos tomar toda a armadura de Deus se
haveremos de triunfar sobre Satanás e os seus seguidores (Ef 6.10-18). Ora, é muito
evidente que a lei de Deus é parte dessa armadura! A lei é verdade; a lei é justa; a lei é
essencial para a pregação do evangelho; e a lei é a Palavra de Deus! Sem a lei de Deus nossa
armadura espiritual é seriamente debilitada! Não é de maravilhar que a igreja antinomista
de hoje está seriamente conquistada pelo mundo, a carne e o diabo!
A lei de Deus também nos faz mais sábios que os nossos inimigos (Sl 119.98).
Através da lei adquirimos a sabedoria de Deus que nos capacita a confundir a sabedoria do
mundo, e a destruir todas as fortalezas da mentira de Satanás que o homem é o seu próprio
deus, capaz de determinar o bem e o mal por si mesmo (2Co 10.4-5). A obediência à lei de
Deus nos assegura da presença de Deus quando saímos para a guerra (Sl 1.2 -3). A teonomia
é sem dúvida o caminho da vitória. Possa a igreja restaurar essa parte da armadura de
Deus, e levantar-se pelo poder de Deus para conquistar todos os inimigos da verdade e
justiça!

 A teonomia é o caminho
caminho do reavivamento
reavivamento e reforma
reforma
Há muita conversa hoje sobre a necessidade de um reavivamento na igreja que
levará a uma verdadeira reforma em todos os aspectos da vida. Na discussão sobre como
acontecerá tal reavivamento, o ingrediente primário mencionado é a oração. Ora, é
absolutamente correto que a oração é a chave para o reavivamento, mas a oração é
suficiente? Um estudo dos grandes reavivamentos no Antigo Testamento é muito útil aqui.
Nos reavivamentos do Antigo Testamento, a oração foi um fator chave (Esdras 9.5-15;
Neemias 1.4-11). Contudo, não deve ser negligenciado que todo grande reavivamento no
Antigo Testamento estava intimamente conectado com um retorno do povo de Deus à lei de
Deus!
O poderoso reavivamento e reforma sob Esdras e Neemias centrou-se na
restauração da lei de Deus em Israel. Deus levantou Esdras para ensinar a lei (Esdras 7.10;
Ne 8.1-8); o povo foi humilhado e levado a se arrepender pela lei (Esdras 10.3; Ne 8.9; 9.1-
3); e o povo fez um pacto com Deus para guardar sua lei, e começaram a andar em
obediência à lei (Esdras 10.3; Ne 8.9ss). A queda de Israel aconteceu quando eles “se
obstinaram,
obstinaram, e se rebelaram contra ti, e lançaram a tua lei para trás das suas costas” (Ne
9.26); portanto, o propósito de Deus no reavivamento era restaurá-los, e trazê-los de volta
à sua lei (Ne 9.29). O resultado dessa obra maravilhosa de Deus nos dias de Esdras e
Neemias foi que o povo louvou a Deus e sua lei dizendo: “ E sobre o monte Sinai desceste, e
dos céus falaste com eles, e deste-lhes juízos retos e leis verdadeiras, estatutos e
mandamentos bons” (Ne 9.13). Além do mais, eles “convieram num anátema e num
juramento, de que andariam na lei de Deus, que foi dada pelo ministério de Moisés, servo
de Deus; e de que guardariam e cumpririam todos os mandamentos do SENHOR  nosso
Senhor, e os seus juízos e os seus estatutos” (Ne 10.29).
O grande reavivamento e reforma sob o Rei Josias começou quando Hilquias o Sumo
Sacerdote achou o livro da lei no templo e fez com que fosse lido ao rei. O resultado da
redescoberta dos padrões justos da lei de Deus foi um grande arrependimento pelo rei e o
povo, e toda a nação foi purificada da iniquidade e idolatria (2 Reis 22.8-23.25). Josias e o
povo fizeram “a aliança perante o SENHOR, para seguirem o SENHOR, e guardarem os seus
mandamentos, os seus testemunhos e os seus estatutos, com todo o coração e com toda a
alma, confirmando as palavras desta aliança, que estavam escritas naquele livro” (2 Reis
23.3).
