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William O. Einwechter
© 1995, de William O. Einwechter
Título do original: Ethics & God’s Law: An Introduction to Theonomy
Edição publicada pela
Preston/Speed Publications
(Mill Hall, Pensilvânia, EUA)
1a edição, 2009
1000 exemplares
Tradução:
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Revisão:
Revisão : Túlio César Costa Leite
Capa:
Capa: Raniere Maciel Menezes
Einwechter, William O.
Ética e a lei de Deus: uma introdução à teonomia / William O. Einwechter, tradução Felipe Sabino de Araújo Neto –
Brasília, DF: Editora Monergismo, 2009.
CDD 230
Sumário
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA
PRÓLOGO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1 – TEONOMIA E ÉTICA
CAPÍTULO 2 – TEONOMIA E O ESCOPO DA LEI
CAPÍTULO 3 – TEONOMIA E AUTONOMIA
CAPÍTULO 4 – TEONOMIA E LEI NATURAL
CAPÍTULO 5 – TEONOMIA E ANTINOMIANISMO
CAPÍTULO 6 – TEONOMIA E LEGALISMO
CAPÍTULO 7 – TEONOMIA E O USO APROPRIADO DA LEI DE DEUS
CAPÍTULO 8 – TEONOMIA E HERMENÊUTICA
CAPÍTULO 8 – TEONOMIA E LEI CIVIL
CAPÍTULO 10 – TEONOMIA E RESPOSTAS
CONCLUSÃO
LISTA DE LEITURA SUGERIDA PARA O ESTUDO ADICIONAL DE TEONOMIA
SOBRE O AUTOR
Prefácio à edição brasileira
A teonomia afirma que a lei revelada de Deus é o padrão para a ética. Mas o que se
quer dizer por lei revelada de Deus e qual é o escopo dessa lei?
Quando a teonomia afirma que o padrão para a ética é a lei de Deus, ela refere-se à
lei moral revelada na Escritura.
Escritura . A lei moral é aquela lei[7]
lei[7] que
que estabelece o padrão ético de
conduta para todos os homens em qualquer lugar. Ela incorpora a vontade de Deus para
todos os homens em termos do caráter e comportamento deles. A Pergunta 93 do
Catecismo Maior de Westminster questiona, “Que é a lei moral?”, e responde: “A lei moral é
a declaração da vontade de Deus, feita ao gênero humano, dirigindo e obrigando todas as
pessoas à conformidade e obediência perfeita e perpétua a ela – nos apetites e disposições
do homem inteiro, alma e corpo, e no cumprimento de todos aqueles deveres de santidade
e retidão que se devem a Deus e ao homem…”.
A lei moral é baseada na própria natureza santa de Deus (1Pe 1.15-16), e estabelece
a justiça de Deus que os homens devem imitar em suas próprias vidas (Mt 5.48; Ef 5.1). O
Senhor diz ao homem: “Porque eu sou o SENHOR vosso Deus; portanto vós vos santificareis,
e sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11.44). Visto que a lei moral é um reflexo da
natureza santa do Deus soberano da criação, ela deve ser universal (obrigatória sobre
todos os homens em qualquer lugar) e imutável (obrigatória sobre todas as dispensações),
porque o próprio Deus não pode mudar (Ml 3.6; Tg 1.17; Sl 102.25-27), e como Criador ele
é rei sobre toda a terra (Gn 1.1; Sl 47.2). A lei moral é, portanto, a regra imutável de
conduta correta para todos os homens e para todos os tempos. Será sobre a base desta lei
moral que Deus julgará todos os povos e nações (Sl 9.7-8, 16-20; 96.10, 13; 98.2, 9; Atos
17.31; Rm 2.5-12; 3.19).
A lei moral é resumida na Escritura nos Dez Mandamentos (Ex 20.1-17; Dt 4.13; 5.6-
21). A significância dos Dez Mandamentos é explicada para nós no Catecismo Maior de
Westminster:
A lei moral acha-se resumidamente compreendida nos dez mandamentos, que
foram dados pela voz de Deus no monte Sinai e por ele escritos em duas tábuas de
pedra, e estão registrados no capítulo vigésimo do Êxodo. Os quatro primeiros
mandamentos contêm os nossos deveres para com Deus e os outros seis os nossos
deveres para com o homem. (P. 98)
Mas as palavras dos Dez Mandamentos constituem o escopo total da lei moral
revelada de Deus? Ou Deus deu uma revelação mais detalhada da sua vontade para o
homem? E se sim, onde?
Ao responder as questões acima é útil considerar o significado da palavra do Antigo
Testamento para lei, que é torá.
torá. Visto que tendemos a definir o conceito de lei no sentido
legal limitado de mandamentos e estatutos explícitos, um entendimento da palavra
hebraica torá
torá é muito útil para entender o escopo da lei moral. O termo hebraico torá
denota essencialmente os conceitos de ensino, instrução e direção. A torá torá fornece aos
homens instrução sobre como viver e revela os princípios de conduta que os homens
deveriam seguir em suas relações uns com os outros e em sua adoração a Deus.
Concernente à palavra torá,torá, Jocz declara: “O substantivo é derivado do verbo hebraico
yarah
yarah (lançar, atirar). No uso bíblico, ele cobre uma variedade ampla de significado:
informar, instruir, guiar, conduzir, etc. A torá
torá existe para fornecer direção, visando o
propósito de fazer a vontade de Deus… ela nunca é simplesmente lei no sentido legal. Ela é
sabedoria, uma expressão de devoção a Deus, um estilo de vida”.[8]
vida”.[8] É
É por meio da torá que
torá que
“Deus mostra seu interesse em todos os aspectos da
aspectos da vida do homem, que deve ser vivida
sob sua direção e cuidado. A lei de Deus permanece em paralelo à Palavra do Senhor para
significar que a lei é a revelação da vontade de Deus (e.g., Is 1.10)”.[9]
1.10)”. [9] A torá dá
torá dá direção
apropriada à vida do homem ao revelar ao homem a conduta moral que Deus requer dele.
A lei (torá
(torá)) de Deus refere-se a toda a instrução moral
moral que Deus revelou ao homem.
Sempre que Deus instrui o homem em seus deveres morais, ali Deus dá sua lei moral.
Consequentemente, a lei de Deus não é declarada apenas nos códigos mais formais de lei
tais como os Dez Mandamentos ou o Livro do Pacto (Ex 20.22-23.33), mas a lei de Deus é
revelada também no contexto da narrativa histórica, profecia, salmos, provérbios e
epístolas! Portanto, a revelação da lei moral se estende além dos Dez Mandamentos e inclui
toda a Palavra de Deus. Os Dez Mandamentos resumem os princípios essenciais da lei
moral, mas esses princípios são desenvolvidos, explicados, ilustrados e aplicados em todo o
restante da Escritura.
Consequentemente, a teonomia ensina que o padrão de ética é o todo da Palavra de
Deus, desde Gênesis a Apocalipse. A lei do Senhor é revelada por Moisés e os Profetas, e por
Jesus e os Apóstolos. A teonomia é zelosa em sustentar todo o conselho de Deus (Atos
20.20, 27), como dado nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento, como sendo a lei de
Deus. A teonomia evita o erro de limitar a base para o padrão ético somente a uma porção
da Palavra de Deus. Regras obrigatórias de conduta são encontradas em todas as partes da
Escritura. A teonomia afirma que toda toda a Escritura é dada por inspiração de Deus e é
proveitosa para instrução na justiça (2Tm 3.16).
A teonomia afirma também que a Palavra de Deus é uma revelação completa da
vontade de Deus para o homem, e como tal, é suficiente para falar com autoridade
obrigatória a cada questão da vida. A lei de Deus é perfeita, e fornece instrução para nos
equipar a determinar o que é certo e errado em cada e toda situação (Sl 19.7-10; 119.99,
104, 128). Não precisamos de outra fonte que não a Escritura inspirada para definir justiça
(2Tm 3.16-17). A Confissão Belga fornece uma maravilhosa declaração resumida sobre a
suficiência completa da Escritura:
Cremos que esta Sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e
suficientemente ensina tudo o que o homem deve crer para ser salvo. Nela, Deus
descreveu, por extenso, toda a maneira de servi-lo. Por isso, não é lícito aos
homens, mesmo que fossem apóstolos “ou um anjo vindo do céu”, conforme diz o
apóstolo Paulo (Gálatas 1.8), ensinarem outra doutrina, senão aquela da Sagrada
Escritura. É proibido “acrescentar algo à Palavra de Deus ou tirar algo dela”
(Deuteronômio 12.32; Apocalipse 22.18,19). Assim se mostra claramente que sua
doutrina é perfeitíssima e, em todos os sentidos, completa.[10]
completa.[10]
A lei de Deus apresenta o padrão para a ética pessoal, familiar, eclesiástica e social.
