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INSTITUTO DE PSICOLOGIA
São Paulo
2019
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
São Paulo
2019
1
Endereço de e-mail: brunoprincipe@hotmail.com.
No início era o Instinto,
se fez Pulsão.
SUMÁRIO
Resumo 2
Justificativa 3
Objetivos 3
Método 3
Introdução 4
A Álgebra 6
A Geometria 19
Os Reais 30
Discussão 41
Referências Bibliográficas 44
RESUMO
Justificativa
Existem muitas controvérsias acerca de como Lacan conceituava o seu Real, e como
as ciências exatas descobrem o Real real. Com base nas obras presentes neste artigo,
avaliaremos tais controvérsias, avançando possivelmente, mas não obrigatoriamente, nas suas
conclusões.
Objetivos
O presente artigo visa apontar paralelos e posições, tanto contrárias quanto favoráveis,
entre a Álgebra e o campo do Real, nos estudos do psicanalista Jacques Lacan. Como o
próprio citado dizia: “o verdadeiro real é aquele ao qual podemos ter acesso por um caminho
Método
Este artigo tem por objetivo realizar um estudo comparativo junto a uma revisão da
sobre o Real na psicanálise lacaniana, a série de livros Paradoxos de Lacan, composta por
uma série de conferências e entrevistas transcritas, num período que abrange o meio do ano de
1953, até o fim do ano de 1974. Outro material a ser trabalhado, serão os livros Os Chistes e
Introdução
dito, deixou em seus Elementos um vasto número de regras e postulados válidos até hoje, e
que também permitiram o surgimento de muitos outros, ainda mesmo no mundo antigo.
Escrito há mais de 22 séculos, esta obra estabelece relações que qualquer pessoa mais atenta
aos números poderia perceber, como por exemplo o fato de números ímpares, quando
dito, Abu Abdallah Mohammed ben Musa, introduziu à cultura humana uma técnica
pedras, e balanças de dois pratos. Esta técnica é incrivelmente útil e válida até os dias de hoje,
Mas foi apenas com René Descartes, no ano de 1637, no livro Discurso Sobre o
Método, que uma relação entre as noções e postulados de Euclides e a técnica de Mohammed
bem Musa foi estabelecida de forma a se tornar uma inigualável ferramente filosófica. Com o
objetivo de entender como Deus havia construído as coisas do mundo, bem como o próprio
mundo, o advogado e filósofo francês cunha o que chamamos, desde então, de Matemática.
Após cerca de 250 anos, Sigmund Freud, médico vienense, começa a perceber certos
moral. Em 1900, com o seu famoso A Interpretação dos Sonhos, Freud inaugura um campo
de estudos, bem como uma terapêutica, a Psicanálise, baseado na percepção de que o ser
humano age sem nem saber que está agindo, ou seja, que o ser humano também age com base
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em pensamentos inconscientes. Ele estrutura toda a sua nova terapêutica através da fala, do
discurso em palavras, com assuntos que vão surgindo em um processo de livre associação,
devolutivas.
como uma linguagem, avança nesse campo de estudos, e apresenta um novo ponto de vista no
qual a psique humana atua em três registros distintos e imprescindíveis uns aos outros: Real,
Simbólico, e Imaginário. É sobre o primeiro deles, o Real, juntamente com o Real das
ciências, o que será abordado neste artigo. Quais são os paralelos possíveis entre a
Matemática e a Psicanálise?
