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Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos factos contidos neste Relatório,
assim como pelas questões expressas, as quais não são necessariamente compartilhadas pelas
instituições parceiras, nem são da sua responsabilidade.
II
Equipa de Coordenação
1. Feliciano Mahalambe- DNFP/MINED (Coordenador Nacional)
2. Noel Chicuecue (UNESCO Maputo)
3. Daniel Nivagara (Universidade Pedagógica-Maputo)
Revisores
1. Carlos Lauchande- Revisão de gráficos e dados estatísticos
2. Artur Bernardo Minzo – Revisão linguística
3. Célia Zandamela – Revisão final do texto
III
Estimado leitor,
Estamos cientes de que uma visão geral sobre as condições de vida e profissionais dos professores
e a consequente tomada de medidas no sentido de seu melhoramento é condição imprescindível para o
alcance da Educação para todos e para a melhoria da qualidade de ensino.
Ao fornecer uma análise holística que conduza à elaboração de uma Política Global sobre
Professores, esperamos que o Relatório do Estudo Holístico sobre a Situação do Professor em Moçambique
seja uma mais-valia no desenvolvimento da Educação em Moçambique.
“Vamos aprender”
Construindo competências para um Moçambique em constante desenvolvimento!
IV
Ciente de que a realização dos seus objectivos está, inexoravelmente, ligada à actividade dos
professores e da sua condição profissional e, para compreender as questões relacionadas com os
professores, o Ministério da Educação, aderiu à Iniciativa Internacional da UNESCO, inicialmente orientada
para os países da África Sub-Sahariana para a formação de professores. Trata-se de uma iniciativa lançada
em 2006 pela UNESCO, com vista a apoiar os Estados-membros no diagnóstico holístico sobre a situação
do contexto profissional e social do professor em diversas questões relacionadas com a docência.
O Estudo Holístico sobre a Situação dos Professores resulta da aceitação da solicitação de adesão
à iniciativa feita pelo Ministério da Educação à Directora-Geral da UNESCO em 2011.
O quarto capítulo, “Gestão dos Professores em Moçambique”, consiste na análise da gestão dos
professores quanto ao recrutamento, colocação, absentismo e deserção na carreira; enquanto o quinto,
embora tenha também a designação “Gestão dos Professores em Moçambique”, reserva-se à análise da
gestão dos professores com foco no estatuto profissional, na remuneração e na carreira docente.
Este Relatório resulta do estudo realizado por uma equipa nacional e multissectorial, envolvendo
técnicos seleccionados intencionalmente, de acordo com as funções e necessidades específicas de cada
capítulo, descritas no guião metodológico. De salientar que o mesmo foi concluído em 2015.
VI
VII
1.1 Introdução.............................................................................................................................1
1.2 Apresentação Geral do País.................................................................................................1
1.3 Contexto Político-Administrativo...........................................................................................2
1.3.1 Contexto político........................................................................................................2
1.3.2 Contexto administrativo.............................................................................................3
1.3.2.1 Unidades administrativas..............................................................................3
1.3.2.2 Atribuições e funções educativas exercidas pelas unidades administrativas...4
1.3.3 Documentos orientadores da política educativa em Moçambique............................5
1.4 Contexto Demográfico...................................................................................................... ...5
1.4.1 Tamanho e estrutura da população...........................................................................5
1.4.2 Estrutura por sexo e idade.........................................................................................6
1.4.3 Distribuição territorial da população..........................................................................7
1.4.3.1 Taxas de crescimento...................................................................................7
1.4.4 Línguas moçambicanas do grupo bantu, 2007..........................................................8
1.4.5 População economicamente activa...........................................................................8
1.4.6 Indicadores de desenvolvimento humano.................................................................9
1.4.6.1 PIB per capita total segundo unidade territorial............................................9
1.4.6.2 Taxa de analfabetismo, total por sexo e unidade territorial.........................10
1.4.6.3 Taxa de mortalidade infantil, unidade territorial...........................................11
1.4.6.4 Índice de desenvolvimento humano (série histórica)..................................12
1.5 Contexto Macroeconómico e Orçamental...........................................................................13
1.5.1 Distribuição do PIB por ramos de actividade a preços constantes e correntes......13
1.5.2 Principais importações e exportações.....................................................................13
1.5.3 Investimento educacional........................................................................................13
1.5.3.1 Produto Interno Bruto em preços correntes e constantes..........................13
1.5.3.2 Gasto público em preços correntes, total e % em relação ao PIB por sectores.14
1.5.3.3 Gasto público em educação em preços correntes, total e em % em relação ao
PIB e % em relação ao gasto público total............................................................14
1.5.3.4 Gasto privado / familiar em educação...................................................................16
1.6 Contexto Escolar.................................................................................................................16
1.6.1 Tamanho da população em idade escolar...............................................................16
1.6.1.1 Taxa de crescimento da população em idade escolar.................................16
1.6.2 Projecções de crescimento da população em idade escolar...................................16
1.7 Corpo Docente..................................................................................................................17
1.7.1 Número de professores com e sem formação pedagógica, por província................17
VIII
2.1 Introdução...........................................................................................................................26
2.2 Projecção Sobre a Necessidade de Professores para o Ensino Primário do Primeiro
Grau (EP1).........................................................................................................................26
2.2.1 Projecção da população em idade escolar do ensino primário do primeiro grau
EP1.........................................................................................................................27
2.2.2 Projecção linear das principais variáveis da educação para uma taxa de
admissão universal no EP1.................................................................................................27
2.2.3 Número de professores necessários no EP1..........................................................28
2.3 Projecção Sobre a Necessidade de Professores para o Ensino Primário do Segundo
Grau (EP2)..........................................................................................................................30
2.3.1 Projecção da população em idade escolar para o ensino primário do segundo
grau (EP2)...............................................................................................................31
2.3.2 Projecção linear das principais variáveis da educação no ensino primário do
segundo grau (EP2)................................................................................................31
2.3.3 Projecção de professores para o ensino primário do segundo grau (EP2)....................32
2.4 Projecção das Necessidades de Professores para o Ensino Secundário Geral do
Primeiro Ciclo (ESG1).........................................................................................................34
2.4.1 Projecção da população em idade escolar para o ensino secundário geral do
primeiro ciclo (ESG1)..............................................................................................34
2.4.2 Projecção linear das principais variáveis da educação para o ensino
secundário geral do primeiro ciclo (ESG1)..............................................................35
IX
3.1 Introdução...........................................................................................................................45
3.2 Historial da Formação de Professores em Moçambique....................................................45
3.2.1 Período transitório de formação de professores (1975 - 1976)................................45
3.2.2 Período de consolidação da formação de professores para o SNE (1977-
1991).......................................................................................................................46
3.2.3 Período de reforma do SNE e de reconstrução da rede escolar (1992 à
presente data).........................................................................................................47
3.3 Perfil de Formação dos Actuais Professores em Exercício................................................47
3.3.1 Relação candidato-vaga no ingresso aos institutos de formação de
professores..............................................................................................................49
3.3.2 Construção de modelos de formação de professores em Moçambique.................50
3.3.3 Procedimentos de admissão aos institutos de formação de professores do
ensino primário........................................................................................................55
3.3.4 Duração dos cursos de formação inicial..................................................................55
3.3.5 Programa de formação............................................................................................55
3.3.6 Modalidades de ensino e supervisão durante a formação inicial............................55
3.3.7 Procedimentos de avaliação e certificação dos docentes que concluem a
formação inicial........................................................................................................56
3.3.8 Vínculo (relação) entre formação contínua e carreira docente................................57
3.4 Conceitos Essenciais Usados no Tratamento da Formação em Exercício.........................57
3.5 Formação em Exercício para o Ensino Primário.................................................................58
3.6 Situação dos Professores Quanto à Formação Profissional...............................................61
3.7 Principais Constatações......................................................................................................64
4.1 Introdução............................................................................................................................65
4.2 Análise de Procedimentos de Recrutamento e Colocação de Professores........................65
4.2.1 Constituição da Relação de Trabalho no Estado....................................................65
4.3 Demanda de Docentes........................................................................................................67
4.4 Critério de Contratação do Docente Eventual.....................................................................68
4.5 Procedimentos do Processo de Contratação do Pessoal Docente.....................................69
4.5.1 Processo de Contratação e Colocação de Professores............................................69
4.6 Responsabilidade dos Intervenientes..................................................................................70
4.7 Análise de Mecanismos de Controlo de Assiduidade e Absentismo...................................73
4.8 Análise e Controlo de Abandono (Mobilidade) na Carreira Docente...................................74
4.9 Considerações e Conclusões..............................................................................................77
XI
6.1 Introdução.........................................................................................................................106
6.2 Análise de Satisfação/ Insatisfação dos Professores (Salário, Ambiente de Trabalho,
Auto-Estima e Autonomia Profissional).............................................................................106
6.3 Satisfação de Professores Vis-à-Vis a sua Situação Profissional.....................................108
6.4 Causas da Insatisfação Profissional Docente...................................................................108
6.4.1 Situação Salarial....................................................................................................109
6.4.2 Condições de trabalho (rácio aluno-professor ).....................................................110
6.4.3 Falta de material didáctico e sua qualidade...........................................................111
6.4.4 Discrepância na mudança de classe em relação à experiência profissional.........111
6.4.5 Pagamento das horas extras.................................................................................112
6.5 Análise do Contexto Social (Inserção, Prestígio Social e ser Cidadão Confiante e
Responsável).....................................................................................................................113
6.6 Análise de Satisfação dos Mecanismos de Diálogo Social (Sindicalização de Professores,
Reconhecimento pelas Autoridades).................................................................................114
6.7 Considerações e Conclusões............................................................................................116
7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES...................................................................................117
8. BIBLIOGRAFIA............................................................................................................................122
9. ANEXOS.......................................................................................................................................130
XII
XIII
XIV
LISTA DE FIGURAS
XV
XVI
XVII
1.1 Introdução
A Qualidade de Educação de um país deve ser estudada, analisada com profundidade e numa
esfera globalista. Ao perspectivar o desbravar dos caminhos que nos conduzem à assunção da condição
do Professor em Moçambique há necessidade de tomar como ponto de partida, o que define Moçambique
em termos socio- económicos, políticos, demográficos e culturais.
O presente capítulo apresenta o contexto geral do país e relaciona o contexto escolar com a
situação demográfica, político-administrativa, macroeconómica e orçamental. Nos contextos abordados
explora-se a situação do corpo docente em termos de formação profissional e a taxa de crescimento da
população em idade escolar, o que concorre para a concretização da Política Educativa e flexibilização do
esquema de correspondência entre as unidades administrativas e órgãos do Estado.
Moçambique situa-se na faixa Sul-Oriental do Continente Figura 1.1: Divisão Administrativa de Moçambique
• A planície do litoral, que ocupa a grande parte do território (40 %), é a região natural onde se
observa a maior concentração da população;
• Os planaltos, com altitudes que variam entre 200 e 1.000 metros;
• Os grandes planaltos e montanhas, que ocupam uma pequena parte do território nacional, com
altitudes superiores a 1.000 metros. Do ponto de vista da distribuição geográfica da população, já
que não constituem uma superfície contínua, não oferecem grandes obstáculos para assentamentos
humanos.
Segundo o Estatuto Orgânico, aprovado pelo Ministério da Função Pública em Maio de 2011,
o MINED está estruturado em 14 unidades orgânicas, cinco departamentos autónomos e tem quatro
instituições subordinadas e quatro tuteladas. São unidades orgânicas do MINED: Inspecção-Geral da
Educação, Direcção Nacional do Ensino Primário, Direcção Nacional do Ensino Secundário, Direcção
Nacional do Ensino Técnico-Profissional, Direcção Nacional de Alfabetização e Educação de Adultos,
Direcção Nacional de Formação de Professores, Direcção de Gestão e Garantia da Qualidade, Direcção
de Administração das Qualificações, Direcção de Programas Especiais, Direcção para a Coordenação
do Ensino Superior, Direcção de Planificação e Cooperação, Direcção de Recursos Humanos, Direcção
de Administração e Finanças e Gabinete do Ministro. Os departamentos do MINED são os seguintes:
Departamento de Educação Especial, Departamento de Gestão do Livro Escolar e Materiais Didácticos,
Departamento Jurídico, Departamento de Tecnologias de Informação e Comunicação e Centro de
Documentação.
Ao nível das províncias existem as Direcções Provinciais de Educação e Cultura (DPEC) e nos
distritos, os Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia (SDEJT). Estas entidades são
responsáveis pela gestão local do sistema de educação, desde a abertura de escolas primárias até à
colocação e movimentação de professores.
As responsabilidades do sector da educação são assumidas pelos vários intervenientes em função de
quatro grandes actividades, a saber:
• Educação e formação;
• Investigação e desenvolvimento curricular;
• Gestão e planificação;
• Controlo, supervisão e regulação.
A responsabilidade pela administração dos serviços de educação e a gestão dos recursos humanos,
materiais e financeiros é cada vez mais descentralizada até ao nível das escolas e das instituições com
crescente autoridade financeira e poder de decisão.
De acordo com a Lei dos Órgãos Locais (Lei 2/97, de 18 de Fevereiro), os municípios devem
responsabilizar-se pelo financiamento e pela gestão das escolas primárias, observando as regras
estabelecidas para a gestão dos recursos do sector público. No entanto, este procedimento ainda está
a ser implementado, pois, em 2011 foi iniciada a transferência das competências de gestão das escolas
primárias para o Município da Cidade de Maputo e será estendido aos restantes municípios do país, nos
próximos anos.
PROVÍNCIA DPEC
DISTRITO/
SDEJT
MUNÍCIPIO
LOCALIDADE ZIP
POVOADO/ ESCOLA
BAIRRO
O SNE estrutura-se em três tipos de ensino: ensino pré-escolar; ensino escolar e ensino extra-
escolar. O ensino pré-escolar é realizado em creches e jardins-de-infância, para crianças com idade
inferior a seis anos, como complemento da acção educativa da família. O ensino escolar compreende
o ensino geral (eixo central do SNE), o ensino técnico-profissional e o ensino superior. O ensino extra-
escolar engloba actividades de alfabetização e de aperfeiçoamento e actualização cultural e realiza-se
fora do sistema regular de ensino.
Grande parte de especialistas ligados às estatísticas populacionais tem começado por analisar
e, posteriormente, caracterizar a estrutura da população por sexo e idade, pelo facto de, em termos
socioeconómicos, cada segmento etário e sexual demandar necessidades e serviços diferentes.
Deste modo, é sempre imperioso caracterizar o número total de habitantes relacionando-o com outras
variáveis demográficas, principalmente “sexo” e “idade”, dada a sua inevitável importância, tanto no
estudo de outras variáveis tais como a mortalidade e fecundidade, assim como para a planificação do
desenvolvimento socioeconómico.
Para o caso de planificação da oferta de serviços na área de educação, os dados da população
por sexo e idade são indispensáveis na medida em que contribuem, de uma forma significativa, para dar
respostas à demanda de serviços necessários para oferecer uma educação de qualidade.
Dependendo do tipo da estrutura por sexo e idade da população, a pressão pela procura dos
serviços na área de educação tem sido diferente de país para país. Por exemplo, os países que apresentam
elevadas taxas de fecundidade tendem a ter uma população maioritariamente jovem, representando
um desafio para responder à demanda dos serviços educacionais, que se tem caracterizado por ser
elevada. Contrariamente, nos países onde as taxas de fecundidade são baixas, a população tem sido
maioritariamente adulta ou velha, e a pressão sobre os serviços de educação é menor e, em contrapartida,
a prioridade passa a ser o desenvolvimento do sector de apoio à velhice e da saúde.
Dados do Ministério da Saúde (2013) indicam que Moçambique tem conhecido rápido crescimento
da população como resultado das elevadas taxas de fecundidade que se mantiveram quase constantes
ao longo dos últimos anos e da diminuição das taxas de mortalidade. A tabela 1, em anexo, apresenta a
distribuição da população moçambicana por idade e sexo durante o período que vai de 2007 a 2017. É de
referir que a população de 2007 corresponde aos resultados do Recenseamento Geral da População e
Habitação 2007, enquanto a dos anos de 2012 e 2017 são projecções da população (INE, 2010).
A evolução da estrutura da população em Moçambique pode ser resumida em três grandes grupos de
idade:
■ O grupo dos jovens (0-14 anos), representando 45.6% da população em 2007; 45.2% em 2012;
44.5% em 2017;
Como se pode depreender, a tendência dos 15-64 anos é crescente, enquanto dos 65 anos para
diante, é estacionária. Este comportamento da evolução da estrutura etária da população no período em
referência explica a elevada taxa de dependência demográfica, que mostra que, em cada 100 indivíduos
de idades de 15-64 anos, existem 93 indivíduos de 0-14 anos e de 65 anos para diante, isto é, os que
devem ser suportados por aqueles que estão em condições de trabalhar (INE, 2013).
Olhando para a variável “sexo” de modo geral, mais de 50% da população nos três anos de
referência correspondem a do sexo feminino, isto é, 51.9%, 51.8% e 51.7% da população em 2007, 2012
e 2017 respectivamente são do sexo feminino, cabendo o resto à população masculina.
Olhando para a densidade populacional, Maputo Cidade, com 300km2, concentra cerca de 3
705 habitantes por km2 em 2007, 3 980 em 2012 e perspectivando-se 4 244 habitantes km2 em 2017,
enquanto Niassa, com a maior superfície ao nível do País apresenta 9, 11 e 14 habitantes por km2 em 2007,
2012 e 2017, respectivamente. De um modo geral, as províncias do litoral concentram maior densidade
populacional em relação às do interior do País.
As línguas mais faladas em Moçambique, com excepção da língua portuguesa, são Emakhuwa,
Xichangana, Cisena e Elomwe. A língua Emakhua é falada por 28.9% dos 11,194,514 habitantes da zona
rural, enquanto, dos 5,176,255 residentes da área urbana apenas 17.8% falam a língua. Xichangana é
falada por 10.5% da população total e 15,4% da população urbana do país. Cisena é mais falada nas
zonas rurais (8.4%) relativamente às urbanas (4.6%). O Elomwe é apenas falado por 8.7% da população
rural. As outras línguas como Ciyao, Kimwani, Shimakonde, Coti, Cinyanja, Cimanika, Chitwe, Echuwabo,
Cindau, Bitonga, Chichopi, Xirhonga e Xitshwa são faladas em diversas províncias, notando-se a sua
predominância por regiões Norte, Centro e Sul (ver tabela1.10, em anexo).
Em Moçambique, a população economicamente activa (PEA) regista uma rápida expansão como
resultado do rápido crescimento da população. Esta expansão, muitas vezes, supera a capacidade de
absorção laboral do sistema económico. Este desequilíbrio tem sido particularmente sério nas áreas
urbanas, onde o crescimento natural da população tem sido acelerado pelas imigrações de origem rural,
um problema que tem como consequência o desemprego.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma medida comparativa usada para classificar
os países pelo seu grau de desenvolvimento humano e para distinguir os países desenvolvidos
(desenvolvimento humano muito alto), em desenvolvimento (desenvolvimento humano médio e alto) e
subdesenvolvidos (desenvolvimento humano baixo). A estatística é composta a partir de dados sobre a
taxa de mortalidade infantil, a esperança de vida ao nascer, a educação, o produto interno bruto (PIB) e a
taxa de escolarização.
Para avaliar a dimensão da educação, o cálculo do IDH considera dois indicadores: a taxa de
analfabetismo e a taxa de escolarização. A esperança de vida ao nascer avalia a longevidade e mostra a
quantidade de anos que uma pessoa nascida num determinado ano de referência pode viver. O PIB indica
a distribuição da riqueza, enquanto a taxa de mortalidade infantil está associada às condições ambientais
e socioeconómicas, daí que o seu valor serve para qualificar o nível de desenvolvimento socioeconómico
e o estado de saúde de uma população.
O PIB representa a soma (em valores monetários) de todos os bens e serviços finais produzidos
num determinado espaço geográfico (região, país, estado, província, etc.) durante um período determinado
(mês, trimestre, ano, etc.). O PIB é um dos indicadores mais utilizados na macroeconomia com o objectivo
de medir a actividade económica de uma dada região.
O PIB per capita é a produção interna bruta individual e é calculado pelo quociente entre o PIB e
a quantidade de habitantes de uma região. Embora não tenha em consideração a distribuição desigual
da riqueza, observando a Tabela 1.1, é notória a flutuação da distribuição da renda em Moçambique
durante o período que vai de 2007 (394 USD) a 2011 (580 USD), pois, no período intermédio, oscilou com
tendência decrescente de 469 USD em 2008, 439 USD em 2009 e 426 USD em 2010. Esta flutuação,
particularmente em 2010, deveu-se à crise económica internacional.
Esta tendência também se verifica ao observar o PIB per capita por regiões, com excepção da
região Sul, onde o crescimento é notório, de 808 USD em 2007 para 1165 USD em 2011.
