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FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DE

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Heloisa Cardoso Varão Santos


Sebastiana S. Reis Fernandes
CURSO DE PEDAGOGIA

FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DE
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Heloisa Cardoso Varão Santos


Sebastiana S. Reis Fernandes

1
APRESENTAÇÃO

É na perspectiva de que sempre é tempo de aprender e sempre é tempo de


ensinar que elaboramos este texto sobre a Educação de Jovens e Adultos no sentido
do resgate de seu direito à educação independentemente da idade, visando promover
a inclusão educacional dos jovens que ainda é um enorme desafio, pois envolve
diferentes graus de responsabilidade, investimentos e ações de todos que acreditam
na educação como possibilidade de garantir ao cidadão o exercício da cidadania.
Elaboramos esta Apostila, com a intenção de oferecer a você, aluno de
graduação em Pedagogia, um roteiro de estudos sobre a Educação de Jovens e
Adultos, de modo que a leitura de cada Unidade possa promover a reflexão sobre
cada conteúdo apresentado. Observe que cada tópico abordado se apresenta numa
linguagem acessível, com resumo e exercícios de reflexão.
A nossa expectativa é que, no final desta disciplina, você, aluno, tome
consciência dos desafios enfrentados por grande parcela de jovens e adultos,
marginalizados por falta de oportunidade de estudar em algum momento de sua vida
se compreender que o direito à educação de qualidade para todos é responsabilidade
de todos nós.
Para isso contemplamos estudos sobre a retrospectiva histórica da Educação
de Jovens e Adultos no Brasil, cujo objetivo é fazer um panorama desta modalidade
de ensino da época colonial à atualidade, trazendo contribuições teórico-práticas para
a ação docente; abordamos aspectos pertinentes à metodologia de ensino,
destacando a contextualização, a problematização da realidade, a
interdisciplinaridade como princípios pedagógicos e políticos. Abordamos conteúdos
necessários ao desempenho do professor em sala de aula, os quais poderão ajudar
os acadêmicos na construção de sua aprendizagem.
Vale lembrar que os assuntos tratados pela disciplina são amplos e complexos
e, por isso, você aluna, poderá pesquisarem outras fontes complementares como
apoio e sustentação para aprendizagem efetiva dos conteúdos.
Bons estudos.

Professora Sebastiana Reis e Professora Heloisa Varão

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UNIDADE I – HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
NO BRASIL

OBJETIVO:
Refletir sobre os avanços e retrocessos da educação de Jovens e
Adultos na História da Educação Brasileira, analisando o papel do Estado em
relação ao direito à educação para todos.

1.1 Retrospectiva histórica sobre a educação de jovens e adultos


no Brasil do Brasil Colônia ao Império
A educação escolar brasileira, no período colonial teve três fases: a de
orientação jesuítica, a das reformas do Marquês de Pombal, mais notadamente
a partir da expulsão dos jesuítas do Brasil e de Portugal em 1579 e o período
em que a corte portuguesa veio ao Brasil (1808 a 1821). A trajetória da
Educação de Jovens e Adultos no Brasil teve início bem antes do Império,
ainda no período colonial, quando os missionários religiosos exerciam uma
ação educativa, com adultos, destinados aos brancos e indígenas, trazendo as
primeiras noções da religião católica. Durante dois séculos, foi sendo
desenvolvida pelos jesuítas, pois a educação era de responsabilidade da igreja
e não do Estado.
Segundo Moura (2003, p.26), a educação de adultos teve início com a
chegada dos jesuítas em 1549 e durante séculos esteve em poder dos jesuítas
que fundaram colégios nos quais era desenvolvida uma educação cujo objetivo
inicial era formar uma elite religiosa.
Refletindo a EJA no período colonial, Moura (2004, p.27) esclarece que:
[...] com a expulsão dos jesuítas de Portugal e das colônias em 1759, pelo marquês de
pombal toda a estrutura organizacional da educação passou por transformações. A
uniformidade da ação pedagógica, a perfeita transição de um nível escolar para outro e a
graduação foram substituídas pela diversidade das disciplinas isoladas. Assim podemos dizer
que a escola pública no Brasil teve início com pombal os adultos das classes menos abastadas
que tinha intenção de estudar não encontravam espaço na reforma Pombaliana, mesmo
porque, a educação elementar era privilégio de poucos e essa reforma objetivou atender
prioritariamente ao ensino superior.
Segundo os estudos realizados por Moura (2003, p.27), a Educação de
Jovens e Adultos no período Imperial se preocupava com:

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 A criação de cursos superiores a fim de atender aos
 interesses da monarquia, por outro lado não havia interesse, por
parte da elite na expansão da
 escolarização básica para o conjunto da população,
 tendo em vista que a economia tinha como referencial
 o modelo de produção agrário.
No Período Republicano, o quadro educacional não sofreu grandes
mudanças, pois o modelo de educação permaneceu privilegiando a elite
dominante, e convivendo com um grande percentual da população adulta
analfabeta. Segundo Moura (2003, p.31):
Com a proclamação da República, mesmo o país passando por transformações
estruturais no poder político, o quadro educacional não sofreu mudanças significativas. O
modelo educacional continua privilegiando as classes dominantes.
Após a proclamação da República do Brasil foi outorgada a primeira
Constituição brasileira em 1824 que assegurava “uma instrução primária
gratuita para todos os cidadãos”, visando a erradicação do analfabetismo de
forma compensatória com um simples domínio básico da leitura, da escrita e de
saber resolver as quatro operações.
Desde o período do Brasil Colônia e do Império, a ação educativa tinha
um cunho específico direcionado às crianças, porém “indígenas e adultos
foram também contemplados à ação cultural e educacional nesse período”.
Sabe-se que no período colonial os primeiros educadores religiosos
exerciam sua missão evangélica tanto aos indígenas que aqui viviam na
colônia brasileira quanto grande parte de adulto, filhos dos proprietários de
terra. Na verdade, observa-se que no Brasil Colonial, as primeiras iniciativas de
ensino, realizadas neste período, estavam voltadas mais para adolescentes e
adultos do que para crianças, visto que a “ideia dos missionários era catequizar
e educar de acordo com as normas dos colonizadores portugueses, que
necessitavam de mão de obra para a lavoura e atividades extrativistas”. Com a
saída dos jesuítas do Brasil em 1759, a educação de adultos entra em
decadência, ficando sob a responsabilidade do Império a tarefa educacional,
conforme cita Moura (2003, p.27).
[...] com a expulsão dos jesuítas de Portugal e das colônias em 1759, pelo marquês de
pombal toda a estrutura organizacional da educação passou por transformações. A
uniformidade da ação pedagógica, a perfeita transição de um nível escolar para outro e a

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graduação foram substituídas pela diversidade das disciplinas isoladas. Assim podemos dizer
que a escola pública no Brasil teve início com Pombal os adultos das classes menos abastadas
que tinham intenção de estudar não encontravam espaço na reforma Pombalina, mesmo
porque a educação elementar era privilégio de poucos e essa reforma objetivou atender
prioritariamente ao ensino superior”. Moura (2003, p.27).
A educação de jovens e adultos, reconhecida como um direito desde
1930, ganhando relevância com as companhas de alfabetização das décadas
de 1940 e 1950, com os movimentos de cultura popular dos anos 1960, com o
Mobral e o ensino supletivo dos governos militares e a Fundação Educar da
Nova República. (HADDAD, 2006).
Década de 30 - Períodos de Vargas
A Revolução de 1930 é um marco na reformulação do papel do Estado
no Brasil, sendo traçado com mais afinco as mudanças políticas e econômicas
do país. Pela primeira vez a educação de adultos foi reconhecida como um
dever do Estado, asseverado pela Constituição de 1934 quando da criação do
Plano Nacional de Educação que incluía, em suas normas, a oferta de ensino
primário integral, gratuito extensiva também aos adultos.
Década de 40 – iniciativas políticas e pedagógicas para EJA
A trajetória educacional continua seu percurso, colocando a EJA em
evidência na década de 40, quando algumas iniciativas
Sugestão de leitura políticas e pedagógicas foram criadas e
Os estudos de Vanilda Paiva regulamentadas, quais sejam: o fundo Nacional do
(1987) e Celso Beisegel
Ensino Primário (FNEP), criado em 1942, o Instituto
(1974) são referências para
aqueles que desejam Nacional de Estudos Pedagógicos – INEP, uma
entender as fontes mais
autarquia federal, vinculada ao Ministério da Educação
remotas, em busca da
história e da tradição da EJA (MEC), cuja missão é subsidiar a formulação de políticas
em nosso país. Sobre o
período do regime militar, educacionais. Através dos seus recursos, o FNEP
de 1964 a 1985, os deveria realizar um programa progressivo de ampliação
trabalhos publicados por
Sérgio Haddad trazem uma da educação primária que incluísse o Ensino Supletivo
contribuição essencial para para adolescentes e adultos. A partir dessa iniciativa,
a compreensão da EJA
neste período. houve o lançamento da Campanha de Educação de
Adolescentes e Adultos (CEAA) surgiram as primeiras
obras dedicadas ao ensino supletivo.

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Em 1945, finalmente, o Fundo Nacional do Ensino Primário foi
regulamentado, estabelecendo que 25% dos recursos de cada auxílio deveriam
ser aplicados num plano geral de Ensino Supletivo, destinado a adolescentes e
adultos analfabetos.
Todo esse conjunto de iniciativas permitiu que a educação de adultos se
firmasse no cenário político nacional, com apoio internacional, ressalta-se,
aqui, os movimentos internacionais e organizações que primam pela
erradicação do analfabetismo nas nações menos favorecidas, a exemplo da
ONU (Organização das Nações Unidas) e da UNESCO (Órgão das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) criada em novembro de 1945, logo
após a segunda Guerra Mundial, denunciava ao mundo as desigualdades entre
os países, exercem influência positiva, acompanhando os trabalhos que
vinham sendo realizado no Brasil e estimulando a criação de programas
nacionais de educação de adultos analfabetos.
Década de 50 – períodos de luz para a educação de Adultos
Duas outras campanhas ainda foram organizadas pelo Ministério da
Educação e Cultura: uma em 1952 – a Campanha Nacional de Educação Rural
–, CNER – e outra, em 1958 – a Campanha Nacional de Erradicação do
Analfabetismo- CNEA – que marcou uma nova etapa nas discussões sobre a
educação de adultos ambas tiveram vida curta e pouco realizaram daí sua
extinção. Em 1958 surge no 2º Congresso Nacional de Educação de Adultos,
realizado em Recife, cuja ideia era criar um programa de enfrentamento ao
problema de alfabetização, originando em 1963 o Plano Nacional de
Alfabetização de Adultos, dirigido por Paulo Freire e extinto pelo Golpe de
Estado de 1964.

SAIBA MAIS
Segundo Gadotti e Romão (2006), os termos educação de adultos,
educação popular, educação não formal e educação comunitária são usados
como sinônimos, mas não o são. A educação de adultos caracteriza-se pela
postura da United Nations Education Social and Cultural Organization
(UNESCO) reportando-se a uma área especializada da educação. Educação
não formal é utilizada pelos Estados Unidos para fazer referência à educação
de adultos dos países de terceiro mundo, onde se reserva o uso do termo

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educação de adultos (GADOTTI; ROMÃO, 2006). No Brasil, o termo educação
não formal acompanha o conceito difundido na América Latina que se dirige à
educação de adultos vinculada a organismos não governamentais, geralmente
locais onde o Estado se omitiu. Assim, está desenvolvida e organizada em
caráter de não parceria com os organismos formais. A educação popular
caracteriza-se pela compreensão contrária à educação de adultos
impulsionada pelos organismos oficiais, surgindo nos espaços em que a
necessidade dos grupos aflora e o Estado não tem intenção nem força para
atuar. A característica da educação popular brota com o entendimento da
conscientização de Paulo Freire e um profundo respeito aos saberes
populares. (GADOTTI; ROMÃO, 2006).
Década de 60 – Fortalecimentos de uma cultura popular
Um período de luz para a educação de adultos ocorreu no período de 59
a 64. Os primeiros anos da década de 1960 até 1964, quando o golpe militar
ocorreu, constituiu-se um momento bastante especial da educação de adultos,
uma vez que o Estado associou-se à igreja, dando novo impulso às campanhas
de alfabetização de adultos, aqui citados: o Movimento de Educação de Base,
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, estabelecido em 1961, com o
patrocínio do Governo Federal; o Movimento de Cultura Popular do Recife, a
partir de 1961; os Centros Populares de Cultura, órgãos culturais da UNE; a
Campanha “De pé no chão também se aprende a ler”, da Secretaria Municipal
de Educação de Natal; o movimento de Cultura Popular de Recife; e,
finalmente, em 1964, o Programa Nacional de Alfabetização do Ministério da
Educação e Cultura contou com a presença do professor Paulo Freire. No
entanto, todos os movimentos de alfabetização foram reprimidos com o golpe
militar, sobrevivendo apenas O Movimento de Educação de Bases, por estar
ligado ao MEC e à igreja católica. Grande parte desses programas estava
funcionando no âmbito do Estado ou sob seu patrocínio. No intuito de
responder o direito à cidadania perante o mundo, o governo criou em 1967 o
Mobral resultado de uma grande “campanha de massa, vendendo a ideia de
que a força do trabalho contava com pessoas alfabetizadas”, assim declara
Paiva (1982 p.100). O Mobral procura restabelecer a ideia de que as pessoas
que não eram alfabetizadas eram responsáveis por sua situação de
analfabetismo e pela situação de subdesenvolvimento do Brasil.