Se há de haver um verdadeiro avivamento e subsequente reforma em nossos dias,
devemos orar, nos arrepender e voltar à lei de Deus e obedecê-la de todo o nosso coração
(2Cr 7.14). É a lei de Deus que nos humilhará e nos ensinará a andar em santidade. A
reforma virá somente quando a igreja for levada a redescobrir a lei de Deus que está
atualmente “perdida” e esquecida em nossas igrejas. A teonomia é um chamado à igreja
para se arrepender, retornar à lei de Deus, e guardar a lei do Senhor com um amor zeloso
por Cristo e o seu Reino; dessa forma, a teonomia é o caminho para o reavivamento e a
reforma.
Conclusão
Teonomia é a visão da ética cristã que ensina que a lei de Deus como revelada no
Antigo e Novo Testamento é o único padrão autoritativo de verdade e justiça, e que a
Escritura é inteiramente suficiente para nos instruir na justiça em cada esfera da vida. A
Palavra de Deus é o único padrão aceitável para julgar o certo e errado de qualquer e todo
comportamento humano. A tenomia ensina que o motivo correto da ação humana é o amor
por Deus e pelo homem; que o padrão da ação humana é a Palavra de Deus; e que o fim ou
propósito da ação humana é a glória de Deus.
A teonomia, como um sistema de ética estritamente bíblico, se opõe a todas as
formas de autonomia ética; vê a lei natural como uma regra de ética insuficiente; repudia
todas as formas de antinomianismo e legalismo; defende uma interpretação e aplicação
cuidadosa da lei; e sustenta que a lei de Deus deveria ser o padrão para a vida social e
política de toda nação. Teonomia, como uma formulação estritamente bíblica de ética,
glorifica a Deus; apresenta o verdadeiro dever do homem; é a verdadeira ética do amor; é a
resposta apropriada à graça; é a vereda
vereda da bênção; é o caminho da vitória; e é o caminho
do reavivamento e reforma.
Em essência, a teonomia é a aplicação consistente e fiel do princípio da Reforma do
sola Scriptura à
Scriptura à questão da ética.
Pode haver algumas diferenças em alguns pontos entre aqueles que aderem à ética
teonômica, mas todos os teonomistas diriam com a Confissão de Fé Escocesa que a lei de
Deus é “a mais justa, a mais imparcial, a mais santa e a mais perfeita”. A essência da
teonomia é um amor por Deus e sua lei, e um desejo de ordenar tudo da vida de acordo com
os mandamentos de Deus. Possa Deus conceder a cada um de nós a graça para declarar
alegremente com o salmista, “Oh! quanto amo a tua lei!”

De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos;
 porque isto é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e
até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau. (Ec 12.13-14)
Lista de leitura sugerida para o estudo adicional de teonomia

Bahnsen, Greg L. By This Standard: The Authority of God's Law Today . Tyler, Tx.: Institute for
Christian Economics, 1985.
Bahnsen, Greg L. No Other Standard: Theonomy and Its Critics . Tyler, Tx.: Institute for
Christian Economics, 1991.
Bahnsen, Greg L. Theonomy in Christian Ethics. Ethics . Nacogdoches, Tx: Covenant Media Press,
1977 [2002].
Bahnsen, Greg L. and Gentry, Kenneth L., Jr. House Divided: The Breakup of Dispensational
Theology . Tyler, Tx.: Institute for Christian Economics, 1989.
Bolton, Samuel. The True Bounds of Christian Freedom. Freedom . Edinburgh: The Banner of Truth
Trust, 1964. Reimpressão da edição de 1645.
