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POLÍTICA EDUCACIONAL E ORGANIZAÇÃO ESCOLAR - Sonia Borges

1 ª Aula

Breve história da
educação brasileira
Caro(a) aluno(a),

Para iniciarmos nossos estudos sobre a estrutura da educação básica brasi-


leira é importante relembrar como foi se construindo a instituição escolar
no decorrer do tempo histórico, pois você pode estar se perguntando “o for-
mato de escola que conhecemos atualmente sempre foi assim? Sempre teve
essa estrutura física, objetivos e organização?”.
Para conhecer esse processo de construção da educação, na aula 1 vamos
expor uma breve história sobre educação brasileira e suas instituições esco-
lares, no período que contempla do século XVI ao século XXI.
Que tal iniciarmos a aula?

Bom estudo a todos, leiam atentamente a aula, consultem, pesquisem ar-


quivos e se ainda persistir qualquer dúvida entrem em contato via quadro
de avisos na nossa plataforma.

Objetivos de aprendizagem

Ao término desta aula, vocês serão capazes de:

• entender as funções da educação no decorrer do tempo;


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• conhecer o processo histórico da educação no Brasil;


• identificar as principais características da educação nos séculos XX e XXI.

Seções de estudo

Seção 1 – Evolução da Instituição escolar


Seção 2 – História da educação no Brasil – Colônia a República
Seção 3 – Educação no século XX
Seção 4 – Educação no século XXI

Seção 01 Evolução da Instituição escolar

O formato de escola que conhecemos atualmente nem sempre foi assim, tanto em
relação a sua estrutura física como aos seus objetivos e organização.
Como era então?
Vamos ler o trecho a seguir, pois ele traz um rápido panorama do surgimento da
escola e suas funções em relação a sociedade no decorrer do tempo histórico.

A escola surgiu nas civilizações da Mesopotâmia e do Egito e desde a sua gênesis,


ela foi um estabelecimento restrito as elites. Não obstante, esse quadro sofreu altera-
ções no século XVIII com o movimento da ilustração. Essa corrente de pensamento
defendia o ideal de escolarização para todos.
No mundo antigo a criança recebia aulas de um pedagogo em sua residência. Sendo
assim, entrava em contato com a educação em seu sentido mais amplo, voltada para
o ensinamento de valores e condutas sociais básicas. Essa mesma criança frequen-
tava a escola para aprender habilidades instrumentais básicas, a saber: ler, escrever
e calcular. Portanto, o ensino foi dividido em educação e instrução.
Com o movimento da ilustração ou iluminismo a escola passou a exercer mais a
função de instrução do que educação e no decorrer do século XIX e XX, o ensino
já passava a ser obrigatório na maioria dos países. Dessa forma, a escola passou
a receber mais estudantes, todavia, ela, de um modo geral, não estava preparada
para essas mutações. A escola que sempre foi uma instituição elitista não poderia
transforma-se rapidamente e sem a devida preparação numa escola democrática.
Por conseguinte, a escola foi marcada pela evasão escolar, dificuldades de aprendi-
zagem e outros problemas relacionados à expansão do ensino.
No decurso do seu processo histórico a escola passou a acumular várias funções
sociais. Além de transmitir conhecimento, atribui a ela a responsabilidade de socia-
lização e de submeter os indivíduos a ritos de passagem, como por exemplo, o
vestibular.
Com o advento do sistema neoliberal as mulheres passaram a entrar de forma
crescente no mercado de trabalho. Em função disso, o papel de cuidar das crianças
passou a ser outra função social da escola.
Na contemporaneidade, dentro do universo escolar, vivemos um quadro negativo,
caracterizado pela evasão escolar, indisciplina dos estudantes, tráfico de drogas, má
remuneração dos professores, sucateamento das escolas, etc., que muitas vezes pa-

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rece irreversível. Diante de tantos problemas, faz-se necessário os teóricos da edu-
cação e a sociedade a repensarem as funções sociais da Escola.(REVELAT, 2013).

