Disciplina de História de Moçambique do século XlX até primeira metade do século XX
Licenciatura em ensino de HISTÓRIA
Nome: Narcésio Bernardo Guirrugo
Referência bibliográfica: NEWITT, Malyn, História de Moçambique. Mira-Sintra:
Publicações Europa-América, 1997. Tema: O Estado novo e a Religião e a educação: Principal objectivo do acordo Missionário para o ensino “rudimentar”. Pg. Conteúdo Observações Estado novo
Não tardou que a vigilância burocrática do Estado Novo se
estendesse às igrejas afri- canas independentes. Algumas destas,como a lgreja Episcopal Luso-Africana, fundada como ramo de uma missão suiça próximo de Inhambane, em 1918, foram incentivadas pelo governo a constituir uma associação religiosa com outras igrejas e concentrarem as suas activi- dades na entre-ajuda. Mas outras, de natureza religiosa mais radical, escaparam ao controlo 409 governamental. a A religião e a educação 415 Após a segunda guerra mundial, à semelhança do sucedido na África do Sul, parece ter-se verificado um crescimento rápido das igrejas independentes, muitas delas de orientação sionista. A polícia mantinha registos de trinta igrejas dessas em Manica e Sofala, a maior das quais, a Igreja da Fé dos Apóstolos, congregava 3000 membros. Muito embora estas igrejas fossem vistas como um potencial foco de oposição do governo, a polícia per- mitiu a sua existência, só esporadicamente recorrendo à perseguição activa. Em 1953, por exemplo, proibiram-se as Testemunhas de Jeová e mandaram-se os seus membros para o exílio em São Tomé.8 A história inicial do catolicismo em Moçambique fora completamente dominada pelas ordens missionárias mas, no século xx, os assuntos da Igreja eram dirigidos pela hierar- quia secular.
Em Outubro de 1926, João Belo tornou público o seu Estatuto
Orgânico das Missões, trazendo alguma ordem à cena eclesiástica em Moçambique e nomeandoo bispo de Moçambique director de todas as missões e responsável pela nomeação de todo o pessoal das missões.
Principal objetivo do Acordo Missionário para o ensino
rudimentar.
A Lei Colonial de Salazar manteve a separação formal da Igreja e do
Estado, mas conferiu à Igreja o reconhecimento especial como «instrumento de civilização e influência nacional» e canalizou o auxílio estatal para as missões dado o seu trabalho instrutivo. Oensino missionário foi então regulamentado pelo Acordo Missionário anexado à Concordata em 1940 e pelo Estatuto Missionário de Abril de 1941.
Daqui até à guerra da independência verificou-se uma estreita
cooperação entre a instituição católica e o regime, e o catilicismo tornou-se, na verdade, a religião oficial do Estado, recebendo subsídios e muitos outros privilégios incluindo o fornecimento chibalo para construir a catedral de Lourenço Marques. A principal função das missões era proporcionar uma educação «rudimentar» à popula- ção indígena, continuando o estado a desempenhar essa função nas zonas onde não tinham sido instituídas missões. O ensino missionário tornou-se ensino oficial e, desse modo, as missões passaram a constituir um ramo do governo com um papel importante na propaganda e no controlo social.
O Acordo Missionário definiu do seguinte modo o principal
objectivo do ensino «rudimentar»:
A formação perfeita dos indígenas nos ideais nacionais e morais
[nacionalização e moralização] e a aquisição de hábitos e aptidões para o trabalho, de acordo com o sexo e a condição, e a conveniência da economia regional. Como ideais morais incluem-se o abandono da ociosidade e a formação de futuros trabalhadores rurais e artesãos com vista a produzirem o suficiente para satisfazer as suas necessidades e as suas obrigações sociais.
Não obstante a protecção governamental e a função central da Igreja
na educação africana, estima-se que em 1965 apenas 15% da população fosse católica (e uns escassos 4% protestantes).
Após a segunda guerra mundial, as oportunifdades de aumentaram
um pouco. 1942-3 havia 95 444 alunos inscritos em escolas de missões (o termo mais bonito «Escolas de Adaptação» veio substituir as antigas «Escolas Rudimentares»). Em 1961-2, o número subira para 348 265, dos quais 98% frequentavam escolas católicas e uns meros 7191 frequentavam as escolas de missões estrangeiras, Claro que a relativa diminuição das missões estrangeiras fazia parte da política governamental, e cada vez se levantavam mais obstáculos ao seu funcionamento. Os professores africanos só conseguiam acesso aos estabelecimentos de ensino se fossem católicos, eo acesso a outros graus de ensino, de um modo geral, dependia também da adesão à religião oficial do estado. Samora Machel, por exemplo, entendia que o progresso na educação Ihe estava vedado a menos que se tornasse católico baptizado, e assim, para progredir, aderiu à Igreja.” Como escreveu Jeanne Penvenne, «Uma boa educação e fortes laços de apoio eram factores importantes para a mobilidade dos «negros».