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Faculdade de Ética e Ciências Humanas

Curso: Licenciatura em Saúde Pública

Disciplina: Ética e Deontologia Profissional

Tema: A Pessoa Humana e a Sua Dimensão Transcendente

Discente: Filomena Zimba

Docente: Msc. Clotilde Mandlate

Maputo, Maio de 2022


Índice

1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................1

2. DISCUSSÃO CONCEPTUAL...........................................................................................2

2.1. Conceituação geral da noção de pessoa humana.........................................................2

2.1.1. Conceito da Pessoa em diferentes épocas.................................................................4

2.1.1.1. Conceito da Pessoa na vertente clássica.................................................................4

2.1.1.2. Conceito da Pessoa na vertente moderna e contemporânea...................................4

3. A PESSOA E A SUA DIMENSÃO TRANSCENDENTE....................................................6

4. CONCLUSÃO........................................................................................................................9

5. Referências Bibliográficas....................................................................................................10
1

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho versa em torno da pessoa humana e a sua dimensão transcendental. O


trabalho apresenta uma dada importância na medida em que o estudo da dimensão
transcendental do ser humano marcou o decorrer da história da filosofia e da teologia do
ocidente. O transcendente no ser humano caracteriza-se por uma trajetória, que se inicia desde
o alvorecer do conhecimento sobre a existência humana até as buscas mais profundas do
sentido da existência no mundo. As perguntas transcendentais tentam formular, dentro ou fora
razão, respostas que dão fundamentos para o desejo de superação da pessoa, construindo
assim, no chão da existência finita, formulações explicativas para seu desejo de infinito.

O ser humano não se contenta com o limite do tempo, do espaço e do puramente empírico; ele
sempre deseja se lançar para além de tudo isso que acontece no solo da pura realidade física.
Dessa forma, o transcendente é a dimensão humana que coloca numa eterna busca e a
projecta na sua dimensão espiritual e divina.

O trabalho tem como objectivo geral: Analisar a concepção da pessoa humana e a sua
dimensão transcendente e específicos visam: Contextualizar o quadro conceitual da Pessoa
Humana e Dimensão Transcendente; Clarificar a concepção do homem em diferentes
períodos filosóficos e históricos e Identificar a dimensão transcendente e a compreensão
antropológica do homem.

Como metodologia a pesquisa será aplicada porque emprega um referencial teórico sobre
determinado tema para a discussão de um problema e propondo sugestões de melhorias .
Quanto aos procedimentos técnicos foi utilizada a pesquisa bibliográfica, porque qualquer
trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador
conhecer o que já se estudou sobre o assunto, embora existem, porém, pesquisas científicas
que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas
publicadas com objectivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o
problema a respeito do qual se procura a resposta. Em relação aos instrumento e técnicas de
colecta de dados, recorreu-se a pesquisa bibliográfica e pesquisa documental.
2

2. DISCUSSÃO CONCEPTUAL

2.1. Conceituação geral da noção de pessoa humana


A origem do termo pessoa é uma questão difícil de ser respondida com precisão. Há extensas
referências sobre o tema, no entanto, não se encontrou uma resposta definitiva para a questão.
Lombo (2001), seguindo os trabalhos de M. Nédoncelle, apresenta duas explicações distintas
para os termos prósopon, de origem grega, e persona, de origem latina, que comumente são
apresentados como origem do termo pessoa. Os dois termos seguiram caminhos
independentes até sua fixação conceitual de modo que devemos fazer uma distinção entre a
história do termo e a história do conceito.
O termo grego prósopon significa “cara” ou “aspecto”, “aquilo que aparece ou se manifesta”.
Homero teria sido o primeiro autor a utilizar esse termo que foi traduzido por “rosto”,
“aspecto” ou “figura de homem”. Mais tarde, prósopon adquiriu o sentido de “máscara”, por
motivos religiosos em que se usava tal adorno nos ritos dionisíacos. Posteriormente, o termo
foi ampliado para se referir também às representações teatrais profanas, não se restringindo
apenas a um âmbito religioso. A etimologia oferecida por Boécio e defendida por M. Müller,
no final do século XIX, refere-se às máscaras como meio para se ampliar a voz, porém, não
há qualquer documento que comprove essa tese. Não se pode descartar que as máscaras
pudessem ser usadas para essa finalidade, ainda que seus primeiros modelos parecem não
permitir tal uso por causa de sua estrutura1.