É possível perceber que a escola passa por mudanças em seus objetivos e organiza-
ção a depender das necessidades e interesses no dado momento histórico.
É importante, então, ter conhecimento sobre a história da educação a fim de com-
preender quais influências o trabalho do professor recebe dos formatos passados e qual papel
deve desempenhar em meio ao contexto em que vai atuar. Esse contexto envolve aspectos
sociais, culturais e econômicos e que influenciam os rumos da educação.
Nesse sentido, na próxima seção, faremos uma breve exposição da história da edu-
cação no Brasil.

História da educação no Brasil – Colônia a


Seção 02
República

Vamos iniciar nossa breve jornada pela história da educação no Brasil a fim de
melhor compreender o sentido da formação da nossa educação escolar e suas características
formais na atualidade. Para tanto, é preciso lembrar que o Brasil era uma colônia de Portugal
e sua formação tem vínculo com os acontecimentos no continente europeu.

1 - O período colonial brasileiro (1500-1822): a escola jesuítica

Podemos falar em um início da educação brasileira


com a chegada dos primeiros jesuítas ao Brasil, chefiados pelo
padre Manoel da Nóbrega, em 1549. Eles traziam um ensino
fortemente marcado pela questão religiosa, com base na Bíblia
Fonte:https://escolakids.uol.com.br/historia/jesuitas-no-
-brasil-colonia.htm. Acesso em 26 jun. 2020.
Sagrada, sendo que:

A transmissão oral da Palavra de Deus tinha forte conteúdo de dominação da Me-


trópole em relação aos povos conquistados, e os jesuítas tiveram papel importante
nesse trabalho: persuadiam as populações autóctones a se converterem ao cristianis-
mo, processo pedagógico esse que facilitava o trânsito dos conquistadores nas terras
ocupadas [...]. (HANSEN, 2000, p. 19).

Assim, a princípio, o objetivo da educação imposta era atingir os indígenas, entre-


tanto, a sociedade colonial estava sendo formada também por negros e europeus, dando início
a nova estrutura social, carregada de preconceito em relação aos negros e indígenas. Nesse
quadro:

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A educação imposta pelos jesuítas visava, no primeiro momento, atender aos nativos,
mas o rumo dos acontecimentos mudou essa estratégia: passou a formar professores
missionários e letrados, que iriam fazer parte de uma elite capaz de contribuir com os
desígnios da colônia. (FRANÇA, 2008, p. 76).

A função da educação estava a serviço da dominação dos povos indígenas e, para


os demais, o ensino não tinha relação com as necessidades do trabalho ou com a vida da co-
lônia, por exemplo. A educação era arcaica, com uma pedagogia autoritária e monopolista.
Também:

No período colonial não havia ainda propagação de colégios para pretendentes ao


curso superior, a não ser para o clero. Apenas alguns colégios ofereciam essa opção,
principalmente para filhos de senhores de engenho, funcionários públicos e arte-
sãos, embora muitas pessoas procurassem se especializar no outro lado do Atlântico,
na Universidade de Coimbra que, indubitavelmente, era inferior às universidades
europeias, mas com papel importante na formação das elites coloniais brasileiras
(PAIVA, et al, 2000).

