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Questões da entrevista – 03 de Fevereiro 1969

03 de fevereiro 1969 – Dia dos Heróis Moçambicanos

Apresentação:

Em primeiro lugar, Bons dias à todos! Em segundo lugar, Muito obrigado pelo convite.

Parte – Introdutória:

Em todos anos, em Moçambique, o dia 03 de Fevereiro apresenta-se como uma data crucial e
histórica para o povo moçambicano. Pois, é exactamente neste dia, neste mês que o povo
moçambicano celebra o dia dos heróis moçambicanos. A data foi escolhida para homenagear
falecido Doutor Eduardo Chivambo Mondlane. Perdeu a vida no dia 03 de Fevereiro de 1969,
em Lusaka, capital da Tanzânia, vítima de uma carta-bomba, no seu escritório. Eduardo Chivambo
Mondlane é uma figura incontornável na História de Moçambique, sobretudo, para a reflexão
e o entendimento de quase todo processo histórico que esteve por detrás, quer na emergência,
construção da unidade nacional, afirmação do nacionalismo moçambicano e da ideologia da
guerra revolucionária, ou seja, na luta contra o regime colonial Português.

Quem é Eduardo Chivambo Mondlane?

Eduardo Chivambo Mondlane, nasceu na localidade de Nwadjahane, no distríto de Mandlakazi,


província de Gaza, no dia 20 de Junho de 1920. Seu pai de nome Nwadjahane Mussengane
Mondlane, que incrivelmente era um dos chefes da estrutura tradicional local. Sua mãe Makungu
Muzumasse Mbembele. Perdeu seu pai quando tinha 2 anos de idade e sua mãe, quando tinha 13
anos. Foi ao lado da sua mãe que, mesmo sem ter frequentado um tipo de ensino ocidental, Eduardo
Mondlane a considerava “uma mulher de grande carácter e intelegência”. Alías, foi a educação
que recebeu da sua mãe que no Eduardo Chivambo Mondlane o grande vício de querer estudar e
compreender a cultura ocidental. Ou seja, nascia aí o espírito de revolta contra o regime
colonial.

Eduardo Chivambo Mondlane, nasceu e cresceu no meio rural. Ao lado de crianças da sua idade,
pastou o gabo bovino, caprino e ovino.

Percurso académico
Os seus primeiros passos de escolaridade de Eduardo Mondlane, foi nas Escolas da Missão Suiça
- a partir de 1948, passou a chamar-se Igreja Presbeteriana, Gaza, Maputo e Inhambane –
foi em Inhambane que aprendeu o processo do cultivo das culturas de sequeiros, tipo de
agricultura prática nas zonas secas, na Escola da Igreja Metodista Americana, em Khambine,
distrito de Morrumbene.

A actividade missionária católica em Moçambique esteve em constante atrito com o ensino


das missões protestantes, cujo objectivo era a si antagónico. Ademais, a actividade protestante
de ensino era bastante forte nos países vizinhos, com maior destaque para a África do Sul, em
particular no Transvaal. Foi desde cedo uma preocupação para o governo colonial português
em Moçambique.

Neste contexto, o percurso académico de Eduardo Mondlane foi marcado por uma conjuntura de
perseguição e discriminação que as igrejas e/ou missões protestantes em Moçambique eram
alvo, recebeu uma bolsa para frequentar o ensino secundário no Transvaal do Norte, na África
do Sul.

 Entre 1944 a 1947 – Eduardo Mondlane frequentou a Escola Secundária de Lemana da


Missão Suiça, no Norte de Transvaal e, chegou mesmo a trabalhar como catequista ao
mesmo tempo.
 Em 1948, frequentou a Escola de Trabalho Social Jan Hofmayer, em Johannesburg,
nesta escola estudar algumas figuras nacionalistas e líderes africanos como é o caso de
Joshua Nkomo e Winnie Mandela.
 Em finais de 1948, participa, em Lourenço Marques, num conjunto de reuniões que
originaram, em inícios de 1949 – o Núcleo de Estudantes Secundários Africanos de
Moçambique (NESAM) que funcionava dentro do Centro Associativo dos Negros da
Colónia de Moçambique (CANCM).
 Em Fevereiro de 1949, o Conselho Cristão de Moçambique (CCM) concede-lhe uma
bolsa para estudar Ciências Sociais, que levou Eduardo Mondlane a matricular-se na
prestigiada Universidade de Witwatersrand.
Eduardo Mondlane apresentou-se como um estudante com certa maturidade e experiência
organizativa, proactivo, visionário. Ou seja, evidenciou-se através do seu empenho académico e
liderança juvenil. Facto que lhe valeu a nomeação para líder de estudantes.