Saber ler e escrever em qualquer língua (isto inclui escrever e ler correctamente uma frase e fazer
o básico de cálculo aritmético, isto é, o mais elementar) é considerado como uma condição essencial para
integração adequada dos indivíduos dentro da sociedade. Deste modo, muitos países em desenvolvimento,
onde os níveis de analfabetismo são considerados elevados, têm tentado superar o problema, através de
programas de alfabetização de adultos.
No que diz respeito à luta pela diminuição do número de pessoas que não sabem ler e nem escrever,
Moçambique, desde que ficou independente em 1975, tem estado a desenvolver amplos programas de
educação no geral, assim como programas específicos de educação de adultos. Como resultado deste
esforço, os níveis de analfabetismo têm vindo a diminuir substancialmente, como se pode verificar na
tabela 1.2, na qual os dados mostram que de 1997 a 2007, a taxa de analfabetismo no país diminuiu em
cerca de 10 pontos percentuais, ao passar de 60.5% em 1997 para 50.3% em 2007.
Entre as províncias, há bastante variação nas taxas de analfabetismo: de 66.6% em Cabo Delgado
a 9.8% em Maputo Cidade. Em geral, nas províncias da região Sul as percentagens são inferiores se
comparadas com as das regiões Norte e Centro. Esta situação manteve-se durante o período de 10 anos
que separa os dois censos (1997 e 2007).
Ainda de acordo com a mesma tabela, as taxas de analfabetismo tendem a ser mais baixas nas
áreas urbanas e, por isso, pode dizer-se que um dos determinantes da percentagem de analfabetos é o
nível de urbanização da província, daí que, quanto maior for o nível de urbanização, menor é a prevalência
de analfabetismo.
Taxas de analfabetismo
1997 2007
Área de residência e província Total Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres
Total 60.5 44.6 74.1 50.3 34.5 64.1
Área de residência
Urbana 33.0 19.4 46.2 25.0 14.2 35.4
Rural 72.2 56.4 85.1 62.8 45.3 77.4
Província
Niassa 69.0 52.2 84.2 61.0 44.6 76.3
Cabo Delgado 75.0 60.0 88.5 66.6 50.8 80.9
Nampula 71.7 56.7 85.9 62.3 46.5 77.4
Zambézia 70.3 53.2 85.2 66.2 46.7 83.4
Tete 66.8 50.0 81.0 56.2 39.3 71.5
Manica 57.7 38.5 73.9 43.0 23.8 59.6
Sofala 56.2 35.9 74.8 43.4 23.0 61.9
Inhambane 54.2 35.1 66.4 41.3 24.3 52.7
Gaza 52.7 35.8 63.0 38.5 23.5 48.8
Maputo Província 34.3 20.2 45.9 22.0 12.1 30.5
Maputo Cidade 15.0 7.1 22.6 9.8 4.4 14.8
10
A mortalidade infantil é a morte de crianças que não atingiram um ano de vida, por isso, é definida
como sendo a probabilidade de morrer durante o primeiro ano de vida. A mortalidade infantil é um dos
indicadores mais usados na comparação da qualidade dos serviços de saúde entre países ou regiões.
Como já foi referido, o nível de mortalidade infantil está associado às condições ambientais e
socioeconómicas onde as crianças vivem. O seu valor serve para qualificar o nível de desenvolvimento
socioeconómico e a qualidade de vida de uma população, ou seja, quanto menor for o valor de mortalidade
infantil, maior será o nível de desenvolvimento socioeconómico e a qualidade de vida da população do
país ou região e vice-versa. Neste contexto, a maioria dos países em desenvolvimento corresponde aos
que apresentam taxas de mortalidade infantil muito elevadas, pois os seus níveis chegam a ser três a
quatro vezes maiores, se comparados com os dos países desenvolvidos ou até mesmo os de médio
desenvolvimento, sendo a situação mais crítica na África Sub-Sahariana.
Tabela 1.3: Taxas de mortalidade infantil, segundo a área de residência e província, Moçambique 1997-2007
11
As diferenças da mortalidade infantil entre as duas áreas tendem a reduzir bastante, pois, segundo
resultados do Censo de 1997, esta era na ordem de 58.3%. As reduções nas diferenças da mortalidade
infantil revelam que há melhorias nas condições de vida, principalmente das áreas rurais, no que diz
respeito ao consumo de água potável, melhoramento da segurança alimentar, alargamento das campanhas
de vacinação e, consequentemente, a diminuição da prevalência das doenças infecciosas.
Regiões Moçambique
2007 2008 2009 2010 2011
Norte 0.373 0.382 0.383 0.389 0.400
12
O PIB é calculado em três ópticas: de produção, de despesa e de rendimento. Neste caso, faz-se
referência à óptica de produção, na qual se constata a desagregação do PIB por ramos de actividade (ver
tabela 1.11a, em anexo).
Na tabela 1.11b (em anexo) ilustra-se o peso de cada actividade no PIB, verificando-se que, em
Moçambique, a agricultura pesa mais, seguida da indústria manufactureira e serviços de comércio. Em
termos de serviços, as actividades principais são serviços de transportes e actividades imobiliárias. Esta
constatação certifica o descrito anteriormente, ou seja, 69.6% da população moçambicana reside nas
zonas rurais e a sua principal actividade é a agricultura.
De acordo com a tabela 1.12 (em anexo), durante o período compreendido de 2007 a 2011, os
valores dos principais produtos de importação em Moçambique evoluíram de forma crescente, embora se
tenha notado um decréscimo nos anos 2009 e 2010. As importações que mais se acentuaram foram da
Mozal (Fábrica de Alumínios de Moçambique) e de maquinarias.
Quanto às exportações dos produtos principais, destacam-se os lingotes de alumínio, gás natural,
energia eléctrica, camarão, madeira e algodão.
Segundo a tabela 1.13 (em anexo), a evolução dos valores das exportações destes produtos não
foi linear, embora a tendência seja crescente, isto é, houve anos em que se notou um decréscimo.
Tendo em conta o que foi descrito, o PIB representa a soma (em valores monetários) de todos
os bens e serviços finais produzidos numa determinada região (quer sejam países, estados ou cidades),
durante um período determinado (mês, trimestre, ano, etc.). O PIB é um dos indicadores mais utilizados
na macroeconomia com o objectivo de mensurar a actividade económica de uma região.
Na contagem do PIB, consideram-se apenas bens e serviços finais, excluindo da conta todos os
bens de consumo intermédio. Isso é feito com o intuito de evitar o problema da dupla contagem, quando
valores gerados na cadeia de produção aparecem contados duas vezes na soma do PIB. Quando se
procura comparar ou analisar o comportamento do PIB de um país ao longo do tempo, é preciso diferenciar
o PIB nominal do PIB real. O primeiro diz respeito ao valor do PIB calculado a preços correntes, ou seja,
no ano em que o produto foi produzido e comercializado, já o segundo é calculado a preços constantes,
onde é escolhido um ano-base sobre o qual é feito o cálculo do PIB, eliminando assim o efeito da inflação,
13
1.5.3.2 Gasto público em preços correntes, total e % em relação ao PIB por sectores
O gasto público é uma das componentes da despesa interna utilizada para cálculo do PIB e
designa as despesas correntes do Estado, isto é, as despesas com educação, saúde, defesa nacional,
justiça, salários dos funcionários públicos, etc. Não inclui as despesas de capital, nomeadamente, as
despesas com aquisição de máquinas e instalações (que são consideradas como investimento), nem as
transferências efectuadas a título de subsídios de desemprego, abonos de família, entre outros, de forma
a evitar a dupla contabilização. Observando a tabela 1.5 depreende-se que, nos anos 2008, 2009 e 2010,
em Moçambique, a educação foi o primeiro sector prioritário para além da saúde e infra-estruturas.
Tabela 1.5: Gasto público em educação total e em% em preços correntes, Moçambique 2008 – 2010
(valores em 106MT)
Período
Despesa Pública 2008 2009 2010
Governo 65612 100.00 79129 100.00 103037 100.00
Educação 15116 23.04 16673 21.07 19871 19.29
Saúde 7149 10.90 8052 10.18 7965 7.73
Infra-estruturas 9461 14.42 10134 12.81 15364 14.91
Millenium Challenge Account 99 0.15 348 0.44 838 0.81
Agricultura e Desenvolvimento rural 2471 3.77 3648 4.61 3719 3.61
Governação, Segurança, sistema judicial 6255 9.53 7644 9.66 8421 8.17
Outros sectores prioritários 941 1.43 1083 1.37 1165 1.13
Outros 24120 36.76 31547 39.87 45694 44.35
Fonte: Ministério das Finanças (REOE)
Segundo dados do MINED, Direcção de Planificação e Cooperação (DIPLAC) (ver tabelas 1.14a e 1.14b
em anexo), as despesas do sector de educação no período de 2007 a 2012 foram mais elevadas com os
salários dos professores do EP do que com a formação de professores para o mesmo nível de ensino.
A tabela 1.6 ilustra o gasto público em relação ao PIB a preços correntes e nota-se que o peso
da educação sobre o PIB é maior em relação aos outros sectores, o que significa que as despesas do
Governo recaem sobre a educação, seguida de infra-estruturas e saúde. Tendo em conta que a produção
do Governo é avaliada pelas despesas, então a educação é a produção prioritária no Governo.
14
Período
Despesa Pública 2008 2009 2010 2011
Governo 65612 27.30 79129 29.72 103037 32.71 120633 33.02
rural
judicial
15
3/12/18 9:09 AM
1.5.3.4 Gasto privado/familiar em educação
Período
Designação 2008 2009
Para além do Governo, as famílias também despendem na educação. De acordo com o Inquérito
aos agregados familiares, realizado pelo INE, existe uma tendência crescente de despesas naquilo que é o
serviço de educação privada comparativamente com o serviço de educação público (tabela 1.7: despesas
das famílias em educação).
Em termos globais, a taxa de crescimento da população em idade escolar, tanto na área urbana
como rural, para rapazes e raparigas, cresce na proporção inversa à idade, isto é, a taxa diminui à medida
que a idade aumenta, sobretudo no intervalo dos 11-12 anos. Este comportamento da taxa de crescimento
da população em idade escolar pode ser devido ao crescimento da rede escolar, factor que aumenta a
oferta do ensino aos seis anos de idade (ver tabela 1.8).
No que concerne à análise da taxa de crescimento da população escolar por regiões, verifica-se o
seguinte:
■ Na Região Norte, em termos globais, a taxa diminui à medida que a idade aumenta, em
cerca de um dígito, com maior incidência na faixa etária dos 11-12 anos. Nesta região,
porém, verifica-se maior ingresso de raparigas no intervalo dos 6-10 anos, mas maior
16
1.7.2 Rácio alunos - professor por unidade territorial, nível educativo e sexo nos últimos
dez anos
Segundo um documento da DNFP (MINED, 2012), regista-se, nos últimos anos, uma grande
redução do número de alunos por turma (RAP), ou seja, no EP1, o sistema já chegou a atingir uma média
nacional de cerca de 80 alunos em 2006.
Actualmente, o rácio aluno por professor baixou para menos de 70 alunos. Em 2011, o rácio aluno/
professor foi de 63. O desafio continua para um rácio mais confortável.
17
80
EP1
EP2
70
60
50
40
30
1992
1993
1994
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
1995
2009
2010
1.7.3 Cobertura escolar
18
Total do país 88.0 92.7 83.4 92.2 96.4 88.0 93.8 97.2 90.4
01 C. Delgado 84.3 90.7 78.2 88.3 93.9 82.8 91.0 96.5 85.6
02 Gaza 96.5 96.6 96.3 94.0 93.3 94.7 91.0 89.7 92.3
03 Inhambane 98.6 99.2 98.0 98.0 97.6 98.3 96.7 95.9 97.5
04 Manica 85.5 89.4 81.7 87.4 90.9 84.0 87.7 90.3 85.1
05 Maputo 96.3 96.1 96.4 96.3 95.8 96.8 96.5 95.5 97.5
06 Nampula 75.7 81.3 70.2 81.5 86.5 76.4 83.5 87.8 79.2
07 Niassa 83.3 87.4 79.2 90.3 93.6 87.0 94.1 96.9 91.3
08 Sofala 82.2 88.4 76.2 84.5 90.1 78.9 87.2 92.6 81.9
09 Tete 87.7 91.7 83.8 89.9 93.6 86.4 88.2 90.9 85.5
10 Zambézia 97.5 106.3 89.0 107.2 115.8 98.8 112.2 119.2 105.3
11 C. Maputo 92.4 92.0 92.9 94.1 93.3 95.0 94.0 93.1 94.9
Cont.
Província 2010 2011
HM H M HM H M
Fonte: Calculado com base nos dados do MINED e do INE (Projecções da População e Habitação 2007-2040)
19
A taxa bruta de escolaridade é a proporção entre o total de alunos que frequentam um nível e a
população do grupo etário oficial para frequentar o nível. Os dados da tabela 1.9 mostram que, no global,
a taxa evoluiu positivamente de 113.0 para 115.2 de 2007 a 2011 respectivamente, com excepção da
Zambézia que apresenta uma taxa acima da média. Em 2011, regista-se um decréscimo na taxa bruta de
escolarização.
Total do País 113.0 122.5 103.7 117.9 126.6 109.3 118.5 125.9 111.1
01 C. Delgado 114.1 127.0 101.6 118.9 130.2 107.7 120.5 130.8 110.4
02 Gaza 125.7 127.9 123.6 122.5 123.4 121.7 117.3 117.4 117.2
03 Inhambane 132.0 135.6 128.4 130.0 132.5 127.6 125.8 127.2 124.4
04 Manica 112.8 122.5 103.3 115.0 124.0 106.3 113.4 120.5 106.3
05 Maputo 125.7 127.4 124.0 123.8 124.8 122.7 121.5 122.3 120.7
06 Nampula 98.7 110.3 87.4 106.8 117.8 95.9 108.8 118.3 99.4
07 Niassa 102.8 111.7 94.0 111.0 118.7 103.3 113.4 119.7 107.2
08 Sofala 105.2 116.5 94.2 107.2 117.4 97.1 108.6 118.0 99.3
09 Tete 106.0 114.2 97.9 108.3 115.8 100.9 105.6 111.5 99.7
10 Zambézia 121.7 136.5 107.4 133.7 148.0 119.5 139.1 151.4 126.9
11 C. Maputo 120.9 121.4 120.5 120.8 121.0 120.6 117.2 117.5 116.9
Cont.
Província 2010 2011
HM H M HM H M
Fonte: Calculado com base nos dados do MINED e do INE (Projecções da População e Habitação 2007-2040)
20
A taxa de admissão no EP1 é a proporção entre o total de alunos que frequentam a 1ª classe
pela primeira vez (novos ingressos) e a população com idade oficial para ingressar na 1ª classe (6 anos).
Observando a tabela 1.10, a nível do País, nota-se um crescimento de 64.3 em 2007 a 69.7 em 2011.
Nas províncias, a tendência é oscilatória, embora a Cidade de Maputo (98.9 e 88.5), as províncias de
Maputo (98.4 e 96.5) e Gaza (84.0 e 84.7) de 2007 a 2011, respectivamente, apresentem taxas elevadas
relativamente às outras. Na província de Nampula registaram-se taxas mais baixas (41.2 e 48.3) durante
o período de análise.
Tabela 1.10: Quantidade de vagas oferecidas na rede escolar no Ensino Primário por sexo segundo
a província (taxa de admissão na 1ª classe)
Total do País 64.3 64.7 63.9 66.4 67.2 65.6 67.3 67.9 66.7
01 C. Delgado 62.6 64.7 60.5 66.5 68.1 64.8 68.1 69.1 67.0
02 Gaza 84.0 81.9 86.1 82.8 81.1 84.5 79.4 78.1 80.7
03 Inhambane 75.6 72.9 78.3 77.3 74.8 79.8 76.0 74.9 77.2
04 Manica 60.3 61.6 59.0 60.3 61.4 59.2 60.7 61.2 60.2
05 Maputo 98.4 96.5 100.2 96.9 96.3 97.6 94.1 93.4 94.9
06 Nampula 41.2 41.3 41.2 44.6 45.0 44.3 45.3 45.8 44.8
07 Niassa 66.7 67.4 66.1 67.3 67.6 67.0 72.1 73.0 71.1
08 Sofala 55.3 56.8 53.7 56.8 59.0 54.7 63.8 65.8 61.9
09 Tete 67.6 67.8 67.5 63.1 64.1 62.1 63.3 63.4 63.2
10 Zambézia 64.9 66.6 63.2 73.1 75.6 70.5 74.8 76.6 73.1
11 C. Maputo 98.9 100.1 97.6 95.6 96.2 95.0 91.5 91.5 91.4
Cont.
Província 2010 2011
HM H M HM H M
Fonte: Calculado com base nos dados do MINED e do INE (Projecções da População e Habitação 2007-2040)
21
A taxa de repetição representa a proporção entre os alunos que repetem uma determinada classe
e os alunos matriculados nessa mesma classe no mesmo ano. Observando a tabela 1.11, nota-se um
ligeiro aumento da taxa de repetição no período de 2007 (5.9) a 2011 (6.5), o que significa que menos
crianças tiveram oportunidade de ingressar na escola. As províncias críticas são Maputo (7.0 e 11.9) e
cidade de Maputo (5.2 e 10,9), enquanto as de Tete (4.8 e 6.5) e Cabo Delgado (4.0 e 4.7) apresentaram
menor taxa de repetição.
Tabela 1.11: Taxa de repetição no Ensino Primário, por sexo segundo a província
HM H M HM H M
Total do país 5.9 6.1 5.7 6.5 5.8 7.4
01 C. Delgado 4.0 4.1 3.9 4.7 4.8 4.7
02 Gaza 5.3 5.8 4.8 10.3 11.5 9.2
03 Inhambane 6.8 7.2 6.3 8.4 9.3 7.5
04 Manica 5.3 5.6 5.0 9.4 9.6 9.1
05 Maputo 7.0 7.5 6.4 11.9 13.1 10.7
06 Nampula 5.3 5.4 5.2 6.4 6.5 6.4
07 Niassa 5.2 5.4 4.9 5.7 6.0 5.5
08 Sofala 5.6 5.8 5.4 6.1 6.1 6.1
09 Tete 4.8 5.0 4.6 6.5 6.7 6.2
10 Zambézia 7.9 7.9 7.9 7.9 8.0 7.9
11 C. Maputo 5.2 5.8 4.6 10.9 12. 9.5
Fonte: MINED
1.7.6.2 Taxa de abandono nos últimos dez anos, por sexo segundo a província
A taxa de desistência anual é a diferença entre os alunos matriculados no início do ano lectivo e os
alunos que chegaram ao fim do ano lectivo, o resultado é dividido pelos alunos matriculados no início do
ano, multiplicado por 100. Observando a tabela 1.12 a nível do País, a taxa de abandono foi estacionária
de 2007 a 2008 (7.2). De 2009 a 2010, nota-se uma subida de 7.6 para 9. E, fazendo uma análise por
província, nota-se que Tete (13.1, 10.7, 12.4, 14.0) e Niassa (10.8, 9.6, 13.0, 13.4) apresentam taxas
elevadas, enquanto Maputo Cidade (2.8, 3.2, 3.0, 3.4) tem as mais baixas taxas de 2007 a 2010.
22
Fonte: MINED
Nos inquéritos realizados pelo INE, incluem-se perguntas que permitem obter a percepção
dos alunos sobre as condições das infra-estruturas escolares, disponibilidade de material escolar e de
professores, entre outros aspectos. Os questionários têm sido de respostas múltiplas e, por isso, as
percentagens de cada alternativa representam um universo independente. Isto quer dizer que não se deve
somar as percentagens das alternativas.
A taxa de conclusão é a relação entre os alunos graduados de cada nível de ensino e a popu-
lação com idade oficial de graduação nesse nível de ensino, multiplicado por 100. Observando a tabela
1.14, é notória a oscilação desta taxa tanto no EP1 como no EP2, no período que vai de 2007 a 2010.
No EP1, a taxa oscilou de 72.6 em 2007, 78.8 em 2008, 70.8 em 2009 e 63.5 em 2010, enquanto no
EP2, de 46.0 em 2007, a taxa evoluiu para 54.5 em 2008, baixou para 48,0 em 2009, e subiu para 49.6
em 2010. A mesma leitura pode ser feita observando os dados por província, sendo a Província de Ma-
puto e a Cidade de Maputo que maiores taxas apresentam.
