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História da Educação em Moçambique no Período colonial

Historia da Educação em Moçambique no Período colonial


Por: António Pedro

Introdução
Enquanto se escreve a história da educação moçambicana, parte-se de princípio de
que todos os trabalhos teóricos e científicos que queiram, de uma ou outra forma,
contribuir para a organização de um sistema de educação racional em Moçambique,
nesses anos ainda de luta pela sua real emancipação, devem remontar ao período
colonial.
Embora nem todos os problemas actuais se expliquem pelo passado colonial, é,
todavia, importante a presença dessa memória, como ponto de partida para
entender a complexidade da própria realidade histórica, para poder questionar com
objectividade a direcção do actual processo político e aquilatar os desafios que
a este homem moçambicano, que ainda traz consigo algo do colonialismo, enfrenta,
no dia-a-dia, na construção da sua historicidade.
O presente trabalho faz reflexão ao processo de educação em geral e de educação
de adultos em Moçambique no período colonial e sobre tudo como foi caracterizado
tomando em conta os principais ideias na formação do homem.
É do conhecimento de muitos da dificuldade que se possa encontrar em bibliografias
que relatem com mais precisão e com maior profundidade o assunto mas o grupo
baseado em algumas poucas obras e de consultas de Internet, tentou buscar na
medida do possível trazer linhas gerais que caracterizaram esta educação e sobre
tudo no ultimo século de dominação colonial.
Espera-se que o presente trabalho possa contribuir numa reflexão deste marco
histórico tão triste que foi marcado pelo nosso povo durante cerca de 500 anos.
1.1 Caracterização do sistema de Educação no período colonial

Moçambique a semelhança de muitos outros países africanos durante o período


colonial o seu povo permaneceu a margem de um sistema educativo com uma visão
de formação de um Homem do amanhã comprometido com as sua geração.
Durante muito tempo, os colonizadores não se preocuparam com educação dos
nativos pois os seus interesses estavam mais virados com pilhagem dos recursos
existente.
Assim, a educação dos «negros» era segundo algumas figuras do governo
português:
1. Para Oliveira Martins a) «absurda, não só perante a história, como também
perante a capacidade mental dessas raças inferiores»; b) uma «ilusão» pensar «em
civilizar os negros com a bíblia, educação e panos de algodão», pois, «toda a
História provava, (...) que só pela força se educam povos bárbaros»
2. Para Mouzinho de Albuquerque, era uma «ficção»: «As escolas são uma
ficção... Quanto a mim, o que nós devemos fazer para educar e civilizar o indígena é
desenvolver-lhe de forma prática as habilidades para uma profissão manual e
aproveitar o seu trabalho na exploração da província» ;
3. Para António Enes, a educação não era prioritária; era «mais uma exigência
formal que necessidade real». Apesar do decreto referendado por ele em 1891, que
obrigava as Companhias a criar escolas «em localidades com mais de 500
habitantes», na prática essas Companhias não cumpriam tal obrigação, como se
comprova pela crítica da Câmara dos Deputados à Companhia de Moçambique, em
1877 .
4. Freire de Andrade, Governador Geral de Moçambique (1906/1910), afirmava
que «o objectivo cultural da educação dos nativos deve ser fazer deles traba-
lhadores, não encorajá-los a dar vida à fábula do boi e a rã, até porque a rã,
inchando e rebentando, nos faria mal»

Na realidade, eram esses interesses económicos que nortearam a concepção, a


organização e a evolução do sistema de ensino na colónia. O discurso de «civilizar o
negro» (António Enes) e de «educá-lo» (Oliveira Martins) ocultava a vocação
expansionista do capitalismo e da dominação colonial. Os argumentos da condição
de «selvagem» visavam, assim, em última instância, assegurar objectivos
económicos de exploração das riquezas das colónias, base real do
mito( Cfrwww.macua.org/livros/Aeducacaocolonialde1930a1974.htm)

Em Moçambique ate em 1930 as políticas Publicas do regime colonial em relação a


população africana, dirigiam-se a assegurar , a exploração da sua força de trabalho.
Segundo MAZULA (1994) “No processo da colonização, a tentativa de cooptação
política de certas camadas africanas, por parte do regime, foi inviabilizada, devido
em grande parte ao modelo da colonização que desprezava a cultura e a
organização sócio politica africanas e sobretudo do seu carácter fascista que
impediu qualquer tipo de participação politica e social dos africanos, o que vai
condicionar o papel atribuído à escola assim como a sua generalização”