De acordo com Dt 6.8-9, a lei de Deus deve guiar todas as nossas deliberações, todas as
nossas ações, tudo o que acontece em nossos lares, e tudo o que transpira além dos nossos
lares. A lei moral é um padrão ético abrangente que deve dirigir o indivíduo, o pai, o
presbítero e o magistrado civil. Todos devem se curvar diante da autoridade da lei e, nisto,
buscar sabedoria e direção para toda boa obra; pois sem a lei e o testemunho não haverá
nenhuma luz em nós (Is 8.20), mas na lei de Deus encontraremos uma luz verdadeira para
o nosso caminho (Sl 119.105, 130). Nunca devemos confiar em nossa própria sabedoria na
ética, antes, em todos os nossos caminhos devemos reconhecer a autoridade e perfeição da
lei de Deus e permitir que ela dirija as nossas veredas (Pv 3.5-7).
A teonomia ensina que a lei de Deus como revelada nas Escrituras do Antigo e Novo
Testamento é o único padrão autoritativo de ética, e que a Bíblia é inteiramente suficiente
para nos instruir na justiça para cada esfera da vida. O moto da teonomia poderia muito
bem ser “o
“o todo da Bíblia para o todo da vida ”.
Capítulo 3 – Teonomia e autonomia
Finalmente, a lei fornece a base para uma sociedade justa e bem ordenada (Dt 4.6-8;
Sl 33.12; Pv 14.34; Rm 13.1-7). A lei de Deus, como revelada na Escritura, apresenta o
padrão perfeito de justiça civil. Quando a lei de Deus é a base para a lei civil de uma nação,
os malfeitores serão punidos e o mal, restrito (Dt 17.12-13; 1Tm 1.8-10). O justo será
protegido e conhecerá a verdadeira liberdade civil (Tg 1.25; Sl 119.45). Os cristãos viverão
“uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade” (1Tm 2.2). A nação que
honra o Senhor e age de acordo com os padrões da lei de Deus experimentará bênção, paz e
prosperidade (Sl 2.10-12; Dt 28.1ss).
A teonomia defende esses usos “legais” da lei, e rejeita qualquer
qualquer uso da lei não
prescrito por Deus em sua Palavra. A Confissão Belga declara: “Ainda usamos os
testemunhos da Lei e dos Profetas para confirmarmo-nos no Evangelho e, também, para
regularmos nossa vida em toda honestidade, para a glória de Deus, conf ormeorme sua vontade”.
A teonomia concorda de coração!
Capítulo 8 – Teonomia e hermenêutica
Hermenêutica refere-se à ciência da interpretação; ela lida com os princípios
apropriados da exegese. De modo geral, a teonomia sustenta o princípio Protestante
histórico da interpretação histórico-gramatical. Isso indica que a teonomia exige uma
exegese cuidadosa da Escritura que leva em conta todo dado relevante de qualquer texto
particular. Esse dado inclui os detalhes sintáticos e léxicos juntamente com o contexto
literário, histórico e teológico.
O desafio específico para a teonomia é interpretar e aplicar a lei bíblica ao nosso dia
e cultura. Essa apresentação da abordagem teonômica para interpretar a lei de Deus
começará observando três perspectivas fundamentais que a teonomia traz para essa tarefa.
Em primeiro lugar, a teonomia não advoga (como alguns têm acusado) uma transferência
direta simplista da lei bíblica para os nossos dias. A teonomia não ensina que deveríamos
pegar as leis dadas a Israel, e sem uma consideração dos fatores teológicos e culturais
únicos a Israel, fazer essas leis nossas para hoje. Em segundo lugar, a teonomia crê que o
princípio moral que informa (sustenta) cada mandamento é universal e imutável, e que
esse princípio (uma vez confirmado por exegese cuidadosa) pode e deve ser aplicado ao
nosso dia e cultura. Em alguns casos será relativamente fácil descobrir o postulado moral,
visto que o próprio mandamento é declarado em termos de um princípio universal;
enquanto em outros isso será mais difícil, pois o mandamento é declarado em termos da
posição única de Israel como a nação pactual do Antigo Testamento. Em terceiro lugar, a
teonomia reconhece plenamente a dificuldade de interpretar e aplicar a lei bíblica. Os
teonomistas não alegam ter todas as respostas ou ter resolvido todas as perguntas sobre
como entender o texto bíblico. A tarefa de interpretar e aplicar a lei bíblica requer
humildade, diligência e habilidade.
Mais especificamente, a abordagem teonômica à interpretação e aplicação da lei
bíblica é baseada em cinco princípios hermenêuticos. O primeiro, e talvez o mais
importante, é o princípio que somente Deus, o Legislador, tem a autoridade de adicionar ou
tirar algo daquilo que ele ordenou: “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem
diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do S ENHOR vosso Deus, que eu vos
mando” (Dt 4.2; cf. Dt 12.32). Por causa desse princípio, deveríamos assumir a validade e
autoridade contínua de cada e todo mandamento de Deus na Escritura, a menos que Deus
mesmo indique mais tarde na Escritura[23]
Escritura [23] que
que uma lei particular foi mudada, modificada
ou repelida. Deve haver uma clara garantia bíblica antes de podermos dizer que um
mandamento de Deus não é mais obrigatório para nós hoje. É pura presunção o homem
colocar de lado qualquer lei de Deus sem autorização escrita definida para fazê-lo,
procedente do próprio Legislador.
Além do mais, visto que a lei moral é universal e imutável, deveríamos assumir uma
continuidade entre os requerimentos morais da lei do Antigo Testamento e os padrões
morais para a igreja do Novo Testamento.[24]
Testamento. [24] Portanto, em termos da lei do Antigo
Testamento, o cristão deveria considerar seus mandamentos específicos obrigatórios, a
menos que o Novo Testamento explicitamente ensine outra coisa. Dessa forma, a
abordagem bíblica à lei do Antigo Testamento é baseada sobre uma suposição de
continuidade, juntamente com o reconhecimento do status status do Novo Testamento como
sendo a autoridade final sobre o uso e aplicação da lei do Antigo Testamento nesta
dispensação.
Outro princípio muito importante de interpretação é o reconhecimento que a lei do
Antigo Testamento consiste de dois tipos de leis: cerimoniais e morais. Essa distinção dupla
é evidente em muitos textos bíblicos: “Fazer justiça e juízo é mais aceitável ao SENHOR do
que sacrifício” (Pv 21.3); “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não
sacrifício” (Mt 9.13; cf. Os 6.6; Am 5.15, 21-24;
21 -24; Sl 40.6-8; 50.8ss; Jr 7.22-23; Mt 12.7). As leis
cerimoniais
cerimoniais regulavam a adoração de Israel, e forneciam meios pelos quais o pecado
poderia ser expiado através do sacerdócio e dos sacrifícios de animais. Sob a classificação
da lei cerimonial deveríamos incluir aquelas leis que diziam respeito especificamente à
separação de Israel das nações pagãs (e.g, as leis dietéticas, Dt 14.3-21), e sua vida na terra
de Canaã (e.g., as leis de herança, Nm 27.8-10; o casamento levita, Dt 25.5-10; a guerra
santa contra os cananistas, Dt 20.16-18).
As leis morais do
morais do Antigo Testamento definiam os padrões justos de conduta para o
povo pactual de Deus. As leis morais são declaradas como preceitos e máximas gerais (e.g.,
“não furtarás”), ou como jurisprudências que prescrevem a conduta num caso específico,
de forma que estabelece o dever moral para todos os casos assim relacionados (e.g., Ex
23.4).[25]
23.4).[25] É
É importante entender que as leis civis de Israel não constituem uma terceira
categoria de lei; as leis civis são na verdade um sub-sistema da lei moral. A lei civil de Israel
é a expressão da lei moral em termos
te rmos da ética social e política. Consequentemente, a lei civil
de Israel estabelece princípios universais de justiça civil e retidão política.
Deve ser reconhecido que nem sempre é claro a qual categoria, cerimonial ou moral,
pertencem certas leis do Antigo Testamento. Todavia, essas são as categorias bíblicas, e
devemos aderir a elas. Um fracasso em discernir apropriadamente se uma lei do Antigo
Testamento é cerimonial ou moral levará ao uso incorreto do Antigo Testamento nesta era
da Nova Aliança. Por que? Espero que os dois princípios a seguir deixem isso claro.
O terceiro princípio da interpretação teonômica é o ensino do Novo Testamento que
as leis cerimoniais do Antigo Testamento eram tipológicas em natureza, prenunciando a
pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo; consequentemente, a vinda de Cristo trouxe uma
mudança na lei e pôs um fim à observância dessas sombras do Antigo Testamento (Cl 2.17;
1Co 5.7; Hb 9.9; 10.1; 1Tm 4.3-5; Ef 2.14-15; Gl 2.3; 5.2-6). O cumprimento da lei cerimonial
em Cristo, e o fato que essas leis não são mais obrigatórias hoje são claramente ensinados
no Novo Testamento. A Confissão Batista de Londres dá um resumo útil da lei cerimonial e
sua relação com Cristo:
Além desta lei, comumente chamada de lei moral, Deus houve por bem dar leis
cerimoniais ao povo de Israel, contendo diversas ordenanças simbólicas: em parte,
de adoração, prefigurando Cristo, as suas graças, suas ações, seus sofrimentos, e os
benefícios que conferiu; e, em parte, estabelecendo várias instruções de deveres
morais. As leis cerimoniais foram instituídas com vigência temporária, pois mais
tarde seriam ab-rogadas por Jesus, o Messias e único Legislador, que, vindo no
poder do Pai, cumpriu e revogou essas leis.