2 - O período pombalino (1750-1777): a estagnação do ensino no


Brasil

Na metade do século XVIII, em decorrência de transformações po-


líticas e econômicas na Europa, D. José I (1750-1777) nomeou Sebastião
José de Carvalho e Melo como primeiro-ministro, o conhecido Marquês de
Pombal. O Marques promoveu uma série de mudanças no ensino de Por-
tugal que repercutiu nas suas colônias também. Porém, suas propostas não
Fonte: https://pt.wikipedia.
org/wiki/Sebasti%C3%A3o_ surtiram resultados positivos e, dentre outras ações:
Jos%C3%A9_de_Carvalho_e_
Melo. Acesso em: 25 jun.
2020
Marquês de Pombal expulsou, em 1759, a Companhia de Jesus do território luso, e
rompeu com a estrutura de ensino que reinava na época. Os jesuítas encerraram suas
atividades e abandonaram as terras brasileiras, deixando enterrados seus sonhos: im-
plantar ensino baseado nos princípios religiosos. O pouco que restava, em termos de
instrução, desapareceu. Pombal conseguiu desmantelar toda a estrutura educacio-
nal montada pelos jesuítas, levando o Brasil ao mais profundo abismo intelectual.
(FRANÇA, 2008, p. 77).

Para Portugal, o modelo jesuítico de educação prejudicava o setor econômico e so-


cial, em relação às demais nações da Europa; uma vez que a Companhia de Jesus detinha um
poder econômico articulado ao governo, porém educava o cristão a serviço da ordem religio-
sa e não dos interesses do reino (LOPES; RIBEIRO, 1995).

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3 - O período joanino (1808-1821): o passaporte para a emancipa-


ção política do Brasil

Período que marcou profundamente a vida política do Brasil,


com a administração de D. João, entre 1808 a 1821. O governo impe-
rial promoveu mudanças na administração e no sistema educacional
do país.
Nesse período foram criadas: a Imprensa Régia (1808), a Bi-
blioteca Pública (1810), do Jardim Botânico do Rio (1810), o Museu
Fonte: https://www.infoescola.com/
biografias/dom-joao-vi/ Acesso em: 26
jun. 2020.
Nacional (1818), A Gazeta, primeiro jornal, dentre outros.
Surgem também as primeiras iniciativas de educação superior formal no Brasil e o
ensino estava dividido em três níveis: primário, secundário e superior. Esse último, sem dú-
vida, foi o que teve maior atenção da Corte. (ROMANELLI, 1998).
D. João retorna a Portugal em 24 de abril de 1821 e assume o trono D. Pedro (Prín-
cipe Regente do Brasil), que deu continuidade ao processo de emancipação política do Brasil.

4 - O período imperial (1822-1889): o reflexo da economia na edu-


cação

O período imperial teve início em 7 de setembro de


1822, quando D. Pedro I declarou a Independência do Brasil.
Período de crise econômica no Brasil que, somado com pouca
atenção a educação pelo governo, praticamente inviabilizava a
realização de melhorias no ensino.
Em 1824 foi outorgada a primeira Constituição que
estabelecia um governo monárquico, hereditário, constitucio- Fonte: https://www.clickestudante.com/dom-pedro-i.
html. Acesso em: 26 jun. 2020

nal e representativo. Quanto à educação, em seu Art. 179, instituía a instrução primária e gra-
tuita para todos os cidadãos e a criação de Colégios e Universidades, que ensinavam ciências,
Belas Letras e Artes (FRANÇA, 2008).

Curiosidade:

A Constituição de 1824 estabeleceu que a Educação deveria ser gratuita para todos
os cidadãos. Para cumprir essa determinação, deputados e senadores aprovaram uma
lei em 15 de outubro de 1827 que marcou o Dia do Professor e indicou que fossem
criadas escolas de primeiras letras em todas as cidades e vilas. (NOVA ESCOLA,
2013, p. 1)

No decorrer desse período, a população foi aumentando e a quantidade de escolas


não atendia a demanda, a qualificação dos professores era deficiente e não havia recursos
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para educação. Em 1826, um decreto do governo imperial instituiu quatro graus de instrução,
sendo: Pedagogias (escolas primárias), Liceus, Ginásios e Academias.
Em abril de 1831, D. Pedro II passou a ser o novo rei do Brasil, com 5 anos de idade,
e o país passou a ser administrado pelas chamadas Regências, que duraram de 1831 a 1840.
Nesse período, a educação continuou deficitária, embora ter sido criadas escolas e faculda-
des, como as primeiras escolas normais, o curso jurídico e alguns projetos na área médica.
A Constituição de 1834 trouxe a descentralização que delegou às províncias a tarefa
de regular e promover a educação primária e secundária, a educação passou por momentos
difíceis, pois:

