Você está na página 1de 13

Índice

1. Introdução............................................................................................................................6

2. Objectivo Geral...................................................................................................................7

2.1. Objectivos Específicos.....................................................................................................7

3. Metodologia do Trabalho....................................................................................................7

4. A Pessoa Humana à Luz da Fé Cristã.................................................................................8

4.1. Conceito Etimológico da Pessoa......................................................................................8

4.1.1. A Noção Filosófica de Pessoa.....................................................................................11

4.2. Tertuliano (século II e III): a Identificação da Palavra Pessoa......................................12

4.3. Santo Agostinho.............................................................................................................12

4.4. São Tomás de Aquino....................................................................................................13

5. A Pessoa em suas relações................................................................................................13

5.1. O ser Humano como Relação na Revelação Judaico-Cristã..........................................14

Conclusão..............................................................................................................................16

Referência Bibliográfica.......................................................................................................17
1. Introdução
Costuma-se dar um nome compreensível à singularidade do ser humano: diz-se que o
Homem, ao contrário das outras coisas que o circundam, é uma pessoa. Muitos filósofos
fizeram da pessoa o epicentro de suas reflexões, dando origem à uma visão filosófica que
recebeu o nome de personalismo. O problema da pessoa é estudado pelos psicólogos,
psicanalistas, educadores políticos e juristas.

O conceito de pessoa é um dos mais relevantes para o direito ocidental, porém,


paradoxalmente são quase nulos os estudos jurídicos dedicados a investigar com profundidade
a elucidação histórica e os sucessivos conteúdos teóricos sobre a temática. Grande parte dos
estudiosos parece considerar a noção como sendo inata, assim o conceito de pessoa seria um
dado, que tem sempre existido. Mas, é indispensável para a resolução de dilemas no campo do
direito contemporâneo e para efectiva protecção jurídica do indivíduo que se possa investigar
adequadamente o conceito de pessoa. De facto, não é nossa pertinência à espécie homo
sapiens que nos faz pessoas. Na seara da linguística, por exemplo, estudiosos apontam que nas
sociedades ocidentais é trivial a ocorrência de esvaziamento semântica da grande maioria das
palavras. O referido esvaziamento semântico é associado à própria dicotomia que se dá entre
conservadorismo e mudança, binómio que expressa os factores estáticos e dinâmicos da
linguagem, assegurando a comunicação entre os seres humanos. O mesmo esvaziamento
semântico acomete a noção de pessoa, que por ser de difícil apreensão na sua essencialidade,
é hoje carregada de vários conteúdos, em função das formulações jurídicas, políticas e até
mesmo filosóficas que foram se construindo ao longo do tempo.

O conceito de pessoa aplicar-se-ia, então, no rol das expressões e afirmações


universalizadas, que passam para a convergência internacional porque todos as utilizam, de
tanto repetidas vão gastando o sentido. E quando há o questionamento sobre o que realmente
significam, verificamos que são fórmulas vazias, afirmações sem conteúdo, porque este se foi
desgastando ao longo dos tempos nas bocas e nos ouvidos. A referência universalizada à
pessoa, assim como a dignidade da pessoa humana tem se mostrado oca em sua essência. O
que problematiza a existência de referenciais de validade para a construção do conceito de
pessoa hodiernamente, central no campo do direito, pois todo direito assenta na pessoa.

6
A noção de pessoa é relativamente recente na evolução da humanidade e de acordo
com Ascensão não encontramos na civilização clássica anterior à greco-cristã nenhum indício
de conceito.

2. Objectivo Geral
 Debruçar em torno da pessoa humana à luz da fé cristã.

2.1. Objectivos Específicos


 Trazer o conceito etimológico da pessoa humana;
 Conhecer os direitos fundamentais da pessoa;
 Falar dos aspectos da moral na espécie humana.

3. Metodologia do Trabalho
Para a elaboração do presente trabalho, o autor recorreu-se a um método de cunho
bibliográfico, em que o mesmo, foi realizado com base em pesquisa bibliográfica (na consulta
manuais ligados ao tema, artigos e sites da internet) sobre A pessoa humana à luz da fé cristã,
em especial trazendo assim os conceitos da pessoa, direitos fundamentais e a moral na espécie
humana.

