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Educação em

Angola
programa

A educação em Angola diz respeito ao


conjunto de elementos formais que se
somam para formar do sistema de
ensino do país, que mescla
estabelecimentos de ensino público,
privado e comunitário/confessional.
Educação em Angola

Responsável
Ministério da
Educação
Ministério da Acção
Social, Família e
Promoção da
Mulher
Ministério do
Ensino Superior,
Ciência, Tecnologia
e Inovação

Recursos nacionais 3,5% do PIB


para educação (127º)[1] (2010)
Língua oficial Português

Alfabetização (2015) 71,1[2]%


• Homem 82[2]%
• Mulher 60,7[2]%

Índice de 0.463[3] (145º no


educação (2012) mundo)

PISA
Leitura
Matemática
Ciência

Diplomas
• Educação
secundária
• Educação
superior
Proporção Aluno x
Professor ()
• Educação
primária
• Educação
secundária

Dada a característica do país, de


colonização e independência tardia, o
sistema educacional angolano demorou
sobremaneira para desenvolver-se,
pautando-se em ciclos de franca
expansão, com períodos de praticamente
dormência. A independência da nação e
sua subsequente vinculação ao bloco
socialista, bem como as guerras colonial
e civil, influiu bastante no sistema de
ensino da jovem nação.

Desenvolvimento histórico

Período pré-colonial

Ao chegar a bacia do congo, em 1481,


Portugal encontrou uma série de
Estados africanos que dominavam a
região. Esse contato deixou registrado
que naqueles territórios já havia uma
educação formal[4], pelo menos voltada
às cortes reais locais, aos chefes tribais
e aos indivíduos mais influentes
daquelas sociedades.
No Reino do Congo os portugueses tanto
se impressionaram do grau de instrução
das pessoas que ali viviam que, depois
de se familiarizarem, os chamaram de
"gregos de África". Já no século XV
existiam escolas de mestres em
Mabanza Congo, a capital do reino, fato
que levou os portugueses a levar alguns
daqueles cidadãos do Congo para
ministrar aulas de humanidades na
metrópole[5]. Em contrapartida, a
comitiva de Diogo Cão, com autorização
do rei João I do Congo, partiu com um
grupo de nobres do Congo "a fim de
serem educados em Portugal e
instruídos e baptizados na fé cristã"[6].
Período colonial antigo (1482 a
1926)

Escola de Missionários Batistas, em 1911,


no norte de Angola.

O ensino escolar de influência


portuguesa em Angola teve início no
século XVI, portanto muito antes do
actual território constituir uma unidade.
No decorrer da sua presença no Reino do
Congo, os padres católicos presentes na
corte de Mabanza Congo empenharam-
se em divulgar não apenas o
cristianismo, mas também a língua
portuguesa e a correspondente escrita,
bem como rudimentos de matemática.[7].

Em 1514, já existiam no Reino do Congo


escolas masculinas de influência
católico-portuguesa em Sundi,
Quimbamba, Bambata e Pango. Uma
irmã do rei ensinava meninas numa
escola de Mabanza Congo. Essa geração
de mestres eram compostos também
por congoleses formados em Portugal
nos Lóios e as cartilhas de ensino
impressas nas oficinas congolesas[8].
Em 1548, o padre Diogo Gomes foi
mandado ao Congo, abrindo uma escola
para 600 estudantes.
Depois da fundação das Praças Fortes
de Luanda e de Benguela,
estabeleceram-se lá algumas escolas de
nível básico, inicialmente apenas para
filhos dos colonos brancos, inclusive
alguns que tiveram mulheres africanas,
depois também para um pequeno
número de crianças africanas. Nesta
fase, as escolas não constituíam um
sistema de ensino e nem sequer tinham
estruturas muito definidas[9].

