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Adriano de León
1
Este breve texto foi produzido para buscadores e buscadoras dos entremeios da
Psicanálise mais orientada à leitura das teses de Jacques Lacan.
São alunos e alunas que me orientaram a escrevê-lo.
Trata-se apenas de uma possível leitura das teorias de Lacan. É a minha leitura,
com os vieses dos meus campos de atuação e conhecimento: Antropologia,
Sociologia e Psicanálise.
Não é um compêndio e nem se propõe a isso. É mais um passeio, um diálogo
que, como todo diálogo é aberto e inconcluso. São meus significantes que
permeiam o texto.
Como as ideias são de tantos outros, este texto é completamente aberto. Pode
ser copiado, reproduzido, refeito conforme o desejo de quem lê. Sou apenas um
tecelão que usa as fibras produzidas por outros que colheram, secaram, teceram
e tingiram as fibras.
É uma interpretação pessoal da teoria de J. Lacan. Como uma teoria, ela está
sujeita a novas interpretações, assim como fez J.A. Miller com a obra de Lacan.
Como a maioria de seus seminários foram frutos de aulas abertas, é claro que
tanto a transcrição destas aulas, quanto as diversas traduções já causaram furos
nos ditos de Lacan. Mas isto não interessa. O que importa é saber como ele se
valeu das teses de S. Freud, da Filosofia, da Antropologia e Lógica para
desenhar sua teoria. Como leitores, poderemos também atualizá-la,
complementá-la e criticá-la.
Este texto é dedicado aos meus alunos e alunas, os buscadores.
Boa leitura!
2
Por mais que se diga o que se vê,
o que se vê não se aloja jamais no que se diz.
Michel Foucault
3
Você pode saber o que disse, mas nunca o que outro escutou.
Há alguma coisa que se repete na sua vida, que é sempre a mesma, essa é a
sua verdade. E o que é essa coisa que se repete? É uma certa maneira de
gozar.
O desejo do homem encontra seu sentido no desejo do outro, não tanto porque
o outro detenha as chaves do objeto desejado, mas porque seu primeiro objeto
[do desejo do homem] é ser reconhecido pelo outro.
Jacques Lacan
1
SUMÁRIO
O GOZO ................................................................................................................26
SUMÁRIO 1
PRA INÍCIO DE CONVERSA
O ano era 1901. Num subúrbio de Paris, uma família simples vivia da
produção de vinagre. Eram católicos e por assim serem, resolveram
homenagear a Virgem Mãe, colocando seu nome como aposto ao nome do seu
filho: Jacques-Marie Émile Lacan.
Afastando-se do destino de comerciante traçado pelo pai, o qual era tido para
Lacan como um homem fraco, vai cursar medicina, se dedicando ao campo da
psiquiatria. Durante seu percurso lê autores como B. Spinoza 1, F. Nietzsche2,
C. Maurras3 e J. Joyce4.
1
De Spinoza, Lacan retira a ideia de que deus é a natureza, portanto, uma criação do próprio
homem. Ora, o que se passa em nosso corpo – as afecções – é experimentado por nós sob a
forma de afetos (alegria, tristeza, amor, ódio, medo, esperança, cólera, indignação, ciúme, glória)
e, por isso, não há imagem alguma nem ideia alguma que não possua conteúdo afetivo e não
seja uma forma de desejo. São esses afetos, ou a dimensão afetivo-desejante das imagens e
das ideias, que aumentam ou diminuem a intensidade daquilo que conhecemos.
2
De Nietzsche, Lacan absorve a ideia de potência de vontade, do racionalismo e do homem
como produtor dos discursos que criam as coisas.
3
As ideias de anti-família de Maurras influenciaram o jovem médico. Apensar de serem ideias
conservadoras, elas serviram para que Lacan renegasse suas raízes e as ideias de que uma
revolução, como a francesa, seria capaz de emancipar alguém;
4
Joyce e os surrealistas encantavam Lacan. Os jogos de linguagem presentes nas suas obras
diziam respeito a como uma imagem se forma a partir do sujeito que a aprecia. Tudo é
linguagem!
SUMÁRIO 1
Paris. Essa análise durou seis anos e meio, tendo sido interrompida em função
de forte desentendimento entre ambos.
O suíço Ferdinand de Saussure, fornece a Lacan a teoria que prediz que a língua
é um sistema de valores que se opõem uns aos outros. Ela está depositada como
produto social na mente de cada falante de uma comunidade e possui
homogeneidade. As noções de signo, significante e significado terão
importância enorme na teoria lacaniana do inconsciente estruturado como uma
linguagem.
Quando digo manga, o que lhe vêm à cabeça? Há uma imagem acústica que
aponta para um conceito. Então, algo sempre tem a ver com uma outra coisa. A
palavra falada manga só terá sentido quando relacionada a uma outra palavra.
