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Módulo de História de

Moçambique até ao
Século XV
Curso de Licenciatura em Ensino de História

Faculdade de Ciências Sociais e Filosóficas

Departamento de História

Universidade Pedagógica
Rua João Carlos Raposo Beirão nº 135, Maputo
Telefone: (+258) 21-320860/2 ou 21 – 306720
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Centro de Educação Aberta e à Distancia


Programa de Formação à Distância
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Telefone: (+258) 84 20 26 759 / 84 900 18 04
e-mail: cead@up.ac.mz / up.cead@gmail.com
Ficha técnica

Autoria: Maria Amida Maman

Revisão Científica: Científica: Eceu Muianga

Revisão da Engenharia de EAD e Desenho Instrucional: Cristina Ribeiro Loforte

Edição Linguistica: Jaime Mondlane

Edição técnica/Maquetização: Valdinácio F. Paulo

Layout da Capa: Valdinácio F. Paulo


Imagem base da Capa: Gaël Epiney

© 2019 Universidade Pedagógica

Primeira Edição

Impresso e Encadernado por

© Todos os direitos reservados. Não pode ser publicado ou reproduzido em nenhuma forma ou meio – mecânico ou
eletrónico- sem a permissão da Universidade Pedagógica.
Índice
Visão Geral do Módulo 1

Ícones de Actividades 4

Unidade 1: A problemática das Fontes da História de Moçambique no período anterior ao século


XV 9

Lição n° 1 11
As Fontes históricas do período anterior ao século XV.................................................. 11

Lição n° 2 16
A Arte Rupestre em Moçambique .................................................................................. 16

Unidade 2: Moçambique no período dos primeiros Caçadores e Recolectores 37

Lição n° 3 39
As Comunidades de Caçadores e Recolectores .............................................................. 39

Lição n° 4 42
Os povos pré-Bantu, os KhoiSan .................................................................................... 42

Lição n° 5 47
A caça e a recolecção como actividades dominantes...................................................... 47

Lição n° 6 50
Organização social das comunidades de caçadores e recolectores ................................. 50

Lição n° 7 53
As manifestações culturais dos Khoisans ....................................................................... 53

Unidade 3: O Povoamento de Moçambique e os primeiros Estados Bantu (séc. III/IV - XV) 59

Lição n° 8 61
O processo migratório e a fixação Bantu ........................................................................ 61

Lição n° 9 69
Teorias e rotas da expansão Bantu na África Austral e Oriental .................................... 69

Lição n° 10 75
A fixação dos povos de línguas bantu: Da economia de caça e recolecção à economia
agrícola............................................................................................................................ 75

Lição n° 11 79
Relação e contactos entre os agricultores e as comunidades de caçadores e
recolectores ..................................................................................................................... 79

Lição n° 12 82
Consequências do povoamento Bantu ............................................................................ 82

Lição n° 13 87
A Sistematização da Agricultura e o seu impacto social em Moçambique .................... 87

Lição n° 14 93
Os Grupos Étnicos de Moçambique ............................................................................... 93

Unidade 4: Formação dos Primeiros Estados de Moçambique e o comércio com os árabes (séc.
IX a XV) 103

Lição n° 15 105
O Estado do Zimbabwe................................................................................................. 105

Lição n° 16 110
O Estado de Monomotapa............................................................................................. 110

Lição n° 17 115
O Estado do Monomotapa: A economia e a cultur ....................................................... 115

Lição n° 18 120
O comércio no litoral de Moçambique e o seu impacto ............................................... 120

Referências bibliográficas 132


Visão Geral do Módulo
Introdução ao Módulo de História de Moçambique até
ao Século XV

«Os desafios de continente exigem a formação de mais e melhores


professores, dotados de competência didáctica pedagógica e com
preparação científica adequada para que possam fazer da aula um
verdadeiro espaço de aprendizagem, onde os alunos tenham a
oportunidade de construir o seu conhecimento e desenvolver as suas
habilidades de uma forma eficaz» (LUÍSA DIOGO, in ZAMBEZE
de 14/09/2006, p. 16).

A História de Moçambique, como história pátria, constitui


um dos alicerces importantes do curso de licenciatura em ensino de
História. Ela inicia no primeiro ano para permitir a si, caro estudante,
enquadrá-la no conjunto das disciplinas de história geral e de África
que compõem o currículo.

O módulo de História de Moçambique até ao século XV visa


desenvolver reflexões sobre a História de Moçambique, desde os
primeiros povoamentos em Moçambique até a formação dos
primeiros estados no século XV, especificando as matrizes da
organização social, religiosa, económica, política, etc. Neste caso, os
estudos envolvem matérias relativas às comunidades de caçadores e
recolectores, às primeiras comunidades agrícolas estabelecidas na
África Austral e a formação dos primeiros estados.

Para a elaboração deste módulo usou-se vários métodos e


técnicas de pesquisa, com destaque para a consulta de documentos
escritos (Primários e Secundários).

Ao estudar este módulo você irá compreender as questões


que se colocam na história do país, o período mais antigo dessa
história e terá uma visão mais aprofundada sobre a história de
Moçambique.

1
Objectivos do Módulo
Quando terminar o estudo do Módulo de História de Moçambique
até ao século XV você deverá ser capaz de:

 Integrar os conhecimentos da História de Moçambique no


conjunto da História de África e da história mundial;
 Leccionar a História de Moçambique até ao século XV;
 Manipular os instrumentos para a compreensão e pesquisa
da história de Moçambique;
 Analisar as principais transformações económicas,
políticas, sociais e culturais ocorridas ao longo do tempo
na região que corresponde actualmente a Moçambique;
 Valorizar a investigação científica como base de estudo da
história.

Estrutura do Módulo
O módulo está organizado em unidades de aprendizagem. Cada unidade tem uma
introdução, objectivos de aprendizagem, auto-avaliação da unidade e resumo.
Cada unidade está organizada em lições. Cada lição tem uma Introdução, a
indicação do que deverá aprender (Objectivos), o conteúdo a ser estudado, as
Actividades de aprendizagem, Exercícios, questões de debate, orientações para
a tomada de notas e outros elementos que variam em cada módulo. No fim de
cada lição encontra uma proposta de Auto-avaliação e Comentários tanto para a
Auto-avaliação como para as Actividades e Exercícios para lhe ajudar a verificar
e orientar a sua aprendizagem.

Este módulo é constituído por quatro unidades de aprendizagem que, por sua vez
estão subdivididas em lições, distribuídas da seguinte forma:

2
Unidade Lições Tempo
previsto
1. A problemática das 1ª As fontes históricas do período anterior
Fontes da História de ao século XV;
Moçambique no 2ª A Arte Rupestre em Moçambique. 10h
período anterior ao
século XV
2. Moçambique no 1ª As comunidades de caçadores e recolectores;
período de Caçadores 2ª Os povos pré-Bantu, os Khoisans;
e Recolectores 3ª A caça e a recolecção como actividades
dominantes; 15h
4ª Organização social dos caçadores e
recolectores;
5ª As manifestações culturais dos Khoisans.
3. O Povoamento de 1ª O processo migratório e a fixação Bantu;
Moçambique e os 2ª Teorias e rotas da expansão Bantu para a
Primeiros Estados África austal e oriental;
Bantu (séculos III/IV- 3ª A fixação dos povos de línguas bantu: da
XV) economia de caça e recolecção para a
economia agrícola;
4ª Relação e contactos entre agricultores e 35h
as comunidades de caçadores e
recolectores;
5ª Consequências do povoamento bantu;
6ª A Sistematização da Agricultura e o seu
impacto social em Moçambique;
7ª Os Grupos Étnicos de Moçambique.
4. Formação dos 1ª O Estado do Zimbabwe;
primeiros estados em 2ª O Estado do Monomotapa;
Moçambique e o 3ª O Estado do Monomotapa: a economia e
20h
comércio com os a cultura;
árabes (Sécs. IX a 4ª O comércio no litoral de Moçambique e
XV) o seu impacto.

3
A quem se destina o Módulo
Este Módulo foi concebido para os estudantes da Universidade
Pedagógica inscritos no 1º ano do Curso de Licenciatura em Ensino
de História na modalidade de Ensino á Distancia. Poderá ocorrer,
contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar seus
conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem-vindos.

Avaliação
Ao longo deste módulo encontrará várias tarefas que acompanham o seu estudo.
Tente sempre realizá-las.

Para além das tarefas de auto-avaliação você será avaliado através da realização
de trabalhos individuais e de grupo, dois testes escritos e um exame no fim do
estudo do módulo. A data e local de realização do exame serão indicados pelos
seus tutores.Vamos iniciar pelo estudo da problemática das fontes da história de
Moçambique para o período anterior ao século XV. A fraca produção de
documentos escritos e a debilidade das pesquisas arqueológicas fazem com que
o estudo deste período seja feito com algumas dificuldades.

Ícones de Actividades

Caro estudante, para lhe ajudar a orientar-se no estudo deste módulo e


facilmente foram usados marcadores de texto do tipo ícones. Os ícones
foram escolhidos pelo CEMEC (Centro de Estudos Moçambicanos e
Etnociência) da Universidade Pedagógica. Tomou-se em consideração a
diversidade cultural Moçambicana. Encontre, a seguir, a lista de ícones, o

4
que a figura representa e a descrição do que cada um deles indica no
módulo:

1. Exercício 2. Actividade 3. Auto-Avaliação

[peneira]
[colher de pau com
[enxada em actividade] alimento para provar]
4. Exemplo/estudo de 5. Debate 6. Trabalho em grupo
caso

[Jogo Ntxuva]
[fogueira] [mãos unidas]
7. Tome nota/Atenção 8. Objectivos 9. Leitura

[estrela cintilante] [livro aberto]


[batuque soando]
10. Reflexão 11. Tempo 12. Resumo

[sentados à volta da fogueira]

[sol]
[embondeiro]

5
13. Terminologia 14. Video/Plataforma 15. Comentários
Glossário

[Dicionário] [computador]
[Balão de fala]

1. Exercício (trabalho, exercitação) – A enxada relaciona-se com um


tipo de trabalho, indica que é preciso trabalhar e pôr em prática ou
aplicar o aprendido.
2. Actividade - A colher com o alimento para provar indica que é
momento de realizar uma actividade diferente da simples leitura, e
verificar como está a ocorrer a aprendizagem.
3. Auto-Avaliação – A peneira permite separar elementos, por isso
indica que existe uma proposta para verificação do que foi ou não
aprendido.
4. Exemplo/Estudo de caso – Indica que há um caso a ser resolvido
comparativamente ao jogo de Ntxuva em que cada jogo é um caso
diferente.
5. Debate – Indica a sugestão de se juntar a outros (presencialmente ou
usando a plataforma digital) para troca de experiências, para novas
aprendizagens, como é costume fazer-se à volta da fogueira.
6. Trabalho em grupo – Para a sua realização há necessidade de
entreajuda, que se apoiem uns aos outros
7. Tome nota/Atenção – Chamada de atenção
8. Objectivos – orientação para organização do seu estudo e daquilo
que deverá aprender a fazer ou a fazer melhor
9. Leitura adicional – O livro indica que é necessário obter
informações adicionais através de livros ou outras fontes.
10. Reflexão – O embondeiro é robusto e forte. Indica um momento para
fortalecer as suas ideias, para construir o seu saber.

6
11. Tempo – O sol indica o tempo aproximado que deve dedicar á
realização de uma tarefa ou actividade, estudo de uma unidade ou
lição.
12. Resumo – Representado por pessoas sentadas à volta da fogueira
como é costume fazer-se para se contar histórias. É o momento de
sumarizar ou resumir aquilo que foi tratado na lição ou na unidade.
13. Terminologia/Glossário – Representado por um livro de consulta,
indica que se apresenta a terminologia importante nessa lição ou
então que se apresenta um Glossário com os termos mais
importantes.
14. Vídeo/Plataforma – O computador indica que existe um vídeo para
ser visto ou que existe uma actividade a ser realizada na plataforma
digital de ensino e aprendizagem.
15. Balão com texto – Indica que existem comentários para lhe ajudar a
verificar as suas respostas às actividades, exercícios e questões de
auto-avaliação.

7
Conteúdos A problemática das
Fontes da História de
Moçambique no período
anterior ao século XV

UNIDADE
Lição n° 1
As Fontes históricas do período anterior ao
século XV ............................................................................. 11

Lição n° 2
A Arte Rupestre em Moçambique ............................ 16
16
11

1
Pág. 10 - 35

Unidade 1: A problemática das Fontes da História de Moçambique no período anterior ao século XV

9
Introdução
O período mais antigo da História de Moçambique corresponde à fase das
comunidades de caçadores e recolectores, os Khoisan ou, também designados de
pré-bantu. São poucos os dados para uma recuperação integral da história desse
primeiro período. Das fontes históricas para este período tão recuado somente a
arqueologia é compatível com a natureza das evidências encontradas.

Nesta primeira unidade vamos reflectir sobre as fontes da História de


Moçambique, considerando a escassez de fontes escritas. O recurso a fontes
arqueológicas constitiu o principal recurso para este periodo.

Faremos uma breve análise sobre as possibilidades de reconstituição da História


de Moçambique nos tempos mais remotos.

Objectivos da unidade
Ao fim desta unidade, você deverá ser capaz de:

 Caracterizar os mecanismos usados para reconstituir a


história desse período;
 Identificar as fontes usadas para o estudo deste
período;
 Descrever os estudos feitos sobre esse período.

Tempo de estudo da Unidade:

Você vai precisar de 10 horas para completar o estudo desta


unidade.
Tempo

10
Lição n° 1
As Fontes históricas do período anterior ao século XV

Introdução
Esta lição aborda as dificuldades de fontes para este período da
História de Moçambique, devido, principalmente, a escassez de
registos escritos sobre as primeiras comunidades. O recurso a outras
ciências, como a arqueologia, a geografia, constitui uma das
alternativas para complementar os conhecimentos sobre este período
mais antigo da história de Moçambique.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Identificar as dificuldades de reconstituir a história deste


período;

 Descrever as fontes usadas para o estudo dos

Objectivos acontecimentos desse período.

 Identificar as formas de subsistência/vida das comunidades


de caçadores e recolectores, a partir das figuras.

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 3 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

Comecemos a nossa lição por rever os nossos conhecimentos


sobre as fontes da História. Conhecemos três principais grupos
de fontes históricas: arqueológicas, escritas e orais. Qual delas

11
parece a mais apropriada para reconstituir a história de
Moçambique anterior ao século XV?

Para estudar o período anterior ao século XV é necessário fazer


interpretações a partir das escassas informações existentes e a
arqueologia é, praticamente, a única fonte. Por isso, a medida que
novas descobertas arqueológicas vão surgindo, e novos temas vão
sendo abordados pela arqueologia, cria-se espaço para novos debates
entre arqueólogos, linguistas, historiadores e cientistas doutras áreas.

Documentos escritos sobre o período anterior ao século XV são


escassos e começaram a surgir a partir dos contactos comerciais com
aos asiáticos. Relatos de comerciantes, viajantes, geógrafos referem-
se aos habitantes, comércio e aspectos físico-geográficos da região,
com destaque para Sofala.

Diversas estações arqueológicas têm revelado evidências do


processo de expansão e fixação bantu, como a estacão arqueológica
da Matola, Xai-Xai, Vilanculos. Contudo, há ainda uma necessidade
de trabalhos sistemáticos para clarificar alguns aspectos sobre os
povos bantu que aí se fixaram. Também testemunha a presença
contínua de populações que desde cerca de 750.00 até 3.000
ocuparam os terraços do rio dos Elefantes.

Devido a escassez de fontes escritas recorre-se a outro tipo de


fontes. Quais são? Orais ou arqueológicas? Explique a sua escolha.

Escreva no seu caderno a sua resposta e depois compare-a com o


Actividade 1.1 que se apresenta de seguida.

12
São fontes arqueológicas, apesar da sua escassez. Não há fontes
orais sobre este período remoto.

Confirme a sua resposta pela leitura o texto:


Comentários da actividade Em Moçambique, devido a escassez de recursos, as pesquisas
arqueológicas são lacunares. Arqueólogos têm encontrado nas
caves desenhos e restos de instrumentos de pedra. Em diversas
estações arqueológicas de Moçambique encontramos vestígios de
comunidades mais antigas com destaque para as pinturas rupestres.
Como exemplo, a estação arqueológica de Massingir, pode-se
observar uma sequência coerente de diversos estágios líticos,
correspondentes aos diversos “complexos industriais”. Existem
também testemunhos arqueológicos do comércio no arquipélago
de Bazaruto e no continente, representados por louça de diversa
origem.

Com alguns exemplos de pinturas, apresentadas a seguir, vamos


aferir sobre a vida das comunidades de caçadores e recolectores,
considerando as suas actividades de subsistência, técnicas e
Actividade 1.2 utensílios de trabalho, adornos e outros objectos. Observe
atentamente as figuras que se seguem e, com base nelas, construa
um texto descritivo de 50-60 palavras sobre o modo de vida dessas
comunidades.

Figura 1: Representações de pintura rupestre

13
Fonte: Arte rupestre. Macua org. https://Portal do professor.

Observou que as actividades dessas comunidades estão ligadas ao


nomadismo e exigiam uma colaboração entre os elementos do
grupo. Cada um dos elementos do grupo possui uma arma
rudumentar nas mãos que era usada para a acaça. As figuras
Comentários da actividade
também ilustram o uso da força muscular nas suas actividades.
Quanto a outros utensílios pode-se observar a presença de cestos
que podem estar ligados a actividade recolectora. O uso de adornos
na cabeça pode estar relacionado com as crenças e mitos criados à
volta do sucesso das caçadas.

Para complementar a sua descrição, leia o texto seguinte:

As figuras apresentam cenas de caça que era uma das actividades de


subsistência desse período. Da sua observação constata-se que esses
grupos já domesticavam animais, produziam os seus utensílios de
trabalho e outros utensílios de conservação e carga. Também pode-
se observar que alguns dos indivíduos trazem adornos na cabeça. As
ilustrações fazem-nos reflectir sobre a importância da colectividade
para o sucesso das suas actividades.

A História de Moçambique anterior ao século XV depara-se com a


escassez de fontes para a sua reconstituição ou escrita. As pesquisas

14
arqueológicas são escassas e dispendiosas e ainda não foi feito um
trabalho mais sistemático sobre as fontes arqueológicas que
poderiam ajudar a reconstituir a história mais antiga. A partir do
século IX, já há uma recorrência aos documentos escritos persas e
árabes que fazem referência a algumas regiões de Moçambique,
principalmente ao longo da costa oriental.

Auto-avaliação
1. Elabore um quadro com as principais pinturas rupestres,
distribuidas pelas províncias de Moçambique.
2. Explique as razões da escassez de fontes históricas sobre o
período anterior ao século XV.

15
Lição n° 2
A Arte Rupestre em Moçambique

Introdução
No prosseguimento do estudo sobre as fontes da história de
Moçambique anterior ao século XV, vamos estudar a arte rupestre
em Moçambique. Já fizemos referência a esta arte como uma das
possibilidades para estudar o modo de vida e características dos
povos que habitaram a região de Moçambique antes do século XV.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Identificar os locais de representação da arte rupestre;

 Caracterizar as principais representações rupestres em


Moçambique;
Objectivos
 Reflectir sobre o significado das pinturas rupestres para a
história de Moçambique.

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 7 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

Vamos iniciar a nossa lição sobre a pintura rupestre pela


observação das figuras que se seguem. Escreva um texto sobre
o que está representado em cada ilustração da figura 2.
Actividade 2.1
Figura 2: Ilustrações de pintura rupestre

16
Fonte: Arte rupestre. https://Portal do professor

http://macua.org/rupestre/foto20.html

http://macua.org/rupestre/foto16.html

Veja se incluiu no seu texto que as ilustrações representam cenas


de caça que era uma actividade de subsistência importante para
esse período.

Comentários da actividade Leia o texto seguinte e complemente o seu trabalho de descrição


da figura 2:

A África oferece-nos um painel rupestre focalizado em duas grandes


áreas fundamentais: o Saara e a África Austral, sendo nesta última
região onde se enquadra o território moçambicano.