Entre 1548 e o século XIX o ensino foi


basicamente capitaneado pelos
missionários católicos. A primeira
viragem ocorreu no ano de 1699, quando
foi iniciada a Aula de Geometria e
Fortificação, o primeiro curso de
Engenharia da África Subsaariana,
voltado para os militares portugueses,
tendo como finalidade preparar os
mesmos para erguer as edificações da
colônia[10]. Em 24 de Abril de 1789 foi
criada a Aula de Medicina e Anatomia de
Luanda, pela Carta Patente de D. Maria I,
sendo a predecessora reclamada da
Faculdade de Medicina da Universidade
Agostinho Neto[11]. Em 29 de Dezembro
de 1836 a Aula de Medicina passou a
denominar-se Escola Médico-Cirúrgica
de Luanda[11] e, em 2 de Abril de 1845,
alterou-se finalmente a denominação
para Instituto Prático de Medicina da
África Ocidental Portuguesa.[10]
A situação mudou no decorrer do século
XIX, quando Portugal passou a ocupar
lentamente o território correspondente
ao de Angola de hoje e, paralelamente à
acção militar, e muitas vezes a precedê-
la, houve uma acção missionária cada
vez mais extensa, tanto católica como
protestante. Os missionários ligavam
sempre a cristianização a uma
escolarização mais ou menos
desenvolvida. Esta começou, inclusive, a
abranger a população africana
urbanizada que se aglomerava em
Luanda e Benguela bem como nas vilas
que se foram fundando passo a
passo.[12]
Assim, apenas em 1845 foi instituída em
Angola uma estrutura oficial do ensino,
pelo decreto de 14 de agosto de 1845,
criado por Joaquim José Falcão,
ministro do Estado, da Marinha e do
Ultramar, e assinado pela rainha D. Maria
II. Falcão criou algumas escolas, tal
como a Escola Principal de Instrução
Primária, e constituiu um Conselho
Inspetor de Instrução Pública[13][14].

O final deste ciclo pode-se dizer que


ocorreu com a instalação do primeira
liceu angolano, o Liceu Central de
Luanda (atual Magistério Mutu-ya-
Kevela), em 22 de fevereiro de 1919[15],
somente equiparado ao regime jurídico
dos liceus da metrópole em 13 de
dezembro de 1923[15].

Período colonial clássico (1927 a


1961)

Mapa do mundo com azulejos


portugueses, em uma das paredes do
Edifício Liceu Nacional Salvador Correia,
sede do Magistério Mutu-ya-Kevela, em
2013.

No início do século XX, delimitado no


essencial o território colonial, iniciou-se a
construção de um Estado colonial e,
inclusive, de um incipiente sistema de
ensino: ao lado das escolas
missionárias, criaram-se nos ambientes
urbanos escolas básicas do Estado e,
pouco a pouco, alguns liceus. Em
meados dos anos 1920, com o advento
do Salazarismo em Portugal, houve uma
primeira sistematização deste sector,
que durou 30 anos e que, no período do
"colonialismo tardio", cedeu o lugar a um
sistema inteiramente reformulado. Para
o período de ocupação colonial podem,
portanto, distinguir-se duas fases no
domínio da educação escolar, uma de
1928 a 1958, e outra de 1958 a 1975.[16]

O primeiro período caracteriza-se pela


aplicação ao ensino de uma política de
separação por raças que chegou a ser
apelidada de apartheid branda. Para o
nível primário e secundário geral foi
introduzida uma distinção e separação
entre escolas que obedeciam ao modelo
introduzido em 1927 em Portugal,
reservados aos "civilizados" (brancos, a
maior parte dos mestiços, um ínfima
parte dos negros) e escolas para
"indígenas" que, geralmente, não iam
para além da segunda classe. Na
primeira categoria, as escolas eram na
sua maioria estatais, mas numa parte
significativa (a partir dos anos 1930)
também privadas ou de comunidades
religiosas. O número de alunos do ensino
primário nesta categoria, cerca de 4000
em 1929/30, chegou a mais de 35 000
em 1959/60, sendo pouco menos da
metade brancos, perto da quarta parte
mestiços, e mais da quarta parte negros.
O desenvolvimento a nível secundário foi
mais lento e acentuou-se apenas nos
anos 1950. Para além de liceus em
Luanda e no Lubango houve sobretudo
os seminários menores da Igreja
Católica. Em 1960, o total dos alunos de
nível secundário era de cerca de 11 000,
na sua grande maioria brancos.[16]