O significante aponta para a imagem acústica. O significado diz respeito ao
conceito.
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A importância de G. Hegel para Lacan subsiste no fato de que, a despeito de toda ruptura e
descontinuidade teórica,a tensão fundamental de um inominável, de um impossível, ou de um
real, que se apresenta e ao mesmo tempo resiste à simbolização.
SUMÁRIO 2
“A manga é doce!”
Observe que só sei o que vem a significar “manga” quando a relaciono à fruta, à
parte de um traje ou ao verbo debochar.
Isto significa que o sujeito em si não tem identidade senão aquela que é imposta
pelo outro. O sujeito, portanto, não é uma personalidade ou ego. O sujeito é
assujeitado por um outro. Desta feita, entre 6 e 18 meses, o bebê irá adquirindo
certa autonomia. Na primeira fase, ele não se vê como indivíduo, mas sim como
uma imagem que o outro lhe fornece. O seu corpo é visto como um apêndice do
corpo do outro (geralmente quem faz o papel materno). Logo em seguida, a
criança nota que sua imagem é própria, pois os reflexos do espelho são
comandados por suas expressões. Finalmente, a criança se percebe como
única, independente da imagem frente a outros, ou mesmo da sua imagem
refletida. Ele se percebe como único, com um núcleo que o diferencia dos
demais.
6
Tom Hanks estrelou o filme O Náufrago (2000), contando esta mesma história e a atualizando.
SUMÁRIO 3
Edgar Rice Burroughs, em 1914, publica uma série de histórias, depois
transformada em livro, sobre um bebê perdido nas selvas africanas e criado por
gorilas: Tarzan. Vale a pena a descrição do momento em que Tarzan se vê
diante do fenômeno da linguagem, passando então a entrar no conflito
antropológico entre natureza e cultura, pois é a linguagem que reloca Tarzan, o
lorde perdido de Greystock de volta às suas origens londrinas. A jovem Mary
Shelley, com apenas 16 anos, escreve a polêmica novela Frankenstein, sobre a
suposta capacidade humana de criar a vida. Mas não é só juntar pedaços e
gerar vida biológica que produzirá um humano: é a linguagem, a via de entrada
no mundo das palavras e das coisas. Há muito mais o que se perceber neste
campo da literatura.
Veja, então:
Quando alguém diz algo que talvez não quisesse (querer saber no lugar não
querer saber) há ali um processo inconsciente. O inconsciente, assim, é uma
verdadeira forma de registro: é uma estrutura linguística. A pausa, a troca, a
piada, o sonho, todos estes fenômenos de uma estrutura que não era bem
previsível ao ser falante, mas que escorre, escapa, causa erosão.
SUMÁRIO 5
Sendo o Real indizível, o sujeito só é capaz de se expressar no simbólico. Assim,
somos inexoravelmente sujeitos da linguagem, pois é esta que nos permite
preencher a falta que nos persegue desde o nascimento com objetos. Ao tentar
preencher esta falta, a linguagem cria novos desejos, portanto, novas faltas. A
palavra mata a coisa. Enquanto a ideia está na nossa mente, ela de fato não
existe. Ao falarmos, esta ideia toma forma através de moderações da linguagem.
A linguagem tenta, deste modo, mapear o indizível. Por isso ela é expressa a
partir de imagens e depois de símbolos. Uma criança quando deseja água,
aponta para o local onde há água (geladeira, filtro, bebedouro). Se alguém não
entende este gesto, ela tenta se expressar por meio de uma palavra-imagem-
sentido (o significante) através do vocábulo “água”. Ela imita os adultos pedindo
“água”, “water”, “wasser”, “aqua”, “eau” conforme o círculo linguístico onde foi
criada.
Todavia, nem a mais complexa das línguas será capaz de expressar o que nos
falta. O sujeito viverá com esta lacuna e fará de tudo para supri-la. Tal falta nos
perseguirá por uma vida. Quando a criança percebe que não pode significar por
si mesma aquilo que os pais desejam, que existem outros falos para quem ocupa
o lugar da mãe, que existe um outro lugar que costumeiramente chamamos pai
(nomes do pai) que interdita esta fantasia de ser só da mãe, a criança se
estrutura como sujeito da falta e passará a buscar nos outros sua completude.
Buscamos, assim, no outro a possibilidade da realização plena dos nossos
desejos. A outra banda da laranja, a lua e a estrela, a plenitude da relação
sexual, todas estas fantasias em torno da felicidade eterna é o que geralmente
pomos em lugar da nossa falta. Nascer só, morrer só. Eis o começo e o fim.