1.2 Primeiros sinais de educação para os moçambicanos

O bispo D. António Barroso exclamava, em 1895: “ É muito fácil afirmar que os


negros são rebeldes à instrução e ao trabalho; isso será axiomático, mas é falso. O
que é mais difícil é criar escolas para eles, que justifiquem o seu nome” mas esta foi
apenas uma voz que clamava no deserto.
Para responder melhor aos objectivos da colonização e sob o impulso do próprio
Estado Novo, foram sendo criadas instituições especializadas. Orientado pelos
mesmos objectivos, destacava-se o «Acordo Missionário», de 7 de Maio de 1940,
assinado entre a Santa Fé e a República Portuguesa, no qual as missões eram
consideradas «corporações missionárias» ou «religiosas» e, como tal, instâncias
económicas de «moralização dos indígenas», isto é, de «preparação de futuros
trabalhadores rurais e artífices que produzem». No ano seguinte, foi assinado o
Estatuto Missionário (5 de Abril de 1941), regulamentando aquele Acordo. O
Estatuto estabelecia que «as missões católicas portuguesas eram consideradas
instituições de utilidade imperial e sentido eminentemente civilizador.
O ensino indígena obedecia à orientação doutrinária estabelecida pela Constituição
Política e os planos e programas tinham em vista: a perfeita nacionalização e
moralização dos indígenas e a aquisição de hábitos e aptidões de trabalho; de
harmonia com os sexos; condições e conveniências das economias regionais;
compreendendo na moralização o abandono da ociosidade e a preparação de
futuros trabalhadores rurais e artífices que produzam o suficiente para as suas
necessidades e encargos sociais
(Cfr www.macua.org/livros/Aeducacaocolonialde1930a1974.htm)

Instado pelos organismos da ONU que haviam denunciado a discriminação no sector


do ensino, Dias Belchior negou, em 1965, a existência de qualquer preconceito
racial no Ultramar, para, em seguida, afirmar:
As crianças africanas que vivem integradas em sociedades do tipo primitivo ou pré-
industrial ao chegarem à idade escolar não se encontram nas mesmas condições
das crianças europeias ou assimiladas da mesma idade e por isso não podem
frequentar, desde logo, o ensino primário elementar. Essas desconhecem não só a
língua portuguesa, mas também vários outros elementos da cultura das sociedades
evoluídas».
«... Discriminação haveria se o Africano fosse confinado ao ensino de adaptação e
estivesse impedido de ascender aos outros graus de instrução. Toda a gente sabe,
porém, que isso não acontece nem em proporções ínfimas. O que leva a que muitos
africanos se limitem a receber somente o ensino de adaptação não é o preconceito
racial, mas sim a falta de uma rede de escolas primárias elementares
suficientemente
densa (Cfrwww.macua.org/livros/Aeducacaocolonialde1930a1974.htm)

Com efeito pode se depreender que as características principais do ensino eram «a


feição nacionalista e prática», que se traduzia na obrigatoriedade nas escolas do uso
e do ensino da língua portuguesa, tolerando o uso da «língua indígena» somente no
ensino da religião, e na obrigatoriedade do pessoal docente, quando africano, ser
todo de nacionalidade portuguesa através da política de assimilação.

1.3 Organização do sistema de ensino a partir dos anos 30


O sistema de educação colonial organizou-se em dois subsistemas de ensino
distintos: um «oficial», destinado aos filhos dos colonos ou assimilados, e
outro«indígena», engenhosamente articulado à estrutura do sistema de dominação
em todos os seus aspectos e o Estatuto Missionário legitimavam essa discriminação
(Cfrhttp://www.macua.org/livros/AEDUCAAOOCOLONIALFRENTECULTURADOCO
LONIZADO.htm)
O regime advogou «uma separação cada vez mais acentuada entre o ensino das
crianças indígenas e o das civilizadas», como reclamada pelo «aumento da
população civilizada da colónia» e «para o proveito de uma e de outra.
O ensino indígena tinha por fim «elevar gradualmente da vida selvagem à vida
civilizada dos povos cultos a população autóctone das províncias ultramarinas»
(idem, p. ]); enquanto o ensino primário elementar para os «não-indígenas» visava a
«dar à criança os instrumentos fundamentais de todo o saber e as bases de uma
cultura geral, preparando-a para a vida social»:

