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INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda dois temas muito importantes no campo da


Sociologia da Educação, mais concretamente a educação em Angola antes e depois
independência, políticas educativas angolanas. Procuramos abordar a problemática da
educação em Angola desde os tempos coloniais, o periodo pós indepencia, bem como as
duas principais reformas educativas que aconteceram na primeira repúplica e mais
recentemete na segunda república.
Abordamos também a questão das políticas educativas em Angola, seus marcos,
pontos fortes e fracos no que concerte o desenvolvimento educacional angolano.

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A EDUCAÇÃO NA ERA COLONIAL

A educação formal ou escolarização, tal como é conhecida hoje, surgiu em


Angola, como em quase todos os países africanos, através do processo de colonização.
Antes da presença colonial, a educação em África baseava-se num quadro não formal,
aliás “A maior parte da educação é informal, sendo adquirida pelos pais através do
exemplo e do comportamento dos membros mais velhos da sociedade. Em
circunstâncias normais ela emerge naturalmente, eleva-se do ambiente; …” (Roodney,
citado por Viera 2012:27).

A educação estava intimamente ligada com o estilo de vida desses povos, “… a


educação não formal foi utilizada durante muito tempo na África pré-colonial como um
sistema de ensino ligado ao modo de vida das populações para a sua sobrevivência.”
(Viera, 2012:28).

Segundo Viera (2012), “Este tipo de educação visava a transmissão de geração


em geração, os contos, os valores culturais e as próprias experiências de vida através da
tradição oral.” Com o objectivo de preservar os hábitos e costumes que lhes eram
identitários e também de dar forma à sua existência.

Entretanto, os portugueses, movidos pelo etnocentrismo europeu consideravam o


povo angolano e a raça negra em geral, inferiores ao povo europeu, considerando-os
atrasados, bárbaros, selvagens, povo sem história, pelo simples facto de serem
diferentes. Esta concepção atrasou o processo de escolarização do homem negro, pois o
mesmo era visto como “coisa”, ou seja, um mero instrumento para a mão-de-obra
barata.

Como se lê “Quanto a educação e escolarização do africano, a situação não era


das melhores… Uma vez que este vivia subjugado e sujeito a uma descriminação racial,
não se punha em questão a escolarização.” Viera (2012:42). Todavia, reza a história
que, a educação em Angola, durante séculos da colonização portuguesa, esteve sob
responsabilidade das missões religiosas, sendo o ensino laico muito reduzido e praticado
por algumas instituições não oficiais.

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«Acredita-se que o ensino praticado nesta altura pelas missões religiosas, para
além de aspectos pontuais ligados ao saber contar e escrever, assentava mais nas lições
básicas da religião ocidental, nas suas “virtudes”, e nos fundamentos elementares da
religião cristã, contrapondo-se aos valores da religiosidade praticadas pelos nativos
angolanos…» Viera (2012:43)

1.1 O SURGIMENTO OFICIAL DO ENSINO EM ANGOLA

Após três séculos de colonização severa sobre Angola, “o ensino oficial surge
em Angola nos meados do século XIX, considerando-se como ponto de partida o
decreto assinado por Joaquim Falcão em 1845” Dos Santos (citado por Viera 2012),
foram assim lançados os primeiros alicerces para a escola pública no ultramar, mais
especificamente em Angola. No entanto, o surgimento do ensino oficial em Angola em
nada beneficiou o angolano, numa primeira fase. Estando eles na condição de indígenas,
lhes eram vedadas às portas do ensino, privilegiando a burguesia portuguesa.

Passando-se 74 anos após o decreto de Falcão em 1845, surge em Angola o


primeiro liceu de Luanda e da província Salvador Correia, isto em 1919. “Contudo, é de
salientar que … a situação de escolarização da maior parte dos africanos não melhorou
significativamente. Tendo em atenção que, o liceu Salvador Correia era frequentado por
filhos de grandes proprietários europeus que viviam em Angola, fazendeiros
portugueses, elementos de ascendência portuguesa e alguns africanos … que a muito
custo podiam suportar os encarregos da educação. Para outros africanos, restava-lhes as
escolas profissionais onde faziam um curso de artes e ofícios O ensino profissional
destinava-se aos africanos, então designados internacionalmente por indígenas”. (Viera
2012: 48)

De modo geral, o ensino colonial não era vocacionado para o angolano, para sua
cultura e promoção de seus valores, pois “estudava-se a flora, a fauna, a história e a
geografia de Portugal, criando-se assim um vazio cultural acerca de conhecimentos
relacionados com a própria colónia.” Viera (2012:56).

