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Índice

O Estado Muenemutapa .............................................................................................................. 3


Origem ........................................................................................................................................ 3
Processo da Formacão................................................................................................................. 3
Organização Socio-politica do Imperio ...................................................................................... 3
Estrutura Política e Social do Estado .......................................................................................... 4
Aparato Ideologico do Estado. .................................................................................................... 5
Economia do Imperio Muenemutapa .......................................................................................... 6
Relações Sócio-econômicas Entre os Muchas e a Classe Dominante Shona ............................. 6
Causas da Sua Decadência .......................................................................................................... 7
Estado Marave ............................................................................................................................ 8
Processo da Formação do Estado Marave .................................................................................. 9
Organização politica e administrativa ......................................................................................... 9
Actividade económica e fontes de rendimento ......................................................................... 10
Articulação aristocracia/comunidade (rendas e tributos de Vassalagem) ................................. 10
Actividades produtivas.............................................................................................................. 11
Ideologia do Estado................................................................................................................... 12
O Papel do Capital Mercantil ................................................................................................... 13
Resumidamente as Causas da Decadência do Estado Marave São: ......................................... 14
Conclusão.................................................................................................................................. 16
Bibliografia ............................................................................................................................... 17
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O Estado Muenemutapa
Origem
O Estado Mwenemutapa nasceu do deslocamento de parte da população do grande Zimbabué
para o vale do Zambeze, sob a direcção do clã Rozwi. Da desintegração do grande Zimbabué
nascem dois Estados;

 A população que ficou na região do grande Zimbabwe Estado do Zimbabué sob a


direcção do clã Torwa, formou o Estado de Torwa, com capital em Khami:

 A população que se deslocou para a região do vale do Zimbabwe, sob a direcção do clã
Rozwi, chefiado por Mutota, formou o Estado do Mwenemutapa, por volta de 1450, com
capital em DANDE ou Zuangombe, localizada entre os rios Mazoe e luia.
O Estado dos Mwenemutapas nasceu da desintegração do Estado do Zimbabué, por volta de
1450. Os mwenemutapas (Mutota e mais tarde Matope), organizaram um imenso território, cujos
limites se estendiam do grosso modo do Zambeze ao limpopo e do Oceano Indico ao deserto do
Kalahari.
Foram varias as razões que levaram o Nyantsimba Mutota a transferir o seu Estado, do
Zimbabwe para o vale do Zambeze como:
 Os conflitos frequentes entre os chefes dos Clãs Rozwi e Toswa devido ao controlo do
comércio na costa;
 A procura de terras ferteis para a agricultura;
 O aumento da População numa região pouco fertel; e
 A necessidade de trocas comerciais com os Arabes no vale do Zambeze.
Processo da Formacão
O processo da formacção do Estado Muenemutapa baseou-se nas violentas campanhas militares,
tendo conquistado e submetido maior parte das populações dos pequenos reinos anteriormente
existentes no vale do zambeze. Assim tornou-se o Chefe dos Muenemutapa.