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SAIBA MAIS
O PERÍODO MILITAR
Diante da ruptura política originada pelo golpe Militar de 1964 a
Educação de Jovens e Adultos sofreu ligeiro descompasso, uma vez que o
Plano nacional de Alfabetização coordenado por Paulo Freire foi engavetado e
seus representantes exilados e perseguidos.
Os movimentos sociais envolvidos na Campanha “De pé no chão
também se aprendem a ler” foram interrompidos e silenciados pelos órgãos de
repressão. A coerção do Estado fez calar as iniciativas da CNBB com o
Movimento Eclesial de Base – MEB que mantinha programa de Alfabetização
para o povo nas CEBS –Comunidades Eclesial de Bases ligadas a igreja
católica.
Década de 70 – Erradicações do analfabetismo
A década de 70, ainda sob a ditadura militar, instaura-se efetivamente o
movimento que marca o início das ações do Movimento Brasileiro de
Alfabetização – MOBRAL, criado pela Lei nº 5.379, de 15 de dezembro de
1967 a 1985, cuja meta propunha acabar com o analfabetismo em dez anos,
haja vista que esse movimento tinha como foco metodológico o ato de ler e
escrever semelhante ao método de Paulo Freire, que utiliza o conceito de
"palavra geradora" tirada do cotidiano dos alunos, enquanto, no MOBRAL, as
palavras eram definidas a partir de estudo das necessidades humanas.
Conclamavam a população a fazer a sua parte, tendo como pano de
fundo uma canção da dupla de cantores: Dom e Ravel, com a música que tem
por título “VOCÊ TAMBÉM É RESPONSÁVEL”:

Você também é responsável, uma composição de Dom e Ravel,


transformada, em 1971, pelo ex-ministro da Educação, Jarbas Passarinho,
no hino do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral). A música fala
sobre o analfabetismo, que até hoje ainda persiste em nosso país.

https://youtu.be/uMYbxubO9Fo

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Você também é responsável
Eu venho de campos, subúrbios e vilas,
Sonhando e cantando, chorando nas filas,
Seguindo a corrente sem participar,
Me falta a semente do ler e contar
Eu sou brasileiro anseio um lugar,
Suplico que parem, prá ouvir meu cantar
Você também é responsável,
Então me ensine a escrever,
Eu tenho a minha mão domável,
Eu sinto a sede do saber
Eu venho de campos, tão ricos tão lindos,
Cantando e chamando, são todos bem-vindos
A nação merece maior dimensão,
Marchemos prá luta, de lápis na mão
Eu sou brasileiro, anseio um lugar,
Suplico que parém, prá ouvir meu cantar

Na década de 70 destacou-se no país – o ensino supletivo, criado em


1971 pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 5.692/71
(BRASIL, 1971). Porém foi em 1974 que o Ensino Supletivo, numa gestão de
reformas autoritárias e no processo de modernização conservadora do país,
teve um estatuto próprio, o que não garantiu unidade com o ensino regular.
Embora o Estado busque garantir uma, o princípio da flexibilidade visto como
premissa do ensino supletivo instaurou-se na EJA acarretando índices
elevados de evasão no processo educativo. Vale ressaltar que, a nova LDB
incorporou uma mudança conceitual do Ensino Supletivo, conforme afirma
Soares (2002, p.12):
A mudança de ensino supletivo para educação de jovens e adultos não é
uma mera atualização vocabular. Houve um alargamento do conceito ao mudar
a expressão de ensino para educação. Enquanto o termo ‘ensino’ se restringe
à mera instrução, o termo ‘educação’ é muito mais amplo, compreendendo os
diversos processos de formação.

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Ocorreu o aumento da pressão internacional de organismos com a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO), Paiva (1987, p. 260) registra a existência de um descaso em
relação à educação de adultos nesse novo regime, o que causava uma
imagem negativa do país em âmbito internacional.
Segundo Corrêa (1979, p. 52), o Programa de Alfabetização Funcional
apresentava seis objetivos:
 desenvolver nos alunos as habilidades de leitura, escrita e
contagem;
 desenvolver um vocabulário que permita o enriquecimento de
seus alunos;
 desenvolver o raciocínio, visando facilitar a resolução de seus
problemas e os de sua comunidade;
 formar hábitos e atitudes positivas, em relação ao trabalho;
desenvolver a criatividade, a fim de melhorar as condições de vida,
aproveitando os recursos disponíveis;
 levar os alunos a conhecerem seus direitos e deveres e as
melhores formas de participação comunitária; a se empenharem na
conservação da saúde e melhoria das condições de higiene pessoal, familiar e
da comunidade; a se certificarem da responsabilidade de cada um, na
manutenção e melhoria dos serviços públicos de sua comunidade e na
conservação dos bens e instituições; a participarem do desenvolvimento da
comunidade, tendo em vista o bem-estar das pessoas.
O MOBRAL desenvolveu outros programas, como: Programa de
Alfabetização Funcional: atendendo aos jovens e adultos analfabetos, com
material didático da Editora Bloch e José Olympio onde explorava as palavras
geradoras significativas para os jovens e adultos analfabetos. Observe as
Figuras a seguir presentes na Cartilha do Mobral.
Figura 1 – Palavra geradora: trabalho

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.
Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=cartilha+do+mobral+qual+ano+de+publica%C3%A7%C3
%A3o?&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ved=0ahUKEwiDgMmIwojcAhUBlZAKHcnsDDg
QsAQIeA&biw=1600&bih=745#imgrc=FZjrbCNbRwqbpM:

Figura 2 – Palavra geradora: hino

Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=cartilha+do+mobral+qual+ano+de+publica%C3%A7%C3
%A3o?&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ved=0ahUKEwiDgMmIwojcAhUBlZAKHcnsDDg
QsAQIeA&biw=1600&bih=745#imgrc=OM2_qZlw2UDGVM:

Figura 3 – Palavra geradora: foguete

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Fonte:
https://www.google.com.br/search?q=cartilha+do+mobral+qual+ano+de+publica%C3%A7%C3
%A3o?&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ved=0ahUKEwiDgMmIwojcAhUBlZAKHcnsDDg
QsAQIeA&biw=1600&bih=745#imgrc=o1arL_4iEBfnTM:

Programa de Educação Integrada: implantado em 1971, tendo seu


período de expansão entre os anos de 1972 e 1976, criado com o objetivo de
dar prosseguimento a formação acadêmica do indivíduo.

Programa MOBRAL CULTURAL


Este Programa foi lançado com vistas a preservar a cultura local,
resgatar as manifestações locais ligadas ao patrimônio artístico, cultural e
ecológico das cidades, sendo distribuído aos Postos Culturais uma Biblioteca e
em alguns Postos implantados em cidades de maior porte era distribuído
também, um conjunto de instrumentos musicais. E em cada região foi doado
por empresas nacionais, para realizar um trabalho de divulgação e resgate de
manifestações culturais dos municípios, as MOBRALTECAS, um caminhão
estruturado com pinacoteca, biblioteca, baú da criatividade e palco.
Figura 4 - MOBRALTECA

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Fonte: Arquivo pessoal de Wilma de Omena Lopes Correa – Ex-Supervisora de área –
Atalaia – AL
As ações do MOBRAL Cultural norteavam-se nos princípios de
“democratização da cultura”, “dinamização da criatividade” e “intercâmbio
cultural”, que no dizer do MOBRAL havia valorização do homem e da cultura
local e preservação da cultura (CORRÊA ,1979).
Programa de Profissionalização criado: em 1973 surgiu por meio de
parcerias com entidades privadas buscando profissionalizar os alunos de EJA
por meio de cursos de pequena duração como confeitos de bolo, torneiro
mecânico, eletricista e mecânico de trator etc.

SAIBA MAIS
Leia sobre a criação do MOBRAL, FUNDAÇÃO EDUCAR e PNAIC no
Portal do MEC www.mec .gov.br
O Mobral foi instituído no início do governo de Médici (1970) e
substituído no governo José Sarney (1985) pela FUNDAÇÃO EDUCAR, extinta
pela medida Provisória 251, editada no dia da posse do presidente Fernando
Collor em 1990. O MEC deu início neste mesmo ano ao Programa Nacional de
Alfabetização e Cidadania (PNAC), extinto após um ano de funcionamento por
falta de investimento financeiro.
Década de 80 – vigências e mobilização social da EJA
A Constituição Brasileira de 1988 reconheceu o direito de todos à
educação, ao afirmar o ensino fundamental obrigatório e gratuito

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independentemente da idade. A referida Constituição demarcava avanço do
ponto de vista normativo ao ampliar o dever do Estado para todos aqueles que
não têm escolaridade básica, independentemente da idade. Neste sentido, foi
“destinado ainda 50% dos recursos de impostos vinculados ao ensino para
combater o analfabetismo e universalizar o ensino fundamental”. (HADDAD,
2006).
Nos anos 80 foi possível implantar a Fundação Nacional para Educação
de Jovens e Adultos (Fundação Educar), vinculada ao Ministério da Educação,
que ofertava apoio técnico e financeiro às iniciativas de alfabetização
existentes (VIEIRA, 2004).
Década de 90
Os avanços obtidos na década de 80 teve um retrocesso durante o
governo de Fernando Collor. Em 1990, a Fundação EDUCAR foi extinta e o
governo criou o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania –PNAC
que conclamava as organizações não governamentais e as Prefeituras e
entidades a oferecerem alfabetização para os jovens e adultos trabalhadores.
Com o impeachment do Presidente da república Fernando Collor de
Mello, o presidente Itamar Franco não deu início ao programa criado por Collor
de Melo e os jovens e adultos foram sendo atendidos pelas ONGs e
Prefeituras, de forma fragmentada.
Mesmo com a extinção da FUNDAÇÃO EDUCAR, o governo brasileiro
pressionado pelas Organizações Internacionais, em função da comemoração
do Ano Internacional da Alfabetização, lançou um Programa para fazer
cobertura às lacunas deixadas pelo MOBRAL e FUNDAÇÃO EDUCAR mesmo
não apresentando sustentabilidade política e financeira para uma tarefa tão
difícil que era eliminar o analfabetismo. No governo de Fernando Henrique
Cardoso – 1997 foi criado O Programa Alfabetização Solidária. Foi criado pelo
Conselho da Comunidade Solidária com o objetivo de reduzir os índices de
analfabetismos entre Jovens e Adultos no País, principalmente na faixa etária
de 12 a 18 anos, e desencadear a oferta pública de Educação de Jovens e
Adultos.
Com a criação da Associação de Apoio ao Programa Alfabetização
Solidária-ALFASOL, uma organização não governamental sem fins lucrativos e
de utilidade pública, com estatuto próprio, que passou a ser responsável pela

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execução do Programa. Que teve a missão de reduzir os expressivos índices
de analfabetismo e colaborar na ampliação da oferta pública de Educação de
Jovens e Adultos. Esse compromisso em alfabetizar, não se restringia “a
ensinar a escrever o seu próprio nome, mas compreender o processo, em que
consiste ensinar a ler e escrever e a pensar sobre o que foi lido e escrito, cujo
objetivo é ampliar a visão de mundo do educando fazendo-o um ser crítico e
reflexivo”. (ALFASOL ,1998).
SAIBA MAIS.
A missão do PAS – AFASOL é o compromisso em alfabetizar, em que
não se restringe a ensinar a escrever o seu próprio nome, mas compreender o
processo, em que consiste ensinar a ler e escrever e a pensar sobre o que foi
lido e escrito, cujo objetivo é ampliar a visão de mundo do educando fazendo-o
um ser crítico e reflexivo. Este passo só será alcançado pela continuidade na
escola. O Programa Alfabetização Solidária é uma tentativa do Governo
Federal, através do Ministério da Ação Social de se não erradicar, pelo menos
combater o analfabetismo no Brasil.
(ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA. Avaliação final: segundo semestre de
1998. Brasília)
Fonte: www.alfasol.org.br/midias/alfabetizacao-solidaria-realiza-projeto-
ver/
1.2 Notícias de épocas distantes, tratando de realidades bem
próximas
Vamos ler uma afirmação feita por Machado de Assis em 1879 e uma
notícia veiculada na Folha de São Paulo no dia 09 /06/2003 a respeito do
analfabetismo.

