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A educação como fenómeno social existe desde o surgimento da humanidade. Ela existe
mesmo onde não há escolas, embora aconteça por processos diferentes daqueles utilizados
pelo sistema escolar.
Salienta R. HUBERT citado por Roger (1974: 21) que “ cada sociedade por mais simples ou
complexa que seja tem a sua maneira de treinar, instruir e educar a sua juventude para a vida e
trabalho”. Depreende-se daí que enquanto ela visar no ajustamento da criança ao seu meio,
portanto a formação da personalidade humana, toda educação é valida na medida em que
corresponder com as expectativas da sociedade.
Contudo, embora cada grupo étnico ou tribo tenha a sua cultura específica, os objectivos da
educação tradicional em moçambique foram desde, e, segundo Tumbo Ernesto (s/d: 12),
comuns: formar o homem com o espírito de honestidade, hospitalidade, respeito e
integridade de modo a aderir e valorizar a sua cultura.
Avançando com Tumbo e Ernesto dizem ainda que o conteúdo dessa educação é constituído
por três aspectos nomeadamente: físico, moral e intelectual e tem como características:
caracter social, colectiva, informal e carácter funcional.
Actualmente, a educação tradicional não existe no seu estado puro, mas continua presente a
nível da ideologia e comportamento social através de: interesse pela colectividade,
solidariedade, hierarquia das idades, espírito de ajuda mútua, trabalho colectivo, relação muito
íntima da educação com a realidade, exercício de funções segundo sexo, veneração aos
antepassados, etc.
O carácter político é, como se sabe uma das principais características da educação, pois que
ela traça os programas, conteúdos e objectivos de acordo com as necessidades políticas da
classe no poder.
Nisto, educação colonial teve com base a política de assimilação e o seu objectivo
principal consistia em integrar os nativos a cultura portuguesa. Uma vez alcançado este
objectivo principal foi fácil a prossecução de outros objectivos gerais, tais como:
-Facilitar de forma pacífica a penetração e domínio do sistema colonial;
-Facilitar a exploração económica pela burguesia portuguesa;
-Desvalorizar a cultura dos nativos e retardar o seu desenvolvimento.
E são apontados como objectivos específicos:
-Formar exploradores;
-Assegurar a opressão do povo;
-Fornecer o alienamento da sua própria pátria;
-Fornecer o alienamento da sua origem social;
-Favorecer o desprezo pela sua própria cultura;
-E, identificar-se com a cultura do Portugal.
Durante a luta armada de libertação nacional que teve o seu início em 25 de Setembro de 1964
e terminou com a proclamação da Independência Nacional em 1975; foi preocupação da
FRELIMO promover a educação escolar a população das partes dos territórios que iam sendo
libertadas da influência colonial.
IVALA et all (2000: 108) “a educação era concebida como um meio de realizar a libertação
do povo moçambicano da pesada herança colonial que era o analfabetismo considerado como
um dos males de que resultavam o obscurantismo, a ignorância e a superstição”.
De acordo com Eduardo Mondlane citado por Mazula (1991: 108) “educação era uma
condição política e ideológica básica para o sucesso da luta”. Realmente a educação fazia-se
fundamentalmente sob o princípio de negação e ruptura com o colonialismo e com os
aspectos negativos da tradição.
Assim, à medida que a guerra ia se estendendo por novas áreas territoriais, a Frelimo foi
criando bases de um novo objectivo de educação de acordo com os interesses da nova
sociedades que se tinha em vista.
Alfabetização e escolarização de Adultos: era dada aos guerrilheiros que por sua vez
ensinavam as populações.
A escola desenvolvia um meio integrado nos seus programas, com vista a criar nos alunos
amor e apreço pela classe trabalhadora, tornar a escola auto suficiente e combater nos alunos
o espírito parasitário e atitude elitista. Dado o contexto de guerra, estendia-se a participação
do aluno na própria luta armada. Portanto, o aluno devia desenvolver um espírito guerrilheiro,
devendo participar em varias tarefas ao lado do guerrilheiro, ver o como um amigo velho.