O termo prósopon, utilizado no sentido teatral, possui duas implicações: a primeira é de que a
máscara permite uma fixação da personagem encerrando-a num papel; a segunda é que a
máscara individualiza a personagem, dando-lhe um caráter distinto dos outros, ainda que
tipificado. Portanto, a máscara permitia uma individualização da personagem, sendo ela
alguém em si mesma.

Progressivamente, a personagem expressa pela máscara, que representava um papel


interpretado pelo ator, passou a ser considerada como apenas o ator em si mesmo. Dessa
forma, o significado de prósopon foi adquirindo, por assim dizer, três fases distintas: a de
máscara, papel e actor. Nessa evolução, podemos notar uma passagem do âmbito do teatro
para o âmbito da própria vida. A terceira fase do termo se alcançará com Polibio, no século II
1
LOMBO. José Angel. La persona en Tomás de Aquino: un estúdio histórico y sistemático. 414 f. Tese
(Doutorado em Filosofia). Facultas Philosophiae, Pontificia Universitas Sanctae Crucis, Roma, 2001, p. 32
3

a. C., no qual se pode considerar certa dialética entre os aspectos de indivíduo e de papel, de
modo que prósopon significará “indivíduo que desempenha um papel”. Nessa acepção, o
termo adquire a noção de indivíduo, de personalidade distinta num grupo.

No século I d. C., no Novo Testamento, encontra-se o termo prósopon, significando


“aspecto”, “em presença de”, “por mandato de” e também como “indivíduo”. Podemos citar
como exemplo o seguinte versículo tirado do Evangelho de São Mateus: “Quando jejuardes,
não tomeis um ar sombrio como fazem os hipócritas, pois eles desfiguram seu rosto para que
seu jejum seja percebido pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua
recompensa.” (Mt 6, 16). E ainda: “Não desprezeis nenhum desses pequeninos, porque eu vos
digo que os seus anjos nos céus veem continuamente a face de meu Pai que está nos céus.”
(Mt 18, 10). Podemos ainda destacar o uso de prósopon por Epíteto para referir-se a uma
interioridade e um valor universalmente acessível a todo ser humano2.

A etimologia do termo latino persona não é tão clara quanto do termo prósopon; sua
evolução semântica é complexa, e por isso mesmo, existem várias hipóteses para a origem do
termo. Não nos atendo a tais hipóteses podemos dizer, para todos os efeitos, que o termo
persona possuía também, inicialmente, o significado de máscara. No teatro romano, a máscara
não foi usada desde o início, foi progressivamente sendo introduzida por influência dos ritos
religiosos dos estrucos.
Cícero, antes da era cristã, já adotara o termo persona como equivalente ao termo
prósopon para expressar a individualidade humana, ainda que com maior profundidade que o
termo grego. Tanto prósopon como persona não estão envoltos, ainda, de uma carga filosófica
definida, são termos utilizados para expressar uma ideia simples. A evolução semântica dos
termos durante esse tempo não é notável, mas cumpre observarse que persona acabou por se
movimentar na língua comum no sentido de homo, oposto ao de mulier. A partir do século II
d. C., essa linguagem vulgar se estenderá ao campo do Direito, que terá sua noção de pessoa
vinda da fala popular e não culta3.
O termo latino persona acabou se difundido mais que o termo grego prósopon, já que
os bizantinos, nos documentos oficiais do Império Romano, traduziam prósopon por persona.
Podemos encontrar usos de persona na tradução latina, tanto para referir-se a indivíduos,
como para referir-se à pessoa gramatical, isto é, a um sujeito e não a um predicado, em

2
LOMBO, J. A. Op. cit., p. 33
3
LOMBO, J. A. Op. cit., p. 37.
4

contraposição do uso de prósopon, por autores gregos (Aristófanes ou Eurípedes) que


empregaram o termo apenas como um genitivo de um nome comum. Isso reforça a tese da
independência etimológica entre os dois termos.