A nação não sabe ler. Há só 30% dos indivíduos residentes neste país que podem ler
destes; uns 9% não leem letra de mão.,70% dos cidadãos votam do mesmo modo que
respiram :sem saber por que nem o quê. Votam como vão à festa da Penha por
divertimento. Constituição é para eles uma coisa inteiramente desconhecida. Estão
prontos para tudo :uma revolução ou um Golpe de Estado (...) as instituições existem, mas
por e para 30% dos cidadãos. Proponho uma reforma no estilo político.

(Machado de Assis ,1879)

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Mapa mostra o tamanho do analfabetismo no país no século 21
Década de 2000 à atualidade
A fim de cumprir a função reparadora e oportunizar ao adulto analfabeto
a possibilidade de estudar em pé de igualdade numa sociedade excludente
uma vez que nem todos puderam estudar na “idade convencional”. O Parecer
nº 11/2000 do CNE diz:
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) representa uma dívida social não reparada
para com os que não tiveram acesso ao domínio da escrita e leitura como bens sociais, na
escola ou fora dela, e tenham sido a força de trabalho empregada na constituição de riquezas e
na elevação de obras públicas.
Em 2003, o Governo Federal criou a Secretaria Extraordinária de
Erradicação do Analfabetismo, lançando então o Programa Brasil
Alfabetizado, nele incluídos o Projeto Escola de Fábrica (voltado para cursos
de formação profissional), o PROJOVEM (com enfoque central na qualificação
para o trabalho unindo a implementação de ações comunitárias) e o Programa
de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio para Jovens e
Adultos (PROEJA) (VIEIRA, 2004).
Já em 2007, o Ministério da Educação (MEC) aprova a criação do Fundo
de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), passando, todas as

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modalidades de ensino, a fazer parte dos recursos financeiros destinados à
educação (BRASIL, 2007).
Sabemos que o Brasil é, marcadamente, excludente e que o analfabeto
é discriminado e mesmo assim falta continuidade nas políticas públicas
voltadas para a educação dos jovens e adultos e ao apresentarem programas
não asseguram a continuidade e nem as ações complementares, como
fornecimento de óculos e de alimentação de qualidade para aqueles que
estudam anoite, após um dia de trabalho.

SAIBA MAIS
Jovens e Adultos: uma memória contemporânea 1996 –
Site: www.unesco.org.br2004
Sugestão de filme /vídeos
A.H.F) Paulo Freire – Biografia- https://youtu.be/jzUgb75GgpE -
Documentário conta a vida e a carreira profissional de Paulo Freire.
Pernambucano, nascido em 1921.
História da EJA no Brasil
https://www.youtube.com/watch?v=LjHMMgM2dNM

Leia a história de EJA contada em cordel de autoria de CARMEN


LÚCIA LIRA DE ANDRADE (EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS)

Sou eu professor/ professora, a quem foi dada a função.


De ensinar com vontade ao povo desta Nação
A vencer o analfabetismo, com muita garra e heroísmo.
Peço-lhes sua atenção, embora o nosso Brasil.
Tenha seus quinhentos anos, só nos mil e novecentos.
Começou a traçar planos, com o fim do Estado Novo.
De educar o nosso povo
Mas só nos espaços urbanos
Por trás havia o interesse por bases eleitorais
Que ficassem nas cidades, os imigrantes rurais.
E escondiam decerto, quantos eram analfabetos.
Falseando os numerais foi quando em cinquenta e oito

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O Governo Federal lançou a sua campanha
De amplitude nacional, pro povo aprender a ler.
E ainda poder entender sua exclusão social
Pois só a partir daí o jovem ou adulto educado
Poderia construir o futuro tão almejado
Sendo assim a educação instrumento de formação
Do cidadão respeitado assim surgiram às campanhas
Para alfabetização dizendo que jovens e adultos
Tinham direito à educação foram muitas as campanhas
Nenhuma delas deu certo daí a sua extinção
Por muita iniciativa educacional a década de sessenta foi marcada
Tanto pelo Governo Federal como pela sociedade organizada
Foram criados os CPCs, O MEB, Pé no chão e MCPs.
Em cada Estado do Brasil tinha assentada uma empreitada
Realizado no Rio de Janeiro o Congresso Nacional de Educação
Procurou definir com mais rigor pedagogia e a diferenciação
Entre a prática de ensino utilizada na educação dirigida à criançada
E a proposta para o adulto cidadão Paulo Freire, o grande educador.
Defendia a ação educativa que desse o indispensável valor
Pra consciência crítica ativa passando de objeto a sujeito
Humanização, liberdade e direito seria a maior expectativa.
Seu Plano Nacional de Educação foi cortado pelo golpe militar
Considerado ato de subversão que os militares não podiam tolerar
A educação que Paulo Freire pretendia este novo Governo já proibia
Em nome da “ordem” preservar só o MEB pôde então permanecer
Por ser ligado à Igreja, à CNBB, mas sua metodologia foi mudada.
Foi o preço pago pra tentar sobreviver boa parte dos técnicos demitida
E a sua didática distorcida logo, logo também ficou à mercê.
Cruzada de Ação Básica Cristã criada em sessenta e seis
Além de alfabetizar dava alimento, por vez.
Mas também foi derrubada, sua imagem muito abalada,
Altos custos, todo mês na década de setenta.
Apareceu o Mobral pra melhorar a imagem
Econômica nacional, mas com a legitimação vinha à neutralização

18
Do conflito social Mobral depois se transformou
Na Fundação Educar, Mas a pesquisa mostrou
O que se tentava ocultar Alfabetização – imagem de sucesso
Realidade – gente demais, em excesso excluída do banco escolar.
Em outubro de oitenta e oito a Constituição Federal
Assegurou para todo o Ensino Fundamental

Cabendo ao Estado prover a escola e condições


pra que a Lei ficasse legal no governo Erundina
Paulo Freire, do Mova foi criador.
Trazendo alfabetização para o trabalhador.
Atendidos muitos mil espalhou-se pelo Brasil
O pensamento renovador o Mova já demonstrava
Que era fundamental unir público e privado
Numa esfera não-estatal Política e administrativa
Com a sociedade ativa, contra a exclusão social.
Não dá mesmo pra entender a Educar em extinção
Enquanto a UNESCO celebra o Ano da Alfabetização
O Governo enganando o nosso povo assinando um documento novo
A Declaração Mundial da Educação, pois logo em noventa e um.
O MEC formalizou não ter mais a intenção
(O próprio Governo informou) de adultos educar
Vai só criança ensinar o tempo do adulto, passou.
Passou o governo Itamar passou o FHC
E só em noventa e sete a EJA voltou a ser
E só em noventa e sete a EJA voltou a ser
Um Programa por inteiro Norte e Nordeste primeiro
Para a região crescer dois anos depois partia também pros centros
urbanos
A proposta criticada por estabelecer bravos planos
Em seis meses ensinar o adulto alfabetizar
Milagre por trás dos panos!
Mas nem o Fundef registra alunos do supletivo.

19
O MEC acabou criando um crédito meio ilusivo/Pro professor se formar e
material comprar
Eis seu empenho exclusivo Lula acendeu a esperança/Da justiça social
voltando a assumir com a EJA
Compromisso natural agora vamos saber/O que vai acontecer a
Educação Nacional
É o desejo de todos que esta breve leitura/Chegue a todos vocês com
clareza e bem madura
E que a todos com igualdade traga mais dignidade/Com uma nova
assinatura

ATIVIDADE
Faça uma leitura crítica sobre os avanços do movimento de
democratização de oportunidades de escolarização básica dos adultos e
pesquise sobre a luta política dos grupos que disputavam o aparelho do Estado
em suas várias instâncias por legitimação de ideais via prática educacional.

RESUMO
Nesta Unidade refletimos sobre a Educação de Jovens e Adultos, e
sobre a retrospectiva histórica política e social de décadas, à luz de avanços e
retrocessos nas políticas educacionais, em observância a luta de homens,
mulheres, jovens, adultos e idosos que buscam uma ascensão na vida, na
certeza de que isso favorecerá um futuro promissor, embora de forma tardia.
Esse direito é pensado, refletido desde o Brasil colônia, à contemporaneidade.
Projetos, programas e movimentos são criados em diferentes abordagens e
discussões sobre a EJA no sentido de garantir o direito de jovens e adultos ao
conhecimento e à valorização sociocultural destes, de forma significativa num
processo de formação para e pela cidadania desses sujeitos. Há de se
entender que em toda sociedade, a alfabetização é uma habilidade primordial
em si mesma e um dos pilares para o desenvolvimento de outras habilidades.
O desafio é oferecer e garantir esse direito a quem deixou de exercer esse
mesmo direito em tempo hábil.

REFERÊNCIAS

20
ALMEIDA, T.W., (Coord.). Programa de alfabetização funcional na
região nordeste: subsídios para avaliação. Rio de Janeiro: MEC/MOBRAL,
1976.
AMORIM, J.R. O adulto analfabeto e a necessidade de
alfabetização,1978. Belo Horizonte. s/ed., 27 p. (Relatório de pesquisa)
Escolarização de jovens e adultos Revista Brasileira de Educação,1978.

BRASIL <Lei de Diretrizes e Base da Educação nº 5692 de 11agosto


de 1971.
BRASIL. ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA. Avaliação final: segundo
semestre de 1998. Brasília: Programa de Alfabetização Solidária,1998.
Orientações sobre o Programa de Alfabetização Solidária. Brasília:
Programa de Alfabetização Solidária, 1998.

CORRÊA, Arlindo Lopes. Educação de massa e ação comunitária. Rio


de Janeiro: AGGS/MOBRAL. 1979.

GADOTTI, M; ROMÃO J. E. Educação de Jovens e adultos: teoria,


prática e proposta. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

HADDAD, Sérgio, & DI PIERRO, Maria Clara, (1994). Diretrizes de


política nacional de educação de jovens e adultos: consolidação de
documentos 1985/1994. São Paulo: CEDI, Ação Educativa, ago.

MOURA, M. da G. C. Educação de Jovens e Adultos: um olhar


sobre sua trajetória histórica. Curitiba: Educarte, 2003.

PAIVA, Vanilda P. Educação Popular e Educação de Adultos. 5. ed.


São Paulo: Loyola, 1987.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. São Paulo:


Autêntica, 1999 125 p. capítulo IV. Ensino.

21
VIEIRA, M.C. Fundamentos históricos, políticos e sociais da
educação de jovens e adultos – Volume I: aspectos históricos da educação
de jovens e adultos no Brasil. Universidade de Brasília, Brasília, 2004.

VIEIRA. Rafael. PROEJA O MUNDO DO TRABALHO E A EAJA NA REDE MUNICIPAL


DE GOIÂNIA: Possibilidades e desafios (2004).
História da EJA no Brasil -https://www.youtube.com/watch?v=LjHMMgM2dNM
Jovens e Adultos: uma memória contemporânea 1996 -Site:
www.unesco.org.br2004

22
UNIDADE II – PRESSUPOSTOS FREIRIANOS NAS PROPOSTAS
CURRICULARES DE EJA

OBJETIVO
Refletir sobre princípios e pressupostos pedagógicos da Educação de
Jovens e Adultos, percebendo as etapas do método de alfabetização.