A vinda de Cristo e o estabelecimento da igreja do Novo Testamento alteraram
também o status do
status do Israel do Antigo Testamento. A membresia no povo pactual não é mais
limitada ao Israel nacional, mas está aberta a todos os que creem em Jesus Cristo, a
despeito do seu pano de fundo ético ou nacional (Ef 2.11-22; Gl 3.16, 26-29). A circuncisão
e a identificação de uma pessoa com a nação de Israel deixou de ser uma necessidade para
o crente do Novo Testamento (Gl 2.3-5; 5.1-6; 6.15). A igreja de Cristo não está limitada aos
palestinos e judeus, mas está expandida em todo o mundo e abrange todas as nações (Mt
28.19-20; Sl 2.6-9). O Israel do Antigo Testamento era um tipo da igreja do Novo
Testamento, e o reino de Israel na Palestina prenunciava o reino mundial do Messias (Rm
4.11-13; Gl 6.16). Por conseguinte, segue-se definitivamente que as leis do Antigo
Testamento relacionadas à separação de Israel das nações e a sua vida na terra de Canaã
foram ab-rogadas, visto que essasessas eram “ordenanças típicas” designadas somente até “o
tempo da reforma” em Cristo e o estabelecimento da ordem do Novo Testamento nele.
Contudo, isso não significa que a lei cerimonial não tenha nenhum valor ou aplicação
para os crentes hoje. Como Calvino explica: “Com respeito às cerimônias, há alguma
aparência de mudança ocorrendo; mas foi apenas o uso delas que foi abolido, pois o seu
significado foi mais plenamente confirmado. A vinda de Cristo não tirou nada nem mesmo
das cerimônias, mas pelo contrário, confirma-as
confirma-as exibindo a verdade de sombras…”.[26]
sombras…”. [26]
Assim, quando essas leis são estudadas à luz do seu cumprimento em Cristo, elas retêm
importância como uma ferramenta de ensino para melhor entender a Cristo, sua obra e sua
igreja.[27]
igreja.[27] A teologia que fundamenta a lei cerimonial é a mesma teologia que Cristo
cumpre; a primeira é aquela teologia em sombras, mas Cristo é essa teologia na substância.
A Confissão Belga expressa tal verdade assim:
Cremos que as cerimônias e figuras da lei terminaram com a vinda de Cristo e que,
assim, todas as sombras chegaram ao fim. Por isso, os cristãos não devem mais
usá-las. Contudo, para nós, sua verdade e substância permanecem em Cristo Jesus,
em quem têm seu cumprimento.
O quarto princípio hermenêutico é a afirmação do Novo Testamento que as leis
morais do Antigo Testamento foram confirmadas por Cristo e os seus apóstolos como
sendo obrigatórias para hoje (Mt 5.17ss; 22.36-40; Rm 8.1-4; 13.8-10; 1Co 7.19). O Novo
Testamento confirma plenamente a autoridade contínua da lei moral revelada nas
Escrituras do Antigo Testamento (2Tm 3.16-17).[28]
3.16-17).[28] Os apóstolos falam de Cristo
oferecendo um sacrifício melhor e instituindo um sacerdócio melhor, mas nunca falam de
Cristo instituindo padrões morais melhores.[29]
melhores.[29] O Novo Testamento aprofunda o nosso
entendimento da lei moral de Deus, mas não nos dá uma nova lei moral.[30] moral. [30] O Novo
Testamento completa a revelação de Deus ao homem e, portanto, completa a revelação da
lei moral de Deus.
Mas alguém procurará em vão no Novo Testamento sequer um versículo que
deprecie qualquer dos padrões morais do Antigo Testamento. O Novo Testamento exibe
uma harmonia perfeita entre os padrões éticos revelados por Moisés e os Profetas e
aqueles revelados por Jesus e os apóstolos. Portanto, a Escritura do Novo Testamento nos
instrui a considerar as leis morais do Antigo Testamento como obrigatórias hoje, e a
considerar as leis cerimoniais como sendo ab-rogadas. Um fracasso em reconhecer esse
ensino abrirá a porta para o abuso da lei do Antigo Testamento na igreja do Novo
Testamento.
O princípio final para a interpretação da lei bíblica que será observado nesta
apresentação é a necessidade de levar em consideração as diferenças culturais entre os
tempos bíblicos e os nossos dias. Se haveremos de aplicar apropriadamente os princípios
eternos da lei de Deus ao mundo moderno, as descontinuidades culturais devem ser
entendidas e transpostas. A tarefa neste respeito é discernir e separar o padrão obrigatório
da lei moral a partir de sua expressão
expressão cultural no Antigo e Novo Testamento,
Testamento,[31]
[31] e
e então
aplicar esse padrão obrigatório à nossa cultura e cenário. Como declarado anteriormente,
muitos dos mandamentos bíblicos são dados em termos de padrões morais universais.[32]
universais. [32]
O problema para nós quando lidando com essas leis não é interpretação ou aplicação;
nosso problema é obediência! No entanto, os mandamentos bíblicos que declaram a lei
moral em termos da cultura bíblica requerirão de nós determinar o princípio moral que
fundamenta o mandamento.[33]
mandamento.[33] É a lei moral que informa o mandamento que é
obrigatório, e não necessariamente a expressão cultural da lei. A dimensão cultural da
interpretação bíblica é desafiante, todavia muito necessária. Contudo, devemos nos
precaver para que o elemento da cultura não seja usado pelos inimigos da lei de Deus para
cancelar o ensino e autoridade da santa Palavra de Deus.[34]
Deus.[34]
A abordagem teonômica à ética cristã requer o estudo diligente e cuidadoso da lei de
Deus. Os teonomistas reconhecem plenamente que a interpretação e aplicação da lei bíblica
é um trabalho duro e difícil, e rejeitam qualquer abordagem simplista ao assunto. Se os
cristãos hão de conhecer e entender a lei de Deus, e aplicá-la apropriadamente a toda
esfera da vida, eles devem prestar atenção ao mandamento de Deus para meditar na lei do
Senhor dia e noite.
Capítulo 8 – Teonomia e lei civil
Um dos distintivos mais importantes da teonomia é sua visão sobre a lei civil e o
magistrado civil. A teonomia ensina que a lei de Deus como revelada na Escritura apresenta
o padrão moral para tudo da vida, incluindo o social e político.
político . A teonomia mantém que a lei
de Deus deveria formar a base para toda lei civil, e que o magistrado civil é um servo de
Deus, e é responsável em sustentar todos os aspectos da lei moral que se relacionam
diretamente com a ordem social, a moralidade pública e a justiça civil. A autonomia na ética
sócio-política é simplesmente tão ofensiva a Deus como a autonomia na ética pessoal. A
discussão que segue apresentará algumas das características básicas da abordagem
teonômica à lei civil.
Deus, que é Rei sobre toda a terra (Sl 47.2, 7-8), estabeleceu três instituições
separadas para o nosso bem e para a ordem da sociedade humana. Essas instituições são: a
família (Gn 2.24; Cl 3.18-21), a igreja (Gn 12.1-3; Ef 1.22-23; 2.19-22), e o Estado (Gn 9.5;
Rm 13.1-7). Cada uma recebeu autoridade de Deus para desempenhar suas respectivas
comissões. Ora, quando Deus dá autoridade aos homens, ele
homens, ele sempre dá claras instruções
sobre o propósito, limites e usos dessa autoridade.
autoridade . A Palavra de Deus revela essas instruções
necessárias (torah
(torah,, ou leis) de forma que a família, a igreja e o Estado sejam totalmente
equipados para toda boa obra (2Tm 3.16-17). Isso tudo parece razoavelmente claro.
Todavia, muitos cristãos que creem que a Escritura deveria estabelecer as leis de conduta
para a família e a igreja, rejeitam rapidamente o ensino da teonomia que o Estado também
é obrigado a aderir às leis bíblicas como o padrão para todas as suas atividades e legislação.
Os teonomistas evitam tal inconsistência evidente e mantém apropriadamente que cada
instituição estabelecida por Deus está obrigada à autoridade da lei de Deus revelada na
Escritura.