Calvin, John. Sermons on Deuteronomy . Trans. por Arthur Golding. Impresso por Henry
Middleton, 1583. Reimpressão de facsimile, Edinburgh: The Banner of Truth Trust, 1987.
Gentry, Kenneth L., Jr. A
Jr.  A Lei de Deus no mundo moderno.
moderno . Brasília, DF: Editora Monergismo,
2009.
Kevan, Ernest. Moral Law . Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing Co.,
1991.
Kevan, Ernest. The Grace of Law: A Study in Puritan Theology .Theology . Ligonier: Soli Deo Gloria
Publications, 1993. Reimpressão de Baker Book House Edition, 1976.
North, Gary, ed. Theonomy: An Informed Response. Response . Tyler, TX.: Institute for Christian
Economics, 1991.
North, Gary, ed. “Symposium on Puritanism and Law” . Journal of Christian Reconstruction 5
(Winter, 1978-9).
Rushdoony, Rousas John. The Institutes of Biblical Law . Phillipsburg, NJ: Presbyterian and
Reformed Publishing Co., 1973.
Rushdoony, Rousas John. The Institutes of Biblical Law Volume II: Law and Society .
Society . Vallecito,
CA: Ross House Books, 1986.
Rushdoony, Rousas John. Law and Liberty . Vallecito, CA: Ross House Books, 1984.
Smith, Gary Scott, ed. God and Politics.Politics . Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed
Publishing Co., 1989.
Strickland, Wayne G., ed. The Law, The Gospel, and The Modern Christian . Grand Rapids:
Zondervan Publishing House, 1993.

Symington, William. Messiah the Prince.


Prince . Edmonton: Sill Waters Revival Books, 1990.
Reimpressão da edição de 1884.
Sobre o autor

William O. Einwechter 
Einwechter  é presbítero docente na Immanuel Free Reformed Church em
Ephrata, Pensilvânia, editor do periódico The Christian Statesman 
Statesman   e vice-presidente do
National Reform Association.
Association . É o autor dos livros Ethics and God’s Law , English Bible
Translations,
Translations, e o editor do livro Explicitly Christian Politics.
Politics . Seus escritos têm aparecido no
Chalcedon Report ,  Journal of Christian Reconstrucion,
Reconstrucion , Patriarch e The Christian Statesman.
Statesman .
William obteve seu grau de Doutor em Teologia (Th.M.) no Capital Bible Seminary  em
Lanham, Maryland. Ele e sua esposa Linda moram com seus 10 filhos perto de Ephrata,
Pensilvânia.

[1] Encorajo o leitor a ler o seu excelente livro Uma fé conquistadora,


conquistadora , publicado pela Editora Monergismo.
[2] O nome “teonomia” pode ser novo, mas o princípio da ética teonômica não. Teonomia era o sistema ético da
Igreja Reformada na Escócia, e dos Puritanos da Inglaterra e Nova Inglaterra. E é desnecessário dizer que os
teonomistas sustentam que a “teonomia” é tão antiga quanto a Escritura.
[3] Para estudar mais sobre teonomia, por favor, veja a lista de leitura sugerida no final do livro.
[4]  Noah Webster,  An American Dictionary of the English Language 
Language   (New York: S. Converse, 1828; Facsímile
editado pela Fundation for American Christian Education, 1967).
[5] Cornelius Van Til, Christian Theistic Ethics (Phillipsburg:
Ethics (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed Publishing
Publishing Co., 1980), p. 3.
[6]  A teonomia é com frequência equacionada com a Reconstrução Cristã. É verdade que todos os
reconstrucionistas aderiram à teonomia, mas é verdade também que alguém poderia sustentar a teonomia sem
abraçar toda a teologia da Reconstrução Cristã. Teonomia é uma visão da ética.
[7] Em distinção à lei cerimonial, que lida com a redenção do pecado e tipificava a pessoa e obra de Cristo.
[8] Jacob Jocz, “TORAH”, em Baker’s Dictionary of Christian Ethics, ed. Carl F. H. Henry (Grand Rapids: Baker Book
House, 1973), p. 672).