2.1.1. Conceito da Pessoa em diferentes épocas


2.1.1.1. Conceito da Pessoa na vertente clássica
Esta vai cingir-se a alguns filósofos da Antiguidade e de Idade Média, como Cícero, Boécio e
São Tomás. Cícero (106-43 a.C.) define a pessoa como sendo sujeito de direitos e deveres.
Boécio (c.480-524) entende pessoa como uma substância individual de natureza racional. São
Tomás de Aquino (1225-1272) entende a pessoa como um subsistente de natureza racional
(Laissone, 2017).

Há, nestes últimos dois filósofos (Boécio e Tomás), algo comum: referência ao individuo
subsistente, coeso, uno, total, e de natureza racional. A natureza racional confere ao ser
humano a capacidade de saber que sabe, consciência de ter consciência. Esta racionalidade
subentende na Pessoa uma dimensão espiritual.

2.1.1.2. Conceito da Pessoa na vertente moderna e contemporânea


Nesta linha, sobressaem Descartes (1596 -1650), Kant (1724 -1804) e Martin Buber (1878 -
1965). Difere da vertente clássica por esta ressaltar, nas suas direcções definitórias, as
características psicológica, ética e social. Resgata-se, portanto, o sentido de individualidade e
intencionalidade. O mérito de Kant foi de ter apresentado a pessoa como fim e nunca como
meio. Mas é necessário sublinhar que os elementos, tanto da vertente clássica como os da
modernidade, se completam. (Laissone, 2017)

a) Psicológica: Esta direcção toma como referência Descartes, o qual toma a consciência como a
característica definitória da Pessoa.

b) Ética: esta direcção, conforme Kant (citado por Chambisse, 2003, p. 38), sublinha a liberdade
como o constitutivo da pessoa.

c) Social: esta direcção, segundo o autor acima, juntando-se ao Personalismo e, de modo


particular, a Martin Buber, destaca na definição de Pessoa a relação desta com o(s) outro(s).
Importa ressaltar que o Personalismo tem como traço geral a sua insistência na realidade e no
valor da pessoa e sua tentativa de interpretar a realidade e a afirmação da liberdade humana e
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do fundamento pessoal da realidade.

 Immanuel Kant (1724-1804): Este filósofo concebe ainda o ser humano como
necessitado por ele ter necessidades, enquanto pertence ao mundo sensível, e nesse
aspecto, a sua razão tem uma missão de se ocupar dos seus interesses, elaborando
máximas práticas com vista à felicidade desta vida e de uma vida futura.

 Karl Marx (1818-1883): Para este filósofo, a pessoa humana é, ao mesmo tempo,
social e natural, portanto meramente material, sem a dimensão espiritual e
transcendental, já que tudo no universo do real, incluindo o ser humano, se reduz à
matéria. A pessoa humana como um ser social: a sociedade é a união perfeita do ser
humano com a natureza, a verdadeira ressurreição da natureza. A pessoa humana
como um ser natural: O ser humano é directamente um ser natural, porque ele sofre,
condicionado e limitado como animais e plantas. O trabalho, essência da pessoa
humana: Esta é o produtor e o produto de seu trabalho. A essência da pessoa humana
está em seu trabalho (homo faber). O espelho para ver quem é o ser humano é o seu
trabalho. O ser humano é o criador de si mesmo. Importa sublinhar que Marx não se
apercebe da dimensão transcendental da pessoa humana limitando-se apenas aos
aspectos sensíveis, à materialidade. Portanto, o ser humano fica reduzido a ser
simplesmente natural, resultante da evolução da natureza natural