7
4. A Pessoa Humana à Luz da Fé Cristã

4.1. Conceito Etimológico da Pessoa


Numa inicial investigação sobre a origem etimológica da palavra pessoa, bem como o
sentido correcto em que foi utilizada no pensamento antigo continue sendo questão aberta no
campo das conceituações, seu processo de elaboração nos remete à duas fontes
argumentativas:

a) A primeira fonte onde a definição da personagem representado pelo actor no teatro


precede a de pessoa, o que confirma que nas antigas civilizações ocidentais não se
atribuiu o mesmo nível de generalidade que os conceitos actuais de pessoa ou de
indivíduo comportam, prendendo-se apenas ao campo de atributos e das funções
exteriores.

Assim, o termo “pessoa” percorreu diversos territórios semânticos, advindo desde a


linguagem teatral, onde provavelmente reside sua origem, passando pela linguagem das
profissões, pela gramática, retórica e, por fim, pela linguagem jurídica e teológica para vir se
fixar finalmente na linguagem filosófica.

O conceito etimológico mais difundido da palavra pessoa é originário em Boécio, filósofo


cristão de formação grega, que aponta a origem em persona, cujo sentido genérico é de
máscara de teatro e representada pelo som de sua voz, uma personagem. Aceita-se que
persona esteja relacionada ao verbo latino personare que significa soar, passar através da voz
do actor, através da persona, da máscara.

Com idêntica equivalência ao termo grego prosôpon que se refere também às máscaras de
representações teatrais, mediante as quais o mesmo actor representava diferentes papéis, em
um contexto em que o alcance filosófico do uso aparecia com maior clareza, persona
apontaria algo exterior, mais precisamente para o papel que o homem vive, para algo
acrescentado ao ser humano.

Daí prosôpon passou a designar o próprio papel representado pelo actor, e,


posteriormente, passou a significar a função ocupada pelo indivíduo na sociedade, sem vir a
significar o indivíduo em si mesmo.
8
Para os autores, sobretudo cristãos que preferiam usar a palavra hypóstasis, um paralelo
do latim substantia, ao invés do tradicional prosôpon, contudo, também hypóstasis no fundo
poderia ser interpretada pelo menos etimologicamente, como o que estava sob a máscara: no
teatro, indicaria então não o actor, mas o personagem que ele representava, simbolizada e
identificada com a máscara.

Percebe-se que o pensamento grego se interessava pela individualidade, ainda que, por
outro lado, a considerasse uma imperfeição. E, também o direito teria se influenciado na
designação do sujeito de direitos pessoais em distinção ao sujeito de direitos reais, ligado às
coisas, uma vez que o mesmo homem poderia ter diferentes personae, quer dizer, diferentes
papéis sociais ou jurídicos.

Na Roma Antiga, por exemplo, apenas os cidadãos tinham direitos pessoais, e seria
apenas o varão, livre que poderia ser considerado sujeito de direitos e deveres. O que não
incluía nem as mulheres e nem as crianças. Assim o conceito de pessoa é algo além de um
facto de organização, mais do que o nome ou o direito reconhecido a uma personagem e mais
do que uma máscara ritual, traduzindo-se num facto fundamental do direito.

De acordo com alguns os juristas que dizem nada há além das personae, das res e das
actiones, e tal princípio ainda governa as divisões d códs igos. Na época, todos os homens
livres de Roma foram cidadãos romanos e todos tiveram a persona civil: alguns tornaram-se
personae religiosas, algumas máscaras, nomes e rituais permaneceram ligados a algumas
famílias privilegiadas dos colégios religiosos.

Uma outra fonte argumentativa sobre o conceito etimológico de pessoa ressalta a grande
diferença existente entre máscara e pessoa, em sentido estrito. Não há oposição entre o “eu
verdadeiro” e o “eu mascarado”. Pelo contrário, a pessoa é o mais “verdadeiro eu” que pode
existir, fruto da singularidade do ser humano, em sua plenitude.

Desta feita, segundo Park apud Stancioli (s./d.) o homem está sempre e em qualquer lugar
representando um papel e, é nesses papéis que nos conhecemos uns aos outros, que nos
conhecemos a nós mesmos. Claro, não considerando a advertência de Freud quanto a
existência do inconsciente (id) que fundamentou a frase: “não somos donos nem da nossa
própria casa”.