 Em agosto de 1949, teve que abandonar a África do Sul, foi expulso da Universidade pelo
Governo sul-africano, na sequência das novas medidas discriminatórias, com
implementação do Regime do Aparthied em 1948, pelo Partido Nacionalista.
 Nos princípios da década de 50, recebeu uma bolsa oferecida por uma fundação
privada para prosseguir os seus estudos universitários, em Portugal, em Portugal, foi
integrado na Casa dos Estudantes do Império (CEI), uma instituição criada para
acolher estudantes das colónias. Foi aqui que manteve contacto com Marcelino dos
Santos (vice-presidente da FRELIMO a partir de 1970), Agostinho Neto (primeiro
Presidente de Angola), Amílcar Cabral (Presidente e fundador de PAIGC), Mário
Pinto de Andrade.
 Em 1951, devido às constantes persiguições a que eram vítimas os estudantes africanos
pelo governo fascista português, Eduardo Mondlane foi obrigado a deixar a cidade de
Lisboa para Estados Unidos da América, onde doutorou em Antropologia e
Sociologia, em 1957.

1. Qual é a razão de se considerar dia dos heróis moçambicanos neste dia ?

A razão de se considerar, hoje, dia dos heróis moçambicanos, é pelo facto de ter sido exactamente
nesta data que se deu o assassinto de Eduardo Chivambo Mondlane, vítima de um atentado à
bomba, em Dar-es-Salaam, capital da Tanzânia. E com a independência – 25 de Junho de 1975,
surgiu no seio das lideranças moçambinas a ideia de imortalizar, não só a figura de Eduardo
Chivambo Mondlane, mas como também os seus feitos. Então, foi pelo sentido de homenagear
Eduardo Mondlane e as suas obras. E porque de facto, Eduardo Chivambo Mondalene é uma figura
incontornável na História de Moçambique, sobretudo, para a reflexão e o entendimento de quase
todo processo histórico que esteve por detrás, da emergência, construção da unidade nacional e até
mesmo a consolidação do nacionalismo moçambicano e, que consequentemente, deu bases a
ideologia da guerra revolucionária, ou seja, na luta contra o regime colonial Português.
Entende-se no entanto que, Eduardo Mondlane não é o único heró moçambicano. Mas que para
este contexto histórico é e sempre será uma figura incontornável na História da Frelimo e de
Moçambique.

2. Quem são os heróis moçambicanos?

Os herós moçambicanos são todos aqueles que abandonaram as suas vidas privadas, para
abraçarem uma causa colectiva, causa patríotica, causa nacionalista, na defesa da soberania
em prol luta de bem-estar social, igualdade perante a lei, não a opressão, exploração e/ou
discrimitação. E os heróis existem em quase todas épocas da história da humanidade. Pois,
historicamente falando, temos por exemplo, no período da agressão-imperialista que começa logo
após a conferência de Berlim, 1886 a 1930 com ascenção do novo governo português da extrema
direita, ou seja, do tipo ditatorial e autoritário, temos algumas figuras de resitência à ocupação e
conquista colonial em Moçambique. Desde a região Norte – com nomes de figuras como Mocutu-
Munu, Komala, Mussa Quanto, Mataca, no centro de Moçambique, nomes como Macombe
Hanga, Mafunda, Nongué Nongué e Macossa e, na região Sul, Mahazule (Magaia),
Nwamantibjabna (Zixaxa), Ngungunha, Maguiguana, são caracterizados pela sua coragem e
capacidade de liderança, visionária e revolucionária.

E a figura de Eduardo Mondlane, após este período de resistências primárias, bem como as de
contestação ao regime colonial, irá apresentar no seu tempo a continuidade de luta pela liberdade
do povo moçambicano. Ele e sua companhia, Marcelino dos Santos, Filipe Samuel Magaia,
Samora Machel, Alberto Chipande. Com estes exemplos não procuro enfatizar uma história
vista de cima, mas sim, mostrar o quão importante é reflectir sobre estes processos históricos.