O sistema de ensino indígena passou, em 1930, a organizar-se em:


1) Ensino Primário Rudimentar, com três classes, previsto para sete, oito e nove
anos de idade no ingresso;
2) Ensino Profissional Indígena, que, por sua vez, se subdividia em (I) Escola de
Artes e Ofícios, com quatro classes, destinada a rapazes e (II) Escolas Profissionais
Femininas, com duas classes, geralmente ministrando a «Formação Feminina».
O ensino de Artes e Ofícios previa a permanência de dois a três anos em cada uma
das três primeiras classes, uma vez que a permanência na última (a 4 a) era de
«tempo ilimitado».
Em 1962, este curso passou a chamar-se Ensino de Adaptação. O mesmo diploma
legislativo instituiu o Ensino Normal Indígena, destinado a «habilitar professores
indígenas para escolas rudimentares.
Mais tarde, em função das exigências da exploração capitalista e para justificar a
ocupação efectiva das colónias, por pressão da Comunidade das Nações, o regime
passou a engrossar o capital humano com os «assimilados», considerados
estatutariamente «não indígenas».

Em 1937, foi criada a primeira Escola Técnica de Lourenço Marques e em 1941, o


ensino das populações «nativas» foi confiado à Igreja Católica
O Ensino Técnico Profissional, aberto a todos os indígenas, respondia às pressões
económicas da necessidade de mão-de-obra qualificada, para trabalho industrial e
actividade comercial.
Em todos eles, vincava-se o carácter ideológico do ensino de que Nas escolas de
todos os graus e ramos de ensino serão ministradas, na medida do possível, noções
e conhecimentos que contribuam para o desenvolvimento da mentalidade colonial e
da colaboração imperial.
O ensino elementar era obrigatório para todos os portugueses, não-indígenas, física
e mentalmente sãos, na idade escolar, e destinava-se a habilitá-los a ler, escrever e
contar, a compreender os factos mais simples da vida ambiente e a exercer as
virtudes morais e cívicas, dentro dum vivo amor a Portugal.

Não se pode afirmar categoricamente mas pode-se notar que a Educação de Jovens
Adultos que abrangia um número considerável de moçambicanos, inseria-se nesta
componente de Ensino Técnico Profissional na qual frequentavam os alunos
provenientes das escolas de artes e ofícios. Em alguns casos, pode-se considerar
que os assimilados faziam parte mas partindo de princípio que os conteúdos para
estes eram provenientes das colónias pouco se pode dizer.