A visão teonômica da lei civil é centrada sobre o ensino bíblico com respeito ao
Estado e o magistrado civil:
Deus, o Senhor Supremo e Rei de todo o mundo, para a sua glória e para o bem
público, constituiu sobre o povo magistrados civis que lhe são sujeitos, e a este fim,
os armou com o poder da espada para defesa e incentivo dos bons e castigo dos
malfeitores.[35]
malfeitores.[35]
A Bíblia ensina distintamente que o magistrado civil recebe sua autoridade de Deus
e que deve agir como ministro (servo) de Deus. Que esse é o caso é visto por declarações
bíblicas diretas (Rm 13.4, 6; Is 43.28); pelo fato que Deus é aquele que o coloca em
autoridade (Dn 4.25, 32, 34-37; Jo 19.11; Rm 13.1; 1Pe 2.14); pelo fato que todos aqueles
que governam sobre homens são ordenados a governar no temor de Deus (2Sm 23.3; 2Cr
19.6-7); pelo fato que todos os reis e juízes da terra são ordenados a servir ao Senhor e
prestar homenagem ao seu Filho (Sl 2.10-12); e pelo fato que Jesus Cristo, o Senhor
ressurreto e assunto ao céu, é agora Rei dos reis e Senhor dos senhores com autoridade
soberana sobre todas as nações (Sl 2.1-12; 110.1-7; Fp 2.9-11; ApAp 1.5; 17.14; 19.16).
Além do mais, a Bíblia não deixa nenhuma dúvida com respeito ao propósito do
Estado e a função do magistrado civil. O Estado é designado por Deus para executar sua ira
sobre os malfeitores, e louvar e defender aqueles que andam na justiça (Rm 13.1-6; Pv
17.5). Isso significa que o Estado foi comissionado por Deus para administrar justiça na
sociedade (Dt 1.16-17; 16.18). Ao Estado pertence o poder da justiça distributiva, que
consiste em dar a cada homem aquele julgamento e equidade, proteção ou punição que a lei
requer. Portanto, é evidente que o magistrado civil foi designado para reforçar a lei. Mas
qual lei o
lei o magistrado deve enaltecer e reforçar sobre aqueles sob sua jurisdição?[36]
jurisdição? [36] Não
Não é
clara a resposta bíblica a
bíblica a essa pergunta? Se o magistrado é o servo de Deus designado para
executar a vingança de Deus sobre os malfeitores, então deve ser a lei de Deus Deus que o
magistrado deve administrar e reforçar![37]
reforçar![37]
Requer-se que o magistrado civil conheça a lei de Deus e sempre mantenha a
Escritura diante dele, de forma que governará no temor de Deus e julgará de acordo com o
padrão justo da lei de Deus (Dt 17.18-20; 2Cr 19.6-7). Nenhum outro padrão é aceitável! É
por meio da sabedoria revelada na Palavra de Deus que o governador e o juiz são
capacitados para “decretar justiça” (Pv 8.15-17).
8.15-17). O magistrado é chamado a imitar o justo
trono de Deus ao governar de acordo com a lei justa de Deus (Sl 47.9; 97.2; Pv 16.12; 20.8;
25.5). A Escritura louva o governador que sustenta a lei de Deus e protege
apropriadamente o justo e pune o ímpio (Pv 21.3; 29.2, 4, 14), mas “o que justifica o ímpio,
e o que condena o justo, tanto um como o outro são abomináveis ao S ENHOR” (Pv 17.15). A
Bíblia condena “o trono de iniquidade” como uma administração “que forja o mal por uma
lei” porque tal lei assalta o justo e condena o sangue inocente (Sl 94.20-21).
94.20-21). O Senhor diz,
“ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que prescrevem opressão” (Is 10.1), e “ai
… dos que justificam ao ímpio por suborno, e aos justos negam a justiça!” (Is 5.22 -23).
Dessa forma, é evidente que não pode existir nenhuma neutralidade
neutralidade na lei civil. Um
magistrado esquecerá a lei de Deus e louvará o ímpio, ou guardará a lei de Deus e
contenderá com eles (Pv 28.4). Uma administração civil governará de acordo com a lei de
Deus (teonomia) e será um “trono de justiça”, ou rejeitará a lei de Deus e governará de
acordo com a lei do homem (autonomia) e será um “trono de iniquidade”.
Tendo comissionado o governo civil para governar de acordo com a sua lei e
estabelecer a justiça na terra, o Senhor equipa o Estado com o poder da espada (Gn 9.5-6;
Rm 13.3-4). O poder da espada é a autoridade de infligir punição sobre aqueles que violam
a lei. É esse poder de reforçar a lei por meio de punição que é um terror para o ímpio e
dessa forma, uma força restritora sobre o mal na sociedade (Dt 19.20; 21.21; Pv 21.11; Ec
8.11). Deus concede ao Estado o direito de requerer o pagamento de compensação e
restituição (Ex 21.18-19, 22; 22.1, 8-9), de infligir punição corporal (Dt 25.1-3, 21; Pv
19.29; 20.30; 26.3), e executar aqueles que são dignos de morte (Ex 21.12-17; Dt 19.12-13,
16-21).[38]
16-21).[38]
Agora a pergunta óbvia e pertinente é esta: quando o Estado deveria usar este poder
da espada? Quais ações dos homens o Estado deveria punir, e como deveriam essas ações
(crimes) ser punidas? Essas são as questões centrais de penologia. Todo sistema de ética
deve definitivamente abordar essas questões. Por qual padrão
padrão deveria o Estado definir
crime e a justa punição para crimes particulares? O Estado tem autonomia para determinar
essas questões por si mesmo? A Escritura responde enfaticamente: não! O Senhor Deus que
deu ao Estado o poder da espada deu também revelação específica na Bíblia sobre como e
quando o Estado deveria usar esse poder. Onde na Bíblia ele revelou essas coisas? Ele as
revelou nos códigos da lei civil de Israel. Nos estatutos civis e nas jurisprudências do Antigo
Testamento, Deus revela as demandas da lei moral em termos da justiça civil. Por toda a lei
do Antigo Testamento o magistrado civil será instruído quanto a qual pecado[39] pecado [39] (mal)
(mal) ele
deverá punir, e como deverá puni-lo.
A lei de Deus revelada por meio de Moisés e os Profetas apresenta os padrões de
crime e punição que todas as nações deveriam seguir (Dt 4.6; Sl 2.10-12; Pv 8.15; 28.4). Ao
discernir a “equidade geral”[40]
geral”[40] revelada
revelada na lei civil de Israel, o Estado será instruído em
como formular suas próprias leis de acordo com a lei moral de Deus. Rejeitar as leis do
Antigo Testamento que lidam com a justiça civil é deixar o Estado sem nenhum padrão
escrito objetivo para cumprir o seu mandato dado por Deus. Daria Deus ao Estado o poder
terrível da espada, e então falharia em dar ao Estado instruções específicas sobre como e
quando usar essa espada? Se você rejeita a lei civil do Antigo Testamento como o padrão,
então sua resposta deve ser
deve ser sim.[41]
sim.[41]
O fator perturbador é que muitos cristãos negam que Deus pretenda que as nações
sejam obrigadas aos princípios de justiça revelados na lei civil de Israel. Antes, esses
cristãos substituiriam o padrão da lei escrita de Deus pelo padrão da lei natural. Esse pode
parecer a muitos ser o padrão mais aceitável para as nações, mas a substituição da lei
bíblica pela lei natural levanta inúmeras questões importantes que os proponentes da lei
natural precisam responder.
Em primeiro lugar, onde na Bíblia é ensinado expressamente, ou mesmo por
implicação, que o governo civil é subordinado somente somente à lei natural, e não aos padrões
justos da lei bíblica? Se Deus se agradou em trazer a revelação da sua santa Palavra a uma
nação, não considerará ele também essa nação responsável por governar de acordo com os
padrões de justiça que fez conhecido nessa Palavra? Em segundo lugar, visto que a lei
natural e a lei bíblica são na verdade a revelação da mesma lei moral por meio de canais
diferentes, por que escolher o canal inadequado da lei natural[42]
natural [42] em vez da revelação
perfeita e infalível da Escritura? Por que escolher a lei natural que não revela nada sobre a
natureza do governo civil, ou o uso e limites do poder do Estado, em e m vez da Palavra de Deus
que dá essas orientações?[43]
orientações?[43] Alguns podem responder dizendo que vivemos numa
sociedade secular que não aceita a autoridade ou os padrões éticos da lei bíblica. Contudo,
se a lei natural e a lei bíblica são a revelação da mesma leil ei moral, como os padrões éticos da
lei natural serão de alguma forma mais fáceis para o incrédulo aceitar do que os padrões
éticos da Bíblia?[44]
Bíblia?[44] Se não existe nenhuma esperança que uma sociedade pluralista
aceitará o padrão da lei bíblica, que base existe para esperar que tal cultura humanista
chegará a um entendimento verdadeiro e comum sobre o que constitui a lei natural? Em
terceiro lugar, por que deveriam os cristãos entregar a “espada” da Palavra de Deus para o
conceito esquivo da lei natural em nossa batalha para estabelecer a justiça em nossa nação?
Qual possível vantagem existe em deixar de lado a poderosa Palavra do Deus vivo à medida
que buscamos chamar essa nação ao arrependimento e ao seu dever de “servir ao Senhor
com temor… e beijar o Filho” (Sl 2.10-12)?