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A Álgebra
Ao que tudo indica, a Álgebra foi estruturada e apresentada ao mundo pelos primeiros
Musa, mais conhecido por Al-Khwarizmi, temos a álgebra como ferramenta de solução dos
mais variados problemas envolvendo partilha de bens e heranças. Na religião muçulmana não
existe a obrigatoriedade, ao contrário da cristã, de um pai dividir igualmente seus bens entre
seus filhos, onde cada um recebe a mesma quantidade que os outros. Alláh, Deus, na visão
daquela religião, não se preocupa com a partilha igualitária, mas sim pelo respeito a certas
regras por Ele pré estabelecidas no Corão. O proprietário partilha seus bens de forma
desigual, de acordo, em partes, também à sua própria vontade, o que acaba acarretando em
cálculos pouco triviais. Partindo dessa premissa, uma ferramenta como a álgebra foi
O seu funcionamento é muito simples, como veremos a seguir, e ele se baseia nos dois
questão como estando fraturada. Valores e incógnitas são espalhados como são as peças de
das incógnitas envolvidas, será encontrada ao ordenar-se tais peças segundo a lógica do
Balanceamento. Tal lógica surge com a utilização de um objeto muito antigo, com
funcionamento muito simples: uma balança de dois pratos. O peso presente em um dos pratos
da balança só será equilibrado se igual peso for colocado no outro. Quando o mesmo peso é
atingido em ambos os pratos, temos a relação de equilíbrio que nos propiciará uma incrível
Na figura acima, temos, no prato da esquerda, duas pedras ao lado de outras duas
pedras, se equilibrando, com outras quatro pedras do prato da direita. Tal desenho, que
representa objetos da nossa vida cotidiana, pode muito bem ser representado por aquela
conhecidíssima equação:
2 + 2 = 4
Sua lógica, tão cara à matemática moderna, surgiu de uma simples balança de dois
um grande conceito freudiano: a condensação. Aquela grande figura pôde ser reduzida,
pedras do prato da direita; o “ + ” condensa o ato de colocá-las uma ao lado da outra; cada
uma das barrinhas do sinal de ingual, “ = ”, representam cada um dos pratos da balança; e, por
símbolos “ 2 ” envolvidos. Assim sendo, percebemos que uma equação nada mais é que uma
relação em equilíbrio.
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se utilizar de instrumentos como esse, a balança, para poderem dividir sua produção entre
também com outras, também se utilizavam desses instrumentos, já que, desde os tempos
romanos até meados do século XVIII, como escreve Adam Smith em seu Riquezas das
Nações, os preços das mercadorias eram justificados com seu peso em relação ao peso de
Até que, por alguma razão material, e não por missão divina ou coisa assim, mas sim
pela corriqueira curiosidade humana, esse instrumento e essa lógica serviram para descobrir
quantidades ocultas.
desconhecida de pedras representadas por um saquinho etiquetado com a letra “X”. Outro
ponto importante, e não meramente estético, é que os pratos permanecem nivelados, o que
garante que a mesma quantidade de pedras esteja presente em ambos os pratos. Se oito estão à
direita, oito também estão à esquerda. Mas como descobrir o conteúdo do saquinho?
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Antes de mais nada, como já sabemos que a balança, seus pratos, as pedras, e mesmo o
recém chegado saquinho, podem ser simbolicamente traduzidos, teremos a seguinte equação,
X + 3 = 8
Qual é o valor de “X”? Quando tal pergunta é apresentada aos alunos, os mais
espertinhos já logo querem abrir e bisbilhotar o conteúdo encoberto, mas essa atitude
destruiria nosso objetivo, mesmo porque não temos mais saquinho nem pedras, e sim
símbolos da nossa linguagem. Os mais atentos, porém, tendo a figura ainda em mente, logo
começam a manipular as pedras, e percebem que, ao retirar-se qualquer uma delas, a relação
de equilíbrio é perdida, o que até pode assustar e desapontar. Mas os mais corajosos acabam
por perceber que a relação de equilíbrio volta a ser estabalecida quando é retirada a mesma
quantidade do outro prato da balança. Então, para resolver a equação da figura anterior, logo
percebem que devem retirar três pedras de cada um dos pratos. A equação, então, passa a ser
X + 3 - 3 = 8 - 3
É aqui que podemos perceber, mais uma vez, o poder da simbolização. A balança
mas aquele tracinho, o símbolo negativo “ - ”, simboliza, condensa, toda uma atitude de
retirada das pedras. A realidade física não permite tal congelamento no tempo, mas, escritos
X + 0 = 5
X = 5
Se o saquinho fosse aberto, encontraríamos cinco pedras, pois elas ainda estariam lá
dentro. Mas tal procedimento não seria necessário, pois a gravidade, descrita por Newton
séculos atrás, não permitiria erros. Não seria exagero imaginar o sucesso dessa dinâmica
equilibrante, mesmo que, ao lado do “X”, e no outro prato, estivessem outras milhares de
pedras. E tão pouco seria exagero imaginar, não pedras, mas garrafas, potes, carros, litros de
mel, toneladas de cana de açúcar, e quaisquer outros objetos conhecidos ou produzidos pelo
ser humano. Se vale para pedras imaginárias, vale para qualquer outra coisa, desde que a
negativo nos traz. Quando o sinal ficou à esquerda das três pedras, como expresso na balança
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acima, ele significou a retirada daquelas três pedras. Agora não mais. Agora ele representa a
ideia de uma dívida: no prato à esquerda existe uma quantidade desconhecida de pedras, ao
lado de uma dívida de três pedras. Como resolver essa nova equação?