No desenvolvimento do ensino para


"indígenas" podem, durante este período,
distinguir-se duas fases. De 1926 a 1941
ele teve pouca expressão: em 1929/30
contava apenas com cerca de 2000
alunos, metade nas "escolas-oficinas",
metade nas "escolas rurais". Em 1937
estes tipos de escolas públicas foram
extintos e substituídos por "escolas
elementares de artes e ofícios".
Entretanto ocorreu neste domínio uma
mudança incisiva pelo facto de o Estado
Português encorajar as Missões
Católicas a aumentarem a sua actividade
no ensino para indígenas, permitindo o
mesmo às Missões Protestantes. Em
1929/30, havia pouco mais de 3000
alunos no ensino católico, e dez anos
depois eram cerca de 7000. Durante esta
fase, o número de alunos no ensino
protestante manteve-se estável, pouco
acima de 9000.
Uma situação nova dá-se com a
assinatura, em 1941, do chamado
Acordo Missionário [17][18]. Este acto
entrega às Missões Católicas a
responsabilidade integral do ensino para
indígenas, então designado como
"ensino rudimentar" (e mais tarde como
"ensino de adaptação"). As suas escolas
são reconhecidas como oficiais. A
manutenção do mesmo tipo de escolas é
permitida às Missões Protestantes, mas
sem reconhecimento como oficiais. O
Estado retira-se desta área, exceptuando
as poucas escolas de artes e ofícios, que
em 1949/50 tinham menos de 400
alunos.
Durante os anos 1940 e 1950 verifica-se
nestes sectores um crescimento
contínuo, embora lento. Em 1959/60
encontram-se quase 70 000 alunos nas
escolas de adaptação. As escolas
normais de adaptação, entretanto
fundadas, têm mais de 300 alunos. As
escolas de artes e ofícios têm cerca de
1500 alunos. Perto de 290 000 crianças
frequentam as escolas de catequese das
Missões Católicas, que não fazem parte
do sistema "oficial e oficializado" de
ensino.
Expansão colonial tardia (1962 a
1975)

Estudantes durante atividade recreativa no


pátio do Colégio P.S.V., em Lubango, em
2011.

Já nos últimos anos 50, houve


alterações no sentido de uma
flexibilização do sistema. Registou-se
uma maior articulação entre os sistemas
primários "regular" e "de adaptação", em
termos de programas e de possibilidades
de passar do segundo para o primeiro.
Em reacção às primeiras manifestações
de uma resistência anti-colonial armada,
ocorridas em 1961, Portugal adoptou
medidas radicais, concebidas para opor
às ideologias nacionalistas o modelo de
uma real integração. Em 1962 foi abolido
o Estatuto do Indigenato, reconhecendo
a todos o estatuto de cidadão. No
domínio do ensino primário, houve uma
unificação: a uma classe pré-primária
seguiam-se quatro anos regulares. As
escolas elementares de artes e ofícios
mantiveram-se a título de
excepção.[19][16] Em consequência
destas medidas, houve uma verdadeira
explosão primeiro do ensino primário, a
seguir do ensino secundário. Além disto,
foram fundados alguns institutos
profissionais de nível médio, bem como
a Universidade de Luanda (com uma
faculdade no Huambo). Em 1972/73, o
total dos alunos tinha quadruplicado em
relação a 1961/62: o seu total era
ligeiramente superior a 600 000 - mais de
500 000 no ensino primário, cerca de
75 000 no ensino secundário, mais de
3000 no ensino normal (preparação de
professores do ensino primário) e um
número sensivelmente igual no ensino
superior.[20]

Importa salientar que a nível primário a


taxa de insucesso escolar era
extremamente alta: apenas cerca de 10%
dos alunos que ingressavam na classe
pré-primária conseguiam concluir o 4º
ano. A razão principal residia no facto de
apenas uma pequena minoria dos
professores ter as habilitações regulares
(frequência de uma escola de
magistério), mas também que estes
estavam sem excepção concentrados
nas áreas urbanas. Uma segunda
categoria eram os "professores de
posto", com uma formação pedagógica
básica. Além disto havia os "professores
auxiliares" (alguma formação
secundária) e os "monitores" (apenas a
4ª classe), ambos sem formação
profissional. Em 1970, no universo rural
menos de 10% eram professores de
posto, enquanto mais de 40% eram
professores auxiliares e outros tantos
monitores.[21]
De 1961/62 a 1972/73, o aumento do
número dos alunos do ensino secundário
e médio foi de 500%.[16]. A razão
principal residiu, naturalmente, na
abertura à procura por parte dos
anteriormente "não civilizados".
Contribuiu ao aumento também a
criação de Escolas Preparatórias que
representavam uma uniformização, e
autonomização institucional, dos dois
primeiros anos do ensino secundário
(liceal, técnico, comercial). Uma terceira
razão foi o aumento do número de liceus,
essencialmente em resposta a uma
pressão por parte das pequenas
burguesias de todas as raças.
Foi esta mesma pressão que levou à
introdução de algumas instituições de
ensino superior. A mais importante
foram os chamados "Estudos Gerais
Universitários", criados em Luanda em
1962/63 e mais tarde transformados em
Universidade de Luanda, com faculdades
de economia e medicina em Luanda e
uma faculdade de agronomia no
Huambo. Ao mesmo tempo foi dada à
Igreja Católica a permissão para
acrescentar um curso superior ao
Instituto Pio XII de Educação e Serviço
Social.
Sob a égide socialista (1976 a 1990)