Total do país 80.0 65.1 72.6 52.6 39.4 46.0 84.6 73.0 78.8 60.9 48.0
01 C. Delgado 79.8 55.7 67.7 48.9 28.0 38.4 74.9 55.6 65.3 54.9 34.5
02 Gaza 64.4 75.3 72.4 45.6 50.3 47.9 80.7 93.5 87.1 51.4 61.0
03 Inhambane 88.7 89.3 89.0 62.0 62.1 62.1 96.7 101.3 99.0 70.6 71.9
04 Manica 84.5 65.0 74.6 64.5 40.3 52.3 100.1 81.1 90.5 78.4 48.2
05 Maputo 103.9 112.9 108.4 81.2 92.7 86.9 107.9 114.5 111.2 96.5 111.3
06 Nampula 72.2 51.3 61.8 42.7 24.3 33.5 75.2 57.7 66.6 47.7 30.0
07 Niassa 69.3 50.7 60.0 46.4 28.6 37.4 84.5 68.2 76.4 56.3 39.0
08 Sofala 89.7 68.7 79.2 63.2 44.2 53.7 90.8 71.1 81.0 70.0 49.8
09 Tete 73.2 56.5 64.9 47.7 30.5 39.1 77.2 66.1 71.7 53.8 37.7
10 Zambézia 72.7 47.2 60.0 37.9 20.8 29.3 75.6 54.1 65.0 45.0 25.9
11 C. Maputo 117.5 126.3 121.8 119.4 135.5 127.3 110.9 119.7 115.2 139.5 160.6
Cont.
Província 2009 2010
EP1 EP2 EP1 EP2
H M HM H M HM H M HM H M
Total do país 76.8 64.8 70.8 53.2 42.0 48.0 71.3 61.7 63.5 53.9 45.4
01 C. Delgado 75.7 55.1 65.3 50.9 33.8 42.3 68.6 52.1 60.2 43.2 30.8
02 Gaza 83.3 90.5 86.9 49.9 58.5 54.3 74.9 82.1 78.5 53.8 63.7
03 Inhambane 100.7 100.9 100.8 68.5 70.4 69.5 90.1 93.1 91.6 77.6 31.0
04 Manica 81.5 68.7 75.1 60.2 42.4 51.2 74.9 62.4 68.6 53.8 42.4
05 Maputo 94.0 96.4 95.2 69.2 76.2 72.8 88.3 93.7 91.0 78.1 85.8
06 Nampula 68.0 51.6 59.8 43.1 28.0 35.5 65.0 50.5 57.7 42.9 30.3
07 Niassa 66.1 54.1 60.1 47.2 35.4 41.3 56.9 48.6 52.8 41.2 31.2
08 Sofala 78.7 60.9 69.7 65.5 47.5 56.4 75.0 58.6 66.7 66.0 48.6
09 Tete 62.5 52.9 57.7 39.2 28.3 33.7 57.1 50.8 53.9 39.3 29.5
10 Zambézia 73.0 52.8 62.9 46.6 27.9 37.1 69.9 52.1 61.0 46.2 29.4
11 C. Maputo 99.8 101.0 100.4 91.7 100.5 98.4 90.7 96.7 93.7 102.4 114.3
Fonte: MINED
24
1.8 Conclusão
Este capítulo permite-nos concluir que Moçambique possui uma população jovem (45,6% em 2007)
e com elevada percentagem de população activa (51,3% em 2007). O elevado crescimento populacional
faz com que a estrutura por idade seja muito jovem, trazendo assim, inevitavelmente, como consequência
imediata, grandes desafios no campo de educação, principalmente na primária, que é reflectida por
número insuficiente de salas de aulas e de professores em cada ano lectivo.
A esperança de vida ao nascer tem vindo a crescer nos últimos anos (de 50,9% em 2007 para
52,8% em 2012) e, em contrapartida, a taxa global de fecundidade tem vindo a decrescer (5,7% em 2007
e 5,5% em 2012).
A maior parte da população (cerca de 70% em 2007) concentra-se nas zonas rurais, havendo
uma tendência de redução desta percentagem nos últimos anos. Outrossim, 75,2% da população
economicamente activa em 2007 ocupava-se da agricultura. Quanto ao PIB a preços correntes, o peso da
educação é maior em relação aos outros sectores, embora esteja a decrescer, uma vez que em 2008 foi
de 23,04%, em 2009 correspondeu a 21,07% e em 2010 decresceu ainda para 19,29%.
As despesas do sector de educação no período de 2007 a 2012 foram mais elevadas com os
salários dos professores do EP do que com a formação de professores para o mesmo nível de ensino.
A taxa de repetição revela que, em Moçambique, a tendência é de se agravar, uma vez que em
2007 foi de 5,9 e em 2011 correspondeu a 6,5, sendo que as províncias de Maputo (11,0) e Gaza (10,3)
apresentavam as taxas mais altas, e Cabo Delgado (4,2%) e Niassa (5,7%) as mais baixas.
A taxa de conclusão apresenta oscilações entre 2007 e 2010. No EP1, esta taxa oscilou de 72,6
(2007), 78,8% (2008), 70,8% (2009) a 49,6% (2010). No EP2, a taxa oscilou de 46,0% (2007), 54,5%
(2008), 48% (2009) a 49,6% (2010). A qualidade da aprendizagem ainda não é a desejável, estando
aquém daquilo que é a expectativa da sociedade.
25
2.1. Introdução
O Plano Estratégico do MINED (2012-2016) aponta que o Sistema Educativo, ao longo dos
últimos anos, tem vindo a introduzir reformas importantes para a melhoria do desempenho com particular
destaque para a introdução do novo currículo, a distribuição do livro escolar, a formação de professores
e de gestores educacionais, entre outras acções (MINED, 2012a). Contudo, há sinais de que a qualidade
do processo de ensino-aprendizagem não está a melhorar. De acordo com o Plano Estratégico (Ibid) o
nível de rendimento escolar dos alunos registou um declínio a partir de 2008, comparativamente aos anos
lectivos precedentes. Tal como foi mencionado no capítulo I existe também uma percepção de que há
muitas crianças que, no fim do 1º ciclo do EP (2ª classe), ainda não conseguem ler e escrever, contrariando
as taxas de aproveitamento na 2ª classe que são relativamente altas. Os resultados do estudo SACMEQ
III (2007) mostram que a maior parte dos alunos na 6ª classe ainda não atingiu as competências básicas
em leitura e cálculo básico.
É indispensável destacar que a população em idade escolar crescerá em todos os níveis a uma
média de 20%, entre 2013 e 2020, facto que mostra o grande desafio do MINED para providenciar
escolaridade a esta crescente população em idade escolar. Ademais, a previsão mostra que, em 2020, só
será possível atingir uma taxa de admissão universal das crianças de seis anos de idade, mas não uma
escolaridade primária universal, pois os níveis de eficiência interna devem ser melhorados. As actuais
taxas de repetição e abandono rondam os 15 e 20%, respectivamente.
Os dados usados nesta análise têm como base o modelo financeiro de projecções “Mozambique
Education Policy Costing Planning Model”, (MECPM), (MINED, 2011), bem como “o guia metodológico
para a análise das questões dos professores” (UNESCO, 2010).
26
2.2.1. Projecção da população em idade escolar do Ensino Primário do primeiro grau (EP1)
Nos próximos 5 anos, a população em idade escolar na faixa etária de 6 a 10 anos crescerá 18%,
dos actuais 3.555.598 para 4.185.012 (ver a tabela 2.1). A taxa de crescimento anual variará dos 3 a 2.5%
de 2015 a 2020 (ver figura 2.1). Este crescimento é resultado da existência de uma população a iniciar
a escolaridade (6 anos) que crescerá de 630.000 em 2013 para cerca de 900.000 em 2020. São estes
parâmetros populacionais, acrescidos dos parâmetros educacionais, que nortearão as estimativas das
necessidades de professores no EP1 e EP2.
Tabela 2.1: População em idade escolar Figura 2.1: Taxa anual de crescimento da
para o EP1 população dos 6 aos 10 anos
Ano 6 anos 6 - 10 anos
2007 632.415 2.967.945
2008 654.998 3.056.955
2009 678.369 3.156.018
2010 701.351 3.262.603
2011 722.831 3.372.931
2012 737.186 3.477.327
2013 733.604 3.555.598
2014 759.179 3.636.226
2015 780.071 3.714.906
2016 801.275 3.793.401
2017 822.444 3.878.704
2018 843.53 3.988.369
2019 861.068 4.090.116
2020 875.005 4.185.012
2.2.2. Projecção linear das principais variáveis da educação para a uma taxa de admissão
universal no EP1
As tabelas 2.2 e 2.3 apresentam os dados históricos e as previsões das principais taxas usadas
nas projecções da necessidade de professores. A necessidade de atingir a escolaridade primária universal
em 2020 significa que a taxa de admissão das crianças aos 6 anos deve sair dos actuais 79% para 100%
(ver tabela 2.2). Tendo em consideração os dados históricos de 2007 a 2013 em que a taxa de admissão
anual cresceu a sensivelmente 2 a 3 pontos percentuais ao ano, as projecções mostram que, mantendo
as condições actuais, é possível atingir a escolaridade primária universal em 2020.
É um pressuposto, nesta projecção que a taxa de abandono escolar reduza dos actuais 22% em 2013
para 10% em 2020 (ver a tabela 2.3). Esta redução pressupõe a tomada de medidas para a melhoria do
nível de eficiência interna do sistema, pois os dados históricos não apresentam tendência decrescente.
27
Taxa de Admissão aos 6 anos 61.7% 64.0% 67.0% 69.7% 69.4% 71.6% 79.3%
Taxa de Conclusão 69.0% 63.9% 63.4% 61.9% 63.3% 64.7% 64.7%
Taxa de Repetição (5a Classe) 12.6% 15.2% 15.1% 15.2% 15.0% 13.6% 13.6%
Taxa de Abandono (5a Classe) 18.4% 20.8% 21.5% 22.9% 21.6% 21.7% 21.7%
Taxa Bruta de Matrícula 132.5% 136.7% 136.3% 136.6% 131.7% 131.1% 132.9%
Rácio Aluno - professor 73 73 64 72 63 63 63
Rácio Aluno - Turma 50 50 50 50 51 51 51
Taxa de Admissão aos 6 anos 79% 82% 85% 88% 91% 94% 97% 100%
Taxa de Conclusão 65% 68% 72% 75% 75% 75% 75% -
Taxa de Repetição (5ª Classe) 14% 14% 15% 15% 15% 15% 15% -
Taxa de Abandono (5ª Classe) 22% 18% 14% 10% 10% 10% 10% -
Taxa Bruta de Matrícula 133% 133% 131% 125% 120% 113% 108% 104%
Rácio Alunos-Professor 63 61 59 58 58 58 58 58
Rácio Alunos-Turma 51 50 49 48 48 48 48 48
Nesta secção, são apresentadas as projecções das necessidades de professores no geral e por
sector, nomeadamente o público, privado e comunitário. Incluem-se também dados sobre a quantidade
de professores a recrutar anualmente, explicada pelas taxas de deserção e pela expansão do sistema de
educação.
As tabelas 2.4 e 2.5 apresentam os dados históricos dos números de professores de 2007 a
2013, bem com as projecções sobre as necessidades de professores até 2020. As tabelas mostram
que, enquanto os dados históricos têm uma tendência a um crescimento acentuado, as projecções são
caracterizadas por um crescimento ténue e com tendência a estabilização.
Assim, de 2007 a 2013, os dados apresentam um crescimento em 50% do número de professores
28
Número Matriculados 4.723.679 4.845.990 4.853.775 4.729.258 4.633.340 4.497.878 4.396.053 4.366.345
(Diurno)
Rácio alunos-professor 63 61 59 58 58 58 58 58
Número de professores 75.482 79.574 81.936 82.105 80.440 78.088 76.320 75.805
Número de professores 77.746 81.961 84.394 84.568 82.853 80.431 78.610 78.079
(Ajustado)
29
A tabela 2.7 apresenta o número de professores necessários por provedor de ensino, nomeadamente,
o público, o comunitário e o privado. Grande parte dos professores do EP1 nos próximos 6 anos estará
ao serviço do ensino público, pois mais de 97% dos alunos matriculados estarão no sector público. Os
sectores privado e comunitário são ainda bastante insignificantes.
Tabela 2.7: Projecção do número de professores necessários por sector de educação supondo RAP
igual
Proporção de matriculados, público, diurno 97.8% 97.7% 97.6% 97.5% 97.5% 97.5% 97.5% 97.5%
Proporção de matriculados, privado, diurno 0.9% 0.9% 1.0% 1.0% 1.0% 1.0% 1.0% 1.0%
Proporção de matriculados, comunitário, 1.3% 1.4% 1.4% 1.5% 1.5% 1.5% 1.5% 1.5%
diurno
Número de Professores, Sector Público 73.789 77.721 79.957 80.053 78.429 76.136 74.412 73.909
Número de Professores, Sector Privado 696 754 798 821 804 781 763 758
Número de Professores, Sector 997 1.099 1.180 1.232 1.207 1.171 1.145 1.137
Comunitário)
Diferentemente do EP1 onde se assume uma taxa de admissão universal aos 6 anos, na estimativa
das necessidades de professores do EP2, foi tomado em consideração que a taxa de admissão do EP1
para EP2 crescerá dos actuais 64% para 75% em 2020. A baixa eficiência interna do sistema no EP1,
altas taxas de repetição e abandono são um dos factores que concorrem para uma taxa de admissão que
ainda não irá atingir os 100% em 2020. Mais adiante, apresentam-se as projecções da população escolar
na faixa etária dos 11 e 12 anos, bem como o comportamento das variáveis utilizadas na projecção das
necessidades de professores.
30
É importante realçar que, na faixa etária 1-12 anos haverá ainda uma percentagem de crianças
fora da escola. A taxa bruta de escolaridade crescerá dos actuais 66% para os 87%, no mesmo período
(2013-2020).
Tabela 2.8: População em idade Figura 2 2: Taxa de crescimento anual da população dos
11 aos 12 anos
escolar para o EP2 (11-12 anos)
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2020 1.519.901
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2.3.2. Projecção linear das principais variáveis da educação no Ensino Primário do segundo
grau (EP2)
31
Tabela 2.9: Principais indicadores da Educação para o EP2 diurno - dados históricos
Taxa de Admissão EP2 64.7% 68.1% 71.6% 75.0% 75.0% 75.0% 75.0% -
Taxa de Repetição EP2 13.6% 14.1% 14.5% 15.0% 15.0% 15.0% 15.0% -
Taxa de Abandono EP2 21.7% 17.8% 13.9% 10.0% 10.0% 10.0% 10.0% -
Taxa Bruta de Matrícula 66.4% 63.7% 65.0% 70.4% 78.2% 87.7% 92.2% 87.4%
Rácio alunos-professor 32 34 36 38 38 38 38 38
Rácio alunos-turma 46 47 47 48 48 48 48 48
Carga Horária semanal - Turma 30 30 30 30 30 30 30 30
Carga Horária Semanal - Professor 24 24 24 24 24 24 24 24
As tabelas 2.11 e 2.12 apresentam os dados históricos dos números de professores de 2007 a 2013,
bem com as projecções sobre as necessidades de professores até 2020. O padrão de comportamento
tanto dos dados históricos como das projecções do EP1 é similar ao do EP2. Observa-se que os dados
históricos têm uma tendência a um crescimento acentuado, enquanto as projecções são caracterizadas
por um crescimento ténue e com tendência à estabilização.
A tabela 2.13 apresenta o número de professores do EP2 a recrutar anualmente e que cresce de
2.062 em 2014 para mais do que o dobro, 5.524, em 2020. À semelhança do EP1, nesta estimativa para
o EP2 foram consideradas a taxa de deserção de professores e a taxa de escolaridade bruta. A taxa de
deserção é explicada por factores como a reforma, doenças (como o HIV) e outras oportunidades de
trabalho resultantes do alto crescimento económico do País.
Taxa de Deserção 10.0% 10.0% 10.0% 10.0% 10.0% 10.0% 10.0% 10.0%
Professores por Substituir 2.127 2.121 2.206 2.428 2.768 3.142 3.360 3.284
Professores a Recrutar - 2.062 3.054 4.648 6.170 6.884 5.536 5.524
33
Tabela 2.14: Distribuição das necessidades de professores por sector da educação do EP2
Proporção de matriculados, público, diurno 97.8% 97.7% 97.6% 97.5% 97.5% 97.5% 97.5% 97.5%
Proporção de matriculados, privado, diurno 0.9% 0.9% 1.0% 1.0% 1.0% 1.0% 1.0% 1.0%
Proporção de matriculados, comunitário, 1.3% 1.4% 1.4% 1.5% 1.5% 1.5% 1.5% 1.5%
diurno
Número de Professores Sector Público 21.268 21.209 22.057 24.277 27.680 31.421 33.597 32.838
Número de Professores Sector Privado 201 206 220 249 284 322 345 337
Número de Professores Sector Comunitário 287 300 326 373 426 483 517 505
A população em idade escolar para o ESG1 crescerá, 23% entre 2013 e 2020, passando de
1.740.777 para 2.150.162 (ver a tabela 2.15). A taxa de crescimento anual evoluirá de 2.5% a 3.6% em
2016/2017, para começar a decrescer em 2018 atingindo o ponto mais baixo em 2018 (ver o gráficos 2.3).
Contudo, somente metade desta população em idade escolar terá possibilidade de estar escolarizada pois
a taxa bruta de escolaridade variará entre 44% em 2013 para 55% em 2020 (ver a tabela 2.16 e 2.17). É
importante destacar que este valor está subestimado, pois este não considera os alunos que estudam no
ensino nocturno nem os que frequentam o ensino à distância. Ainda assim, é importante reflectir sobre
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2020 2.150.602
2.4.2. Projecção linear das principais variáveis da educação para o Ensino Secundário
Geral do primeiro ciclo (ESG1)
As tabelas 2.16 e 2.17 apresentam os dados históricos e as previsões dos principais indicadores
usados nas projecções da necessidade de professores, tendo como metas o crescimento da taxa bruta de
escolarização para 55,4% em 2020, representando cerca de 10% em relação a 2013, a estabilização da
taxa de transição do EP2 – ESG1 em um pouco mais de 50% a partir de 2016 e, também, a estabilização
das taxas de repetição e abandono para, aproximadamente, 10% e 35%, respectivamente, a partir do
mesmo período (ver tabela 2.17). Os dados históricos (2007-2013) mostram que a taxa de transição
para este subsistema decresceu cerca de 10%. Este decréscimo pode ser explicado pela atenção que
o Governo deu e está a dar ao EP no sentido de atingir a escolaridade universal. De acordo com as
previsões, a partir de 2014, este cenário mudaria e cresceria a uma taxa de 4,2% até atingir um máximo
de 53,6% em 2016.
Taxa de Admissão ESG 51,0% 48,2% 48,8% 44,6% 40,7% 41,0% 41,0%
Taxa de Repetição ESG1 19,0% 21,8% 23,1% 24,6% 25,1% 25,6% 25,6%
Taxa de Abandono ESG1 30,0% 30,1% 28,1% 30,8% 34,2% 33,3% 33,3%
Taxa Bruta de Matrícula 35,5% 38,8% 42,8% 45,5% 46,1% 44,8% 44,2%
35
Taxa de Repetição ESG1 25,6% 20,9% 16,2% 16,2% 11,4% 11,4% 11,4% -
Taxa de Abandono ESG1 33,3% 33,8% 34,4% 34,4% 35,0% 35,0% 35,0% -
Taxa Bruta de Matrícula 44,2% 41,9% 39,9% 39,9% 38,7% 40,5% 49,4% 55,4%
Rácio alunos-professor 39 41 42 42 44 44 44 44
O abandono escolar é um dos grandes desafios contra o qual o sector continuará a buscar
estratégias. Entre as causas do abandono escolar, destaca-se a falta de vagas para absorver todos os
alunos interessados em continuar a estudar, as grandes distâncias que muitos alunos têm de percorrer
para encontrar uma escola secundária, a falta de meios financeiros por parte dos pais para custear as
despesas. Tanto os dados históricos como a previsão mostram que, neste nível de ensino, pouco mais
de um terço dos alunos abandona o sistema (ver tabela 2.17). Assume-se que a taxa de repetição reduza
para aproximadamente metade, passando dos actuais 25.6% em 2013 para 11% em 2020 (ver tabela
2.17). À semelhança do EP2, para a redução das altas taxas é necessário desenvolver estudos sobre os
factores que determinam o fraco nível de eficiência interna do sistema, que poderão nortear a formulação
de políticas e medidas para melhorar a situação.
As tabelas 2.18 e 2.19 apresentam os dados históricos e as projecções dos números de alunos
matriculados e de professores de 2007 a 2013, bem como as projecções para o período 2014-2020. Estes
dados, aliados aos rácios alunos–turma, RAP e carga horária semanal do docente são determinantes no
cálculo do número de professores necessários.