Na África Austral, distinguem-se dois estilos principais da arte


rupestre: o primeiro estilo encontra-se entre o Transvaal (ao Norte)
até Cabo, (ao Sul) e dos montes Drakensberg (a oriente) às falésias

17
da Costa Namíbia (Oeste) e o segundo estilo localiza-se entre o
Transvaal central ao Malawi, sendo neste estilo onde se enquadra a
arte rupestre de Moçambique.

Na primeira zona, predomina uma arte naturalista, onde predominam


animais, representados isoladamente e cujos motivos são pintados de
forma policromática, em suportes de arenito.

Na segunda zona, onde se enquadra a arte do território


moçambicano, os painéis rupestres são monocromáticos, baseados
no vermelho e no ocre (óxidos hidratados) dos óxidos de ferro. A
representação das figuras é também naturalista, mas as efígies
humanas são esquemáticas, com ombros largos e cintura estreita
(que para Ki-Zerbo(1982) tratava-se de protegê-las contra as
influências mágicas). Os locais preferenciais para a colocação destes
painéis situavam-se junto dos planaltos e nestas, junto das falésias,
rebordos das terras altas, com rochas eruptivas que ofereciam
melhores painéis que as rochas porosas e ásperas.

A arte rupestre constitui testemunho documental de uma das mais


expressivas manifestações espirituais do homem. A partir dela
podemos avaliar a longínqua distância que separa o homem
primitivo do actual, mas, paradoxalmente, verificar a proximidade
de muitas das suas obras com as dos artistas da actualidade.

Como caracterizar a pintura rupestre em Moçambique?

A arte rupestre em Moçambique processa-se nas zonas cujas


condições geológicas a tornam mais favorável. Como é óbvio, as
rochas de dolarite ou gravíticas prestam-se melhor como telas para
as gravuras e pinturas que os terrenos pouco acidentados ou
arenosos. As cavernas e os abrigos naturais são os lugares mais
próprios e preferentemente escolhidos. Em geral, as animalísticas
são, no concernente a Moçambique, pinturas policromas, com ou
sem a presença de figuras humanas.

18
A primeira referência às pinturas rupestres em Moçambique data de
1721, pelo então prelado de Moçambique, na Academia Real da
História em Lisboa. Em 1905, Portugal Durão voltaria a falar da
existência de pinturas entre o Limpopo e o Niassa. Entretanto,
atribuía aos fenícios, uma acção que estava ligada ao pensamento
eurocentrista da época, que nada podia admitir que os africanos eram
capazes de desenvolver uma arte com uma maior abstracção. Carl
Wiese terá também descoberto as pinturas em Chifumbaze,
entretanto seria Mendes Correia que em 1926 atribuiria as pinturas
rupestres aos Bosquímanos. Na mesma altura, Santos Júnior iria
também descobrir pinturas rupestres no Norte de Moçambique. Nos
anos 50/60 seriam levados a cabo estudos por Roza Octávio de
Oliveira principalmente no norte da Moçambique.

A importância das pinturas rupestres, em diversas áreas, reside em


fornecer informações sobre o passado humano de cada região do
país.

Onde se localizam os painéis de pintura rupestre em


Moçambique?

Os mais conhecidos painéis de pinturas rupestres em Moçambique


localizam-se na província do Niassa (Malembe, Lua, Lussembangue,
Ncoca e Campote), na província de Tete (Chifumbaze, Chicolone,
Chiúta, Cazula e Samo), na província de Manica (Chinhamapere,
Mavita e Binga) e na província de Nampula (Riane, Nacuahu,
Namilepiwa, Rapale, Merripa, Xakota, Okurime e Musé, nos
distritos de Murrupula, Mogovolas, Ribaue, Eráti, Meconta e
Monapo). Provavelmente existem outros lugares que ainda não estão
identificados.

As pinturas rupestres vermelhas, pintadas com ocre são atribuídas às


sociedades de caçadores e recolectores da Idade da Pedra Superior.
As pinturas de motivos geométricos pintados a branco que fazem
lembrar uma escrita indecifrável são consideradas mais recentes, das

19
sociedades de agricultores. Cada tipo de pintura está associado a um
tipo específico de infra-estrutura económica.

Inspirada em valores mágicos ou rituais, a arte rupestre tinha por fim


garantir o sucesso da caça, provocar a chuva ou assegurar o acesso
aos espíritos dos antepassados.

Qual é a situação actual das pinturas rupestres?

Durante as últimas décadas antes da independência nacional, o


trabalho arqueológico foi levado a cabo por antropólogos
portugueses e administradores coloniais. Após a independência
nacional, a pesquisa arqueológica passou a estar ao cargo do
Departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade
Eduardo Mondlane.

O conjunto rupestre sofre actualmente uma degradação provocada


não só pela natureza, mas também pelos próprios homens (prática
que em Moçambique parece não se verificar pelo facto de os Homens
considerarem tais lugares sagrados – experiência em Manica).

Depois desta descrição vamos reflectir sobre o significado das


pinturas rupestres. Na sua opinião, qual era o objectivo dessas
representações? Escreva, em um máximo de 5 linhas, a sua
Actividade 2.2 opinião.

Existem várias opiniões sobre a origem e o significado das pinturas


rupestres. Conseguiu respponder as questões?

Leia o texto seguinte e complete as suas respostas:

Quanto ao seu significado existem várias opiniões, apesar de todas


elas convergirem para um pensamento comum: que as pinturas
rupestres neste período tiveram fins mágicos, em relação à caçada.

20
Para eles, desenhavam o que gostariam de obter (por exemplo
mulher bonita) ou que um objecto poderia ser obrigado a actuar
conforme os desejos do artista. Aliás, entre os nativos não se conhece
o significado e a finalidade bem como quem as fez, atribuindo-as às
forças sobrenaturais ou a antepassados anões. Por causa disso
desenvolvem-se como locais de cultos colectivos ou individuais.

Como olhamos para as pinturas rupestres?


Outros são de opinião de que as pinturas rupestres serviam como
entretenimento ou meio de expressão (materialização de uma visão
ou embelezamento da casa). Contudo, todas elas eram feitas em
locais de difícil acesso, outras vezes sem condições de
habitabilidade, levando a crer que deviam ser outros motivos que o
simples embelezamento. Finalmente, um terceiro grupo aventa a
possiilidade de se tratar de um retrato ou que os grupos passavam
representando cenários de caça (como os seis bosquimanóides de
Chinhamapere com arcos/flechas) ou então que representavam
guerras ou confrontos entre grupos antagónicos. A ideia do encontro
de grupos antagónicos pode, por exemplo ser sustentada pela pintura
de Mavita que tem figuras bosquimanóides, menos a de uma mulher
sem caracerísticas esteatopígicas (saliência excessiva das nádegas
causadas pela acumulação de gorduras na região subcutânea).

Outra questão para a nossa reflexão é como usar as pinturas


rupestres como fontes da história e neste caso, da história de
Moçambique?
As pinturas rupestres constituem um documento do passado
humano, indicando a presença humana nos locais onde elas se
encontram. Por exemplo, comparando as pinturas de Manica e de
Tete encontram-se diferenças que sugerem que elas terão sido feitas
num momento em que os homens tinham se adaptado aos diferentes
ambientes geográficos.

21
A grandiosidade de alguns murais (alguns são de tamanho
excepcionalmente grande, como por exemplo o de Campote em
Nampula) aventa-se que elas foram o resultado de uma obra
colectiva (dado que a sua execução só podia ser o resultado da
colaboração dos membros) e devia servir para legar algo ou deixar
um retrato para a posteridade.

Depois de ter comparado o seu texto com o que leu acima,


verifique se o seu texto indicou que elas tinham finalidades
mágicas em relação a caça, elas representam uma expressão
cultural, com uma capacidade decorativa, podendo servir como
Comentários da actividade
locais turísticos. As pinturas rupestres constituem um documento
do passado humano, indicando a presença humana nos locais onde
elas se encontram e elas são autênticas galerias de arte plástica,
de períodos entre os quais medeiam séculos, trazendo à
civilização actual o conhecimento das civilizações mais
remotas.

As Manifestações Artísticas e a Arte Rupestre

Os Seus Criadores

Segundo Oliveira (s/d ) os primeiros homens a pintarem nas rochas,


foram os bosquimanos na região sul africana do Cabo, mas eles não
foram os únicos tal como se pensava. Do estudo realizado pelo
arqueólogo Burkitt em 1928, concluiu-se que as pinturas rupestres
sul –americanas eram algumas, dos anteriores à instalação dos
bosquimanos naquela região, pintadas e gravadas pelos hotentotes e
povos negróides.

Não só pintavam nas rochas lisas, como também nas paredes e tectos
dos abrigos ou cavernas sob rochas. A opinião de que os homens
começaram a decorar as paredes dos seus abrigos como meio de
expressão embelezando a sua casa ou apenas para passar o tempo
para repouso forçado, é hoje aceite por muitos historiadores.

22
O Significado da Arte Rupestre

Na óptica de Oliveira(s/d), a maioria das pinturas rupestres, tem


levantado duras criticas controvérsias:

O arqueólogo Goodwin, em 1946, atribuiu a magia ou as intenções


religiosas, em que desenhavam o que gostariam de obter tanto numa
caça feliz como gado gordo ou bonita rapariga ou então estavam
totalmente convencidos de que um objecto podia ser obrigado a
sentir ou a actuar em determinada maneira conforme a simpatia do
artista pelo mesmo.

O facto de se espetar flechas nas esfínges de um animal representava


talvez a esperança de que acontecesse o mesmo na realidade. Este
uso ainda hoje é praticado em diversas partes do mundo, como por
exemplo nas pinturas rupestres de Laucaux em França. Do mesmo
modo, que o artista, desenhou uma gazela gorda cheia de flechas para
matar, ele esperava fazer o mesmo num animal verdadeiro ou então,
servia-se desse processo como escola de caçadores (Oliveira, s/d).

Por outro lado, a arte rupestre tinha um significado mágico-ritualista,


pois que as pinturas não eram feitas só para divulgar qualidades
artística, mas também como instrumentos pelos quais os feiticeiros
lançavam suas bruxarias.

Os artistas da antiguidade viviam, segundo se presume, de caça,


pesca, e guerrilha e representavam todos os seres que lhes rodeavam
pelas gravuras ou pelas pinturas executadas em rochas, abrigos sob-
rochas, nas paredes e tecto das cavernas.

Ao invés da pintura, a gravura rupestre interrompe os traços,


geralmente, desfigurando certos pormenores ou acentuando-os em
dar evidência ao conjunto artístico com realçamento dos elementos
principais.

No cabo Ocidental e meridional, existem numerosas pinturas


rupestres retractando mulheres usando bastões de cavar,

23
frequentemente dando impressão de terem carregado bolsas de
couro, provavelmente, destinadas ao transporte de alimentos para o
acampamento.

Inúmeras pinturas do Lesotho e Grikualand East retractam


incontestavelmente conjunto de massas ligadas umas as outras por
cercas de caniços e madeiras (ROZA, s/d).

Como classificar a arte rupestre em Mocambique?

Em Moçambique, a arte rupestre compreende pinturas, gravuras e


outras representações artísticas.

Além dos locais que se podem citar nos diferentes pontos do mundo,
em Moçambique foram igualmente executadas pinturas rupestres em
muitos locais, que nos servem de mais um testemunho sobre a nossa
história desde a comunidade primitiva como são:

1-Pintura de Mavitas

Segundo o autor que tenho vindo a citar, as pinturas de Mavita


localizam-se na Província de Manica, distrito de Sussundenga,
concretamente no Posto de Mavita. Para a sua observação vai-se de
Rotanda para Mavita, pela estrada antiga, passando pelas ruínas
duma Igreja em que a esquerda vê-se um granito boleado (rocha),
tendo no topo um fortim amuralhado de cultura do Zimbabwé. Se o
campim estiver queimado, logo à direita vê-se um curioso monte
com inclinação de 40º onde estão localizadas as pinturas rupestres.

O conjunto compreende cerca de 40 pinturas antropomórficas quase


desaparecidas, nas mais diversas posições: umas com arcos e
flechas, provavelmente guerreiros em ofensivas hipotéticas a
inimigos, as outras com lanças e escudos parecem dançar e saltar. O
que torna a posição curiosíssima, é que no meio de todos estes
desenhos, aparecem, quase invisiveis, dois representantes de um
casal cujo pormenor mais impressionante é a figura feminina não ter
as características esteatopígias (Oliveira, s/d).

24
2- Pinturas de Chinhamapere

Figura 3: Pinturas rupestres de Chinhamapere

Fonte: http://www.macua.org/rupestre/rupestre04.html

Localizam-se na Província central de Manica no abrigo sob rocha


do monte Chinhamapere, pertecente ao contraforte da vertente do
planalto formado pela Serra Vumba, na Vila de Manica
tradicionalmente Macequece.

O Monte é visivel da estrada internacional que liga Manica e a


Província Zimbabweana Manica-Land (Mutare). Seguindo por ela, á
esquerda a 100 metros ergue-se Chinhamapere.

No cimo de monte vê-se um maravilhoso espectáculo da rocha


gigante onde se encontram as pinturas sob-rocha na parte lisa, numa

25
área de 3 m2 que enquadra as manifestações artisticas com duas
sobre-posições distintas(Ibd).

Ao primeiro período deve corresponder as pinturas feitas na rocha a


vermelhão e alaranjado construídas por figura masculina, segundo
se presume, seja um atado de um capim pois é possível que se
tratasse de povos pastores, grupos humanos, uns com arcos e flechas,
enquanto outros seguram os feridos talvéz para apoio ao combate.

Ao segundo período devem corresponder os dois antílopes


(Taurotrangos oryx) a vermelhão e alaranjado outro, que podem ser
continuidade do primeiro.

Ao terceiro período devem corresponder os seis caçadores


bosquimanos, pintados a castanho escuro, que encimam todo o
conjunto pictórico com arcos e flechas tendo cada um duas aljavas
(recipiente ou estojo para transportar setas para a caça), uma de
canudo e outra de saco.

No segundo painel perto do anterior estão afigurados três


bosquimanos idênticos aos seis do conjunto precedente, pintados da
mesma cor.

No terceiro painel à frente principal colheram-se artefactos da


cultura Wiltoniense (assim designada a partir do nome do
pesquisador) expostos no museu municipal da Beira, e pertencem a
última Idade da Pedra sul- africana do Epiplestoceno(Ibd).

3- Pinturas de Chifumbaze

As pinturas de Chifumbaze localizam-se num abrigo sob a rocha de


quartzito existente num monte há cerca de 3 a 4 km, em Chifumbaze,
no Distrito da Macanga, Província de Tete. Estas pinturas
representam um animal de pequeno porte (Oliveira, s/d).

26
4- Pinturas de Chicolone

Localizam-se também na Provincia de Tete, Distrito de Macanga,


numa Serra a 40 Km a Noroeste de Chifumbaze e 7 Km do rio
Vúbué.

O painél mostra sinais mais ou menos complexos no alto, um pouco


a esquerda existe um desenho com parecenas antropomórficas.

Segundo Oliveira (s.d), foram colhidas, junto das pinturas rupestres


microlíticas (pedras de dimensão muito reduzida), pontas de seta,
uma faquinha e raspadores que aliou a cultura de Wiltoniense.

Figura 4: Reprodução de figuras de arte rupestre de Chicolane

Fonte: http://www.macua.org/rupestre/rupestre04.html

27
5-Pinturas de Riane

As pinturas de Riane ocupam o interior de uma gruta no cume da


Serra Erati, na Província de Nampula, com cerca de 400 metros de
altitude, de difícil acesso.

Destacam –se vinte e cinco figuras inteiras de animais: aves e


antílopes algumas repetidas e outras sobrepostas. Em primeiro plano
no centro artístico depara-se com uma grande ave de contornos
perfeitos, parada, com bico semiaberto a cauda semelhante a de
certas gazelas e o esboço de um antílope também parado, em atitude
perscrutadora.

Figura 5: Pinturas rupestres de Riane

Fonte: http://www.macua.org/rupestre/rupestre04.html

6- Pinturas de Campote

As pinturas de Campote localizam-se num abrigo sob rocha na


região de Metarica, Amaramba, na Província de Niassa. No conjunto
artístico vê-se plantas, folhas, simbólicos solares e outros desenhos
não decifrados.

28
7-Pinturas de Monte Molembwé, Lussembague e Lua

Localizam-se nos montes Molembwe1, Lussembague e Lua, a


nordeste de Lichinga, Província de Niassa e faladas por François
Bolsan no livro “Terres Virges Au Mozambique” e no “Les Yao de
Zone Inexplóre du Nord- Muzambique”.

Eles ocupam uma área de 20 metros de comprimento por cerca de 40


metros de largura. São naturalísticos-esquemáticas, pintadas a
vermelho e branco.

O conjunto principal naturalista a vermelho é encimado nos lados


por figuras esquemáticas, a branco (caulino), executadas pelos
primeiros povos negróides, há cerca de oito séculos. Constam de um
pássaro grande com bico aberto, prestes a ser atravessado pela
flecha, várias figuras de antílopes e outras espécies, uma bola de
pedra furada e árvores.

As pinturas rupestres de Monte Lua são constituídas por uma meia


eclipse, contendo cinco pontos prolongados, oito linhas pontuadas
de dez traços. Todo o tracejado pode representar palhotas com o seu
número de ocupantes, armadilhas ou ainda uma inspiração espírito
sagrada, como a vinda de chuva. O conjunto está pintado a
vermelho, bastante abatido pelas intempéries.

Elas se assemelham as da gruta da caverna francesa de Font-du-


Gaume, onde estão representados animais da região, de acordo com
o exemplo seguinte (Ibd):

1
Na óptica de Marques de Oliveira significa muitos escritos na pedra.

29
Figura 6: Pintura rupestre da caverna francesa de Font-du-Gaume

Fonte: https://fr.wikipedia.org/

8-Gravuras de Monte Chimbanda

Localizam-se a meia encosta do monte Chimbamba da Serra de


Zembe, Chimoio, encima de um tabuleiro de granito que
paralelamente servia de altar para a prática de rituais sagrados ou
actos de extravagância (Oliveira, s/d).

Com base neste texto, elabore um esquema/quadro sobre as


pinturas e gravuras. Defina alguns tópicos para o esquema, como
por exemplo, a localização, tipo de representação, função ou
Actividade 2.3 utilidade da representação.

O esquema/quadro permite ter um resumo sobre este texto. Veja se


incluiu todos os aspectos importantes do tema, tais como os acima
indicados.
Comentários da actividade

30
9. Outras Pinturas Rupestres de Moçambique

Paralelamente às pinturas e gravuras já referenciadas, existêm


também estações de arte rupestre: Chiúta, Casula, Murrumbala,
Mogovolas, Ribaué, Morduba, Nacavala, Luia, Pembare, Mulumbo,
Tseranhama, Marrupa, Montes Osioulos, Chimanimani, e outras não
devidamente localizadas.

As pinturas rupestres de Chiuta e de Casula em Tete são muito ricas


em pormenores. Estão pintadas a vermelhão e ocre e constam de
signos arcáicos e algumas de difícil interpretação.

No monte Manulepia (Mavago) existe um curioso painel de arte


rupestre. As figurações estão pintadas a branco embora aparecem
algumas a preto. São constituídas por dois lagartos, um maior do que
o outro. O monte é considerado sagrado pelos naturais, pois
realizam-se as cerimónias colectivas ou individuais no local onde se
encontram as pinturas. Estas manifestações são atribuidas aos
primeiros negróides que chegaram a estas paragens na migração para
o Sul.

Figura 7: Painel de arte rupestre de Manulepia

Fonte: http://www.macua.org/rupestre/rupestre04.html

No monte Molumbo, Província da Zambézia, existe também uma


rica estação com representações a vermelhão e ocre, de figuras
antropomórficas com arco e flechas.

No monte Chimanimani, entre Rotanda e Melsetter, em território


moçambicano, localiza-se um curioso painel de arte rupestre com

31
representação de figuras humanas e de animais idênticos aos
existentes nas pinturas do Zimbabwé.

Figura 8: Pintura Rupestre de Chimanimani

Fonte: : http://www.macua.org/rupestre/rupestre04.html

As pinturas de Cachombo, são constituídas por sinais arcáicos


indecifráveis, a vermelhão, num painel de figuras animalísticas e
antropomorfos noutros, representando este último povo com
esteatopigia (Oliveira, s/d).