Organização Socio-politica do Imperio


Com a morte de Mutota, sucedeu o seu Filho Matope, quem tornou o Estado cada vez mais
amplo, conquistando e submetendo em Estados vassalos como: Barue, Manica, Sedanda,
Quissanga, Quiteve, Maungwe, entre outros inferiores.
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Os seus chefes pagavam tributos ao Muenemutapa reinante e quando subiam ao poder eram
confirmados por este.
Estrutura Política e Social do Estado
O Estado Muenemutapa estava muito bem organizado. O poder central era circundada por uma
cintura de estados vassalos ou satélites, entre os quais se encontravam Sedanda, Quissanga,
Quiteve, Manica, Barué, Maungue, além de outros.
As classes dominantes desses estados, constituídas por parentes dos Mwenemutapa e por estes
nomeados, tinham a tendência a rebelar-se quando o puder central enfraquecia.
De acordo com a sua estrutura política, o Estado Muenemutapa estava organizado da seguinte
maneira:
O Muenemutapa – era o chefe supremo do Estado com poderes absolutos e tudo lhe pertencia.
Na direcção do Estado era auxiliado, por nove (9) altos funcionários – os Conselheiros, dentro
destes havia um chefe religioso, um chefe de justiça, um chefe do exército, um curandeiro e
pelas suas três esposas.
Mambo – dirigia um conjunto de chefacturas situadas numa mesma região, este era o chefe
maximo depois do Muenemutapa.
Este é que personificava o Estado, tornando-se assim o representante supremo de todas as
comunidades e simbolo da unidade de interesses dessas comunidades.
O Mambo Cometia sempre o Incesto no momento da sua intronização, com uma parente
proxima, infringindo desse modo o mais absoluto interdito, afim de quebrar todas as ligações
com a sua linhagem, para se tornar representante de toda a sociedade e independente as
rivalidaddes famliares.
Fumos – dirigia um conjunto de aldeias que formavam uma chefatura.
Muenemucha – era o chefe da aldeã.
As linhagens – a sociedade produtora, composta por grupos de pessoas descendentes do mesmo
antepassado comum.
Figura 01: Esquema da estrutura político-administrativa dos Estado Muenemutapa

Mwenemutapa
– Chefe Supremo
Mazarira, Inhaahanda e - As três principais Mulheres do soberano, com funções importantes
Nambuzia
na administração
Nove altos funcionários
- Responsáveis pela defesa, comércio, festas, relações externas, etc.
Mambos
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– chefes dos reinos conquistados


– chefes provinciais
Fumos ou Encosses
– chefes das mushas (comunidades aldeãs)
Mukuru ou Mwenemusha