Aliados a estas tentativas de definir o ser humano, Laissone, (2017) aborda que alguns filósofos
existencialistas, como, por exemplo, Jean-Paul Sartre e Karl Jaspers, depois de tanta
investigação no sentido de conhecer o ser humano, expressaram no seu pensamento, um
desapontamento nestes termos:

a) Sartre: “O estudo do ser humano trouxe-nos muitos conhecimentos, mas não nos deu a
conhecer o ser humano na sua totalidade”.

b) Karl Jaspers: na mesma linha, este autor manifesta o que poderíamos denominar de
desilusão, dizendo que “o ser humano é profundamente mais do que o que pode saber
acerca de si mesmo” (Opus cit. p. 316).

Na filosofia contemporânea, depois das filosofias da existência, vários autores, sobretudo


franceses, desenvolveram a corrente personalista. Dentre eles, encontra-se Emmanuel
Mounier. Mounier (1961, p. 45) citado por (Laissone, 2017) faz ressalvas em relação à
6

conceitualização da pessoa e afirma: Uma pessoa é um ser espiritual constituído como tal por
uma forma de subsistência e de independência em seu ser; mantém esta subsistência mediante
a adesão a uma hierarquia de valores livremente adoptados, assimilados e vividos num
compromisso responsável e numa constante conversão; unifica assim toda a sua actividade na
liberdade e desenvolve, por acréscimo, e impulsos de actos criadores, a singularidade da sua
vocação.

Esta é uma simples caracterização da pessoa e não se pode considerá-la uma verdadeira
definição. Segundo Mounier, a pessoa não se pode definir num sentido estrito, pois, em
última análise, pessoa é “a própria presença do homem”. Mounier afirma que a pessoa está
num processo de personalização constante. Ela não se pode definir. E a sua filosofia é
caracterizada pelo movimento de personalização; isto é, a pessoa constrói-se a si própria a
partir das experiências.

3. A PESSOA E A SUA DIMENSÃO TRANSCENDENTE

A categoria da Transcendência (Vaz, 1992) resulta do excesso ontológico pelo qual o sujeito
se sobrepõe ao Mundo e à História e avança além do ser-no-mundo e de ser -com-o-outro na
busca do fundamento último para o Eu Sou primordial da questão de ex-tranheza que é o
homem (Heidegger, 1995). Também a categoria de Transcendência segue três passos:

 Em primeiro lugar, a pré-compreensão inicia seu discurso explicando o


termotranscendência como a “ação de transcender, superar; é o supra-sensível, o
inexprimível” (Abbagnano, 2007, p. 970). Ou ainda: “aquilo que vai além do mundo
sensível-visível e dascategorias sensíveis” (Neves, 1999, p. 740);
Neste sentido, “a transcendência apresenta-se como o lugar conceptual no qual o sujeito pensa
o Transcendente como exterior e como espírito” (Vaz, 1992, p. 97). Por isso, a relação de
transcendência é a suprassunção da relação de objectividade no Absoluto e de inter
subjectividade na Imanência, onde o homem está voltado para o transcendente.

 Em segundo lugar, a Compreensão explicativa (Vaz, 1992, p. 112-114) leva a ter-mo a


experiência da transcendência, aprofunda a relação do homem com a realidade
terrestree afirma que “a experiência do transcendental é condição primeira para o
homem, pois delafluem as interrogações fundamentais em torno do sentido da
existência” (Libânio, 1974, p. 113);
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Tal experiência leva o homem a fazer novas experiências de transcendência noético -social de
coexistência do ser-comum, tudo isto imbuído no realismo, na liberdade, na religião, na teoria
do conhecimento, na filosofia da linguagem e na metafísica.