Com a falta de recursos, as províncias se achavam impossibilitadas de criar redes


organizadas de escolas. Com a incompetência do governo, a iniciativa privada come-
çou a atuar no ensino secundário, deixando para o Estado o ensino primário.
Esse último nível, por sua vez, não apresentou bons resultados, o que levou, prati-
camente, ao abandono das escolas. Por outro lado, o acesso às escolas secundárias
sós era possível às pessoas de nível socioeconômico mais elevado. Os colégios se-
cundários, na verdade, tinham mais a função de preparar candidatos aos exames de
admissão aos cursos superiores, a exemplo do Colégio D. Pedro II, criado em 1837.
(FRANÇA, 2008, p. 79).

Tendo em vista a relação entre educação e economia, a partir de 1840, a lavoura do


café prosperou trazendo avanço econômico e, consequentemente, melhorias para a educa-
ção. Período em que o Brasil também passou a ter mais contato e negociações com países
europeus e Estados Unidos, o que resultou em importações de modelos educacionais, porém,
“esses modelos, por serem importados, não refletiam a realidade do Brasil, razão pela qual os
resultados não eram satisfatórios. No entanto, esses países enviaram grandes contingentes de
cientistas e pesquisadores para o País.” (FRANÇA, 2008, p. 80).
A Proclamação da República, em 1889, colocou a educação como prioridade para o
Estado em busca de atender a pressão da própria sociedade por sua melhoria.

5 - Período republicano: novas perspectivas para o ensino superior

Fonte: https://sites.google.com/site/historiadobrasil5/periodo-republicano. Acesso em: 22 jun. 2020.

Com a proclamação da República o Brasil mudou do regime monárquico para o re-


publicano e passou a ser uma federação.

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Explicando:

Trecho retirado de https://pros.org.br/republica-federativa-do-brasil-entenda-o-sig-


nificado-do-nome/. Acesso em 24 jun. 2020.

– O Brasil é uma República Federativa, ou seja, funciona com uma estrutura de Estado
que ao mesmo tempo é uma República e uma Federação. Mas, o que isso quer dizer
mesmo?
– República: forma de organização do Estado nação. Possui um sistema de governo no
qual o poder emana do povo, por meio de eleições para a escolha de seus represent-
antes. Diferentemente da hereditariedade ou o direito divino como era na Monarquia.
– Federalismo: É um Estado composto por entes territoriais autônomos. Ou seja, cada
estado que compõe a Federação, apesar de ser subordinada à ela, tem sua autonomia.
Curiosidade: Somos uma República Federativa desde 1889, com a Proclamação da
República liderada por Marechal Deodoro da Fonseca. Porém, éramos denominados
Estados Unidos do Brasil, nome que só foi substituído no final dos anos 1960 para
República Federativa do Brasil.

Assim, cada estado passou a ter sua própria constituição e forças políticas mais
autônomas. As classes sociais dominantes como os latifundiários e colonos estrangeiros,
requeriam escolas para seus filhos, pois era o momento apropriado. Houve demanda para os
cursos secundários e superiores o que resultou na abertura de novas escolas e faculdades. En-
tretanto, todas essas iniciativas de flexibilização das decisões divididas com os estados da fe-
deração comprometeu a qualidade do ensino, por admitir candidatos sem conhecimento para
acompanhar um curso superior. Para conter essa prática que comprometiam a qualidade do
ensino, foi assinado o Decreto 8.659, de 5 de abril de 1911, com os objetivos de desoficializar
e conter a invasão de candidatos sem habilitação e o Decreto 16.782-A, de 13 de janeiro de
1925, barrou o acesso indiscriminado ao ensino superior ao estabelecer o critério de seleção
e classificação impondo o limite de vagas (FRANÇA, 2008).