Linhagem – unidade produtiva base, por parentes consanguíneos

O Muenemutapa conseguiu controlar o seu vasto imperio tambem com ajuda das suas três
mulheres principais e outros funcionários subalternos, como Mutunes que eram os mensageiros e
os Infices eram os Swikires que contavam a historia do imperio e memorizavam os
acontecimentos relativos a história familiar dos chefes e suas sucesões , estes apoiavam-se ao
poder do Muenemutapa através da Superstição, pois a população acreditava que eles eram
capazes de falar com os espiritos dos antipassados e eram responsaveis do culto dos
antipassados.
Aparato Ideologico do Estado.
A religião foi um factor integrador fundamental do sistema politico Shona propietario do
“saber”, garante da fecundidade da terra e depositários da ordem do mundo e os mwenemutapas
constituíam os antídotos mais eficazes contra o caos.
Um culto forte entre os Shonas, era o dedicado aos espíritos dos antepassados, os MUZIMU, que
comportaria os antepassados de cada um, bem como os antepassados de cada linhagem. Entre os
MUZIMU, os mais representados e temidos, eram o dos reis.
O Muenemutapa para avaliar a sua autoridade no imperio, realizava também uma cerimônia de
fogo, que consistia anualmente em enviar emissarios para acender o fogo nas muchas e em troca
pagavam um tributo. Com isso o Muenemutapa tornava-se mais respeitado, bem como a propria
classe dominante e, a comunidade shona acreditava que o Muenemutapa tinha um poder
sobrenatural.
O culto dos antipassados era uma das cerimonias mais importantes no estado Muenemutapa pois:
 garantia o reforço do poder politico da aristocracia;
 reforço da coesão social das massas entre si, bem como destas com a aristocracia;
 servia ainda para invocar a chuvas, bem como de intermediário entre os vivos e os
mortos; e
 com a morte do Muenemutapa, o poder era exercido por um individuo chamado Nevinga,
que era imediatamente executado após a eleição e sucessão do novo Muenemutapa; esta
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pratica levou a crise do próprio Nevinga, onde os posiveis a eleição passaram a não
aceitar este cargo.
Ainda a nivel ideologico traduzia-se dentro do Estado uma relação de dominação e subordinação
porque além da renda em trabalho que as muchas faziam para a classe dominante, havia um
tributo, que não correspondia propriamente a uma renda em género.
Haviam dois termos para designar Deus: Mulugo- ao longo do Zambeze e a nordeste do planalto
Zimbabweano e Mwari- no Sul do planalto.
Muzime, entre os Shonas eram os espíritos dos antepassados.
Pondoros eram especialistas através dos quais os Mwenemutapas contactavam os seus
antepassados.
Economia do Imperio Muenemutapa
A agricultura e a criação de gado eram as actividades mais dominantes no imperio, fora destas
praticavam em menor escala a pesca, artesanato, mineração e a caca. Mas é de frisar que a base
do seu comercio era o Ouro, razão pela qual estuda-se primeiro o Estado Muenemutapa antes do
Marave apesar de ter sido o Estado Marave o primeiro a se formar antes deste, trata-se duma
questão de ordem dos ciclos de comercio em Moçambique, pois o ciclo de ouro representa o
primeiro ciclo de comércio em Moçambique, seguido do ciclo de marfim, escravos e das
oleoginosas respectivamente.
Relações Sócio-econômicas Entre os Muchas e a Classe Dominante Shona
A sociedade shona estava dividida em dois níveis sócio-económicos distintos: a comunidade
aldeã (musha ou incube) e a aristocracia dominante.
A articulação entre a aristocracia dominante e as comunidades aldeãs encerrava relações de
exploração do homem pelo homem, materializadas pelas obrigações e direitos que cada uma das
partes tinha para com outra.
As comunidades aldeãs (mushas), sob a direcção dos mwenemushas garantiam com o seu
trabalho e manutenção e a reprodução da aristocracia, e esta concorria para o equilíbrio e
reprodução social de toda a sociedade shona com o desenvolvimento de inúmeras actividades
não directamente produtivas.
a) Obrigações dos Mushas:
Impostos em Trabalho:
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 Mineração do ouro quer para alimentar o comércio à longa distancia quer para a
importação de produtos que na sociedade Shona ascendiam á categoria de bens de
prestígio (os jazigos auríferos situavam-se essencialmente, nas terras planálticas-
Chidima, Dande, Butua e Manica);
 Prestação de alguns dias de trabalho nas propriedades dos chefes (Zunde);
 Construção de casas para membros das classes dominantes;
 Transporte de mercadorias de e para os estabelecimentos comerciais.
Impostos em Géneros:
 Primícia das colheitas (tributo simbólico) e uma parte da produção (tributo regular):
 Marfim, peles e penas de alguns animais e aves respectivamente;
 Materiais para a construção da classe dominante: pedras, palhas, etc.
b) Obrigações da Classe Dominante:
 orientar as cerimoniar de invocações das chuvas;
 garantir a segurança das pessoas e dos seus bens;
 assegurar a estabilidade politica e militar no território;
 servir de intermediário magico-religiosas contra as cheias, epidemias, calamidades
naturais, etc.
A base económica e riqueza do Estado situava-se sobretudo na agricultura,na pastorícias, no
comercio, mineracao tributos, taxas, presentes e na manufacturar de industrias de pequena escala.
Causas da Sua Decadência
A decadência do imperio Muenemutapa iniciou por volta de 1480, após a morte de Matope
devido a vários factores dos quais se destacam:
 Lutas pelo controlo do comércio;
 A fixação de mercadores portugueses na costa moçambicano a partir de 1505, com a
ocupação de Sofala, introduziu profundas transformações na estrutura socio-política e
económica da sociedade Shona, contribuindo para a decadência do Estado
Mwenemutapas;
 As lutas pela independência dos mambos sobre influência dos árabes favoráveis a tais
independências uma vez que elas obteria vantagens no comércio do ouro como território
do império;
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 Traições por certos Mwenemutapas, especificamente o acordo do Mavura com os


portugueses;
 A invasão dos povos nguni provenientes da Zululandia, liderados por Zuangendaba e
Mzilikatzi;
 A intervenção dos portugueses nos assuntos internos do estado e a intensa cristianização
prosseguida pelos missionarmos;
 O desenvolvimento dos prazos no Vale do Zambeze.
Essas lutas, invasões e traições conduziriam a um enfraquecimento do império, situação que
favoreceu a sua dominação pelos portugueses no discurso do sec. XVII .