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2. A EDUCAÇÃO EM ANGOLA APÓS A INDEPENDÊNCIA

A lei constitucional da república popular de Angola (aprovada em 1975)


consagrou a gratuitidade e a obrigatoriedade do ensino de base, bem como a laicidade
da educação e instrução, como bases de edificação do sistema educativo angolano. A lei
nº 4/75 de 9 de Dezembro do conselho da revolução aprovou a nacionalização do ensino
e em 1976, com base nas recomendações do 3º plenário do comité central do MPLA,
realizado em Luanda de 23 a 29 de Outubro, foi aprovada a lei nº 72/76 de 23 de
Novembro, que cria o Ministério da educação (art.2º) com o objectivo de regular o
sistema educativo angolano (Diário da República 1976, apud Silepo 2011, citado por
Kulonga, 2014).

No âmbito da autodeterminação de Angola, “os movimentos políticos tinham


como um dos objectivos … erradicar a cultura e a educação colonial, reformulando o
então sistema de ensino.” (Ngaba 2012:132). “A reformulação do sistema colonial foi
caracterizada pela institucionalização do ensino de base de oito anos, sendo obrigatório
e gratuito no primeiro nível (os quatro anos de escolaridade) e tendo em linha de conta o
contexto do desenvolvimento nacional (premissas económicas, sociais, pedagógicas,
culturais, técnicas, tecnológicas, etc., que deveriam procurar alargar progressivamente a
escola obrigatória e gratuita, para os oito primeiros anos de escolaridade)” (Zau 2002:
114).

2.1 O NOVO SISTEMA DE EDUCAÇÃO

Por sistema de educação e de instrução entende-se todas as instituições que


trabalham para a educação e ensino dos cidadãos. O sistema de educação e ensino em
Angola era (e continua a ser) constituído pelas seguintes instituições educativas:

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1. Instituições pré-escolares
2. Escolas do ensino de base
3. Institutos de ensino médio
4. Institutos de ensino superior (Institutos Superiores, Academias de Arte)
5. Escolas especias e o estabelecimento para crianças deficientes
6. Institutos para a instrução profissional de adultos e centros de formação
de trabalhadores

1. Instituições pré-escolares
A instituição pré-escolar visa(va) Organizar o divertimento cultural e
sadio das crianças, o jogo e a vida colectiva; ajudar os pais
trabalhadores não só nos cuidados, mas também na educação dos
seus filhos; criar as condições suficientes para o seu desenvolvimento
normal e harmonioso com vista a uma infância sadia e feliz; preparar
as crianças desta faixa etária para a escola, sempre com orientação
pedagógica do Ministério da Educação. Estas eram subdivididas em
Creches (crianças até aos 3 anos) e jardins de infância (dos 3 aos 6
anos) sendo que o último período (5 aos 6 anos) compreendiam a
iniciação.
2. Ensino de Base
A escola de base era a instituição escolar que constituía o alicerce do
sistema de educação, instrução e ensino, depois do ano de iniciação.
Era gratuita, tendia a ser obrigatória e englobava as crianças dos 6
aos 14 anos de idade. Tinha como objectivo dar a cada jovem
cidadão, os elementos iniciais da educação de carácter socializante e
a instrução geral.
3. Institutos de ensino médio
Este nível do ensino compreendia os Institutos que se ocupavam do
Ensino Médio Profissional, com carácter especializado, através de
escolas de formação técnico-profissional com uma duração de quatro
anos lectivos.
4. Escolas de ensino superior
Os cursos dos Institutos Superiores teriam a duração de 4 a 5 anos e
funcionariam a nível universitário. Este tipo de estabelecimentos

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deveria preparar os quadros com formação profissional aprofundada
e especializada superior, necessária para os diversos ramos de
actividade económica e social. Infelizmente, só o Instituto Superior
de Educação – ISCED – veio efectivamente a funcionar (embora com
algumas dificuldades conjunturais) primeiro no Lubango, na
província da Huíla, e, posteriormente, também em Luanda.