[9] John E. Hartley, “tôrâ”, em Theological Wordbook of the Old Testament , ed. R. Laird Harris (Chicago: Moody
Press, 1980), p. 404.
[10] A Confissão Belga foi escrita primariamente por Guido de Brès, que foi um pastor na Igreja Reformada da
Holanda. A data da Confissão é de 1561.
[11] Como Rushdoony apontou, “deve ser reconhecido que em qualquer cultura a fonte da lei é o deus dessa
sociedade”.
sociedade”. Rousas John Rushdoony, The Institutes of Biblical Law   (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed
Publishing Co., 1873), p. 4. Visto que o homem autônomo alega que sua própria razão e senso moral é a fonte última
da lei, ele está alegando que o próprio homem é o deus verdadeiro.
[12]  Biblicamente falando, essas são as duas únicas opções (cf. Mt 6.24; 12.30; Sl 1.1-6; Js 24.14-15)! Como
cristãos, nosso ponto de partida na ética deve ser um compromisso total de rejeitar nossa razão falível como o
padrão, e reconhecer a autoridade da Palavra infalível de Deus para interpretar a esfera moral.
[13] Henry dá uma explicação útil dos dois principais ramos de pensamento com respeito à lei natural na filosofia
Ocidental: “Falando de forma generalizada, duas principais tradições de especulação da lei nat ural nat ural têm emergido.
Uma concebe a lei natural num sentido físico
sentido físico e
 e descritivo.
descritivo. Ela representa
represe nta uma tradição essencialmente materialista e
naturalista que busca explicação científica e tenta desenvolver conceitos de obrigação apelando às leis físicas da
natureza. Utilitarianismo, Marxismo, Darwinismo Social, e behaviorismo são exemplos de tentativas modernas de
construir a teoria ética desta maneira. A segunda principal tradição de especulação da lei natural – que geralmente
usa o termo em distinção de ‘leis da natureza’ ou ‘leis físicas’ –  representa uma tradição essencialmente idealista e
racionalista que busca explicações normativas e tentativas de desenvolver conceitos de obrigação apelando ao
significado teológico e ordem dentro da natureza. Neste sentido, a lei natural é concebida num sentido metafísico e metafísico e
 prescritivo.
 prescritivo. Ela busca por meio do uso da razão, descobrir na conduta humana princípios absolutos e universais de
obrigação que acredita-se
acredita- se residirem na própria natureza da psique humana e no universo.” Paul B. Henry, “Natural
Law”, em Baker’s Dictionary of Christian Ethics , p. 448.
[14] Por exemplo, o mundo criado está agora cheio de violência e morte. Deveríamos concluir a partir disso que a
violência e morte são coisas boas?
[15] Cornelius Van Til, The Defense of Faith (Phillipsburg:
Faith (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed Publishing
Publishing Co., 1955), p. 54.
[16]  Se alguém duvida desse fato, que ela reúna dez pessoas de forma aleatória e peça que cada uma delas
apresente seus julgamentos morais sobre questões como aborto, pena de morte, redistribuição de riqueza,
castidade, etc.
[17] A Confissão de Fé Batista de Londres de 1689 é uma declaração doutrinária Reformada que é baseada na
Confissão de Fé de Westminster, e em grande parte segue a transcrição exata da Confissão de Westminster. Seus
desvios da Confissão de Westminster são principalmente em áreas como a de batismo, e a natureza do governo
eclesiástico.
[18]  João Calvino, Brief Confession of Faith,
Faith , em Selected Works of John Calvin,
Calvin , 7 vols., ed. e trans. por Henry
Beveridge (Grand Rapids: Baker Book House, reprint e d., 1983), 2:133. Ênfase adicionada.
[19] John Murray, Principles of Conduct  (Grand
 (Grand Rapids: William B. Eerdmans Publishing Company, 1957), p. 182.