2.10 -12)? Em quarto lugar, qual padrão da ética social e
política deveria um magistrado civil usar para guiá-lo nas decisões e julgamentos que deve
tomar como ministro de Deus, a lei bíblica ou a lei natural? O magistrado civil deve usar a
Bíblia para a sua ética pessoal e ética familiar, mas então deixar a Bíblia de lado quando diz
respeito ao seu ofício de magistrado civil? Os cristãos que propõem a lei natural como a
regra para a ética social e política precisam fornecer as respostas bíblicas para
bíblicas para as questões
acima.
Os cristãos defensores da lei natural também precisam fornecer uma refutação
bíblica às palavras discernidoras de Symington:
É o dever das nações, como súditos de Cristo, tomar a Lei de Cristo como sua regra.
Elas são propensas a pensar que é suficiente que tomem, como seu padrão de
legislação e administração, a razão humana, a consciência natural, a opinião
pública ou a conveniência política. Nenhum desses, contudo, nem de fato todos eles
juntos, podem fornecer um guia suficiente nas questões do Estado. Sem dúvida, as
nações pagãs, que não possuem a vontade revelada de Deus, devem ser governadas
pela lei da natureza: mas essa não é boa razão pela qual aqueles que têm uma
revelação da vontade divina deveriam se restringir ao uso de uma regra imperfeita.
É absurdo afirmar que, porque a sociedade civil está fundamentada na natureza, os
homens devem ser guiados, na direção de suas questões e na consulta de seus
interesses, unicamente pela luz da natureza… A verdade é queé que a revelação é dada
ao homem para suprir as imperfeições da natureza; e nos restringir à última, e
renunciar a primeira, em todo caso no qual ela é competente para nos guiar, é ao
mesmo tempo condenar o dom de Deus e destruir o fim para o qual foi dada.
Afirmamos, então, que a Bíblia deve ser a nossa regra, não somente em questões de
natureza puramente religiosa, em questões relacionadas com consciência e
adoração a Deus, mas em questões de natureza civil e política também. Dizer que
em tais questões não temos nada a ver com a Bíblia, é manter o que é
manifestadamente impossível. Requerer que as nações, que possuem o sagrado
volume, se confinem, em suas questões políticas, à luz turva da natureza, não é
mais absurdo do que requerer que os homens, quando o sol está nos céus, ignorem
o seu esplendor e sigam para os seus deveres ordinários pelos raios débeis de uma
vela fina. De fato, se as nações são súditos morais, elas estão obrigadas a regular
sua conduta pelas leis que o seu Governador moral se agradou em lhes dar; e como
elas são súditas do Mediador, elas devem estar sob a lei do Mediador contida nas
Escrituras. Ele não colocou seus súditos morais em ignorância de sua vontade, nem
permitiu que a procurassem no meio das obscuridades e imperfeições de uma lei
que o pecado mutilou e desfigurou. Nas Sagradas Escrituras da verdade, ele lhes
deu uma exibição mais legível e completa dos princípios da justiça imutável e
eterna, do que aquela que é encontrada na lei da natureza.[45]
natureza.[45]
A teonomia rejeita a afirmação que a lei natural deveria ser o padrão, e ensina que
as nações são obrigadas a princípios universais e imutáveis de justiça revelados na lei civil
de Israel. A lei do Antigo Testamento é um modelo de justiça para toda esfera da vida,
incluindo a esfera civil (Dt 4.6-8). Portanto, a penologia revelada na lei civil de Israel
deveria ser a regra para a lei civil hoje. As punições prescritas na lei perfeita do Senhor (Sl
19.7) estabelecem a justiça perfeita. O próprio Novo Testamento declara que todas as
penalidades designadas para a violação da lei civil de Israel eram apenas “a justa
retribuição” (Hb 2.2). O Senhor não violou o princípio de justiça lex talionis (“olho por
olho”, cf. Ex 21.24-25;
21.24-25; Dt 19.21),[46]
19.21),[46] que
que ele ordenou os juízes seguir, quando estabeleceu
as sanções penais da lei civil de Israel. As penalidades não eram muito severas, nem muito
tolerantes. Na lei de Deus a punição sempre equivale ao crime.[47]
crime.[47]
Não somente a lei de Deus estabelece os deveres e funções dos magistrados civis,
mas também estabelece as qualificações necessárias para aqueles que governarão na esfera
civil: “E tu dentre todo o povo procura homens capazes, tementes a Deus, homens de
verdade, que odeiem a avareza; e põe-nos sobre eles por maiorais de mil, maiorais de cem,
maiorais de cinquenta, e maiorais de dez” (Ex 18.21). Se uma nação há de conhecer a
benção da retidão e justiça sob a lei de Deus, seus governadores devem ser homens que
abertamente temam a Deus e sirvam-no como seus ministros (2Sm 23.3; 23.3; Rm 13.1-6),
submetendo-se à sua lei em todos os seus deveres e decisões. Buscar estabelecer leis justas
sem levar em consideração a condição espiritual dos homens que legislam e reforçam as
leis é um exercício em futilidade. Há perfeita harmonia, contudo, na lei do Senhor: ela
insiste sobre leis justas e homens justos. Dessa forma, assim como não temos nenhum
direito à autonomia ao fazer nossas leis civis, da mesma forma não temos nenhum direito à
autonomia na escolha de nossos líderes civis. A lei de Deus requer que escolhamos apenas
homens que sejam sábios e capazes, que conheçam as Escrituras, e que temam a Deus e
honrem a Jesus Cristo, confessando-o publicamente como Rei dos reis e Senhor dos
senhores (Ex 18.21; Dt 1.13; 17.15; Sl 2.10-12; Ap 1.5; 19.16).
A teonomia também afirma que a verdadeira liberdade civil pode ser conhecida
somente numa nação onde a lei de Deus seja o padrão para a lei civil. Isso porque a
verdadeira liberdade no mundo de Deus não é liberdade para fazer o que lhe agradar
(autonomia), mas liberdade para fazer o que é certo e bom (teonomia). A lei de Deus
apresenta o caminho da justiça; dessa forma, ela é a lei perfeita de liberdade (Tg 1.25). O
salmista disse: “E andarei em liberdade; pois busco os teus preceitos” (Sl 119.45). A lei é a
verdade de Deus, e é a verdade que nos liberta (Sl 119.142; Jo 8.31-32). A lei humanista,
que é baseada na mentira, promove a iniquidade, e esse é o caminho da prisão e morte (Jo
8.34; Pv 14.12).
Adicionalmente, a lei de Deus promove a liberdade civil definindo os limites do
poder do Estado. O Estado não pode controlar ou legislar onde ele não tem garantia
bíblica.[48]
bíblica.[48] O
O magistrado deve permanecer dentro dos limites de sua autoridade legítima.
O indivíduo, a família e a igreja devem ser livres da opressão de um Estado injusto, para
que possam cumprir suas responsabilidades diante de Deus. Da mesma forma, a lei de Deus
dá aos cidadãos um padrão pelo qual possam julgar as ações do Estado. Se o Estado
ultrapassa os seus limites, os cidadãos estão justificados em resistir à tirania do Estado
(Atos 4.19; 5.29; Mt 22.21).[49]
22.21).[49] Sem a medida da lei de Deus, os cidadãos nunca podem
estar seguros sobre quando o Estado deve ser resistido.
A teonomia também defende a separação da igreja e o Estado. A igreja e o Estado
são instituições distintas, cada uma tendo o seu próprio ministério claramente definido por
Deus. O Estado é um ministro de justiça civil para assegurar os direitos dos seus cidadãos e
para punir os malfeitores (Dt 19.13; 25.1-2; Rm 13.1-4; 1Pe 2.14). A igreja é um ministro de
graça através da pregação da Palavra de Deus e a administração dos sacramentos (Mt
28.19-21; 26.26-28; 1Tm 3.15; 4.13). O Estado não deve controlar (governar) a igreja, nem
deve a igreja controlar (governar) o Estado. Contudo, ambos,
ambos, igreja e Estado, devem agir
sob a autoridade e lei de Cristo; ambos,
ambos, igreja e Estado, devem servir ao reino de Deus
cumprindo suas respectivas comissões; ambos devem
ambos devem assistir um ao outro e influenciar um
ao outro para o bem. O Estado deve proteger a igreja dos ímpios, e fornecer a tranquilidade
e liberdade doméstica que capacitará a igreja a cumprir o seu chamado sem perturbação ou
temor (1Tm 2.2; Is 49.23).[50]
49.23). [50] O Catecismo Reformado Presbiteriano (1949) afirma: “O
Estado serve ao interesse da igreja quando, reconhecendo a independência da Igreja,
exerce sua autoridade para preservar a moral pública
p ública e honrar a verdadeira religião.”