Estado Marave
A arqueologia moderna sugere que este Estado foi formado entre os anos 1200 a 1400 n.e, onde
o mesmo formou-se com a chegada no Malawi de emigrantes oriundos da região de Luba-
Congo, liderados pelo clã Phiri que se estabeleceram nos rios Chiri e Luangua, tendo avançado
mais nos anos seguintes ao longo do rio Zambeze até a costa.
Julga-se que os Karonga encontraram na região, entre outros, membros do clã Banda que
conseguiram integrar na sua organização social e religiosa, quer fazendo alianças matrimoniais,
quer reservando-lhes as funções rituais típicas dos donos da terra: fertilidade do solo e invocação
da chuva.
As tradições não se referem a uma conquista violenta. Segundo elas, os recém-chegados
adoptaram como estratégia de dominação o controlo sobre a esfera ideológica. Promovendo
casamentos entre os chefes phiri e as mulheres médiuns locais, foram capazes de controlar
gradualmente os santuários, introduzindo os espíritos dos seus antepassados, bem como o meio
de produção principal: a terra.
Os Karonga casavam-se obrigatoriamente com uma mulher do clã Banda a quem era atribuído o
título de Mwali. Deste modo, aos Phiri estava-lhes reservada a direcção política e militar e aos
Banda, funções rituais relacionadas com a terra, a fertilidade do solo e a inovação da chuva.
Mas a entrada deste clã fez emergir conflitos no seio da linhagem dominante tendo culminado
com a formação de quatro estados satélites: Undi, Biwi, Lundu e Kapwiti.
Alguns dos factores que estiveram associados a esta divisão são:
 A luta de clã pela sucessão do poder;
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 A necessidade de liderança no comercio com os Árabes;


 A necessidade de terras férteis para a agricultura.
Em Moçambique, o Undi, chefe phiri, fixou-se primeiramente na actual província de Tete, entre
os rios Luia e Kapoche. Kapwiti e Lundu dominavam a zona do Morrumbala e de Milange.
Caronga dominavam aparte actual da província do Niassa.

Processo da Formação do Estado Marave


Durante a migração destes povos, com auxilio das manifestações ideologicas, ocuparam um
territorio composto por estados satélites: Undi, Lundu, Kapwiti, Bewi e outros. Este territorio
passou a se designar de Marave – um novo grupo de estilo cerâmico a norte do rio Zambeze, a
chamada tradição Lundu.
A expressão Marave foi usada por Rita Fereira, para designar um conjunto de tribos formados
pela dinastia Phiri existente naquele local.

Organização politica e administrativa


O poder era hereditário e a sucessão ao trono era matrilinear, isto é, passava de tio para sobrinho,
filho da irmã do irmão.
No entanto, as guerras de sucessão eram mais significativas do que a própria tradição, na medida
em que, muitas vezes, eram elas que confirmavam o novo chefe.
O chefe da nação tinha como título o nome do fundador da dinastia ou ramo que dominava. No
caso Undi, ele, como chefe da nação, era o dono do solo, subsolo, fauna, rios e de tudo quanto lá
existisse. Era ele o guia e o responsável pelo destino do seu povo.
O aparelho do estado Marave era complexo, sendo que no topo encotrava-se o Undi – que
assumia como chefe supremo; a seguir os restantes como:
Mambos – chefes provinciais, compostas por um vasto território;
Mwini Dzico – chefe territorial;
Mwini Mudzi – chefe da aldeia;
Mbil ou Ambil – conselheira;
Mensageiros – era o corpo de funcionários menores;
Guarda do chefe.
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UNDI