César chaga à clínica à procura de saídas. Diz ao analista das suas dores. Diz-
lhe um homem depressivo. Não porque é triste e antissocial, mas porque foi
diagnosticado por um psiquiatra e toma remédios que confirmam este laudo. O
analista ouve sem dar atenção a este rótulo de “depressivo”. Não que não se
importe. A pergunta que o analista faz a César é: o que é ser depressivo para
você?
SUMÁRIO 6
depressivo”. Isto foi inventado por um dado saber médico psiquiátrico e colado
a um sintoma. O dito, portanto, cria uma sujeição. Algo só existe porque foi dito.
César não nasceu depressivo, pois não existe nada antes ao sujeito, senão
formas simbólicas discursivas. Segundo Michel Foucault, o sujeito é uma criação
do discurso e não ao contrário. Só quando leio algo é que sou um leitor. Só
quando estudo que sou um estudante. Somos, pois, criações discursivas.
SIMBÓLICO IMAGINÁRIO
SUJEITO
REAL
Alienação e separação
SUMÁRIO 7
O ESTÁDIO DO ESPELHO
1º Tempo
EU NÃO SOU
Fonte: internet
Neste tempo, o bebê vê-se a si mesmo não como um outro, mas como um só.
Trata-se de um corpo fragmentado, numa situação esquizofrênica de não se
reconhecer como um todo e sim como fragmentos de corpo. O Eu é este outro
da imagem. Os processos de reconhecimento dizem mais respeito a este outro
que é o lugar-mãe, lugar-pai, lugar-família. O processo de individuação ainda
está por vir.
SUMÁRIO 8
2º Tempo
Fonte: internet
SUMÁRIO 9
3º Tempo
Fonte: internet
7
Passarei a designar lugar-mãe, lugar-pai para indicar que qualquer indivíduo pode ocupar este
lugar, pois a ideia é que o sujeito é uma posição num contexto.
SUMÁRIO 10
assujeitado pelo outro, pelo discurso do outro. O sujeito passa a ser reconhecido
através do outro. É o outro quem confirma a imagem do eu. O bebê é, portanto,
o desejo dos lugares-pais. O sujeito é alguma coisa enquanto for desejado. O
sujeito é uma posição do discurso do outro. Desta forma, o sujeito entra na
linguagem e passa também a ser um sujeito desejante. Sujeito aos significantes.
Um sujeito idealizado pelos outros: o ideal do eu. Um sujeito que é um fragmento
do social, sujeito da cultura. Sendo desejante, nunca será pleno, pois nunca
abarcará o que os outros querem dele, o que os outros querem que ele seja.
Para falar de sujeito, tome como exemplo uma selfie. Por que geralmente se
filtra uma imagem? Porque o sujeito quer ser visto da melhor maneira possível.
Um eu ideal é o eu da selfie. Contudo, isto não garante que o outro irá me ver
da mesma maneira. Quando eu poso para uma selfie, quando eu modifico minha
própria imagem é que eu tento chegar ao ideal do eu: como eu devo ser visto.
Daí que a neurose se funda numa confusão de que o eu ideal seja igual ao ideal
do eu. Isso é impossível, portanto, um furo numa suposta blindagem do sujeito
em relação à opinião do outro. A análise, neste esteio, visa emancipar o sujeito
dos ideais que os outros têm dele. Separar o sujeito do desejo do outro. A
paixão, oh, a paixão. A utopia de encontrar um outro ideal, um presente de
deus, um ser completo e sem defeitos. As mensagens que não param ao longo
do dia. Juras de amor para sempre. Mas segundo Renato Russo e Vinícius de
Morais, “o pra sempre, sempre acaba” e “que seja eterno enquanto dure” são
realidades que se apresentam face aos apaixonados. Os defeitinhos começam
a incomodar. Já acontecem os primeiros vácuos nas mensagens de amor. A
larva da paixão esfria e vira pedra. Este outro tão desejado talvez não fosse bem
o que eu esperaria para mim. Mas, como escreveu Gonzaguinha: “começaria
tudo outra vez, se preciso fosse, meu amor”.
SUMÁRIO 11
OS TRÊS TEMPOS DO ÉDIPO
1º Tempo
O bebê tem total dependência do lugar-mãe. Este lugar-mãe vai além de suprir
as necessidades da criança: ela fala por ele, ela simboliza por ele. O lugar-mãe
é ocupado por um ser onipotente. A potência, que vamos chamar falo, é este
lugar-mãe. O pai ainda nem existe de fato. A criança é como um apêndice do
lugar-mãe. Este lugar-mãe é ocupado por qualquer pessoa que possa dar ao
bebê os cuidados básicos, carinho, alimento e presença.