Fonte: http://projetopedagogicotis.blogspot.com.br

“Se é possível obter água cavando o chão, se é possível enfeitar a casa,


se é possível crer desta ou daquela forma, se é possível nos defendermos do
frio ou do calor, se é possível desviar leitos de rios, fazer barragens, se é
possível mudar o mundo que não fizemos, ou da natureza, por que não mudar
o mundo que fazemos: o da cultura, o da história, o da política. ”
Paulo Freire

2.1 Aspectos pedagógicos da educação libertadora de


Freire

23
Fonte: Rede Brasil Atual

Paulo Freire. ... Paulo Reglus Neves Freire (Recife, 19 de setembro de


1921 — São Paulo, 2 de maio de 1997) foi um educador, pedagogo e filósofo
brasileiro. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da
pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia
crítica.
Paulo Freire foi o educador brasileiro que mais pensou, discutiu e lutou
pela Educação de Jovens e Adultos, por acreditar que os sujeitos envolvidos no
processo educativo são seres que têm sua cultura, e uma leitura de mundo,
antes de ler as palavras. Portanto, a leitura como instrumento de cidadania e é
preciso compreender a leitura e a escrita a partir de um contexto já vivenciado
por eles a fim de despertar interesse em continuar estudando, ao longo da vida.
As características dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos do
campo e da cidade, basicamente são pessoas carentes de condições
socioeconômicas, estando na faixa de 15 a 35 anos, adultos e idosos. Esse
público diferenciado, identificado como trabalhadores que têm uma trajetória de
vida escolar marcada por insucessos uma vez que não puderam concluir seus
estudos por conta da jornada de trabalho, por desempenharem determinadas
tarefas domésticas ou rurais, aqueles que moram cidades ribeirinhas,
quilombos, pessoas que migram de cidades pequenas e vão para as grandes

24
cidades na expectativa de melhoria de vida, na busca de um saber, de um
conhecimento.
Nas salas de aula da EJA encontramos jovens e adultos que mesmo
estando fora da escola, que trazem consigo uma visão de mundo ampla e
relacionada ao trabalho cotidiano, com experiência adquiridas fora da escola.
Os alunos de EJA possuem saberes e experiências que devem ser
valorizados e se constituírem ponto de partida para o desenvolvimento do
trabalho pedagógico em sala de aula.
O professor que atua em sala de EJA passa por sérias dificuldades em
termos de sua formação para atuar em programas voltados para jovens e
adultos, pois a sua formação fica restrita ao ensino aluno , pois muitas vezes
devido ao cansaço do dia a dia de trabalho, precisa ser motivado a
permanecer em sala de aula e o fundamental na modalidade regular e sem
falar da falta de materiais didáticos específicos, que geram o desinteresse do
papel do professor é fundamental para que não haja a evasão .
O Conselho Nacional de Educação por meio do parecer CEB/CNE nº
11/2000 não se limita a reconhecer a especificidade da EJA como modalidade
de educação escolar de nível fundamental e médio, mas também, reconhece a
EJA como uma “ dívida social não reparada para com os que não tiveram
acesso a e nem domínio da escrita e leitura como bens sociais, na escola ou
fora dela, e tenham sido a força de trabalho empregada na constituição de
riquezas e na elevação de obras públicas”, indica suas funções, a saber:
reparadora, equalizadora, qualificadora.
Essas funções consideradas no Parecer CEB/CNE nº 11/2000 são:
FUNÇÃO REPARADORA - reconhece o direito a uma escola de
qualidade, como também a igualdade ontológica de todo e qualquer ser
humano.” Que precisam de oportunidades, que possibilite oferecer aos
indivíduos novas inserções no mundo do trabalho”;
FUNÇÃO QUALIFICADORA - “refere-se à educação permanente, com
base no caráter incompleto do ser humano, cujo potencial de desenvolvimento
e de adequação pode se atualizar em quadros escolares ou não escolares.”;
FUNÇÃO EQUALIZADORA – os alunos que antes foram
desfavorecidos quanto ao acesso e permanência na escola devem receber,
proporcionalmente, maiores oportunidades que os outros, para ter

25
restabelecida sua trajetória escolar de modo a readquirir a oportunidade de um
ponto igualitário da sociedade.
Paulo Freire defende a educação com um caráter emancipatório,
libertador, problematizador da realidade, de forma oposta aos princípios da
educação bancária, baseada na submissão e destaca que: “a educação pode
contribuir para que as pessoas se acomodem ao mundo em que vivem ou se
envolvam na transformação dele”, podendo ser conservadora ou
transformadora da realidade, dependendo sempre da opção assumida pelo
professor.
Paulo Freire destaca o caráter dialético da educação ao afirmar que:
“a educação para a libertação se constitui como ato de saber, um ato de
conhecer e um método de transformar a realidade que se procura conhecer”.
Para sair da consciência ingênua e passar para a consciência crítica, é
necessário que o jovem ou adulto pare de apenas escutar e obedecer e passe
a rejeitar a “hospedagem do opressor dentro de si”, que faz com que se
considere sempre um ignorante e incapaz.
Esse processo educativo não se caracteriza pela transmissão de
conhecimentos prontos e acabados, e sim pela reflexão sobre os
conhecimentos em constante transformação. Dessa forma, Freire considera
que “todos aprendem e todos ensinam” uma vez que todos são sujeitos da
educação e estão permanentemente em processo de aprendizagem. Nessa
perspectiva, muda o papel do professor que assume uma relação de igualdade,
permitindo o diálogo entre a sua forma de perceber a realidade – o mundo e
respeitar a visão de mundo que o aluno tem, problematizando a realidade e se
problematizando. Nesse diálogo se efetiva o conhecimento. (Fascículo EJA
2009).
Diante destes aspectos percebemos que, o foco da proposta de
educação de jovens e adultos na perspectiva de Freire está nas relações
entre aluno e professor, e entre aluno e conhecimento, evidenciando -se a
importância do respeito à experiência e à identidade cultural de ambos, pois os
saberes são adquiridos por meio de suas atividades cotidianas. Para Freire ,o
aluno é visto como sujeito, e não como objeto do processo educativo, e pode
sem dúvida, afirmar a sua capacidade de organizar a própria aprendizagem em
situações didáticas planejadas pelo professor, num processo interativo,

26
partindo da realidade desse aluno portanto , as propostas pedagógicas para a
Educação de Jovens e Adultos devem ser fundamentadas na convicção de que
não é necessário nem recomendável montar uma língua artificial para ensinar a
ler e escrever e sim que os adultos analfabetos podem escrever enunciados
significativos baseados em seus conhecimentos da língua, ainda que, no início,
não produzam uma escrita convencional. São com essas produções que o
educador deverá trabalhar, ajudando o aprendiz a analisá-las e introduzindo
novas informações.
2.2 PRINCÍPIOS EDUCATIVOS NA PERSPECTIVA DE PAULO
FREIRE
A alfabetização, segundo as definições na V Conferência Internacional
sobre Educação de Adultos", em Hamburgo, 1997 é concebida como o
conhecimento básico, necessário a todos num mundo em transformação em
sentido amplo, é um direito humano fundamental. Em toda sociedade, a
alfabetização é uma habilidade primordial em si mesma e um dos pilares para o
desenvolvimento de outras habilidades. Existem milhões de pessoas - a
maioria mulheres - que não têm a oportunidade de aprender nem mesmo o
acesso a esse direito. O desafio é oferecer-lhes esse direito. Isso implica criar
pré-condições para a efetiva educação, por meio da conscientização e do
fortalecimento do indivíduo.
A alfabetização tem também o papel de promover a participação em
atividades sociais, econômicas, políticas e culturais, além de ser requisito
básico para a educação continuada durante toda a vida. Ao conceber a
alfabetização como a apropriação das ferramentas de leitura e escrita para ler
a palavra e compreender a sociedade e sobretudo, conscientizar-se e inserir-se
na sociedade, uma vez que considera a leitura e a escrita como instrumentos
de cidadania. Propõe como direcionamento ao alfabetizador, no sentido da
inserção dos alunos numa sociedade letrada, com ações distintas, mas
intrínsecas uma à outra.
Para Soares (1999, p.47), o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja,
ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da
escrita, de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo, alfabetizado e
letrado, pois não basta apenas aprender a ler e a escrever, mas incorporar
leitura e escrita às práticas sociais.

27
As práticas de alfabetização oportunizarão ao aluno jovem ou adulto o
aperfeiçoamento das técnicas de leitura e o acesso à leitura e à escrita,
considerando-se os aspectos socioculturais, além de um espaço de
convivência entre os jovens, os adultos e os idosos com a comunidade,
promovendo um convívio intergeracional. Nesse sentido, toda ação pedagógica
terá como base uma metodologia interacionista, com círculos de cultura, rodas
de conversas sobre temas de interesse coletivo, jogos educativos, danças e
músicas regionais, atividades artísticas e artesanais, seminários, mostras,
atividades diversificadas de leitura e interpretação de textos.
Esse movimento permanente de ação-reflexão-ação evidencia-se nas
propostas curriculares por meio da contextualização e problematização da
realidade dos alunos e professores numa prática dialógica .Assim, portanto,
as atividades de alfabetização devem ser organizadas de forma a respeitar o
princípio da interdisciplinaridade, a ser vivenciada mediante os Projetos
desenvolvidos nas comunidades, visando a construção do processo educativo
pautado na coletividade que venha contribuir com a articulação entre os
partindo dos saberes locais, regionais e globais, garantindo um livre trânsito
entre os campos dos saberes e dos conhecimentos.
As experiências e o respeito a cultura são aspectos que não podem ser
esquecidos no trabalho com jovens e adultos para fazer a conexão com os
conteúdos das diferentes áreas de conhecimentos escolares necessários à
vida em comunidade. Ao relacionar os saberes dos povos de sua comunidade
que não foram construídos e nem aprendidos na escola, percebemos os
sentidos da afirmação de Freire acerca do conhecimento: “que emerge apenas
através da invenção e reinvenção, através de um questionamento inquieto,
impaciente, continuado e esperançoso de homens no mundo, com o mundo e
entre si”.
Depreende-se que o conhecimento é um processo que transforma tanto
aquilo que se conhece como também o conhecedor, isto é, o conhecimento
surge da relação dialógica e recíproca entre um trinômio formado pelo
conhecimento ele mesmo, o professor e o aluno. O que reafirma as ideias
de Freire ao afirmar que “todos os seres humanos são capazes de aprender,
porque têm dentro de si o conhecimento “

28
Lembramos que os Círculos de Cultura tão explorados por Freire em
Angicos – Rio Grande do Norte, na década de 60, propiciavam o trabalho em
equipe, o diálogo, a troca de saberes e experiências que foram sendo
sedimentadas com a participação livre e nas relações interativas dos jovens e
adultos decorrendo dessa conversação os temas geradores na perspectiva da
educação libertadora. (1987, p. 87): as aulas, também eram dinamizadas,
utilizando estratégias de ensino ativas como: exposição oral e dialogada; leitura
coletiva e individual; Círculo de Cultura; Grupos de trabalho com temáticas
diversificadas; aulas com exposição de filmes; Seminários etc., favoráveis a
troca de experiências e ampliação de saberes.
Freire afirma que o ato de educar deve ser associado ao ato de recriar e
de dar um novo significado aos significados. Sendo assim, O Autor destaca a
sua ação no processo de alfabetizar, visando à libertação do sujeito dentro da
sociedade. Neste sentido, pontuamos a seguir, os princípios do método de
Paulo Freire para a educação.
● Positividade do ato educativo
Freire concebe a educação como uma ação sem neutralidade, pois há
uma construção e reconstrução de todos os significados em que o sujeito
absorve diante da realidade da qual está inserido.
Nesse sentido, o papel da escola de levar o aluno a pensar criticamente
sendo capaz de se colocar diante dos acontecimentos que envolvem a
sociedade e a escola um sistema de regras que condicionam os agentes
sociais, percebe-se que a real formação do sujeito está sendo feita de forma a
diminuir os impactos negativos resultantes da transformação social. Tais
impactos implicam em caracterizar a formação educacional dos cidadãos em
reprodutivista. Cabe à escola evidenciar e tentar mudar essa realidade
concebendo novas estratégias que transformem a prática educativa em um
sistema que interaja efetivamente com os indivíduos envolvidos nos processos
educacionais e assim educar o sujeito de forma que ele se torne ético e
solidário;
• A dialogicidade do ato educativo.
A ação pedagógica na visão de Paulo Freire deve ter um caráter
dialógico para que o aluno se sinta engajado nas transformações sociais e
educacionais. Aqui a premissa parte da ideia de que o educador e o educando

29
devem possuir uma relação de troca de conhecimentos interagindo para a
transformação da criticidade e buscando novos conhecimentos;

Figura 5 – Sala de EJA no Piauí

Fonte: Blog Oficial da SEMEC – Secretaria Municipal de Educação de Castelo do Piauí

O educador, o educando e o objeto do conhecimento que traduz os


conteúdos devem estar associados as aprendizagens significativas para que a
educação saia do universo estático, buscando as possibilidades de atitudes
democrática, conscientizadora, libertadora, e justamente por isso, é chamada
de dialógica. Ao discorrer sobre o diálogo entre natureza e cultura, faz parte da
ideia de que a cultura é produzida pela própria sociedade. E as situações
existenciais proporcionam ao educando em processo de alfabetização um
recorte da sua própria realidade a fim de sair de um vazio e entrar num cenário
natural para debates e ações que podem vir a modificar as ideias sobre o seu
mundo, levando-os a transformá-lo com o seu próprio trabalho e por isso, para
Freire aprender é um ato de conhecimento da realidade concreta.
2.3 Momentos e Fases do Método Freireano