36
Número de matriculados 593.264 599.784 627.194 676.073 768.368 888.839 1.021.923 1.166.943
Dados históricos mostram que a população de alunos matriculados no ESG1 cresceu, anualmente,
de 2007-2009, a uma taxa de aproximadamente 15%. Este crescimento foi desacelerando no período
seguinte (2009-2013), atingindo, nos últimos dois anos, taxas de crescimento anuais inferiores a 5%. As
projecções indicam que os números de alunos inscritos neste nível de ensino irão atingir maiores taxas
de crescimento, novamente, a partir de 2016 (taxas de 13,7 a 15,7%). É claro que este crescimento, que
espelha a melhoria do desempenho do sistema no nível inferior, desafia o MINED na provisão de mais
escolas e professores para o ensino secundário.
Afigura-se importante não esquecer que uma parte (significativa) de alunos deste subsistema
estuda no curso nocturno. A proporção de estudantes matriculados no curso diurno, no período de 2007-
2013, variou dos 41 a 43,5%. Prevê-se que esta proporção continue a crescer e se situe muito perto
do dobro em 2020. Portanto, o número de professores previsto para todo o subsistema, considerando
os turnos diurno e nocturno, poderá ser o dobro das necessidades estimadas no curso diurno. Há que
considerar também que o curso nocturno é, em grande parte, suportado pelos mesmos professores do
curso diurno, a um custo relativamente baixo, mas com grandes consequências na qualidade. O número
de horas de contacto no curso nocturno também é relativamente inferior.
Número de Professores
(Ajustado) 7.074 8.466 10.839 9.472 11.526 12.678 13.789
37
Número de professores 13.789 14.344 15.323 16.882 19.186 22.194 25.517 29.139
(Ajustado)
As previsões apontam que o número de professores deverá continuar a crescer a uma taxa anual
de 3,2 a 15,7%, com crescimentos mais acentuados entre os anos 2016-2020. Sublinhe-se que o modelo
estima uma necessidade maior de professores que os estimados pelo MEPCPM.
Tabela 2.22: Previsão de professores por sector, diurno, supondo igual RAP
Tabela 2.23: Necessidades anuais de recrutamento de professores para ESG1 curso diurno, público
Taxa de Deserção 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0% 10,0%
Professores por substituir 1.319 1.360 1.452 1.598 1.816 2.101 2.415 2.758
Professores a recrutar - 1.775 2.367 3.060 3.998 4.948 5.561 6.186
38
De forma semelhante ao ESG1, a estimativa do número de professores para este nível toma como
pressupostos a estabilização das taxas de transição do ESG1 a ESG2 em 80% e a taxa de repetição
em 18%, a partir de 2016. Com estes pressupostos, a taxa bruta de admissão neste nível que, nos
últimos quatro anos, se situa em torno de 19%, irá crescer gradualmente e atingir 25% em 2020. Nos
subcapítulos que se seguem, apresentam-se as projecções da população escolar correspondente a este
nível (16-17 anos), bem como o comportamento das variáveis utilizadas na projecção das necessidades
de professores.
Até 2020, a população em idade escolar na faixa etária dos 16-17 anos crescerá em 25%, ao sair
dos actuais 1.068.822 em 2013 para 1.335.067 em 2020 (ver a Tabela 5-1). A taxa de crescimento anual
variará entre os 2,5 a 3,7 entre 2014 a 2020 (ver gráfico). Desta população, somente 1 em cada 4 jovens
estarão a estudar no ESG2. Os restantes 75% estarão a procura do seu primeiro emprego. É necessário
estabelecer estratégias para absorver esta mão-de-obra crescente no mercado de trabalho.
Tabela 2.24: População em idade Figura 2.4: Taxa de crescimento anual da população em idade
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2.5.2. Projecção linear das principais variáveis da educação para o Ensino Secundário
Geral do segundo ciclo (ESG2)
As tabelas 2.25 e 2.26 apresentam os dados históricos e as previsões das principais taxas usadas
nas projecções da necessidade de professores. Os grandes pressupostos para a projecção são: atingir
em 2020 uma taxa bruta em torno de 25%, estabilizar a taxa de admissão em 80% a partir de 2016 e fixar
39
Nos anos 2012 e 2013, a taxa de transição do ESG1 para o ESG2 manteve-se inalterada em
58,5%. Prevê-se que esta taxa cresça até 2016 num ritmo de 7,2% por ano e se mantenha estável até
2020. Esforços deverão ser feitos no que concerne ao aumento do número de vagas disponíveis neste
subsistema, para que estas metas possam ser alcançadas. Isto significa que, em termos práticos, muitos
professores deverão ser contratados. O País regista as menores taxas de repetição neste subsistema,
com uma taxa histórica máxima de 8,2 registada em 2007. Actualmente, a taxa de repetição ronda os
5,5%, mas isto pode não estar a significar que a outra parte dos alunos conclui este nível de ensino, uma
vez que a passagem aqui é feita por disciplina e alunos com duas ou menos disciplinas em atraso são
estimulados a fazer estas disciplinas como externos nos semestres seguintes. A previsão de uma taxa
de repetição em torno de 18% a partir de 2016 já poderá estar a considerar que alunos, que até agora
poderiam concluir este nível com exames externos, façam parte do sistema, uma vez que, nos últimos
tempos, se tem levantado discussões sobre a eficácia dos exames externos, por causa dos seus altos
custos e dos baixos resultados alcançados pelos alunos.
40
Nesta secção são apresentadas as projecções das necessidades de professores em geral e por
sector, nomeadamente, o público, o privado e o comunitário, para o subsistema do ESG2 incluem-se
também informações sobre o número de professores a recrutar anualmente explicado pelas taxas de
deserção e pela expansão do sistema de educação.
As tabelas 2.27 e 2.28 ilustram o número de alunos inscritos no ESG2 e as previsões até 2020. As
mesmas tabelas mostram que, no ano de 2008, se verificou o maior incremento de professores (38,6%).
Nos últimos anos, a tendência de aumento é de cerca de 17%. Como a tabela 2.27 ilustra, de 2007 a
2013, o número de alunos duplicou. As previsões apontam também para uma duplicação da população
de alunos inscritos, passando de 129.513 em 2013 para 271.932 em 2020. Embora não nas mesmas
dimensões do ESG1, o curso nocturno ainda representa uma parte significativa do total de estudantes
neste ciclo. De 2007 a 2013, a percentagem de alunos a fazer a 11ª e 12ª classes no curso nocturno variou
de 36 a 42%. A previsão mostra que estas percentagens irão cair para 20% em 2020. Este factor deve ser
equacionado na hora de determinar o número de professores para ambos os turnos.
Número de matriculados 133.398 141.448 159.310 182.829 206.773 222.837 244.850 280.090
(Ajustado)
41
Tabela 2.29: Necessidades de professores para o ESG2, diurno público - dados históricos
Tabela 2.30: Necessidades gerais de professores para o ESG2 (diurno, público) - previsão
Note-se que, quanto maior for o número de alunos matriculados e a carga horária semanal da
turma, maior será o número de professores a contratar e, quanto maior for o RAP e a carga horária
semanal do professor, menor será o número de professores necessários. Considerando o período 2013-
2020, o crescimento do número de professores é de aproximadamente apenas metade, mostrando, neste
caso, um crescimento mais estável e possível de se conseguir, sem grandes investimentos para salários
de professores, embora este seja o grupo de professores com mais custos salariais por unidade, uma vez
que o ideal é que sejam professores do nível superior.
As tabelas 2.31 e 2.32 mostram a necessidade do número de professores por sector (público,
privado e comunitário) e as necessidades anuais de recrutamento, tendo em conta que alguma parte de
professores terá que deixar o sistema.
Como o sector público representa mais de quatro quintos em termos de absorção de alunos, maiores
necessidades de professores são para este sector. Há que notar que estas estimativas são estabelecidas
supondo que a carga horária do professor e da turma, e os RAP e alunos-turma são os mesmos. Caso estas
suposições não tenham sentido, há que considerar estes quatro elementos na estimativa de professores
para o privado e comunitário. No cálculo das necessidades anuais de recrutamento, supôs-se uma taxa
de deserção de 10%.
42
Este capítulo apresenta a previsão das necessidades de professores de 2013 a 2020, estimadas
a partir da análise das tendências das variáveis determinantes para a projecção da necessidade de
professores, nomeadamente: população em idade escolar, os indicadores da educação, nos quais
se incluem o RAP, a taxa de admissão e a taxa bruta de escolaridade. A análise é feita por nível de
escolaridade, a partir do EP1 ao ESG2.
As previsões mostram que, até 2020, será possível atingir uma taxa de admissão universal das
crianças de 6 anos de idade, mas não uma escolaridade primária universal, pois os níveis de eficiência
interna devem ser melhorados. Os dados históricos mostram que as taxas de repetição e abandono são
muito altas, 15 e 20%, respectivamente.
A tabela 2.23 apresenta um sumário das previsões das necessidades de professores de 2013
a 2020. Como os dados ilustram, a previsão de professores tem um crescimento acelerado no ESG1
e ESG2, comparativamente aos EP1 e EP2. Por exemplo, no ESG1, o crescimento de 2013 a 2020 é
acima de 100% (13.490 em 2013 e 28.290 em 2020, ver a tabela 2.33). No EP1 e EP2, o crescimento é
de 10 e 35%, respectivamente. Esta diferença é explicada fundamentalmente pela necessidade da rápida
expansão do ESG, no qual taxas brutas de escolaridade são baixas, comparativamente às do EP1 e EP2.
43
Refira-se que, à luz das previsões sobre as necessidades de professores para o EP1, se assume
que a taxa de abandono escolar reduza para metade. Esta redução pressupõe a tomada de medidas para
a melhoria do nível de eficiência interna do sistema, pois os dados históricos não apresentam tendência
decrescente.
É importante salientar que, para o ESG1, as previsões indicam que metade da população da faixa
etária de 13 aos 15 anos, não terá oportunidade de estudar. A taxa bruta de escolaridade variará de 44%
em 2013 para 55% em 2020 (ver tabela 2.17). Face a estas previsões, afigura-se importante reflectir sobre
alternativas de ocupação para a outra metade desta população que estará fora da escola e sem idade para
entrar no mercado de trabalho.
44
3.1. Introdução
Neste capítulo, pretende-se fazer uma resenha histórica sobre a formação do professor em
Moçambique, destacando os modelos que vigoraram desde a proclamação da independência até aos
nossos dias, as acções empreendidas para assegurar a qualidade de formação e, sobretudo, destacar
os principais desafios que o MINED em particular, e o Estado, em geral, têm, em relação à situação do
professor.
Este período foi caracterizado por um esforço gigantesco visando alargar a educação a todos os
moçambicanos. Assim, dos 671.617 alunos matriculados no EP, em 1975, passou-se a 1.276.500 alunos,
em 1976. Esta “explosão escolar” provocada pela nacionalização do ensino registou-se num momento em
que a maioria dos professores estrangeiros e alguns moçambicanos abandonava o país e outros tantos
saíam do ensino. Como solução para esta situação foi necessário admitir para o ensino muitas pessoas
com baixo nível de escolaridade. Era o início da contratação de professores sem formação psicopedagógica
para o Ciclo Preparatório (1º e 2º anos)1 . Ainda neste período, houve extinção das Escolas de Habilitação
de Professores de Posto Escolar, que formavam professores para o EP no tempo colonial. Para fazer face
a esta situação, criaram-se 10 centros de Formação de Professores Primários (CFPP), com a missão de
formar 3.000 professores para 1ª à 4ª classe, por ano e entrada em funcionamento de quatro (4) Centros
Regionais de reciclagem de Professores para o Ciclo Preparatório e Ensino Secundário.
1
O Ciclo Preparatório refere-se ao 1º e 2º anos do 1º nível do Ensino Liceal. Segundo Goméz (1999) o Sistema Educacional Português obedecia
à seguinte estrutura: 1º nível (Ensino Primário de 5 classes), 2º nível (Ensino Liceal dividido em 3 subníveis, a saber: Ensino Preparatório-1º ciclo
de 2 anos, Ensino Secundário-2º ciclo de 3 anos e Ensino Pré Universtário-3º ciclo de 2 anos).
45
Neste período, foram consolidadas as condições de formação de professores nos dez centros
criados no período anterior, aumentando-se o tempo de formação para 2 anos, com o nível de ingresso de
6ª classe para leccionar no EP e 9ª classe, para leccionar no Ensino Secundário. Cria-se a Faculdade da
Educação na Universidade Eduardo Mondlane, para formar professores do Ensino Secundário; o Centro
de Formação de Quadros de Educação em Maputo, para preparar Instrutores para os CFPP e técnicos
da Educação; Escolas de Formação e Educação de Professores (EFEP), em Maputo e na Beira, para
formarem professores do Ciclo Preparatório; Institutos Médios Pedagógicos (IMP), para formar Professores
do EP2, em substituição das EFP; o Instituto Superior Pedagógico (ISP), para formar professores do Ensino
Secundário e ainda o Instituto de Aperfeiçoamento de Professores (IAP), para formação, em Exercício, de
professores do EP de Carreira de DN52 para a de DN4.
Os professores de Educação Física a todos os níveis de ensino foram formados pelo Instituto
Nacional de Educação Física (INEF).
2
Tendo como base o nível académico, o docente pode ser enquadrado na carreira mista ou horizontal.
Carreiras mistas (Docente N1-DN1, nível de licenciatura; Docente N2-DN2, nível de bacharelato; Docente N3-DN3, nível médio de Formação de
Professores, nível geral-12ª classe ou Técnico Profissional), Carreiras horizontais (Docente N4-DN4, nível básico de Formação de Professores ou
46
Os modelos de formação que vigoraram até 2006 graduavam formandos passados dois ou três
anos, afigurando-se este tempo longo, tomando em consideração a velocidade da expansão da rede e
dos efectivos escolares do EP. Segundo o PEEC 2006-10/11, a exigência anual em professores para o EP
para o período de 2006-11 estava calculada em cerca de 10.000, enquanto as instituições de formação de
professores, no seu conjunto, apenas ofereciam cerca de 5000 graduados anualmente (MEC, 2006).
Assim, para suprir as necessidades em professores, o MINED recrutou durante alguns anos professores
sem formação psicopedagógica, acto que tem tido efeitos negativos na qualidade de ensino.
A falta de professores no EP foi agravada, por um lado, pelo aumento de escolas do Ensino Secundário para
onde migraram os professores destinados àquele nível, por outro lado, muitos formadores de professores
para o EP não tinham perfil para este nível de ensino pois, originalmente, foram formados para leccionar
no Ensino Secundário.
E, para melhorar o desempenho do professor na sala de aula, o MINED promove iniciativas tendentes a
apoiar estes profissionais, sem que para tal tenham que abandonar a sala de aula. Dentre essas iniciativas
podem ser citadas as seguintes realidades: a) superação entre professores na ZIP (Zonas de Influência
Pedagógica); b) o programa “CRESCER”, actual Programa de Desenvolvimento Profissional Contínuo
(PDPC) que assiste em estratégias de intervenção na sala de aula.
O plano de estudos deste modelo compreende quatro áreas de formação, a saber: Ciências da
Educação; Comunicação e Ciências Sociais; Matemática e Ciências Naturais e Actividades Práticas e
Tecnológicas. Para além desta divisão, o mesmo está estruturado em dois cursos, um regular e outro
específico. No curso específico, são formados professores de Inglês, enquanto no regular, professores
para leccionarem todas as disciplinas do EP, excepto o Inglês.
Para o 1º Ciclo do ESG, vigorou o modelo de 12ª+1 ano de formação inicial. Quando concluem a sua
47
Ciente de que o curso de 10ª classe mais 1 ano não proporciona ao professor uma formação
sólida para assegurar um ensino de qualidade, o MINED introduziu, em 2012, em testagem, o Currículo
de formação de professores de 10ª classe mais 3 anos.
Estes modelos actualmente em vigor, nomeadamente 10ª mais 1 ano e 10ª classe mais 3 anos têm
o mesmo perfil de saída: professores para leccionar o EP Completo. Neste modelos de formação, o perfil
do graduado é definido a três níveis, nomeadamente:
• Tenha amor à pátria (respeite os símbolos nacionais: bandeira, hino nacional e emblema); e que,
independentemente da religião ou filiação partidária, promova uma cultura de paz, democracia e
justiça;
• Demonstre respeito pelos direitos humanos, em geral, e da criança, em particular;
• Aplique as leis básicas do país, particularmente as relativas à educação e aos procedimentos
administrativos e organizativos inerentes à escola;
• Demonstre ética e deontologia profissionais no exercício das suas funções;
• Promova a protecção e o uso racional de recursos naturais; participe proactivamente nas
actividades sociais e práticas na comunidade, contribuindo para o seu bem-estar e da sociedade;
seja autodidacta, dinâmico, criativo e participe na formação contínua;
• Tenha auto-estima e afectividade equilibradas, que lhe permitam estabelecer vínculos sãos com os
alunos, professores e pessoas da comunidade;
• Participe em acções de prevenção e combate ao consumo de drogas, HIV/SIDA, malária e outras
doenças endémicas;
• Demonstre domínio dos conteúdos e metodologias das disciplinas do Ensino Básico; domine a
estrutura das Línguas Bantu de Moçambique e metodologias de ensino bilingue;
• Conceba planos de aula, conjugando orientações do currículo do Ensino Básico centralmente definido,
integrando o currículo local; identifique as necessidades de aprendizagem e desenvolvimento dos
seus alunos;
• Valorize as experiências dos alunos na organização do processo educativo; promova oportunidades
iguais para todos, em particular para a rapariga, crianças órfãs e vulneráveis e com necessidades
educativas especiais;
• Demonstre capacidade de reflexão sobre a sua prática, modificando os métodos de trabalho para
melhor responder às necessidades de aprendizagem dos alunos;
• Demonstre capacidade de trabalho em equipa, participando na dinâmica da escola, propondo e
desenvolvendo iniciativas individuais e colectivas;
48
Este perfil é também aplicável ao modelo de formação de 10ª classe mais 3 anos, com a
particularidade de ser implementado em regime modular e baseado em competências.
A implementação do modelo tanto de 10ª classe mais 1 ano como de 10ª classe mais 3 anos, nas
instituições públicas como privadas, ( Escola de Professores do Futuro / Ajuda para Desenvolvimento do
Povo para Povo -EPF/ADPP) é garantida por formadores que possuem os seguintes requisitos:
O requisito indicado na alínea c) tem sido dispensado para os casos de professores com uma formação
específica nas áreas de Construção e Manutenção Escolar, Produção Escolar, Educação Visual, Ofícios
e Educação Musical.
A relação entre o número de vagas e o número de candidatos inscritos teve dois momentos históricos.
O primeiro momento marcado pela introdução do modelo 10ª classe mais 1 ano e em vigor desde 2007,
registou muita procura de, por exemplo, 2.000 candidatos, para 300 vagas em média com tendência a
subir sobretudo nas grandes cidades como Beira, Quelimane e Nampula. No segundo momento, há uma
restrição de candidatos pela nota de aprovação na 10ª classe, sendo aceites a candidatos graduados com
a nota mínima de 12 valores. Aqui regista-se, inicialmente, uma redução de candidatos, mas volta a subir
uma vez que são também aceites graduados com a 12ª classe.
Tabela 3.1: Relação entre vagas oferecidas e candidatos à formação docente nos IFP
49
A tabela revela ainda que, dos três anos em análise, apenas em 2010, foram admitidos 92.2%
de um total de 11.812 inscritos, o que significa que o sistema poderia esperar 10.969 novos professores,
caso todos concluíssem o curso com aproveitamento positivo, facto que iria concorrer para a redução
do défice de professores com formação psicopedagógica. A mesma tabela demonstra ainda que apesar,
de em 2011 e 2014 a tendência de procura dos cursos de formação de professores ter sido crescente,
poucos candidatos (37.7 e 23.6%, respectivamente) foram apurados dos exames de admissão tal como
ilustra a tabela 3.1, o que revela que a falta de professores formados poderá perdurar por mais tempo.
As Escolas de Formação de Professores do Futuro (EPF) possuem, igualmente, capacidades variadas,
sendo a mínima de 150 e máxima de 250 formandos. Portanto, considerando a média de 200 formandos,
pode concluir-se que as 11 EPF acolhem, pelo menos, 2.200 formandos por ano.
50
Esta lista dos vários cursos de formação de professores denota a preocupação que sempre existiu
de se dar resposta à situação sociopolítica ligada à explosão escolar. Cada um dos cursos mencionados
contribuiu na formação do pessoal docente, contudo, a substituição de um modelo pelo outro nem sempre
foi precedida de um estudo técnico que comprovasse a sua obsolência em relação ao momento da sua
vigência, daí que não é possível destacar as fraquezas de nenhum deles.
Para o 1º Ciclo do ESG, vigorou o modelo de 12ª classe mais 1 ano de formação inicial. Quando os
formandos concluem a sua formação neste modelo, qualificam-se como professores do Ensino Secundário
Geral do I Ciclo, mas integrados na categoria de docente de N3 e habilitados a leccionar da 8ª à 10ª
classe.