3. Que critérios foram usados para definir as figuras mencionadas acima como heróis?

Esta pergunta pode ser respondida com base na combinação de um conjunto de factores, acima de
tudo político e históricos. E muitas das vezes, pesam mais questões de ordem política para a
definição de uma figura como herói nacional. E a parte histórica, servindo como a parte
complementar do sentido de quem se diz ser herói nacional. Ou seja, existe aqui uma forte relação
entre a memória e a constituição dos heróis nacionais. E esta relação conduz-nos ao aparecimento
dos signios das nação e da unidade nacional. São, portanto, projectos políticos visando a
valorização da história pátriotica, passando pela selecção de figuras que, pela sua actividade e
influência social ganham estes créditos.

Eduardo Chivambo Mondlane, por exemplo, é um herói nacional. Porque aparece como uma figura
nacionalista que abandona a sua vida privada para abraçar uma luta conjunta, baseada na unidade
nacional. Ou seja, conseque, através da sua inteligência, coragem, consciência política liderança,
vencer as barreiras da tribo, vencer a ignorância, vencer a inexperiência política do povo
moçambicano naquela época, apresentando preceitos ideológicos que visam unir o povo
moçambicano para uma mesma luta e, em consequência disso, Moçambique tornar-se
independente, um povo unido, e em protidão para enfrentar os desafios que o mundo apresenta.

A política de Eduardo Chivambo Mondlane foi de um ser visionário. Porque, antes da criação da
FRELIMO, como Movimento ou Frente de Libertação de Moçambique – 25 de Junho de 1962, a
partir da fusão dos movimentos políticos como UDENAMO, MANU – Mozambique African
Nacional Union e UNAMI – União Nacional Africana de Moçambique independente, pessoas de
várias tribos não se conheciam, e por essa razão, viviam em conflitos entre irmãos. E esta era uma
das táticas fortes do colonialismo, fazer com que gente da mesma terra entendessem que não são
da mesma terra. logo, para Eduardo Mondlane isso tinha de ter um fim.

4. Qual é a relação que se pode estabelecer entre o dia 02 de Fevereiro e dia 03 de


Fevereiro?

No primeiro momento temos, o que em História chamamos de proto-nacionalismo – que significa


fase embrionária da consciência negra e a atitude do africano, no geral, e moçambicano, em
paryicular, em reação à invasão e desestruturação das unidades políticas e estruturas funcionais
dos líderes pre-coloniais. E já neste momento, surgem nomes de heróis moçambicanos. Estámos a
falar da batalha de Marracuene, facto este que aconteceu no âmbito das lutas de ocupação militar
da região Sul de Moçambique, que iniciaram em 1895 e terminaram no dia 21 de Julho de 1897,
com a batalha de Macontene (Chibuto), quando Maguiguana, com o desaparecimento de
Ngungunhane – 28 de Dezembro de 1895, quando foi capturado por Mouzinho de Albuquerque,
este vai dar continuidade a resistência no estado de gaza. E, infelizmente, devido a superioridade
técnológica em armamento e à mobilidade da cavalaria das forças portuguesas, dando o fim
político e territorial de todos os estados Nguni.
5. O que podemos esperar dos próximos tempos, novos heróis poderão surgir?

Sim. Os heróis devem sempre existir na história da humanidade. São visionários, corajosos,
revolucionários. E para sermos heróis, não precisamos de guerra, banho de sangue, apenas
precisamos de visões, prespectivas que moldam a sociedade e a coloque num constante processo
de desenvolvimento. Afinal de contas, Eduardo Chivambo Mondlane, não estava a ensinar o povo
moçambicano a se unir para entrar em guerra, mas sim, a se unir para evitar a guerra fomentada
no regionalismo, racismo, tribalismo. Mas isto não quer dizer que temos de esquecer que somos
marongas, machuabos, shonas e/ou Yaos.

Então, os novos heróis poderão surgir como continuadores. Porque a história, a partir do passado,
consegue apresentar e ensinar-nos sobre os processos que ditaram o avanço ou retrocesso do povo
moçambicano. Temos heróis nacionais de luta contra ocupação colonial, temos heróis de luta
contra o regime colonial e temos heróis nacionais de luta pela independência nacioanl. E hoje,
estámos independentes! Qual é a nossa agenda e nossa luta? São os heróis que poderão responder
a estas perguntas.

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