A igreja deve ensinar ao Estado os princípios da Palavra de Deus pelos quais o
Estado deve ser governado. A igreja tem a função profética de repreender o Estado quando
este se aparta da lei de Deus e chamar o magistrado civil de volta aos caminhos da justiça
(Is 10.1-2; Amós 5.10-12; 2Sm 12.1-14; Jr 1.9-10; Mc 6.18). A igreja deve preparar homens
em caráter e conhecimento para serem magistrados eficazes e piedosos. A igreja deve
fornecer o fundamento para uma sociedade justa e livre evangelizando e discipulando os
cidadãos na fé cristã, e ensinando-lhes a pagar seus impostos e dar todo o devido respeito e
obediência às autoridades civis sobre eles (Rm 13.1, 7; 1Pe 2.13-14; Mt 22.21).
A teonomia condena fortemente a visão secular atual da separação da igreja e do
Estado, que na verdade promove a separação do Estado e de Deus e a autoridade de sua lei.
Essa perversão secular da doutrina bíblica da separação institucional da Igreja e do Estado
é na verdade uma tentativa do homem autônomo deificar o Estado, e fazer da palavra do
Estado a lei da nação em lugar da Palavra de Deus, que deveria ser a lei da nação (Sl 2.-13).
2. -13).
Finalmente, que seja claramente conhecido que a teonomia não crê na salvação por
meio da política. A teonomia é uma doutrina de ética. Ela ensina o padrão ético que deveria
governar uma nação e sua lei civil. Mas a esperança teonomista para trazer uma nação em
conformidade à lei de Deus não está na política ou nos políticos, mas em Jesus Cristo
somente! A salvação num nível pessoal e nacional é do Senhor (Is 33.22). É somente por
meio da vontade e poder soberano do Deus trino que um povo pode abandonar os seus
pecados e se tornar uma sociedade justa e temente a Deus, que honre ao Senhor Jesus
Cristo e guarde a sua lei. A evangelização dos perdidos e a edificação dos crentes são
essenciais para qualquer verdadeira reforma nacional.
Além do mais, os teonomistas creem que a reforma é necessária em todos os níveis,
não apenas no governo civil. A teonomia lança um chamado profético a indivíduos, à
família, à igreja e ao Estado para se arrependerem e reconhecerem Cristo como senhor e
sua lei como a regra suprema de ética. A teonomia busca reformar a política, mas não
procura uma reforma por meio da política. O humanista confia no “Estado messiânico” para
salvar a ele e a sua sociedade. O teonomista coloca a sua fé no Messias.
UMA DECISÃO POR TEONOMIA
Capítulo 10 – Teonomia e respostas
Os capítulos anteriores tentaram fornecer uma base, uma definição e uma descrição
não-técnica da ética teonômica. Neste último último capítulo, você, leitor, será desafiado a
responder ao que tem sido lhe apresentado neste livro fazendo uma decisão pela
decisão pela teonomia.
teonomia.
Espero que você já tenha sido convencido que a teonomia é o sistema de ética ensinado na
Escritura. Espero que você já tenha visto como essa teonomia é simplesmente a extensão
consistente do sola Scriptura para
Scriptura para a esfera da ética. Espero que você já tenha sido induzido
a abraçar a lei de Deus, como revelada na Escritura, como sendo o padrão supremo para
determinar o certo ou errado de todo e qualquer comportamento humano. Se você já foi
convencido (ou se já estava antes de pegar este livro) da verdade da teonomia, então este
último capítulo servirá para solidificar sua resolução em viver de acordo com a lei de Deus
e encorajar outros a fazer o mesmo.
Mas se você ainda não foi persuadido que a teonomia é a abordagem bíblica à ética,
então espero que este capítulo, que apresenta a teonomia a partir de uma perspectiva um
pouco diferente que os capítulos anteriores, assegure-lhe da verdade e poder da ética
teonômica e faça com que você faça uma decisão pela
decisão pela teonomia.
teonomia. Considere cuidadosamente
as sete razões seguintes pelas quais todo cristão e toda igreja deveria abraçar de coração a
teonomia.
A teonomia glorifica
glorifica a Deus
Nosso maior propósito na vida é glorificar a Deus. Glorificamos a Deus quando
pensamos e vivemos de uma forma que ele seja honrado acima de tudo o mais e receba a
glória devida ao seu nome. A teonomia glorifica a Deus por exaltá-lo ao seu lugar
apropriado como o Criador e Rei soberano de toda a terra. A teonomia declara que “o
SENHOR é o nosso Juiz; o S ENHOR é o nosso legislador; o S ENHOR é o nosso rei” (Is 33.22)! A
teonomia é uma abordagem à ética completamente teocêntrica. Ela magnifica somente a lei
de Deus, e condena totalmente a mentira de Satanás que os homens podem ser os seus
deuses e determinar o bem e o mal por si mesmos (autonomia).
A teonomia glorifica a Deus reconhecendo e proclamando que a própria natureza de
Deus é a fonte da lei moral que obriga todos os homens em todos os lugares (1Pe 1.14-16).
Deus é a fonte de todas as coisas, incluindo a lei moral. A teonomia ensina que tudo o que é
justo, bom e verdadeiro vem de Deus (Tg 1.17). Além do mais, a teonomia glorifica a Deus
exaltando sua Palavra como o padrão de ética todo-suficiente, infalível e último. Os
teonomistas amam declarar que a lei escrita do Senhor é perfeita! Todo outro sistema de
ética de alguma forma difama a glória de Deus, mas a teonomia glorifica plenamente a Deus
exaltando sua natureza santa, autoridade soberana e Palavra escrita.
A teonomia apresenta
apresenta o verdadeiro
verdadeiro dever do homem
homem
A teonomia se foca no tema bíblico central que o homem é responsável por
obedecer a Deus (Ec 12.13-14). Ela confronta sem embaraço o homem autônomo moderno
com o chamado para obedecer à lei de Deus e adverte os homens das consequências
terríveis de falhar em assim fazê-lo. A teonomia prega o evangelho bíblico de
arrependimento do pecado e fé no Senhor Jesus Cristo, deixando claro a todos que seguir a
Jesus Cristo significa um comprometimento de se esforçar para andar em completa
obediência à lei de Deus. A teonomia permanece em oposição definida ao espírito
prevalecente de antinomianismo na igreja hoje. Ela desafia uma igreja mundana e
desobediente a se arrepender, retornar à lei de Deus como o padrão de viver santo, e
pregar a lei bíblica do púlpito. A teonomia não tem medo de confrontar o cristão moderno
com as palavras do apóstolo João: “Aquele que diz: Eu conheço-o,
conheço-o, e não guarda os seus
mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade” (1Jo 2.4).
A teonomia não permite nenhuma concessão na ética.
ética . Sua mensagem é direta e clara:
“Diligentemente guardareis os mandamentos do SENHOR vosso Deus, como também os seus
testemunhos, e seus estatutos, que te tem mandado” (Dt 6.17). Não é surpreendente, então,
que a teonomia tem encontrado hostilidade tanto no mundo como na igreja antinomista.
Todavia, os teonomistas não são desencorajados por isso, pois não buscam ser populares,
mas fiéis ao Senhor Deus, confiando que ele honrará, em seu próprio tempo e da sua forma,
o ensino e pregação fiéis da sua santa lei. Os teonomistas veem em Esdras um homem
piedoso, e buscam seguir seu exemplo digno: “Porque Esdras tinha preparado o seu
coração para buscar a lei do S ENHOR e para cumpri-la e para ensinar em Israel os seus
estatutos e os seus juízos”
juízos” (Esdras 7.10). A teonomia não se distrai com questões inferiores,
mas vai direto ao cerne da questão, e ensina que o verdadeiro dever do homem é obedecer
a lei de Deus.
A teonomia é a verdadeira
verdadeira ética
ética de amor
Muitos exaltam o amor como a virtude mais sublime, e portanto, fazem do amor o
princípio norteador de ética. “Faça o que o amor exigir”, somos informados. Mas o que isso
significa, e como devemos determinar o que o amor verdadeiramente exige? A ética
autônoma do amor fracassa porque não pode dar uma direção concreta quanto ao que o
amor exige, e deixa que as pessoas decidam por si mesmas. Uma ética indefinida de “amor”
é tão útil quanto um sistema ético que meramente instrui as pessoas a serem “boas”.