30
Para uma melhor estruturação do método de Paulo Freire há uma
sequenciação das ações que se definem como momentos. Aqui se verifica que
esses momentos estão interligados e não poderão ser trabalhados
aleatoriamente. Neste sentido, abaixo pontuaremos os momentos do método.
Dentro dessas três etapas ocorrem 5 (cinco) fases (FREIRE, 1987, p.?):
1ª fase: Levantamento do universo vocabular dos alunos
2ª fase: Escolha de palavras selecionadas segundo os critérios de
riqueza fonética, dificuldades fonéticas, sequenciamento das palavras
geradoras das mais simples às mais complexas;
3ª fase: Criação de situações existenciais características do grupo.
Trata-se de situações inseridas na realidade local;
4ª fase: Elaboração das fichas de roteiro de discussão que funcionam
para fomentar os debates;
5ª fase: Elaboração de fichas de palavras para a decomposição para a
decomposição das famílias fonéticas correspondentes às palavras geradoras.
No primeiro momento de investigação temática ou pesquisa sociológica
do universo vocabular e a análise dos modos de vida das pessoas na
localidade em que está inserido, ou seja, fazer o estudo da realidade. A esse
momento Freire chama de universo vocabular local e delas se extraíam as
palavras geradoras – unidade básica na organização do programa de

31
atividades e na futura orientação dos debates que teriam lugar nos "círculos de
cultura”. (BEISIEGEL, 1974, p. 165).
Este tema gerador está associado à Interdisciplinaridade e que a
aprendizagem global não poderá ser fragmentada. E poderá dar origem à
outras palavras geradoras ligadas a ele em função da relação social e que os
sustenta.
Na tematização - seleção dos temas e palavras geradoras. Destaca-
se os temas e as palavras geradoras podem ser codificadas e decodificadas,
gerando o significado social e consciência do sujeito envolvido neste processo.
Assim, possibilitam um avanço significativo dos engajando-se na resolução de
problemas através da sua criticidade enquanto aprendiz dos educandos em
relação ao conhecimento da sua própria realidade, partindo para a sua própria
análise conhecimento.
As palavras geradoras com sua ilustração deverão despertar o interesse
pelo debate sobre a representação de um determinado aspecto da realidade ou
de uma situação observada na comunidade.
Alguns critérios passaram a ser observadas por Freire em relação às
palavras, pois devem necessariamente estar inseridas no contexto social dos
educandos; elas devem ter um teor pragmático, ou melhor, as palavras devem
abrigar uma pluralidade de engajamento numa dada realidade social, cultural,
política e ainda devem ser selecionadas de maneira que sua sequência
englobe todos os fonemas da língua, para que com seu estudo sejam
trabalhadas todas as dificuldades fonéticas
A problematização é para Freire essencial para a aprendizagem
significativa, pois é a partir dela que a visão de mundo é colocada como em
primeiro lugar, uma vez que a criticidade parte de questionamentos capazes de
esclarecer dúvidas e anseios do educando. Assim, "a problematização nasce
da consciência que os homens adquirem de si mesmos que sabem pouco a
próprio respeito. Esse pouco saber faz com que os homens se transformem e
se ponham a si mesmos como problemas”. (JORGE, 1981, p.78).

SUGESTÃO DE FILMES
1 Educação de jovens e adultos história e memoria Parte 2 Domínio
Público;

32
2-Educação de jovens e adultos - história e memória (parte 1)
3-Documentário Paulo Freire Contemporâneo
https://www.youtube.com/watch?v=5y9KMq6G8l8

SUGESTÃO DE LEITURA
https://onlinecursosgratuitos.com/17-livros-de-paulo-freire-para-baixar-em-pdf-
livros-

ATIVIDADE AVALIATIVA: Organização de um Colóquio a fim de


conhecer as ideias de Paulo Freire contidas nas suas obras:
1 Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e
Terra, 1967;
2 Educação e mudança. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1979;
3 A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São
Paulo: Cortez Editora, 1982;
4 A educação na cidade. São Paulo: Cortez Editora, 1991;
5 Cartas a Cristina. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1974;
6 À Sombra Desta Mangueira. São Paulo: Editora Olho d’Água, 1995;
7 Ação Cultural para a Liberdade;
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8 Cartas à Guiné-Bissau;
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9 Como Prática da Liberdade;
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10 Extensão ou Comunicação;
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11 Pedagogia da Autonomia
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12 Pedagogia da Esperança
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13 Pedagogia da Indignação
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14 Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro Editora Paz e Terra, 1970.
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33
15 Professora Sim, Tia Não
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16 Paulo Freire para Educadores – Vera Barreto
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RESUMO

Na Unidade, estudamos os aspectos pedagógicos da educação


libertadora de Freire a fim de compreender os princípios da dialogicidade,
problematização, interdisciplinaridade e contextualização na exploração de
temas geradores significativos para os jovens, adultos e idosos em salas de
Educação de Jovens e Adultos e, também, pontuamos as etapas do método de
alfabetização na perspectiva freriana de modo a promover a transformação da
realidade.
A Unidade convida para leitura das obras de Paulo Freire, afim de
ampliar os conhecimentos dos pressupostos pedagógicos, que permeiam a
prática educativa inspirada nas ideias do Autor.

REFERÊNCIAS
BEISIEGEL, Celso de Rui. Estado e educação popular: um estudo
sobre educação de adultos. São Paulo: Pioneira, 1974. (Biblioteca Pioneira de
Ciências Sociais).
BRASIL –MEC –CNE - Conselho Nacional de Educação-Parecer
CEB/CNE nº 11/2000.
BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional: nº 9394/96. Brasília: 1996. Disponível em: Acesso em: 11 jul.2018.
FREIRE, Paulo. “Ação cultural para a liberdade e outros escritos, de
Paulo Freire.
em:<http://www.acervo.paulofreire.org:8080/jspui/handle/7891/2953
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1987.
_________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
Leôncio. Educação de Jovens e Adultos. Rio de Janeiro, 2002.

34
SOARES, Magda. ALFABETIZAÇAO E LETRAMENTO. Editora:
Contexto,1999.
(CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Alfabetização de jovens
e adultos: manual do alfabetizador. 1.ed. Rio de Janeiro: Escola Multimeios,
2007. Vários autores. `Cooperação técnica Instituto Paulo Freire` ISBN 978-85-
99243-07-7 1.

35
UNIDADE III – PROPOSTA CURRICULAR DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS E SEUS PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS

OBJETIVOS:
Compreender a metodologia de trabalho interdisciplinar partindo de
temas geradores, demonstrando temas integradores de interesse dos alunos
de EJA.
O Ministério da Educação lançou em 1998 a Proposta Curricular de
Educação de Jovens e Adultos que apresenta os conteúdos agrupados por
áreas de conhecimentos: Língua Portuguesa, Matemática, Estudos da
Sociedade e Natureza.

SÍNTESE GERAL PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

► Desempenhar de modo consciente e responsável seu papel no


cuidado e na educação das crianças, no âmbito da família e da
comunidade.
► Conhecer e valorizar a diversidade cultural brasileira, respeitar
diferenças de gênero, geração, raça e credo, fomentando atitudes de
não discriminação;
► Aumentar a autoestima, fortalecer a confiança na sua capacidade de
aprendizagem, valorizar a educação como meio de desenvolvimento
pessoal e social;
► Reconhecer e valorizar os conhecimentos científicos e históricos,
assim como a produção literária e artística como patrimônios culturais

Quando Paulo Freire afirmou que “a leitura do mundo antecede a


leitura da palavra” deflagrou uma discussão sobre alfabetizar letrando e no
ensino da Língua Portuguesa no I Segmento busca ampliar o universo
linguístico, utilizando-se de uma diversidade de textos , como: jornais,
enciclopédias, receitas e embalagens para que se promova a inclusão do
jovem, as correspondências entre letras e sons, mas também conhecer as
funções, estruturas adulto e idoso na sociedade , compreendendo a realidade

36
.Não basta compreender ou memorizar e os estilos próprios dos diferentes
tipos de texto presentes na nossa cultura.

Síntese dos objetivos gerais para a Educação de Jovens e


Adultos da área de Língua Portuguesa. (MEC 1998).

► Dominar instrumentos básicos ►Desenvolver estratégias de


da cultura letrada, que lhes compreensão e fluência na leitura;
permitam melhor compreender e ►Buscar e selecionar textos de
atuar no mundo em que vivem; acordo com suas necessidades e
► Ter acesso a outros graus ou interesses;
modalidades de ensino básico e ►Expressar-se por escrito com
profissionalizante, assim como a eficiência e de forma adequada a
outras oportunidades de diferentes situações comunicativas,
desenvolvimento cultural; interessando-se pela correção
► Incorporar-se ao mundo do ortográfica e gramatical;
trabalho com melhores condições ►Analisar características da
de desempenho e participação na Língua Portuguesa e marcas
distribuição da riqueza produzida; linguísticas de diferentes textos,
► Valorizar a democracia, interessando-se por aprofundar
desenvolvendo atitudes seus conhecimentos sobre a
participativas, conhecer direitos e língua.
deveres da cidadania;

Para COUTO ,1999 algumas orientações do trabalho com a língua


escrita nas propostas pedagógicas para adultos no processo inicial de
alfabetização, pode partir de textos completos em diferentes formatos e de
palavras geradoras como pontos de partida, introduzindo outros procedimentos
como o trabalho com os nomes dos alunos ou os chamados textos coletivos,
grafados pelo alfabetizador a partir de sugestões ditadas pelos alunos.
O jovem e adulto trabalhador têm suas especificidades que precisam
ser consideradas e no momento que o professor compreende o modo de vida

37
dos jovens ,adultos e idosos do campo ou da cidade com suas singularidades
em relação à maneira de se relacionar com o tempo, o espaço, o meio-
ambiente, de organizar a família, a comunidade, o trabalho, a educação e o
lazer que lhe permite a criação de uma identidade cultural e social própria,
precisa-se de manter um diálogo como um princípio orientador das práticas
educacionais , garantindo a dinâmica de aprendizagem-ensino ,assegurando o
respeito à cultura do grupo, a valorização dos diferentes saberes e a produção
coletiva do conhecimento e o da práxis, que é a construção de um processo
educativo que tem por base o movimento de ação-reflexão-ação e a
perspectiva de transformação da realidade.
A área de linguagem escrita, de acordo com a proposta curricular
estrutura-se em função de textos abarcando as diversas tipologias textuais
onde registra-se a forma como os alunos percebem a realidade discutida em
sala de aula e trabalha de forma prática o bilhete, a carta, o convite, o recibo, o
poema, a descrição de fatos, as notícias, as receitas, as listas de compras, as
cenas observadas no cotidiano e as histórias de vida. Cabe ao professor
exercitar a escrita de textos práticos usados no dia a dia do aluno, de
preferência textos curtos e interessantes.
Cabe, ainda, proceder a análise linguística, explorando a gramática a
partir do texto, ajudando o aluno a ler e compreender o uso das classes
gramaticais.
O texto é aquilo que a gente lê ou escreve para outra pessoa ler e
contexto é o mundo onde a vida vive a sua história, portanto contexto é onde
as pessoas estão juntas, vivem juntas e aprendem a viver juntas. E onde se
planta e se colhe o milho e, é onde está a minha casa com a minha família.
Portanto, meu contexto é o lugar onde vivo eu e vive a gente com quem eu
como o mingau de milho em volta de uma mesa. O contexto de nossas vidas
abriga o mundo de natureza, com a terra e tudo o que nela há. Tudo mesmo,
como as mangueiras, o milharal, os rios e também os seres humanos com a
sua cultura (tudo o que nós pensamos, criamos e fazemos, quando
transformamos as coisas da natureza. (FREIRE, 1998).
Na Educação de Jovens e Adultos, contemplamos como orientação
didática para que o aluno leia e escreva com compreensão e entenda a
realidade que o cerca, o trabalho de forma interdisciplinar, portanto, o trabalho