Quem são os povos que pintaram as rochas em Moçambique?

Os hotentotes, bosquimanos e negróides pintaram e gravaram em


rochas na África Austral, havendo ainda muitos pormenores por
esclarecer sobre os dois primeiros confundindo-se os segundos e os
terceiros que certamente foram os principais artistas da maioria da
arte rupestre em Moçambique.

32
As pinturas realizadas pelos bosquimanos são idênticas em assunto,
técnica e desenho ás dos homens pré-históricos aurignacianos das
cavernas da Espanha e França (Roza, s/d).

Resumo da Lição
As pinturas rupestres constituem uma das fontes usadas para a
reconstituição da história mais antiga de Moçambique. A sua
representação revela aspectos económicos, sociais e mágico-
religiosos de cada complexo social.

Esta lição levou-nos a reflectir sobre as fontes para o estudo da


história mais antiga de Moçambique. Estes conhecimentos
servem de pressupostos para o estudo da unidade seguinte, isto é,
os habitantes mais antigos de Moçambique, os Khoisan e as
posteriores unidades temáticas.

Auto-avaliação
1. Com recurso a bibliografia recomendada, identifique os locais
de pinturas rupestres em Moçambique.
2. Explique a importância dessa arte para a reconstituição da
História de Moçambique.
3. Estabeleça uma relação entre as representações das pinturas
rupestres e as actividades das comunidades mais antigas que
habitaram a região de Moçambique.

33
Leituras complementares
Para consolidar o que aprendeu nesta unidade consulte as
seguintes obras:

ADAMOWICZ, Leonard. “Projecto Cipriana”, 1981 – 1985:


contribuição para o conhecimento da arqueologia entre os rios
Lúrio e Ligonha, Província de Nampula. In: Trabalhos de
Arqueologia e Antropologia n° 8 (1987); UEM, Departamento
de Arqueologia e Antropologia, p. 47-144.

DUARTE, Ricardo Teixeira. Arqueologia da idade do ferro em


Moçambique. Trabalhos de Arqueologia e Antropologia, n°5,
1988.

MAGGS, Tim. The Iron Age South of Zambezi. In: Richard G.


Glein (edr.), Southern Africa prehistory and paleo-environment.
Rotterdan, Balkema, 1984.

OLIVEIRA, Octávio Roza de. Gravuras e Pinturas Rupestres de


Moçambique (pré-história de Moçambique), [Moçambique]:
[s.n., s.d.].

Comentários das Auto-avaliações da unidade 1


1. Comentário da auto-avaliação da lição 1:

As pinturas rupestres distibuem-se pelas províncias do país, de


acordo com o texto da lição. O seu quadro deverá contemplar,
de forma esquemática, cada uma das províncias. A escassez de
fontes sobre este período da história de Moçambique deve-se a
falta de registo e conservação de documentos escritos e a fraca
pesquisa arqueológica no país.

34
2. Comentário da Auto-avaliação da lição 2:

As estacões arqueológicas de Moçambique podem ser


observadas nas obras indicadas como bibliografia para este
tema. A pesquisa sobre este período baseia-se nos trabalhos de
arqueologia, pois há fracas referências a escrita.

As pinturas rupestres estão distribuídas pelo país com mais


destaque para as províncias de Nampula e Manica. Observando
o mapa da sua distribuição pelo país podes identificar os locais
de existência dessas pinturas

A arte rupestre é uma das fontes da história de Moçambique,


pois permite entender as actividades de subsistência praticadas
e o seu significado para essas comunidades.

Resumo da Unidade
Nesta unidade introdutória ao estudo da história de Moçambique
até ao século XV vimos a escassez de fontes escritas para estudar
este período. O recurso a fontes arqueológicas e a outras ciências
têm sido alternativas usadas para reconstituir a história desse
período. As pinturas rupestres, de grande valor arqueológico em
Moçambique constituem um dos recursos.

Auto-avaliação
Para verificar a sua aprendizagem do proposto neste unidade volte
a responder ás questões de auto-avalaição propostas em cada lição.

Com esta lição terminamos a primeira unidade temática que visava


reflectir sobre as fontes históricas para o período mais antigo da
história de Moçambique. Na próxima unidade vamos estudar as
comunidades de caçadores e recolectores.

35
Conteúdos
Moçambique no período
dos primeiros Caçadores
e Recolectores

UNIDADE
Lição n° 3 39
As Comunidades de Caçadores e Recolectores39

2
Lição n° 4 42
Os povos pré-Bantu, os KhoiSan............................. 42

Lição n° 5 47
A caça e a recolecção como actividades
dominantes .......................................................................47

Lição n° 6 50
Organização social das comunidades de
caçadores e recolectores ......................................... 50

Lição n° 7 53
As manifestações culturais dos Khoisans .......... 53

Pág. 36 - 58

Unidade 2: Moçambique no período dos primeiros Caçadores e Recolectores

37
Introdução
A segunda unidade da História de Moçambique caracteriza o período
em que Moçambique era habitado predominantemente por grupos ou
comunidades de caçadores e recolectores. Essas comunidades são
consideradas como um dos mais primitivos habitantes do território
moçambicano.

O estudo desta unidade permite ter uma sequência cronológica da


história de Moçambique, acompanhando todo o processo de
evolução da sociedade.

Faremos uma caracterização das suas condicões de sobreviȇncia e as


primeiras formas de organizaçao social, económica, política e
cultural.

Objectivos da unidade
Ao fim desta unidade, você deverá ser capaz de:
 Caracterizar as comunidades primitivas de caça e
recolecção (Khoisan).
 Descrever os aspectos sociais e culturais dessas
comunidades
 Explicar as formas de sobrevivência dos Khoisan, também
designados de ou pré-bantu.

Tempo de estudo da Unidade:

Você vai precisar de 15 horas para completar o estudo desta


unidade.
Tempo

38
Lição n° 3
As Comunidades de Caçadores e Recolectores

Introdução
Nesta primeira lição sobre as comunidades de caçadores e
recolectores vamos realçar a sobrevivência dos primeiros habitantes
do espaço moçambicano, com base em duas actividades; a caça e a
recolecção. Estas duas actividades constituem, nos tempos actuais,
recursos para as populações rurais do nosso país.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Explicar a importância da caça e da recolecção como


primeiras actividades de subsistência;
 Caracterizar o nomadismo das comunidades de caçadores
Objectivos e recolectores, a partir das suas actividades de subsistência.

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 3 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

Leia o texto:

A caça e a recolecção foram as primeiras actividades de


sobrevivência, desenvolvidas pelo Homem, quando num longo
processo evolutivo adquiriu as qualidades que o diferenciam dos
outros seres vivos. Este modo de produção primitivo designa uma
formação económica e social que abrange um período muito longo,
desde o aparecimento da sociedade humana.

39
Podemos considerar a caça e a recolecção como modos de
produção? Apesar de serem actividades básicas de subsistência
elas exigem um esforço e a utilização de instrumentos de
trabalho.

Para o espaço geográfico da África Austral, em que Moçambique se


integra, as comunidades cinegéticas (de caça) e recolectoras de
tecnologia lítica (de pedra) subsistiram até aos finais do primeiro
milénio d.c. Estas actividades de subsistência enquadram-se no
período de extrema dependência do Homem em relação à natureza e
estavam viradas para o consumo imediato.

Como se explica esta dependência do homem em relação à


natureza?

A economia de caça e recolecção impunha ao Homem movimentos


migratórios ou uma vida nómada devido à migração das espécies
animais e as modificações da flora.

Como o texto faz referência, a caça e a recolecção são actividades


que implicam deslocações dessas comunidades.

Como podemos explicar a relação entre estas actividades e o


Actividade 3.1 nomadismo? Elabore um texto explicando esta relação entre a caça
e a recolecção e o nomadismo.

A caça e a recolecção são actividades que exigiam uma


movimentação para recolher frutos, raízes, etc e também para
caçar animimais, não estando dependentes dum ciclo vegetativo
como no caso da agricultura. Se a população semeasse cereais e
Comentários da actividade
outras culturas nao poderia migrar, pois teria que esperar pelo
período da colheita. Por exemplo, a cultura do milho exige uma
permanência no local em que se lança a semente, acompanahndo o
crescimento da planta até a fase da colheita das espigas. A

40
agricultura é uma actividade que requer a presença dos
agricultores, levando a sedentarização dos mesmos.

A partir desse período, um conjunto de transformações climáticas


e económicas conduziram progressivamente, à descoberta de
processos de domesticação de plantas e animais, bem como uma
exploração mais sistemática e alargada dos recursos naturais.

Os Khoisans foram os primeiros povos que habitaram


Moçambique na Proto-História (é o período da Pré-História
anterior à escrita, que compreende a idade dos metais), eram seres
de pequena estatura e de pele de cor acastanhada da família
Khoisan, também conhecidos por bosquímanos ou boximanes.

Resumo da Lição
A caça e a recolecção são as mais antigas actividades de
sobrevivência. Pelas suas características, estas duas actividades
impunham uma deslocação a procura de recursos oferecidos pela
natureza. Estes grupos populacionais eram nómadas ou semi-
nómadas, pois deslocavam-se a procura de frutos e animais. Para
o caso de Moçambique, estas actividades correspondem ao
período dos Khoisans.

Auto-avaliação
1. Explique a importância da caça e da recolecção para as
comunidades antigas.
2. Relacione estas duas actividades com o nomadismo que
caracterizava essas sociedades.

41
Lição n° 4
Os povos pré-Bantu, os KhoiSan

Introdução
Caro estudante!

Nesta lição sobre os Khoisan, habitantes mais antigos de


Moçambique vamos caracterizar os seus aspectos gerais como a
origem do termo Khoisan, os seus aspectos fisícos e suas actividades
de sobrevivência.

Os khoisans actuais podem ser descendentes de povos caçadores e


recolectores que habitavam toda a África Austral e que
desapareceram com a chegada dos bantus a esta região, há cerca de
2 000 anos.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Identificar os primeiros habitantes de Moçambique;


 Descrever os aspectos físicos dos Khoisan;
 Caracterizar as formas de sobrevivência dos Khoisan;

Objectivos

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 3 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

42
Moçambique faz parte duma região habitada por povos
anteriores aos bantu. Eram pequenas comunidades de caçadores
e recolectores, os Khoisans.

Leia o texto sobre esses primeiros habitantes:

Os habitantes mais antigos de Moçambique são identificados como


pré-bantu ou Khoisan. Segundo Rita-Ferreira (1982), o termo
Khoisan foi proposto por Jhon Shapera e adoptado em inúmeros
trabalhos, é uma combinação de palavras Khoi-khoi que significa
Homem e san que significa acumular, colher frutos, arrancar raízes
da terra, capturar pequenos animais. Trata-se, portanto, da
qualificação de um grupo humano em função do seu género da vida
e o modo de produção.

As suas actividades de sobrevivência eram predominantemente a


caça e a recolecção. As necessidades de sobrevivência permitiram a
utilização de instrumentos de trabalho de pedra e a criação de
mecanismos de uma organização básica que se baseava na divisão
do trabalho por sexo e idade.

Quem eram os Khoisan?

Khoisan (também conhecidos por bosquímanos, hotentotes ou san)


é a designação de uma família de grupos étnicos existentes na região
sudoeste de África, que partilham algumas características físicas e
linguísticas. Aparentemente, estes povos têm uma longa história,
estimada em vários milhares, talvez dezenas de milhares de anos,
mas neste momento existem apenas pequenas populações,
principalmente no Deserto do Kalahari.

Khoisan ou Khoi-San (também grafado como coisã, ou coissã) é a


designação unificadora de dois grupos étnicos existentes no sudoeste
de África, que partilham algumas características físicas (estatura, cor
da pele) e linguísticas distintas da maioria bantu.

43
Os khoisans possuem o mais elevado grau de diversidade do ADN
mitocondrial de todas as populações humanas, o que indica que eles
são uma das mais antigas comunidades humanas. O seu
cromossomaY também sugere que, do ponto de vista evolucionário,
os khoisans se encontram muito perto da raiz evolutiva da espécie
humana2.

Há necessidade de recorrer aos conhecimentos sobre o processo


de evolução do Homem.

Os khoisans dividiam-se em dois grupos; os de estatura elevada,


mais tarde designados, desdenhosamente, por Hotentotes eram
pastores e os San, também chamados pejorativamente de
bosquímanos, de estatura pequena que eram caçadores e
recolectores. Estes povos formam também um grupo racial distinto
e têm um tom de pele de um castanho muito mais claro que o tom de
castanho dos negros mais escuros, que há quem designe por
“amarelado”. Os San foram vistos em torno das montanhas do Cabo
Ocidental (na África do Sul).

Figuras: Descendentes de Khoisans da África do Sul

2
ADN mitocondial e cromossoma Y são categorias da genética, como ciência,
usadas para pesquisas relacionadas com a origem e antiguidade dos grupos
populacionais.

44
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Khoisan

Os San viviam em grupos que se mantinham longe um do outro.


Cada grupo era constituído por uma série de famílias alargadas de
vinte ou mais pessoas. Elas trabalhavam juntas sob direcção de um
chefe. O chefe só tinha direitos sobre a água e alimentos vegetais.
Ele não tinha poderes de controlo sobre os seus seguidores. Os San,
viviam inteiramente como caçadores e recolectores e também eram
designados por bushmen (homens da floresta).

Reflicta sobre o significado do papel do chefe do grupo que tinha


poderes sobre os bens comuns, direcção do trabalho mas não
tinha poderes de controlo sobre os seus seguidores. Que relação
Actividade 4.1 existe entre este tipo de chefia e as suas actividades de
subsistência?

Elabore um texto de até 5 linhas sobre esta situação.

Veja se incluiu no seu texto a relação existente entre as


actividades de sobrevivência e a falta de poder do chefe. A falta
de poder do chefe sobre os seus seguidores estava relacionada
com as actividades praticadas, caça e recolecção que faziam com
Comentários da actividade
os grupos não fossem permanentes. As dificuldades de
sobrevivência levavam a desmembramento do grupo.

45
Resumo da Lição
Os Khoisans são considerados como um dos habitantes mais
antigos de Moçambique, vivendo da caça e da recolecção. Estes
povos possuíam uma estrutura elementar que garantia a sua
sobrevivência.

Auto-avaliação
1. Caracterize a estrutura elementar de sobrevivência dos
Khoisans.
2. Explique as razões de se considerar que essas comunidades
estavam muito dependentes da natureza.

Na próxima lição iremos estudar a caça-a e a recolecção como


actividades dominantes dos Khoisans e a organização dessas
comunidades para sobreviver em função destas duas actividades.

46
Lição n° 5
A caça e a recolecção como actividades dominantes

Introdução
A caça e a recolecção eram as principais actividades de
sobrevivência para os Khoisans. Nesta lição vamos aprender como
estas actividades eram realizadas.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Descrever as actividades de sobrevivência dos Khoisans,


 Explicar a importância da caça e da recolecção para os
Khoisans.

Objectivos

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 3 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

Leia o texto:

Dissemos que os primeiros habitantes da África Austral, incluindo


Moçambique, foram os Khoisan que viviam de caça de animais e de
pesca e da recolecção de frutos silvestres. Nunca aprenderam a
construir casas; viviam em cavernas como animais. Caçavam
animais com arco e flecha envenenada na ponta. Um pequeno
ferimento bastava para matar um animal com veneno. Os Khoisan
eram nómadas, deslocavam-se de lugar em lugar à procura de caça e

47
água. Eles caçavam e colectavam alimentos durante uma parte do
tempo.

A caça era complementada com a apanha de vegetais, pesca e apanha


de moluscos o que caracterizava uma economia sazonal de
adaptação à acessibilidade dos diferentes recursos. Nas suas
actividades usavam uma larga gama de utensilios de corte, raspagem
e perfuração.

Com estas actividades a dependência em relação à natureza era


forte. Elabore um texto, de cerca de 10 linhas, explicando este
facto.
Actividade 5.1

Que actividades eles praticavam?

Os Khoikhoi possuíam gado e eram conhecidos como homens de


manada. Usualmente, matavam os seus animais não para comer, mas
para celebrar costumes e rituais importantes, como o casamento.

Não havia fronteiras claras para áreas de terra nas quais os diferentes
grupos viviam, mas cada grupo defendia ferozmente a sua terra de
caça contra seus vizinhos. Estes grupos faziam seus instrumentos e
armas a partir da pedra. Assim, dizemos que estes africanos estavam
a viver na idade da pedra. Estes eram os San e os Khoikhoi. Os
desertos, montanhas e rios desta enorme parte do continente africano
cortou-lhes a comunicação com outros grupos de populações. Assim,
elas não adquiriram novos pensamentos que fariam mudar o seu
modo de vida para melhor. Como consequência, os Khoisan
continuaram a viver principalmente na idade da pedra.

Um aspecto importante é o facto de eles produzirem os seus


instrumentos de trabalho usando, essencialmente a pedra. Como
seriam esses instrumentos? Os instrumentos eram rudimentares e
feitos de pedra.

48
A sobrevivência dos Khoisans era garantida pela natureza que
oferecia frutos, raízes, animais para a sua alimentação. A sua
dependência em relação à natureza era muito forte, pois eles não
produziam os seus alimentos. Apenas recolhiam o que a natureza
Comentários da actividade
oferecia, frutos, tubérculos, animais. Estas actividades ainda são
praticadas nos tempos actuais, mas elas são complementadas pela
agricultura, principal meio de produção de alimentos, e outras
actividades.

Resumo da Lição
A caça e a recolecção eram as principais actividades de
subsistência dos Khoisans. A sua sobrevivência estava muito
dependente do que a natureza oferecia. Pela natureza das suas
actividades de subsistência, os Khoisans eram nómadas.

Auto-avaliação
1. Descreva as actividades de subsistência dos Khoisans.
2. Explique a seguinte frase: A sua sobrevivência estava muito
dependente do que a natureza oferecia.

A nossa próxima lição será uma continuidade desta. Iremos estudar


a organização social dos Khoisans. Devido a sua vida itinerante, isto
é, a deslocação a procura de animais e frutos estas comunidades
tinham uma organização social básica.

49
Lição n° 6
Organização social das comunidades de caçadores e recolectores

Introdução
Os Khoisans ou comunidades de caçadores e recolectores, pela
natureza das suas actividades de subsistência foram criando laços de
familiaridade e de distribuição de trabalho que caracteriza a sua
estrutura social. Com base nas suas actividades de subsistência esta
estrutura social era ainda embrionária e muito simples. O
nomadismo ou semi-nomadismo e as dificuldades de sobrevivência
não permitiam que os grupos fossem numerosos e coesos.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Descrever a estrutura social dos Khoisans;

 Explicar o surgimento de laços sociais entre eles.

Objectivos

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 3 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

Iniciamos o estudo deste tema pela descrição de como os Khoisans


viviam, em grupos, famílias ou outro tipo de organização. A sua
estruturação social era resultado das actividades de subsistência ou
de como eles se organizavam para o trabalho.

50
Voltemos a olhar para a caça e a recolecção como base da sua
estruturação social.

Leia o texto:

Os Khoisans viviam em grupos que se mantinham longe um do


outro. Cada grupo era constituído por uma série de famílias
alargadas que eram constituídas por vinte ou mais pessoas. Elas
trabalhavam juntas sob direcção de um chefe. O chefe só tinha
direitos sobre água e alimentos vegetais. Ele não tinha poderes de
controlo sobre os seus seguidores. O reconhecimento como chefe
devia-se ao facto de fazer o primeiro fogo num novo campo.

A população estava estruturada em grupos nómadas, conduzidos por


um chefe. Em cada campo viviam homens de cada clã, descendentes
de um ancestral comum numa linha masculina, juntos com as suas
mulheres e crianças. A coesão social podia ter uma origem nas
condições de sobrevivência, conduzindo a novas preferências
alimentares. As condições da natureza determinavam o tamanho de
agrupamento das populações o que permitiam um bando e tribos de
acordo com o meio ambiente para assegurar a vida destas populações
dos caçadores e recolectores.

Não havia fronteiras claras para áreas de terra nas quais os diferentes
grupos viviam, mas cada grupo defendia ferozmente a sua terra de
caça contra seus vizinhos. Alguns grupos possuiam manadas de
gado. Usualmente, matavam os seus animais não para comer, mas
para celebrar costumes e rituais importantes, como casamento.
Mantinham relações de troca de produtos com populações indígenas
e, mais tarde, com os europeus.