A teonomia articula a verdadeira ética do amor porque não somente chama os
homens a amarem a Deus e o seu próximo, mas ensina também a verdadeira conduta de
amor, isto é, o verdadeiro padrão de amor. O Senhor Jesus ensinou que os dois maiores
mandamentos na lei eram os mandamentos nos instruindo a amar a Deus de todo o nosso
coração, e amar o nosso próximo como a nós mesmos (Mt 22.37-40). Mas como
expressamos o nosso amor a Deus e aos outros? A Bíblia diz que amamos a Deus quando
guardamos os seus mandamentos (Jo 14.15; 1Jo 5.3; Dt 10.12-13). A lei bíblica nos instrui
sobre como amar a Deus! A lei nos apresenta a natureza santa de Deus, e nos educa sobre
como adorar e servir ao Senhor da forma que lhe agrada. Além do mais, a Palavra de Deus
declara que amamos ao nosso próximo quando o tratamos da forma que a lei de Deus nos
manda tratá-lo (Rm 13.8-10; 1Co 13.3-8; Gl 5.13-14). O amor verdadeiro não prejudica
outra pessoa, mas faz aquelas coisas que realmente ajudam a satisfazer as necessidades da
outra pessoa. Portanto, a lei de Deus é o padrão de amor pois a lei nos ensina como agradar
a Deus, e fazer o bem ao nosso próximo. Uma ética de amor que não esteja fundamentada
na lei bíblica é uma ética baseada numa visão humanista de amor, que frequentemente
torna-se não mais que uma casca para a luxúria. A teonomia é a verdadeira ética de amor
pois está baseada na lei de Deus. Como Paulo diz, “o cumprimento da lei é o amor” (Rm
13.10).
A teonomia é a resposta
resposta apropriada
apropriada à graça
A Bíblia ensina claramente que a obediência a Deus é a única resposta apropriada à
sua graça. Deus nos redime do cativeiro do pecado, de forma que possamos ser o seu povo
e servi-lo zelosamente guardando os seus mandamentos (Ex 19.4-6; 20.1-2; Ef 2.10; Tito
2.14). Aqueles que foram justificados pela fé devem se apresentar totalmente a Deus como
uma oferta de gratidão por sua salvação graciosa:
Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos
em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não
sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do
vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita
vontade de Deus. (Rm 12.1-2)
Quando Paulo chama os crentes a provarem a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus, ele está exortando-os a viver de acordo com a lei de Deus que é boa (Rm 7.12, 16),
agradável (Ef 5.8-10) e perfeita (Sl 19.7).
Antes da salvação éramos os servos do pecado, mas agora que fomos justificados
pela graça, nos tornamos os servos da justiça (Rm 6.16-23; Jo 8.34-35); isto é, devemos
servir a Deus e obedecer à sua lei que é a verdadeira regra de justiça. Paulo proclama a
resposta apropriada à graça quando diz: “Porque a graça de Deus se há manifestado,
trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às
concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente”
(Tito 2.11-12). Onde devemos aprender como viver sóbria, e justa, e piamente, senão na lei
de Deus? Portanto, é evidente que a teonomia é a única resposta apropriada
a propriada à graça.
A teonomia é o caminho
caminho da bênção
bênção
A bênção de Deus é prometida àquele que guarda a lei de Deus. E o salmista diz:
“Bem-aventurados
“Bem-aventurados os retos em seus caminhos, que andam na lei do S ENHOR. Bem-
aventurados os que guardam os seus testemunhos,
testemunhos, e que o buscam com todo o coração” (Sl
119.1-2);
119.1-2); e, “Bem-aventurado
“Bem-aventurado o homem que teme ao S ENHOR, que em seus mandamentos
tem grande prazer” (Sl 112.1). O Senhor Jesus ensinou, “bem-aventurados
“bem -aventurados os que ouvem a
palavra de Deus e a guardam” (Lc 11.28). O apóstolo declara, “bem-aventurados
“bem -aventurados aqueles
que guardam os seus mandamentos” (Ap 22.14; cf. Sl 1.1-3,1.1 -3, 6). No sentido bíblico, uma
“bênção” é um dom da graça divina que traz alegria e conforto, prosperidade e força. E
como os textos acima ensinam, a bênção de Deus está sobre aquele que anda na lei do
Senhor.
Demonstramos que a obediência a Deus é acompanhada pela bênção de Deus com
base em dois fatores. Primeiro, a própria lei é um dom da graça dado para o nosso bem (Dt
10.13). A lei é um manual para viver a “boa vida” no mundo criado por Deus. Guardando a
lei nós andamos em harmonia com a ordem moral estabelecida por Deus para sua criação.
A lei instrui aqueles feitos à imagem de Deus sobre como dominar apropriadamente o
mundo criado por Deus (Gn 1.27-28). Segundo, Deus está a favor daquele
daquele que guarda a lei, e
contra aquele
contra aquele que a transgride (Dt 7.9-10; Ex 20.5-6). O rico favor de Deus está sobre seu
filho obediente. O poder e presença de Deus são manifestos na vida daqueles que amam ao
Senhor e sua lei. O Senhor “conhece” o caminho do justo, mas o caminho do transgressor é
difícil, terminando em destruição e ruína (Sl 1.6; 37.38; Pv 13.15).
A bênção de Deus é também prometida à nação que honra ao Senhor e vive por sua
lei (Sl 33.12). A justiça (i.e., viver de acordo com os padrões morais da lei de Deus) exalta
uma nação, mas o pecado (i.e., transgressão da lei de Deus) trará vergonha e desgraça a um
povo (Pv 14.34). Se uma nação e os seus líderes honrarem a Jesus Cristo como seu
Soberano, e servirem-no com temor piedoso, piedoso, dizendo a ele, “Seja tu nosso Governador,
Guardião, Guia e Proteção, tua Palavra nossa lei, teus caminhos nossa vereda escolhida”,
então essa nação será abençoada; mas se não, a ira de Deus se acenderá e essa nação
perecerá (Sl 2.9-10). Como a bênção de Deus reside sobre o Estado que segue a sua lei,
assim sua maldição reside sobre o Estado que rejeita os seus estatutos (Dt 28.1-68; Is 5.22-
24). A Escritura diz: “Os ímpios serão lançados no inferno, e todas as nações que se
esquecem de Deus” (Sl 9.17).
9.17).
Devemos entender que o repúdio da lei de Deus não somente significa a perda de
sua bênção, mas também a recepção de sua maldição:
Ai dos que puxam a iniquidade com cordas de vaidade, e o pecado com tirantes de
carro!… Ai dos que ao mal chamam bem, e ao a o bem mal; que fazem das trevas luz, e
da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo! Ai dos que são sábios a
seus próprios olhos, e prudentes diante de si mesmos!… Por isso, como a língua de
fogo consome a palha, e o restolho se desfaz pela chama, assim será a sua raiz
como podridão, e a sua flor se esvaecerá como pó; porquanto rejeitaram a lei do
SENHOR dos Exércitos, e desprezaram a palavra do Santo de Israel. (Is 5.18, 20-21,
24)
Dois caminhos são postos diante de cada homem, e cada um deve escolher que
caminho tomará: “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho
proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a
tua descendência” (Dt 30.19). Visto que a teonomia ensina a obediência
obediência a toda a lei de Deus,
esse certamente é o caminho da bênção.
A teonomia é o caminho
caminho da vitória
vitória
O cristão como um indivíduo, e a igreja como o corpo de Cristo, estão ambos em
guerra com o mundo, a carne e o diabo. A teonomia sustenta que, se haveremos de triunfar
sobre esses inimigos, devemos buscar e guardar a lei de Deus (Lv 26.3-8, 17, 25; Dt 11.22-
25; 28.7, 33, 48-52, 68). A guerra de Israel com os cananitas para conquistar a terra e
estabelecer o reino de Deus em Canaã é um tipo da guerra da igreja com os inimigos de
Deus para conquistar o mundo e estabelecer o reino de Cristo em toda nação. A fórmula
para a vitória que Deus revelou a Josué no dia da invasão de Canaã dá à igreja instruções
vitais para vitória sobre os nossos inimigos hoje:
Esforça-te, e tem bom ânimo; porque tu farás a este povo herdar a terra que jurei a
seus pais lhes daria. Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo, para teres o
cuidado de fazer conforme a toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não
te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que prudentemente te
conduzas por onde quer que andares. Não se aparte da tua boca o livro desta lei;
antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo
quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem
sucedido. Não to mandei eu? Esforça-te, e tem bom ânimo; não temas, nem te
espantes; porque o SENHOR teu Deus é contigo, por onde quer que andares. (Js 1.6-
9)
A fórmula para vitória é clara: coragem e obediência a todos os mandamentos de
Deus!
Além do mais, Paulo nos diz que devemos tomar toda a armadura de Deus se
haveremos de triunfar sobre Satanás e os seus seguidores (Ef 6.10-18). Ora, é muito
evidente que a lei de Deus é parte dessa armadura! A lei é verdade; a lei é justa; a lei é
essencial para a pregação do evangelho; e a lei é a Palavra de Deus! Sem a lei de Deus nossa
armadura espiritual é seriamente debilitada! Não é de maravilhar que a igreja antinomista
de hoje está seriamente conquistada pelo mundo, a carne e o diabo!
A lei de Deus também nos faz mais sábios que os nossos inimigos (Sl 119.98).
Através da lei adquirimos a sabedoria de Deus que nos capacita a confundir a sabedoria do
mundo, e a destruir todas as fortalezas da mentira de Satanás que o homem é o seu próprio
deus, capaz de determinar o bem e o mal por si mesmo (2Co 10.4-5). A obediência à lei de
Deus nos assegura da presença de Deus quando saímos para a guerra (Sl 1.2 -3). A teonomia
é sem dúvida o caminho da vitória. Possa a igreja restaurar essa parte da armadura de
Deus, e levantar-se pelo poder de Deus para conquistar todos os inimigos da verdade e
justiça!