X - 3 = 8
Para prosseguirmos com a resolução, uma boa ideia seria nos lembrarmos o que
fazemos para nos livrar de dívidas. A resposta imediata é única: pagando-a assim que
possível. Como nosso estoque de pedras é ilimitado, assim como é o de números, podemos,
X - 3 + 3 = 8 + 3
X + 0 = 11
X = 11
Mais uma vez acertamos, já que se tivermos onze coisas em mãos, e nos forem
aponta para uma outra lógica subjacente, que nem os mais atentos teriam capacidade de
perceber com tão poucos exemplos. Fazer de tudo para manter e restaurar a relação de
equilíbrio, que é a própria equação, é um passo muito importante, mas é apenas o primeiro.
X + X = 10
vistas ao lado de coisas escondidas; agora, num mesmo prato, apenas coisas escondidas, o “X
+ X”. Além disso, sabemos que devemos fazer, em ambos os lados, a mesma operação
X + X - X = 10 - X
X = 10 - X
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Acabamos por ter uma dívida desconhecida do lado direito. Se, ao invés,
colocássemos outro “X” em cada prato, nossa dificuldade até aumentaria, pois passaríamos a
X + X + X = 10 + X
E se retirássemos dez de ambos os lados, nossa dívida, apesar de conhecida, não nos
ajudaria em nada:
X + X - 10 = 10 - 10
X + X - 10 = 0
ambos os lados, não poderíamos tirar a metade das quantidades presentes nos pratos?
Retiramos um “X” do prato à esquerda, e cinco coisas do prato à direita. Porém, não seriam a
X + X - X = 10 - 5
resultado correto, pois mais do que claro está que “X” contem cinco. Como conciliar tais
lógica e operação? Existe uma forma simbólica e até elegante: substituir “X + X” por “ 2.X ”.
2.X = 10
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do sonho”, já que manipulações dessa monta são feitas no conteúdo latente do sonho, pelo
e a Psicanálise se torna evidente: a equação em questão, assim como os sonhos, podem ser
perfeitamente encarados, escritos, enunciados, como frases, por mais ou menos manipulações
e substituiçõesque que possam sofrer. Com a Matemática, buscamos encontrar valores com a
relação em equilíbrio que mantemos; com os sonhos, nosso inconsciente tenta nos manter
dormindo, buscando manter uma relação de equilíbrio entre conteúdos que não gostaríamos
Mas sigamos com a resolução da nossa equação. Agora, podemos efetuar a mesma
2.X / 2 = 10 / 2
1.X = 5
Eis que surge um número diferente: o um. Neste momento, nos aproximamos de
Lacan quando ele diz que a linguagem matemática nos aproxima do Real real. De onde surgiu
aquele 1? Vejamos nossa equação escrita de uma nova forma, com a inclusão dos “ 1 ”:
1.X + 1.X = 10
Os “1” estavam ali o tempo todo? Ou são apenas inclusões inóquas, já que um número
multiplicado por um resulta nele mesmo? Uma outra pergunta pode surgir, bem estranha mas
muito filosófica, e particularmente característica das linguagens humanas, qualquer que seja
Podemos, agora, nos aventurarmos em outros exemplos, para nos certificarmos de que
o método apresentado é sempre válido e sempre eficaz, podendo até abrir mão da balança.
5.X + 8 = 12 + 3.X
Sem dúvida a equação acima é mais complexa que as demais, mas será solucionada da
será feito do outro, desde que o equilíbrio seja mantido. Uma opção mais imediata seria
deixar os “X” em apenas um dos lados. Para tanto, basta retirarmos três deles de ambos os
lados:
2.X + 8 = 12 + 0
2.X + 8 - 8 = 12 - 8
2.X + 0 = 4
2.X / 2 = 4 / 2
1.X = 2
5.X + 8 = 12 + 3.X
5.(2) + 8 = 12 + 3.(2)
10 + 8 = 12 + 6
18 = 18
cópias dessas coisas no prato direito dessa mesma balança, teríamos um perfeito exemplo de
Voltemos nossos olhos, agora, a exemplos da própria psicanálise. Uma das obras
freudianas mais caras a Jacques Lacan, sem dúvida, era “Os Chistes e a sua Relação com o
Inconsciente”, de 1905. Tal obra é repleta de bons exemplos do que está sendo propondo
neste artigo. Vejamos o primeiro exemplo, um jogo de palavras pertinente à língua alemã,
familionariamente:
Freud flerta com a matemática quando fornece o “quadro diagramático” anterior para
explicar a formação da palavra, que pela falta de um sinal “ + ”, seria de fato um perfeito
exemplo da soma de duas palavras. Mas a nossa mente não apenas soma letras, se assim
podemos dizer, mas também soma conceitos. A nova palavra criada aponta para ambos os
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conceitos de familiaridade e de riqueza, por mais que seja uma riqueza mais específica,
milionária.