Com a introdução destes modelos, pretendia-se assegurar uma oferta mais rápida de professores
com formação sem descurar a dimensão da qualidade de formação tendo em conta que destes modelos
deve nascer a classe moçambicana de futuros docentes. Daí o destaque atribuído à formação em exercício
e contínua que asseguram um aperfeiçoamento permanente de professores sem que estes abandonem os
seus alunos para frequentar a formação em regime presencial. Apesar de serem cursos de duração curta
na formação presencial, os modelos ora aprovados apresentaram a vantagem de fornecer ao sistema, e
em pouco tempo, professores com preparação psicopedagógica, o que contribuiu significativamente para
a redução do número de professores recrutados sem formação.
51
Cabo Delgado 2 1 3
Niassa 2 1 3
Nampula 2 2 4
Zambézia 4 1 5
Tete 3 1 4
Manica 1 1 2
Sofala 2 1 3
Inhambane 3 1 4
Gaza 1 1 2
Maputo 3 1 4
Maputo Cidade 1 0 1
Total geral 35
Estes modelos foram assumidos como transitórios, pois foram adoptados numa situação de
emergência, para dar resposta ao Plano de Educação que preconiza uma Educação de Qualidade para
Todos, uma vez que permitem rápida expansão da rede escolar e, consequente, aumento de efectivos,
aliadas às limitações financeiras.
52
Número de formandos
Anos Instituição 1º ano 2 º ano 3º ano Total
120
100
80
60 Matriculados
Graduados
40
20
-
2010 2011 2012 2013
O gráfico da figura 3.1 revela que o desempenho das Instituições de Formação de Professores foi
muito bom em 2010 e 2011, pois, dos 100% de candidatos matriculados, 94.2 e 96.8%, respectivamente,
foram graduados e, por conseguinte, colocados no mercado de trabalho 17.550 professores recém-
graduados. O mesmo gráfico mostra ainda que, em 2012, houve queda acentuada (45.7%) da procura
do curso de formação de professores para o EP quando comparada com o ano anterior (2011), cuja
realização foi de 100%, apesar de a oferta, em termos de vagas, ter aumentado em 18.7% em relação a
2011, quer dizer mais 1.275 vagas disponíveis.
53
40.000
35.000
30.000
25.000
20.000 Graduados
Contratados
15.000
10.000
5.000
O gráfico da figura 3.2 mostra que o sistema não tem capacidade de absorção de graduados
para fazer face às necessidades de professores para uma rede escolar em constante crescimento, como
resposta ao aumento da população em idade escolar, típico dos países com população jovem. Como se
pode observar no mesmo gráfico, a tendência do número de professores recém-graduados contratados é
decrescente, 91.8, 80.0 e 77.5%, respectivamente, de 2009 a 2011.
Outrossim, os novos professores por contratar preferem colocação nos centros urbanos, onde têm
possibilidade de continuar com os estudos no Ensino Superior, além de aparentes melhores condições
de vida. Esta situação faz com que as zonas rurais continuem a ressentir-se da falta de professores
com formação e a sobrecarregar os poucos existentes com turnos e meio ou horas extras ou a contratar
professores sem formação psicopedagógica.
54
O processo de admissão aos cursos de formação de professores nos IFP inicia com a publicação, ao
nível central, de um edital que contém toda a informação relevante para os interessados, nomeadamente:
Após a realização dos exames de admissão, os mesmos são enviados ao órgão central de
avaliação e certificação designado CNECE- Conselho Nacional de Exames, Certificação e Equivalências,
para efeitos de correcção electrónica. Uma vez corrigidos os exames, procede-se à elaboração de listas de
apuramento por província e instituição, finda a qual as mesmas são homologadas pelo MINED e enviadas
às províncias para efeitos de matrícula.
55
Externamente realizam-se visitas periódicas de supervisão de níveis provincial e central, nas quais
ocorrem actividades diversas, como assistência e avaliação das aulas dos formadores, verificação dos
planos de aulas, dos testes de avaliação e controlo dos resultados alcançados.
O regulamento de avaliação dos cursos em vigor nos IFP estabelece disposições específicas sobre
o sistema e as modalidades de avaliação a usar durante os cursos, nomeadamente:
No final do ano lectivo e mediante os resultados de frequência, os formandos são sujeitos a medidas
de exclusão, admissão ou dispensa ao exame final do curso.
56
• Formação - é uma actividade realizada de modo pré-profissional, com base em diversas áreas
disciplinares, assumindo o carácter teórico e prático, centrada em métodos e sistemas gerais de
ensino-aprendizagem, psicopedagogia e didáctica de indivíduos a exercer futuramente a função
docente de modo a conduzir à integração e transferência dos conhecimentos e habilidades.
• Formação (contínua) em exercício/serviço é a que confere qualificação profissional para a
docência aos professores e educadores profissionais em exercício da função docente e que visa
complementar, actualizar e aprofundar as capacidades e competências inerentes ao exercício da
actividade docente, de quem já possua qualificação profissional para a docência.
• Capacitação é uma actividade realizada para atender docentes em exercício, mas sem
formação, abarcando diversas áreas disciplinares, constituída por noções básicas de ensino-
aprendizagem e/ou métodos e instrumentos temáticos específicos, novos ou aperfeiçoados; é de
carácter prático, que não assenta em conhecimento prévio; mas conduz à aplicação restrita dos
conhecimentos e habilidades, sem conferir possibilidades de progressão na carreira profissional.
• Aperfeiçoamento é acção destinada a professores em exercício, já formados, para efeitos de
actualização no uso dos métodos e instrumentos temáticos específicos, novos ou aperfeiçoados;
é de carácter prático que assenta em conhecimento prévio e pode conferir a possibilidades de
progressão na carreira profissional por acumulação de módulos.
57
A formação em exercício de professores em Moçambique teve o seu início poucos meses após
a proclamação da independência nacional, em 1975, com a criação de CFPP. Estes Centros tinham a
missão inicial de realizar acções de aperfeiçoamento de professores sem formação pedagógica inicial
(designados então professores idóneos), enquanto se criavam condições infra-estruturais e materiais para
o início dos cursos de formação de 6ª classe mais 6 meses, atendendo estudantes do 3º ano do então
curso de Habilitação de Professores do Posto Escolar a quem faltava o último ano do curso.
Os CFP, além de formadores para atender o currículo em vigor, possuíam um corpo de formadores,
variando de 2 a 3 por instituição, que circulavam nos distritos, em escolas consideradas distantes dos
Centros de Formação e apoiavam os professores na planificação e realização do processo pedagógico.
Estes formadores eram designados instrutores itinerantes.
Tanto o primeiro modelo (7ª+3) como o segundo (10ª+2) funcionaram sob tutela e regulamentação
do IAP, com base em Núcleos Pedagógicos instalados em todos os distritos, acompanhados pelos tutores
locais, centralmente capacitados. Esta actividade foi sendo paulatinamente encarregue aos IFP de cada
província.
Os tutores responsáveis pelo acompanhamento dos formandos têm sido escolhidos entre os professores
em exercício, com uma formação pedagógica obtida em instituições de formação de professores (IFP)
ou em universidades que leccionam conteúdos de ciências de educação e com experiência e idoneidade
profissionais comprovadas.
A partir de 2007, os IFP ficaram responsabilizados pelo controlo directo do funcionamento e apoio
aos Núcleos Pedagógicos com base em Núcleos de Formação de Professores (NUFORP) neles instalados.
Cabe aos NUFORP a responsabilidade de controlar as inscrições dos docentes interessados, reproduzir os
módulos e os testes segundo a sua área de responsabilidade territorial, prestar contas sobre a assiduidade
dos cursistas e apoiá-los pedagogicamente durante a implementação do curso.
Fazem parte do conteúdo deste curso 65 módulos das disciplinas cuja designação e número se apresentam
na tabela 3.5.
58
Línguas Bantu 3
Formação Geral Matemática 2
História 2
( 30 módulos ) Geografia 2
Ciência Naturais 4
Educação Musical 2
Tipo Disciplina N.º de módulos
Pedagogia 4
Psicologia 3
Sociologia da Educação 3
59
Periodicamente, ocorrem visitas de supervisão das actividades por parte dos técnicos do IEDA. O
sistema de avaliação consiste na realização de testes escritos e práticos das disciplinas /módulos arrolados,
sendo possível repetir os exames ao máximo de duas vezes nos casos de insucesso na primeira tentativa.
Paralelamente ao modelo de formação em exercício, anteriormente descrito, funciona um outro para
atender também os professores do EP, designado Programa de Desenvolvimento Profissional Contínuo
(PDPC) .
Este Programa teve como antecedentes o Projecto Osuwela, implementado na Província de Nampula com
apoio dos Países Baixos, em 1996. O mesmo resultou da necessidade de capacitar professores do ensino
primário, pois devido à baixa oferta de graduados dos IFP (4.004 em 2005; 6.050 em 2006; 7.899 em 2007
e 7.178 em 2008) o SNE admitia cerca de 6 a 10 mil professores/ano, metade dos quais sem formação
pedagógica inicial.
Para o efeito, a DPEC de Nampula e os seus 21 distritos organizaram acções de capacitação com
apoio das ONG, actuando localmente, mas sem diagnóstico das principais necessidades materiais de
apoio a conceder aos professores e sem clareza do perfil dos formadores responsáveis pela condução ou
facilitação das capacitações.
Esta realidade, não sendo única da Província de Nampula, impôs ao MINED a necessidade
de expandir as experiências deste projecto para o resto do país, concebendo um Programa chamado
“CRESCER”, (Cursos de Reforço Escolar Sistemáticos Contínuos, Experimentais e Reflexivos), baseado
em seis módulos de apoio ao processo de capacitação dos professores, nomeadamente:
Analisado este fluxograma, o MINED constatou haver perda gradativa de qualidade dos resultados,
muitos recursos materiais e financeiros gastos para além da existência de equipas “ad hoc”, que diminuíam
o nível de responsabilidade do processo, não garantindo a sustentabilidade do programa.
Assim, em 2007, o MINED institucionalizou/responsabilizou o funcionamento do PDPC aos IFP, rompendo
com o carácter de projecto que o “CRESCER” dava a entender. Para o exercício cabal do seu papel,
os IFP foram convenientemente equipados de bibliotecas, meios informáticos, reprografias, salas de
capacitação como locais privilegiados de trabalho, de reflexão, de experimentação e de pesquisa.
Paralelamente às acções de capacitação de professores, os IFP também capacitam gestores escolares,
nomeadamente, directores de escola, directores adjuntos pedagógicos, chefes de secretaria das escolas,
técnicos pedagógicos em exercício nos SDEJT ou nas DPEC.
70.000
60.000
50.000
2008
40.000
2009
30.000 2010
2011
20.000
10.000
-
Total PCFP PSFP-HM PSFP-M
61
O mesmo gráfico demonstra também que o número de professores sem formação pedagógica
(PSFP) tende a diminuir pois, de 2008 para 2011, decresceu de 20.617 para 14.748, representando uma
queda de 28.4% e, igualmente, o número de professoras sem formação pedagógica (PSFP-M), facto que
denota melhorias nas práticas de ensino na sala de aula.
No Núcleo
No IFP No IFP
Pedagógico
62
1- O Programa foi bem recebido pelos professores beneficiários, considerando-o oportunidade para
melhorar os seus níveis de desempenho na sala de aula. Contudo, no seio dos professores, ainda
havia pouca clareza sobre a natureza e os objectivos do programa, pois parecia-lhes que se
tratava de mais um projecto, uma vez que não se fazia a menção da ligação que devia existir entre
este e o desenvolvimento futuro da carreira profissional dos beneficiários;
2- A implementação não foi acompanhada de um sistema de acreditação das sessões de capacitação
de forma a permitir que estas tivessem alguma influência na carreira profissional dos participantes;
3- A aplicação do programa de topo à base em regime de cascata, na primeira fase, não permitiu
o envolvimento cabal dos professores, sobretudo nas fases de planificação e na busca dos
problemas reais que os beneficiários enfrentavam, situação que se manteve mesmo depois da
sua descentralização para os IFP;
4- Na filosofia do programa considera-se que este abrange todos os professores em exercício no Ensino
Primário – de 1ª a 7ª classe, mas os materiais contêm conteúdos de estudo não diferenciados para
atender àquele leque de docentes;
5- A implementação das sessões de capacitação nem sempre esteve em correspondência com os
programas de ensino, o que fazia com que sessões como as de leitura e escrita iniciais fossem
dadas no II semestre, quando elas são normalmente dadas aos alunos nos primeiros meses do
ano lectivo;
6- Não havia inclusão dos conteúdos e das metodologias previstas nos programas de capacitação dos
professores em exercício, nos programas metodológicos da formação inicial, de modo a permitir
que os futuros graduados saíssem já com domínio destas metodologias.
63
Recomendações
■ Conceber materiais de apoio pedagógico para a capacitação de professores em exercício,
leccionando em todos os ciclos do Ensino Primário.
■ Conceber materiais de apoio pedagógico para a continuação do curso dos graduados pelo modelo
de 10ª +1;
■ Realizar avaliação global dos modelos de 10ª +1 e 10ª +3, tendo em conta a eficácia, condições
de práticas e estágios pedagógicos e avaliação.
■ Criar uma instituição de certificação e acreditação dos cursos de formação de Professores no
País;
■ Rever a carreira docente em vigor no País de modo a relacionar o conteúdo de formação inicial e
os perfis de carreira docente por níveis e tipos de ensino;
■ Avaliar e rever o modelo de 10ª +2 via ensino à distância, sobretudo nas áreas de estudo, sistema
de monitoria e avaliação.
■ Conceber o sistema de Formação em Exercício de professores do ESG.
64
4.1. Introdução
Estudos feitos pelo Department for International Development (DFID) “Ouvindo os professores”
(S/A: 19) revelam que o recrutamento e a colocação de professores são planificados centralmente, mas
organizados a nível provincial: cada província forma, recruta e afecta os seus professores, devendo-se
observar as metas previamente definidas. Em geral, os graduados que terminam a sua formação numa
determinada província deviam, por obrigação, leccionar nessa mesma província. No entanto, os graduados
retornam para a sua província de origem onde podem deparar-se com problemas para a sua afectação.
65
O contrato produz efeitos a partir da data do visto do TA e não confere a qualidade de funcionário
ao contratado, mas sim de Agente do Estado.
Os docentes contratados podem tomar posse e auferir os seus vencimentos antes do Visto do TA, com
base na Lei nº. 26/2009 de 29 de Setembro, desde que a urgente conveniência de serviço seja declarada
por escrito pelo membro do Governo ou entidade competente.
Nomeação
A nomeação de um indivíduo para um lugar do quadro de pessoal do Estado confere ao nomeado
a qualidade de funcionário do Estado, produzindo efeitos legais a partir da data do visto do TA. Quando
declarada a urgente conveniência de serviço prevista no artigo 21 do REGFAE, a nomeação de professores
pode produzir efeito antes do visto do TA.
Nomeação provisória
A nomeação para lugar de ingresso é provisória e tem carácter probatório, durante os 2 primeiros
anos de exercício de funções.
A nomeação provisória carece da confirmação da disponibilidade financeira, que deve ser solicitada
pelo sector onde o funcionário vai exercer funções à Direcção Provincial de Plano e Finanças.
Nomeação definitiva
Completado o período de nomeação provisória (dois anos), esta converte-se automaticamente em
definitiva, salvo se ao longo dos primeiros dois anos houver manifestação em contrário de uma das partes
(serviço ou funcionário). A nomeação definitiva não carece de visto do TA, mas deve ser publicada em
Boletim da República conforme o nº 3 e 4 do Artigo 4 do REGFAE.
Nos casos em que a nomeação é precedida de contrato ou nomeação interina, o tempo de serviço prestado
nestas situações conta para efeitos de nomeação definitiva segundo o nº 7 do Artigo 13 do REGFAE.
66
As projecções apontam para um total de 3000 professores adicionais, cada ano, no Ensino Básico,
no EP1, e um número igual no EP2, de 2006 a 2015, e a expansão planificada de educação pós-primária
vai exigir cerca de 2000 novos professores para o Ensino Secundário, anualmente segundo estudos de
Guro e Lauchande (2008).
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
EP1 47.193 51.156 54.489 57.081 59.587 62.285 65.798 69.236 72.835 76.810
EP2 12.387 15.102 17.358 19.493 22.559 24.614 26.964 29.711 32.123 34.067
ESG1 5.736 7.127 8.506 10.784 12.672 15.207 17.862 20.526 23.431 26.604
ESG2 1.060 1.310 1.486 1.820 2.356 2.987 3.908 4.897 5.921 7.027
Segundo estudos feitos por Guro e Lauchande (2008), a escassez de professores qualificados
poderá subir por várias razões. Em primeiro lugar, o crescimento económico tem criado novas oportunidades
e muitos professores deixam o ensino para instituições onde possam ser melhor remunerados, ou
assumir um papel temporário, especialmente ao nível secundário. Em segundo lugar, muitos professores,
inclusive, recentemente formados, recém-nomeados, aceitam cargos não-docentes no âmbito do sector
da educação, tais como empregos na administração provincial, ou do nível distrital.
67
70.000 66230
61308 12000
60.000 56673 10523
53052 10000 9196
47185 EP1 ESG1
50.000 8219
EP2 8000 ESG2
40.000 6068
6000 5725
30.000 21594
19192 4000
20.000 1221614813
17285 2245 2090
1775
2000 1281
1060
10.000
0
0 2006 2007 2008 2009 2010
2006 2007 2008 2009 2010
O MINED tem recorrido, anualmente, à contratação de professores para fazer face às suas
necessidades nos termos do Decreto nº 78/99 de 1 de Novembro, conjugado com os Decretos nº 35/2005,
de 29 de Agosto e 5/2006, de 12 de Abril.
69
Nível Provincial
a) Monitorar o processo de levantamento das necessidades de docentes por disciplina e distritos
e enviá-las ao MINED até dia 30 de Outubro de cada ano;
b) Actualizar a informação sobre o número dos graduados nas instituições de formação de
professores primários existentes na província;
c) Orientar o processo de preenchimento da ficha de pré-afectação, por parte dos graduados, que
servirá de base para a sua colocação no mês de Novembro;
d) Acompanhar o processo de planificação, sensibilização e orientação dos formandos dos IFP
com vista a assegurar a adequada distribuição e prepará-los para as tarefas que irão cumprir
nos diferentes distritos, informando-lhes sobre a documentação necessária;
e) Prestar assistência técnica aos SDEJT em actos relacionados com a contratação dos docentes;
f) Publicitar as vagas pelos distritos em função das suas necessidades;
g) Monitorar o processo de abertura de concursos de contratação pelos distritos.
Nível Distrital
a) Actualizar as necessidades de docentes por disciplina e escola;
b) Publicitar as vagas atribuídas ao distrito depois de comunicadas pela DPEC;
c) Abrir o concurso de contratação de pessoal docente dentro do período estabelecido tendo em
consideração os limites orçamentais comunicados pela DPEC;
d) Proceder à afectação4 dos professores por escola;
e) Prestar informação mensal à DPEC sobre o processo de contratação;
f) Melhorar a articulação com a Secretaria Distrital e Direcção Provincial de Plano e Finanças no
processo de contratação.
4
A afectação era com base numa guia de marcha, que dizia para que escola a pessoa ou o graduado devia dirigir-se.
70
O aumento de contratação de novos professores contribuiu para a redução RAP no EP1. A tabela
4.3 ilustra a evolução do número total de professores do Ensino Público e Comunitário no período de
2007-2011, e mostra um aumento significativo da percentagem de professoras particularmente no EP, o
qual se deveu ao facto de se ter dado prioridade à formação inicial e à contratação de professoras.
71
Tabela 4.4: Total de professores sem formação pedagógica do ensino público e comunitário
Para os casos de professores que se recusam a participar em concursos para ingresso no Aparelho
do Estado e outros que se recusam a renovar os seus contratos, segundo as orientações deixadas pelo
MINED, cabe a quem de direito sensibilizar os professores sobre o perigo que isto representa.
72
Absentismo
O absentismo é a frequência ou duração de tempo de trabalho perdido quando os empregados não vão
ao trabalho. O absentismo constitui a soma dos períodos em que os funcionários se encontram ausentes
do trabalho, seja ela por falta ou algum motivo de atraso.
As causas e consequências das ausências foram intensamente estudadas através de pesquisas
que mostraram que o absentismo é afectado pela capacidade profissional das pessoas e pela sua
motivação para o trabalho, além de factores internos e externos ao trabalho.
A motivação para a assiduidade é afectada pelas práticas organizacionais como, por exemplo,
recompensas e punições ao absentismo. As organizações bem sucedidas incentivam a presença
e desestimulam as ausências ao trabalho através de práticas gerenciais e culturais que privilegiam a
participação, ao mesmo tempo em que desenvolvem atitudes, valores e objectivos dos funcionários
favoráveis à participação, gerando assim maior satisfação da parte dos funcionários.