MAMBO-chefe
Provincial

MWINI-DZIKO-chefe
Territorial

FUMU ou MWINI MUDZI-chefe da


aldeia

Todos os dirigentes do estado faziam parte da família original Phiri, isto é ligados por laços de
parentesco.
Actividade económica e fontes de rendimento
Segundos fontes do século XIX, afirmam que a agricultura era a actividade mais dominante
dentro do estado, onde era cultivada, a mapira, mexoeira, feijão e outras leguminosas no vale do
rio Chiri.
Para alem da agricultura produziam e comercializavam enxadas de ferro em grande escala;
existia ainda uma produção de tecidos de algodão que era usada para troca chamada Machira nas
regiões de Luangua e Rovuma.
A caça ao elefante, a mineração do ouro e o artesanato eram actividades que jogavam um papel
muito importante, como actividades complementares da agricultura
Com a entrada dos Portugueses no norte de Moçambique, intesifica-se o comercio de marfim,
tornando-se assim a base do comercio do Estado e automaticamente a princiapal fonte de
rendimento.
Segundo Newit, o comércio do marfim não foi o aspecto central na história de Marave, não foi o
seu elemento desestabilizador, nem a forma dominante de actividade económica e, por isso, não
foi importante para a riqueza e poder dos chefes. Defende que o impacto do comércio não foi tão
grande porque aconteceu à margem dos interesses dos chefes e dos povos.
A criação do gado era outra componente na vida económica, sobretudo de bovinos, caprinos e
ovinos.
Articulação aristocracia/comunidade (rendas e tributos de Vassalagem)
Nos Estados Marave, assim como acontecia nos outros Estados, as “classe dominante” recebiam
tributos regulares e tributos rituais.
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No Estado Undi, a classe dominante recebia como tributos regulares: “marfim, tabaco, géneros
alimentares, partes de animais caçados pelos súbditos, utensílios de ferro, cestos, esteiras e
panos. Para além de que os súbditos tinham que: trabalhar regularmente (7 dias ao mês) nas
terras dos chefes, construir as casas e assegurar a manutenção da capital.
Como tributos rituais, os chefes recebiam as primícias das colheitas e taxas devidas ao facto de
os chefes orientarem cerimónias rituais, recebiam ainda, taxas pela resolução de disputas e taxas
de trânsito pelo território.
Além da renda, existia um tributo que não correspondia propriamente a uma renda em géneros,
era essencialmente simbólica e traduzia uma relação de subordinação a nível ideológico.
No Undi, o rei era considerado guardião dos produtos das parcelas que os seus súbditos eram
obrigados a cultivar munda ya chiweta.
Com os produtos dos tributos, o Undi sustentavam os visitantes e litigantes, entretinha jogos e
danças e socorriam os necessitados. Por outro lado, parte do sobreproduto era comutado por
mercadorias (panos e missangas) trazidas pelos Swahili-Árabe ou adquiridas na costa.
Uma vez dentro do território, essas mercadorias deixavam de circular pelos canais mercantes e
ascendiam ao cargo de bens de prestígio, sendo a sua ulterior circulação condicionada pelas
regras de parentesco e do puder. Muitas das riquezas eram distribuídas, para assegurar lealdade
política e a posição de líder.

Actividades produtivas
Os testemunhos escritos sobre a actividade produtiva Marave antes do século XIX são muitos
escassos. Mas, estudos feitos com base em dados colhidos em documentos desse século, indicam
que os povos viviam basicamente da agricultura, sendo a mapira o cereal mais cultivado por
eles.
Nas terras altas, a partir do século XVII ou XVIII começaram a cultivar o milho. Os Marave
também cultivavam a mexoeira, o feijão jugo e outras leguminosas.
A agricultura era bastante intensiva nos vales dos rios como o do Chire, e mais itinerante sobre
queimadas nas zonas altas, sendo a enxada de ferro de cabo curto1, o único instrumento de
trabalho utilizado.
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Mesmo se desconhecendo a altura em que os Marave começaram a fabricar as enxadas de ferro