Não é difícil perceber que uma relação foi construída com as palavras em questão.
balanceamentos, podemos visualizar que a mesma dinâmica se aplica à nossa psique. Houve
uma manipulação na palavra “familiär”, sendo ela separada em duas partes “famili” e “är”; e
houve o descarte das pontas da palavra “milionär”, restando apenas o “on”. Este pequeno
fragmento foi encaixado no espaço criado e a nova palavra se originou, palavra esta duas
letras maior, mas que aponta, ao mesmo tempo, para dois conceitos bem diversos, o que
demonstra a ideia de balanceamento. E não podemos deixar de notar que a semelhança entre
as duas palavras ajudou enormemente a formação do chiste, e que, para ser compreentendido,
os conceitos de ambas as palavras devem ser conhecidos por todos aqueles que entrarem em
de Frankfurt, narra um sonho de um de seus pacientes, que apresenta outro belíssimo exemplo
de um jogo de palavras; só não é um chiste pois apareceu num sonho. Em dado momento do
portanto, cunhada pelo inconsciente do próprio sonhador. Com um pouco da livre associação,
técnica tão cara aos freudianos, o sonhador associou a palavra a outras duas: Tessália, uma
região da Grécia, e mangual, uma espécie de arma. As associações à tal região da Grécia
foram “com clima regular, onde os pastores vivem em paz e contentes”; e com a arma em
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questão foram “como um substituto às armas que me faltam”. No contexto geral da vida do
paciente, a palavra por ele cunhada, “Tessal”, é uma condensação evidente de ambos os
conceitos que a formam. Se pudéssemos depositar tal palavra no prato esquerdo de uma
balança, deveríamos, no prato direito, depositar ambos os conceitos, e teríamos, então, uma
A Geometria
Apesar da Geometria ter surgido muito antes da Álgebra, cerca de 22 séculos atrás, ou
pelo menos de sua estruturação no livro já citado, nos será mais didático abordá-la a partir de
agora. Isso por um motivo muito importante e até surpreendente: uma arbitrariedade inicial.
Euclides, nos seus Elementos, livro este que funda o campo da Geometria até os dias
“Unidade é aquilo segundo o qual cada uma das coisas existentes é dita uma.”
Esta definição um tanto indigesta pode ser interpretada de várias formas. Podemos
perceber, sem muita demora, que a frase foi escrita de tal forma a apontar para diferenças
entre as ideias que as palavras “unidade” e “uma” nos despertam. Se juntarmos ambas as
palavras em apenas uma expressão, chegamos, por exemplo, àquela famosa ideia das aulas de
Física do colégio: uma unidade de medida. A palavra “uma” aponta para aquela
individualidade do grupo de medidas; já a palavra “unidade” aponta para o que ela é, para o
unidade, e o “um” apenas nos diz a quantidade de indivíduos que foram considerados. Um
outro exemplo: quando pensamos em “uma faca” pensamos que apenas um indivíduo,
representado pela palavra “uma”, foi considerado de dentro de uma definição, ou grupo de
Lacan. Os significantes S1 são espécie de significantes mestres, aqueles que vão impressionar
linguagem, formando assim parte daquele registro do Real, ideia lacaniana controversa até os
dias de hoje.