5. Escolas especiais e estabelecimentos para crianças deficientes


Este tipo de escolas e de estabelecimentos de ensino tinha como
função fundamental, possibilitar a aquisição da instrução de base,
geral e profissional, às crianças e jovens deficientes de vários tipos e
graus, tornando-as assim capazes para o trabalho ou para a vida
autónoma.
6. Instituições para a instrução de adultos e aperfeiçoamento
profissional, Centros de Formação de trabalhadores
Estas instituições tinham como função organizar e tornar possível,
aos adultos, a aquisição dos elementos de base de cultura geral,
de completar e aperfeiçoar a sua instrução geral e formação
profissional, tornando-os, deste modo, sensíveis aos conhecimentos e
contactos com o processo e as diferentes descobertas ou conquistas
da humanidade no domínio da ciência, da técnica, da tecnologia e da
cultura.

2.2 A 1ª REFORMA EDUCATIVA DE 1977 A 1991

A Reforma educativa da 1º República tinha como base de orientação as ideias do


programa combativo do MPLA bem como outros documentos, sobretudo os que
espelhassem os princípios de base para a reformulação do sistema de educação e ensino
emanados do primeiro congresso do partido MPLA.

Em resposta a elevada taxa de analfabetismo herdada do sistema educativo


antigo, o estado angolano comprometia-se a massificar o ensino e torna-lo obrigatório e

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gratuito no seu nível primário. A reforma cingia-se a duas vertentes: a quantitativa (a
generalização do ensino a todo povo, aumentado as instituições escolares, sobretudo,
nas zonas rurais) e a qualitativa (que consistia em rever as estruturas e sua articulação,
os conteúdos de ensino, orientação planos e programas de ensino)

O sistema educativo da primeira república edificou-se nos princípios educativos do


socialismo científico Marxista-leninista:

“Os fundadores do socialismo científico, Marx e Engels e o seu continuador Lenine,


formularam certas exigências de base esquematizaram as características fundamentais
da educação e da instrução na sociedade socialista. …. Compreendendo a sua ideia e
sobre as bases que eles formularam edifica-se hoje o sistema de educação e instrução de
todos os países que engajaram na via do desenvolvimento socialista. Partindo do
princípio que, na República popular de Angola, o objectivo estratégico é a instalação do
poder popular, a política educacional só pode basear nas premissas do socialismo
científico como ideologia e concepção do mundo, ao serviço da instalação da
democracia popular e construção do Socialismo” (MPLA, 1978: 16.22, citado por
Ngaba 2012:133)

O sistema educativo angolano na primeira república compreendia os seguintes


subsistemas:

1. Subsistema do ensino de base


2. Subsistema do ensino técnico profissional
3. Subsistema do ensino superior
Subsistema do ensino de base: O sistema de ensino de base deveria ser
assegurado por duas áreas principais; Estrutura da formação regular
(esta estrutura fundamentava-se na Escola de Base atrás referida. Numa
primeira fase, esta Escola de base seria formada por oito classes: o 1º
nível com quatro classes, o 2º nível com duas e o 3º nível também com
duas classes) e Estrutura da formação de adultos (Em
aproximadamente 4 semestres, a ser determinado pela prática
(alfabetização mais 3 semestres), o adulto adquiriria os mesmos

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conhecimentos fundamentais que a criança nas 4 primeiras classes (1º
nível). A partir daí, seria necessário adaptar a programação desta
estrutura pela intensificação que se tornava necessária nos 2º e 3º níveis
do Ensino de Base.

Subsistema de ensino técnico profissional: O ingresso nestes Institutos era


inicialmente aberto a todos os alunos que terminassem o Ensino de base regular e aos
adultos que, tendo o Ensino de Base, quisessem também prosseguir a sua formação.

O Ensino Médio deveria seguir-se ao ensino de base e tinha como objectivo


fundamental o prosseguimento dos conhecimentos gerais, que permitissem ao aluno
ingressar no ensino superior, após a sua formação como técnicos médios de ramos do
interesse considerado prioritário para o desenvolvimento socioeconómico do País. Este
ensino seria ministrado em Institutos de tipo Médio, que englobam em geral 4 classes
(9ª ,10ª ,11ª, 12ª classes). Os Institutos seriam especializados desde a 9ª classe.

Subsistema de ensino Superior: O ensino superior seria assegurado pelos


institutos superiores, que constituiriam a Universidade de Angola. Os cursos
ministrados poderiam ter duração variável, em função do nível de conhecimento a
atingir, tendo ainda em conta os pré-requisitos dos alunos, para entrada na
Universidade. Pretendia-se que só entrariam para a Universidade, os estudantes que
tivessem terminado um Instituto de Ensino Médio e que a sua inserção se deveria fazer
num curso que correspondesse ao ramo anteriormente seguido, para que o
desenvolvimento teórico de conhecimento estivesse ligado à prática adquirida e
realizada. Deste modo procurava-se aplicar o princípio “prática-teoria-prática”.