2º Tempo
SUMÁRIO 12
3º Tempo
Deste modo, é necessário que o lugar-mãe dependa de uma lei que vem de fora,
a lei do lugar-pai. É necessário, para que a criança participe da ordem simbólica,
que ela perceba que seu lugar-mãe também depende de outra coisa, e que esta
outra coisa é o representativo de uma insatisfação do lugar-mãe com relação à
criança, que a faz ir e vir, como o carretel do netinho de Freud8.
Portanto, no 1º tempo, a criança acredita que é este objeto mágico para o lugar-
mãe: o falo. Nada falta a este lugar-mãe. No 2º tempo, ao perceber que o lugar-
mãe tem outros interesses, a criança se pergunta: tenho ou não tenho o falo?
Ou seja, se não seria capaz de ter o objeto que faria este lugar-mãe plenamente
satisfeito. Para responder a esta questão, a criança passa a olhar para onde se
dirige o desejo do lugar-mãe. A isto, Lacan denomina o nome-do-pai: uma pós-
8
Leia Além do Princípio do Prazer, no qual Freud faz a alusão à brincadeira do Fort-Da
SUMÁRIO 13
graduação, um trabalho, um filme, uma pessoa... No 3º tempo, a criança sabe
que não é e nem tem o falo. Assim, passa a buscá-lo perseguindo a trilha do
desejo do outro, uma trilha cuja bússola é o nome-do-pai. Um exemplo: uma
criança percebe que a mãe deixou de tomar conta dele por um momento para
se dedicar à leitura de textos numa pós-graduação. Sua futura neurose pode se
refletir por adorar livros, buscando assim neste nome-do-pai o falo e ser um
excelente estudante ou ter muita raiva de quem tirou dele a presença do lugar-
mãe – os livros – e ser um péssimo estudante. Ambas as situações dizem
respeito de como lidar com esta perda fálica e a superar. Só que nunca!
O final deste processo é marcado por saídas. O esquema gráfico a seguir mostra
isto, mas de forma estrutural.
Histeria
Fobia
Masoquismo
Desmentido Perversão
Saída
Sadismo
Fetichismo
Foraclusão
Melancolia
Psicose
Paranoia
Esquizofrenia
Aquele que desmente a castração preenche a falta com objetos externos à falta
do lugar-mãe, como os fetiches. O fetiche é usado para tamponar a falta
captada. Deste modo fica desmentida a castração do lugar-mãe. O fetiche
SUMÁRIO 14
substitui o falo do lugar-mãe, criando um paradoxo: o lugar-mãe tem e não tem
o falo ao mesmo tempo. No perverso, o falo não se perde. Ao contrário, através
do fetiche, ele o mantém consigo.
Aquele que não inclui (ou rechaça) a castração recusa o acesso ao mundo
simbólico. Este mundo simbólico, em algum momento, representou para este
sujeito uma ameaça real à sua integridade. Como ele não admite esta realidade,
o foracluso alucina. Para ele não há dúvida, posto que não há falta, portanto nem
simbolização. A foraclusão é a via da psicose. Neste processo, ao contrário dos
demais, o sujeito não se sente cindido, em dúvida e nem em dívida. Ele é uma
espécie de caixa hermeticamente blindada, o falo de si mesmo. O falo enquanto
alucinado é então aquilo que completa a falta do lugar-mãe. Esta caixa blindada
que é o foracluído não teve acesso ao nome-do-pai. Não simbolizou,
consequentemente. Deste modo, se não há dúvida (como ocorre na neurose em
função da divisão e na perversão em função da escolha objeto-fetiche) há a
certeza, mas certeza delirante.
SUMÁRIO 15
O MISTÉRIO DO DESEJO
Beatriz chega para seu pai pedindo um Iphone. O aparelho é caro. Mas existem
outros caros também, de outras empresas. O pai faz uma excelente pesquisa
sobre a superioridade de outros smartphones e a envia para Beatriz. Nada feito.
Ela cismou com a maçã mordida. Eles chegam à loja. Numa última tentativa, o
pai de Beatriz pede ao vendedor explicações sobre o Iphone e outro aparelho de
igual valor. O vendedor explica que o outro aparelho realmente é bem melhor
tecnologicamente. No entanto, olha para o pai de Beatriz, com leve sorriso no
rosto e diz: ela não quer um smartphone; ela quer um Iphone. O Iphone não é
um aparelho. É uma situação. Beatriz riu e foi escolher o modelo.
SUMÁRIO 16
não tem muita diferença entre uma edição e outra mais nova: cores novas, um
novo design, talvez. Mas o que um faz, o outro faz. O que os diferencia é a
demanda pelo novo.