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Aquela arbitrariedade inicial está presente nessa lógica lacaniana, pois não há como
saber quais impressões se darão àquele indivíduo. Poderá ser um olhar desapontado do pai
quando a filha escolher um carrinho; ou poderá ser uma fala pejorativa da mãe em relação aos
homens. O importante, até este ponto, é nos atermos a essa arbitrariedade inicial, que, assim
como os indivíduos, marca também a Geometria. Podemos ilustrar tal ideia com a figura
Continuando com Euclides, ele define, logo após a unidade, o que chamou de número,
que, infelizmente, não é uma definição muito presente nos nossos livros de escola. Euclides
diz o seguinte:
Com esta definição e com os exemplos da figura acima, podemos perceber os limites
futuro, ou seja: aquela escolha não poderá ser ignorada, ou mesmo substituída de fato. Na
Geometria, a escolha da medida que representará a unidade não poderá jamais ser mudada
sem modificar o que já foi construído; já na psique humana, a depender dos demais
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caso do Homem dos Ratos, onde o jovem soldado, com o auxílio de Freud, vai entendendo, e
assim, desfazendo a influência do significante “rat” em toda a história da sua vida e da sua
doença.
que foi abordado nas equações do capítulo anterior. Os “X” não eram acompanhados pelos
números “ 1 ”, sendo que estes últimos apareceram depois, se assim podemos dizer. De certa
forma, e também como uma provocação filosófica, o número “ 2 ” surge antes do surgimento
do número “ 1 ”, já que é só na nossa mente que podemos perceber alguma coisa ao lado de
outra coisa.
Euclides também aponta para certas conclusões lógicas que, não sem razão, regem
“As coisas iguais à mesma coisa são também iguais entre si.
uma caneta verde seja exatamente igual a uma outra caneta verde ao seu lado; ou que um
pacote de folhas de sulfite tenha folhas exatamente iguais entre si. Mas são estas constatações
provas? Será que os tons de verde e branco percebidos por uma pessoa são exatamente iguais
aos percebidos por outra? Dizem que os esquimós conseguem perceber mais de uma dezena
de tons de branco, quantidade bem maior que um olho ocidental comum; e os daltônicos tem
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dificuldades na distinção entre as cores verde e vermelho, o que tornaria nossa canetas
vermelhas, e não verdes. Parece que a igualdade das coisas depende dos olhos de quem olha, e
Ainda assim, o que Euclides acreditava ser verdade, pode ser comprovado
equilibra C. Ou seja:
Se A = B e C = B, então A = C
depois de ser sido proferida, e com uma ferramenta a prova das flutuações do “bom senso”,
A segunda noção euclidiana faz perfeitamente justiça à Psicanálise (talvez mais até
que à própria Geometria). O termo “ajustar” é a chave das nossas dinâmicas inconscientes. No
caso das fobias, por exemplo, já que a angústia liberada não deve ter a memória geradora
relembrada, ela acaba sendo ligada, entre outros destinos, à dinâmicas inequivocamente
associadas ao sexo, como micção, sujeira ou contágio, como escreve Freud no seu “As
Neuropsicoses de Defesa”. Voltando nosso olhar para exemplos mais cotidianos, o próprio
Freud confessa que quebrou seu tinteiro acidentalmente, horas depois das queixas de uma de
suas irmãs acerca da decoração do seu escritório, dizendo que o tal tinteiro não mais ornava
com o cômodo. Para o nosso inconsciente, quando uma coisa se ajusta a uma outra, não há
da obra de Euclides, ele comenta dois casos bastante simples, que, para este autor, são mais
do que verdades absolutas, mas que, sem a devida prova matemática, são só postulados.
“Caso um número cubo, tendo multiplicado a si mesmo, faça algum, o produzido será um
cubo.”
Interpretando de forma mais amigável, Euclides quer dizer que um número ao cubo,
tendo sido multiplicado por ele mesmo, resultará em um outro número ao cubo. O
n³ . n³ = m³
Não temos outra opção, aqui, que não a de recorrer a uma regra desenvolvida pelo
mais consiste do que três desse número multiplicados entre si. Ou seja:
n³ = n . n . n
obteremos:
( n . n . n ) . ( n . n . n ) = m³
n . n . n . n . n . n = m³
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Agora, precisamos de uma outra balança, ou seja, precisamos recorrer a uma outra
relação em equilíbrio, que nos garanta uma substituição simbólica pertinente. Podemos
atribuir a cada dupla de “n” multiplicados entre si, como equilibrando, sendo igual, a “m”. Ou
seja:
m = n . n
( n . n ) . ( n . n ) . ( n . n ) = m³
m . m . m = m³
Com esta última equação, constatamos que Euclides estava certo, já que:
m³ = m³
O segundo e último caso segue a mesma lógica, mas é levemente diferente. Euclides
sentencia o seguinte:
“Caso um número cubo, tendo multiplicado um número cubo, faça algum, o produzido será
um cubo.”