Em síntese há que observar que a experiência da educação foi caracterizada pela relação
dialéctica entre a educação tradicional e do sistema de educação colonial e de síntese de
transformações operadas no novo modo de pensar, de sentir, de agir. Foi esta capacidade
realizada no mesmo espaço de dialecticidade cultural das zonas libertadas, que permitiu a
FRELIMO avançar na luta e lançar base para um sistema de educação a nível nacional.
Em consequência da debandada dos colonos o nosso país herdou uma desastrosa herança em
termos de quadros Nacionais e infra-estruturas sociais, sobretudo na área de Educação.
É neste " Mare Magnum" de dificuldades que a Frelimo devia traçar Definir estratégias para o
desenvolvimento do país que acabava de nascer e sob o peso da sua responsabilidade. É neste
contexto que a 24 de Julho de 1975, foram nacionalizados a terra e os recursos naturais do
país, os serviços de Saúde e da Educação. Estas nacionalizações visavam fundamentalmente,
eliminar a possibilidade de emergência de burguesia enquanto classe e introduzir novas
relações de produção, (BUENDIA, 1999: 234).
Como diria Mazula, "O PPI reproduzia, na prática o modelo do desenvolvimento dos países
socialistas. A Frelimo pretendia dar "Grande salto" para o Socialismo. Criava-se a ilusão
como possibilidade racional de desenvolvimento ser vencido numa década o sucesso da
educação resultando rápido desenvolvimento económico.
Neste contexto, e ao abrigo da lei 4/83 de 23 de Março é criado o SNE que viria a ser
revogado, desta feita, pela lei 6/92 de 6 de Maio, que reajusta o quadro geral do SNE e adequa
as disposições nele contidas, tendo superado diferenças substanciais e profundas no referido
documento em termos da sua fundamentação, conforme o quadro que a seguir se apresenta:
Com efeito comparando os dois suplementos verifica-se claramente uma ruptura total e
completa, e nítida diferença em termos de fundamentação quer nos princípios quer nos
objectivos e a própria estrutura. Se constata com muita evidência que os princípios e os
objectivos consignados à luz da lei 4/83 são nitidamente Socialistas impregnados de
princípios Marxistas- Leninistas e a educação era da alçada exclusiva do estado. Na lei 6/92,
aqueles princípios foram na sua totalidade abandonados, estabelencendo-se princípios numa
perspectiva democrática pluralista e o estado se eximiu da tutela exclusiva da Educação. "
Pode - se constatar uma mudança radical do discurso da Frelimo. Este discurso não pode ser
entendido apenas como corolário das rápidas mudanças que ocorrem no país. É também o
reconhecimento explicito dos seus ideólogos, da impraticabilidade do projecto do
desenvolvimento do país, se tivermos em conta a desastrosa herança em quadros qualificados
que o colonialismo deixou e principalmente à falta de uma politica coerente de formação de
professores ", (BONNET, obra citada: 263).
O SNE, que tinha como prerrogativa servir de base para os "condenados da terra" tomarem o
poder, fracassou porque a partida e sob a imposição da ideologia Marxista - Leninista, visava
a formação do Homem Novo, a velha meneira socialista, livre do obscurantismo e com visão
científica do mundo, na óptica do materialismo dialéctico. Como consequência imediata, os
nobres valores tradicionais seculares (ritos de iniciação, Lobolo, Religiões e outros saberes
locais) pura e simplesmente foram sonecados e combatidos sob o estandarte de combate ao
obscurantismo. Foi um erro crasso que motilou as nobres e bem intencionais iniciativas do
SNE. " O SNE teve à nascensa intenções nobres que, se tivessem sido pensadas de acordo
com as práticas "educativas" de que a pedagogia tradicional é rica, teria capitalizado
experiências que fariam do projecto um sucesso com repercursões históricas para o país se
tivermos em conta os apelos da UNESCO, na área da Educação, sobretudo, acerca da
necessidade de substituição gradual dos curricula herdados da época colonial , tendo em vista
os interesses nacionais", (Ibidem, Obra citada: 264).