A divisão do trabalho era por sexo e idade. Quais eram as


actividades reservadas às mulheres? Faça uma lista dessas
actividades.
Actividade 3.1

51
As mulheres faziam os trabalhos menos pesados como a recolha de
frutos, tubérculos, vegetais. A confecção das refeições poderia
também estar a cargo das mulheres, assim como os cuidados
reservados a crianças e velhos. As relações sociais começam a
delinear-se a partir das ocupações que cabiam aos homens e as
Comentários da actividade
mulheres.
Havia uma divisão do trabalho por sexo e por idade; as mulheres e
as crianças faziam a apanha de tubérculos, vegetais e frutos e os
homens caçavam. O vestuário era feito de peles de carneiro, gato
selvagem, e outros animais.
As condições geográficas da região dificultaram a comunicação
com outros grupos populacionais e fizeram com que os Khoisan
vivessem em comunidades fechadas e com fraco intercâmbio de
conhecimentos.

Resumo da Lição
Os Khoisans estavam organizados por laços familiares e dirigidos
por um chefe que organizava as actividades do grupo. As suas
actividades de caça e recolecção conduziram a uma divisão do
trabalho por sexo e por idade.

Auto-avaliação
1. Apresente, esquematicamente a organização social dos
Khoisans.
2. Explique a importância dum chefe para a realização das suas
actividades de subsistência.

Na sequência da lição sobre a organização social iremos estudar na


próxima lição as manifestações religiosas e culturais dos Khoisans.
Elas constituíram o embrião das posteriores manifestações culturais
das comunidades e/ou sociedades.

52
Lição n° 7
As manifestações culturais dos Khoisans

Introdução
Ao finalizar a nossa unidade de aprendizagem sobre os habitantes
mais antigos de Moçambique, os Khoisans, que viviam da caça e da
recolecção, vamos estudar as suas manifestações culturais. Da sua
relação com a natureza e das suas necessidades de sobrevivência
estas comunidades foram criando e adoptando práticas culturais.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Explicar o surgimento de práticas culturais nas


comunidades de Khoisans;
 Caracterizar essas práticas culturais.

Objectivos

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 3 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

Vamos iniciar por definir cultura e prática cultural, com base no


nosso conhecimento sobre a cultura moçambicana. Podemos ainda
reflectir sobre a construção da cultura. Como é que a cultura se
constrói?

53
Vamos, através do texto, explicar como foi a construção cultural
dos Khoisans:

Ao longo da sua luta pela sobrevivência os Khoisans foram criando


e adoptando práticas que tentavam explicar a sua relação com a
natureza e também a relação entre eles.

Havia uma cultura simples que era semelhante às outras culturas


existentes pelo mundo fora, na altura. Esta cultura foi muito longa
na África Austral, sem mudanças, porque estas populações estavam
muito distantes das outras e não eram capazes de compartilhar ideias.
Alguns San acreditavam num Deus que criava tudo e era
representado em forma de corpo.

Há evidências de utilização de recipientes de barro, objectos de


adorno feitos de conchas marinhas e ovos de avestruz perfurados.
Arqueólogos têm encontrado nas cavernas desenhos e restos de
instrumentos de pedra, que revelam a paulatina evolução destas
comunidades. Em alguns locais há vestígios de que já enterravam os
seus mortos.

Nas zonas planálticas do interior há testemunhos de pinturas


rupestres e gravações em rocha, onde são retratadas
naturalisticamente, diversos exemplares da fauna selvagem local,
bem como caçadores com os seus aros e flechas. Esta arte parietal
prolonga-se até a chegada dos bantu. As pinturas rupestres das
comunidades de Khoisans, que usavam instrumentos de pedra, são,
geralmente, de um estilo naturalista, representando essencialmente
animais e homens.

Retome as questões introdutórias e responda-as por escrito.

Com a leitura do texto pode perceber que há uma relação entre as


práticas culturais e as actividades de subsistência. Escreva também
Actividade 7.1 sobre esta relação.

54
Na definição de cultura pode recorrer a autores de referência na
área ou a consulta na internet. Repare que em cada momento
histórico a cultura tem os seus traços marcantes. As actividades de
subsistência levam a determinados comportamentos, valores e
Comentários da actividade
práticas.

Resumo da Lição
As manifestações culturais dos Khiosans estavam ligadas as suas
actividades de subsistência e a sua relação com a natureza. A
escassez de estudos sistemáticos sobre essas comunidades limita
os nossos conhecimentos.

Com esta lição terminamos esta unidade temática e vamos iniciar


o estudo dos povos de língua bantu que trouxeram uma nova
dinâmica para Moçambique

Auto-avaliação
1. Caracterize as manifestações culturais dos Khoisans.
2. Relacione essas manifestações culturais com as suas
actividades de subsistência.

Esta lição fecha a unidade de aprendizagem número 2. O nível de


desenvolvimento das forças produtivas era ainda baixo entre os
Khoisan. Este aspecto é determinante para toda a estrutura social e
cultural da sociedade. Os Khoisan são considerados como habitantes
mais antigos de Moçambique.

55
Comentários das Auto-avaliações da unidade 2
Comentário da auto-avaliação da lição 3:

A caça e a recolecção foram as actividades de sobrevivência mais


antigas que consistiam na recolha do que a natureza oferecia. A
natureza dessas actividades obrigava a deslocações periódicas a
procura de regiões que oferecessem essas condições, eram
comunidades nómadas ou semi-nómadas.

Comentário da auto-avaliação da lição 4:

A caça e a recolecção eram actividades que não exigem uma


grande acção sobre a natureza. Os khosans recolhiam o que a
natureza oferecia sem uma intervenção considerável sobre ela.
Estas duas actividades determinavam as relações de poder, sociais
que existiam no seio dos grupos. Podemos considerá-las como
relações ainda frágeis.

Comentário à auto-avaliação da lição 5:

Os Khoisans viviam da caça e da recolecção, usando instrumentos


feitos de pedra.

A caça e a recolecção são actividades que dependem do que existe


na natureza. Como os recursos são esgotáveis os Khoisans viam-
se obrigados a migrar para outras zonas a procura de animais,
tubérculos e frutos.

Comentário à auto-avaliação da lição 6:

1. Na esquematização da organização social inicie pela família,


grupo de famílias, clãs. Procure o conceito de clã .

56
2. O chefe desempenhava um papel importante na organização
das actividades, na distribuição do fruto do trabalho e na
deslocação do grupo para zonas de caça e recolecção.

Comentário da auto-avaliação da lição 7:

As manifestações culturais dos Khoisans revelavam a sua relação


com a natureza e as suas formas de vida. A representação de cenas
de caça nas suas pinturas rupestres pode ser entendida como a sua
preocupação pela sobrevivência.

Resumo da Unidade
Nesta unidade de aprendizagem intitulada “Moçambique no
período dos primeiros Caçadores e Recolectores” estudamos os
Khoisans que constituíram as primitivas comunidades, vivendo
basicamente da caça e da recolecção. Com base nessas
actividades elas foram se organizando socialmente e criando
alguns valores culturais.

Auto-avaliação da Unidade
Para a auto-avaliação desta unidade de aprendizagem elabore um
texto único sobre as comunidades de caçadores e recolectores,
estruturado de acordo com as lições da unidade. Considere os
khoisans como primeiros habitantes de Moçambique, as suas
actividades de subsistência, a organização social e as práticas
culturais.

57
Comentários da Auto-avaliação
Para verificar se o texto está completo e descreve correctamente
essas comunidades volte às lições e consulte as obras
recomendadas.

Leituras complementares
DUARTE, Ricardo Teixeira. A Expansão Bantu e o Povoamento
do Sul de Moçambique - algumas hipóteses. Maputo, 1976.

OBENGA, Théophile (dir). Les peuples bantous, migrations,


expansion et identité culturelle. Actes du Colloque International.
Libreville,1989.

RITA-FERREIRA, António. Bibliografia etnológica de


Moçambique (das origens a 1954), Lisboa, JICU, 1982.

MORAIS, João Manuel e FERRÃO, Lívia. Contribuição para


uma bibliografia sobre arqueologia e pré-história de
Moçambique de 0 a 1500. Maputo, Universidade Eduardo
Mondlane. IICM, 1978.

SERRA, Carlos (coord.), História de Moçambique, Vols. I – III


, UEM, 2000.

58
Conteúdos
O Povoamento de
Moçambique e os
Lição n° 8 61 primeiros Estados Bantu
O processo migratório e a fixação Bantu ............ 61 (séc. III/IV - XV)
Lição n° 9 69

UNIDADE
Teorias e rotas da expansão Bantu na África
Austral e Oriental ......................................................... 69

3
Lição n° 10 75
A fixação dos povos de línguas bantu: Da
economia de caça e recolecção à economia
agrícola ..............................................................................75

Lição n° 11 79
Relação e contactos entre os agricultores e as
comunidades de caçadores e recolectores....... 79

Lição n° 12 82
Consequências do povoamento Bantu .................. 82

Lição n° 13 87
A Sistematização da Agricultura e o seu impacto
social em Moçambique................................................ 87

Lição n° 14 93
Os Grupos Étnicos de Moçambique ........................ 93

Pág. 60 - 102

Unidade 3: O Povoamento de Moçambique e os primeiros Estados Bantu (séc. III/IV - XV)

59
Introdução
Vamos iniciar o estudo da nossa terceira unidade de aprendizagem
da História de Moçambique. Esta unidade traz-nos a fixação de
povos designados por bantu que, foram gradualmente ocupando as
bacias fluviais costeiras, as encostas e os planaltos do interior. Este
estudo permite-nos compreender a nossa origem étnica e cultural.

Objectivos da unidade
Ao fim desta unidade, você deverá ser capaz de:
 Compreender as transformações ocorridas em Moçambique
com o povoamento bantu;
 Analisar o impacto;

Tempo de estudo da Unidade:

Você vai precisar de 35 horas para completar o estudo desta


unidade.
Tempo

60
Lição n° 8
O processo migratório e a fixação Bantu

Introdução
Nesta primeira lição da unidade 3 vamos estudar o processo de
migração e fixação bantu em Moçambique. Este processo de
migração ficou conhecido por expansão bantu. A palavra bantu tem
uma conotação exclusivamente linguística. A palavra "bantu" é
derivada da palavra ba-ntu, formado por ba (plural) e nto ou muntu,
que significa "pessoa" ou "ser humano”

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Explicar a origem dos povos bantu que emigram para a


região da África Austral;
 Descrever a distribuição desses povos pela região de
Moçambique
Objectivos
 Caracterizar as motivações dessas migrações.

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 4 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

A maioria do povo moçambicano é de origem Bantu e pertence ao


grupo dos bantu meridionais. A palavra Bantu significa gente ou
povo; é a mesma palavra que antu em Sena, wantu em Nhanja, vantu
em Maconde, wantu em Ndau, vanhu em Shangana, Ronga, e
Xitswa, bantu em Zulu e Xosa etc. Cada um destes povos fala uma

61
língua que é uma ramificação ou um idioma duma mesma língua
matriz.

Na sua língua materna como se diz gente? Procure saber dos seus
colegas e vizinhos que tenham linguas maternas diferentes da sua
como se diz nessas linguas e compare as palavras. (Veja mais
Actividade 8.1 adiante uma lista com a grafia da palavra em algumas linguas
nacionais).

Pode observar que há muita semelhança entre as línguas nacionais,


não só para a palavra gente. Isto explica-se pela origem comum das
línguas nacionais.
Comentários da actividade

Vamos ver essa origem comum pela leitura do texto:

Os povos bantu são considerados como originários da África


ocidental, onde existia o seu núcleo proto-bantu e tiveram uma
dispersão rápida e explosiva para a região austral. Muitos dos povos
africanos que habitam o sul do deserto do Sahara vieram da região
dos Grandes Lagos (Vitória, Alberto, Rudolfo, Eduardo,
Tanganhica, etc).

Veja na figura a seguir uma representação da distribuição de povos


no continente africano

62
Figura 10: Movimentos e distribuição populacional, a partir das
migrações bantu

Fonte: https://blogdojuarezsilva.files.wordpress.com/2014/06/povos-africanos.jpg

Qual foi a origem das línguas bantu?

Segundo Niane (1983), na óptica de Greemberg e de Guthrie, as


línguas Bantu, ora difundidas por quase metade de África, tem a sua
origem na região de Médio Benué, na fronteira entre a Nigéria e a
República de Camarões.

Para Ngunga (2004) o termo bantu resulta de um estudo comparativo


que permitiu que se notassem semelhanças fonológicas e
morfológicas do termo que significa pessoas, gente e povo. Este
vocábulo é composto por duas partes, sendo um prefixo de classe e
um radical invariável. O exemplo é que em todas as línguas de
Moçambique para se referir a pessoas ou gente diz-se da mesma
maneira.

63
A ideia de migração bantu surgiu, quando em 1862, o linguista
alemão Bleek conseguiu notar que na África ao sul do equador
existiam línguas aparentadas (cerca de 300) em termos de
vocabulário e estrutura. Estudos posteriores nas áreas de etnografia
e antropologia confirmaram esta teoria.

Segundo, Armindo Ngunga (2004), especializado em Línguas


Bantu, a situação sociolinguística da África pré-colonial continua
praticamente uma grande incógnita. As tentativas de reconstituição
de movimentos migratórios têm sido feitas com base na actual
dispersão linguística do continente. A aplicação do método
comparativo ao estudo de línguas africanas que permitiu que os
cientistas descobrissem algumas características comuns entre as
línguas de um grupo a que mais tarde se chamou * bantu*. Os
exemplos que se seguem ilustram a semelhança morfológica do
termo que significa *gente* ou *pessoas* em algumas línguas
moçambicanas, com relativas diferenças de carácter fonológicos que
justificam o principio da observância regular das mudanças fonéticas
que podem ser explicadas em termos históricos. Assim:

Gitonga: ba-thu

Swahili: wa-tu

Nhanja: wa-nthu

Nyungwe: wa-nthu

Shona: va-nhu

Changana: va-nhu

Yao: vaa-ndu

Makonde: va-nu

Makhuwa: a-thu (Ngunga, 2004:29).

Actualmente, o termo bantu é usado nos estudos da linguística


moderna para se referir a um grupo de cerca de 600 línguas faladas

64
por perto de 220 milhões de pessoas numa vasta região da África
contemporânea que se estende a sul de uma linha que vai desde os
Montes Camarões, (a sul da Nigéria), junto a costa do Atlântico, até
a foz do rio Tana ( Quénia), abrangendo os seguintes países: África
do Sul, Angola, Botswana, Burundi, Camarões, Comores, Congo,
Gabão, Guiné Equatorial, Lesotho, Madagáscar, Malawi,
Moçambique, Namíbia, Quénia, República Democrática de Congo,
Ruanda, Suazilândia, Tanzânia, Uganda, Zâmbia e Zimbabwé
(NGUNGA, 2004: 30).

De salientar que, ainda de acordo com o moçambicano Ngunga,


nesta região existem, em alguns países, enclaves de línguas não
bantus, nomeadamente: Khoi, San e Hotentote (Kalahari), na África
do Sul, no Botswana e na Namíbia, Maasai e Luo, no Quénia, Hadza
(hatsa), Iraqw, Maasai, Sandawe, na Tanzânia, e talvez outras
línguas noutros países.

Elabore um texto de 5 a 6 linhas sobre a origem dos bantu,


considerando a região de origem, as vagas do movimento
migratório e as principais conclusões dos estudos feitos sobre a
Actividade 8.2 origem dos bantu.

Veja se conseguiu incluir os aspectos indicados e pode recorrer a


bilbiografia recomendada para completar o seu texto.

Comentários da actividade

Como ocorreram as migrações bantu?

As migrações foram deslocações africanas, muitas vezes em grupos


de tribos. Estas migrações sucederam-se durante séculos e só
acabaram nos princípios do século XVIII. As migrações eram, na sua
maioria, pequenas deslocações em etapas não superiores a 100

65
quilómetros, o que representa uma marcha de 2 ou 3 dias. Este pro-
cesso, embora lento, permitiu assim deslocações a grande distância.

É muito difícil estabelecer as datas das migrações devido à falta de


documentos e por outro lado pela duração prolongada das
deslocações que nunca tinham um carácter de estadia definitiva.
Todavia, diversos historiadores conseguiram estabelecer que os
Macuas e Ajaus teriam atingido a zona onde ainda hoje se
encontram, por volta do ano 1000. Os Chonas e Ndaus atingiram o
sul do continente por volta de 1500, enquanto que os Zulus e os
Xosas atingiram a costa do Natal, por volta de 1600.

Em Moçambique existem evidências do processo de migração em


diversas estações arqueológicas, como a da Matola, Xai-Xai,
Vilanculos, Save.

Quais terão sido as razões dessas migrações?


Motivações das migrações:
As migrações tiveram motivações de carácter económico, político e
social. A motivação económica constitui a razão mais frequente para
as migrações. Vários anos de secas consecutivas provocavam fomes
que obrigavam as populações a partir. Um exemplo destas migrações
permanentes causadas pelo cultivo intensivo das terras e pelo
despovoamento florestal ou corte de árvores, é o caso do Botswana,
um país muito seco onde as migrações seriam devidas ao problema
da falta de água.

A procura de terras novas e férteis e bem irrigadas, pouco povoadas


e ricas em caça, constituem algumas das motivações para as
migrações.O desenvolvimento da técnica da metalurgia de ferro
possibilitou o fabrico de instrumentos de trabalho mais eficazes o
que permitiu o aumento da produtividade, da produção e,
consequentemente o crescimento demográfico. Em suma , são tidas
como causas da expansão da População Bantu as seguintes:

 conhecimento de agropecuária e da metalurgia de ferro,

66
 Aumento demográfico,
 Crescimento do deserto de Saara,
 Demanda de novas terras propícias à pastorícia e culturas.

No campo político estes povos foram atraídos por uma situação mais
vantajosa militarmente e que permitia uma melhor defesa. As
ameaças de conquista militar provocaram deslocações para evitar a
morte ou escravatura.

As epidemias, muitas vezes aliadas a anos de seca, motivaram


socialmente as migrações bantu.

Durante o longo percurso da região dos Grandes Lagos, os Bantu


tinham de se defender contra os Hamitas e outros povos. Várias
vezes os Bantu abandonaram os territórios que ocupavam, fugiram
dos novos ataques dos Hamitas e passaram os limites da África
equatorial central para se dirigirem uns para o sul e outros para o
ocidente e oriente. Assim surgiram três grandes ramificações dos
povos Bantu, a saber: os Bantu Orientais, os Bantu Meridionais e os
Bantu Ocidentais. As diferenças dos grupos bantu são explicadas
com base no tipo de olaria (kwale, gokomere, broedrstro, kapiri),
estudos antropológicos e linguísticos que revelam o antepassado
comum. Os Bantus escolhem, para longas jornadas, as terras férteis
dos vales dos maiores rios ou as áreas encharcadas que marginam os
grandes lagos, onde sempre encontram água e donde a caça não se
afasta nunca. Por caminhos assim se alongaram os Bantus em
demanda das terras do Sul (JUNOD, 1974).

Faça um resumo sobre as motivações das migrações.


Esquematize as três ramificações das migrações bantu.

Actividade 8.2

67
Organize as motivações por ordem económica, potítica e
sociocultural. Para verificar se a sua esquematização das
ramificações das migrações está completa consulte o mapa da

Comentários da actividade figura 10.

Resumo da Lição
Os povos bantu são considerados como originários da África
ocidental, onde existia o seu núcleo proto-bantu. Eles tiveram
uma dispersão rápida e explosiva para a região austral do
continente africano, as migrações de povos de línguas bantu
foram motivadas por diversas razões, destacando-se as de cariz
económica. A procura de terras para praticar a agricultura
constituiu uma das motivações principais. Nesse processo de
migração os povos de língua bantu tomaram direcções diversas,
difundindo o uso do ferro e a prática da agricultura.

Auto-avaliação
1. Indique as razões económicas das migrações de povos bantu.
2. As migrações tiveram outras motivações. Quais foram?