9
Na medida em que esta máscara representa a concepção que formamos de nós mesmos - o
papel que nos esforçamos para chegar a viver - esta máscara é o nosso mais verdadeiro eu,
aquilo que gostaríamos de ser. Ao final, a concepção que temos de nosso papel torna-se uma
segunda natureza e parte integrante de nossa personalidade. Entramos no mundo como
indivíduos, adquirimos um carácter e nos tornamos pessoas. Sublinhando-se a acepção de
pessoa como papel social e resgatando-se o lugar da teatralidade, permitindo ao indivíduo
orgânico, que é o social, existir, possibilita-se entender melhor o porquê das primeiras
conceituações da palavra “pessoa”.

O verdadeiro sentido e utilidade do conceito de pessoa está, sobretudo, na capacidade de


opor o indivíduo humano concreto, particular, à ideia universal de humanidade. A sua
individualidade revela-se, neste contexto, um papel, uma máscara viva no palco do mundo e,
não mais do que isto.

A visão da pessoa no século XX é substituída pela ideia de humanidade, deixando de


atender ao homem concreto. Já a filosofia antiga não sistematizou um conceito ôntico de
pessoa, e a resposta parece estar na enorme dificuldade que o pensamento antigo tinha em
lidar com as realidades individuais em face da visão monista da realidade.

Na cultura arcaica grega, a existência humana se harmonizava com a organização geral do


cosmos, pois não havia separação entre o conhecimento físico e a reflexão sobre os valores
relativos à dinâmica do mundo natural. Daí, na concepção de pessoa pautada em uma unidade
física e orgânica, não permitia a percepção dos outros homens como existência singular. Os
gregos percebiam a individualidade intrinsecamente e alinhada à concepção de ser parte de
um todo harmonioso, a partir do qual e somente em referência ao qual se podia perceber o
indivíduo.

Platão e Aristóteles aplicaram os conceitos de substância, natureza e essência ao homem


sem se referirem concretamente à pessoa. Apesar disto, foram tais filósofos que inauguraram
o período antropológico da filosofia, desenvolvido pelos gregos a partir da cosmologia
segundo a qual o ser humano é compreendido como a realidade natural mais elevada. Já na
acepção sociológica da pessoa que se desenvolvem a priori na reflexão sobre o homem na sua
dimensão exterior, uma acepção de natureza ontológica para o termo pessoa começa a ser
construída nas disputas trinitárias e cristológicas da Antiguidade.

10
Portanto, foi já com o advento do Cristianismo, mais precisamente no âmago da filosofia
patrística, de evangelização e na maior defesa da religião cristã que ganhou destaque a pessoa
dentro da teologia trinária, perfazendo uma antropologia teológica. Bem mais tarde tal
conceito de pessoa foi aprofundado pelos escolásticos quando se superou a visão monista da
realidade e se dotou de teor metafísico o conceito de pessoa, no sentido de ser a singularidade
substancial ou o princípio último de individualização.

4.1.1. A Noção Filosófica de Pessoa


A noção filosófica de pessoa só foi verdadeiramente aprimorada pela Escolástica,
estimulada pela necessidade de enquadramento das pessoas divinas. A Escolástica
fundamentada nas reflexões cosmológicas gregas, erigidas no século VI d.C., que definiu a
pessoa como indivíduo que subsiste na natureza racional. E, se parte da verdade revelada,
dentro do pensamento teológico, procurando entendê-la, ilustrá-la e explicá-la racionalmente,
deixando o homem de ser objecto para passar a ser sujeito e, portanto, portador de valores.

Na concepção teológico-cristã o conceito de pessoa se encontra ligado a três de suas


grandes questões, a saber: a natureza da Santíssima Trindade (Deus ou três Deuses, ou
manifestações divinas); a Encarnação do Verbo (Deus ou o gomem); e a semelhança
ontológica entre o Homem e Deus. Almejava-se então, explicar a fé e a crença que se tinha
em um Deus-Trindade e na Encarnação da Segunda pessoa dessa Trindade como homem, sem
perder sua divindade. O mistério dos três nomes divinos: Deus, Pai, Deus Filho e Deus
Espírito Santo conduziu a reelaboração deste conceito.

Durante os séculos IV e V tais afirmações geraram controvérsias ideológicas que


tinham na sua origem o problema linguístico. E, ocorreu no início da elaboração da doutrina
trinitária, começo do século III, as palavras prosôpon e persona, na tentativa de designar
aquilo que distingue os Três, foram aplicadas à Trindade no sentido de que o Pai, o Filho e o
Espírito Santo eram tão-somente funções, papéis ou até mesmo meros modos ou
manifestações da substância divina única.