A teonomia é o caminho
caminho do reavivamento
reavivamento e reforma
reforma
Há muita conversa hoje sobre a necessidade de um reavivamento na igreja que
levará a uma verdadeira reforma em todos os aspectos da vida. Na discussão sobre como
acontecerá tal reavivamento, o ingrediente primário mencionado é a oração. Ora, é
absolutamente correto que a oração é a chave para o reavivamento, mas a oração é
suficiente? Um estudo dos grandes reavivamentos no Antigo Testamento é muito útil aqui.
Nos reavivamentos do Antigo Testamento, a oração foi um fator chave (Esdras 9.5-15;
Neemias 1.4-11). Contudo, não deve ser negligenciado que todo grande reavivamento no
Antigo Testamento estava intimamente conectado com um retorno do povo de Deus à lei de
Deus!
O poderoso reavivamento e reforma sob Esdras e Neemias centrou-se na
restauração da lei de Deus em Israel. Deus levantou Esdras para ensinar a lei (Esdras 7.10;
Ne 8.1-8); o povo foi humilhado e levado a se arrepender pela lei (Esdras 10.3; Ne 8.9; 9.1-
3); e o povo fez um pacto com Deus para guardar sua lei, e começaram a andar em
obediência à lei (Esdras 10.3; Ne 8.9ss). A queda de Israel aconteceu quando eles “se
obstinaram,
obstinaram, e se rebelaram contra ti, e lançaram a tua lei para trás das suas costas” (Ne
9.26); portanto, o propósito de Deus no reavivamento era restaurá-los, e trazê-los de volta
à sua lei (Ne 9.29). O resultado dessa obra maravilhosa de Deus nos dias de Esdras e
Neemias foi que o povo louvou a Deus e sua lei dizendo: “ E sobre o monte Sinai desceste, e
dos céus falaste com eles, e deste-lhes juízos retos e leis verdadeiras, estatutos e
mandamentos bons” (Ne 9.13). Além do mais, eles “convieram num anátema e num
juramento, de que andariam na lei de Deus, que foi dada pelo ministério de Moisés, servo
de Deus; e de que guardariam e cumpririam todos os mandamentos do SENHOR nosso
Senhor, e os seus juízos e os seus estatutos” (Ne 10.29).
O grande reavivamento e reforma sob o Rei Josias começou quando Hilquias o Sumo
Sacerdote achou o livro da lei no templo e fez com que fosse lido ao rei. O resultado da
redescoberta dos padrões justos da lei de Deus foi um grande arrependimento pelo rei e o
povo, e toda a nação foi purificada da iniquidade e idolatria (2 Reis 22.8-23.25). Josias e o
povo fizeram “a aliança perante o SENHOR, para seguirem o SENHOR, e guardarem os seus
mandamentos, os seus testemunhos e os seus estatutos, com todo o coração e com toda a
alma, confirmando as palavras desta aliança, que estavam escritas naquele livro” (2 Reis
23.3).
Se há de haver um verdadeiro avivamento e subsequente reforma em nossos dias,
devemos orar, nos arrepender e voltar à lei de Deus e obedecê-la de todo o nosso coração
(2Cr 7.14). É a lei de Deus que nos humilhará e nos ensinará a andar em santidade. A
reforma virá somente quando a igreja for levada a redescobrir a lei de Deus que está
atualmente “perdida” e esquecida em nossas igrejas. A teonomia é um chamado à igreja
para se arrepender, retornar à lei de Deus, e guardar a lei do Senhor com um amor zeloso
por Cristo e o seu Reino; dessa forma, a teonomia é o caminho para o reavivamento e a
reforma.
Conclusão
Teonomia é a visão da ética cristã que ensina que a lei de Deus como revelada no
Antigo e Novo Testamento é o único padrão autoritativo de verdade e justiça, e que a
Escritura é inteiramente suficiente para nos instruir na justiça em cada esfera da vida. A
Palavra de Deus é o único padrão aceitável para julgar o certo e errado de qualquer e todo
comportamento humano. A tenomia ensina que o motivo correto da ação humana é o amor
por Deus e pelo homem; que o padrão da ação humana é a Palavra de Deus; e que o fim ou
propósito da ação humana é a glória de Deus.
A teonomia, como um sistema de ética estritamente bíblico, se opõe a todas as
formas de autonomia ética; vê a lei natural como uma regra de ética insuficiente; repudia
todas as formas de antinomianismo e legalismo; defende uma interpretação e aplicação
cuidadosa da lei; e sustenta que a lei de Deus deveria ser o padrão para a vida social e
política de toda nação. Teonomia, como uma formulação estritamente bíblica de ética,
glorifica a Deus; apresenta o verdadeiro dever do homem; é a verdadeira ética do amor; é a
resposta apropriada à graça; é a vereda
vereda da bênção; é o caminho da vitória; e é o caminho
do reavivamento e reforma.
Em essência, a teonomia é a aplicação consistente e fiel do princípio da Reforma do
sola Scriptura à
Scriptura à questão da ética.
Pode haver algumas diferenças em alguns pontos entre aqueles que aderem à ética
teonômica, mas todos os teonomistas diriam com a Confissão de Fé Escocesa que a lei de
Deus é “a mais justa, a mais imparcial, a mais santa e a mais perfeita”. A essência da
teonomia é um amor por Deus e sua lei, e um desejo de ordenar tudo da vida de acordo com
os mandamentos de Deus. Possa Deus conceder a cada um de nós a graça para declarar
alegremente com o salmista, “Oh! quanto amo a tua lei!”
De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos;
porque isto é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e
até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau. (Ec 12.13-14)
Lista de leitura sugerida para o estudo adicional de teonomia
Bahnsen, Greg L. By This Standard: The Authority of God's Law Today . Tyler, Tx.: Institute for
Christian Economics, 1985.
Bahnsen, Greg L. No Other Standard: Theonomy and Its Critics . Tyler, Tx.: Institute for
Christian Economics, 1991.
Bahnsen, Greg L. Theonomy in Christian Ethics. Ethics . Nacogdoches, Tx: Covenant Media Press,
1977 [2002].
Bahnsen, Greg L. and Gentry, Kenneth L., Jr. House Divided: The Breakup of Dispensational
Theology . Tyler, Tx.: Institute for Christian Economics, 1989.
Bolton, Samuel. The True Bounds of Christian Freedom. Freedom . Edinburgh: The Banner of Truth
Trust, 1964. Reimpressão da edição de 1645.
Calvin, John. Sermons on Deuteronomy . Trans. por Arthur Golding. Impresso por Henry
Middleton, 1583. Reimpressão de facsimile, Edinburgh: The Banner of Truth Trust, 1987.
Gentry, Kenneth L., Jr. A
Jr. A Lei de Deus no mundo moderno.
moderno . Brasília, DF: Editora Monergismo,
2009.
Kevan, Ernest. Moral Law . Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing Co.,
1991.
Kevan, Ernest. The Grace of Law: A Study in Puritan Theology .Theology . Ligonier: Soli Deo Gloria
Publications, 1993. Reimpressão de Baker Book House Edition, 1976.
North, Gary, ed. Theonomy: An Informed Response. Response . Tyler, TX.: Institute for Christian
Economics, 1991.
North, Gary, ed. “Symposium on Puritanism and Law” . Journal of Christian Reconstruction 5
(Winter, 1978-9).
Rushdoony, Rousas John. The Institutes of Biblical Law . Phillipsburg, NJ: Presbyterian and
Reformed Publishing Co., 1973.
Rushdoony, Rousas John. The Institutes of Biblical Law Volume II: Law and Society .
Society . Vallecito,
CA: Ross House Books, 1986.
Rushdoony, Rousas John. Law and Liberty . Vallecito, CA: Ross House Books, 1984.
Smith, Gary Scott, ed. God and Politics.Politics . Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed
Publishing Co., 1989.
Strickland, Wayne G., ed. The Law, The Gospel, and The Modern Christian . Grand Rapids:
Zondervan Publishing House, 1993.
William O. Einwechter
Einwechter é presbítero docente na Immanuel Free Reformed Church em
Ephrata, Pensilvânia, editor do periódico The Christian Statesman
Statesman e vice-presidente do
National Reform Association.
Association . É o autor dos livros Ethics and God’s Law , English Bible
Translations,
Translations, e o editor do livro Explicitly Christian Politics.
Politics . Seus escritos têm aparecido no
Chalcedon Report , Journal of Christian Reconstrucion,
Reconstrucion , Patriarch e The Christian Statesman.
Statesman .
William obteve seu grau de Doutor em Teologia (Th.M.) no Capital Bible Seminary em
Lanham, Maryland. Ele e sua esposa Linda moram com seus 10 filhos perto de Ephrata,
Pensilvânia.