68
Lição n° 9
Teorias e rotas da expansão Bantu na África Austral e Oriental

Introdução
As migrações dos povos de línguas bantu são explicadas por
diferentes teorias. Essas explicações baseiam-se nas descobertas
arqueológicas e nas tentativas de interpretação das mesmas. Vamos
estudar essas teorias e rotas da expansão bantu pela África austral.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Descrever as explicações sobre o processo de expansão


bantu;
 Caracterizar as vagas de migrações bantu.
 Identificar as rotas de migração bantu.
Objectivos

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 5 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

Observe no mapa da figura 10, o ponto de partida dos bantu e as


direcções dessas migrações.

Complemente a sua observação com a leitura do texto:

A migração das tribos Bantu da África Equatorial Oriental para a


África Austral deu-se em três vagas sucessivas. A primeira vaga
trouxe as tribos Macua, Ajauas e outras para as regiões mais

69
meridionais da África Equatorial Oriental, isto é, para a região entre
os rios Rovuma e Zambeze. Como vimos, parece possuir sérios
fundamentos a hipótese segundo a qual os primeiros bantos a atingir
o sul de Moçambique seguiram uma rota próxima do litoral. Como
se explica esta opção por uma rota próxima do litoral?

A preferência por esta via deve-se, sem dúvida, aos


condicionalismos do meio ambiente: maior pluviosidade ao longo da
costa, contrastando com a região interior árida ou semi-árida, sem
cursos de água permanente, infestada de mortíferas doenças
tropicais.

Figura 11: As rotas migratórias dos povos bantu

Fonte: https://www.quora.com/Why-were-the-Bantu-migrations-so-important-to-
the-cultural-development-and-cohesion-of-early-African-civilizations

De acordo com Rita-Ferreira (1982), Elsdon-Dew baseado em


pesquisas serológicas3, concluiu que os Chopes e os Cocas de
Inhambane constituíam o mais arcáico povo não bosquimanóide que
até então havia estudado na África Austral. Daí ter inferido que os

3
Pesquisas baseadas em análises e comparação das proteínas sanguíneas.

70
seus ascendentes faziam parte dos primeiros grupos bantu que se
espalharam pelo subcontinente.

A segunda vaga trouxe as tribos Ndau e Chona (Machona,


Makaranga e outras) através dos territórios dos Macua e Ajauas para
a região situada entre o Zambeze e o Limpopo. Dentro destas tribos
Chona deve salientar-se o papel relevante dos Makaranga que foram
os criadores do Império de Monomotapa.

A terceira e última vaga trouxe, para a África Austral, três grupos de


tribos: os Bechuanas, os Xosas e os Zulus. Estas tribos atravessaram
os territórios ocupados pelas camadas mais antigas e vieram fixar-
se, os Bechuanas para o Sudoeste (Botswana), os Xosas para o sul
(Província do Cabo), e os Zulus para o Sudoeste (Natal).

Chegaram a Moçambique a cerca de 1700 anos e povoaram


gradualmente as bacias fluviais costeiras e, quase ao mesmo tempo,
as costas e os planaltos do interior.

Com recorrência aos mapas das figuras 10 e 11, localize os grupos


étnicos no espaço ocupado em Moçambique. Recorra a
bibliografia adicional para localizar estes grupos étnicos no espaço
Actividade 9.1 moçambicano.

Os grupos étnicos referidos no texto estão enquadrados nas 2


primeiras vagas migratórias. Pela sua designação e consultando
bibliografia complementar, localizou esses grupos étnicos?

Comentários da actividade Parabéns pelo seu trabalho!

Complete a sua resposta a partir do texto seguinte:

Os Bantus do planalto lacustre, talvez de Uganda, não abandonando


as terras marginais dos grandes lagos, aliás o caminho mais
praticável por constituir um autêntico corredor entre duas

71
cordilheiras montanhosas, o caminho foi seguido por um conjunto
de lagos, atingindo o bordo sul do Tanganhica, onde a rota se
bifurcou nos seguintes:

A. Uma das rotas de migração, sem abandonar as vias lacustres (de


lagos), viria a bordejar as praias ocidentais do Niassa, atingindo
Zambeze na sua confluência com o Chire.
1. Descendo o Zambeze viria a esbarrar com a costa do Índico,
evoluindo para norte ao longo do litoral e espalhando-se
pelas zonas do interior.
2. Bordejando o Niassa, alongar-se-ia pelo Lugenda-Rovuma,
espalhando-se pelas terras do norte, fronteira com Zanzibar.
3. Novas hordas migratórias, atingiram o rio Zambeze e com
dificuldades de se dirigirem para o norte, fixaram-se nas
terras meridionais, dando origem aos povos meridionais.

B. A segunda rota penetrou na Bacia do rio Zaire, demorando-se os


migrantes nas regiões banhadas por este rio e seus afluentes.
1. Descendo, um dos ramos percorreria mais o curso de Zaire
até a Costa de Atlântico, espalhando-se pelas terras
setentrionais e dando origem aos povos de Congo, com
alguma penetração em Angola.
2. Outro ramo, infiltrando-se ao longo dos grandes afluentes
(Luabo, Cassai, Cubamgo), ocupou o interior Centro-
Ocidental, dando origem a importantes estados (Macololo,
Luba e Muatiavua).

A própria fixação do povo acentuou-se após a invasão dos Jogas e


dos Zimbas.

Segundo Rita-Ferreira (1982), de acordo com apreciação de


Siligman, os factores culturais e históricos, a própria localização
geográfica e o meio em que a população se inseria, contribuiram para

72
que este povo adquirisse características culturais diferenciadas,
senão vejamos:

1. Bantus Ocidentais- limitados pelos grandes Lagos, nos rios


Cunene e Zambeze e norte da zona bantu. A sua origem está
ligada aos povos que escolheram a rota de migração do Zaire e
afluentes.
2. Bantus Orientais- Da Uganda ao Zambeze e do mar aos grandes
Lagos, com as seguintes subdivisões:
a) Interlacustre,
b) Norte- oriental,
c) Oriental ( compreende os habitantes de Moçambique ao norte
do Zambeze), com origem nos povos que percorrendo a
cadeia lacustre progrediram depois ao longo do Zambeze.
3. Bantus Meriodinais –Ao Sul dos rios Zambeze e Cunene, com as
seguintes subdivisões:
a) Norte (Chonas)
b) Oriental ( Tongas e Angunes)
c) Central ( Sothos e Vendas)
d) Ocidental ( Hereros e Ovambos). Tem origem nos povos, que
ultrapassando o Zambeze, se dispersaram pela África
Austral.

Resumo da Lição
Como vimos, os bantus seguiram três principais rotas durante as
migrações e foram ocupando espaços territoriais na região da
África austral e oriental. Uma parte desses territórios constituem
hoje o espaço moçambicano.

73
Auto-avaliação
1. Esquematize, através de setas, as três rotas das migrações dos
povos de línguas bantu na região da África austral e oriental.
2. Quais foram as vagas de migração para o território
moçambicano.

Figura 12: As três fases e direcções das migrações bantu

Fonte: Migrações bantu. http://wipedia.org

A lição seguinte debruça-se sobre a passagem da economia de caça


e recolecção para a economia agrícola como resultado da fixação
bantu. Os bantus conheciam a metalurgia do ferro e a prática da agro-
pecuária.

74
Lição n° 10
A fixação dos povos de línguas bantu: Da economia de
caça e recolecção à economia agrícola

Introdução
Esta lição visa dar continuidade ao processo de passagem duma
economia predadora para uma economia agrícola, que traz diversas
alterações na vida das primeiras comunidades moçambicanas. A
fixação dos povos de línguas bantu permitiu a difusão da produção
de instrumentos de trabalho feitos de ferro e a prática da agricultura.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Explicar a passagem da economia de caça e recolecção para


uma economia agrícola;
 Caracterizar a vida sedentária resultante da economia
agrícola;
Objectivos
 Identificar as mudanças advindas da produção agrícola.

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 4 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

A caça e a recolecção são actividades que permitiram uma


relação directa entre o Homem e a Natureza. A agricultura
também cria essa proximidade entre eles. Olhando para a
situação concreta de Moçambique, vamos reflectir sobre isso.

75
Como é que a agricultura contribuiu para um maior domínio
sobre a natureza?

Com o decorrer do tempo, o regime de economia baseado na caça e


na recolecção evolui a partir do desenvolvimento das forças
produtivas. Este desenvolvimento das forças produtivas provoca
importantes mudanças sociais; a actividade pastoril separa-se da
agricultura e inicia-se uma modesta indústria artesanal. Começa o
intercâmbio de produtos derivados do trabalho, primeiro entre as
tribos e depois no centro da própria comunidade. A tribo descompõe-
se em famílias que se convertem em unidades económicas separadas,
concentrando-se nelas o trabalho, diferente do trabalho comunitário
e dando início a propriedade particular.

Afirma-se que a transição da horda primitiva para a comunidade


gentílica (já estudado no ensino secundário), foi um processo lento e
radical para o Homem e para a sociedade, devido a vários factores,
dos quais destacam-se os ambientais ou ecológicos.

O início da idade do ferro ocorreu entre os anos zero e mil d.C. na


África Central e Austral, trouxe mudanças fundamentais às forças
produtivas, isto é, nos instrumentos de trabalho e nas matérias-
primas que eram utilizados para produzir bens e/ou mercadorias. O
início da idade do ferro foi um período de mudança revolucionária
que contribuiu para a formação dos primeiros estados na região.

Os bantu possuíam gado, cultivavam cereais (mapira e mexoeira) e


trabalhavam na mineração de ferro do qual faziam instrumentos de
trabalho e armas. O aumento da produção (agricultura, criação de
animais) permitiu o crescimento das comunidades.

Segundo o Padre da Cruz (1919, com os Bantus surgiu a agricultura


tropical, a confecção de armas e utensílios domésticos, admitindo-se
que o aparecimento de ferro a eles se deve. Quanto a difusão de
plantas, a Botânica prova que muitas dessas plantas são estranhas
aos territórios actuais e a sua existência só pode-se explicar

76
aceitando que foram produzidas ou introduzidas por povos que os
cultivavam (CRUZ, 1910).

Leia os textos complementares indicadosno fim da unidade e


escreva um texto de 5 a 6 linhas sobre as mudanças ocorridas
com a prática da agricultura.
Actividade 3.1

No seu texto veja se incluiu o processo de sedentarização, a


produção de instrumentos de trabalho feitos de ferro, uma melhor
estruturação da sociedade, o intercâmbio de produtos.
Comentários da actividade

Qual foi a influência dos instrumentos de trabalho no aumento


da produção?

O uso do ferro permitia que se produzissem instrumentos mais


avançados, tais como: setas, machados, facas, armas espadas, lanças,
etc. A partir de então, as florestas podiam ser limpas, utilizando os
instrumentos de trabalho atrás indicados. As árvores foram deitadas
abaixo; os ramos e as folhas foram espalhados para depois secarem
e transformarem-se em fertilizante. Esta técnica permitiu que o
campo fosse trabalhado durante 3 ou 4 anos consecutivos antes de
uma nova área ser limpa.

Aos cereais até então colhidos (painço e sorgho) juntaram-se


diversas raízes, melões e feijões. Estas mudanças na colheita
agrícola foram acompanhadas pela melhoria na actividade de
pecuária. A pecuária tinha vantagens para os agricultores do início
da idade do ferro (bovino e caprino).

O gado podia sobreviver mais tempo do que o grão; ser consumido


em qualquer período do ano; reproduzia-se; ser tratado por jovens
portanto, não reduzia substancialmente, o trabalho na agricultura; ser

77
consumido por altura da fome quando as colheitas fossem
deficientes; ser trocado com os vizinhos em tempo de crise.

Era uma forma de acumulação de riqueza. Este aspecto foi


provavelmente o mais importante para o desenvolvimento das
sociedades na idade do ferro. Contudo, a caça e a recolecção
permaneceram como sectores importantes para a dieta das
populações na idade do ferro.

Em algumas regiões do nosso país, principalmente na região ao sul


do rio Save, o gado ganhou um valor simbólico para as cerimónias
de casamento. Relaciona esta prática com a acumulação de riqueza.

Resumo da Lição
A passagem da economia de caça e recolecção para a economia
agrícola contribuiu para a melhoria das condições de vida da
população. A agricultura e a utilização de instrumentos de
trabalho mais resistentes permitiram a criação do excedente de
produção e o incremento das trocas comerciais.

Auto-avaliação
1. Explique porque se considera a prática da agricultura como
uma verdadeira revolução para as comunidades de caçadores
e recolectores.
2. Indique as características da sociedade de economia agrícola.
3. Explique o significado da agricultura para a complexidade da
sociedade.

Na próxima lição irá estudar o relacionamento e os contactos entre


os agricultores e as comunidades de caçadores e recolectores.

78
Lição n° 11
Relação e contactos entre os agricultores e as
comunidades de caçadores e recolectores

Introdução
Esta lição leva-nos a compreender o processo de convivência e
posterior absorção das comunidades de caçadores e recolectores
pelas comunidades agrícolas. Esse processo foi ocorrendo de forma
gradual em que se assistiu à sobreposição da prática agrícola,
relegando a caça e a recolecção para a posição de actividades
complementares.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Descrever o processo de transição da economia de caca e


recolecção para a economia agrícola;
 Identificar as transformações ocorridas com o advento da
agricultura;
Objectivos
 Caracterizar o relacionamento entre os Khoisans e os povos
agrícolas.

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 5 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

Observe uma comunidade rural/aldeia próxima de si. Quais são as


principais actividades de produção? A caça e a recolecção foram
completamente substituídas pela agricultura e criação de gado?
Actividade 11.1 Observe como é praticada a agricultura.

79
Numa comunidade rural actual pode-se observar a prática da
agricultura e as suas implicações para a população. Também pode-
se observar que a caça e a recolecção sao actividades
complementares. A agricultura, essencialmente de subsistência, é
Comentários da actividade
praticada com enxada de cabo curto e com técnicas rudimentares.

Como se formaram novas unidades económico-sociais?

A chegada maciça de populações de línguas bantu na região de


Moçambique transformou-a numa região de agricultura de
subsistência e de criação de gado. A caça e a recolecção que antes
predominavam passaram a ser assumidas como actividades
complementares. Essas transformações ocorreram em espaços antes
habitados pelos Khoisan que, foram aos poucos reduzindo.

As populações de economia de caça e recolecção foram-se


miscigenando aos agricultores e adoptando tecnologias mais
avançadas e transformando-se em novas unidades económico-
sociais. Tudo indica que muitas das práticas primitivas subsistiram
durante muito tempo no seio das sociedades agrícolas que com eles
interagiram e se aglutinaram.

Alguns grupos sobreviventes de caçadores e recolectores subsistiram


através da troca de produtos da floresta com seus vizinhos
agricultores e pastores. Outros foram praticamente exterminados,
uma vez que não aceitavam trabalhar nas condições que os novos
colonos (holandeses e franceses) exigiam.

Não é provável que os bantus tenham exterminado os khoisans, uma


vez que algumas das suas características linguísticas e físicas foram
assimiladas por vários grupos bantus, como os xhosas e os zulus. É
mais provável que a redução do seu território de caça, derivado da
instalação dos agricultores bantus, tivesse sido uma causa para a
redução do seu número e da sua área habitada.

80
Os khoisans actuais podem ser descendentes de povos caçadores-
colectores que habitavam toda a África Austral e que desapareceram
com a chegada dos bantu a esta região, há cerca de 2 000 anos. É
mais provável que a redução do seu território de caça, derivado da
instalação dos agricultores bantu, tivesse sido uma causa para a
redução do seu número e da sua área habitada.

Resumo da Lição
As relações e os contactos entre os Khoisans e os povos agrícolas
caracterizaram-se pela sobreposição das práticas agrícolas, apesar
da permanência da caca e recolecção, como actividades
complementares. Alguns grupos de Khoisans sobreviveram como
criadores de gado e colectores de produtos florestais.

Os bantus, conhecedores da prática de agricultura, pastorícia e


metalurgia do ferro eram sedentários e viviam organizados em
grandes famílias descendente de um antepassado comum (as
linhagens), só o esgotamento de terras é que por vezes forçava as
migrações (SERRA, 2000).

Auto-avaliação
1. Descreva o processo de transição da economia de caça e
recolecção para a economia agrícola.
2. Explique as transformações ocorridas com o advento da
agricultura.

O estudo do relacionamento e dos contactos entre estas economias é


também contemplado na próxima lição que debruça-se sobre as
consequências do povoamento bantu.

81
Lição n° 12
Consequências do povoamento Bantu

Introdução
Nesta lição vamos estudar as consequências do povoamento bantu,
na região em que Mocambique se localiza. A introdução de novas
formas e técnicas de produção conduziu a mudanças significativas
na estrutura da sociedade. Pelas suas exigências e ciclo de trabalho,
a agricultura cria novas relações de produção e, consequentemente,
relações sociais mais complexas.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Identificar o impacto do povoamento bantu,


 Analisar as transformações ocorridas a partir da actividade
agrícola.

Objectivos

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 5 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

A agricultura é considerada como uma actividade que provoca


transformações profundas na natureza e, duma forma geral, nas
relações sociais.
Actividade 12.1 Como foi que a introdução da agricultura mudou a vida dos
caçadores e recolectores? Faça uma lista de mudanças que poderão
ter ocorrido.

82
Veja se na sua resposta conseguiu contemplar aspectos sobre o
melhoramento das condições de vida, tais como instrumentos de
trabalho mais consistentes e resistentes, construção de habitação,

Comentários da actividade melhoramento da dieta alimentar, intercâmbio de produtos.

Leia o texto para completar a sua resposta:

O povoamento bantu provocou alteraçoes profundas na estrutura e


na organização da sociedade. Ao nível sociopolítico a produção de
um excedente, isto é, aquilo que não era consumido, imediatamente,
pelo produtor e a habilidade para armazenar ou acumular o
excedente resultaram na emergência de sinais tendentes à exploração
do homem pelo homem. Os homens que produziam menos do que
necessitavam, possivelmente, através do acesso reduzido à terra e
criação de gado, trabalhariam para aqueles que tinham algum
excedente.

Este aumento da produção e a manutenção de animais persuadiu as


pessoas a fixarem-se num lugar. Esta permanência relativa encorajou
as populações a construir casas permanentes em madeira e outros
materiais mais resistentes do que as infra-estruturas simples das
pessoas da idade do ferro. Portanto, verificamos o nascimento de
comunidades de aldeias que apareceram na idade do ferro.

Que novas actividades vão surgindo?

Além disso, as pessoas começaram a especializar-se na ocupação


que elas foram mais hábeis, como, por exemplo, mineiro, ferreiro e
tecelão, etc. Esta divisão de trabalho e a redução da importância da
mulher aprofundaram a exploração da mulher e dos membros mais
fracos da sociedade. Às mulheres foram atribuídas tarefas mais
laboriosas e árduas, particularmente, cultivando a terra e cuidando
das crianças enquanto os homens eram, sobretudo, envolvidos na

83
criação da riqueza e do excedente (mais do que era necessário para
subsistência) como pastores, mineiros, ferreiros ou mercadores. Os
homens justificavam este controlo do excedente como resultado do
seu poder físico.

Enumere os grupos profissionais e/ou sociais que se vão


constituindo a partir da actividade agrícola.
Actividade 12.2

A actividade agrícola leva ao surgimento de actividades


complementares, como a mineração, a criação de gado, o
artesanato, o comércio, entre outras. A partir destas actividades

Comentários da actividade pode-se identificar os grupos profissionnais emergentes.

E a especialização do trabalho?

Com o crescimento das aldeias, certos membros da comunidade


concentravam-se na produção de artigos de olaria e mercadorias de
ferro. Estes indivíduos que se especializaram, obviamente,
precisavam de ser recompensados pela comunidade. O excedente foi
a base para a especialização que permitia que certas pessoas
pudessem fazer um tipo de trabalho, trocando algumas mercadorias
do seu excedente por outras necessidades, como, alimentos e
vestuário. A quantidade de excedente produzido era limitada e estava
sujeito às variações sazonais e anuais.

A divisão social do trabalho, como resultado de especialização, era


uma base importante para o crescimento de trocas locais. Isto
também foi uma das bases para a simples formação social de classe
e, desta maneira, a exploração de alguns grupos sobre outros.