Tal tipo de entendimento era característico de alguns teólogos do século III chamados
de modalistas tanto que fora condenado como herético pela Igreja, que insistiu na igualdade e
na distinção das pessoas divinas, quanto não colocou fim à exigência de uma linguagem
rigorosa, que descrevesse e explicasse a trindade de Deus e a dupla natureza de Cristo
fundamental para o entendimento do conceito de pessoa, tornando claro que prosôpon e

11
persona, no sentido explicado, só eram parcialmente adequados para expressar a o que a fé
cristã confessava a respeito da Trindade.

4.2. Tertuliano (século II e III): a Identificação da Palavra Pessoa


Deve-se então à Tertuliano (século II e III) a identificação da palavra grega prosôpon
ao conceito latino de pessoa, próprio do Direito Romano. Para ele, o termo pessoa exprimia o
indivíduo particular a quem se endereça. Não se referia a um simples personagem, mas da
presença efectiva e real de alguém que existe nele mesmo, de uma realidade individual e
distinta, de uma realidade incomunicável. Na sua relação com o outro, a pessoa se expressa
como sujeito que diz “eu” em relação a um “tu”. Também se deve a Tertuliano a contribuição
de projectar o mistério trinitário no primeiro plano da reflexão teológica, acentuando a
distinção da Trindade sem separação: em Deus há una substantia, tres personae (uma única
substância, três pessoas).

Ademais, foi ele quem utilizou os termos latinos substantia, persona e status para
sanar as confusões modalísticas, sem, contudo, resolver a questão. Isso só viria a ocorrer no
momento em que, na teologia cristã, o monismo antigo cede lugar ao dualismo filosófico, ou
seja, a natureza (phisis) e versus pessoa (hypostasis). Assim, o único Deus se realiza em três
hypostasis: Pai, Filho e Espírito Santo, que são modos de expressão, mas constituem a
realidade imanente de Deus.

Eis onde reside o cerne do conceito ontológico ou metafísico de pessoa, pelo qual as
respostas aos questionamentos assinalados começaram a alinhavar-se. A antiga dificuldade
em lidar com a individualidade, se vê actualmente superada. Assim, pessoa tornar-se a forma
especial de ser, a natureza, a universalidade ou a essência da realidade. O conceito de pessoa
ganha um conteúdo ontológico, capaz de designar uma realidade ôntica, a qual nem mesmo
Aristóteles, o pensamento clássico conseguiu identificar.

4.3. Santo Agostinho


Foi então, com Santo Agostinho que se acentuou a singularidade e a individualidade
no conceito de pessoa, sendo sistematizadas as potências da inteligência, da memória e da
vontade. Precursor da reflexão sobre a pessoa humana, como subjectividade vivente, Santo
Agostinho em seu tratado “Da Trindade”, oferece um primeiro ensaio em que se exprime a
subjectividade do eu. Assinalou-se que “Deus é o mestre interior cuja pessoa transcendente
fala para a pessoa humana”.

12
Já no século VI com Boécio encontrou-se a aguda percepção da fronteira e da
transição do uso filosófico de persona para o uso teológico, quando se consagrou a primeira
formulação doutrinária de pessoa que veio a constituir na raiz teórica dos tratados posteriores
dado ao conceito em comento. Daí que, Persona proprie dicitur naturae rationalis individua
substantia que quer dizer (propriamente pessoa a substância individual de natureza racional).

O conceito de pessoa surge, assim, como realidade ontológica, única, fechada,


incomunicável, sendo a natureza humana racional singularizada na existência concreta de
cada ser. Pessoa que pertencendo a si mesmo, é autónomo e independente.

4.4. São Tomás de Aquino


São Tomás de Aquino define pessoa como subsistente indivíduo em alguma natureza
racional. Concebe o significado da ideia de pessoa como relação, ou seja, a substancialidade
da relação in divinis. Para ele, não haveria outra forma de elucidar o significado das pessoas
divinas, senão a de esclarecer as relações entre elas, com o mundo e com os homens.

Ainda S. Tomás vale-se de Boécio para afirmar que a pessoa, em Deus, significa
precisamente relação: todo atinente às pessoas significa uma relação. Além disso, entendia ele
que não havia outra forma de se esclarecer o significado das pessoas divinas, senão a de
esclarecer as relações entre elas, com o mundo e com os homens.