E o desejo? O que faz com que Beatriz deseje? A falta, então. Toda satisfação
é parcial. Ao ganhar o Iphone, Beatriz será bombardeada, em alguns meses,
pelas notícias do lançamento do modelo mais novo. O desejo que é ativado nela
é um desejo pela completude. A ilusão de que aquilo irá parar um dia. Que
haverá um aparelho que nunca mais precisará ser atualizado. Mas não existe
nenhum objeto que aplaque a fúria do desejo. Um desejo sempre conduz a um
outro desejo.
Bebida é água
Comida é pasto
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?
A gente não quer só comida
A gente quer comida, diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída para qualquer parte
A gente não quer só comida
A gente quer bebida, diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida como a vida quer
(Eu pergunto)
Bebida é água
Comida é pasto
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?
A gente não quer só comer
A gente quer comer e quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer pra aliviar a dor
A gente não quer só dinheiro
A gente quer dinheiro e felicidade
A gente não quer só dinheiro
A gente quer inteiro e não pela metade
SUMÁRIO 17
Bebida é água
Comida é pasto
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?
A gente não quer só comida
A gente quer comida, diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída para qualquer parte
A gente não quer só comida
Quer comida, diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida como a vida quer
A gente não quer só comer
Quer comer e quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer pra aliviar a dor
A gente não quer só dinheiro
A gente quer dinheiro e felicidade
A gente não quer só dinheiro
A gente quer inteiro e não pela metade
Desejo, necessidade, vontade
Necessidade, desejo
Necessidade, vontade
Necessidade, desejo
Necessidade, vontade
Necessidade, desejo
Necessidade, vontade
Necessidade
SUMÁRIO 18
O desejo se mantém sempre insatisfeito. Tal insatisfação leva o sujeito falante a
uma contínua busca por novos objetos, sempre na tentativa de encontrar esta
satisfação. Isso marca a relação do sujeito com o objeto de um modo que é
fugaz, pois se está sempre em busca de novos objetos, que proporcionem a
plenitude da satisfação.
SUMÁRIO 19
Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock'n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, Fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus
O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim
Eles viveram isso de forma intensa, como é dado aos amantes. A cara-metade,
o amor que se completa como a lua e a estrela, as bandas que se unem num só
todo. Embora a Natureza insistisse no contrário, eles acreditavam no amor
romântico, na glória do eterno, aquele eterno que é mesmo o infinito, o
sempiterno. Mãos e bocas entrelaçadas, o sexo como encaixe e ajuste perfeito.
Ah, tantas músicas e fotos nas redes sociais. A felicidade estava ali e existia de
fato. Um amor por entre almíscares e alfazemas. Um amor de chocolates e juras
ao luar. Os passeios pela praia e os risos que pareciam nunca terminar.
9
Escrito para o Dia dos Namorados
SUMÁRIO 21
Eles estavam plenos, como manda o desejo da paixão. Aliás, tudo era desejo.
Os desejos de um que eram completados pelo outro. Aquele pensar que o outro
desvenda. Aquela frase que o outro completa.
Eles queriam gritar ao mundo seu amor extremo num ritual de casamento sob a
luz das estrelas e o abraço dos primeiros raios de sol. Aliança e juramentos sobre
o eterno. Assim longos 7 meses passaram.
Nos seus olhares, havia uma sombra de um entreolhar. Um olhar para algo que
nem eles mesmos sabiam o que era. Por um momento, houve um abalo. Aqueles
abalos sísmicos que ninguém percebe, mas uns sentem. Suas redes sociais
foram invadidas por uma série de fotos de cada um. Havia também fotos do
casal, porém bem rareadas. O eu estava no comando.
SUMÁRIO 22
Os olhares começaram deslizando para objetos, coisas do cotidiano, talvez sem
importância. Depois os olhares escorreram para outros. Outros olhares, outros
corpos, outros encantos. Eles se amavam ainda no frisson do sexo apaixonado,
mas havia um terceiro entre eles. Um terceiro imaginário, súbito, que aparecia
nas fantasias e, com muito risco e culpa, no delírio de que o outro fosse um outro,
um outro que se desejava nem que fosse por instantes, por um lapso do desejo,
talvez.
Tudo começou a estremecer. Não apenas o tubo de creme dental todos os dias
mal apertado. Para isto, dois tubos resolveriam. Mas havia mais. Toalhas
molhadas na cama. Tênis soltos pela sala. Uma disputa surda de quem deveria
lavar a louça. De grandes rituais de acasalamento, eles agora tinham rituais
diários de conflitos. Pequenos e ridículos conflitos que geravam longas horas de
discussões inócuas. Teria o amor cessado?
A saída mais tranquila foi uma relação aberta. Eles aderiram a quase uma moda
entre os casais descolados. O modelo propõe não só a abertura para outros,
mas principalmente a liberação da culpa por desejar um outro. Incialmente a
novidade, como toda novidade, causou o efeito esperado: uma tranquilidade nos
conflitos.
