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UFDPar – Psicologia
Introdução
Fiz de mim o que não soube, E o que podia fazer de mim não o fiz. O
dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não
desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido. Estava bêbado, já
não sabia vestir o dominó que não tinha tirado. Deitei fora a máscara e
dormi no vestiário. Como um cão tolerado pela gerência. Por ser inofensivo.
E vou escrever esta história para provar que sou sublime. (ARQUIVO
PESSOA, 2021, on-line).
A partir desse trecho, é possível inferir que o “eu lírico” do poema está
descontente com quem foi ao longo da vida pelo fato de não ter sido ele mesmo,
mas quem os outros queriam que ele fosse. É possível imaginá-lo tendo essa
reflexão e olhando para a vida que teve, desde o momento em que as outras
pessoas o viram como alguém diferente do que ele era e ele aceitou usar essa
“máscara”, tornando-se assim um personagem de si mesmo. Apesar disso, com
base em algumas partes desse trecho, também é cabível afirmar que em algum
momento da vida ele tentou se tornar ele mesmo, fazer o que queria, porém já era
tarde e ele estava velho. Já não conseguia nem mesmo vestir o “dominó” que lhe
deram, assim, não “vestia nada”, abrindo margem para que se hipotetize que ele se
considerava, nesse momento da sua vida, sem personalidade. Considerava-se
alguém inofensivo, que não era nada como ele disse em outro trecho, no início, do
poema “Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada”. (ARQUIVO
PESSOA, 2021, on-line).
O próximo poema a ser analisado, “Soneto do amigo” foi escrito por um dos
maiores poetas brasileiros, Vinícius de Moraes (1913-1980). Escritor, letrista e até
diplomata, Vinícius possui uma vasta produção poética e musical com lugar de
destaque na cultura brasileira. Geralmente seus poemas voltaram-se para a
temática do amor, no entanto, ele escreveu sobre diversas outras questões,
abordando também temas políticos e sociais, por exemplo. Uma de suas obras mais
diferentes trata-se do poema “Soneto do amigo”, que fala sobre outro tipo de amor, o
da amizade. Pode-se evidenciar isso melhor no trecho a seguir:
Enfim, depois de tanto erro passado. Tantas retaliações, tanto perigo. Eis
que ressurge noutro o velho amigo. Nunca perdido, sempre reencontrado. É
bom sentá-lo novamente ao lado. Com olhos que contêm o olhar antigo.
Sempre comigo um pouco atribulado. E como sempre singular comigo.
(CULTURA GENIAL, 2021, on-line).
Nesses versos é possível deduzir que o “eu lírico” está se reencontrando com
um velho amigo seu. Provavelmente se trata de uma amizade duradoura, em que os
envolvidos já passaram por muita coisa juntos, não somente por situações boas,
mas também por dificuldades, inclusive na própria amizade. No entanto, há esse
reencontro, em que a chama da amizade parece acender-se novamente. Uma nova
amizade surge reencontrada em um velho amigo. A amizade desse reencontro é
nova, pois o velho amigo reencontrado agora já é outra pessoa (“eis que ressurge
noutro”), contudo, paradoxalmente é a mesma de sempre, já que contêm o “olhar
antigo”. Assim, o papel de amigo que o sujeito reencontrado exercia nessa amizade
parece ainda ser o mesmo. Nos versos finais percebe-se que a outra pessoa que ele
possa ter se tornado não interfere em quem ele é com e para o seu amigo, o seu
jeito “singular” de encarar essa amizade permanece.
Referências
OBRA Édita - TABACARIA - Arquivo Pessoa. [S. l.], s.d. Disponível em:
http://arquivopessoa.net/textos/163. Acesso em: 20 nov. 2021.