Desta forma, a persona est subsistens in rationalis natura de São Tomás de Aquino é
uma concepção na qual já se encontra inserida a noção de sujeito subsistente, na medida em
que a substância é aquilo que recebe o ser em si, o qual, por sua vez, confere pelo seu acto um
carácter de unidade e totalidade ao sujeito.

Desta concepção de pessoa destaca-se o carácter único do ser humano, bem como a
ideia de que todos os seres humanos são iguais em dignidade, visto que todos são inata e
naturalmente dotados da mesma racionalidade. Por isso, a concepção aquiniana de pessoa é
considerada de fundamental para a construção do conceito de pessoa na modernidade e
permite pensar a pessoa a partir daquilo que o homem tem de mais individual, próprio,
incomunicável, menos comum e mais singular (persona como per se uma).

5. A Pessoa em suas relações


Soren Kierkegaard (1813 – 1855), é um dos filósofos que procurou analisar os
problemas da relação existencial do homem com o mundo, consigo mesmo e com Deus. A

13
relação do homem com o mundo - outros seres humanos e na natureza - são dominadas pela
angústia. A angústia é entendida como o sentimento profundo que temos ao perceber a
instabilidade de viver num mundo de acontecimentos possíveis, sem garantia de que nossas
expectativas sejam realizadas. “No possível, tudo é possível”, escreve Kierkegaard. Assim,
vivemos num mundo onde tanto é possível a dor como o prazer, o bem como o mal, o amor
como o ódio, o favorável como o desfavorável.

A relação do homem consigo mesmo é marcada pela inquietação e pelo desespero.


Isso acontece por duas razões: ou porque o homem nunca está plenamente satisfeito com as
possibilidades que realizou, ou porque não conseguiu realizar o que pretendia, esgotando os
limites do possível e fracassando diante de suas expectativas.

A relação do homem com Deus seria talvez a única via para a superação da angústia e
do desespero. Contudo, é marcado pelo paradoxo de ter de compreender pela fé o que é
incompreensível pela razão.

5.1. O ser Humano como Relação na Revelação Judaico-Cristã


Diante do ser humano que pergunta, está a revelação de um Deus que responde.
Revelação é a resposta de Deus à incógnita do ser humano. De um Deus que se comunica com
cada um dos seres humanos, como se comunica também através das diversas experiências
religiosas e culturas. Todas as religiões são portadoras de revelações de Deus, ainda que o
cristianismo, pela Encarnação do próprio Deus em Jesus de Nazaré, seja portador da plenitude
da revelação. Entretanto, ter a plenitude não significa ter a exclusividade da revelação e muito
menos tê-la entendido tudo. Como dizia Santo Agostinho – “se compreendes, não é Deus”,
seria uma criação humana. No diálogo inter-religioso, não só o cristianismo tem a
oportunidade e a missão de ser portador deste surplus (algo mais) da revelação, como pode,
através de revelações presentes na religião do outro, descobrir aspectos da plenitude da
revelação de que é depositário, até então mal entendidos ou escondidos.

A tradição judaica do Antigo Testamento (Idígoras: 1983, p. 371-372), assumida


integralmente pelo cristianismo, define o ser humano, não como mera espécie animal, mas
como indivíduo-imagem-de-Deus (Gn 1,27). Por isso, ele será sempre um ser digno de
respeito e veneração, jamais manipulável ou meio para algum fim. Adão não é um simples
animal que evoluiu, nem um espírito caído do céu. Ele é a porção de terra que evoluiu, sim,
mas que, ao mesmo tempo, é o sopro vivo de Deus (Gn 2,7), que o torna capaz de falar com

14
Deus, de fazer aliança com ele (como Noé, Abraão ou Moisés: Gn 2,15-17; Gn 9,8-17; 17,1-
17; Ex 24,1-8), de encontrar-se com ele em uma relação mútua e exclusiva. Essa relação única
e exclusiva de Deus com cada um, dandolhe um nome irrepetível, faz do ser humano
indivíduo e pessoa (Gn 15,1; 22,1; Ex 3,4; Jr 1,11; Am 7,8).