SUMÁRIO 23
Mas a cada ida, a cada busca, o casal se reencontrava com mais ausências.
Este ir-ao-mundo satisfazia os desejos sexuais, mas abria cada vez mais a
cratera do vazio. Em casa, juntinhos, o casal se abraçava, abraçando seus
vazios. Não se falavam, pois se bastavam.
Ah, o amor e suas armadilhas! Um laço leve ou uma gaiola, não importa. O amor
tem suas astúcias. Nossa relação com o amor é quase uma síndrome de
Estocolmo. Depois de presos, até feridos, nos apaixonamos por aquele algoz.
Ele tem algo que desejamos, talvez uma solução sadomasoquista, talvez o
terrível abismo do que não se pode nominar.
Eles tinham coisas a compartilhar. Tinham amores que poderiam ser divididos.
Mas não sabiam mesmo como fazer. O amor não tem manual de instruções.
O amor nos presenteia com a falta. Ele nos oferta a dádiva de ser no outro, a
partir do outro, porém nunca ser o outro ou ser para o outro. Um dia nascemos
nus e frágeis e alguém nos acolhe e nos veste.
Ali se inicia a jornada do eu a partir do outro. Um dia nós nos iremos sós. Alguém
talvez nos vestirá para a jornada final, desta vez sem o outro. Quando o amor
nos mostra a falta, mostra também a travessia.
SUMÁRIO 24
Assim eles descobriram o amor. Perceberam que o amor é como a lua. Quando
minguante, se afasta como uma despedida breve. Quando nova, se esconde por
entre as sombras que a ocultam como um sono profundo. Quando crescente,
anuncia que a sombra se rasga quando chega a luz. Quando cheia, ilumina a
noite, enche o coração dos poetas e dos amantes, desperta os loucos e magos.
Amar, enfim, é dar vexame. Permitir-se o amar-se e também aos outros e a tudo.
Amar não cabe em nada. Amar é, assim, permitir-se.
SUMÁRIO 25
O GOZO
Carmem, 48 anos, dois filhos, divorciada. Chega à clínica porque está atolada
em dívidas. (Questão: a análise não seria mais uma dívida?). O ex-marido a
deixou com dois filhos e nunca pagou um centavo de pensão. Questão: por que
você não colocou seu ex-marido na justiça? Carmem respondeu que não valeria
a pena. Mora com a mãe, pensionista do Estado. Um dos filhos se formou em
Direito, mas não exerce, preferindo a malhação. O outro vive trocando de cursos
e ela pagando seus estudos. O seu pai era um homem fraco. Alcoólico, deixou
a carga da família com a mãe. Carmem viveu épocas de escassez, tendo que
trabalhar aos 15 anos, enquanto as amigas se preparavam para o baile de
debutante.
SUMÁRIO 26
Pensando em metáfora, o gozo é o ato de tensionar a corda de um arco pelo
arqueiro. Ele não tem objetivo. Tem a ver com desfrutar de algo. Mas sem
completude. Ao soltar a flecha, o arqueiro se libera da tensão, do que lhe
enobrece. Ao soltar as cordas, o alvo é alcançado e a plenitude do momento se
esvai. O gozo reside na tensão, não na realização. Após acertar o alvo, o
arqueiro não para: tensiona de novo e de novo o arco. O gozo é do campo do
não-dito, pois carece de significantes.
SUMÁRIO 27
tornam atraentes, na medida em que escamoteiam a castração, pois parecem
exibir vigor, saúde, um certo hedonismo e veiculam a ideia de bom desempenho.
Ora, é com a falta que o indivíduo com sintomas vigoréxicos busca não se
deparar. Para satisfazer o que imaginariamente supõe que falta ao Outro, ele
busca manter o corpo sempre grande, como um corpo/órgão que não
detumesce, pois só assim resta garantida sua identidade fálica, lugar de onde
supõe ser desejado e amado pelo Outro, levando adiante a tentativa de não
aparecer castrado aos olhos do Outro. Os espelhos da academia de ginástica
como o espelho da rainha de Branca de Neve.