[20] A. A. Hodge, Outlines of Theology (Edinburgh: The Banner of Truth Trust, reprint ed., 1972), p. 404.
[21] Quero agradecer ao meu irmão, John Einwechter, por esse insight .
[22] João Calvino, Commentary on a Harmony of the Evangelists, Matthew, Mark, and Luke, Luke , 3 vols., trans. William
Pringle (Grand Rapids: Baker Book House, reprint ed., 1989), 1:277.
[23] O progresso da revelação e da história redentora leva a certas modificações na lei. À medida que o plano de
Deus na redenção encontra cumprimento em Cristo, e à medida que os homens chegam à maturidade espiritual
nele, haverá um desenvolvimento correspondente na revelação e aplicação da lei de Deus.
[24] Uma visão popular na igreja hoje ensina os cristãos a assumirem a descontinuidade, dizendo que somente os
mandamentos do Antigo Testamento que são especificamente repetidos no Novo Testamento se aplicam hoje. Em
outras palavras, eles creem que o Antigo Testamento é na verdade desnecessário como uma fonte para a ética hoje.
Nesta visão, somente os mandamentos do Novo Testamento têm autoridade obrigatória para o cristão.
[25]  Os Dez Mandamentos resumem a lei moral, enquanto as jurisprudências aplicam a lei moral a situações
específicas.
específicas. Rushdoony declara: “a porção maior da lei é a  jurisprudência,
 jurisprudência, i.e., a ilustração dos princípios básicos em
termos de casos específicos. Esses casos específicos são frequentemente ilustrações da extensão da aplicação da lei;
isto é, citando um tipo míni mo de caso, as jurisdições necessárias da lei são reveladas.” The Institutes of Biblical
Law , p. 11. Rushdoony ainda explica a importância das jurisprudências mostrando sua necessidade. Ele diz: “Sem a
jurisprudência, a lei de Deus em breve seria reduzida a uma área extremamente limitada de significado”; é somente
analisando as jurisprudências que podemos ver quão abrangente é o significado da lei. Ibid., p. 12. Também, as
jurisprudências devem ser de igual autoridade aos Dez Mandamentos, pois o resumo não pode ter maior
autoridade que aquilo que é resumido.
[26] Calvin, Commentary
 Calvin, Commentary on a Harmony of the Evangelists,
Evangelists , 1:227-278.
[27] Por exemplo, os cristãos foram livres do requerimento de trazer sacrifícios animais, mas o estudo do sistema
sacrificial do Antigo Testamento pode nos ajudar a entender melhor a morte substitutiva de Jesus Cristo. Ou, as leis
específicas que construíram uma parede de separação entre os judeus e gentios foram removidas, mas o princípio
de separação do mundo presente no Novo Testamento é ilustrado nessas leis (cf. 2Co 6.14-18).
[28] Veja as págs. 29-30 para discussão adicional deste princípio.
[29] Greg Bahnsen, By This Standard  (Tyler,
 (Tyler, Tx.: Institute for Christian Economics, 1985), pp. 313-315.
[30] No Sermão do Monte Jesus não está dando uma nova interpretação da lei, dando à lei um significado mais
profundo, ou estabelecendo padrões morais que são mais altos que a lei do Antigo Testamento revelou. Antes, Jesus
está buscando esclarecer as interpretações incorretas dos escribas e restaurar o entendimento verdadeiro dos
padrões éticos que foram originalmente revelados por meio de Moisés.
[31] Alguns têm argumentado que as leis do Antigo Testamento estão muito distantes da cultura moderna para
serem de qualquer uso hoje. Contudo, há também um grande intervalo entre nossa cultura e a cultura da era do
Novo Testamento. Rejeitar a lei do Antigo Testamento sobre a base a descontinuidade cultural requiriria
logicamente que rejeitássemos os mandamentos do Novo Testamento também.