Seção 03 Educação brasileira no século XX

Fonte: https://acervo.oglobo.globo.com/incoming/educacao-fisica-no-brasil-20369943. Acesso em: 22 jun. 2020.

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O início do século XX tem um contexto mundial marcado por acontecimentos como


a Revolução Russa, a Primeira Guerra Mundial e a queda da bolsa de Nova York. No con-
texto brasileiro, acontecimentos como o desenvolvimento da indústria, a nova força de tra-
balho não mais de caráter escravo, as grandes greves operárias e a Semana de Arte Moderna
marcaram o começo do século XX. Todas essas mudanças sociais, econômicas e políticas
influenciaram a Educação (MEIRELLES, 2013).
Entretanto, o Brasil tinha uma grande defasagem em diversas áreas, dentre elas a
educação, em relação aos países desenvolvidos. Assim, diante da fragmentada organização
do ensino e da falta de uma condução nacional, as propostas para reforma da educação foram
surgindo no decorrer dos fatos.

1 - A ideia de democratização

Em 1920 a ideia de uma escola pública e laica, igualitária e sem privilégios, ou


seja, de uma “Educação para todos” ganhou força com os pioneiros da Escola Nova - Aní-
sio Teixeira (1900-1971), Fernando de Azevedo (1894-1974), Lourenço Filho (1897-1970)
(LOPES, 1995).

Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/1672/anisio-teixeira-o-guerreiro-da-sala-de-aula. Acesso em: 22 jun. 2020

Nesse período metade da população de 7 a 12 anos estava fora da escola. Diante


desse quadro temos a Reforma Sampaio Dória, em São Paulo, que propôs uma etapa inicial
de dois anos (seria o começo do Ensino Fundamental atual), gratuita e obrigatória (MEIREL-
LES, 2013). Embora não levado a diante, serviu de orientação para algumas outras iniciativas
como a ampliação da rede de escolas e a reformulação curricular.
Em meio a esse período, surge também ideias que buscavam uma transformação na
educação, voltadas para classe mais oprimida da sociedade. Assim, as diferentes frentes ide-
ológicas lutavam por defender a educação pretendida:

Tendo como base a Pedagogia libertária e as ideias do espanhol Francisco Ferrer y


Guardia (1859-1909), as instituições fugiam do dogmatismo e fundamentavam o cur-
rículo na ciência [...]. Incomodada com a perda de espaço, a Igreja católica também
orquestrou uma reação, pressionou os governos para o restabelecimento do ensino
religioso, publicou livros didáticos e artigos em revistas e jornais e continuou a atuar
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na formação de professores. Da mesma maneira, as elites tentavam reconquistar seu
poder. De outro lado, os escolanovistas cresciam cada vez mais e se preparavam para
a publicação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, já no governo
de Getúlio Vargas (1882-1945). (MEIRELLES, 2013, p.2).

Em 1930, Getúlio Vargas (1882-1954) se tornou chefe do governo provisório e al-


guns fatos destacam-se desse período como a criação do Ministério da Educação e Saúde
Pública, ocupado por Francisco Campos (1891-1968),. a Constituição de 1934 que apesar
de contrariar “o princípio da escola laica ao definir que o ensino fosse ministrado segundo a
orientação religiosa dos estudantes, mas definiu que a Educação era direito de todos e dever
do poder público” (CAMILO, 2013).
Assim, a expectativa era de que a escola viesse a ser o caminho de reconstrução da
sociedade e, para atender essa expectativa, conforme Camilo (2013, p. 1):

[...] as Leis Orgânicas do Ensino foram promulgadas a partir de 1942. O ginásio,


equivalente ao segundo ciclo do Ensino Fundamental de hoje, passou a ter quatro
anos e o colegial - o atual Ensino Médio - três. Foi criado o curso supletivo de dois
anos para a população adulta. E a rede pública foi organizada em escolas com uma,
duas a quatro e cinco ou mais classes, além da escola supletiva.[...] Em 1939, o pri-
meiro curso de Pedagogia do país foi criado na Pontifícia Universidade Católica de
Campinas (PUC-Campinas).