38
a partir de temas integradores que sejam significativos para os alunos .O
ensino que concilia diferentes conceitos, de diferentes áreas; que integra várias
disciplinas e é capaz de substituir a fragmentação pela interação, dará ao
sujeito a oportunidade de aprender a relacionar conceitos e,
consequentemente, de construir novos conhecimentos, com muito mais
autonomia e criatividade.
A pluralidade dos saberes parece ser o caminho mais inteligente para
pensar o mundo e para sentir, viver e compreender a complexidade da
realidade nestes tempos multifacetados de globalização, conflitos armados,
corrupção nas esferas de poder, desigualdades sociais e riscos ambientais de
consequências terríveis.
Para Ivani Fazenda, a interdisciplinaridade também exige que o território
de cada campo do conhecimento – suas particularidades e especialidades –
sejam compreendidos e respeitados. A ideia não é procurar um caminho para
homogeneizar todas as ciências. Pelo contrário. Para que haja a junção das
partes, é fundamental que a objetividade de cada uma seja plenamente
reconhecida e respeitada. Não é possível combater abordagem que restringe.
As áreas de conhecimentos se articulam em função dos temas
integradores, fazendo as aproximações devidas, portanto a organização dos
conteúdos pode se efetivar em forma de projetos didáticos ou sequencias a fim
de permitir a integração dos conteúdos das diversas áreas sendo explorados
de forma problematizadora e contextualizada a fim de que o aluno compreenda
de maneira critica a sua realidade.
O texto: espaço privilegiado para integração de áreas.
O trabalho inicia com a escolha do tema, depois juntamente com o
professor definem “o que sabem” e “o que querem saber sobre o tema”. Outro
ponto positivo é que o aluno precisa investigar e construir hipóteses, onde
poderá confirmá-las ou não, contribuindo com ideias, sugestões, desde a
valorização da sua presença e participação no grupo até o momento em que
avaliam o processo. Vamos exemplificar.
De acordo com a Proposta Curricular de EJA A área de Língua
Portuguesa está prioritariamente voltada para o aperfeiçoamento da
comunicação e o aprendizado da leitura e da escrita. Isso os educandos

39
aprenderão falando, ouvindo, lendo e escrevendo, ou seja, exercitando esses
procedimentos.
As atividades de análise linguística estão voltadas para a reflexão sobre
a produção do texto, ajudando os alunos a melhorarem cada vez mais a forma
de escrever.
ÁREA DE MATEMÁTICA

As situações de aprendizagem apresentadas em sala de aula devem ser


contextualizadas e significativas para os alunos, além de exigir do professor a
explanação sobre os resultados esperados, ou seja, os objetivos e suas
aplicações na vida prática, além de estabelecer a ralação com as outras áreas
do conhecimento, promovendo a ação interdisciplinar.
É importante criar um ambiente propício para que os alunos aperfeiçoem
esses procedimentos e desenvolvam atitudes como a segurança em suas
capacidades, o interesse pela defesa de seus argumentos, a perseverança e o
esforço na busca de soluções.
Os conteúdos matemáticos para a educação de jovens e adultos estão
organizados em quatro blocos: “Números e operações numéricas”, “Medidas”,
“Geometria” e “Introdução à Estatística.
Os temas selecionados que contemplam aspectos humanos e sociais
permitirão a discussão dirigida.
A Proposta Curricular de EJA – MEC 1998 sugere Objetivos a serem
contemplados nas Propostas Curriculares de Educação de Jovens e Adultos,
tendo o respeito a identidade dos grupos etários e de distintas origens sociais e
culturais.
Segundo a Proposta Curricular –MEC 1988 a Área de Matemática visa
habilitar o aluno, para que seja capaz de:

Síntese dos objetivos gerais para a Educação de Jovens e


Adultos da área de Matemática

40
Valorizar a Matemática como ► Reconhecer a cooperação, a troca
strumento para interpretar informações de ideias e o confronto entre diferentes
obre o mundo, reconhecendo sua estratégias de ação como meios que
mportância em nossa cultura; melhoram a capacidade de resolver
Apreciar o caráter de jogo intelectual da problemas individual e coletivamente;
atemática, reconhecendo-o como ► Utilizar habitualmente procedimentos
stímulo à resolução de problemas; de cálculo mental e cálculo escrito
Reconhecer sua própria capacidade de (técnicas operatórias), selecionando as
ciocínio matemático, desenvolver o formas mais adequadas para realizar o
teresse e o respeito pelos cálculo em função do contexto, dos
onhecimentos desenvolvidos pelos números e das operações envolvidas;
ompanheiros; ► Desenvolver a capacidade de
Comunicar-se matematicamente, realizar estimativas e cálculos
entificando, interpretando e utilizando aproximados e
ferentes linguagens e códigos; Utilizá-la na verificação de resultados de
Intervir em situações diversas operações numéricas;
lacionadas à vida cotidiana, aplicando ► Medir, interpretar e expressar o
oções matemáticas e procedimentos de resultado utilizando a medida e a escala
solução de problemas individual e adequada de acordo com a natureza e
oletivamente; a ordem das grandezas envolvidas;
Vivenciar processos de resolução de ► Aperfeiçoar a compreensão do
roblemas que comportem a espaço, identificando, representando e
ompreensão de enunciados, proposição classificando formas geométricas,
execução de um plano de solução, a observando seus elementos, suas
erificação e comunicação da solução; propriedades e suas relações;
► Coletar, apresentar e analisar dados,
construindo e interpretando tabelas e
gráficos.

A resolução de problemas

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Para que a aprendizagem da Matemática seja significativa, e os
educandos possam estabelecer relações com os diversos conteúdos e possam
utilizar as experiências do dia a dia para a interpretação da realidade a
Proposta Curricular de EJA – MEC 1998 sugere que os conteúdos matemáticos
sejam abordados por meio da resolução de problemas. E assim, sendo a
resolução de problemas não será trabalhada de forma mecânica e nem se
reduz à aplicação de conceitos explorados em sala de aula pelo professor e
sim é vista como uma forma de conduzir o ensino e aprendizagem.
A resolução de problemas matemáticos de acordo com a Proposta
Curricular MEC 1998 envolve várias atividades e mobiliza diferentes
capacidades dos alunos:
• compreender o problema;
• elaborar um plano de solução;
• executar o plano;
• verificar ou comprovar a solução;
• justificar a solução; e
• comunicar a resposta.

A Proposta Curricular indica algumas situações práticas e as teóricas da escola, isso


para dar suporte para os assuntos mais abstratos nas aulas de matemática e assim
propiciar uma aprendizagem significativa. Sugere, também, algumas situações
cotidianas que podem dar ensejo a explorações matemáticas possibilitado as dessas
relações, tais como:
• levantamento de dados pessoais, endereços, códigos postais, números de telefone
etc., para reconhecimento das várias funções dos números;
• atividades de compra e venda, cálculo do valor da cesta básica, de encargos sociais,
de orçamento doméstico, para exercícios de cálculo;
• leitura e interpretação de informações que aparecem em moedas e cédulas de
dinheiro, contracheques, contas de luz, extratos bancários, para observar as escritas
numéricas e fazer cálculos mentais;
• leitura e traçado de itinerários, mapas e plantas e construção de maquetes, para
identificar pontos de referência no espaço, distâncias, formas bi e tridimensionais e
compreender escalas;
• cálculo de medidas de terrenos e edificações, para compreender as noções de
medida e de unidade de medida;
• consulta e construção de calendários;
• planejamento e organização de eventos como festas, excursões e campeonatos
esportivos para levantar e organizar dados, fazer cálculos e previsões (MEC, 2001, p.
102).

42
Eis alguns exemplos de situações envolvendo operações e resolução de
problemas :
Https://sites.google.com/site/diariodaprofaglauce/matematica-para-
jovens-e-adultos--

ESTUDOS DA NATUREZA E SOCIEDADE

Devemos promover situações – em sala de aula, em atividades de


estudo do meio, visitas a museus e espaços culturais – nas quais o aluno seja
orientado a extrair informações de diferentes fontes: livros, jornais, revistas,
filmes, fotografias, objetos, obras de arte, depoimentos, mapas, plantas
urbanas, músicas etc. Também é preciso ensinar como pesquisar em
bibliotecas e na internet, consultar bibliografias, organizar e registrar
informações, elaborar trabalhos escolares, resumos orais ou escritos, imagens,
gráficos, linhas do tempo, murais e exposições.

Síntese dos objetivos gerais para a Educação de Jovens e Adultos da


área de Estudos da Sociedade e da Natureza. (Proposta Curricular de
EJA/MEC – 1998).

43
Problematizar fatos observados cotidianamente, interessando-se pela
busca de explicações e pela ampliação de sua visão de mundo.
► Reconhecer e valorizar seu próprio saber sobre o meio natural e social,
interessando-se por enriquecê-lo e compartilhá-lo;
► Conhecer aspectos básicos da organização política do Brasil, os
direitos e deveres do cidadão, identificando formas de consolidar e
aprofundar a democracia no país;
► Interessar-se pelo debate de ideias e pela fundamentação de seus
argumentos;
► Buscar informações em diferentes fontes, processá-las e analisá-las
criticamente;
► Interessar-se pelas ciências e pelas artes como formas de
conhecimento, interpretação e expressão dos homens sobre si mesmos e
sobre o mundo que os cerca;
► Inserir-se ativamente em seu meio social e natural, usufruindo racional
e solidariamente de seus recursos.

Trazemos alguns exemplos de temas integradores explorados numa Oficina de


Alfabetização envolvendo adultos e idosos (Atividade explorada na formação
de Coordenadores da UNABI – UEMA elaboradas por Varão Santos, Heloisa).

TEMA GERADOR: MEMÓRIAS DE INFÂNCIA OU VIDA


Áreas: Língua Portuguesa; Estudos da Sociedade e Natureza e
Matemática.
OBJETIVOS:
-Identificar o valor de sua história de vida, o significado do seu nome; as
suas preferências e singularidades;
-Identificar a escrita do seu nome, reconhecendo as letras maiúsculas e
minúsculas;
-Rememorar as lembranças marcantes na sua vida e as representações
diversas;
-Demonstrar sentimentos positivos em relação àqueles que participaram
da construção de sua história;

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-Identificar as letras do nome em diferentes cartões;
-Enumerar sequências, relacionando com as quantidades representadas
em cartelas e com objetos da sala;
-Discutir temas emergentes expressando suas ideias.

ATIVIDADES

1 Traçar o perfil dos alunos a partir das histórias de vida apresentadas.


2 Lançar questões para a caracterização do perfil dos alunos: - Qual o
significado e história do seu nome? - Quem escolheu seu nome? O que é
especial na escolha?
3 Registro das histórias dos nomes. - Elaboração de pequenas
quadrinhas / rimas com os nomes. Exemplo:
Meu nome é Sebastiana e gosto de ______________________(banana).
Meu nome é José e vendo ______________________________(picolé).
Meu nome é João e gosto de comer ________________________(feijão,
mamão, capão e macarrão).
Meu nome é Maria e compro pão na ______________________(padaria).
Meu nome é Tereza, vejam só que _______________(boniteza).
Meu nome é Vital e brinco no _______________________ (carnaval, quintal e
bambuzal.)
- Apresentação de crachá com o nome próprio de cada aluno e como
jogo de encaixe.
-Selecionar exercícios de identificação das letras iniciais do nome em
caça palavra.
Identificar as letras iniciais do seu nome:
Aline - Amália - Benedita - Camila - Carolina -Daniela –Fernanda - Flávia
- Gabriela - Juliana – João-José -Luciana –Luiza - Maria - Mariana - Patrícia -
Paula - Renata – Ribamar-Vanda.
-Dinâmica Minha Bandeira Pessoal ilustrada (desenhos /figuras)
completar o nome.
-Apresentação do alfabeto.
-Formação dos nomes com as letras móveis (Alfabeto Móvel).

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4 Apresentação dos nomes próprios e lembranças de músicas com
nomes das pessoas da sala e da comunidade
- Levantamento de trechos de musicas conhecidas pelos alunos que
contenham nomes de pessoas .
O rei da brincadeira – Ê José
O rei da confusão –Ê José
Um trabalhava na feira –Ê José
Outro na construção –Ê João “ ( GIL, 1968)
“Terezinha de Jesus de uma queda foi ao chão
Acudiu 3 cavalheiros todos 3 chapéu na mão “.(Cantiga de Roda)
5 Apresentação do Poema de Pedro Bandeira, "O nome da gente "para
introduzir uma
Discussão sobre a identidade.
Dramatização das ações envolvidas neste poema.

O NOME DA GENTE
Por que é que eu me chamo isso e não me chamo aquilo?
Por que é que o jacaré não se chama crocodilo?
Eu não gosto do meu nome,
Não fui eu quem escolheu.
Eu não sei Por que se metem
Com o nome que é só meu!
O nenê que vai nascer vai chamar como o padrinho,
vai chamar como o vovô,mas ninguém vai perguntar
o que pensa o coitadinho.
Foi meu pai que decidiuque o meu nome fosse aquele
isso só seria justo se eu escolhesseo nome dele.
Quando eu tiver um filho,não vou pôr nome nenhum.
Quando ele for bem grande,ele que procure um.
6 Atividade individual Criação da Bandeira Pessoal com o sonho, os
desejos demelhoram algo em sí, as pessoas que mais admira, o que lhe faz
feliz?