84
As classes sociais formaram-se na idade do ferro, porque alguns
grupos, por exemplo, os comerciantes, caçadores de elefantes e
pescadores, começaram a produzir um excedente, isto é, mais do que
eles precisavam para a sua própria subsistência. Igualmente, alguns
estavam a produzir excedente agrícola e na criação de animais. Havia
a classe dos chefes e os camponeses, homens livres e escravos
domésticos.

Como surge a submissão política?

A frente de cada grupo ou família alargada havia um chefe com


poderes políticos, jurídicos e religiosos e um concelho de anciãos.
As conquistas militares e a anterioridade de ocupação do território
crivam relações de subordinação e tributação.

Uma elite ou uma classe governante era capaz de extorquir algum


excedente produzido através da cobrança do tributo. No princípio,
eram só os chefes dos clãs, chefes das linhagens e chefes que podiam
ser sustentados pelo excedente agrícola, alimento e produção de
instrumentos.

As linhagens formavam clãs chefiados pelos mais velhos. Um clã


podia reclamar a ancestralidade de um fundador importante da
aldeia, geralmente dominava a aldeia e um deles assegurava a
posição de chefe da aldeia.

As crenças mágico-religiosas constituíam um instrumento de poder


e da coesão social. Os chefes das linhagens e territoriais serviam de
elo de ligação entre a população e um antepassado comum. As
crenças na feitiçaria, a acção dos feiticeiros e dos curandeiros
exprimiam os conflitos sociais, as coerções morais e políticas e as
dependências familiares

85
Reflicta sobre o papel das crenças mágico-religiosas como
instrumentos do poder. Como é que as práticas mágico-religiosas
se relacionam com o poder político: Qual era o papel dos dirigentes
Actividade 12.3 nessas práticas? Havia uma hierarquia entre os dirigentes
religiosos? Como se manifestava?

Este questionamento ajuda a reflectir sobre o papel das crenças


mágico- religiosas.

As crenças mágico-religiosas tiveram um papel fundamental na


criação de relações de subordinação. A população acreditava que
os chefes tinham poderes sobrenaturais e eram intermediários entre
os vivos e os espíritos dos antepassados. Este facto contribuía pra
Comentários da actividade
fortalecer a submissão e o poder dos chefes.

Resumo da Lição
Pelo estudado nesta lição podemos ver que as sociedades
agrícolas foram-se tornando cada vez mais complexas pela
especialização do trabalho, pela criação do excedente de produção
e pela própria estruturação da sociedade. Duma forma geral,
houve transformações profundas e uma nova dinâmica na
sociedade.

Auto-avaliação
1. Identifique as principais transformações ocorridas a partir do
povoamento bantu.
2. Caracterize a estrutura social das sociedades agrícolas.
3. Elabore um texto sobre o impacto do povoamento bantu.

86
Lição n° 13
A Sistematização da Agricultura e o seu impacto
social em Moçambique

Introdução
Nesta lição vamos estudar a sistematização da agricultura que vai conduzir a
formação de unidades sociopolíticas mais estruturadas. Como já vimos, é a partir
da produção agrícola que se assiste a uma maior complexidade da sociedade que
caracteriza-se pelo surgimento de estados na região de Moçambique.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Explicar o processo de sistematização da agricultura em


Moçambique;
 Explicar como é a actividade agrícola contribui para o
surgimento de actividades complementares;
Objectivos
 Descrever o impacto da agricultura sobre a organização
social;
 Caracterizar as sociedades agrícolas

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 5 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

Iniciemos por rever os nossos conhecimentos sobre o surgimento


da agricultura. Como ela surgiu? Qual é a influência do meio
natural para praticar a agricultura?

87
A leitura do texto a seguir vai ajudar-lhe a encontrar as
respostas para essas questões:

A agricultura e a pastorícia são actividades que aparecem


relacionadas com as profundas transformações nas condições do
meio ambiente (clima, hidrografia, relevo, solos, vegetação, tipos de
plantas originariamente utilizadas e alimentos que forneciam, etc.).
O homem passou da apropriação de alimentos (colecta, caça) à
produção (cultivo, criação).

Embora esses factores tenham desempenhado um papel importante,


até mesmo preponderante, na origem da agricultura e da criação de
animais, não foram, entretanto, os únicos a interferir, pois esses
processos implicavam também factos de cultura e de civilização.

Mesmo nas épocas pré-agrícolas e nos períodos iniciais da


agricultura, os homens levavam consigo, nas migrações ou
deslocamentos, seus instrumentos, técnicas, modos de compreender
e interpretar o ambiente, maneiras de adaptar e utilizar o espaço, etc.
Carregavam também toda uma série de atitudes e comportamentos
criados a partir de suas relações com a natureza em seus habitats de
origem.

Qual foi o impacto imediato do desenvolvimento da economia


agrícola?

O desenvolvimento da economia agrícola permitiu a fixação de


comunidades por maiores períodos, a especialização do trabalho, o
aumento da produtividade e conduziu também a progressivas
transformações da natureza da sociedade.

A introdução da agricultura e da criação de animais foi a mudança


fundamental que permitiu ao homem adaptar‑se a diversos
ambientes e modificar os complexos biológicos, fazendo‑os produzir
mais ou fornecer géneros outros que os produzidos por meios
naturais. Em consequência do novo papel do homem, agricultor ou

88
criador, operaram‑ se transformações mais ou menos profundas nos
meios naturais, bem como na quantidade e qualidade dos seus
produtos.

Como é que a evolução da agricultura opera transformações na


sociedade? Responda a esta questão escrevendo um texto de 10
linhas, considerando as transformações económicas, políticas e
Actividade 13.1 socioculturais.

A agricultura contribuiu para criar e diversificar as actividades


económicas. Surgem novos grupos profissionais como ferreiros,
pastores, mercadores, mineiros. A sociedade torna-se mais
complexa e, duma forma geral, melhoram as condições de vida das
Comentários da actividade
populações.

No seu texto sobre as transformações provocadas pela agricultura


considere o nível político, económico, sociaal e cultural. Não se
esqueça que a agricultura constituiu uma revolução ou uma
mudança profunda para essas sociedades.

Qual foi o impacto social da sistematização da agricultura?


Com a fixação dos povos de línguas bantu a base fundamental da
economia consistia na agricultura de cereais, tais como mapira e
mexoeira. Em algumas regiões, a sul do rio Zambeze, essa actividade
económica era acompanhada pela criação de animais. A recolecção
continuou a ser um contributo indispensável à dieta alimentar, bem
como a pesca e a caça.
Outras actividades complementares eram a olaria, a tecelagem e a
metalurgia. Os excedentes agrícolas, a produção artesanal, o ouro e
marfim eram trocados a nível local e com mercadores distantes.
A agricultura contribuiu para criar relações de produção
permanentes ao nível da comunidade aldeã. As unidades de
produção constituíam-se em torno de um grupo de parentes
consanguíneos, definidas por via paterna a sul do Zambeze e por via

89
materna a norte. A terra era património das linhagens, podendo ser
usada, mas na alienada. O chefe da linhagem tinha a função de
distribuir periodicamente a terra pelos diversos membros das células
produtivas. O conjunto desses chefes constituía a classe dominante
da sociedade.

Conhecimentos de outras ciências como a Antropologia, a Economia


e a Ecologia, permitem compreender a diferenciação dos sistemas de
parentesco em Moçambique. No Sul, a criação de gado e o trabalho
migratório contribuíram para o domínio do homem sobre a mulher.
No Centro, o comércio foi muito influenciado pelos Estados
Militares do vale do Zambeze e na zona Norte, a prática da
agricultura, uma actividade dominada fundamentalmente pelas
mulheres, fez com que a mulher ficasse na dianteira. Estes grupos
consanguíneosna zona Sul são constituídos pela via patrilinear e na
zona Norte, pela via matrilinear. Influências culturais e as condições
ecológicas também contribuíram para a diferenciação. No Sul, as
condições ecológicas eram propícias para a criação de gado, uma
actividade masculina por excelência. Na zona Norte, as condições
naturais levaram à prática da agricultura, que é actividade feminina
por excelência Este aspecto influência a organização politíca,
religioso e cultural.

E ao nível político quais são as consequências do controle da


terra e de populações cada vez mais numerosas?
Em alguns territórios estruturava-se um poder político mais vasto,
quer por conquista militar, quer pela anterioridade de ocupação do
espaço. A linhagem vencedora ou a que a que residia a mais tempo
no território passava a exercer uma supremacia política sobre as
outras, que passavam a pagar tributos. Forma-se assim uma
aristocracia da sociedade que tinha abaixo a camada de camponeses
livres. As linhagens recém-chegadas ou estrangeiras pagavam
tributos pesados e eram consideradas inferiores aos homens livres.

90
A sociedade foi-se estruturando para uma divisão de classes, com
relações de subordinação entre elas.

Procure num dicionário especializado ou em leituras


complementares o conceito de classe social. Relacione o
desenvolvimento agrícola com o surgimento e a diversificação
Actividade 13.2 das classes sociais.

A sociedade estruturada em classes tem a sua origem no


desenvolvimento da actividade agrícola. Veja se o seu conceito
engloba aspectos como a origem, os critérios de distinção entre as
classes sociais. A agricultura permitiu o surgimento de actividades
Comentários da actividade
complementares como o comércio, o artesanato, que conduziram à
o do trabalho e a especialização do trabalho e à diversificação das
classes sociais.

Resumo da Lição
A sistematização da agricultura foi um processo longo que
permitiu a criação de condições para uma vida sedentária. . Esta
actividade foi complementada pela criação de animais que
constitui também uma fonte de renda. A agricultura, bem como
as actividades complementares (criação de animais, artesanato)
criaram condições para o incremento das trocas comerciais,
visando responder as novas necessidades da população que se
foram tornando cada vez mais complexas. O desenvolvimento da
agricultura e das actividades complementares conduziram a
estratificação social e a criação de relações de subordinação.

Auto-avaliação

91
1. Explique o processo de sistematização da agricultura.
2. Desenhe uma pirâmide representando a organização social
desse período.

92
Lição n° 14
Os Grupos Étnicos de Moçambique

Introdução
Nesta lição vamos debruçar-nos sobre a formação dos primeiros
grupos étnicos de Moçambique, como resultado do desenvolvimento
da agricultura e da criação de gado.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Explicar a formação dos grupos étnicos de Moçambique;


 Caracterizar a distribuição espacial dos grupos étnicos;
 Identificar as principais características culturais desses
grupos.
Objectivos

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 7 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

Moçambique é um país multiétnico e multicultural. O que


significa? Recorra a leituras complementares e faz uma pesquisa
sobre estes conceitos. Partindo dos dois conceitos, reflicta sobre a
Actividade 14.1 situação de Moçambique.

93
A pluralidade étnica e cultural de Moçambique tem as suas raízes
na miscegenação entre Khoisans e povos de línguas bantu e na
diversidade destes últimos. Vários factores ecológicos,

Comentários da actividade económicos e socioculturais contribuem para a diversidade.

Leia o texto sobre a origem da multiplicidade étnica de


Moçambique:

A prática da agricultura, da criação de gado e das actividades


complementares, particularmente do comércio com mercadores
estrangeiros contribuíram para o surgimento de diferenciações
regionais, a nível cultural, linguístico, a nível dos costumes, etc. A
nível político também surgiram diferenciações com a formação de
reinos e chefaturas.

Os povos que habitam actualmente Moçambique são incluídos no


grande grupo dos Bantus, que povoa quase toda a África a Sul do
Sahara. Dentro deste grupo há muitas sub-divisões, ou etnias. A
Norte do Zambeze, a partir do rio Rovuma e da costa para o interior,
situam-se quatro grupos étnicos:

Os Suahilis ocupam, antes do mais, as feitorias costeiras entre


Quionga e Quelimane, se bem que encontremos igualmente
pequenas colónias muito mais a Sul. A sua importância na história
de Moçambique deve-se, antes de mais nada, à sua religião
(Islamismo militante), às suas funções comerciais (no essencial o
tráfico de escravos) e às suas alianças internacionais. Os xeques
Suahilis, navegantes e negreiros, têm em Moçambique um papel
ambíguo destruidores dos seus vizinhos africanos mas, igualmente,
seus protectores perante a pressão portuguesa. Como sultões de
Angoche, estiveram entre os mais determinados adversários da
conquista.

94
Acompanhe a descrição dos grupos étnicos de Moçambique:

Os Macuas-Lomués constituem uma das mais numerosas etnias de


Moçambique e com muitas subdivisões. Os macuas formaram reinos
islamizados na costa e no interior, praticando a agricultura e o
comércio.

Os Macondes no planalto a Sul do Rovuma, são também


agricultores, com uma tradição guerreira.

Os Ajauas, a Oeste do Lugenda, são principalmente agricultores e


artífices. Estavam em contacto comercial com os Swahilis e
adoptaram a religião Islâmica.

Além destas quatro etnias, o Norte de Moçambique tem ainda: um


ramo do grupo Marave, a leste do lago Niassa - os Nhanjas, alguns
núcleos de Angunes, ou melhor, de angunizados. na região centro,
no baixo Zambeze.

No eixo Zambeziano, encontramos um verdadeiro arco-íris


étnico. Do mar para o interior, deparamos com povos que os
etnógrafos designam de Povos do Baixo Zambeze, compreendendo,
sobre um fundo Marave, a Norte, e Chona, a Sul, numerosos e
variados contributos, Macuas-Lomués, Swahilis formando um
conjunto mais ou menos mesclado. Encontramos também os Sena e
os Chuabo.A norte de Tete estão os Maraves orientais e os Angunes
na fronteira do Malawi.

A Sul do Zambeze, os Chonas são descendentes de povos que


edificaram reinos importantes, como o Estado dos Monomotapa.

Os Tsongas ocupam o Sul de Moçambique. São agricultores e


pastores que sofreram de modo desigual a influência dos seus
senhores ou vizinhos Angunes.

No sul ainda temos os Chopes, também agricultores que foram


submetidos ao estado de Gaza. Os Bitongas, por vezes classificados
entre os Chopes, fazem parte das etnias do sul do Zambeze.

95
Em linhas gerais temos distintos grupos etno-linguísticos distintos
que caracterizam a diversidade cultural de Moçambique.

Use um mapa de Moçambique em branco para fazer a


distribuição dos grupos etnolinguísticos, de acordo com a
distribuição geográfica apresentada no texto.
Actividade 14.2

Para verificar se o seu quadro tem informação correcta, observe o


mapa da figura 13. Se procedeu correctamente, parabéns!

Comentários da actividade

Figura 13: Grupos étnicos de Moçambique.

Fonte: http://macua.blog.co

96
Este mapa apresenta os principais grupos étnicos de Moçambique,
mas deve-se considerar que a população moçambicana integra
também descendentes de asiáticos e portugueses.

Escolha um grupo étnico de Moçambique e faça uma pequena


pesquisa sobre as suas práticas culturais. Procure informação na
internet e não se esqueça de verificar a origem dessa informação.
Actividade 14.3

Conseguiu realizar a pesquisa? Veja se conseguiu incluir aspectos


como os rituais mágico-religiosos, cerimónias de nascimento,
casamento e morte, entre outras.
Comentários da actividade

Resumo da Lição
Os grupos étnicos de Moçambique formaram-se a partir das vagas
de migração bantu e das características específicas de cada região
onde se fixaram. Com base nas suas actividades de subsistência
foram criando características peculiares que os distinguem uns
dos outros.

97
Auto-avaliação
1. Preencha o quadro seguinte:

Etnia Localização Língua

2. Escolha duas etnias indicadas no quadro e apresente as suas


características socioculturais.

98
Resumo da Unidade
Nesta unidade intitulada “As Primeiras Sociedades Sedentárias
em Moçambique” vimos como é que a agricultura tornou-se
numa das principais actividades de subsistência. Essa
actividade agrícola contribuiu para mudanças na estrutura social
da população e, de acordo com as características específicas de
cada região levou à formação de grupos etno-linguísticos
diversos, de acorddo com o texto e o mapa.

Com esta lição terminamos o estudo da unidade 3. Na próxima


lição vamos iniciar o estuda da unidade 4 sobre a formação dos
primeiros estados em Moçambique. Antes de passar para a
unidade seguinte avalie a sua aprendizagem respondendo às
questões seguintes. Depois verifique se respondeu
correctamente consultando os comentários que se apresentam
em seguida. Se verificou que aprendeu devidamente o que foi
apresentado nesta unidade, está de parabéns!

Auto-avaliação da Unidade
1. Como é que a evolução da agricultura opera transformações
na sociedade?
2. Indique as transformações ocorridas a partir da introdução
da actividade agrícola
3. Relacione a introdução da agricultura com o surgimento de
novas unidades sociopolíticas.

99
Comentários das Auto-avaliações
Comentário à auto-avaliação da lição 8:

As migrações bantu resultaram da procura de terras férteis para a


agricultura e de melhores condições de vida. Outras motivações
estavam ligadas a disputas de ordem política.

Comentário à auto-avaliação da lição 9:

As três rotas das migrações bantu para a região de Moçambique


podem ser facilmente esquematizadas, considerando o ponto de
partida e a região de fixação. As duas primeiras rotas são as mais
importantes para o povoamento da região de Moçambique.

Comentário à auto-avaliação da lição 10:

Considera-se a prática da agricultura como uma verdadeira


revolução para as comunidades de caçadores e recolectores porque
provocou mudanças profundas na sociedade. A sociedade tornou-
se sedentária, com uma forte ligação à terra e diversificou as
actividades de subsistência.

Comentário à auto-avaliação da lição 11:

A agricultura vai-se tornando uma das principais actividades de


subsistência, de acordo com as possibilidades de produção que os
solos oferecem. Esta actividade é acompanhada por outras
actividades complementares.

A necessidade de organização da sociedade agrícola conduziu a


estratificação da sociedade, formando-se uma aristocracia
dirigente e a população livre. A sociedade agrícola foi-se tornando
cada vez mais complexa.

100
Comentário à auto-avaliação da lição 12:

Veja se na sua resposta contemplou a sedentarização, a produção


de alimentos e a estabilidade da sociedade. A estrutura social da
sociedade agrícola torna-se complexa e diversificada- No texto
sobre o impacto do povoamento bantu conseguiu contemplar
aspectos socioeconómicis e culturais? Se sim está de parabéns!

Comentário à auto-avaliação da lição 13:

A agricultura vai-se tornando uma das principais actividades de


subsistência, de acordo com as possibilidades que produção que os
solos oferecem. A necessidade de organização da sociedade
agícola conduziu a estratificação da sociedade, formando uma
aristocracia dirigente e outros estratos sociais.

Veja se incluiu na sua pirâmide a aristocracia como clase no topo,


seguida de comerciantes e na base da pirâmide os camponeses.

Comentário à auto-avaliação da lição 14:

Com a ajuda dos mapas dos textos conseguiu preencher o quadro?


Reveja os mapas.

Na indicação das caraterísticas das etnias concentre-se em pelo


menos 5 aspectos de cada uma delas. Se não conseguiu atingir este
número volte a ler o texto.

Para responder a primeira questão procure na bibliografia o mapa


da distribuição espacial dos grupos étnicos ou faca o seu. Cada
grupo étnico possui aspectos característicos que podem ser
encontrados na bibliografia.

101
Comentário à auto-avaliação da unidade:

A introdução e sistematização da agricultura constituiu uma


significativa revolução ou mudança na sociedade. A actividade
agrícola permitiu melhorar as condições de vida, o crescimento
demográfico e uma melhor estruturação da sociedade – dieta
alimentar, construções mais robustas, diversificação de
actividades, intercâmbio de produtos. Essas condições levaram à
formação de novas unidades sociopolítcas a partit da ciação de um
excedente de produção e da criação duma rede de relações de
subordinação.

Leituras complementares
Para complementar o estudo desta unidade recomenda-se a leitura
das seguintes obras:

CANCELAS, Alexandre. Do povoamento de Moçambique:


algumas considerações sócio-politicas. Conferência conferida em
Nampula, em 15 de Outubro de 1967, no XVIII aniversário da
Associação Comercial Agrícola e Industrial do Niassa.

KI-ZERBO, J. (coord). História Geral de África. Vol.1. S. Paulo,


Ática, París, Unesco, 1982.

MORAIS, João. Tentativa de definição de algumas formações


socioeconómicas em Moçambique de 0 a 1500. UEM, FL, IICM –
Centro de Estudos Africanos, 1978.