Em geral, a escola exigia comportamento exemplar, havia turmas mistas nas séries
iniciais apenas e a maioria dos professores era do sexo masculino.
Seguindo no processo histórico do país nos anos 1950 e 1960 a política se caracteri-
zou pelo populismo e, na educação, surgiu o movimento de Educação popular, representada
pela proposta de Paulo Freire (1921-1997):

As primeiras experiências do educador ocorreram em 1962, em Angicos, a 171 qui-


lômetros de Natal, quando 300 trabalhadores rurais foram alfabetizados em 45 dias.
Freire considerava as cartilhas incapazes de atender às necessidades dos alunos. Para
ele, na sociedade de classes, os privilégios de uns impedem a maioria de usufruir de
certos bens, como a Educação, que deveria instigar a reflexão sobre a própria con-
dição social.
Esse período também foi fértil em manifestações culturais como o cinema novo e a
bossa nova. Foram anos recheados de boas ideias, mas nas salas de aula não houve
grandes avanços. E, em 1964, iniciativas como as de Freire esmoreceram totalmente
com o golpe militar. O Brasil passou a viver momentos de repressão. (CAMILO,
2013, p. 2).

2 - Período militar: tecnicismo e aulas para o trabalho

Nesse perído, o foco da educação recai sobre a preparação para o trabalho e as ideias
de uma escola mais democratica foram rejeitadas. De modo geral:

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[...] a meta do evento era a elaboração de um plano de Educação com a escola primá-
ria voltada para uma atividade prática e o 2º grau técnico que preparasse o estudante
para o mercado. Também foram assinados acordos entre os governos brasileiro e
norte- americano que vinham sendo discutidos há alguns anos e previam a vinda de
técnicos para treinar professores.[...]. Na Educação de adultos, as ideias de Freire
deram lugar a um modelo assistencialista por meio do Movimento Brasileiro de Alfa-
betização (Mobral). A leitura passou a ser tratada como uma habilidade instrumental,
sem contextualização. Os alunos aprendiam palavras acompanhadas de imagens, fa-
ziam a divisão silábica e, por último, trabalhavam com frases e textos. Também eram
estudados os cálculos matemáticos, a escrita e hábitos para a melhoria da qualidade
de vida. [...], o incentivo ao patriotismo era uma marca forte nas escolas públicas.
Uma vez por semana, meninos e meninas se posicionavam com a mão direita no
peito, observavam a bandeira ser hasteada e cantavam o Hino Nacional. Um desejo
desde o início do regime, a disciplina de Educação Moral e Cívica (EMC) foi tornada
obrigatória em 1969. A maior parte dos que a lecionaram era militar ou religioso e
lia na aula cartilhas com temas como cidadania, patriotismo, família e religião. [...]
Em julho de 1971, o ministro da Educação e Cultura Jarbas oficializou o vestibular
classificatório nas universidades, algo que se mantem até hoje. No mês seguinte, foi
aprovada a Lei nº 5.692 que determinava a organização do ensino em 1º e 2º graus
em vez de primário, ginásio e colegial. A obrigatoriedade escolar foi ampliada até os
14 anos de idade e o exame de admissão necessário para entrar no ginásio foi extinto.
(FERREIRA, 2013, p.2).

Quanto aos recursos para educação no país, embora havia sido criado o salário-edu-
cação (1964), os investimentos eram poucos e foram dimininuido cada vez mais ao longo do
regime. Muitos profissionais foram trabalhar na rede privada de ensino.