Instituto Médio Politécnico Alda-Lara, em


2016, na Província de Luanda.

Ao conquistar o poder e declarar a


independência do país em 1975, o MPLA
optou ao mesmo tempo por uma
tentativa de combinar a construção
nacional com a construção de uma
sociedade socialista, tal como definida
pelo Marxismo-leninismo. Nesta
perspectiva adoptou uma política
educacional inteiramente subordinada a
estes objectivos.[22]
Durante anos, uma alta prioridade foi
dada a uma ampla campanha de
alfabetização de adultos que utilizou a
técnica didática, mas não a metodologia
de base do educador brasileiro Paulo
Freire. Para além da transmissão de
conhecimentos instrumentais básicos, a
campanha teve por objectivo a
promoção sistemática de uma
identidade social abrangente ("nacional")
e uma mentalização política destinada a
obter a aceitação do regime
estabelecido. Não são conhecidas
estatísticas fiáveis quanto a esta
campanha, mas pode ser dado como
certo que ela atingiu centenas de
milhares de pessoas[22].
Paralelamente procedeu-se a uma
reestruturação e expansão do sistema
do ensino geral, concebido para, ao
menos tendencialmente, abranger a
totalidade da população. Na sua versão
regular, destinada à população em idade
escolar, este sistema passou a
compreender oito anos: quatro de ensino
primário, dois de ensino pós-primário e
dois de ensino complementar. Na sua
versão para adolescentes e adultos que
não frequentaram a escola enquanto
crianças, um programa comprimido era
ministrado em seis anos. Este sistema
chegou a ser implantado na quase
totalidade do território, sendo para o
efeito essencial a cooperação cubana
que, de certo modo, substituía os luso-
angolanos que, durante o período
colonial, tinham sido o suporte
indispensável de todo o ensino, mas que
haviam deixado o país na altura da
independência.[23]

Na continuação deste ensino básico, foi


estabelecido um ensino médio de quatro
anos (9ª a 12ª classes). Boa parte das
respectivas escolas tinham como
objectivo uma formação técnico-
profissional nos mais diversos ramos,
inclusive no da formação de professores.
A conclusão da 12ª classe dava acesso
ao ensino superior. Criaram-se também a
nível médio escolas de ensino pré-
universitário (PUNIVs), especialmente
desenhadas para, em menos tempo,
levar ao acesso a estudos superiores em
letras e ciências naturais.[23]

Para o estudo superior existia apenas a


Universidade de Angola. Esta era a
sucessora da Universidade de Luanda e
passou em 1979 a chamar-se
Universidade Agostinho Neto. Embora
ela compreendesse várias faculdades,
situadas em Luanda e no Huambo, esta
universidade não tinha condições para
corresponder à procura gerada pela
expansão do ensino, antes e depois da
independência - tanto menos como o seu
corpo docente ficou drasticamente
reduzido com a saída dos professores
luso-angolanos, só parcialmente
substituídos por "cooperantes" cubanos,
alemães (da RDA) e russos. Por esta
razão, o MPLA estabeleceu um sistema
de bolsas que permitiu, no decorrer dos
anos, a vários milhares de alunos de
realizar estudos universitários em
diferentes "países socialistas" -
principalmente em Cuba, mas também
na União Soviética, na República
Democrática Alemã e na Polónia.
Período recente (1991 - presente)

