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Universidade federal de São Paulo

Disciplina: ciência política

Aluna: Bruna Ferreira Lopes de Souza. Período: noturno.

Pitkin, Hanna Fenichel. representação: palavras, instituições e ideias. in: lua nova, n° 67, 2006.

Hanna Fenichel Pitkin, cientista política, dentre os seus diversos objetos de pesquisa é
destacada pelo seu trabalho no qual analisa o conceito de representação, “The concept of
representation” publicado em 1967. Seu amplo conhecimento sobre pensamento político, o
qual se estende desde a antiguidade até os tempos modernos, passando pelo interesse em
linguagem e análise textual, lhe traz um olhar particular e atento sobre as transformações do
mundo e como tais mudanças estão intrinsicamente ligadas as palavras.

Em seu ensaio, representação: palavras, instituições e ideais, abre o debate afirmando


que: “No campo dos fenômenos sociais, culturais e políticos, a relação entre as palavras e o
mundo é ainda mais complexa...” nesse trecho a autora explica que nosso modo de viver é
ligado de forte maneira pelas palavras que pensamos e falamos. Nesse sentido, Pitkin explora
a palavra: representação, desde a sua concepção e etimologia, respeitando e expondo o contexto
histórico e sociopolítico de suas aparições, tentado delinear sua trajetória até a modernidade,
para compreender como as mudanças sobre a vida humana refletem na e ou da linguagem.

A autora elabora então uma investigação sobre o seu surgimento e significação em


vários idiomas, a começar pela “palavra latina repraesentare” “tornar presente ou manifesto;
ou apresentar novamente” esclarece aqui que seu uso é principalmente direcionado a objetos
inanimados. De igual modo, nos expõe ao sentido na língua inglesa de “represent”, usa o
dicionário como base para definir o momento em que a palavra é concebida, mas explica que
apesar de ser esse o método mais utilizado, não significa que tal palavra não tenha aparecido
anteriormente, o que nos leva a pensar sobre quando, como e principalmente por quem a língua
é validada, Mas deixando de lado tal questão, Hanna nos mostra que no inglês o termo surge
no século XIV como “trazer a própria pessoa, a presença de alguém”; “simbolizar ou encarnar
concretamente”(significado segundo Oxford English Dictionary). Entretanto afirma que
“representar” não aparece como ideia de estar no lugar de outra pessoa antes do século XVI,
mas que aparece na idade média como “um tipo de encarnação mística”, que era usada para
designar os líderes da igreja como “encarnação e a imagem de cristo e dos apóstolos”
certamente para dar validade a ideia de representantes de Deus na terra.

Nos levando diretamente para a observação sobre como o contexto histórico, político e
social traz novas nuances a discussão, uma vez que a partir deles fica mais claro o real uso dos
termos e como os conceitos surgem a partir do entrelace entre tais circunstância. Visto que, na
idade média, com o misticismo ainda muito latente e com total domínio da igreja sobre o
pensamento comum, tal palavra não poderia estar de outra forma simbolizada se não pelas
instituições que detinham o poder. Em seguida, temos ainda da idade média o termo sendo
utilizado por juristas, segundo estudos de Pitkin, por estes aplicados a comunidade, a vida
coletiva que deve ser vista como uma unidade “a ênfase está na natureza fictícia da conexão;
não se trata de uma pessoa real, mas de uma pessoa apenas por representação”, tal ideia também
conversa com o cenário que se esmiuça na, pejorativamente apelidada, “idade das trevas”, em
que não se havia delimitado a noção de sujeito tal como conhecemos hoje, ou como se desenha
na idade moderna.

Partindo para modernidade, a qual surge junto as ideias iluministas, termo esse que foi
utilizado a fim de ressaltar que as características que compunham o tempo histórico, ao qual se
opõem a modernidade, como concepções obscurantistas; sendo este outro claro exemplo de
que a palavra está ligada de forma inerente aos fenômenos humanos. As teorias ilustrativas
irrompem trazendo o homem como o centro das questões e a racionalização a partir do real,
não mais a explicação das coisas mundanas de formam religiosa, uma vez que há o surgimento
de uma nova classe. Ressalta-se aqui, os burgueses e cavaleiros que observando interesses
conciliadores passam a buscar os privilégios que até então eram exclusivos ao clero e a nobreza.
Tal como Pitkin destaca neste trecho “eles (burgueses e cavaleiros) descobriram que tinham
questões comuns, e começaram a apresentar petições comuns, em vez de apresentar apenas
petições separadas. Eles passaram a ser chamados de membros do Parlamento.”. Por tudo isso
a palavra “representação” ganham novos contornos uma vez que essa “classe” que passa a estar
mais presente e busca conquistar seu espaço, para isso foi necessária uma organização entre
eles e apesar de não serem designados ainda por “representantes”, esse reconhecimento foi
importante para a construção do conceito como é hoje, e naturalmente, mais uma vez, aparece
ligado a instituição dominante, ou que buscava ser identificada como tal.

Complementar ao estudo do histórico, etimológico e semântico do vocábulo, Hanna F.


Pitkin estava atenta também em como apresentava-se a palavra “representação” nos escritos a
cada época, como meio de compreender o desenvolvimento das instituições políticas. Para tal
nos mostra, em ordem cronológica, diversos autores desde a idade média até os teóricos mais
recentes, os quais, com as perspectivas do seu tempo histórico, alinhavam de forma clara o
desenvolvimento do conceito de representatividade que temos atualmente. Nos textos mais
antigos, representar ainda não aparece tão claramente com a ideia de “estar” ou “ser” por outra
pessoa, o termo é inicialmente aparece de forma mais coletiva, algo como as instituições
simbolicamente agirem em prol do que julgavam ser o bem de todos; Pitkin nos expõe as visões
de Isaac Penninton e Tommas Hobbes a partir de citações desses autores conclui que “Essa
ação solda a multidão de indivíduos em um único e duradouro todo, “a pessoa de todos”. O
soberano representa aquela pessoa singular, pública; na verdade, é porque ele a representa que
ela pode ser considerada uma unidade”.

Seguidamente, ela afirma que o conceito moderno de representação esta


etimologicamente definido ao fim do século XVII, mas sua evolução teórica na política não
para por aí. Em virtude das constantes mudanças no cenário sociopolítico não seria possível
contornar tal continuidade, sendo assim, segue apresentando o autor Edmund Burke, que ainda
que de forma inconsistente já começa a traçar um formato mais independente de mandato, mas
ainda considera um aristocrático como modelo ideal e nisso se encontram tais inconsistências;
seguidamente os autores federalistas, Alexander Hamilton, John Jay, James Madison, que
divergem de Burke em vários aspectos e segundo Hanna “o conceito de interesse é muito mais
plural e instável do que para Burke”, passando pelos autores James Mill e Stuart Mill autores
liberais e como tais são os que levam a concepção para uma linha mais individualista de que
todos seus antecessores e finaliza com Jean-Jacques Rousseau e Hannah Arendt teóricos mais
recentes e que nos trazem o pensamento sobre tal fenômeno de forma atual, Rousseau e Arendt
levantando a problemática questionando a própria ideia de representatividade, o que hoje é um
debate crescente, em pelo menos, algumas vertentes política.

Concluo, portanto, que os pontos apresentados pela autora são extremamente relevantes
para compreender não apenas o conceito de representação sobre o qual centralizada suas
observações, como também alguns aspectos que compõem as transformações da sociedade e
como eles de fato estão profundamente ligados a palavra, dado que muitas dessas mudanças
começam no discurso.

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