O absentismo tem consequências nefastas sobre a aprendizagem dos alunos, pois constitui uma
das causas do não cumprimento dos programas de ensino.
A ausência sistemática de professores dos seus locais de trabalho pode dever-se a doenças
crónicas ou terminais ou ao absentismo. Os dados de Moçambique sobre o afastamento de professores não
parecem completos e não são totalmente fiáveis, mas estes mostram uma tendência decrescente de 2009
a 2010. Em 2010, 3.377 professores aparecem na estatística de afastamento, dos quais 752 professores
foram registados como tendo perecido em serviço, 2.213 estavam sistematicamente ausentes do trabalho
e 412 deixaram a profissão por completo (nenhuma razão adicional ou causas são avançadas). Estes
números representam uma taxa de redução de 3.8% segundo dados do MINED (2010 c: 32), embora, para
efeitos de planificação, a Direcção Nacional de Formação de Professores assuma uma taxa de redução
de 5%.
Ao longo do trabalho de campo deste estudo, alguns professores delegados e directores distritais
de recursos humanos foram questionados sobre o afastamento e absentismo de professores. Algumas
questões, muitas vezes, não eram respondidas. Quando a pergunta era respondida, a informação parecia
73
Em alguns encontros com directores de escolas, estes afirmaram que os professores abandonam a
escola para realizarem outras actividades. Além disso, parece que o professor não tem plena consciência
do significado da sua actividade, dando a entender que trabalha apenas por dinheiro.
Para minimizar este quadro de problemas, impõe-se um trabalho directo com esses professores, sobretudo
a nível de acções de capacitação de todos os intervenientes do sistema educativo.
De uma maneira geral, constatou-se que existem deficiências no que concerne ao controlo de assiduidade
dos professores por parte das escolas.
O gestor da escola, como o primeiro supervisor, é a figura que marca o ritmo e determina o bom
desempenho do funcionamento da escola. É o director que define o sucesso e o fracasso da instituição.
E, na prossecução deste desiderato, cabe ao director zelar pela assiduidade dos alunos e do professor,
enquanto ao professor se impõe que seja assíduo e exigente para com o seu trabalho.
Segundo o artigo 135 do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado (EGFAE), a relação
de trabalho no Aparelho do Estado cessa por morte, aposentação, exoneração, demissão ou expulsão.
A exoneração pode ser por iniciativa do Estado ou do funcionário. A exoneração por iniciativa do Estado
não carece de procedimento disciplinar e dá lugar à indemnização. E, a exoneração por iniciativa do
funcionário não dá direito à indemnização.
A demissão ou expulsão são sanções disciplinares aplicadas aos funcionários ou agentes do
Estado pelo não cumprimento dos seus deveres, abuso das suas funções ou de alguns actos que, de
74
A aposentação constitui uma garantia social que o Estado reconhece aos seus funcionários e
agentes, desde que reúnam requisitos para o efeito.
A tabela 4.5 ilustra o total de casos de cessação de exercício de actividades pelos professores por ano no
período 2007-2011
Total 3947 1232 3638 1652 543 1573 9621 5610 15231
Os dados da tabela 4.5 demonstram que, em geral, no período 2007-2011, houve um total de 15.231
casos de cessação de exercício de actividades de professores e que a maior parte de casos, num total de
10.020, foi motivada por faltas, seguidas de casos de falecimento e de abandono num total de 3.638 e de
1.573 casos, respectivamente.
75
Tabela 4.6: Casos de cessação de exercício de actividade pelos professores por regiões (2007-2011)
Subtotal: 1347 265 1201 2351 1109 2600 330 100 346 3031 1116 4147
Centro 2007 246 69 315 438 263 701 47 18 65 731 350 1081
2008 252 56 308 540 318 858 91 23 114 883 397 1280
2009 330 91 421 620 429 1049 139 43 182 1089 563 1652
2010 263 82 345 577 468 1045 166 65 231 1006 615 1621
2011 287 114 401 635 521 1156 135 54 189 1057 689 1746
Subtotal: 2005 604 1790 4050 2913 4809 819 271 781 4766 2614 7380
Sul 2007 119 63 182 221 282 503 71 38 109 411 383 794
2008 121 49 170 253 300 553 106 34 140 480 383 863
2009 91 58 149 276 365 641 101 54 155 468 477 945
Subtotal: 737 415 802 1863 2378 2945 652 239 616 2241 2122 4363
A tabela acima mostra que a maior parte de casos de cessação de exercício de actividades de
professores no período 2007-2011 se verificou na região Centro, com um total de 7.380 casos, seguida
das regiões Sul e Norte, com 4.363 e 4.147 casos, respectivamente.
Uma análise do tipo de casos de cessação de exercício de actividades de professores mostra que
a maior parte está ligada a faltas e que a região Centro ocupa o 1º lugar, com 4.809 casos, seguido das
regiões Sul e Norte com 2.945 e 2.600 casos, respectivamente. Os casos de falecimento de professores
também ocupam o 1º lugar na região Centro, com um total de 1.790 casos, seguida das regiões Norte e
Sul com 1.201 e 802, respectivamente.
76
Existe uma necessidade de controlo e actualização permanente do banco de dados dos professores,
desde o nível da base até ao Órgão Central, para permitir uma estimativa real de professores contratados
e nomeados;
A proporção de professores sem formação pedagógica reduziu significativamente no EP, bem
como no 1º ciclo do ESG, a partir de 2008, um ano após a introdução do novo modelo de formação de
professores para estes níveis de ensino;
Existem professores que se recusam a participar em concursos para ingresso no Aparelho do
Estado e outros que se recusam a renovar os seus contratos de forma premeditada, pelo facto de os
contratados sofrerem menos descontos fiscais do que os nomeados, por aguardarem a conclusão dos
estudos em níveis mais elevados ou por esperarem melhores oportunidades de emprego. Daí haver a
necessidade de sensibilização dos professores sobre o perigo que tal representa;
Existem problemas de afectação de alguns graduados que retornam às províncias de origem após
terminarem a sua formação, pelo facto de as metas anuais de admissão serem abaixo das necessidades;
Verificou-se alguma dificuldade na obtenção de dados fiáveis sobre a assiduidade dos professores,
pelo facto de alguns gestores escolares não terem controlo efectivo do funcionamento da escola, aliado
ao deficiente controlo de assiduidade dos professores. Para a redução do absentismo, os gestores de
Educação devem apostar na motivação dos professores, construção de casas para professores, revisão
do Estatuto do Professor de acordo com a Resolução n°8/95 de 22 de Agosto, supervisão e controlo da
assiduidade, aplicação rigorosa das medidas administrativas e sensibilização dos professores para se
deslocarem aos bancos para levantarem dinheiro nas caixas electrónicas, conhecidas por ATM (Automated
Teller Machine) aos fins-de-semana.
Os casos de cessação de exercício de actividades de professores verificam-se com maior incidência
na região Centro do País, seguida das regiões Sul e Norte. Os tipos de casos de cessação de exercício de
actividades estão ligados a faltas, estando a região Centro no 1º lugar, seguida das regiões Sul e Norte.
Os casos de cessação de exercício de actividades merecem um acompanhamento para a planificação de
novos ingressos de professores, partindo de actualização de banco de dados desde a base até ao Órgão
Central.
77
5.1. Introdução
O presente capítulo faz uma abordagem sobre a gestão dos docentes em Moçambique, mais
concretamente do Subsistema de Ensino Geral, EP e Secundário, de 2007 a 2011.
Para a fundamentação documental dos assuntos aqui tratados, baseamo-nos na legislação sobre gestão
de recursos humanos, em vigor na Administração Pública e no Sector da Educação.
A análise da gestão dos professores é feita com base na disponibilização dos dados fornecidos pelas
instituições do sector da Educação, tais como, escolas, SDEJT e DPEC.
Os conteúdos desenvolvidos são:
Funcionários – são os cidadãos nomeados para lugares do quadro do pessoal e que exercem
actividades nos órgãos centrais e locais do Estado.
Agentes do Estado – são agentes os cidadãos contratados ou designados nos termos da lei,
ou por outro título, para o desempenho de certas funções na Administração
Pública.
O ingresso para a carreira docente é antecedido de um concurso público ao qual se candidata qualquer
cidadão moçambicano que reúna os requisitos para o efeito, sendo priorizados todos os que tenham
formação psicopedagógica.
78
Tabela 5.1: Requisitos académicos para estatuto de docente contratado e tempo de serviço
mínimo para o estatuto de funcionário
79
Cont.
Docente Nível Médio do curso de formação Sem formação Com formação
de N3 de professores; psicopedagógica: psicopedagógica:
ou Médio Geral (12ª classe); Contratado 2 anos Imediato, bastando a
ou Técnico-profissional. abertura de concurso
De acordo com o que foi referido anteriormente, há necessidade de o Ministério das Finanças
facilitar a actividade de confirmação do cabimento orçamental, através da folha de vencimento, com vista
a flexibilizar o processo de nomeação de docentes, uma vez que não se trata de um novo orçamento, já
que os docentes contratados são pagos pelo OE.
80
Docente N4, contratado no Docente N3, contratado na Classe E Docente N2, contratado na Classe E (a
Escalão 1 (a tempo inteiro e a tempo parcial) tempo inteiro e a tempo parcial)
Docente N3, contratado na Docente N2, contratado na Classe E Docente N1, contratado na Classe E (a
Classe E (a tempo inteiro e a (a tempo inteiro e a tempo parcial) tempo inteiro e a tempo parcial)
tempo parcial)
Docente N2, contratado na Docente N1, contratado na Classe E Docente N2 (nomeado quadro)
Classe E (a tempo inteiro e a (a tempo inteiro e a tempo parcial)
tempo parcial)
81
Os professores do posto estavam destinados a escolas das missões e das zonas rurais dos
chamados indígenas, onde também eram colocados os professores monitores. Os professores do
magistério primário leccionavam nas escolas oficiais dos portugueses.
A tabela 5.4 apresenta a carreira docente criada depois da independência pelo Diploma Ministerial
nº 52/87 de 8 de Abril.
outro bacharelato
C Médio Docentes com nível médio de formação
pedagógica, designadamente:
Magistério Primário; Curso de formação
de professores de Educação Física
(6ª+5); Instituto Médio Pedagógico
(9ª+2 e 9ª+3); Curso de Formação de
Professores para 7ª. 8ª e 9ª na UEM
( 9ª+2); Curso Intensivo de Formação
de Ensino Técnico e Docentes “D” que
completaram a 11ª classe
D Básico Docentes com curso de formação de
nível Secundário, designadamente:
(6ª+2 – EFEP; 8ª+2 - EFEP; 6ª+3; 9ª+1;
82
formação psicopedagógica).
83
Docente N4 Única Possuir como habilitações mínimas o nível básico do subsistema de formação
formação psicopedagógica).
As carreiras apresentadas na tabela 5.5 foram criadas pelo Decreto nº 54/2009, de 8 de Setembro,
que revoga o Decreto nº64/98 de 3 de Dezembro.
Este Decreto (54/2009, de 8 de Setembro) integra as diferentes ocupações numa mesma carreira.
Por exemplo, um Instrutor e Técnico Pedagógico pode encontrar-se nas instituições de formação de
professores educadores de adultos, nos serviços distritais, nas direcções provinciais e nos Órgãos
Centrais.
A tabela 5.6 apresenta dados sobre a gestão de professores por nível de ensino em cada província.
84
Niassa 228 570 42 332 16 47 11 126 553 1636 41 234 930 2106 5 43 15 150 0 1
Cabo
Delgado 131 517 26 270 12 27 8 63 289 1105 24 206 1182 2844 5 52 45 298 0 2
Nampula 600 1587 295 1174 46 137 47 264 1005 3218 102 908 2286 5833 10 90 45 673 2 13
Zambézia 542 1784 108 526 44 77 59 347 1369 3235 94 783 3851 8664 7 79 113 868 3 18
Tete 126 397 69 402 15 46 11 87 1242 2990 92 593 1690 3163 19 55 12 158 7 29
Manica 275 875 72 489 26 57 45 300 577 1509 69 462 1070 2510 6 17 6 106 0 2
Sofala 509 1385 140 737 92 195 70 372 1093 2282 77 393 1496 2993 0 10 13 210 0 2
Inhambane 1040 1937 141 617 40 71 53 209 530 988 75 300 1171 1813 9 39 45 223 2 6
Gaza 426 728 110 502 27 44 42 174 800 1548 99 435 1044 1809 5 28 115 205 1 5
Maputo 547 1032 200 754 119 255 36 169 1753 3236 54 270 690 1275 0 0 36 78 0 0
C. Maputo 336 597 430 1507 109 227 75 318 1381 2147 60 272 267 412 0 1 65 103 0 0
Total 4760 11409 1633 7310 546 1183 457 2429 10592 23894 787 4856 15677 33422 66 414 510 3071 15 79
85
3/12/18 9:09 AM
Os dados apresentados na tabela 5.6 mostram a não observância do qualificador do professor
primário e secundário, preconizado pela Resolução nº 8/2003, de 21 de Agosto, pois com excepção da
província de Maputo e Cidade de Maputo, nas restantes províncias encontramos no ESG, docentes de N4
e N5. Esta situação deve-se, em parte, à falta de bacharéis e licenciados para estes níveis, por insuficiência
de cabimento orçamental para contratá-los e ao facto de os poucos existentes serem redistribuídos pelas
novas escolas secundárias.
A carreira docente não identifica a ocupação ou a área profissional e nem o nível de ensino. Por
exemplo, o professor de Português, de Mecânica ou Técnico Administrativo podem ser DN1 bastando ter
formação psicopedagógica.
O DN1 pode ser professor no Ensino Primário ESG ou ETP.
Os DN1 e DN3 podem trabalhar com o mesmo nível, mesma disciplina ou mesma classe e
com mesmo grau de exigência.
Para o enquadramento na carreira docente não há exigência de perfil profissional, por exemplo,
tanto o graduado da 12ª Classe como o com nível médio de formação psicopedagógica são designados
Docentes N3.
Os funcionários que exercem actividades não docentes ostentam a carreira de docente pelo facto
de se terem formado na área de docência e transferidos para actividades não docentes (nos SDEJT,
DPEC ou MINED) não mudam de carreira, facto que tem implicações na estimativa do número real e total
dos docentes em Moçambique.
Progressão: de 3 em 3 anos nas carreiras DN1, DN2, DN3 do Escalão 1 a 4 e nas carreiras
DN4 e DN5 do Escalão 2 a 13;
Mudança de carreira: por conclusão de nível académico na mesma carreira (de DN3 para
DN1) ou de uma carreira para outra diferente (de Docente para Instrutor e Técnico Pedagógico).
A tabela 5.7 apresenta a organização das carreiras docentes de classe mista que estão estruturadas
86
1 2 3 4
A tabela 5.7 é ilustrada pela figura 5.1, onde a evolução acontece por promoção e por progressão,
isto é, nos sentidos vertical e horizontal, respectivamente. A promoção acontece a partir da classe C de 3
em 3 anos, observando-se o mesmo na progressão que acontece a partir do escalão 1 das classes C, B
e A, que ocorre de 3 em 3 anos.
CARREIRA DOCENTE
Grelha da Gestão da carreira do Docente
(carreiras: N3, N2 e N1)
Classes Escalões
1 2 3 4
A
3 anos 3 anos 3 anos 3 anos
Promoção na carreira
C
3 anos 3 anos 3 anos 3 anos
Concurso
E 2 anos
Progressão na Carreira
87
Carreiras GRP 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Sal.
Docente N4 94 100 104 108 112 117 122 127 132 137 142 148 154 160
Docente N5 99 100 104 108 112 117 122 127 132 137 142 148 154 160
A tabela 5.8 ilustra que a evolução acontece apenas por progressão, isto é, no sentido horizontal,
a partir do Escalão 2, de 3 em 3 anos.
A tabela 5.9 apresenta dados de progressões realizadas nas carreiras de classe única no período
de 2007 a 2011 por província e denota a fraca realização da progressão nas carreiras de classe única,
justificada pela complexidade nos procedimentos e fraco domínio por parte dos técnicos de recursos
humanos.
Tabela 5.9: Situação de Progressão dos Docentes Enquadrados nas Carreiras de Classe Única de
2007 a 2011
Província Total de Docentes que Docentes que Docentes que Docentes que Subtotal
docentes progrediram progrediram progrediram progrediram
Zambézia 1192 4089 101 503 175 403 308 717 420 1017 1004 3519
Tete 1003 2442 98 605 106 374 0 2 353 1068 557 2049
Total 9073 22959 781 2357 399 997 411 954 844 2253 2521 7567
88
A tabela 5.10 apresenta dados sobre progressão nas carreiras de classe mista no período de 2007 a 2011
por província.
Tabela 5.10: Situação de progressão dos docentes enquadrados nas carreiras de Classe Mista de
2007 a 2011
Província Total de docentes Docentes que Docentes que Docentes que Subtotal
nomeados (N3, progrediram do progrediram progrediram
N2 e N1) Escalão 1 para 2 do Escalão 2 do Escalão 3
para 3 para 4
M HM M HM M HM M HM M HM
Niassa 1040 3886 201 702 105 309 91 215 397 1226
Cabo Delgado
Maputo
Total 19413 53425 342 1122 142 504 130 400 615 2045
Os dados na tabela 5.10 revelam a progressão nas carreiras mistas por província, um acto que se
realiza no sentido horizontal de um escalão para o outro nas Classes C, B e A, após uma permanência
de três anos. Dada a sua fraca expressão em termos monetários, este acto nas carreiras mistas pouco
(ou não) se realiza, senão vejamos: na passagem de DN1, Classe C, do Escalão 1 para 2, ao fim de três
anos, a diferença é de 565.00 meticais (ver a tabela salarial 5.12). Se a progressão do Escalão 1 a 4 de
cada classe fosse implementada, o funcionário ficaria estagnado na classe por nove anos e, até completar
todo o percurso na carreira, desde a Classe E até ao Escalão 4 da Classe A, levaria 29 anos.
A tabela 5.11 apresenta dados de promoção automática e promoção por tempo de serviço por
província nas classes mistas de 2007 a 2011.
89
M HM M HM M HM M HM M HM M HM
Inhambane 139 507 68 199 1239 2668 213 450 86 125 634 1668
Cidade de Maputo 270 645 243 690 1530 3216 278 711 97 295 1834 3451
Total 716 2774 710 2672 9871 26792 549 1660 254 939 4461 11757
M HM M HM M HM M HM M HM M HM
Niassa - - - 4 1 8 - - - - - -
C. Delgado
Nampula 0 6 1 10 1 70 0 0 0 0 3 32
Zambézia 5 19 12 74 64 113 2 11 9 29 32 111
Tete 0 4 3 23 26 131 0 0 0 1 4 15
MINED
90
A promoção por tempo de serviço faz-se após a permanência de três anos na classe e opera-se no
sentido vertical, de uma classe para outra e, em termos salariais, o impacto é maior quando comparado
com o da passagem de um escalão para o outro com os mesmos requisitos. Por exemplo, de DN1, Classe
C, Escalão 1 para DN1, Classe B, Escalão 1, a diferença é de 2.487.00 meticais (ver a tabela salarial
5.12). Por isso, nas carreiras mistas, esta forma de evolução, ao fim de três anos, é a mais realizada e
priorizada pelos gestores.
No que concerne à evolução nas carreiras de classe única (DN4 e DN5), que é apenas por
progressão, verifica-se que a sua realização, que é passagem de um escalão para outro, é muito baixa
devido à insuficiência de cabimento orçamental e ao fraco domínio de procedimentos para progressão,
por parte dos gestores de recursos humanos, na maioria dos distritos, onde se chega a evitar realizar
este acto. A não realização da progressão nas carreiras de classe única prejudica em grande medida
os funcionários desta classe que não continuam a estudar de forma a atingir outros níveis e mudar de
carreira.
Nas carreiras mistas, a evolução pode ser por progressão e promoção, isto é, horizontal e vertical,
respectivamente, sendo que as duas evoluções ocorrem de três em três anos e são condicionadas pela
disponibilidade orçamental. E dependendo da opção de cada Sector, os funcionários ou simplesmente
são promovidos de uma Classe para outra ao fim de três anos, ou progridem de um escalão ao outro até
atingir o Escalão 4. Em casos em que se opta percorrer do Escalão 1 até 4 para, depois, mudar de classe,
significa que quem estiver enquadrado, por exemplo, na carreira DN1 ou DN2 ou DN3, Classe C, Escalão
1, só no fim de nove anos é que lhe será permitida a promoção para a Classe B (Caso da Província de
Maputo).
As promoções por tempo de serviço são poucas porque a maioria dos funcionários fica estagnada
na Classe E, devido ao fraco domínio dos procedimentos por parte do 1º gestor, que é da Escola e que
deve fornecer dados ao gestor do SDEJT, ou à exiguidade orçamental para suprir as necessidades.