Alunos numa escola danificada pela


guerra civil, em 2007, no Cuíto

Depois de o MPLA ter abandonado, em


1991, a experiência socialista e a
ideologia marxista-leninista, o ensino
passou por uma nova remodelação.[24]

Apesar de, na lei, a educação em Angola


ser compulsória e gratuita até os oito
anos, o governo reporta que uma cerca
percentagem de estudantes não está
matriculada em escolas por causa da
falta de estabelecimentos escolares e
professores.[25] Estudantes são
normalmente responsáveis por pagar
despesas adicionais relacionadas a
escola, incluindo taxas para livros e
alimentação.[25]

Ainda continuam a ser significante as


disparidades na matrícula de jovens
entre as áreas rural e urbana. Em 1995,
71,2% das crianças com idade entre 7 e
14 anos estavam matriculadas na
escola.[25] É reportado que uma
porcentagem maior de garotos está
matriculada na escola em relação às
garotas.[25]
Durante a Guerra Civil Angolana (1975-
2002), aproximadamente metade de
todas as escolas foram saqueadas e
destruídas, levando o país aos atuais
problemas com falta de escolas.[25] O
Ministério da Educação contratou 20 mil
novos professores em 2005, e continua a
implementar treinamento de
professores.[25] Os professores tendem a
receber um salário baixo, são
inadequadamente treinados, e
encontram-se sobrecarregados no seu
trabalho (às vezes ensinando dois ou
três turnos por dia).[25] Há também
relatos de professores que recebem
subornos diretamente dos seus
estudantes.[25] Outros fatores, como a
presença de minas terrestres, a falta de
recursos e documentos de identificação,
e a fraca saúde também afastam as
crianças de atender regularmente às
escolas.[25] Apesar dos recursos
alocados para a educação terem
crescido em 2004, o sistema
educacional da Angola continua a
receber recursos muito abaixo do
necessário.[25] A taxa de alfabetização é
muito baixa, com 67,4% da população
acima dos 15 anos que sabem ler e
escrever português. 82,9% dos homens e
54,2% das mulheres são alfabetizados,
em 2001.[carece de fontes

?
] Desde a independência em 1975, uma
quantidade considerável de estudantes
angolanos continua a ir todos os anos
para escolas, instituições politécnicas e
universidades em Portugal e no Brasil ao
abrigo de acordos bilaterais entre os
governos.

Entretanto o sistema universitário


passou, essencialmente desde 2000, por
uma expansão muito notável. A
Universidade Agostinho Neto passou a
dispor de cerca de 40 faculdades,
espalhadas pelas principais cidades do
país e a funcionar em condições
frequentemente precárias.[26] Nos anos
2000 houve duas alterações incisivas
neste panorama. Por um lado, a
Universidade Agostinho Neto foi
desmembrada em 2009, passando a
constituir nove novas universidades: as
suas faculdades nas diferentes
províncias passaram a constituir
instituições autónomas, ficando a
Universidade Agostinho Neto limitada a
Luanda. Por outro lado, o número de
universidades privadas aumentou muito
significativamente.

Como era de esperar, estes


desenvolvimentos maciços e incisivos
trouxeram consigo inúmeros problemas
que a esta altura (2011) em muitos
casos ainda não estão resolvidos. No
sector das universidades provadas
observa-se, desde já, em Luanda que a
procura global foi sobre-estimada, e que
não está garantida a viabilidade do
conjunto das instituições actualmente
existentes. De referir ainda que existem
algumas universidades privadas que não
foram oficialmente reconhecidas e cujos
diplomas não são por conseguinte
válidos.

Organização e indicadores
gerais
Desde a edição pela Assembleia
Nacional da Republica de Angola da Lei
de Bases do Sistema de Educação, Lei nº
13/2001, de 31 de Dezembro de 2001, o
sistema de ensino angolano passou a
configurar-se em seis subsistemas, a
saber: Subsistema da Educação Pré-
escolar, Subsistema do Ensino Geral,
Subsistema do Ensino Técnico-
Profissional, Subsistema de Formação
de Professores, Subsistema da
Educação de Adultos e Subsistema do
Ensino Superior.