Em terceiro lugar, a compreensão filosófica (Vaz, 1992, p. 114-124) confirma que a reflexão
sobre o transcendente é uma questão fundamental de todo o pensamento filosófico e por isso
mesmo, nem a implacável crítica de Feuerbach, Marx, Nietzsche e Freud à experiência
metafísica consegue destruí-la totalmente. Mas é verdade que, com esta crítica, o Ocidente
perde sua efetividade histórica, dando início a uma séria e dura aporética histórica. Portanto,
“a contemplação das ideias como expressão da relação transcendental do Ser-Uno e Ser-
Absoluto encontra sua forma mais alta na theoria antiga” (Neves, 1999, p. 121).

Aí, a importância da relação transcendental é incontestável. Nisto se verifica que a rejeição da


transcendência leva a outros substitutos metafísicos: à ideologia = verdade; ao hedonismo =
bem; ao progresso = Deus; ao sucesso absoluto, ao lucro = infinito, ao imperialismo = Deus
arquiteto do universo.
No pensamento cristão-medieval a experiência do transcendente é o Absoluto como
existência. A alma não sobe para o Absoluto como Ideia Suprema, pelo contrário, é o Absolu-
to que desce, dominando: o Absoluto da Existência, ou seja, do Anábasis grego ao Katábasis
cristão (Libânio, 1974).
Na filosofia moderna, com Descartes, dá-se a ruptura entre a tradição ocidental porque se
trata de uma metafísica da subjectividade: o Absoluto como Sujeito, demostrado pela
imanência de sua idéia na mente. E na filosofia contemporânea encontram-se as figuras do
Absoluto no horizonte do fim da Metafísica, onde se verifica a cultura do niilismo e a
supremacia do nada absoluto. Desta maneira, contrapondo-se a esta visão, se verifica que “o
sujeito é para o Absoluto e esse ser-para suprassume as relações de objectividade e
intersubjetividade” (Vaz, 1992, p. 123) e afirma que o homem tem a missão de realizar a
vinculação entre as estruturas formais e suas relações efetivas configurando-o seu ser como
pessoa.

Brightman, citado por Laissone, et al (2017) na definição da pessoa, afirma que pessoa é
potencialmente autoconsciente, racional e ideal ou seja, um si que é capaz de reflectir sobre si
mesmo, de raciocinar, de reconhecer fins ideais à luz dos quais está em condições de julgar as
próprias acções. O traço mais característico da personalidade, segundo Brightman é a
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autoconsciência. Na transcendência, a pessoa se eleva para um nível mais alto de existência.


Pessoa, na sua dimensão ontológica 4, quer dizer: autonomia no ser, domínio de si mesmo,
invisibilidade, inviolabilidade, irrepetibilidade, intransmissibilidade, unicidade. Pessoa é
substância indivisível, inviolável, irrepetível, intransmissível. Pessoa é ser em relação, que
entra em comunicação com as coisas, com os outros e com Deus. (Mondin. 1980).

A pessoa é constituída por quatro elementos principais: autonomia quanto ao ser,


autoconsciência, comunicação e autotranscendência. A pessoa humana pertence à abertura à
transcendência: o homem é aberto ao infinito e a todos os seres criados. A pessoa humana
tende à verdade e ao bem absoluto. Ė também aberto ao Outro, aos outros e ao mundo, porque
somente enquanto se compreende em referência a um tu pode dizer eu. Sai de si, da sua
conservação egoísta da própria vida, para entrar numa relação de diálogo e de comunhão com
o outro. A pessoa é abertura à totalidade do ser, ao horizonte ilimitado do ser. Tem em si a
capacidade de transcender cada objecto particular que conhece, efectivamente, graças a esta
sua abertura ao ser sem limites. (Laissone, et al, 2017)

A pessoa, não se conforma ao acaso da repetição indiferente da vida em que a história é


sentida como a limitação, a contingência que marca o destino humano; busca pela via da
razão (logos) um rompimento de tal círculo, adentrando no mundo para além da história no
seu sentido natural e físico. Pela reflexão, adentrando nas ciências da razão, a pessoa inicia
seu caminho rumo à transcendência. A transcendência designa a forma de uma relação, em
que o sujeito como reflexão, pensado na dinâmica da “sua autoafirmação ou da construção
dialética da resposta à interrogação sobre seu próprio ser é uma realidade da qual ele se
distingue ou que está para além (trans) da realidade que lhe é imediatamente acessível”5.