O Novo Testamento radicaliza ainda mais o valor pessoal de cada indivíduo. Jesus
Cristo torna-se o modelo de pessoa, com sua relação única com Deus (Cl 1,15; Hb 1,3). Por
sua vez, cada ser humano é irmão de Jesus Cristo, sua imagem, filho de Deus no Filho (Rm
8,29; Col 1,18-20; Gl 3,26-29). Como diz o Vaticano II, “o mistério do homem só se esclarece
à luz do mistério do Verbo Encarnado” (GS 22). Criatura co-criadora, cada pessoa é
incorporada na obra do Pai e de Jesus Cristo, transformando o mundo até que ele chegue à sua
plenitude (Rm 8,18ss) e convidada a colocar seus dons pessoais a serviço de seus
semelhantes, da comunidade (Mt 20,28). Terminada sua obra, em Pentecostes, Jesus Cristo
trouxe-nos o Espírito, que é fonte de liberdade para cada um, libertando-nos dos
condicionamentos escravizantes e convocando-nos à edificação de um mundo novo, inspirado
na convivência amorosa com os demais e na liberdade (2Cor 3,17s).

15
Conclusão
Chegado ao culminar do presente trabalho, entende-se então por pessoa, sob um viés
transdisciplinar e multidisciplinar, onde se alinha as reflexões filosóficas atuais ao carácter
mutável da pessoa, demonstrado nas continuidades e rupturas de sua trajectória histórica. O
conceito de pessoa deve ser investigado em seus elementos quais sejam: corpo, valor, e
elementos incontornáveis, como a autonomia, alteridade e dignidade. Tal concepção de
pessoa seria um projecto inacabado, em construção intersubjectiva constante, uma vez que ser
pessoa significa ser um fluxo de valores em eterna mudança.

Foi possível então entender o conceito de pessoa sob ponto de vista da teoria jurídica.
Para esta teoria e para o sistema jurídico de tutela de direitos humanos as consequências desse
conceito de pessoa são relevantes para a finalização de um conceito de pessoa humana onde
se enfoca o carácter único, insubstituível de cada ser humano, de portador de um valor
próprio, e que veio demonstrar que a dignidade da pessoa existe singularmente em todo
indivíduo. A contemporânea noção de pessoa acentua como algo permanentemente mutável,
como ser em contínua transformação, portanto, sendo incompleto e inacabado, naturalmente
evolutivo, num vir-a-ser em contínuo devir.

Na perspectiva actual de pessoa ancora-se a noção de dignidade da pessoa humana e


que coloca o desafia aos civilistas e a todo direito privado, pois é a capacidade de ver a pessoa
em sua ampla dimensão ontológica, restaurando a primazia da pessoa humana, nas relações
civis, relações sociais e relações essencialmente jurídica. É nessa vertente que a defesa da
dignidade humana é a condição primeira de adequação do Direito à realidade e aos
fundamentos primaciais que justificam existir Estados, nações e pátrias.

A palavra pessoa teve origem no latim persona, que é “soar através”. A palavra
designava a máscara usada por um actor no teatro clássico. Ao colocarem máscaras, os
actores desempenhavam uma personagem. Mais tarde, o termo pessoa teve um sentido
jurídico, que servia para designar, no direito romano, aquele que tem uma existência civil e
que tem direitos. Depois, o Estoicismo deu à ideia de pessoa um significado moral.

16
Referência Bibliográfica
Ascensão, J. O. (2008). A dignidade da pessoa e o fundamento dos direitos humanos. São
Paulo, Revista do Mestrado em Direito. vol. 8, Osasco.

Brighenti, Agenor. (s./d/). O Ideal da convivência Humana à Luz da Fé Cristã. México,


Instituto Nacional de Pastoral da CNBB.

Comparato, F. K. (2005). A afirmação histórica dos direitos humanos. São Paulo, Saraiva,.

De Almeida, R. T. Evolução histórica do conceito de pessoa - enquanto categoria


ontológica. Disponível em: http://faa.edu.br/revistas/docs/RID/2013/RID_2013_16.pdf
Acesso em 22.05.2021 às 14h:59.

Idígoras, J. L. (1983). Vocabulário Teológico para América Latina. São Paulo, Editora
Paulinas.

Reale, Miguel. (1989). Introdução à Filosofia. São Paulo, Saraiva.

Rebouças, M. V. P. & Parente, A. F. G. A. Construção Histórica do Conceito de Pessoa


Humana. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?
cod=066d47ae0c1f736b Acesso em 22.05.2021 às 14h:59.

Rosa, António Luís. (s./d.). Introdução à Filosofia: Manual de Tronco Comum. Ponta-Gêa,
Beira – Sofala – Moçambique, UCM) - Centro de Ensino à Distância (CED).

17

Você também pode gostar