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-Escrita de palavras Geradoras: Vida, idoso, velho etc.
- Leitura, interpretação E canto explorando a Música “O QUE É O QUE
É, de Gonzaguinha

-Eu fico com a pureza da resposta das crianças

É a vida, é bonita, E é bonita

Viver e não ter a vergonha de ser feliz

Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz...

Reconhecer na letra da música de Gonzaguinha e do poema de Cora


Coralina as letras contidas no seu nome que está no crachá.
-Identificação das semelhanças e diferenças entre as letras do alfabeto.
-Jogo com cartelas contendo as vogais e as consoantes contidas nos
nomes de cada aluno.
Percebemos que o contexto do aluno precisa ser discutido em sala de
aula e, as palavras a serem exploradas vão surgindo para serem divididas em
sílabas e apresentadas às letras e acima decodificação vai sendo
operacionalizada.

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-Reflexão sobre o poema VIVER, de Cora Coralina:
Não sei... se a vida é curta
ou longa demais para nós,
mas, sei que nada
do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
o colo que acolhe, o braço que envolve,
a palavra que conforta, o silêncio que respeita,
a alegria que contagia, a lágrima que corre,
o olhar que acaricia, o desejo que sacia,
o amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais,
mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto ela durar...
As experiências dos alunos servem para enriquecer os conhecimentos
da turma, uma vez que a visão de mundo já é ampliada pelas histórias de vida
e situações vivenciadas na comunidade, no trabalho e nos movimentos sociais.
Daí a importância de explorar os saberes da experiência no processo de
escrita, procurando socializar as produções dos alunos, estimular a correção
em grupo, tendo a visão de erro como um norte para se corrigir e melhorar a
escrita, pois a reescrita tem a função de revisar e melhorar a produção escrita
do aluno e do professor também.
Exemplo de um tema abordado em salas de aula do PRONERA em
2004 pela Prof.ª. Heloisa Varão explorando as experiências de vida do
trabalhador rural em áreas de Assentamentos da Reforma Agrária.
Os temas discutidos no trabalho de alfabetização com jovens e adultos
agricultores assentados retratávamos seus interesses e necessidades do
cotidiano que levados a discussão permitiam a problematização da realidade
dos camponeses e, após a discussão em sala de aula se buscava aprofundar
os conhecimentos pertinentes aos problemas apontados nas falas dos alunos.

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TEMA INTEGRADOR: TRABALHO

Áreas: Língua Portuguesa; Estudos da Sociedade e Natureza e Matemática

Objetivos:

1 Refletir sobre a alienação e trabalho em espaços urbanos e s relações estabelecidas;


2 Identificar aspectos que expressam a tomada de consciência do operário, sobre o
processo de exploração da “classe operária” ao produzir os bens materiais em uso na
sociedade industrializada e não usufruir dos serviços ;
3 Escrever palavras relacionada a vida dos trabalhadores rurais e urbanos;
4 Resolver problemas matemáticos relacionados ao salário do trabalhador;
5-Identificar avanços nas leis trabalhistas das trabalhadoras doméstica;
6 Compreender os tipos de vantagens proporcionado por conta de uma profissão, bem
como conhecer as possibilidades de mudança de status;
7 Identificar as diversas profissões exercidas pelos alunos da turma;
8 Analisar a vida social dos alunos fora do ambiente de trabalho;
9 Elencar termos do linguajar popular que aparecem na música, bem como outros que
os alunos conheçam;
10 Identificar os tipos de exercícios físicos e
alimentação adequados a rotina de algumas profissões, bem como orientá-los de
acordo com a profissão que exercem.
ATIVIDADES:
1 Leitura do poema - O operário em construção”, do poeta Vinicius de Moraes, que
conhecia o trabalho de pedreiros e serventes por suas contemplações dos canteiros de
obras em seus passeios pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Devemos chamar a
atenção para o fato de que, como boa poesia, o título é ambíguo: tanto significa “o
operário na construção civil” como “o operário durante a construção de si próprio”, isto
é, durante a tomada de consciência de sua posição na sociedade.
Era ele que erguia casas, onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas, Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia da sua grande missão:
Não sabia, por exemplo, que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia, que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade era a sua escravidão.
De fato, como podia um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais que um pão? Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria.
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas ele desconhecia esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa e a coisa faz o operário....
Uma nova dimensão: A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu que a todos admirava:
O que o operário dizia o outro operário escutava.
E foi assim que o operário do edifício em construção
Que sempre dizia sim começou a dizer: não.

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1 Descrição das atividades que os jovens e adultos realizam - ao mesmo tempo
em que “produzem algo externo a eles, também “se produzem”, no seu íntimo como
ser humano.
2 Debate sobre as condições da classe trabalhadora a partir da descoberta
individual de que um operário é uma encarnação da classe operária, passa ser
coletiva: a satisfação em ter um emprego que lhe garantisse a sobrevivência, o
operário passou à insatisfação com as condições de trabalho e com as suas
condições indignas de vida, que só garantiam a sua sobrevivência nua e crua para
que pudesse voltar a trabalhar no dia seguinte.
3 Ilustração do canteiro de obras de maneira compreensível.
4 Leitura da Constituição Federal (Direitos Sociais –a Educação e ao Trabalho)
e fazer um resumo para discutir em sala.
5 Leitura de imagens de pintores do século XIX, como Rugendas, Jean
Baptiste Debret, Paul Harro-Harring etc. Quanto às transformações tecnológicas da
mecanização, da produção em massa, da linha de montagem, pode optar, por
exemplo, pelo filme Tempos modernos, de Charles Chaplin.
6 Debate sobre o significado de festas e monumentos comemorativos, de
museus, arquivos e áreas preservadas, para que os alunos reconheçam os interesses
em jogo quanto à memória social.
7 Passeio com os alunos, a fim de que dirijam um novo olhar a seu entorno,
analisando ruas, praças, residências, construções, edifícios públicos e monumentos.
Assim, eles vão conhecer os “lugares de memória” erguidos pela sociedade e poderes
estabelecidos, que determinam o que deve ser preservado e relembrado e o que deve
ser silenciado e esquecido.
8 Debates sobre como ocorre a preservação do patrimônio histórico-cultural e
suas relações com a memória e identidades locais, regionais e nacionais.
9 Campanha de preservação ambiental e cultural.
10 Organização de um Recital de Poesias explorando as profissões exercidas
pelo povo, daí o Patativa do Assaré com o poema: Caboclo Roceiro de Patativa do
Assaré – Ceará

Caboclo Roceiro, das plagas do Norte que vive sem sorte, sem-terra e sem lar;
A tua desdita é tristonho que canto, se escuto o meu pranto me ponho a chorar;
Ninguém te oferece um feliz lenitivo és rude e cativo, não tens liberdade.

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A roça é teu mundo e também tua escola.
Teu braço é a mola que move a cidade, de noite tu vives na tua palhoça
De dia na roça de enxada na mão, julgando que Deus é um pai vingativo,
Não vês o motivo da tua opressão, tu pensas, amigo, que a vida que levas
De dores e trevas debaixo da cruz

E as crides constantes, quais sinas e espadas


São penas mandadas por nosso Jesus, tu és nesta vida o fiel penitente
Um pobre inocente no banco do réu.
Caboclo não guarda contigo esta crença, a tua sentença não parte do céu.
O mestre divino que é sábio profundo, não faz neste mundo teu fardo infeliz

As tuas desgraças com tua desordem não nascem das ordens do eterno juiz
Porém os ingratos, com ódio e com guerra, tomaram-te a terra que Deus te
entregou
A lua se apaga sem ter empecilho, o sol do seu brilho jamais te negou

De noite tu vives na tua palhoça de dia na roça, de enxada na mão


Caboclo roceiro, sem lar, sem abrigo, tu és meu amigo, tu és meu irmão.

Outro poema explorado para aprofundamento da reflexão e


transformado numa atividade. Recital é de autoria de Cora Coralina

O CÂNTICO DA TERRA
O cântico da terra
Cora Coralina
Eu sou a terra, eu sou a vida. Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte. Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a fonte original de toda vida. Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar. A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado e certeza tranquila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador, e a mim tu voltarás no fim da lida.

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Só em mim acharás descanso e Paz.
Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada. A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado. O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste e o pão de tua casa.
E um dia bem distante a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio tranquilo dormirás.
Plantemos a roça.
Lavremos a gleba. Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha. Fartura teremos
e donos de sítio seremos.

Exploração da letra da música “Vida de Empreguetes”


Todo dia acordo cedo,
Moro longe do emprego
Quando volto do serviço quero o meu sofá
Tá sempre cheia a condução
Eu passo pano, encero chão
A outra vê defeito até onde não há
Queria ver madame aqui no meu lugar
Eu ia rir de me acabar
Só vendo a patroinha aqui no meu lugar
Botando a roupa pra quarar
Minha colega quis botar
Aplique no cabelo dela,
Gastou um extra que era da parcela
As filhas da patroa,
A nojenta e a entojada,
Só sabem explorar, não valem nada
Queria ver madame aqui no meu lugar
Eu ia rir de me acabar
Só vendo a cantora aqui no meu lugar
Tirando a mesa do jantar

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Levo vida de empreguete, eu pego às sete
Fim de semana é salto alto e ver no que vai dar
Um dia compro apartamento e viro socialite
Toda boa, vou com meu ficante viajar
Levo vida de empreguete, eu pego às sete
Fim de semana é salto alto e ver no que vai dar
Um dia compro apartamento e viro socialite
Toda boa, vou com meu ficante viajar

Após a Leitura
-Discussão sobre os avanços nas leis trabalhistas das trabalhadoras
doméstica;
-Mapeamento das profissões dos alunos da sala;
-Os tipos de exercícios físicos e alimentação adequados a rotina de algumas
profissões;
As vantagens proporcionadas por conta de uma profissão, bem como conhecer
as possibilidades de mudança de status;
-Listagem dos termos do linguajar popular que aparecem na música e consulta
ao dicionário para saber o significado.
-Elaboração de um quadro com os produtos que formam a cesta básica na
casa dos alunos;
-Leitura e discussão dos textos com os alunos, lançando perguntas sobre a
sociedade em classes e os modos de produção dominantes);
-Discussão sobre o compromisso do poder público, dos governantes com os
direitos do trabalhador;
-Pesquisa na Constituição Federal os Direitos Trabalhistas e organizar cartazes
ilustrativos.
Outro exemplo de tema integrador: VOTO OU ELEIÇÃO
-Leitura e discussão sobre o perfil dos governantes e as políticas sociais
voltadas para o trabalhador a partir da interpretação do poema de Patativa do Assaré:

Eu quero
Quero um chefe brasileiro
Fiel, firme e justiceiro

53
Capaz de nos proteger
Que do campo até à rua
O povo todo possua
O direito de viver
Quero paz e liberdade
Sossego e fraternidade
Na nossa pátria natal
Desde a cidade ao deserto
Quero o operário liberto
Da exploração patronal
Quero ver do Sul ao Norte
O nosso caboclo forte
Trocar a casa de palha
Por confortável guarida
Quero a terra dividida
Para quem nela trabalha
Eu quero o agregado isento
Do terrível sofrimento
Do maldito cativeiro
Quero ver o meu país
Rico, ditoso e feliz
Livre do jugo estrangeiro
A bem do nosso progresso
Quero o apoio do Congresso
Sobre uma reforma agrária
Que venha por sua vez
Libertar o camponês
Da situação precária
Finalmente, meus senhores,
Quero ouvir entre os primores
Debaixo do céu de anil
As mais sonoras notas
Dos cantos dos patriotas
Cantando a paz do Brasil

54
RESUMO
Esta Unidade contemplou experiências de trabalho interdisciplinar partindo de
temas integradores de interesse dos alunos Jovens, adultos e idosos. As atividades
sugeridas têm como base as orientações didáticas apresentadas na Proposta
Curricular de Educação de Jovens e Adultos apresentada pelo Ministério da
Educação com vistas a orientar a elaboração de currículo das escolas que
desenvolvem esta modalidade de ensino.
As atividades pontuais têm como base pedagógica os pressupostos defendidos
por Paulo Freire, visando instrumentalizar os professores para as práticas
pedagógicas contextualizadas e significativas para os alunos.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei Diretrizes e bases da Educação Nacional. Lei n. 9.394, de 20 de
dezembro de 1996. Estabelece Diretrizes e Bases para a Educação Nacional. Diário Oficial
[da República Federativa do Brasil], Brasília, DF, 20 dez. 1996.
BRASIL (1988). Constituição da República Federativa do Brasil:
promulgada em 5 de outubro de 1988. 40. ed. Atual. São Paulo: Saraiva, 2007.
________. Ministério da Educação e Cultura. Proposta Curricular para a
Educação de Jovens e Adultos. Ensino Fundamental. 1º segmento, 1.999.
________. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação de Jovens e Adultos, 2.000.
GADOTTI, M; ROMÃO J. E. Educação de Jovens e adultos: teoria, prática e
proposta. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
POSSAS, Vânia Machado. “Compreensão e domínio da escrita: vale o
escrito” In: MEC. Educação de Jovens e adultos. Brasília: SEED, 1999.
PINTO, A. V. Sete lições sobre a educação de adultos. São Paulo: Cortez,
1989.
https://www.letras.mus.br › Sertanejo › Patativa do Assaré › Caboclo Roceiro
https://www.letras.mus.br › Sertanejo › Patativa do Assaré-Caboclo Roceiro
SANTOS, Heloisa Cardoso Varão. Coletânea de textos educação de jovens e
adultos (Org.). São Luís: UemaNet, 2009. 139 p.
SERRA, Deuzimar Costa. Gerontologia dialógica intergeracionais. Fortaleza. Ed.
UFC 2015.