Educação Pré-escolar

Em Angola institucionalmente a
responsabilidade pela prestação de
cuidados e educação à primeira infância
é repartida entre os ministérios da Acção
Social, Família e Promoção da Mulher e
da Educação, como estabelece a Lei nº
13/2001, já que, define a educação pré-
escolar como um subsistema de
educação e ensino a que têm direito
todas as crianças sem qualquer
discriminação[27].

Os indicadores, no entanto, apontam que


este nível de ensino ainda está muito
aquém de ser considerado universal,
principalmente quando se considera a
zona rural do país[27].

Mais de 100 mil crianças estão


matriculadas em Centros de Infância
(CI's), sendo que em 2012 13% destes
eram públicos, 20% privados e 67%
comunitários/confessionais[27].

Ensino Geral

Pela Lei de Bases o ensino geral passou


a se configurar da seguinte maneira[28]:

Um Ensino Primário de 6 Classes


(básico obrigatório);
Um Ensino Secundário que integra
dois ciclos (formação profissional
básica/formação intermédia e
educação regular/educação de
adultos), com duração de 3 anos cada.

Para o ensino Primário definiu-se um


conjunto de 10 disciplinas consideradas
fundamentais para o desenvolvimento
harmonioso e multifacético das crianças,
distribuídos em função ao nível de
escolaridade, a saber: Língua
Portuguesa, Matemática, Estudo do Meio
(somente até a 4ª classe), C. da
Natureza (a partir da 5ª classe), História
(a partir da 5ª classe), Geografia (a partir
da 5ª classe), Ed. Moral e Cívica (a partir
da 5ª classe), Ed.M.e Plástica,
Ed.Musical e Educação Física[28].

De acordo com as estatísticas do


Inquérito sobre o Bem-Estar da
População (IBEP), em 2009, a frequência
do ensino primário era estimada em
76.3%, com cerca de 23.7% da população
em idade escolar fora da escola.
Igualmente ao subsistema pré-escolar, o
acesso à escola é mais baixo nas zonas
rurais, alcançando apenas 66.8% de
frequência[28].

A evasão escolar ou o atraso escolar são


muito grandes, principalmente na zona
rural. A percentagem da população com
6 ou mais anos de idade que nunca
frequentou a escola é de 20%. E, dentre
os que nunca frequentaram a escola,
cerca de 26% são crianças na faixa etária
dos 6-9 anos[28].

Talvez o maior gargalo do país esteja no


fato de que mais de 60% das crianças
que terminam o ensino primário não
transitem para o ensino secundário e
existe um elevado número de crianças
fora do sistema escolar[28].

Em números absolutos, o número de


alunos matriculados no ensino primário
em 2012 era de 5.022.144, que inclui
também crianças e jovens com atraso
escolar (ou seja, sem que estejam na
faixa etária dos 6-12 anos corresponde
ao ensino primário). Os dados do IBEP
estimam que 58,5% das crianças e
adolescentes dos 12 aos 17 anos
frequentam o ensino primário, em vez de
estarem no secundário, indiciando um
alto nível de atraso escolar[28].
Ensino Técnico-Profissional

Prédios do Instituto de Investigação


Agronômica, no Huambo, em 2011.

Para superar o nefasto quadro em que se


encontrava o ensino técnico no país, foi
criado o programa de Reforma do Ensino
Técnico Profissional (RETEP), dentro da
Lei de Bases, que entre outras coisas
previa a reforma curricular dos cursos
técnico-profissionais, a reabilitação e a
criação de infraestruturas, o
apetrechamento de laboratórios e
oficinas e o aumento do corpo docente e
a sua formação[29].
Desde a edição da Lei de Bases em
Angola houve uma verdadeira explosão
do número de estabelecimentos de
ensino vocacionados para a educação
técnica-profissional, passando de quatro
institutos técnicos em 2003 (Instituto
Médio Politécnico de Cabinda, Instituto
Médio Industrial de Luanda, Instituto
Médio Industrial do Prenda e Instituto
Médio Industrial de Benguela) para 41
instituições em 2010[29], abrigando cerca
de 120 mil alunos. Foi um crescimento
extraordinário, que possibilitou formar
uma nova geração de profissionais para
o país, num esforço muito grande de
superação dos efeitos da guerra civil.
Formação de Professores

O subsistema de Formação de
Professores estrutura-se nos seguintes
níveis com duração de 4 a 6 anos,
respectivamente[28]:

Médio Normal;
Superior Pedagógico.