(Zau 2002: 131)

2.3 A ESTRUTURA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

A estrutura de formação de professores tinha como base a Implantação dos


Institutos normais de educação, estabelecimentos de ensino de grau médio, com o

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objectivo de formar técnicos médios, profissionais do Ensino. O nível deste ensino é
exatamente correspondente aos Institutos médios de outros ramos de ensino de 4 anos,
depois da 8ª classe, com produção obrigatória, a partir da 11ª classe. Este nível deveria
formar os professores diplomados para o Ensino de Base.

Os professores seriam preparados para leccionar integralmente as 4 primeiras


classes e uma ou duas disciplinas das 4 últimas classes (cadeiras da sua especialização).
A formação dos professores dos Institutos Médios seria feita pelo Instituto Superior de
Ciências da Educação – ISCED.

Paralelamente à Formação regular dos Professores funcionariam Cursos de


Formação Acelerada, de Superação Permanente e Cursos de Requalificação:

1. Os Cursos de Formação Acelerada visavam formar agentes de ensino que a curto


prazo, viessem a cobrir todas as carências de professores existentes no ensino de
base, em especial nas quatro primeiras classes. Neles deveriam inscrever-se
jovens que tivessem terminado a 6ª classe ou correspondente e mais de 18 anos
de idade. Entretanto, para fazer face às enormes carências de professores, os que
tivessem aquela idade e a 6ª classe ou equivalente e quisessem trabalhar
imediatamente, poderiam pedir a sua nomeação como professor, sendo mais
tarde sujeitos aos Cursos de Superação Permanente.
2. Os Cursos de Superação Permanente visavam aperfeiçoar agentes de ensino,
herdados do sistema colonial e vulgarmente conhecidos por monitores escolares
(professores com apenas 4 anos de escolaridade) e que, aparentemente, numa
primeira fase, em Angola, não deveriam ir além dos 15.000; os professores de
posto, os professores primários eventuais e os professores de ensino secundário,
também estariam sujeitos a Cursos de Superação Permanente. Estes cursos
deveriam exigir uma atenta planificação e seriam feitos a distância, de modo a
permitirem o permanente funcionamento das escolas.
3. Os Cursos de Requalificação viriam a elevar o nível político e pedagógico dos
professores primários diplomado de tal modo que lhes possibilitasse atingir a
qualificação de técnico médio profissional. Estes professores estariam também
preparados para leccionar integralmente as 4 primeiras classes e uma ou duas
disciplinas das 4 últimas classes (cadeiras de especialização) e ficariam assim
aptos para o ingresso no Instituto Superior de Ciências de Educação. A duração
deste curso seria, aproximadamente, correspondente a um ano.

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2.4 A REFORMA EDUCATIVA NA 2º REPÚBLICA (1991-2005)

Com a abertura do país ao multipartidarismo, através da lei nº 23/92, que aprova


a Lei de revisão constitucional, dá-se necessariamente origem a mudanças. A República
Popular de Angola transforma-se na “República de Angola, como Estado democrático
de direito que tem como fundamentos a unidade nacional, a dignidade da pessoa
humana, o pluralismo de expressão e de organização política e o respeito e garantia dos
direitos e liberdades fundamentais do homem, quer como indivíduo, quer como membro
de grupos sociais organizados” (MIGUÉIS 1994, CITADO POR Zau 2002: 150).

Três factos a ter em conta nesta segunda reforma educativa: O relatório do grupo
do prognóstico de 1986, a queda do muro de Berlim, e o fórum mundial da educação
Dakar 200.