1.4 Consequências do sistema para Moçambique

Segundo Marvin Harris, a taxa de analfabetismo em Moçambique em 1954 era a


mais elevada de toda a África. Registava-se nesse período, 95% de iletrados da
população negro-africana e cerca de 25% da população portuguesa estabelecida na
Colónia. A ONU confirmou, no ano seguinte, que, pelo menos, 20% das crianças
com idade dos 5 a 14 anos estariam inscritas em escolas da Guiné, Angola e
Moçambique. Em 1956, havia somente dois liceus em Lourenço Marques e Beira.
Nesse mesmo período, menos de dez estudantes moçambicanos negros seguiam o
ensino superior em Portugal; até 1950, apenas um estudante negro havia concluído
o 5° ano liceal e a situação de ensino nas duas colónias portuguesas, em 1960, em
relação a outros países africanos, era a mais baixa.( CFr
http://www.macua.org/livros/AEDUCAAOOCOLONIALFRENTECULTURADOCOLON
IZADO.htm)
A partir dos anos 60, as estatísticas começaram a apresentar números elevados de
presença de estudantes negros. De novo pressionado pela Comunidade
Internacional e, sobretudo, pelo avanço dos movimentos de libertação em África, o
Governo Colonial passou a empreender reformas de ensino, visando a aceleração
do desenvolvimento económico e de uma política de assimilação mais vigorosa
(Cfr http/ www.macua.org/livros/Aeducacaocolonialde1930a1974.htm).
Por uma questão de sobrevivência do regime, o Governo viu-se obrigado, nessa
altura, a depender cada vez mais do capital multinacional, transformando
Moçambique, que estava em guerra, em «plataforma estratégica para a implantação
dos interesses imperialistas no sul do continente». Para esse objectivo, a reforma
buscava outras alternativas à derrota militar, como a aceleração da formação de
força de trabalho mais qualificada, a preparação de uma pequena burguesia africana
afecta à ideologia capitalista, a formação de quadros superiores no seio da
burguesia colonial e a associação da pequena elite moçambicana à direcção da
exploração capitalista, incutindo nela o abandono da reivindicação de uma
independência genuinamente popular.
Isto explica o aumento considerável de efectivos escolares nos últimos anos do
regime colonial, «mantendo, porém, intacto o objectivo fundamental da educação»,
de torná-la «uma importante fonte ideológica na luta contra o movimento de
libertação nacional». São elucidativos os dez pontos da declaração formal de D.
Custódio Alvim Pereira, então Bispo Auxiliar de Lourenço Marques, que considerava
“a independência dos povos africanos „um erro e contrária à vontade de Deus‟, „uma
monstruosidade filosófica‟ e‟ desafio à civilização
cristã‟”(Cfr http/ www.macua.org/livros/Aeducacaocolonialde1930a1974.htm)
Em 1960, o Cardeal Cerejeira, de Lisboa, declarava em Carta Pastoral:
Tentamos atingir a população nativa em extensão e profundidade, para os ensinar
a ler, escrever e contar, não para os fazer 'doutores'. (....) Educá-los e instruí-los de
modo afazer deles prisioneiros da terra e protegê-los da atracção das cidades, o
caminho que os missionários católicos escolheram com devoção e coragem, o
caminho do bom senso e da segurança política e social para a província. (...) As
escolas são necessárias, sim, mas escolas onde ensinemos ao nativo o caminho da
dignidade humana e a grandeza da nação que o protege» (Cfr ).

Os resultados obtidos nas escolas oficializadas eram os mais baixos em relação a


outros tipos de ensino, como confirmam estudos realizados por Dias Belchior sobre
a evolução do ensino em Moçambique no Período de 1952/1953 a 1961/62 e era
justificada pelo facto de ser ministrado em áreas rurais.
Conclusão

O sistema de educação no período colonial foi caracterizado por três etapas: a etapa
de total silêncio (desde o início da colonização até o século XIX); o período das
primeiras manifestações de educação (durante o século XX até os anos de 1960 que
conscide com as independências de África) e o período do início da estruturação de
um sistema educativo (nos anos 60 e conscide com o início da luta armada de
independência Nacional).
Em todo período da história de Moçambique não fica claro a implementação de um
sistema educativo na qual o nativo (Moçambicano) esteve directamente envolvido
em defesa dos seus interesses, sua cultura e acima de tudo uma educação para o
benefício da sua sociedade.
Os programas de educação levados a cabo pelo colono nos anos 1930 sob a
responsabilidades da igreja ( através do estatuto do missionário) fica claro a
educação servia para assegurar objectivos económicos de exploração das riquezas
das colónias que era a base real do mito o objectivo essencial. Para a materialização
deste objectivo, foram, abertas escolas de arte e ofício a vários níveis
Mais tarde, em função das exigências da exploração capitalista e para justificar a
ocupação efectiva das colónias, por pressão da Comunidade das Nações, o regime
passou a engrossar o capital humano com os «assimilados», considerados
estatutariamente «não indígenas».
Não claramente registado o desenvolvimento de programas de educação de adultos
durante este período pode pode-se associar à escolas de artes e ofícios e escolas
técnicas e profissionais na qual em maior número participavam jovens
moçambicanos.

Bibliografia
A Educação Colonial de 1930 a 1974. Disponíveel
em: http/ www.macua.org/livros/Aeducacaocolonialde1930a1974.htm). Acesso 14
de Setembro de 2010.
A educação colonial frente a cultura do colonizado. Disponível em:
http://www.macua.org/livros/AEDUCAAOOCOLONIALFRENTECULTURADOCOLON
IZADO.htm). Acesso: 14 de Setembro de 2010.
MAZULA, Brazao, Moçambique – Eleições, Democracia e Desenvolvimento.
Inter-Africa Group. Maputo. 1995

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