Compreende ainda acções que se


enquadram na formação permanente[28]:

Agregação Pedagógica;
Aperfeiçoamento.

No que diz respeito à melhoria da


qualidade do ensino, a formação de
professores é um elemento fundamental,
sendo que, no período 2008-2012, foram
formados 59.525 professores. O
universo de professores que lecionavam
nos vários sub-sistemas de ensino em
2012 era de 245.979. Porém, o número
de professores formados em 2012
(12.854) representa apenas 5,2% do
número total de professores[27].

Educação de Adultos

O subsistema de Educação de Adultos


foi criado para extirpar o fantasma do
analfabetismo que pairou sobre o país,
principalmente após este abandonar a
planificação socialista e adotar um
sistema de mercado. Embora tenha
sofrido revés na década de 1990, vale a
pena destacar que a erradicação do
analfabetismo de adultos foi muito
vigorosa, pois em 1975 estimava-se que
85% da população era analfabeta, contra
apenas 33% em 2009[30]. Os piores
indicadores quanto à alfabetização são
registrados nas províncias do Bengo,
Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico, Cuando-
Cubango e Cunene, acompanhado
principalmente as famílias e indivíduos
em situação de extrema pobreza[27].

A "taxa de alfabetização" permanece


baixa entre os que se formam no
sistema de ensino angolano, refletindo
os problemas de qualidade e terminando
naquilo que é conhecido como o
analfabetismo funcional. Considerava-se,
ainda, que dos cerca de 2.500.000
alfabetizados nas sucessivas etapas,
cerca de 45% (maioritariamente
mulheres) estivesse nessa condição[27].

Estima-se que 58.5% dos estudantes


estejam em situação de atraso escolar
de pelo menos um ano, ou seja, pode-se
considerar que quase metade das
crianças e jovens na faixa etária dos 12
aos 17 anos não se encontram
integrados adequadamente em
programas de ensino correspondentes a
sua idade. Ou seja, cerca de 2 milhões de
pessoas estão atrasadas escolarmente.
Este grupo cria um "gargalo" no sub-
sistema de ensino geral[27].

Ensino Superior

Cidade Universitária da
Universidade Agostinho Neto, em
2011.

No subsistema do ensino superior,


Angola experimentou uma
transformação muito profunda, no que
toca ao acesso (no sentido de
quantidade de matrículas propriamente
dito), dos docentes e da qualidade[31].
Para efeitos de comparação, o país pôde
ter sua primeira universidade em 1962
(embora já dispusesse de cursos
esporádicos e isolados desde o século
XVII), sendo que, em 1964, tinha
registrado 531 matrículas, e; em 2011
alcançou surpreendentes 140.016
estudantes matriculados nas instituições
públicas e privadas. Os fatores que
possibilitaram esse expressivo aumento
foram a divisão (e consequente
aumento) da oferta de cursos pelas
novas universidades públicas
regionais[32]. A divisão deu origem a sete
novas universidades e sete novos
institutos. Por outro lado, a criação de
várias instituições privadas, que, em
2011, somavam 10 universidades e 12
institutos politécnicos superiores[31].

No que diz respeito a docentes do ensino


superior, os dados do período dão conta
da existência de 839 profissionais no
ano de 2000, saltando para 5.499 já em
2011, registrando uma elevação de
655,42%. Ainda assim, a razão professor-
aluno é grande para a média da OCDE[31].

Numa visão qualitativa, porém, há um


reconhecimento de que existe uma má
qualidade de ensino em níveis inferiores,
que força para baixo os indicadores,
visto haver a necessidade de
nivelamento. Outros fatores incluem a
ausência de investigação, bem como de
divulgação científica, assim como de
estruturas de suporte à investigação,
como bibliotecas e laboratórios. Ainda é
destacado como problema sério a fraude
acadêmica e a corrupção, como a
exigência de pagamento para ingresso
no sistema público até ao pagamento
para elaboração de trabalhos de
licenciatura, passando por suborno para
atribuição de notas acadêmicas e
promoções na docência sem a
qualificação necessária[31].

Em relação aos Institutos Superiores


Politécnicos e às Escolas Superiores não
afiliadas às universidades públicas, foi
fundado o Ministério do Ensino Superior,
para que este desse suporte ao
crescente número de vagas nos
mesmos[33].

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