de cabo curto, sabe-se que os Marave produziam e exportavam em grande escala este
instrumento pelo porto de Quelimane, trocando-no por tecidos e missangas Indianos.
Eles, também produziam e exportavam o sal, que era comercializado com os povos Yao e Bisa
nos séculos XVIII e XIX
Por outro lado havia uma produção considerável de “Machira”. Eram tão elevadas as quantidades
e a qualidade de Machiras que estas puderam resistir a competição dos tecidos de origem Indiana
que provocaram com frequência pânico na coroa Portuguesa, que auferia muitos lucros dos
direitos aduaneiros cobrados pela entrada dos tecidos da Índia.
Nos vales do Chire e Zambeze, desenvolveram-se zonas nas quais as machiras eram produzidas
para venda e ou entrega como tributo aos senhores. Isto prova ou leva-nos a crer que a fiação do
algodão e a tecelagem já eram praticados nos estados Marave e tinham grande importância na
economia destes Estados.
As classes dominantes dependiam para a sua reprodução de duas fontes:
i. Dos diversos tributos cobrados internamente;
ii. Do comércio a longa distância, especialmente o comércio do marfim, o qual representava
para os soberanos Marave o mesmo que o ouro para soberanos Karonga-Chona.
De referir que o comércio de marfim foi de extrema importância para a economia da classe
dominante Marave, acredita-se que este foi uma das fortíssimas razões para a anterior
desintegração do Estado resultante no surgimento dos estados satélite e posteriormente foi
também uma das principais causas para a decadência destes Estados.

Ideologia do Estado
Quando os Phiri chegaram na região compreendida entre os rios Chire e Luangua as populações
que aí viviam sob a liderança de vários clãs, como os Banda praticavam em santuários alguns
cultos ligados a fertilidade da terra, a invocação da chuva e ao controle das cheias e outros.
Esses cultos eram dedicados ora a entidades supremas como o culto de Muári (ou Muáli) ou o
culto Cheua de Chissunpi, ora à veneração de espíritos naturais.
Estes cultos dedicados a entidades supremas eram para os Marave os mais fundamentais. Os
mais importantes desses cultos possuíam oficiantes ( geralmente mulheres) conhecidas por
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Sarima.. A título de exemplo tomamos o caso da Mulher Espírita do culto de Muáli ou do culto
de Makewana ( este último praticado no estado dos Undi).
Se a fixação dos Phiri não foi aparentemente violenta (de tipo militar), foi no entanto seguida de
absorção gradual dos cultos nativos. No caso do Estado dos Carongas, o Clã local Banda foi
mantido e o Karonga devia obrigatoriamente casar-se com a Muáli saída do clã Banda. Para além
de que a mulher espírita do culto Muáli, foi tornada mulher perpétua dos Caronga ao mesmo
tempo que as oficiantes do culto eram substituídas por médiuns masculinos.
No estado dos Undi, oficiantes nomeados pelos Phiri foram colocados junto da oficiante
mediúnica no culto de Makewana ligado ao Clã local. Com isto surgiu uma nova categoria de
espíritos dos antepassados dinásticos Phiri que passaram a ser venerados não apenas como
espíritos, mas igualmente como espíritos territoriais.
No estado de Lundu o culto de M´bona sofreu o mesmo tipo de transformação, passando a estar
mais associado ao culto dos antepassados Phiri Lundu. A mulher espírita principiou a ser dada
pelo Lundu ao espírito M’bona.
O gradual domínio dos territórios através da absorção e adaptação da ideologia local, foi
acompanhado pela prática de casamentos com mulheres de clãs nativos.