3 - Movimentos pela redemocratização

Anos 1970 o mundo enfrentou uma forte crise do petróleo que acabou com o chama-
do milagre econômico e no aspecto político, no Brasil, moviemtnos pela volta da democracia
foram ficando mais intensos.
Diante do fortalecimento da oposição democrática, os govenantes foram iniciando
processo lento de abertura, começando pelo general Ernesto Geisel e depois João Figueiredo,
que foi o último presidente militar.
Em 1985, o regime militar teve fim no Brasil. Tancredo
Neves ganhou a eleição indireta, porém, morreu antes da posse
e José Sarney, seu vice, se tornou o primeiro presidente da cha-
mada Nova República.
Com a Nova República vários aspectos da política na-
cional foram repensados, inclusive a Educação. De início o foco
político esteve na elaboração da Constituição Federal, momento esses que varias instituições
ligadas a educação reivindicaram a efetivação do direito de todos os cidadãos ao ensino e o
dever do Estado em garanti-lo. Assim:

Em 5 de outubro de 1988, a nova Constituição Federal foi finalmente aprovada.

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Entre as principais conquistas, estava o reconhecimento da Educação como direito
subjetivo de todos, uma evolução do que os escolanovistas haviam propagado du-
rante a Era Vargas. "Isso significa que qualquer um que queira estudar, mesmo se
estiver fora da idade obrigatória, deve ter a vaga garantida", explica Carlos Roberto
Jamil Cury, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A legislação tornou
urgente a tomada de providências como a abertura de mais escolas e a formação de
docentes, o que acarretou a necessidade de investimentos. Para isso, a lei indicava a
aplicação na área de no mínimo 18% da receita dos impostos pela União e 25% pelos
estados e municípios. (FERREIRA, 2013, p.3).

4 - Novas leis educacionais

Em 1995, inicia-se o governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) com Paulo


Renato Souza como ministro da Educação. Em 1996, após intensos debates, foi promulgada
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) que reforçou aspectos impor-
tantes previstos na Constituição Federalcomo a municipalização do Ensino Fundamental, a
formação do docente em nível superior e definiu a Educação Infantil como etapa inicial da
Educação Básica. Em relação ao financiamento da educação foi criado o Fundo de Manu-
tenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef).
Na LDBEN o antigo 1º e o 2º graus se tornaram Ensino Fundamental e Médio e normatizou
que alunos com necessidades especiais fossem atendidos preferencialmente na rede regular
de ensino. (FERREIRA, 2013).
Na sequência, o governo de FHC incluiu o Brasil no Programa Internacional de Ava-
liação de Alunos (Pisa), criou o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), com resultados
por escola e por aluno, sendo que em 2009 passou a ser considerado como forma de adentrar
ao Ensino Superior. Também a denominada avaliação em larga escala ou avaliação externa
foi criada por meio do Sistema de Avalaiação da Educaçã Básica (SAEB) para avaliar a qua-
lidade da educação nacional e propor melhorias.
Em termos de documentos que orientam a educação, foram elaborados Os Parâ-
metros Curriculares Nacionais (PCN) e o Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil (RCNEI).

Seção 04 Educação brasileira no século XXI

Fonte: http://tiodamis.no.comunidades.net/jogos-e-brincadeiras. Acesso em: 24 jun. 2020.