O grupo de trabalho do então gabinete de estudos para o diagnóstico composto


por técnicos angolanos e cubanos, autor do relatório de prognóstico de 1986, ficou
privado da arte cubana, por esta ter abandonado o país ao abrigo dos acordos de Nova
Iorque sobre a independência da Namíbia. A queda do império da antiga URSS, por
conseguinte, a mudança do clima político nos países socialistas, em particular em
Angola, trouxe um impulso às recomendações do relatório de prognóstico de 1986.
Com assinatura dos acordos de paz para Angola , entre o MPLA e a UNITA, em
Bicesse -Portugal, seguida da mudanças do sistema político monopartidário ao
multipartidarismo, a consequente liberalização do mercado económico angolano à luz
das sociedades democráticas, em detrimento da economia socialista, em 1992 elaborou-
se um programa de “Educação de Urgência” que visava rever o conteúdo pedagógico,
principalmente o ensino de base, adaptando-o ao contexto de reconciliação nacional e
construção da paz. … Este programa que fazia parte das novas linhas de reformulação
do sistema educativo angolano (MED 1995, citado por Ngaba 2012:156)

“O sistema educativo da segunda república de Angola tem por objectivos


adequar o ensino às exigências para o desenvolvimento humano sustentável numa

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perspetiva de reconstrução sobre novas bases, e proporcionar o acesso à educação e
qualidade para todos até 2015 (MEC 2001, 11 Ibidem)”. Ainda a exemplo do sistema
anterior, o actual continua laico, não dependendo assim de nenhuma religião.

Não obstante, o sistema de ensino actual está subdivido em cinco subsistemas:


Subsistema pré-escolar, de ensino geral, de ensino técnico profissional, de formação de
professores, de educação de adulto e de ensino superior. Estes subsistemas estão
estruturados em três graus, a saber, primário, secundário e superior.

Para além da concepção de um novo sistema, o Ministério da Educação tinha


em mente:

1. Que a concepção do novo sistema proposto deveria ser suficientemente


aprofundada.
2. A necessidade de se criarem as condições básicas essenciais para o seu
funcionamento;
3. Uma aplicação experimental do Sistema de Educação e Ensino
suficientemente probatória;
4. A necessidade de se proceder a uma avaliação, antes da sua implantação
generalizada.

Assim, estava inicialmente previsto que a implementação do novo modelo do


sistema de Educação e Ensino, tivesse lugar em quatro grandes fases, a saber:

1ª Fase – 1989/1991 – Preparação


2ª Fase – 1991/1994 – Experimentação
3ª Fase – 1994/1995 – Avaliação
4ª Fase – 1995/1996 – Implantação generalizada.

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3. POLÍTICAS EDUCATIVAS EM ANGOLA

Ozga (2000), referindo-se à política educativa, afirma que tal conceito


não tem uma única e incontestável definição. Segundo esta autora, o termo
política pode ser entendido de diversos modos, dependendo sempre da
perspectiva do investigador.” Há aqueles que o entendem como as ações de um
governo que visam a consecução de determinados objectivos” (Ozga, 2000:20).
Mas também pode ser visto como algo mais abrangente, tornando-o assim como
um processo mais do que um produto onde se envolve a negociação, a
contestação ou a luta entre diferentes grupos não envolvidos diretamente na
elaboração oficial da legislação (Id, Ibid.). É também assim entendido por Vallés
(2002) que aponta a dimensão do processo a par da estrutura e do resultado
(produto), como as que compõem o conceito de política.
Teodoro (2003) faz uma ligação entre o conceito de política com o poder,
realçando, sobretudo, o caráter coercivo entendido como uma fixação autoritária
de valores em busca de um ideal de sociedade. Trata-se de uma fixação
centralizada pelo Estado, mas que não supõe uma resposta simples e direta aos
interesses dominantes. Teodoro reconhece que política é “antes o resultado,
sempre provisório, de um processo de negociação assimétrico entre grupos e
forças econômicas, políticas e sociais potencialmente conflituais” (Teodoro,
2003:15).
Uma das vantagens para a investigação nas áreas de políticas educativas
(trata-se do nosso caso) que Ozga (2002) aponta ao enveredar por uma definição
mais abrangente de política, consiste em, além de permitir além de permitir a
entrada nos mecanismos formais do governo, permitir ainda o acesso aos
desenvolvimentos políticos a nível macro. Assim, uma investigação orientada
nesta perspectiva pode ser feita:
“Em instituições, em salas de aula, nos departamentos regionais de
educação ou nos departamentos governamentais. Tais conclusões podem ser

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feitas como uma crítica ou como um comentário a conclusões de investigações
oficiais em servir de base àquelas que têm capacidade de intervir ou
implementar directivas políticas” Ozga, 2002:21).
Neste caso, politicas educativas pode encontrar-se a qualquer nível, não
se limitando apenas a nível dos governos centrais (Id., Ibid.). Seguindo esta
lógica podemos apontar além dos governos centrais, outros construtores de
políticas educativas: os professores, os alunos, os pais ou encarregados de
educação (Id., Ibid.: 22-23), e instituições transacionais com a UNESCO, A
UNICEF, o Banco Mundial e os Bancos Regionais. Há um conjunto de autores
diversos que se esforçam na regulação da política, e todos o fazem de forma
ativa ou passiva: propondo e impondo, ou resistindo e bloqueando (Vallés, 2002:
34).