DUARTE, Ricardo Teixeira. Arqueologia da idade do ferro em


Moçambique. Trabalhos de Arqueologia e Antropologia, n°5,
1988.

102
Conteúdos
Formação dos Primeiros
Estados de Moçambique e
o comércio com os árabes
(séc. IX a XV)

UNIDADE
4
Lição n° 15 105
O Estado do Zimbabwe ...............................................105

Lição n° 16 110
O Estado de Monomotapa........................................... 110

Lição n° 17 115
O Estado do Monomotapa: A economia e a
cultur ................................................................................. 115

Lição n° 18 120
O comércio no litoral de Moçambique e o seu
impacto ............................................................................ 120

Pág. 104 - 131

Unidade 4: Formação dos Primeiros Estados de Moçambique e o comércio com os árabes (séc. IX a XV)

103
Introdução
Nesta unidade vamos estudar a formação dos primeiros estados e o
comércio com os árabes, no período entre os séculos IX e XV. Já ouviu
falar sobre os estados de Zimbabwe e de Monomotapa. Eles constituem
uma referência no continente africano pelas suas construções e pela sua
organização social e política.

Esses estados sobrepuseram-se as comunidades aldeãs, localizando-se em


regiões estratégias para o controle da actividade comercial. Destacaremos
o estado do Zimbabwe e o estado do Monomotapa.

Objectivos da unidade
Ao fim desta unidade, você deverá ser capaz de:
 Compreender a formação dos primeiros estados;
 Analisar a organização socioeconómica, política e
cultural dos primeiros estados.

Tempo de estudo da Unidade:

Você vai precisar de 20 horas para completar o estudo desta


unidade.
Tempo

104
Lição n° 15
O Estado do Zimbabwe

Introdução
Nesta lição vamos estudar o Estado do Zimbabwe, um dos primeiros
estados da região de Moçambique. A sua fundação é explicada por teorias
diferentes, mas tudo indica que tenha surgido a partir do desenvolvimento
da actividade comercial.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Explicar a fundação do Estado do Zimbabwe;


 Caracterizar as actividades económicas desse estado;

Objectivos

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 5 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

Como se formou o estado do Zimbabwe?


Leia o texto:

O estado do Zimbabwe, assim chamado por causa da construção típica do


seu amuralhado, foi fundado em cerca de 1250, pela etnia shona. A sua
fundação é explicada por diferentes teorias. A teoria de Donald Abraham
explica a sua fundação por bantu da etnia shona migrantes que introduziram
a mineração e o culto aos ancestrais, que os levou a fundar santuários.

105
O que são santuários? Qual é a relação entre a mineração e o culto dos
ancestrais?

Os dirigentes shonas souberam, graças a astuciosas manobras políticas,


exercer influência hegemónica sobre uma confederação ampla, constituída
por estados vassalos que lhes pagavam tributos em ouro. A segunda teoria
explica que o surgimento do estado do Zimbabwe deve-se à intensificação
das trocas comerciais. O comércio de missangas de vidro e de outros
objectos importados estava muito avançado, de acordo com o testemunho
de objectos de ouro e de cobre encontrados e o avanço económico de Kílwa,
cidade da costa oriental que mantinha trocas comerciais com a região de
Sofala.

Pelo facto de não ter sido implantado numa zona aurífera, sugere-se que
teve diferente base económica, o poder que permitiu aos respectivos
dirigentes fundar uma unidade política de tipo estadual e controlar a
exportação do ouro produzido algures. Aconteceu, possivelmente, que uma
das dinastias do povo “Gumanye”, graças à sua excepcional riqueza em
gado bovino, adquiriu tal preponderância que conseguiu dominar as rotas
comerciais entre os portos fluviais e marítimos e os campos auríferos do
sudoeste explorados pelos representantes da cultura que os arqueólogos
designam por “Leopard'sKopjie”.

Elabore um texto de 5 a 6 linhas explicando o papel do comércio


na fortificação das relações de subordinação e no fortalecimento
do poder político. Para realizar esta actividade consulte a obra de
História de Moçambique coordenada po Carlos Serra, indicada na
Actividade 15.1
bibliografia final.

Veja se no seu texto contemplou a acumulação de bens de prestígio


e de riqueza como elemento fundamental que leva à diferenciação
social e, consequentemente ao fortalecimento do poder político.
Comentários da actividade

Onde foi fundada a capital do estado doZimbabwe?

106
O local de implantação dessa capital parece, não ter obedecido a quaisquer
propósitos deliberados. Também não há provas de que constituísse um
santuário religioso, embora tenham sido ali encontrados objectos de
presumível significado ritual. Há, apenas, a sugestão de ter existido nas suas
cercanias suficiente ouro de aluvião que facilitou o inicial esforço de
arranque económico.

O certo é que esses dirigentes da população “Gumanye” decidiram, a partir


de c. 1100 d.C, empregar a sua riqueza na construção de melhores
moradias, cercadas por altas e vastas muralhas.

Figura 14: Exemplo de amuralhados frequentes no estado do Zimbabwe

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Zimbabwe

Possuíam, decerto, suficientes forças armadas, permanentemente


operacionais, para obrigar as caravanas a transitar pela capital para efeitos
de pagamento dos tributos exigidos. Esses guerreiros eram, naturalmente,
gratificados com gado bovino que utilizavam na compensação nupcial
exigida pela família das noivas. Também receberiam prémios em
missangas e tecidos importados.

Como se caracteriza o período do apogeu deste Estado?

Entre 1300 e 1450, o Estado do Grande Zimbabwe atingiu o auge da sua


prosperidade, intensificando o comércio externo e engrossando as suas
manadas. Aperfeiçoou as técnicas de construção e organizou a mobilização

107
da grande quantidade de mão-de-obra indispensável à extracção,
aparelhagem, transporte e sobreposição dos paralelepípedos de granito. As
muralhas asseguravam a defesa, a distinção e a privacidade dos dirigentes.
Até a sua olaria se diferenciava da dos súbditos. Também dispunham de
cerâmica importada e de uma notável variedade de outros produtos
ultramarinos, incluindo sedas e bordados. Entregavam parte do ouro a
artífices especializados que confeccionavam jóias de apurado gosto.

Apesar das especulações de alguns autores, a verdade é que se


desconhecem os nomes dos dirigentes Chonas-Carangas que mandaram
construir e habitaram o Grande Zimbabwe. Embora carecendo de
planificação sistemática, as escavações realizadas ao redor das muralhas
permitiram avançar sugestões sobre o número e disposição espacial dos
habitantes do centro urbano. Oscilariam entre 5 000 e 11 000, densamente
concentrados em palhotas pouco distanciadas, sem grandes cuidados de
alinhamento e sanidade.

Neste sistema económico, as mulheres teriam que desenvolver enormes


esforços no cultivo de distantes machambas e na colecta e transporte de
lenha e água a partir de locais cada vez mais longínquos. Por seu lado, os
homens não ocupados nas pedreiras e na construção, dedicar-se-iam à caça
e à pastorícia no intervalo das mobilizações militares.

Declínio do estado do Zimbabawe

Quais terão sido as causas do declínio?

Seja como for, talvez devido ao esgotamento dos recursos naturais, a


unidade política de que tratamos entrou em declínio na segunda metade do
século. XV. Cerca de 1500 a sua capital encontrava-se praticamente
abandonada. Há suficientes elementos arqueológicos para admitir que a
cultura do Grande Zimbabwe se expandiu em várias direcções, incluindo o
centro e litoral do actual território moçambicano, entre os séculos XIII e
XVI.

108
O grande Zimbabwe começou a ser abandonado pela sua população, no
século XV, em direcção ao vale do Zambeze ocorreu. Possivelmente
assumiu mais a forma de graduais deslocações de linhagens dominantes,
com os seus parentes e aderentes, do que migrações envolvendo grandes
massas populacionais.

Resumo da Lição
O estado do Zimbabwe foi fundado no contexto do incremento
das trocas comerciais ao longo da costa oriental africana. O
desenvolvimento da actividade comercial permitiu a construção
de amuralhados e o enriquecimento da classe dominante.

Auto-avaliação
1. Explique as motivações da fundação do estado do
Zimbabwe.
2. Caracterize a sua estrutura económica.
3. Descreva as razões da decadência desse estado.

Na próxima lição iremos estudar mais um estado que se forma no século


XV, o estado do Monomotapa.

109
Lição n° 16
O Estado de Monomotapa

Introdução
O Estado do Monomotapa constitui uma das referências dos primeiros
estados da região de Moçambique. Este estado foi formado a partir do
processo de conquista e integração de populações da região de
Moçambique e outros territórios. Vejamos a sua história.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Explicar o processo de formação do Estado de


Monomotapa;
 Caracterizar a organização política e social desse estado;

Objectivos

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 5 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

Como foi fundado o estado de Monomotapa?

O estado do Monomotapa derivou, culturalmente, do Estado do Grande


Zimbabwe, embora de modo bastante difuso e sem rupturas dramáticas. É
de admitir que teve a sua origem num movimento gradual de linhagens
carangas, no século XV, iniciado no limite setentrional do planalto, que é
hoje a parte central do Zimbabwe. Tratou-se, por conseguinte, de uma
ocupação lenta e progressiva, sob o comando de Matope, rei da etnia
shona.

110
Pouco a pouco, os Makaranga estenderam o seu território formando uma
liga ou aliança de tribos Chona, que estendia-se do Zambeze ao Limpopo e
do Deserto de Kalahari ao Oceano Indico.

Figura 15: Ruínas do Estado do Monomotapa

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Zimbabwe

Organização política e social do Estado

O estado do Monomotapa era, como dissemos, uma aliança de tribos Chona


que se agruparam sob a autoridade dum chefe da tribo Rozwi. Este reinava
como um grande senhor, tendo vários outros reis ou chefes de tribos
debaixo da sua autoridade. Estes reis eram obrigados a pagar um imposto
anual ao Monomotapa. Cada um deles vivia numa cidade de pedra,
Zimbabwe. Os reis vassalos (subordinados) tinham poder administrativo
sobre os seus reinos, mas eram obrigados a prestar contas ao senhor
máximo, ou seja, o imperador Monomotapa. Os reis também tinham
poderes de ordem política, religiosa e judicial, isto é, tinham poderes de
cobrar impostos, julgar questões e manter ordem e disciplina mas em nome
do Monomotapa. Estas eram as relações entre os reis tribais e o chefe
máximo, o Monomotapa.

111
Vemos que neste Estado o poder político e a própria organização da
sociedade torna-se mais complexa. Porquê?

Sendo o povo do Monomotapa um povo de mineiros e trabalhadores de


metais dum lado e de agricultores do outro, é natural que estas divisões de
trabalho tenham criado diferenças sociais. Enquanto os artesãos (pessoas
com arte) e mineiros faziam parte da estrutura social na vida do Império, os
agricultores mantinham na sua vida social as tradições tribais. Quando se
estudaram as ruínas do Zimbabwe, viu-se a existência de templos, de
fortalezas e várias casas de habitação. Mas nos arredores da cidade
encontravam-se palhotas tradicionais, o que nos leva a crer que existiam
diferenças sociais nítidas nas camadas da população.

Figura 16: Ruínas de madzimbabwes

Fonte: https://pt.wikipédia.org

As Ruínas do Grande Zimbabwe são os restos de uma antiga cidade do


estado de Monomotapa. Na actualidade, além de ser um instrumento
arqueológico importante, as ruínas são consideradas como santuário
nacional do actual Zimbabwe, onde foi encontrado o símbolo nacional do
país, o Pássaro de Zimbabwe. O nome de Grande Zimbabwe significa
“casas de pedra,”, mas existem três teorias sobre a origem deste nome.

112
Entre os edifícios mais importantes está um forte no extremo da colina e
um templo circular com uma torre cónica de 11 metros de altura.

Faça uma distinção entre aspectos políticos e sociais apresentados


no texto.

Actividade 16.1

Os aspectos políticos estao relacionados com a governação, a


submissao de estados satélites, a admistração do estado. Os
aspectos sociais incluem os grupos profissionais, habitação, as
distinções entre os grupos sociais. Se conseguiu fazer esta
Comentários da actividade
distinção está no caminho correcto. Parabéns! Se não onseguiu
volte a ler o texto.

Complete a sua resposta com a leitura do texto seguinte:

Assim conseguiu estabelecer-se que haveria uma vida citadina (da cidade)
para os ricos e poderosos, onde vemos a existência do senhor máximo, dos
militares que eram ao mesmo tempo funcionários do rei, dos artesãos que
trabalhavam o ouro, o ferro e o cobre nas forjas e nos fornos que pertenciam
ao senhor máximo, dos comerciantes que faziam a troca dos produtos locais
com os mercadores árabes e portugueses ambos vindos da costa, e
finalmente uma camada da população que se dedicava à agricultura e à
pastorícia, mas vivendo para além dos limites da cidade.

113
Resumo da Lição
O estado do Monomotapa foi fundado, no século XV, por um
grupo karanga dirigido por Matope. A estratificação social era
nítida nesse estado. O Monomotapa governava como um grande
senhor, submetendo os estados satélites. Tinha uma estrutura
social que reflectia as actividades desenvolvidas.

Auto-avaliação
1. Explique o processo de fundação do estado do Monomotapa.
2. Caracterize a sua estrutura social.
3. Apresente esquematicamente a hierarquia do poder político
nesse estado.

Na próxima lição vai continuar o estudo sobre o estado do Monomotapa,


falando concretamente da sua economia.

114
Lição n° 17
O Estado do Monomotapa: A economia e a cultur

Introdução
Dando continuidade ao estado de Monomotapa, vamos estudar a economia
desse estado. O nosso ponto de partida é que a agricultura, uma das suas
actividades económicas, foi o ponto de partida para a sua formação. Foi a
partir das actividades desenvolvidas, principalmente da mineração e do
comércio que esse estado manteve um poder hegemónico na região.

Os aspectos culturais desempenharam um papel importante na


manutençãodas relações de subordinação no estado. Através da criação
dum aparato cultural os dirigentes conseguiam manter os laços de
subordinação e controlar o vasto império.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Caracterizar as principais actividades económicas


praticadas no estado do Monomotapa;
 Descrever a contribuição da mineração e do comércio para
o fortalecimento do poder político do Monomotapa.
Objectivos
 Caracterizar culturalmente o estado do Monomotapa;
 Explicar a influência dos aspectos culturais na manutenção
das relações de subordinação.

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 5 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

Leia o texto seguinte:

115
Quais eram as principais actividades económicas do estado de
Monomotapa?

A economia do Monomotapa baseava-se na agricultura, praticada pelas


comunidades aldeãs e no comércio com o exterior, sob o monopólio da
aristocracia dominante. As várias minas de ouro e outros metais eram
directamente controladas pelo Monomotapa ou pelos seus funcionários que
ele enviava para as diversas regiões do Império. Todos os mercadores que
vinham comerciar nas diversas feiras que se realizavam no estado tinham
que pedir guias de passagem pelo território do Monomotapa. Todos os
mercadores do estado que levavam ouro para comerciar na costa tinham
que pagar pesados impostos sobre as mercadorias que traziam, que eram
geralmente tecidos de algodão e outros produtos de luxo, tais como
missangas, colares e outros adornos.

A criação de animais, a pesca e a caça, bem como o artesanato eram


actividades complementares da agricultura. O nível de desenvolvimento
das forcas produtivas era baixo; o principal instrumento de trabalho
agrícola era a enxada de cabo curto.

O rei era o chefe supremo de tudo que havia no reino: a terra, as plantas, os
rios e lagos, as árvores e o próprio povo. Os agricultores, os mineiros e os
trabalhadores de ferro todos trabalhavam para o rei. Ele era proprietário de
tudo.

Como se desenvolveu o comércio nesse Estado? Quais foram os resultados


da actividade comercial?

De acordo com fontes árabes da antiguidade que visitaram a costa da África


Oriental e do Sul durante os primeiros mil anos da era cristã, falam-nos de
um grande entreposto comercial, Sofala, onde os mercadores árabes iam
comerciar o ferro. Esse mesmo porto do mar, Sofala, serviu mais tarde, a
partir do século XIV, aos reis do Monomotapa para exportar os seus
produtos minerais, o ouro, o ferro e o cobre e também o marfim. Na verdade
o porto de Sofala era a porta do Monomotapa para o exterior. Esta cidade
de Sofala encontrava-se dentro do reino de Sofala, um dos vassalos de

116
Monomotapa, embora dominassem lá os mercadores árabes e tivessem um
sultão que no entanto pagava tributos de vassalagem ao Monomotapa.

Faça um texto/resumo caracterizando cada uma das actividades


económicas do estado de Monomotapa.

Actividade 17.1

Certifique se conseguiu incluir toas as actividades: agricultura,


criação de gado, mineração, comércio e como elas eram praticadas.
Volte a ler o texto par completar o ser resumo.

Comentários da actividade Como era a cultura do estado de Monomotapa?

As crenças mágico-religiosas e outros aspectos ideológicos


desempenharam um papel importante nesse estado; eram elementos de
coesão social, de manutenção da submissão e do poder da classe dirigente.

Os chefes das linhagens e os chefes territoriais imploravam aos


antepassados para si e para o povo, as chuvas, a saúde, a protecção para a
caça, viagens, etc. Os sacerdotes-chefes, que constituíam o elo de ligação
entre os antepassados e os anciãos, tinham poder ao nível político e social.
O exercício do poder e a religião estavam estreitamente ligados nessa
sociedade.

Como se explica a grande força das crenças mágico-religiosas?

As crenças na feitiçaria, a acção dos feiticeiros e dos curandeiros


exprimiam os conflitos sociais, as coerções morais e políticas e as
dependências familiares. A forma como os homens s e julgavam
relacionadas entre si e com a natureza eram explicadas com base na
feitiçaria.

A principal invocação religiosa estava ligada aos antepassados, os muzimu.


Cabia ao mambo orientar as preces aos antepassados; era também ele que

117
orientava os rituais ligados às chuvas e controlar as relações com os
antepassados. Os mambos eram considerados garantes da fertilidade e
depositários da estabilidade, bem-estar e tranquilidade.

Elabore um texto sobre as crenças e valores culturais do estado de


Monomotapa, incluindo os rituais agrícolas, o papel dos dirigentes
nas cerimónias mágico-religiosas, a feitiçaria.
Actividade 17.2

Veja se o seu texto conseguiu reunir todos estes elementos sobre


cada um dos aspectos propostos. Consulte obras complementares
indicadas na bibliografia para consolidar as suas respostas.
Comentários da actividade

Resumo da Lição
No estado do Monomotapa praticava-se a agricultura que garantia
a sobrevivência dos camponeses. A classe dirigente que cobrava
tributos aos camponeses, estava mais virada para a actividade
comercial que permitia obter bens de prestígio. Sofala foi um dos
portos principais para o escoamento dos produtos das trocas
comerciais.

As crenças mágico-religiosas funcionavam como elementos de


coesão social e contribuíam para a manutenção do poder político.
Os dirigentes desempenhavam o papel de sacerdotes que serviam
de elo de ligação entre os antepassados e a população. Esta crença
ajudava a manter os laços de subordinação e a tranquilidade
dentro do estado.

118
Auto-avaliação
1. Descreva as principais actividades económicas do estado de
Monomotapa.
2. Infira sobre a importância do comércio para esse estado.
3. Explique o papel das crenças mágico-religiosas na
manutenção do poder político.
4. Descreva uma cena de invocação de espíritos com base na
realidade actual da sociedade moçambicana.

Com esta lição terminamos o estudo do estado do Monomotapa. Ainda


nesta unidade temática vamos estudar os contactos mercantis entre a região
da costa moçambicana e comerciantes estrangeiros, bem como o impacto
do desenvolvimento desse comércio.

119
Lição n° 18
O comércio no litoral de Moçambique e o seu impacto

Introdução
O desenvolvimento da actividade comercial ao longo da costa oriental
africana, considerando os espaços que correspondem a Moçambique, foi
um aspecto marcante na história do país. Pelo acesso facilitado por via
marítima, mercadores provenientes, principalmente do Golfo Pérsico e de
outros lugares da costa oriental africana foram realizando o comércio à
longa distância.

Esse comércio provocou alterações na região, destacando-se dois aspectos


importantes: o surgimento da civilização Swahili e as transformações
ocorridas nos primeiros estados da região.