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No final dos anos 1990 e primeiros anos do século XXI, a educação prossegue no
mesmo curso.
Em 2001, foi aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE) válido por dez anos,
ou seja, 2000-2010. O plano é composto por metas que no conjunto buscam aumentar o nível
de escolaridade dos brasileiros e garantir o acesso à Educação, porém, “[...] não teve êxito na
maioria delas. Um dos motivos apontados por especialistas é o veto do governo ao investi-
mento de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) na área.” (FERREIRA, 2013, p. 4).
A mudança de governo a partir de 2003 trouxe nova propostas para educação, mas
também permanências de programas que envolviam empréstimos junto ao Banco Mundial,
como o Programa Fundescola que trazia várias ações para as escolas implementar, entre elas
o PDE-Escola, que permanece até os dias atuais com o nome de PDE-Interativo.
Em 2014 foi aprovado o novo Plano Nacional de Educação (PNE), para o período de
2014-2024, pela Lei nº 13.005.
Quanto a LDBEN/1996, ela passou por diversas modificações, em especial, em re-
lação ao ensino fundamental que passou de 8 para 9 anos e, mais recentemente, a reforma do
Ensino Médio, instituída pela Lei nº 13.415/2017. Daremos maiores detalhes nas próximas
aulas.
Em dezembro de 2017 a Resolução CNE/CP nº 2, instituiu a implantação da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) que é um documento normativo que define o conjunto
de aprendizagens essenciais para os alunos, a ser respeitada obrigatoriamente ao longo das
etapas e respectivas modalidades no âmbito da Educação Básica. A partir da sua aprovação
começou o processo de formação e capacitação dos professores e o apoio aos sistemas de
Educação estaduais e municipais para a elaboração e adequação dos currículos escolares.
(BRASIL, 2018)
Porém, sua elaboração e implantação foram seguidas de muitos debates e movimen-
tos contrários por diferentes segmentos da educação que apontam suas limitações, equívocos,
problemas dentre outros. Maiores informações sobre a BNCC serão vistas na aula 3.
A partir do ano de 2019, assume o novo governo no Brasil e algumas mudanças nas
políticas educacionais estão sendo implementadas e elas podem ser acompanhadas na atuali-
dade por meio dos sites do MEC, dos noticiários dentre outros, enfim é importante que façam
leituras constantes para acompanhar tais mudanças.
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final desta aula com a expectativa que tenham apro-
veitado bem a leitura e percebido que os desafios para a educação brasileira são muitos.
Por isso, é importante que todos e principalmente os que atuam na educação acompanhem
as políticas educacionais propostas a fim de participar ativa e criticamente do debate e das
proposições possíveis para a melhoria do quadro educacional.

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RETOMANDO A AULA

Caro(a) aluno(a), se você chegou até aqui na leitura com


certeza teve uma ideia da estreita relação que existe entre a
educação e os fatos políticos, econômicos e sociais. Vamos,
então, recordar:

Seção 1 – Evolução da Instituição escolar

A intenção, nessa breve seção, foi demonstrar que a escola passa por mudanças em
seus objetivos e formas de organização e que isso vai depender das necessidades e interesses
do dado momento histórico.

Seção 2 – História da educação no Brasil

Colônia a República: apresentou resumidamente alguns fatos da história da educa-


ção no Brasil, como objetivo de levá-los a perceber que a educação e seu processo escolar
vão se construindo conforme as demandas de cada período bem como do perfil das formas de
governo. No nosso caso, a educação foi se processando conforme os desígnios de Portugal.

Seção 3 – Educação brasileira no século XX

A educação no século XX é marcada por lutas pela democratização tanto do país


como da educação. E na segunda metade do século uma série de mudanças são implementa-
das na educação como a nova LDBEN, o Plano Nacional de Educação e os documentos como
os PCNs e as Diretrizes Curriculares dando a direção para o ensino no país.

Seção 4 – Educação brasileira no século XXI

Essa seção trata dos fatos que estão em andamento, então, o principal objetivo é que
você possa com os conhecimentos adquiridos ficar atento e em condições de acompanhar as
propostas e ações para a educação em seu próprio tempo.

SUGESTÕES DE LEITURAS, SITES E FILMES:

Vale a pena ler:


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POLÍTICA EDUCACIONAL E ORGANIZAÇÃO ESCOLAR - Sonia Borges

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia. São Paulo–SP:


Moderna, 2006.

Minhas anotações:
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