Traduzindo para uma linguagem mais coloquial, por assim dizer, o que Euclides diz é
que se um número ao cubo for multiplicado por um outro número ao cubo, o resultado será
n³ . p³ = m³
Se escrevermos, mais uma vez, as formas não abreviadas dos números elevados ao
( n . n . n) . ( p . p . p ) = m³
convenientes metonímias, podem nos ajudar enormemente, a perceber o que, de outra forma,
n . p . n . p . n . p = m³
( n . p ) . ( n . p ) . ( n . p ) = m³
Note que as únicas mudanças efetuadas foram a formação de três pares de letras, e a
inclusão dos parênteses. Os mais atentos já notaram que o próximo passo desta prova
n . p = m
m . m . m = m³
m³ = m³
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A prova que acabamos de realizar tem uma ligação muito pertinente ao que Lacan
ressaltava em seus ensinos. No livro “Meu Ensino”, composto por três conferências
realizadas na Europa, ao final da década de 1960, após o lançamento dos seus Escritos, Lacan
“Para fazer nossa ciência, não foi na pulsação da natureza que entramos, não. Fizemos
dançar pequenas letras e pequenos algarismos, e foi com isso que construímos máquinas que
andam, que voam, que se deslocam no mundo e que vão bem longe.”
Lacan não poderia ter sido mais acertivo ao falar das nossas Ciências. Presentes nos
que foram esses dois últimos. Ao longo de toda a história da Matemática, temos os mais
variados exemplos de provas como estas, conseguidas com a substituição de certos outros
rearranjos, também ótimos exemplos de metáforas. Usadas em conjunto muitas vezes, e sem
relaçãod em equilíbrio, a nossa psique se utiliza dos mesmos procedimentos, evitando assim
altas doses de ansiedade, ou do desprazer delas decorrente. Enquanto que com as nossas
ciências buscamos desvendar e nos aprofundar cada vez mais no Real, na nossa vida cotidiana
buscamos cada vez mais afastar, ou nos esconder, de sentimentos e desejos reais. Avançando
pessoas, tanto ditas normais quanto ditas neuróticas. Vejamos o que podemos considerar
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acerca de um exemplo verdadeiro. Em dado momento de um sonho, uma jovem com traços da
“Do outro lado da rua está uma turma de amigos meus, e eles estão rindo de mim, me
A associação fornecida pela paciente para tal expressão, “garota do toddynho”, foi
apenas uma: “chocolate”. Para uma interpretação possível desta cena do sonho, poderíamos
sonho”. Assim como Euclides disse que “as coisas que se ajustam uma à outra são iguais
entre si”, assim fez o sonho, já que a garota e o chocolate compartilham, se ajustam, à cor
negra.
Quando é interpretada pelo analista, aquela grande equação, aquela grande metáfora,
ganha outro sentido e acaba sendo revelada, e um certo conteúdo, uma parcela racista de sua
própria psique, foi exposta à parcela consciente. Quando a paciente ouve tal interpretação,
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baseada também, claramente, em muitos outros sonhos e informações sobre a sua vida e o seu
afunda na poltrona e se defende com uma almofada, que, até aquele momento, nenhuma
importância tinha, o que corrobora com a interpretação do analista. Nas semanas seguintes
foram notáveis as mudanças na relação que a sonhadora tinha com o próprio corpo, com a
própria raça.
Um outro caso, também real, porém fornecido em aula. O paciente narra ao analista o
“Estou fugindo de três cachorros. Em dado momento me livro de dois deles, mas não consigo
Mais uma vez, baseado nas associações que o paciente forneceu ao analista, e a todas
substituições puderam ter sido feitas, e as seguintes relações puderam ter sido estabelecidas:
fugindo de três cachorros / me livro de dois / fazer o terceiro soltar minha calça
O paciente tinha três irmãos, dos quais dois, não tendo curso superior como o próprio
paciente não tinha, foram vencidos por outras características; enquanto que o terceiro irmão, o
cachorro que o segurava pela calça, impedindo sua corrida, tinha um curso superior no seu
currículo, o que intimidava o sonhador. Uma interpretação que seguiu a mesma dinâmica da
Os Reais
Em uma entrevista coletiva realizada em Roma, em outubro de 1974, Lacan deixa bem
claro que o Real do qual ele sempre fala não é o real Real, aquele conseguido pelas nossas
ciências, mas sim é algo de mais próximo a nós, por mais que ainda seja impossível de ser
simbolizado, de ter sentido conferido. Lacan nos oferece, por exemplo, que o sintoma é a
manifestação dessa categoria em nosso nível de seres vivos. Mas por que tal separação entre
os Reais?