Ao completar esta lição, você deve ser capaz de:

 Caracterizar o comércio ao longo da costa oriental africana;


 Identificar os principais intervenientes desse comércio;
 Indicar os principais produtos trocados entre os mercadores
locais e estrangeiros.
Objectivos
 Caracterizar a cultura Swahili

Tempo de estudo da lição

Você vai precisar de 5 horas para completar o estudo desta lição.

Tempo

Vamos iniciar a nossa lição com uma breve reflexão sobre o comércio nos
Estados do Zimbabwe e Monomotapa. Qual foi a importância dessa
actividade para os dois estados? Que impacto teve?

Leia o texto:

120
A partir do século IX, há evidências de uma progressiva e lenta fixação de
comerciantes asiáticos ao longo da costa oriental africana, fundando
entrepostos comerciais, destacando-se o de Sofala. Os comerciantes
asiáticos trocavam tecidos indianos por ouro e outros metais. Os espólios
arqueológicos estudados, até ao presente, levam a concluir que, nessa
época, os contactos com o mundo exterior afectavam unicamente a região
aurífera planáltica entre o Limpopo e o Zambeze — e respectivas rotas
comerciais — tendo Sofala como seu principal porto marítimo.

Como se compunha o complexo comercial da região?

Este comércio era controlado por comerciantes muçulmanos que se tinham


instalado ao longo da costa, fundando cidades como Bravo, Mogadixo,
Kilwa, Mombaça.

Nos meados do século XII, comerciantes indonésios juntaram-se aos árabes


trocando produtos orientais por ouro, marfim, pele de leopardo, carcaça de
tartaruga, âmbar cinzento e alguns escravos. Comerciantes indianos e
chineses também fixaram-se nas ilhas Comores e Sofala para participar
nesse comércio.

No século XIII assistiu-se a intensificação do tráfico; comerciantes


muçulmanos de Guzarate, Coromondel, Malabar e Bengala passaram a
dominar grande parte das rotas comerciais do oceano Índico, fundando
feiras no interior que mais tarde vão servir de padrão para o comércio
português.

Kilwa, que se destacou como um grande centro de erradicação dos swahili,


no século XII, assenhorando-se do comércio marítimo e os seus
comerciantes ocuparam as ilhas Quirimbas, Moçambique, Angoche,
Sofala. Nos finais do século XV, Kilwa atingiu o apogeu comercial, nas
vésperas da chegada dos portugueses.

121
Faça um reumo sobre o comércio à longa distância, considerando
os seguintes aspectos: como era realizado, os principais
intervenientes e produtos trocados.
Actividade 18.1

Confira se conseguiu incluir os três aspectos indicados. Se não


conseguiu volte a ler o texto.

A presença asiática iniciou um processo irreversível de


Comentários da actividade transformações económicas, sociais e políticas, não só entre os
povos do litoral, como também entre as tribos que dominavam as
rotas comerciais e as longínquas regiões produtoras.

Para entender a cultura Swahili, vamos rever o conceito de Cultura.


O que significa Cultura? Escreva, um texto, de até 4 linhas, sobre
o que entende por cultura.
Actividade 18.2

Cultura pode ser definida de formas diferentes, veja se consegue


defini-la de acordo com o contexto.

Comentários da actividade

Melhore a sus definição de cultura, lendo o texto:

No período compreendido entre os séculos XII e XV formou-se nas ilhas e


ao longo da costa oriental da Áfricauma comunidade étnica, denominada
de civilização ou cultura "swahili". Esta civilização, extremamente rica e
complexa, engloba grupos étnicos articulados por uma língua e uma série
de elementos culturais que fundem as tradições africanas, o islã, a cultura
indiana, entre outras.

122
Como se forma a cultura Swahili?

A actividade comercial, as migrações por via marítima, os casamentos e


outros tipos de alianças entre os grupos locais e os comerciantes asiáticos e
islamizados deram origem a uma cultura costeira. Em Moçambique
estimularam o aparecimento de núcleos linguísticos diversos, como os
Mwani na costa de Cabo Delgado,com influência das linguas maconde e
macua; os Nahara na ilha de Moçambique e regiões litorais do continente;
os Koti de Angoche. Mais tarde formaram-se os xeicados e sultanatos como
Sancul, na baía Mokambo asul da ilha de Moçambique, entre Lumbo e
Mongicual, Sangage, no rio Metomode, Angoche, que se situava na
embocadura do rio Miluli e Quitangonha na península de Matibane, a norte
da ilha de Moçambique.

No século XII, os Swahili não constituíam uma comunidade homogénea no


plano étnico ou social. No plano étnico, sobre um fundo formado por um
população de língua bantu, acrescentavam-se elementos do interior do
continente e do exterior, tais como árabes, persas e indianos, provenientes
da costa setentrional do mar da Arábia e do oceano Indico.

No plano social, havia disparidades, na medida em que existia uma classe


dirigente isolada e distinta da massa de homens livres. A estrutura formal
da sociedade continuava fundamentada em clãs ou grupos étnicos, mas
continha elementos de diferenciação por classes. Ao lado da classe
dirigente, encontravam-se outros indivíduos que eram ricos, mas não
tinham acesso ao poder e à influência atribuída pela tradição, pois sua
riqueza se originava do comércio. Gente comum formava a massa da
população swahili. Além disso, a sociedade swahili, no início do século
XII, também incluía escravos.

A civilização swahili baseava-se em três actividades económicas


principais: a agricultura, a pesca marítima e o comércio. A agricultura era
a actividade da maior parte do povo, ao lado da pesca e da colecta de frutos
do mar constituíam as fontes essenciais de subsistência da população. A
pesca e a colecta de frutos do mar eram tão importantes quanto a
agricultura; são mencionadas pelos autores árabes, que aludem

123
frequentemente ao consumo de peixes, frutos do mar e moluscos pela
população local.

Mas o oceano não fornecia recursos apenas para a alimentação. Fontes


árabes informam-nos sobre a colecta e a venda de pérolas, conchas,
carapaças de tartarugas marinhas, âmbar. O peixe não só era consumido no
local onde era pescado como também era vendido, o que leva a supor uma
actividade pesqueira em grande escala. Sabe-se que as conchas eram
utilizadas para a manufatura de pratos, colheres e colares.

A pesca e a colecta de frutos do mar estarão estreitamente ligadas ao


desenvolvimento da navegação em suas duas formas: por um lado, na arte
da construção de navios e, por outro, no desenvolvimento das técnicas de
navegação, em particular da astronomia. Um estudo dos conhecimentos
astronómicos da época mostra, com efeito, que eles só puderam ser
desenvolvidos por meio da navegação no oceano Indico.

Qual foi o papel de Sofala para o comércio e para a cultura swahili?

124
Figura 17: Mapa de Sofala em 1574, com a presença portuguesa

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Império_Monomotapa

Fontes árabes mais antigas também citam Sofala, de onde era exportado o
ouro. Comparando-se as informações, é possível localizar esses sítios na
região de Kilwa.
O comércio parece ter alcançado o apogeu no século XIV. Os produtos de
exportação eram sobretudo o marfim e o ouro, além de escravos, presas de
rinocerontes, âmbar cinzento, pérolas, conchas e, nas regiões setentrionais,
peles de leopardo. Outra mercadoria importante, que era em parte
importada e, em parte, fabricada na região, eram os tecidos de algodão, que
representavam, aparentemente, grande volume na massa de intercâmbios.
Sabe-se que no século XV quantidades consideráveis de tecidos de algodão
chegavam a Mombaça e a Kilwa, de onde eram reexpedidas para Sofala. O
comércio marítimo que ligava a costa da África oriental e as ilhas aos países
da costa setentrional do oceano Indico favoreceu os contatos entre os

125
habitantes dessas regiões, enriquecendo-os. Existia contato entre o litoral e
os territórios auríferos do interior, próximos do lago Niassa; dali vinha o
ouro que chegava a Kilwa. A partir do século XIV, algumas regiões
auríferas de Sofala passaram para o domínio dos sultões de Kilwa, que
começaram a nomear governadores para a região.

Elabore um resumo sobre a cultura swahili, pela seguinte


sequência: formação, suas características étnico-culturais e sociais,
actividades económicas e o papel de Sofala no comércio dos
Actividade 18.3 swahilis.

Estes aspectos do resumo estão contidos no texto. Se nao


conseguiu encontrá-los faça uma nova leitura ou recorra a leituras
complementares.

Comentários da actividade A cultura pode ser definida de diversas maneiras. Conseguiu


incluir as práticas, comportamentos, valores na sua definição?

Resumo da Lição
A partir do século IX desenvolveu-se um intenso comércio ao
longo da costa oriental africana que contribuiu para
transformações de vária ordem. Comerciantes asiáticos e
islamizados foram fixando-se ao longo da costa, bem como no
interior, dando origem a novos povoamento e centros
urbanizados.

A civilizacao swahili resultou duma simbiose entre elementos


asiáticos, islamicos e locais. Ao longo de alguns pontos do litoral
forma-se formando comunidades com características peculiares,
que caracterizavam essa cultura.

126
A actividade comercial, o islão foram os principais meios de
ligação entre essas comunidades.

Para avaliar a sua aprendizagem responda às questões seguintes:

Auto-avaliação
1. Descreve o comércio ao longo da costa oriental africana.
2. Identifique os principais intervenientes e os produtos
trocados.
3. Descreva o processo de formação da cultura Swahili.
4. Caracterize economicamente essa cultura.
5. Explique o papel do Islão para a coesão da cultura Swahili.

Comentários das Auto-avaliações da unidade 4


Comentário para a auto-avaliação da lição 15:

O estado do Zimbabwe foi fundado no contexto do incremento da


actividade comercial ao longo da costa oriental africana. Para
responder a esse comércio a produção artesanal e agrícola foi
intensificada e havia mecanismos de compensação aos envolvidos
nesse comércio. A cobrança de tributos era uma das fontes de
obtenção de rendas. O estado começou a decair, possivelmente
como resultado do surgimento de novas rotas comerciais.

Comentário para a auto-avaliação da lição 16:

A fundação do estado do Monomotapa resulta dum processo de


migração de uma parte da população do estado do Zimbabwe, a
partir duma deslocação gradual. Ao nível social esta sociedade era
estratificada com os camponeses a ocupar a posição. Havia outros

127
grupos sociais como mineiros, artesãos, militares. Politicamente o
estado revelava a existência de relações de subordinação dos
estados satélites e outros grupos e territórios conquistados.

Comentário para a auto-avaliação da lição 17:

As principais actividades económicas do estado de Monomotapa


eram a agricultura, a mineração, a criação de animais e o comércio.

Pelo texto pode-se compreender que o comércio era a actividade


que permitia a classe dominante obter bens de prestígio. Esses bens
contribuíam para fortalecer o poder dos dirigentes e diferencia-los
do resto da população. A agricultura era a principal actividade de
subsistência para a população, que através dela também conseguia
pagar os tributos à classe dirigente.

As crenças mágico-religiosas eram um sustentáculo para o poder


político, pois elas colocavam os dirigentes políticos como também
dirigentes religiosos. Esse facto criava um conjunto de relações de
subordinação que permitia controlar a população.

A invocação de espíritos na sociedade actual em algumas


comunidades segue os rituais do passado que era praticado no
estado do Monomotapa. Dai ajuda-nos a compreender como era
realizada essa cerimónia.

Comentário para a auto-avaliação da lição 18:

Ao longo da costa oriental africana desenvolveu-se um comércio


intenso, a partir do século IX. Os comerciantes eram mercadores
asiáticos e islamizados que foram fixando-se ao longo da costa e
nalgumas regiões do interior, e a população local, os estados e
reinos da região. Os produtos trocados eram tecidos, missangas por
ouro, marfim e outros.

128
A cultura ou civilização swahili formou-se como resultado da
miscigenação de valores locais, asiáticos e islamismo. E nesta
cultura o comercio era uma actividade de destaque que permitia
um intercâmbio entre os centros comerciais da costa oriental
africana. Outras actividades eram a agricultua, o artesanato e a
mineração. O islão era a base cultural dessa civilização,
contribuindo para criar uma unidade entre os seus membros.

Com esta última lição terminamos a 4ª unidade temática da nossa


disciplina, a História de Moçambique até ao século XV. No
próximo ano iremos dar continuidade, de forma cronológica, o
estudo da história de Moçambique.

Resumo da Unidade
Nesta unidade temática intitulada “formação dos primeiros
estados de Moçambique e o comércio com os árabes (séc. IX a
XV)” que se subdividiu em 6 lições estudamos os estados do
Zimbabwe e do Monomotapa e o comércio ao longo da costa
oriental africana que provocou uma nova dinâmica dos estados e
também levou a formação da cultura Swahili.

Auto-avaliação da Unidade
1. Descreva a formação dos primeiros estados em
Moçambique.
2. Caracterize os estados de Zimbabwe e de Monomotapa,
económica, política, social e culturalmente.
3. Explique como se constituiu a cultura swahili e os seus
principais traços.

129
Comentários da Auto-avaliação
Os primeiros estados formaram-se a partir do desenvolvimento
da actividade agrícola, da criação de excedente de produção e da
diversificação de actividades económicas. Essa situação permitiu
a criação de grupos hegemónicos que controlavam o poder
político e militar e criaram relações de subordinação a diferentes
niveis. A população camponesa ficou submetida a um conjunto
de obrigações que mantinham e reproduziam o poder dos
dirigentes. Os estados de Zimbabwe e Monomotapa atingiram
uma complexidade de actividades económinas, com destaque
para o comérci á longa distância. Ao nível social e cultural as
relações de subordinação foram-se tornando cada vez mais
nítidas e hierarquizadas.

A cultura swahili foi um dos resultados da presença de


comerciantes asiáticos que, pouco a pouco, foram-se misturando
com a população local.

Leituras complementares
Para esta unidade leia as obras:

CHITTICK, H. Neville, The arabic sources relating to the


Muslim expansion in the western Indian Ocean. In: Quatrième
Congrès de l’Association Historique Internationale de l’Océan
Indien et du Quatorzième Colloque de la Commission Maritime
à Saint-Denis de la Réunion du 4 au 9 septembre, 1972.
Mouvements de populations dans l’Océan Indien : actes. Paris,
Librairie Honoré Champion, 1979 : 27-31.

130
BEACH, David N. A evolução das tradições da dinastia
Mutapa. Arquivo n° 16. Maputo, AHM, 1994.

LIESEGANG, Gerhard. Uma Nova História do Estado de


Mutapa. Cadernos de História n° 8. Maputo, UEM, 1990.

NEWITT, Malyn. História de Moçambique. Mira Sintra,


Publicações Europa-América, 1997.

Tome nota!
Com esta lição terminamos a unidade 4 do nosso programa e
o módulo de História de Moçambique até ao século XV. Os
temas estudados permitem também criar bases para o estudo
dos posteriores módulos de História de Moçambique.

Na preparação para o exame do módulo volte a resolver as


actividades indicadas ao longo das unidades de
aprendizagem. È importante consultar a bibliografia
complementar para consolidar a sua aprendizagem. Bom
Trabalho!

131
Referências bibliográficas
ADAMOWICZ, Leonard. “Projecto Cipriana”, 1981 – 1985:
contribuição para o conhecimento da arqueologia entre os rios Lúrio e
Ligonha, Província de Nampula. In: Trabalhos de Arqueologia e
Antropologia n° 8 (1987); UEM, Departamento de Arqueologia e
Antropologia, p. 47-144.

BEACH, David N. A evolução das tradições da dinastia Mutapa.


Arquivo n° 16. Maputo, AHM, 1994.
BOLÉO, Oliveira. Vicissitudes históricas da expansão mineira no
império Monomotapa. Studya, n° 32, 1971.
CANCELAS, Alexandre. Do povoamento de Moçambique : algumas
considerações sócio-politicas. Conferência conferida em Nampula, em
15 de Outubro de 1967, no XVIII aniversário da Associação Comercial
Agrícola e Industrial do Niassa.

CHITTICK, H. Neville, The arabic sources relating to the Muslim


expansion in the western Indian Ocean. In: Quatrième Congrès de
l’Association Historique Internationale de l’Océan Indien et du
Quatorzième Colloque de la Commission Maritime à Saint-Denis de la
Réunion du 4 au 9 septembre, 1972. Mouvements de populations dans
l’Océan Indien : actes. Paris, Librairie Honoré Champion, 1979 : 27-31.

CHITTICK, H. Neville, The East Africa and the Orient: Ports and trade
before the arrival of the Portuguese. In UNESCO, Historical relations
across the Indian Ocean: reports and papers of the meeting of experts
organized by UNESCO at Port Louis, from 15 to 19 July 1974, Paris,
UNESCO, 1980: 13-22.

CRUZ, Pe. D. Da. Em terras de Gaza. Da Associação Missionária


Portuguesa e ex-missionária de Xai-Xai. Biblioteca Geográfica
Colonial, Porto, 1910.

132
DUARTE, Ricardo Teixeira. A Expansão Bantu e o Povoamento do Sul
de Moçambique - algumas hipóteses. Maputo, 1976.
DUARTE, Ricardo Teixeira. Arqueologia da idade do ferro em
Moçambique. Trabalhos de Arqueologia e Antropologia, n°5, 1988.
FINS DE LAGO, História 1º Ano Pré- História Antiguidade Oriental e
Clássica, Porto Editora, Porto, 1974.

KI-ZERBO, J. (coord). História Geral de África. Vol.1. S. Paulo, Ática,


París, Unesco, 1982.
LIESEGANG, Gerhard. Uma Nova História do Estado de Mutapa.
Cadernos de História n° 8. Maputo, UEM, 1990.
MAGGS, Tim. The Iron Age South of Zambezi. In: Richard G. Glein
(edr.), Southern Africa prehistory and paleo-environment. Rotterdan,
Balkema, 1984.
MARTINS, Almeida. O antigo Zimbabwe e as minas do rei Salomão.
História. n° 11, 1979.
MORAIS, João Manuel e FERRÃO, Lívia. Contribuição para uma
bibliografia sobre arqueologia e pré-história de Moçambique de 0 a
1500. Maputo, Universidade Eduardo Mondlane. IICM, 1978.
MORAIS, João. Tentativa de definição de algumas formações
socioeconómicas em Moçambique de 0 a 1500. UEM, FL, IICM –
Centro de Estudos Africanos, 1978.
NEWITT, Malyn. História de Moçambique. Mira Sintra, Publicações
Europa-América, 1997.
MUIANGA, Eceu da Novidade Angelica. História Social e Cultural
Geral e de Moçambique. ( Dos Primórdios à Actualidade). Sebenta. Xai-
Xai. 2010.

NGUNGA, Armindo, Introdução à Linguística Bantu. Impressa


Universitária, Maputo, 2004.

NIANE, DjibrilTamsir. Relações e intercâmbios entre as várias regiões.


In: D. T. Diane (Coord.); História Geral de África, vol. 4. São Paulo,
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OBENGA, Théophile (dir). Les peuples bantous, migrations, expansion
et identité culturelle. ActesduColloque International. Libreville,1989.
OLIVER, Roland. The problem of Bantu expansion.Journal of African
History. Vol. VII, n° 3
OLIVEIRA, Octávio Rozade. Gravuras e Pinturas Rupestres de
Moçambique (pré-história de Moçambique), [Moçambique]: [s.n., s.d.].
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InMokhtar (coord.). História Geral de África. Vol.2. S. Paulo, Ática,
Paris, Unesco, 1983. PORTÉRES, R. e BARRAU, J. Origens,
Desenvolvimento, Expansão das técnicas agrícolas. In: J. KI-ZERBO,
(coord). História Geral de África. Vol.1. São Paulo, Ática, Paris,
Unesco, 1982.
PIGGOT, Stuart, A Europa Antiga. Do início da Agricultura à
Antiguidade Clássica. Edição Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,
1959.

RITA-FERREIRA, António. Povos de Moçambique - história e cultura.


Porto, Afrontamento, 1975.
RITA-FERREIRA, António. Bibliografia etnológica de Moçambique
(das origens a 1954), Lisboa, JICU, 1982.
RITA-FERREIRA, António. Fixação Portuguesa e História pré-
colonial de Moçambique. Lisboa, Instituto de Investigação Científica
Tropical, Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1982.
SERRA, Carlos (coord.). História de Moçambique, Vols. I – III .
Maputo, UEM, 2000.

134

Você também pode gostar