Diz Fabiano: “às vezes me olhava no espelho e achava meu corpo pequeno e
fraco, e quando comentava isso com alguém, me chamam de louco (não que eu
seja gigante); falam que eu tava grande coisa e tal mas eu não via (vejo). Daí,
cheguei a tirar medidas diariamente antes de dormir; logo que eu acordava me
olhava no espelho, se alguém falasse que eu tava menor: pronto, era o fim do
mundo. Foda. Muito foda. Hoje ainda tenho certos "traumas" menores e mesmo
assim é muito foda. A minha namorada rompeu comigo por causa da
musculação. Parece que foi demais para ela. Sarah nunca conseguiu realmente
compreender por que eu precisava ir à academia ou por que isso representava
tanto para mim. Eu perguntava várias vezes por dia se ela achava que eu era
bastante grande ou musculoso. Acho que ela ficou cansada de tanto eu
perguntar. Ela também se queixava muito porque eu era bastante inflexível. Ela
queria sair e fazer alguma coisa e eu dizia que não podia porque precisava ir
para a academia e treinar. Mas eu a avisara que eu era assim. Eu lhe disse isto
quando começamos a viver juntos: a academia vem primeiro, minha dieta em
segundo e você em terceiro. Acho que ela não quis ficar em terceiro lugar. E
realmente não a censuro.”
A gozo de Fabiano era o vigor. A ele não importava a opinião dos outros. Só
ser maior, maior.
SUMÁRIO 28
Objeto a
Desejo
Gozo
Objetos do desejo:
casa, carro, comida,
roupas > consumo
Observe que o desejo é tangível: o dinheiro que eu posso ter na maleta. O gozo,
ao contrário. É este cansaço, esta correria que nunca alcança algum objetivo.
É o prazer de correr atrás e, ao mesmo tempo, a dor de jamais conseguir.
Como seu Jaime, que toda semana vai fazer sua fezinha no jogo. Mas na maioria
das vezes, ele nem confere os números sorteados. Mesmo que um dia ganhe,
ele continuará jogando, pois este é seu gozo.
Como nos ensina Chico Buarque, num trecho da canção O que Será:
SUMÁRIO 29
O PROCESSO DE SEXUAÇÃO
O que nos torna homens ou mulheres? O que é um ser sexuado? Não é nem
necessariamente um heterossexual, nem necessariamente um homossexual, é
um ser capturado no desejo do outro.
SUMÁRIO 30
desejo. Isto permite que o outro nos veja como seu desejo lhe impuser e que
possamos nos ver também como nosso desejo nos conduz. As categorias
mulher e homem são tão somente tentativas de reduzir nossa sexualidade a dois
corpos biologicamente diferentes.
Para Freud, o ser humano é um organismo animal com uma disposição bissexual
inequívoca. O sexo constitui um fator biológico que, embora de extraordinária
importância na vida mental, é difícil de apreender psicologicamente. Seja como
for, se considerarmos verdadeiro o fato de que todo indivíduo busca satisfazer
tanto desejos masculinos quanto femininos em sua vida sexual, ficamos
preparados para a possibilidade de que estas exigências não sejam satisfeitas
pelo mesmo objeto e que interfiram um com o outro. Mas quem daria direção a
nossa sexualidade? O grupo social em que estamos inseridos! Ninguém traz
em si uma sexualidade já formada. A sexualidade não deve ser confundida com
os órgãos sexuais. Ter um pênis não configura alguém a ser um homem, assim
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como ter uma vagina não faz de alguém uma mulher. A sexualidade é um
conjunto de aprendizados que vão se impondo aos indivíduos.
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os renascentistas, o homem era considerado “a medida de todas as coisas”. O
corpo da mulher era desenhado a partir desta ausência. O domínio da
sexualidade era, pois, o masculino: deus e sua criação, o homem.
Para Freud, este modelo de sexualidade tinha por base a crença numa suposta
castração sofrida por quem não tinha o pênis. Ele denomina de complexo de
castração a percepção da diferença sexual, desencadeando uma “angústia de
castração”. Nos meninos, pelo medo de serem privados do órgão, nas meninas
pela perda já efetivada.
Ter o falo implica, então, identificar-se com o significante pai, já que este é o
portador das insígnias fálicas. Já as meninas entram no Édipo ao perceberem
que com a mãe como objeto não obterão suporte para se valer do falo. Buscam
isso no representante-pai, mas sem poder identificar-se com ele, optam por
substituir o desejo de ter um falo pelo desejo de ter um bebê.
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seja, a busca pela sua autoimagem. Lacan denominou esta fase de 1º tempo do
Édipo. No segundo tempo do Édipo, o falo se desloca, a função paterna opera
de modo a destituir a criança do lugar que ocupa. É uma operação simbólica que
indica ao objeto de desejo um lugar além. Ela é vivida como uma queda narcísica
que incide tanto sobre a criança quanto sobre a sua referência materna. O falo
não pertence nem a um nem a outro, não importando o sexo do filho em questão.
Ele está no pai (no nome-do-pai), aquele que é assim nomeado, e desejado, pela
mãe. Para a criança esse outro que a mãe deseja é vivido como, ao mesmo
tempo, idealizado e ameaçador. A figura paterna destitui a mãe deste lugar de
falo da criança. Desse modo, opera - se, ao mesmo tempo, interdição do incesto
e castração: a figura-mãe não é mais possível como exclusivamente minha e eu
me percebo como castrado.