É em um contexto de excesso ontológico, pelo qual a pessoa se eleva além do mundo e da


história indo além do ser no mundo e buscando o fundamento último para o eu, onde o excesso
ontológico, para Pannenberg, como traço da transcendência humana longamente trabalhado no
percurso da filosofia ocidental, se caracteriza de forma teológica já mesmo no ato criador de Deus. Ao
criar o ser humano a sua imagem e semelhança e insuflar nele o seu espírito, já está impresso na
criatura humana o seu destino de abertura e transcendência 6.

4
Ontologia vem de on, ontos do grego, que significa o ser, a essência. Refere-se à pessoa na sua essência, pessoa
enquanto pessoa
5
HENRIQUE, C. L. Vaz. Antropologia Filosófica II, p. 93 et. seq. São Paulo: Loyola, 1992
6
Anthropologie in theologischer Perspektive. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1983
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4. CONCLUSÃO

Investigado o tema é possível destacar que o significado de pessoa como “indivíduo humano”
começou a estabelecer-se no meio grego, antes do que no meio romano. No entanto, os latinos
acabaram generalizando o termo persona vários séculos antes que os gregos, de modo que
persona passou a ter mais força na significação de “indivíduo humano. Com efeito, dada a
expansão do Império Romano, tanto no Oriente quanto no Ocidente, a língua latina foi
gradativamente ganhando importância, de modo que tanto no âmbito comum como no
jurídico, persona, passa a ter um significado mais específico, o indivíduo diferente do outro
com suas particularidades.
Na tradição judaico-cristã, mostrado na teologia dos primeiros séculos, o termo foi
amplamente utilizado para se referir ao mistério da Trindade e da Encarnação. Para dirimir
questões espinhosas da Teologia, o termo persona foi utilizado para falar de Deus, de Jesus
Cristo, do Espírito Santo, e não apenas do ser humano.

Destaca-se, também que a pré-compreensão da relação de transcendência compreende-se


como experiência noética da verdade, experiência ética do bem e experiência metafísica do
Absoluto. Assim, a pré-compreensão da relação de transcendência se entende como o solo
mais profundo onde se enraízam todas as experiências humanas.
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5. Referências Bibliográficas

ALBUQUERQUE, L. M. B. de (1999, Novembro). Comunidade e sociedade: conceito e


utopia. In Raízes. Ano XXVIII, nº 20, 50-53. Acedido a 25 de Maio de 2017, em
http://www.ufcg.edu.br/~raizes/artigos/Artigo_27.pdf.
ABBAGNANO, Nicola (2007). Dicionário de filosofia. 5.ed. São Paulo: Martins Fontes.
ARDUINI, Juvenal (1989) Destinação antropológica. São Paulo: Paulinas.
LAISSONE, Elton João; et al. (2017). Manual de Ética Geral. UCM, Beira.
LIBÂNIO, J. B.  (1974) Reflexões Teológicas sobre a Salvação. In: SÍNTESE NOVA FASE,
vol. I, n.º2
LOMBO. José Angel (2001). La persona en Tomás de Aquino: un estúdio histórico y
sistemático. Tese (Doutorado em Filosofia). Facultas Philosophiae, Pontificia Universitas
Sanctae Crucis, Roma.
NEVES, B. Djalma (1999). Os limites da imanência superados pela
transcendência. Fragmentos de Cultura, Goiânia, v. 9, n. 3.
Mondin. B. (1980). O homem quem e ele? São Paulo: Paulinas.
RICOEUR, Paul (1991). O si-mesmo como um outro. São Paulo: Papirus Editora..
VAZ, H. C. L. (1992) Antropologia filosófica I. 3. edição. São Paulo: Loyola. (Coleção
Filosófica - 15)

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