Para não penalizar os funcionários desta carreira, sugere-se a simplificação dos procedimentos de
progressão, de modo a torná-la automática.
91
A seguir apresenta-se a tabela salarial das carreiras docentes de classe mista, ano 2012.
Tabela 5.12: Tabela salarial referente ao ano 2012 para a Carreira Docente de Classe Mista
1 2 3 4
Docente de N1 32 A 20.345.00 21.137.00 22.041.00 22.945.00
B 17.407.00 18.085.00 18.876.00 19.544.00
C 14.920.00 15.485.00 16.050.00 16.728.00
E 14.355.00
Nas carreiras DN1, DN2 e DN3, os salários dependem da evolução vertical e horizontal dentro da mesma
carreira e a passagem de uma carreira para outra depende da conclusão de nível académico (ver a
explicação das tabelas 5.9, 5.10 e 5.11).
92
Manual-1.indd 111
Tabela 5.13: Tabela salarial referente ao ano 2012 para a Carreira Docente de Classe Única
Carreiras Grupo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Salarial
Docente 94 4.296.00 4.468.00 4.640.00 4.812.00 5.026.00 5.241.00 5.456.00 5.671.00 5.886.00 6.100.00 6.358.00 6.616.00 6.874.00
N4
Docente 99 3.042.00 3.164.00 3.285.00 3.407.00 3.559.00 3.711.00 3.863.00 4.015.00 4.168.00 4.320.0 4.502.00 4.685.00 4.867.0
N5
93
3/12/18 9:09 AM
Nas carreiras de DN4 e DN5, os salários dependem da evolução na carreira, que se observa em 13
escalões. Dentro da carreira docente, além da vantagem salarial que se observa nas carreiras DN1 e DN2,
que são de nível superior, ao salário base acrescenta-se o Bónus Especial de 60 e 40%, respectivamente,
e o subsídio de localização mais alto, que varia de 25 a 50%.
O Bónus Especial não abrange a classe DN4 ou DN5 e o subsídio de localização para este mesmo
grupo varia de 10 a 25%. Importa realçar que este é o grupo que trabalha nas Escolas Primárias, cuja
maioria se localiza em zonas de difícil acesso e precisa de maior incentivo salarial para se manter nesses
locais.
A tabela que se segue (tabela 5.14) apresenta a evolução salarial nas carreiras docente em termos
de salário base de 2007 a 2011.
O aumento salarial é de percentagem igual para todas as carreiras e, por isso, as carreiras de N4
a N5 ficam sempre em desvantagem, pois, em média, o seu salário aumenta 200 meticais, enquanto as
carreiras de N3, N2 e N1, além do salário base, têm o bónus especial de 30, 40 e 60%, respectivamente.
A tabela 5.15 apresenta a comparação entre salários das Carreiras de Regime Geral e Específicas
e das Carreiras de Regime Especial da Educação
94
Docente N4 94 4.296.00
A tabela 5.15 ilustra a diferença salarial entre as carreiras de regime especial da educação e as
de regime geral e específicas e que a vantagem salarial se observa simplesmente nas carreiras de nível
superior para os docentes de N1 e N2.
95
Tabela 5.16: Comparação entre Salários das Carreiras de Regime Especial da Educação, do
Ministério da Justiça e da Autoridade Tributária
A tabela 5.16 ilustra o grande desnível salarial dentro das carreiras de regime especial de
funcionários com o mesmo nível académico no Aparelho do Estado, sendo a classe docente com o salário
mais baixo.
Existiram várias formas de pagamentos de salários que foram sucedendo-se por motivo de
segurança, eficiência e eficácia. Trata-se de formas de pagamento em dinheiro, em cheque e em depósito
bancário – transferência de valores.
Não existe um dia fixo como prazo de pagamento do salário, contudo, este é feito no fim de cada
mês.
Sistema de pagamento
Os professores são pagos por unidade de tempo por turma e por tarefas.
96
Categoria Percentagem
Bacharéis 40%
De acordo com a tabela 5.15, os docentes de N4 e N5 não têm direito ao bónus especial, que
abrange apenas os docentes de N3, N2 e N1 e é acrescido ao salário base.
O subsídio de localização, regulado pelo Decreto nº 91/2009, de 31 de Dezembro (ver tabela 5.18),
é pago a todos os funcionários e agentes do Estado quando colocados em áreas territoriais classificadas
para o efeito. Nos casos de transferência do funcionário para outra área territorial, o valor do subsídio deve
ser pago em função da área para a qual este seja transferido, conforme a classificação territorial vigente.
97
A remuneração por trabalho docente extraordinário é regulada pelo Diploma Ministerial nº 74/90 de
15 de Agosto. Quando as necessidades de serviço assim o justifiquem, poderá ser atribuído ao pessoal
docente efectivo, excluídos que sejam os professores do 1º e 2º Ciclos do Ensino Primário, serviço
extraordinário para além da carga horária semanal obrigatória até ao limite máximo de 15 horas semanais.
O factor 1.5 é aplicável apenas aos docentes efectivos nas horas leccionadas no curso nocturno,
que sirvam para completar o horário da componente lectiva obrigatória semanal. Só as horas lectivas
leccionadas no curso nocturno para completar a carga horária semanal obrigatória diurna é que deverão
ser bonificadas à luz do factor 1.5. A aplicação do factor 1.5 não é acumulável com as horas extraordinárias.
98
Ao nível das escolas do ESG, os professores que exercem função de director de turma, director
de classe, delegado de disciplina e adjunto pedagógico beneficiam de uma redução na sua carga horária
para a coordenação destas actividades, dependendo do tipo de escola.
O quadro 5.19 apresenta a redução da carga horária nas escolas secundárias de acordo com o tipo A, B
e C.
As tabelas 5.20 e 5.21 apresentam alguns dados do total de docentes na carreira, comparando-os
com os de docentes nas salas de aula, para analisar a questão de horas extraordinárias e segunda turma.
99
Manual-1.indd 118
província
Província Total de docentes Total de docentes Total de docentes Total de docentes Total de docentes Total de docentes
na sala de aula no que exercem funções estudantes a tempo na situação de que fazem horas
Ensino Secundário com redução da carga inteiro regime especial extraordinárias
Geral e 3º Ciclo horária de 10 e mais de assistência
Primário horas
M HM M HM M HM M HM M HM M HM
Niassa 2.931 8.721 1.826 2.034 357 58 315 - - 289 934
C. Delgado 2009 7363 325 2373 263
Nampula 7.170 23.593 1.228 5.527 16 75 2 15 ---- 1.2
940 50
Zambézia 8250 25794 1.451 6.079 185 3.3
1084 73
Tete 373
Manica 2.764 7.411 730 3.824 92 214 7 21 215 1.9
412 61
Sofala 4.327 11.231 943 2.279 99 326 2 15 1.208 3.4
350 88
Inhambane 4.144 8.915 1.607 4.157 1.616 3.703 70 124 732 1.9
557 36
Gaza 419
Maputo 332
2.411 4.747 1.040 3.070 203 0 9
C. Maputo
Total 10259 33157 1998 2373 5290 265 1124 81 175 1236 934
MINED: 2015
3/12/18 9:09 AM
Tabela 5.21: Dados comparativos sobre o total de docentes na sala de aula e o número de docentes com segunda turma por província
Manual-1.indd 119
Província Total de docentes Total de docentes Total de docentes que Total de docentes Total de docentes Total de docentes
na sala de aula no exercem funções de estudantes a tempo na situação de com segunda turma
Ensino Primário direcção de escola inteiro regime especial
de assistência
M HM M HM M HM M HM M HM M HM
Niassa 2.931 8.721 1.692 4.960 912 58 315 - - 192 766
C. Delgado 2009 7363 1913 6497 881 1567
Nampula 7.170 23.593 4.077 16.632 1967 4 12 2 7 ----- 2.664
Zambézia 8250 25794 6.432 15.975 2826 185 4.126
Tete 1032
Manica 2.764 7.411 2.427 6.375 723 92 214 7 21 249 1.510
Sofala 4.327 11.231 3.984 9.952 787 99 326 5 30 901 1.919
Inhambane 4.144 8.915 2.569 5.247 777 1.672 3.899 72 126 91 229
Gaza 707
Maputo 447
C. Maputo 2.411 4.747 1.612 2.256 105 0 0
Total 10259 33157 1913 6497 11.164 253 1052 86 184 1433 2562
MINED: 2015
101
3/12/18 9:09 AM
As tabelas 5.20 e 5.21 apresentam dados comparativos de docentes na sala de aula e os que
realizam horas extraordinárias e segunda turma. Não se deve considerar que todos os docentes existentes
por província estejam na sala de aula, pois existem docentes que estão simplesmente inscritos na carreira,
mas que trabalham no sector administrativo; docentes que exercem funções de direcção e chefia, o
que implica, para o caso do ESG, redução da carga horária (vide a tabela 5.19); docentes-estudantes a
tempo inteiro, cujas turmas devem ser asseguradas; docentes que, por motivos de doença, devem fazer
trabalhos moderados, além de se ter em conta que a expansão da rede escolar implica alocação de novos
corpos directivos e professores. Assim, os docentes nas condições referidas no parágrafo anterior ou não
estão na sala de aula, ou têm uma carga horária reduzida, facto que concorre para que os que estejam a
trabalhar efectivamente fiquem sobrecarregados com a segunda turma e horas extraordinárias, havendo
casos em que estejam acima do limite, não havendo cobertura legal para sua remuneração.
Na Educação, existem muitos funcionários que, apesar de não estarem a exercer e nunca terem
exercido a docência, estão enquadrados na carreira docente pela formação psicopedagógica que tiveram.
A razão de existir muitos funcionários da Educação que se formam nesta área para ingressar na Carreira
Docente N1 e N2, embora estejam a realizar as suas funções nos sectores administrativos, deve-se ao
facto desta carreira estar em vantagem em termos da base salarial, quando comparada com as Carreiras
de Regime Geral do Estado (ver tabela 5.15).
102
É indispensável referir que a remuneração do Bónus Especial não abrange a classe DN4 ou DN5
que é o grupo que trabalha nas Escolas Primárias, cuja maioria se localiza em zonas de difícil acesso e
precisa de maior incentivo salarial para o efeito. Uma vez que um dos desafios do MINED é a expansão
do acesso e assegurar a alocação de docentes às zonas de difícil acesso, sugerimos que se estabeleça,
excepcionalmente para os docentes das classes docentes DN4 e DN5 e que sejam afectos às zonas
de difícil acesso, uma percentagem de 100% de Bónus Especial que será acrescido ao subsídio de
localização.
Em relação ao elevado número de horas extras e segunda turma, recomenda-se uma melhor
abordagem na planificação dos efectivos porque, anualmente, as necessidades aumentam por vários
factores dentre eles:
• Abertura de novas escolas que necessitam de professores e membros de direcção. Estes últimos
são retirados das escolas em funcionamento e, com isso, as suas turmas ficam asseguradas pelo
número de docentes que existente;
• Abandono de turmas nas zonas de difícil acesso por causa das dificuldades de ambientação, falta
de segurança e de incentivos para a manutenção de docentes nessas zonas;
• Aumento da taxa de natalidade nos últimos anos no País, que pressiona o ingresso no Ensino
Primário, onde a demanda de professores, causada pelos factores atrás referidos, se associa ao
aumento do número de segundas turmas e do RAP.
103
Analisando a gestão dos docentes pode concluir-se que há um défice bastante elevado de
professores a nível do ESG, mas, em contrapartida, encontramos licenciados no EP sem preparação
para o ESG. Esta situação revela, por um lado, a necessidade de alocar professores de nível superior
(bacharéis e licenciados) preparados para o ESG de acordo com o qualificador das carreiras de Regime
Especial da Educação, e, por outro lado, do desenho e revisão das carreiras da Educação, podendo
mesmo criar-se carreira de Docente de Ensino Primário, que poderá evoluir nesta carreira até à categoria
de Especialista do Ensino Primário.
O mesmo poderia ser feito para outros níveis e subsistemas de ensino, o que poderia permitir que o
docente do ESG, numa certa disciplina ou grupo de disciplinas, evoluísse até o topo da carreira, que
poderia ser a de Especialista do Ensino de Português, de Matemática, de Geografia, etc.
A revisão poderia ser acompanhada de uma política de formação, que preconizasse que
a continuação de estudos fosse decidida pela instituição de acordo com as necessidades de serviço
e não pela imposição das pretensões pessoais do funcionário que, várias vezes, não respondem às
necessidades da instituição. Ademais, esta situação ocorre porque o Estado estipula o salário, em primeiro
plano, com base no critério “certificado de habilitações” e não na competência e, por isso, o funcionário
com um elevado nível de formação académica tem um salário elevado (ver as tabelas salariais 5.12 e
5.13). Quanto ao desnível salarial nas carreiras de regime especial do Estado sugere-se uma revisão
salarial para a classe docente, aproximando o valor ao da Autoridade Tributária, como forma de valorizar
o esforço que o docente faz, sobretudo trabalhando nas zonas de difícil acesso, e por vezes, em péssimas
condições de trabalho.
104
Neste caso, sugerimos que a se faça, excepcionalmente, uma revisão da legislação da Administração
Pública, para que docentes nas condições de director ou adjunto de uma instituição de ensino, quando esta
situação for devidamente esclarecida e reportada, sejam remunerados por horas extraordinárias. Existem
muitos casos de docentes com o dobro da carga horária obrigatória por insuficiência de professores,
particularmente na área de ciências exactas, e que não são remunerados pelo trabalho que realizam.
Sugerimos que a legislação da remuneração docente referente ao limite de horas seja revista ou o Estado
deve converter o valor reservado para pagar horas extras no reforço do orçamento para recrutar mais
professores.
105
6.1. Introdução
A formação e o bom desempenho profissional dos professores (do ensino primário e do secundário)
são condições necessárias para que se realize a razão de ser do sistema educativo. Tanto a formação
como o desempenho profissional dos professores constituem preocupações importantes do Governo
e de amplos sectores da sociedade moçambicana em relação ao sector de educação. São, também,
preocupações da imensa maioria dos professores assim como da Organização Nacional dos Professores
(ONP).
O capítulo 6 do estudo holístico sobre o professor pretende reflectir sobre a situação socioprofissional
dos professores, tendo em conta a sua própria percepção do exercício e prática profissionais assim como
a percepção social sobre o papel e desempenho dos professores.
O presente capítulo foi elaborado com base em pesquisa documental, inquérito e entrevista e,
nele, são desenvolvidos os seguintes pontos:
O segundo momento começa sensivelmente a partir de 1990, quando o SNE graduava um número
suficiente de alunos da 7ª classe. Alguns graduados iam para os CFPP por afectação e outros continuavam
noutros ramos educacionais como, por exemplo, ETP (Industrial e Comercial) e no ESG.
106
A referência aos dois momentos descritos nos parágrafos anteriores visa situar o leitor para melhor
compreender a situação actual do professor. Uma parte de professores que ingressou na profissão
nos finais da década 70 e inícios da de 80 abandonou a profissão e passou para empresas privadas,
Organizações Não-Governamentais (ONG) e outras instituições estatais onde são bem remunerados. É
claro que a maior parte de professores ficou conformada, permanecendo na profissão por vocação ou
pelos anos de serviços na carreira docente. Assim, por exemplo, um professor que começou a exercer a
sua função docente em 1978 já fez 35 anos de serviço em 2013, tendo passado para reforma ou já devia
estar reformado.
O gráfico da figura 6.1 mostra que os professores (70.5% dos 458 inquiridos) gostam da sua
profissão e não gostariam de mudar da escola onde, neste momento, leccionam.
70.5 70.5
80
70
60
50
40
23.8
30 17.7
11.8
20 5.7
10
0
Sim Não Não responderam
107
De acordo com as entrevistas realizadas ao grupo focal de professores, de uma forma geral pode
concluir-se que todos os professores exercem a sua profissão por vontade própria e gostam dela. Os
professores tendem a não querer mudar de profissão apesar da sua insatisfação com o salário, problemas
de gestão de recursos humanos que dificultam a sua nomeação e mudança de categoria e de escalão.
Do mesmo modo, poucos trocariam a profissão por outra, se houvesse oportunidade para fazê-lo. Esta
tendência foi verificada no âmbito do estudo levado a cabo por VSO & Marsh (2008), segundo o qual, a
maior parte dos professores gosta da sua profissão e que não a trocaria por outra.
“A profissão perdeu muito do seu prestígio anterior. Muitos professores recém-formados estão na
profissão por mais uma conspiração das circunstâncias do que por uma vocação. São pessoas
que preferiram seguir outras carreiras profissionais e alguns ainda sonham com a possibilidade
de segui-las. Mesmo entre aqueles que já se conformaram ou passaram a gostar da profissão
ninguém quer permanecer no ensino primário do primeiro grau”.
Os dados das entrevistas aos colectivos de professores indicam que muitos professores dizem-
se insatisfeitos com a sua profissão devido aos seguintes factores: condições salariais (baixo salário),
condições de trabalho (turmas numerosas), demora na tramitação dos processos para a mudança de
carreira, atraso no processamento das horas extras, falta de promoções por tempo de serviço e falta de
prestígio da profissão na sociedade.
108
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
A maioria dos professores (75.7%) afirma que não está satisfeita com o salário que aufere; 78.4%
dos professores não conseguem fazer face ao custo de vida com o salário que recebem; 70.5% dos
inquiridos afirmaram que o que recebem não corresponde ao trabalho que realizam; a resposta “o salário
definido para a sua categoria não é satisfatório” foi dada pelo correspondente a 80.5% dos inquiridos;
47.4% afirmaram que o salário não tem sido pago no período previsto nos dispositivos normativos. Em
relação a este último aspecto, note-se, contudo, que uma parte relevante dos inquiridos (40.8%) mostra
que, ao contrário dos outros, o salário chega no tempo previsto. Refira-se que os professores das carreiras
de N4 e N5 auferem salários mais baixos não usufruindo do regime especial de salários.
Ainda de acordo com a figura 6.2, 62,2% dos inquiridos mostram-se insatisfeitos com relação
à categoria e ao escalão a que se encontram enquadrados. Apesar destas insatisfações, 70,9% dos
inquiridos tiveram nomeação; mais do que a metade (50,9%) é que conhece os procedimentos de
mudança de categoria; e ainda cerca da metade tem conhecimento da existência de um mecanismo
eficaz de aviso, quando o salário é depositado nas suas contas. Julgamos merecer uma reflexão o facto
de metade dos inquiridos desconhecer os procedimentos para a mudança de categoria, bem como o facto
de não receber qualquer aviso quando o salário é transferido para as contas dos professores. Na carreira
profissional, os professores de nível mais baixo para o nível mais alto levam muitos anos a progredir (+ de
30 anos). De uma forma geral, os professores que participaram neste estudo não estão satisfeitos com a
profissão que desde cedo abraçaram. O salário é apontado como sendo uma das causas da insatisfação
dos professores do ensino primário e secundário em Moçambique.
109
Segundo Mendonça & Moussié (2007), a pressão que o Fundo Monetário Internacional faz ao
Governo de Moçambique na introdução de modelos menos caros tem repercussão nos salários a serem
pagos que são baixos. Isto faz com que haja um fosso muito grande a nível salarial entre os professores
de N4 e N5 e os do N1. Uma análise da tabela salarial mostra que os salários dos níveis N4 e N5
não estão enquadrados no regime de carreiras especiais e os salários de nível N1, N2 e N3 em regime
especial estão abaixo de salários de outros funcionários com salários de regime especial, nomeadamente,
do Ministério da Justiça, das Finanças e da Autoridade Tributária.
“... o rácio alunos-professor do Ensino Primário não tem diminuído como seria de esperar. Em
2007, o rácio alunos-professor no Ensino Primário foi de 73/1 apesar de o MEC ter contratado
mais de 11 mil funcionários no mesmo ano. Este rácio varia bastante entre os distritos, sendo que
o menor rácio se verifica no distrito de Matutuíne (30 alunos por professor) e o maior no distrito
de Milange (150 alunos por professor)”.
Os professores afirmam que é preciso fazer um esforço adicional para acompanhar as actividades
de todos os alunos na sala de aula, na medida em que, por um lado, são muitos alunos numa sala e, por
outro, existem alguns alunos com necessidades educativas especiais, o que aumenta em grande medida
o grau de dificuldades por parte do professor no acompanhamento de todos os alunos durante o processo
de ensino-aprendizagem. Os professores não estão preparados para trabalhar com turmas numerosas e
muito menos com alunos com necessidades educativas especiais. A este propósito, o estudo de Lobo &
Nheze (2008: 39) constatou que:
“Os professores não estão adequadamente preparados para atender os alunos com necessidades
educativas especiais. A educação inclusiva pode ser utilizada para os alunos com problemas
menores, mas pode não ser a melhor alternativa para os alunos com deficiências mais severas.