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UNIDADE IV – PLANEJAMENTO DA AÇÃO PEDAGÓGICA DE
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

OBJETIVO: Organizar as atividades pedagógicas de forma

interdisciplinar, observando os aspectos básicos a serem considerados nos


Projetos e Sequencias Didáticas.

Há vários modos possíveis de se organizar um plano didático e os


educadores devem buscar aquele que mais se adapte ao seu estilo de
trabalho. É fundamental, entretanto, que o plano seja inteligível para outras
pessoas, especialmente quando se está integrado num programa que
pressupõe a ação coordenada de vários educadores. É importante também
formular objetivos que os educandos possam compreender e que expressem
os resultados a serem alcançados pelos alunos.
Os elementos fundamentais de um plano são: o tema, os conteúdos e
objetivos a serem alcançados, as atividades didáticas, os recursos didáticos, o
tempo de duração previsto e avaliação.
Apresentamos um exemplo, em que as unidades didáticas combinam
objetivos das três áreas e estão todas articuladas a grandes eixos temáticos.
A organização das atividades pelo professor pode ser feita de várias
maneiras, planejando a ação pedagógica diária, semanal ou quinzenal,
elaborando Projetos didáticos explorando temas geradores para serem
discutidos , estudados em função da resolução de um problema , pois o projeto
gera sempre um produto ou uma solução para um problema e os temas são
instigadores, podendo ser explorado durante semanas .Pode elaborar também,
as sequencias didáticas agrupando os conteúdos de modo sequencial e
sempre partindo de um texto interessante e atrativo para o aluno jovem e
adulto.
O Plano traz sempre um foco central que é o tema, e passa pela leitura e
discussão do mesmo, para chegar a produção escrita a fim de consolidar os
conhecimentos do aluno sobre a escrita alfabética e também numérica.
Exemplos de Plano didático

A Sequência Didática:

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"A sequência didática se configura com atividades ligadas a um mesmo
tema e principalmente com um mesmo objetivo.” Trabalha com os
conhecimentos prévios dos alunos e permite a interação de conhecimentos,
além de promover uma aprendizagem significativa. Para proceder o
levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos nada melhor do que
apresentar situações estimulantes para serem discutidas (notícias, textos para
serem problematizados e discutidos), portanto, é preciso saber elaborar e
interpretar situações-problema instigantes a fim de possibilitar que os alunos
teçam comentários e ponham em jogo tudo o que sabem. Essas questões
podem incluir: charges e imagens, fotografias e pinturas, bem como as
músicas.
Toda sequência didática parte também de um tema e agrega conteúdos
de áreas afins de modo a alcançar objetivos previamente definidos e vai se
desdobrando em fases ou etapas ou mesmo por dia e num primeiro momento
ou etapa se faz a apresentação do tema a ser explorado indicando as fases a
serem observadas e seguidas para que haja organização e facilite a avaliação
do aluno em relação ao alcance dos objetivos traçados.
No 2º passo os alunos já começam a produzir oralmente, participando
das discussões, emitindo opiniões e expressando as suas experiências e
produzindo textos escritos também.
No passo seguinte, o professor organiza os exercícios e pesquisas, com
a finalidade de desenvolver as capacidades de expressão escrita, relacionar as
ideias do texto ao contexto e promover a superação das dificuldades
encontradas na produção inicial dos alunos com a realização de atividades
diversificadas em grupos ou individualmente. A Produção final que denotará o
grau de domínio de conhecimentos construídos pelos alunos.
Vejamos um exemplo de Sequência Didática desenvolvida com
professores do PRONERA 2007 por Heloisa Varão Santos.
TEMA: NOSSA TERRA, NOSSA GENTE
Objetivos:
- Recuperar histórias contadas sobre a origem da cidade, seus
fundadores e, compreendendo a importância cultural da localidade (cidade,
povoado) na formação de uma sociedade;

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- Refletir sobre as experiências dos moradores do lugar afim de
preservar suas histórias;
- Valorizar as manifestações culturais do povo e divulgar junto as novas
gerações.
Atividades:
1ºdia
- Entrevistar antigos moradores do lugar para resgatar a história local;
- Registrar as lembranças de infância, as brincadeiras cantadas, por
meio de exercício da memória, das histórias, costumes, fatos pitorescos e/ou
pequenos contos que foram transmitidos ou ensinados pelos velhos da família
(de preferência, pelo velho entrevistado).
2º dia
-Leitura do poema de Casimiro de Abreu, “Meus oito anos”, cuja estrofe
inicial é bastante conhecida:
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Oh que saudade que tenho da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores, naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais!
-Construir um conto ou poema que resgate pelo menos uma lembrança
de infância
- Instituição do dia dedicado à memória e propor aos alunos para
trazerem comidas e bebidas que se relacionem com suas lembranças do
passado da cidade.
3º dia
Roda de conversas sobre acontecimentos da localidade.
-Exploração da música de Alcione Todos Cantam Sua Terra
Todo mundo canta sua terra
Eu também vou cantar a minha
Modéstia à parte seu moço. Minha terra é uma belezinha
A praia de Olho D'água
Lençóis e Araçagi, Praias bonitas assim
Eu juro que nunca vi

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Minha terra tem beleza
Que em versos não sei dizer
Mesmo porque não tem graça
Só se vendo pode crer
Acho bonito até
O jornaleiro a gritar imparcial
Diário
Olha o Globo
Jornal do povo descobriu outro roubo
E os meninos que vendem derrê sol a cantar
Derrê sol derrê ê ê ê ê ê ê sol
E fruta lá tem: juçara
Abricó e buriti
Tem tanja, mangaba e manga
E a gostoso sapoti
E o caboclo da Maioba
Vendendo bacuri
Tinha tanta coisa pra falar
Quando estava fazendo esse baião
Que quase me esqueço de dizer
Que essa terra é tão linda é o Maranhão
Ô Maranha, ô Maranhão.
-Identificação de palavras (substantivos) e de qualidades (adjetivos) no
texto.
-Interpretação do texto e elaboração de poemas usando os nomes das
frutas
2º dia
-Exposição oral sobre a importância da preservação ambiental, assim
como à conscientização da não agressão ao meio ambiente, estabelecendo
comparação das belezas naturais a fim de identificar as modificações sofridas
devido ao tempo e/ou de ações do próprio homem.
3º dia
-Visita a um local turístico na cidade ou de preservação ambiental, para
observar as diversas formas de vida existente no meio ambiente.

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-Confecção de Mural contemplando os aspectos observados durante a
visita.
-Confecção de baralho de palavras contidas nas músicas entoadas na
sala de aula.
4º dia
-Produção de texto após a pesquisa sobre as belezas de minha cidade.
-Exposição dos trabalhos e avaliação da escrita e da oralidade.
-Pintura de aspectos da cidade modificados pelo homem e exposição
dos trabalhos usando técnicas de colagem, pintura com guache, lápis, carvão
etc.
4º dia
-Resolução de problemas explorando as datas de fundação da cidade,
as idades dos alunos e dos moradores antigos.
-Elaboração de carta coletiva mostrando as mudanças, as
transformações ocorridas na cidade e tratando de assuntos da atualidade.
-Elaboração de paródias sobre a história da cidade
- Canto do hino da cidade e interpretação com ilustração
5º dia
-Pesquisa para identificar causas da poluição do ar e suas
consequências, especialmente para a saúde das pessoas e as causas e
consequências da poluição das águas.
-Localização no mapa do Brasil as principais bacias hidrográficas
brasileiras e no mapa do estado os rios que abastecem o município.
AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO DE JOVENSEADULTOS
De acordo com Hoffmann (1999, p.23) a avaliação deve ter um caráter
mediador:
A avaliação, enquanto relação dialógica, vai conceber o conhecimento
como apropriação do saber pelo aluno e também pelo professor, como ação-
reflexão-ação que se passa na sala de aula em direção a um saber
aprimorado, enriquecido, carregado de significados, de compreensão. Dessa
forma, a avaliação passa a exigir do professor uma relação epistemológica com
o aluno – uma conexão entendida como reflexão aprofundada a respeito das
formas como se dá a compreensão do educando sobre o objeto do
conhecimento.

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O diálogo é inerente à pessoa humana, é necessidade primária da
espécie para construção da identidade do ser. “O diálogo é o momento em que
os humanos se encontram para refletir sobre sua realidade tal qual a fazem e
refazem”. (SHOR, FREIRE,1986 apud HOFFMANN, 1999, p.23).
A avaliação na educação de Jovens e Adultos é viabilizada de diferentes
formas como: avaliação cooperativa, em duplas e em grupos maiores com
atividades desafiadoras; e
As atividades avaliativas devem ser expressas de forma clara e
objetivas. Como:
Os seminários; Roda de conversa; Debates; Produção de textos;
Desenhos figurativos etc. Estes devem apresentar critérios claramente
definidos, como por exemplo: capacidade de síntese; domínio do assunto
forma de apresentação ou de registro; uso de recursos didáticos e controle do
tempo.
O acompanhamento ao aluno é contínuo a fim de registrar os avanços e
as dificuldades, visando buscar atividades voltadas para a superação das
limitações.
O registro do progresso dos alunos deve ser feito em diário de campo,
fichas de acompanhamento das habilidades e a observação sobre a fluência
verbal dos alunos, a organização das ideias focalizadas nas produções orais e
escritas.
Proposta Curricular - 1º Segmento
Este documento deve constituir-se em subsídio à elaboração de projetos e
propostas curriculares a serem desenvolvidos por organizações
governamentais e não-governamentais, adaptados às realidades locais e
necessidades específicas.
Este trabalho representa para o MEC a possibilidade de colocar à disposição
das secretarias estaduais e municipais de educação e dos professores de
educação de jovens e adultos um importante instrumento de apoio, com a
qualidade de referencial que lhe é conferida pelo notório saber de seus autores.

REFERÊNCIAS

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ALMEIDA, Adriana de; CORSO, Ângela Maria. Educação de Jovens e
Adultos: Aspectos Históricos e Sociais. Artigo do Grupo de trabalho –
Educação de Jovens e Adultos.
ARROYO, Miguel Gonzalez. Juventude, Produção, Cultura e
Educação de Jovens e Adultos. In: Leôncio (Org.). Diálogos na educação de
jovens e adultos. Belo Horizonte: Autentica, 2007.
BANDEIRA, M.S.D., (s.d.). Áreas de resistência ao programa de
alfabetização funcional. Mobral/Sepes,179 p. (relatório de pesquisa).
BARRETO, Elba S. de Sá. Ensino Supletivo em São Paulo: entrericas
experiências e pobres resultados. São Paulo: FCC, 148 p, 1986.
BEISIGGEL, C. de R. Estado e educação popular: em estudo sobre
educação de adultos. São Paulo; Pioneira, 1974. 189 p.
BRASIL______. Plano Nacional de Educação. Disponível em:
<http://www.mec.gov.br>. Acesso em: 10 maio 2002.
BRZEZINSK,Iria. (Org.). LDB dez anos depois: reinterpretação sob
diversos olhares. Capítulo 6. São Paulo: Cortez, 2008.
NÓBREGA, Carmen Verônica de Almeida - Alfabetização de adultos e
idosos: Novos Horizontes. João Pessoa 2006 (Dissertação de Mestrado.)

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