No terceiro e último tempo do Édipo, o falo passa de uma imagem que tinha até
então, ao falo simbólico, ou seja, a uma representação de falo. Não é mais nem
a figura materna e nem a figura paterna, mas tão somente o representante deste
lugar da falta, aonde se aloja o desejo.
A figura materna deixa de ser o falo. Busca-se na figura paterna este mesmo
falo, porque no discurso da figura materna e na cultura do grupo social este
paterno é o representante da lei. Daí Freud dizer que o Supereu é o herdeiro do
Complexo de Édipo, pois o Supereu representa toda forma de sanção social
presente na vida do indivíduo.
Desta forma, a criança é, portanto, desalojada do lugar de ser o falo para a mãe,
e é ao ser desalojada dessa posição que o terceiro momento se estabelece, cuja
problemática será ter ou não ter o falo, possibilitando à criança o acesso à
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significação fálica que a situa na partilha dos sexos. Isso porque, no terceiro
tempo, a figura paterna intervém como aquele que realmente tem. Nesta
intervenção, a criança enxerga nesta figura paterna o ideal do Eu, uma figura tão
mítica quanto um super-herói.
Percebe-se que não é a questão anatômica que vai falar da posição sexual de
um sujeito, mas, sim, a forma como ele irá lidar com a castração, com o falo,
uma vez que fora inserido na linguagem. Portanto, trata-se de posições
subjetivas que cada ser falante poderá ocupar em face da sexualidade.
Pode-se perguntar: onde fica a atração sexual como nos é ensinada segundo a
lógica heteronormativa “somos atraídos pelo sexo oposto”? Este é apenas um
dos modelos de atração sexual, vamos dizer o mais usual, por enquanto. Há
outros e muitos. Vale pensar aqui em modelos de atração sexual que não
correspondem exatamente ao corpo do outro, mas a um desejo por um objeto
qualquer, por uma parte do corpo, por uma série de imagens tantas.
Pode-se ver esses estereótipos como produzidos pela ordem social, com o
objetivo de assujeitar os seres. Pode-se vê-los também como produzidos pela
angústia dos próprios sujeitos diante daquilo que eles não sabem como explicar.
Como ser um homem, como ser uma mulher, isso não se aprende nem em sua
família, nem na escola, nem no mundo do trabalho e nem nas igrejas. Para falar
a verdade, isso não se aprende. Então, para facilitar nossa vida, a Ciência
propõe uma simplificação sob um ponto de vista anatômico, sob um ponto de
vista genético, sob um ponto de vida neuronal. As teorias de gênero vieram,
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assim, na tentativa de desmontar este sistema binário heteronormativo, mas
caíram no mesmo erro de dividir os gêneros em dois. Também a sopinha de
letras LGBTQIA+ não dá conta de seres falantes e sexualizados conforme
condições muito particulares, uma a um. A Psicanálise, como um saber a partir
do indivíduo e seu inconsciente, lida com o biológico como ilusão e a sexualidade
como escolha do outro. Não somos nem mulher e nem homem, mas sim aquilo
que o outro deseja que eu seja. Não importa o corpo e suas formas, mas o que
se faz dele.
O homem, uma mulher não são nada mais que significantes, e assim são
tomados pela função fálica para constituir os semblantes. São apenas modelos,
portanto. Termos como heterossexual, homossexual são meros apelos para
classificar o desejo. Mas o desejo não se encarcera nas palavras. O desejo é
fluido e particular.
Homem e mulher designam dois modos de ser que não se aparentam tanto com
as normas de gênero quanto às maneiras de responder ao desejo do Outro.
Neste esteio, Judith Butler se apoia para conceber o gênero como um uso teatral,
uma performance. Esta performance dos sujeitos diz respeito às formas como
os tais se relacionam com as normas vigentes.
O gênero é um modo de ser e não uma norma do como ser. Além do mais,
significantes como pai, mãe vão sofrendo erosões e se transformando em outros
significantes. Há casais de um só gênero, há casais com três sujeitos, há
adoções ou produções independentes, enfim, uma infinidade de possibilidades
de ser e ter uma família.
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Como diz Caetano Veloso, na canção Nu com a minha música:
Jacques Lacan, O aturdito, no livro Outros Escritos; Seminário 20, Mais ainda,
O estádio do espelho como formador da função do [eu] tal como nos é revelada
na experiência psicanalítica nos Escritos, além de Os quatro conceitos
fundamentais da psicanálise (Seminário 11).
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Michel Foucault. História da sexualidade, a vontade de saber, As Palavras e
as Coisas e O Poder Psiquiátrico. Autor pós-estruturalista que lida com o
debate sobre o sujeito como posição.
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