O Papel do Capital Mercantil


A actuação do capital mercantil nos Estados Marave, desempenhou um papel que concorreu,
numa primeira fase, para o reforço do poder económico dos chefes e, numa segunda, foi
parcialmente responsável pela instabilidade político-militar e económica.
São exemplos os conflitos que se registaram entre o Karonga e o Lundu, durante o terceiro
quartel do século XVI.
Os Lundu, ocupando uma posição entre o Karonga e a costa, promoveram acções visando o
bloqueio dos contactos comerciais entre o Karonga e os Portugueses. As contradições entre os
dois Estados atingiram níveis que impuseram uma solução militar.
Sob pressão do Karonga, os Lundu viram-se obrigados a encetar um processo de expansão e
conquista que culminou com o controlo temporário das principais rotas do marfim na costa norte
de Moçambique. Essa expansão entrou na história com a designação de expansão Nyanja ou
Zimba.
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Há evidências de que já antes da chegada dos Phiri havia um comércio regular entre os povos
locais e os Swahili-Árabes que penetravam no vale do Zambeze e chegavam até ao Chire.
Os Phiri passaram a monopolizar esse intercâmbio. Já se aventou que a expansão Zimba do
século XVI provavelmente teve origem nas lutas inter-Phiri para assegurar o controlo completo
do comércio do marfim e a interferência crescente dos chamados prazeiros na vida do Estado
Marave.
O declínio das rotas comerciais Marave que iam até a costa, substituídas desde os finais do
século XVI por duas novas rotas controladas por mercadores Ajaua, parece ter constituído um
dos factores que minou o poder da dinastia Phiri, juntamente com dissensões e uma
fragmentação linhageira intensa.
Essa decadência foi intensificada com a penetração de mercadores no fim do século XVIII.
Gonçalo Caetano Pereira (fundador do Estado dos Macanga) e fundador da dinastia prazeira do
Caetano Pereira, chegou a casar-se com uma filha do Undi reinante e começou a sua vida como
prospector de ouro na mina de Bava, utilizando mulheres escravas. O Estado Macanga acabou
por se assenhorear de muitas províncias do Estado de Undi.
Há que ter em conta ainda, o aparecimento dos Nguni oriundos do M´fecane2, como uma das
causas da decadência dos Estados Marave. Estes apareceram no estado de Undi em 1835 tendo
atravessado Zambeze entre Chicoa e Zumbo liderados por Zwanguedaba Jere.
Outro factor de decadência do Estado Marave foi a penetração mercantil Portuguesa no vale do
Zambeze a partir de 1530 e o bloqueio feito a penetração Árabe-Swahili.

Resumidamente as Causas da Decadência do Estado Marave São:


 Conflitos no seio das classes dominantes Marave que aceleram a desintegração das
linhagens dirigentes;
 Influência crescente dos ajauas no comércio do marfim. O marfim era, para os Marave, a
principal mercadoria com a qual participavam no comércio à longa distância;
 A penetração do capital mercantil na esfera política dos Estados Marave, como o caso do
Gonçalo Caetano Pereira, fundador do Estado de Macanga (Caetano Pereira, prospector
de ouro e mercador, depois de casar com uma filha do Undi, recebeu do sogro terras que
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serviram de base para a promoção de acções de conquista, em detrimento do Estado


Undi, que culminaram com a estruturação do Estado militar da Macanga).
 A penetração mercantil portuguesa no vale do Zambeze a partir de 1530 e o consequente
bloqueio à actividade árabe-persa;
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Conclusão
Feito o trabalho sobre a penetração mercantil Monomutapa e marave, chegamos a concluir que
as sociedades Moçambicanas estabeleceram relações comerciais com estrangeiros de origem
asiática e europeia. Isso a partir dos retratos de Buzurg Ibn Shahriyar (marinheiro persa) e de Al
Masudi (viajante árabe) que dão provas de que pelo menos já no século X n.e., existiram relações
comerciais de asiáticos com o Zanj.(negros). Concluímos também que a formação dos estados de
Zimbabwe, Mwenemutapa e Marave dependeu da decadência de estados anteriores e
sucessivamente. Neste caso, o fim de um estado resultava início ou formação de outro estado.
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Bibliografia
PEREIRA, José Luís, Manual de História 12ª classe (edição revista e aumentada). Colégio
Kitabo. Maputo. 2005
SERRA, Carlos. História de Moçambique. Livraria universitária, Maputo, 2000
http:// www.stop.co.mz/mocambique/historia6.php consultado em 18 de Marco de 2018

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