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Pitkin, Hanna Fenichel. representação: palavras, instituições e ideias. in: lua nova, n° 67, 2006.
Hanna Fenichel Pitkin, cientista política, dentre os seus diversos objetos de pesquisa é
destacada pelo seu trabalho no qual analisa o conceito de representação, “The concept of
representation” publicado em 1967. Seu amplo conhecimento sobre pensamento político, o
qual se estende desde a antiguidade até os tempos modernos, passando pelo interesse em
linguagem e análise textual, lhe traz um olhar particular e atento sobre as transformações do
mundo e como tais mudanças estão intrinsicamente ligadas as palavras.
Nos levando diretamente para a observação sobre como o contexto histórico, político e
social traz novas nuances a discussão, uma vez que a partir deles fica mais claro o real uso dos
termos e como os conceitos surgem a partir do entrelace entre tais circunstância. Visto que, na
idade média, com o misticismo ainda muito latente e com total domínio da igreja sobre o
pensamento comum, tal palavra não poderia estar de outra forma simbolizada se não pelas
instituições que detinham o poder. Em seguida, temos ainda da idade média o termo sendo
utilizado por juristas, segundo estudos de Pitkin, por estes aplicados a comunidade, a vida
coletiva que deve ser vista como uma unidade “a ênfase está na natureza fictícia da conexão;
não se trata de uma pessoa real, mas de uma pessoa apenas por representação”, tal ideia também
conversa com o cenário que se esmiuça na, pejorativamente apelidada, “idade das trevas”, em
que não se havia delimitado a noção de sujeito tal como conhecemos hoje, ou como se desenha
na idade moderna.
Partindo para modernidade, a qual surge junto as ideias iluministas, termo esse que foi
utilizado a fim de ressaltar que as características que compunham o tempo histórico, ao qual se
opõem a modernidade, como concepções obscurantistas; sendo este outro claro exemplo de
que a palavra está ligada de forma inerente aos fenômenos humanos. As teorias ilustrativas
irrompem trazendo o homem como o centro das questões e a racionalização a partir do real,
não mais a explicação das coisas mundanas de formam religiosa, uma vez que há o surgimento
de uma nova classe. Ressalta-se aqui, os burgueses e cavaleiros que observando interesses
conciliadores passam a buscar os privilégios que até então eram exclusivos ao clero e a nobreza.
Tal como Pitkin destaca neste trecho “eles (burgueses e cavaleiros) descobriram que tinham
questões comuns, e começaram a apresentar petições comuns, em vez de apresentar apenas
petições separadas. Eles passaram a ser chamados de membros do Parlamento.”. Por tudo isso
a palavra “representação” ganham novos contornos uma vez que essa “classe” que passa a estar
mais presente e busca conquistar seu espaço, para isso foi necessária uma organização entre
eles e apesar de não serem designados ainda por “representantes”, esse reconhecimento foi
importante para a construção do conceito como é hoje, e naturalmente, mais uma vez, aparece
ligado a instituição dominante, ou que buscava ser identificada como tal.
Concluo, portanto, que os pontos apresentados pela autora são extremamente relevantes
para compreender não apenas o conceito de representação sobre o qual centralizada suas
observações, como também alguns aspectos que compõem as transformações da sociedade e
como eles de fato estão profundamente ligados a palavra, dado que muitas dessas mudanças
começam no discurso.