Esta visão ampla de política tem ainda, na educação, a vantagem de


considerar os práticos como elaboradores de teorias ou como potenciais teóricos,
não apenas como receptáculos de directrizes políticas (que geralmente emanam
de cima para baixo) (Ozga, 2000: 29).
Um outro elemento digno de realce que Ozga (2000) defende, é que não
só não há uma definição clara de política educacional como também não há
linhas perfeitamente claras de demarcação entre política educacional e outras
áreas de política social. Há imensas áreas de política social que levantam
questões com implicações com implicações na educação. A autora aponta casos
como a as políticas familiares ou as de assistência social ao trabalho (Ozga,
2000: 34).

3.1 Investigação de Políticas educativas: projectos de estudo

Tal como na definição de «Políticas Educativas», Ozga (2000) defende a


existência de muitas maneiras diferentes de descrever o estudo de políticas
educacionais. E, citando Dale, identifica três categorias de trabalho em
investigações políticas. Assim, um projecto de investigação política pode ser
o de administração social, de análise política, e de ciência social. O projecto
de «administração social» é p tipo de investigação que dominou as políticas

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educacionais desde os anos 40 aos 70. Tem como objectivo usar a
investigação para mudar e/ou melhorar as práticas administrativas do Estado.
Ou seja, este projecto de investigação julga a atuação do estado naquilo que
o próprio Estado se propõe (Ozga, 2000:82).

O projecto de «análise política», consiste, sobretudo, em descobrir o que


os governos fazem, porquê o fazem e, também, que diferença é que isso faz no
contexto educativo. Ai, claramente, a política educativa é definida como a
função e domínio do Estado. O carácter deste tipo de investigação é de âmbito
tecnicista e a sua preocupação está virada para os resultados. A principal
preocupação dos investigadores que trabalham nos projectos de análise política é
encontrar maneiras de assegurar o comprometimento de políticas sociais,
independentemente do seu conteúdo (Id., Ibid.: 83). Este tipo de análise ganhou
muita importância nos anos 70, 80 e 90.
Por último, o projecto de «ciência social». Este tem como preocupação
descobrir como é que as coisas funcionam “mais do que colocá-las em
funcionamento”.

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CONCLUSÃO

Depois de descorrer por vários livros sobre a educação em Angola, quer seja
antes ou depois da indpendência, posso concluir que em termos históricos, abordar a
questão da educação colonial em Angola é também uma forma de compreender a visão
do colonialismo sobre o colonizado, as lógicas de dominação estabelecidas pelo
colonialismo e os mecanismos de resistência utilizados pelos Angolanos na defesa da
sua identidade cultural, valores, usos, tradições e costumes. E também que em termos
políticos, a nacionalização do ensino tinha como objectivos imediatos fazer do sistema
de educação um instrumento do Estado e substituir todo o aparelho colonial de
educação e ensino, promovendo no seio da sociedade angolana uma educação virada
para o povo e uma forma de Estado angolano iniciar a implementação da «Escola para
Todos», uma vez que as autoridades coloniais não a tinham implementado devido a sua
política de exclusão e discriminação da maioria dos angolanos. Em termos teóricos, este
conjunto de princípios consubstanciados no novo sistema de educação e ensino visava
contribuir para uma educação diferente daquela que existira na época colonial, não só
em termos da qualidade como em relação às condições de acesso e de aquisição de
meios e material escolar.

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BIBLIOGRAFIA

KULONGA, 2014, ISCED Luanda, Bloco A.

NGABA, A. V. (s.d.). Políticas Educativas Em Angola (1975-2005) (2ª ed.). Luanda,


Angola: SEDIECA.
ZAU, F. (2017). Do Acto Educativo Ao Exercicio Da Cidadania. Luanda: MAYAMBA.
ZAU, F. (2002). Trilhos para o desenvolvimento, Lisboa.
VIEIRA, L. (2010). A Dimensão Ideológica da Educação. Luanda: Nzila.

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