[32] Por exemplo: “Não furtareis, nem mentireis, nem usareis de falsidade cada um com o seu próximo” (Lv
19.11); “Não admitirás falso boato, e não porás a tua mão com o ímpio, para seres testemunha falsa” (Ex 23.1).
[33] Por exemplo: “Não se tomará em penhor ambas as mós, nem a mó de cima nem a de baixo; pois se penhoraria
assim a vida” (Dt 24.6). “Vendo extraviado o boi ou ovelha de teu irmão , não te desviarás deles; restituí-los-ás sem
falta a teu irmão” (Dt 22.1).
[34]  Os assim chamados feministas cristãos têm tentado anular o ensino bíblico sobre o papel dos homens e
mulheres ao dizer que esse ensino era simplesmente um reflexo da cultura da época e não é mais obrigatório para
nós. Dessa forma, eles usam sua própria tradição para rejeitar a lei de Deus.
[35] Esse resumo confessional do ensino bíblico sobre o Estado e o magistrado civil está contido na Confissão de
Westminster, na Confissão Batista de Londres de 1689, e na Declaração de Savoy (1658).
[36] Por favor, observe que a pergunta não é se haverá ou não lei no Estado. Mas a questão é: qual lei ou que lei; a
lei de Deus ou a lei do homem?
[37] Há uma frase popular hoje que diz: “você não pode legislar moralidade”. Essa declaração é falsa ou verdadeira
dependendo do que a pessoa quer dizer com isso. É verdade que você não pode tornar uma pessoa ou sociedade
justa meramente enaltecendo certas leis. Contudo, é falso pe nsar que a lei civil pode ser eticamente neutra. Toda lei
legisla moralidade no sentido que prescreve certa conduta ou permite certa conduta. A questão então é: qual
moralidade será legislada? Serão os padrões justos de Deus, como revelados em sua lei, ou os padrões do homem
autônomo rebelde? Por exemplo, não pode haver leis neutras sobre a questão do aborto. As leis de aborto de uma
nação legislarão a vida ou morte para o feto; protegerão ou condenarão o sangue inocente.
[38] É importante observar que a lei de Deus não espe cifica o aprisionamento como como uma forma de punição para os
criminosos. Isso tem sérias implicações para uma nação que tem feito do encarceramento sua forma primária de
punição.
[39] Todos os crimes são pecados, mas nem todos os pecados são crimes puníveis pelo Estado.
[40] “Equidade geral” refere-se
re fere-se aos princípios universais e transculturais de justiça que formam a base para a lei
civil do Antigo Testamento. Bahnsen define a “equidade geral” como “uma expressão usada por teólogos
Reformados ou Puritanos para denotar a substância fundamental, o princípio ou ponto de uma lei – em distinção ao
caso específico ou cenário cultural mencionado por ela.” By This Standard , p. 355.
[41] O Novo Testamento revela mui pouco sobre os específicos da lei civil e da justiça civil. Mas sem dúvida, ele
não precisa fazê-lo, pois Deus já abordou essas questões no Antigo Testamento!
[42] Veja pp. 20-24 para a discussão sobre os limites e inadequácias da lei natural como a base da ética.
[43] Ao descontinuar a revelação escrita de Deus sobre a lei moral, os defensores da lei natural afirmam que as
nações gentias de hoje são responsáveis somente pelo mesmo padrão obscuro que as nações pagãs eram
responsáveis durante “os tempos da ignorância” (Atos 17.30).
[44] A menos que, sem dúvida, os defensores da lei natural realmente creiam que há um padrão duplo de ética
sócio-política: um padrão inferior revelado às nações pela lei natural, e um superior revelado a Israel na Escritura.
Tal padrão duplo também implicaria que as nações que viveram na era de cumprimento do Novo Testamento e do
cânon completo da Escritura estão sob um padrão de ética sócio-política inferior ao de Israel do Antigo Testamento,
visto que os proponentes da lei le i natural creem que as nações gentias ainda são obrigadas somente à lei natural e não
à lei bíblica.