Estes alunos tão pouco beneficiam de materiais para a aprendizagem adequados, o que dificulta
o processo da sua integração e de aprendizagem”.
110
Aos factos apontados pode acrescentar-se a manutenção dos três turnos, principalmente nas
cidades, a sobrecarga das infra-estruturas e dos professores com outras tarefas e com um ainda insuficiente
controlo sobre o funcionamento da escola e a assiduidade dos professores e alunos por parte do corpo
directivo. MINED (2012a:61). Estudos de Lobo & Ginja (2011) apontam ainda os seguintes aspectos
como factores de insatisfação de professores: a insuficiência de salas, a construção de salas anexas à
escola com material local, a falta de professores qualificados em matéria de educação de crianças com
necessidades educativas especiais e a formação de professores que não contempla assuntos da área
das necessidades educativas especiais.
Uma das grandes reclamações dos professores tem a ver com o facto de, no País, se privilegiar
mais o grau académico em detrimento da experiência profissional. Assim sendo, muitos professores por
via individual ingressam nas instituições do Ensino Superior com o intuito de aumentar o salário. Finalizado
o curso, os professores têm de formalizar a sua documentação a fim de serem promovidos para mudar de
uma carreira para outra. Muitas vezes, o andamento do expediente tem enfrentado muitas dificuldades, os
professores que estudam por iniciativa própria não estão abrangidos pelo sistema de bolsas do MINED,
resultando daí o não reconhecimento oficial do MINED da continuação de estudos. Consequentemente,
surge o problema de provimento ou integração, devido à falta de cabimento orçamental, entravando a
progressão dos professores.
111
O estudo realizado por VSO & Marsh (2008:20) sobre os procedimentos ministeriais de recrutamento,
integração, promoção e progressão nas carreiras constatou que:
Os dados do inquérito mostram que o ano de 2010 concentra os professores que mudaram a
sua categoria e o ano de 2011 tende a concentrar os que mudaram de escalão. No entanto, da amostra,
26.4% dos professores ainda não foram nomeados; 50.7% nunca mudaram de categoria e 74% nunca
mudaram de escalão. Existem professores eventuais que preferem não concorrer para serem nomeados
à espera de concluírem o nível de habilitações mais elevado ou de melhores oportunidades profissionais,
em termos de remuneração, além de se verificar o não cumprimento de procedimentos de promoção
dentro dos níveis de cada categoria pelos responsáveis dos recursos humanos.
Os professores afirmaram existir falta de clareza no pagamento do 2º turno, visto que, na segunda
turma, o professor faz o mesmo trabalho que na primeira turma. De acordo com Lobo & Nheze (2008), a
situação dos professores com dois turnos tem efeitos nefastos sobre a qualidade do processo do ensino-
aprendizagem. Os professores nestas condições não exercem normalmente as suas actividades, pois
não trabalham o tempo suficiente para atender os seus alunos. Normalmente, nas escolas onde existem
professores a leccionar em dois turnos, estes aplicam o horário das escolas com três turnos e leccionam
apenas 3.5 horas por cada turma.
112
No que concerne ao contexto social, os professores dizem que não são informados nem consultados
sobre os planos nacionais de educação para todos nem como são concebidos.
Os professores entrevistados apontaram três aspectos importantes que lhes preocupam. nomeadamente:
■ Falta de consideração quando um professor perde a vida (falta de transporte para levar o
corpo do professor ao cemitério);
■ O desconto para o subsídio do funeral é feito, mas, no momento da morte, não é suficiente
para cobrir todas as despesas do funeral;
■ Falta de dignidade do professor na sociedade, devido ao nível de vida e condições de trabalho.
O professor sempre foi visto como um ser exemplar para a sociedade, em geral, e para a comunidade
em particular. Por isso, depois da independência, os professores eram muito bem recebidos no campo
pela comunidade. Como exemplo disso, a comunidade construía casas para os professores assim como
ajudava-os nos afazeres quando estes fossem solteiros. O estudo realizado por Balói & Palme (1995:12)
destaca a diferença com que o pessoal do campo e da cidade olham para o professor moçambicano:
“... O capital educativo e cultural que dá ao professor a sua posição respeitada no meio rural
representa, no mesmo sistema moderno que produz este capital, um recurso relativamente
fraco. Assim, o professor primário é investido duma expectativa de poder social e cultural que
objectivamente não possui. Esta também é a razão pela qual o respeito do qual o professor
primário granjeia nos meios rurais não tem a sua equivalência nos meios suburbanos e urbanos.”
Actualmente, esta situação talvez tenha mudado um pouco devido à desconfiança que este público
tem deste mesmo professor que outrora era muito acarinhado no campo.
“A prática de construir e oferecer uma casa ao professor recém-formado ou de o ajudar com mão-de-obra
na sua machamba, normalmente através das crianças da escola ou com produtos, vem desaparecendo,
ou pelos menos, as iniciativas da comunidade nesse sentido têm vindo a enfraquecer de forma muito
acentuada. Assim, desligado do apoio directo da comunidade, o professor primário com o seu reduzido
salário vê-se complexado pelo facto de não se poder vestir decentemente…” (Balói & Palme 1995:13-14).
De acordo com o estudo da VSO (2011:56), “as condições de trabalho e de vida dos professores podem
depender, em grande medida, da iniciativa e recursos da comunidade local. O envolvimento da comunidade
113
114
19.1
28.8
Será que os membros pagam as quotas? 10.0
42.1
6.8
8.9
Você é membro da ONP?
25.1
59.2
O gráfico da figura 6-3 mostra que alguns professores (8.9%) nem sabem se são membros da ONP
ou não, enquanto 59,2% reconhecem ser membros da ONP e 25,1% não se filiaram a esta associação.
O ano de 2005 tende a concentrar os professores no ano da sua integração na ONP. Dos inquiridos,
42,1% referiram que os membros da ONP pagam a suas quotas; 10% julgam que os membros da ONP
não pagam as quotas, enquanto 28,8% não sabem se os membros pagam ou não as quotas. No que diz
respeito à variável “valor total anual das quotas pagas à ONP”, apenas 40% responderam e, destes, 38,2%
referiram que 120.00 MT é o valor anual das quotas pagas para a ONP, enquanto os restantes dispersaram
a informação com valores que oscilam de 200,00 MT a 1440,00 MT. Aos inquiridos perguntou-se o que
achavam sobre o funcionamento e as intervenções da ONP. Esta questão constituiu uma variável aberta
sem categorias pré-definida, o que levou a uma grande dispersão das respostas sem aproximações de
tendências.
Das diferentes respostas colhidas, algumas referem que apenas se fala da ONP, mas a sua
intervenção é fraca, não se faz sentir e reduz-se à cobrança de quotas e à organização das cerimónias do
Dia do Professor. Os inquiridos julgam que esta organização deveria ser mais interventiva, preocupar-se
com os problemas profissionais e sociais dos seus membros.
115
Neste capítulo tratou-se da percepção dos professores sobre a sua profissão no âmbito profissional
e social. Assim, foram tratados três assuntos principais, nomeadamente: análise de satisfação/insatisfação
dos professores, análise do contexto social e análise dos mecanismos de diálogo social.
De uma forma geral, podemos concluir que todos os professores gostam da sua profissão, mas
estão insatisfeitos com ela, devido a vários factores, nomeadamente: condições salariais, condições de
trabalho, demora na tramitação dos processos para a mudança de carreira; atraso no processamento das
horas extras; falta de promoções por tempo de serviço e falta de prestígio da profissão na sociedade. De
todos os factores de insatisfação do professor anteriormente mencionados, o baixo salário aparece como
um dos factores fulcrais da insatisfação na profissão, contrariando os outros estudos do género.
Apesar da insatisfação profissional, a maioria dos professores nunca pensou em abandonar a profissão
em troca de uma outra melhor remunerada. Apesar disso, a prática mostra que muitos professores
abandonam o professorado para abraçar outras esferas laborais melhor remuneradas, quer estatais quer
privadas, ou ainda ONGs.
O MINED, na qualidade do patrono de professores que trabalham nas instituições públicas, deve
repensar o salário do professor moçambicano, em particular do professor do ensino primário (N4 e N5),
comparando-o aos salários de N1e N2 e de outras instituições públicas e privadas referentes ao mesmo
nível académico. Ou seja, o MINED deve repensar em relação às discrepâncias salariais dentro das
diferentes categorias, isto é, entre os níveis mais baixos (N4 e N5) e os mais altos (N1 e N2). O intervalo
que existe entre a categoria N5 e N1 é enorme. O intervalo entre a categoria mais baixa e mais alta em
cada carreira é amplo e leva muitos anos. O estudo indica a necessidade de valorização da experiência
profissional dos professores.
As promoções de tempo de serviço deveriam ser automáticas com base numa análise de banco
de dados. A descentralização no sector da educação deve ser uma realidade para flexibilizar o processo
de provimento dos professores.
Os professores lidam com alunos com necessidades especiais nas escolas, mas não estão
preparados para tal. O MINED deve formar todos os professores em matérias de necessidades educativas
especiais. Aspectos como alojamento e subsídios de localização nas zonas rurais ajudariam a melhorar e
a elevar a auto-estima profissional do professor.
116
CAPÍTULO 1
Este capítulo permite-nos concluir que Moçambique possui uma população jovem (45,6% em 2007)
e com elevada percentagem de população activa (51,3% em 2007). O elevado crescimento populacional
faz com que a estrutura por idade seja muito jovem, trazendo assim, inevitavelmente, como consequência
imediata, grandes desafios no campo de educação, principalmente na primária, que é reflectida por número
insuficiente de salas de aulas e de professores em cada ano lectivo.
A esperança de vida ao nascer tem vindo a crescer nos últimos anos (de 50,9% em 2007 para
52,8% em 2012) e, em contrapartida, a taxa global de fecundidade tem vindo a decrescer (5,7% em 2007
e 5,5% em 2012). A maior parte da população (cerca de 70% em 2007) concentra-se nas zonas rurais,
havendo uma tendência de redução desta percentagem nos últimos anos. Outrossim, 75,2% da população
economicamente activa em 2007 ocupava-se da agricultura. Quanto ao PIB a preços correntes, o peso da
educação é maior em relação aos outros sectores, embora esteja a decrescer, uma vez que em 2008 foi
de 23,04%, em 2009 correspondeu a 21,07% e em 2010 decresceu ainda para 19,29%.
As despesas do sector de educação no período de 2007 a 2012 foram mais elevadas com os
salários dos professores do EP do que com a formação de professores para o mesmo nível de ensino.
A taxa de repetição revela que, em Moçambique, a tendência é de se agravar, uma vez que em
2007 foi de 5,9 e em 2011 correspondeu a 6,5, sendo que as províncias de Maputo (11,0) e Gaza (10,3)
apresentavam as taxas mais altas, e Cabo Delgado (4,2%) e Niassa (5,7%) as mais baixas. A taxa de
conclusão apresenta oscilações entre 2007 e 2010. No EP1, esta taxa oscilou de 72,6 (2007), 78,8%
(2008), 70,8% (2009) a 49,6% (2010). No EP2, a taxa oscilou de 46,0% (2007), 54,5% (2008), 48% (2009)
a 49,6% (2010). A qualidade da aprendizagem ainda não é a desejável, estando aquém daquilo que é a
expectativa da sociedade.
117
Em relação à projecção da população em idade escolar do EP1, o estudo constata que a população
escolar, até 2020, irá aumentar, o que poderá continuar a influenciar ainda o RAP alto. O estudo constata
ainda que, devido à alta taxa de abandono (22%), e de repetição (15%), as metas de escolaridade universal
podem ser comprometidas.
CAPÍTULO 3
118
Recomendações
• Conceber materiais de apoio pedagógico para a capacitação de professores em exercício,
leccionando em todos os ciclos do Ensino Primário;
• Conceber materiais de apoio pedagógico para a continuação do curso dos graduados pelo modelo
de 10ª +1;
• Realizar avaliação global dos modelos de 10ª +1 e 10ª +3, tendo em conta a eficácia, condições
de práticas e estágios pedagógicos e avaliação;
• Criar uma instituição de certificação e acreditação dos cursos de formação de Professores no
País;
• Rever a carreira docente em vigor no País de modo a relacionar o conteúdo de formação inicial e
os perfis de carreira docente por níveis e tipos de ensino;
• Avaliar e rever o modelo de 10ª +2 via ensino à distância, sobretudo nas áreas de estudo, sistema
de monitoria e avaliação;
• Conceber o sistema de Formação em Exercício para professores do ESG.
CAPÍTULO 4
Constatações
1. Existência de problemas de afectação dos graduados que retornam às províncias de origem após
terminarem a sua formação, nos casos em que as metas anuais de admissão são abaixo das
necessidades;
2. Dificuldade em disponibilizar dados fiáveis sobre a assiduidade dos professores, pelo facto de
alguns gestores escolares não terem controlo efectivo do funcionamento da escola, aliado ao
deficiente controlo de assiduidade dos professores.
3. Os casos de cessação de exercício de actividades de professores verificam-se em todo o País.
Recomendações
• Reforçar os orçamentos anuais para colmatar o défice de professores nas províncias;
• Melhorar as condições de vida e de trabalho para tornar a profissão do professor mais atractiva
nas escolas, em particular nas zonas rurais;
• Melhorar a gestão de professores através da motivação dos professores, construção de casas
para professores, revisão do estatuto do professor, de acordo com a Resolução n°8/95 de 22 de
Agosto, supervisão e controlo da assiduidade, aplicação rigorosa das medidas administrativas e
119
CAPÍTULO 5
Constatações
1. Em Moçambique, no sector público, os docentes estão vinculados ao Estado por nomeação
(funcionários) ou por contrato (agentes do Estado);
2. No que diz respeito à gestão dos docentes, pode concluir-se que há défice bastante elevado de
professores no nível do ESG;
4. A promoção automática que se realiza da Classe E para C deve ocorrer após dois anos na Classe
E. Contudo, os dados mostram que a promoção vai realizando-se com pouca abrangência, pois
está condicionada à existência de cabimento orçamental;
5. No caso da EP1, muitos directores de escolas não dão aulas pelo facto de, embora assegurando
uma turma, acabarem por auferir um salário quase igual ao de um professor que tem uma turma.
Neste caso, o director da EP1 sai em desvantagem por não ter a compensação pela turma que o
obriga a um esforço redobrado;
6. Não se deve considerar que todos os docentes existentes por província estejam a trabalhar em
salas de aula, pois existem docentes que estão simplesmente inscritos na carreira, mas que
trabalham no sector administrativo, alguns exercem funções de direcção e chefia, entre outros;
Recomendações
• A revisão das carreiras deve ser acompanhada por uma política de formação que preconize que a
continuação de estudos seja decidida pela instituição de acordo com as necessidades de serviço
e não pela imposição das pretensões pessoais do funcionário que, várias vezes, não respondem
às necessidades da instituição;
• Quanto aos salários nas carreiras de regime especial, o Estado deve rever a tabela de acordo
com os valores que todos os outros sectores recebem e o impedimento de remuneração por horas
120
CAPÍTULO 6
Sugere-se que aos professores sejam dadas oportunidades para usar a sua motivação, energia,
conhecimentos e habilidades para a melhoria da qualidade de ensino aprendizagem:
1. Reavaliar a remuneração dos escalões mais baixos dos professores para que seja equiparada
com a de outras funções do Estado, mas com as mesmas características;
4. Melhorar a qualificação académica dos professores, tanto no início, quanto no decurso da carreira;
6. Colocar os professores em locais com condições de habitação, uma vez que a maior parte dos
professores está colocada nas cidades do que no campo, onde existem sérios problemas de
habitação;
10. Avaliar o desempenho do professor com base nos resultados e acordos iniciais com a direcção da
escola e que esses devem reflectir-se na carreira do professor;
121
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15-19 2,157,624 1,037,564 1,120,060 2,542,923 1,241,617 1,301,306 2,946,806 1,473,812 1,472,994
20-24 1,804,011 841,927 962,084 2,081,622 964,090 1,117,532 2,470,502 1,179,270 1,291,232
25-29 1,517,899 699,388 818,511 1,769,115 787,893 981,222 2,035,518 914,196 1,121,322
30-34 1,278,190 586,853 691,337 1,450,376 667,937 782,439 1,692,760 752,742 940,018
35-39 1,058,869 488,381 570,488 1,196,803 560,369 636,434 1,362,667 634,117 728,550
40-44 822,559 402,226 420,333 993,502 463,861 529,641 1,123,344 528,397 594,947
45-49 658,716 322,787 335,929 756,504 375,133 381,371 918,912 430,645 488,267
50-54 537,550 250,500 287,050 605,599 295,950 309,649 696,087 342,800 353,287
55-59 428,601 197,384 231,217 488,630 223,577 265,053 550,481 264,269 286,212
60-64 325,385 152,480 172,905 373,235 171,825 201,410 428,657 194,900 233,757
65-69 244,614 115,266 129,348 278,430 129,397 149,033 319,540 145,236 174,304
70-74 172,979 81,965 91,014 198,177 91,333 106,844 225,428 102,256 123,172
75-79 110,466 52,567 57,899 127,833 58,863 68,970 146,194 65,188 81,006
80+ 116,907 54,246 62,661 122,097 54,276 67,821 136,966 58,647 78,319
crescimento
Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres
País 20.632.434 9.930.196 10.702.238 23.700.715 11.426.321 12.274.394 27.128.530 13.106.447 14.022.083 2,7
Urbano 6.269.621 3.079.809 3.189.812 7.385.294 3.613.684 3.771.610 8.766.777 4.281.319 4.485.458 3,4
Rural 14.362.813 6.850.387 7.512.426 16.315.421 7.812.637 8.502.784 18.361.753 8.825.128 9.536.625 2,5
Niassa 1.213.398 596.217 617.181 1.472.387 723.307 749.080 1.789.120 879.280 909.840 3,9
Cabo Delgado 1.634.162 791.115 843.047 1.797.335 869.849 927.486 1.952.341 946.511 1.005.830 1,8
Nampula 4.084.656 2.015.762 2.068.894 4.647.841 2.294.123 2.353.718 5.251.293 2.593.888 2.657.405 2,5
Zambézia 3.890.453 1.878.160 2.012.293 4.444.204 2.145.605 2.298.599 5.043.120 2.436.703 2.606.417 2,6
Tete 1.807.485 879.730 927.755 2.228.527 1.088.656 1.139.871 2.723.010 1.333.872 1.389.138 4,1
130
Manica 1.438.386 690.062 748.324 1.735.351 834.843 900.508 2.071.403 1.001.323 1.070.080 3,6
Sofala 1.685.663 820.559 865.104 1.903.728 925.134 978.594 2.150.769 1.043.958 1.106.811 2,4
Inhambane 1.304.820 580.158 724.662 1.426.684 638.578 788.106 1.547.850 696.323 851.527 1,7
Gaza 1.236.284 552.249 684.035 1.344.095 608.560 735.535 1.467.951 672.291 795.660 1,7
Maputo Província 1.225.489 585.337 640.152 1.506.442 721.202 785.240 1.858.597 891.521 967.076 4,2
Maputo Cidade 1.111.638 540.847 570.791 1.194.121 576.464 617.657 1.273.076 610.777 662.299 1,4
131
Período
PRODUTO 2007 2008 2009 2010 2011
Agricultura, Produção Animal, Caça 34,899,662 38,130,468 40,825,094 43,503,322 46,447,072
132
Descrição
Estrutura Percentual 2007 2008 2009 2010 2011
Agricultura, produção animal, caça e silvicultura 23.8 25.0 25.3 26.7 27.0
Pesca, aquacultura, e actividades dos serviços relacionados 1.6 1.8 1.6 1.7 1.6
Reparação de veículos automóveis, motociclos e de bens de uso pessoal e 0.4 0.3 0.4 0.4 0.4
doméstico
Actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas 5.9 5.6 5.4 4.7 4.3
Administração pública, defesa e segurança social obrigatória 3.5 3.5 3.7 3.6 3.7
Outras actividades de serviços colectivos, sociais e pessoais 1.6 1.5 1.5 1.3 1.2
Total valores acrescentados, preços de base 91.8 91.5 91.0 91.3 90.6
Fonte: INE
133
Período
PRODUTO 2007 2008 2009 2010 2011
Gasóleo 255.915,95 467.296,36 223.765,34 348.469,98 683.297,12
Fonte: INE
134
Período
PRODUTO 2007 2008 2009 2010 2011
Amêndoa de Caju 8,862.14 10,930.43 15,250.76 10,815.59 …
Copra … … … - …
Fonte: INE
Salários dos professores EP2 2,087,796 2,516,287 2,846,822 3,166,823 3,328,051 3,406,730 17,352,508
135
Custos Administrativos nos IFPs 21,240 35,865 59,288 66,512 50,799 46,694 280,398
Salario de Pessoal Docente e Não 497,796 330,702 507,606 512,350 477,642 485,429 2,811,524
136
137