" O subsistema de formação de professores devia ter sido, efectivamente a espinha dorsal do
SNE. O sistema de educação, de forma como tinha sido concebido, só podia ter funcionado
com uma formação de professores em massa, sem descurar o aspecto qualitativo, para garantir
o seu sucesso. Houve um processo inverso: Massificar o ingresso para depois formar
professores sem uma adequação, articulação entre os conteúdos métodos e meios dos Centros
de Formação de professores com os escolares e com o quotidiano do povo, com o contexto
concreto dos educandos, tornou inviável o SNE."( Ibidem, Obra citada: 264).
É importante também ter em consideração de que a guerra movida pela RENAMO deu o
golpe de misericórdia ao fracasso do SNE. "Outro elemento que condicionou os resultados
que se esperavam no SNE, foi a guerra movida pela RENAMO, que destruiu ou paralisou
mais de 50% da rede escolar primária, agravando ainda mais a situação da rede urbana que ja
se ressentia da superlotação,"(Ibidem ,op.cit: 258)
3. 2 REFORMA CURRICULAR
3. 2. 1 Conceitos
A reforma curricular, como reconheceu Roberto (1987), é o vector principal de qualquer
reforma educativa, pois, o currículo é o elemento fulcral de um sistema educativo.
E como uma mudança contém muitas dimensões conflituosas e estratégicas não se poderá
desejar que as reformas educativas se esgotem por completo na reforma curricular; Manuel
Patrício (1991: 10) apud (PACHECO 2001: 157), “que aquilo em que veio a tornar-se psicose
curricular da reforma educativa do ministério Roberto Carneiro, apresentava apenas, no plano
global de actividades do CRSE, uma das 52 actividades previstas para o desenvolvimento.
Mesmo assim, a reforma curricular foi um dos pontos mais visíveis de todo o processo global
de reforma, suscitando opiniões muito diversas. De um modo global, a reforma curricular
supõe mudanças em várias dimensões que significam tanto uma mudança como uma
inovação. PACHECO, (1992: 77) apud (PACHECO 2001:157).
A inovação curricular apesar de tudo acontece segundo González e Escudero (1987) apud in
www.hottopos.com em três grandes enfoques teóricos:
a) Enfoque técnico-científico - as mudanças curriculares são tratados como meras questões
técnicas. Os currículos são altamente estruturados, limitando-se o papel dos professores á
simples execução de instruções superiores.
b) Enfoque cultural – dá-se uma grande importância à complexidade dos processos de
mudança e às suas interacções. A cultura das escolas é particularmente valorizada. O papel do
professor é valorizado, como agente e intérprete das culturas em presença.
c) Enfoque sócio-político – a mudança é perspectivada em termos políticos e ideológicos. O
que é particularmente valorizado são as condições históricas e sociais. Os professores tendem
a ser reduzidos ao papel de simples instrumentos do poder.
Actividades de aprendizagem
1. Fale da génese do SNE.
2. Qual é a contribuição da FRELIMO no SNE moçambicano?
3. O que é reforma curricular?
a) Como se traduz a reforma curricular em Moçambique?
b) Mencione as fases da reforma curricular em Moçambique
4. Faça uma análise da educação em diversas fases em Moçambique
5. Analise encontrando as diferencas e semelhancas no SNE sob perspectiva da lei 4/83 e
6/92, no tocante aos seguintes aspectos: principios gerais, objectivos gerais e a sua estrutura.
6. Atente as razões que justificam a dificuldade da implementar as mudanças curriculares.
7. Fale dos enfoques teóricos e niveis da inovação curricular do SNE Moçambicano.
8. Analise a relevância das principais inovações propostas pelo Plano Curricular do Ensino
Básico à luz das reformas havidas neste subsistema de ensino.
BIBLIOGRAFIA