[45] William Symington, Messiah the Prince (Edmonton:
Prince (Edmonton: Still Waters Revival Books, 1990, reprint of 1884 ed.),
págs. 234-235.
[46] Lex talionis,
talionis, ou a lei da retaliação, era uma fórmula legal para os juízes, e não uma sanção para vingança
pessoal (Mt 5.38-42). Essa prescrição legal ensina que a punição deve ser proporcional à natureza do crime. Isso
impôs limites estritos sobre a punição que poderia ser desproporcional.
[47] Isso incluiria os crimes capitais da lei civil do Antigo Testamento. Alguns argumentariam que a pena de morte
para o adultério, estupro ou sequestro era apropriada para Israel, mas não para os Estados Unidos. Mas por que
seria justo para o magistrado civil em Israel executar tais malfeitores, e todavia ser injusto o magistrado civil em
nosso país fazer o mesmo? Quem ousa dizer que a pena de morte é uma punição muito severa para esses crimes,
quando o próprio Deus estabeleceu essa penalidade em sua lei revelada? Somos mais sábios que Deus?
Conhecemos uma penalidade melhor e mais justa que aquela que Deus prescreveu? E por qual padrão
estabelecemos essa punição supostamente mais justa?
[48] O Estado, por exemplo, não tem autoridade para controlar a educação ou a economia, nem para redistribuir a
riqueza de seus cidadãos de acordo com algum esquema de “justiça econômica” ou bem -estar social.
[49] A teonomia não prega violência ou insurreição, mas resistência de acordo com a lei de Deus. Os teonomistas
defenderiam o princípio de interposição que é esse: quando um povo está sendo oprimido e roubado de seus
direitos por um governo ou magistrado tirano, eles não deveriam escolher o caminho da resistência ou rebelião
individual, mas deveriam buscar um magistrado ou magistrados num nível intermediário de governo que os
conduziria em sua resistência. O magistrado ou nível de governo inferior se interporia entre o povo e o alto poder
opressor. A anarquia nunca é abençoada por Deus. Ela é o caminho da carne e do mundo. Todos os movimentos de
resistência deveriam estar sob um magistrado apropriadamente
apropriadamente designado. Além do mais, a teonomia defenderia o
uso dos Salmos Imprecatórios como um meio bíblico de trazer o julgamento de Deus sobre os governadores ímpios,
de forma que ou eles se arrependam, ou sejam removidos do seu ofício e homens justos colocados em seu lugar (cf.
Sl 7; 35; 58; 59; 69; 83; 109; 137; 139; também cf. Jr 10.25; 17.18; 18.18 -23).
[50] A Declaração de Savoy (1658), uma Confissão
Confis são Reformada que apresenta a “Fé e Ordem possuídas e praticadas
nas Igrejas Congregacionais na Inglaterra”, nos fornece uma declaração útil sobre a relação das autoridades civis
para com a igreja: “Embora deva o magistrado encorajar, promover e proteger a queles que professam o evangelho,
bem como a própria profissão do mesmo, e administrar e ordenar entidades civis conforme a subserviência devida
aos interesses de Cristo neste mundo, e, para tal, cuidar para que homens de mentes e condutas corruptas não
publiquem nem divulguem de maneira licenciosa blasfêmia e erros, que, por natureza, subvertem a fé e destroem
inevitavelmente as almas daqueles que os recebem; contudo, naquelas diferenças acerca das doutrinas do
evangelho, ou acerca de maneiras de cultuar a Deus, conforme pode ocorrer a homens que exerçam uma boa
consciência, manifestando a mesma em sua conduta, e retendo o fundamento sem perturbar outros em seus
costumes diferentes ou culto diferente, não há, sob o evangelho, nenhuma autorização que permita que o
magistrado os prive de sua liberdade.” Williston Walker, ed. The Creeds And Platforms of Congregationalism (New
Congregationalism (New
York: The Pilgrim Press, 1991), p. 393.

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