Um pouco antes disso, entre o fim de 1971 e início de 1972, acerca de uma das suas
“O real existe antes que pensemos nele, mas a relação, essa é muito mais duvidosa.
Não só é preciso pensá-la, como é preciso escrevê-la. Se vocês não são capazes de escrevê-
O início da frase “o real existe antes que pensemos nele” aponta para a ideia que
muitos matemáticos tinham ao encarar suas descobertas, seus avanços. A própria palavra
“descoberta”, derivada do verbo “descobrir”, aponta para a ideia de que uma coberta foi
retirada e algo foi revelado. É difícil refutar tal ideia quando não temos tantos exemplos
matemáticos assim, e mais difícil ainda, quando revisitamos as dinâmicas das balanças deste
trabalho, quando elas apontam, claramente, para a descoberta dos valores de X. Mas não
podemos nos esquecer de duas situações acerca dos nossos exemplos: nós não precisamos
encoberta, e não podemos nos esquecer de que aquelas práticas foram inventadas por alguém,
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após, com certeza, inúmeras outras tentativas, já que Mohammed ben Musa foi, também, um
grande compilador das ideias que circulavam à sua época, assim como Euclides.
ciências. Lacan explica que se não pudermos escrevê-la, a relação não existirá. Claramente ele
acredita e ensina que o real permanece existindo mesmo se nenhuma relação com ele for feita,
ou escrita. Não conseguiremos, a partir daqui, novas reflexões se não tomarmos alguns
exemplos científicos. A descoberta matemática que pode abalar essa ideia é a segunda
Consideremos um simples quadrado e sua cópia idêntica. Suas áreas são idênticas
entre si, mas as escreveremos de formas distintas, dividindo seus lados não em partes iguais,
O quadrado da esquerda terá como área “X” multiplicado por “X”, como segue a
equação:
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A = X.X
Com essa simples equação, de quebra, podemos perceber que multiplicar dois
outro, como está o “X” à esquerda, em relação ao “X” que está na base. Infelizmente, tal
noção é muito pouco explorada nas nossas escolas, o que ajudaria muito no aprendizado das
Quando olhamos para o quadrado da direita, lembrando que o lado “X” foi quebrado
em duas partes desiguais, “a” e “b”, teremos a seguinte equação, perfeitamente pertinente ao
visível:
X = a + b
Quando substituímos os “X” pelo novo conteúdo, teremos a equação da área reescrita
da seguinte forma:
A = (a + b).(a + b)
Aqui não sabemos muito bem o que está acontecendo, já que nunca antes dois
números em separado foram multiplicados entre si. Porém, ao voltarmos novamente nosso
olhar para a figura, podemos constatar que a área total da figura é a soma das menores áreas
formadas pela quebra da medida “X”. Podemos considerar então, sem medo de errar, que a
A = A1 + A2 + A3 + A4
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Agora, basta encontrarmos as relações pelas quais cada área menor é estabelecida,
lembrando que todas devem envolver as medidas escritas na figura, e se basear na figura.
São elas:
A1 = a . a
A2 = a . b
A3 = b . a
A4 = b . b
Quando substituímos todas essas equações na equação da área total, obtemos que:
A = (a . a) + (a . b) + (b . a) + (b . b)
Podemos notar aqui, que duas áreas são muito parecidas: “a . b” e “b . a”. Quando
voltamos nossos olhos para a figura originadora, podemos confirmar que ambas são iguais
entre si, portanto, tendo a mesma área, porém uma está em “pé” e a outra “deitada”. Assim
sendo, podemos finalizar esta etapa da seguinte forma, como já fizemos no primeiro capítulo:
Já que a área maior será sempre igual à ela mesma, não importando a forma de sua
( a + b )² = a² + 2ab + b²
Todas essas equações e simbolizações diferentes não nos mostraram nada de novo, é
verdade, mas vejamos o que acontece quando dividimos o nosso quadrado de um jeito bem
O novo quadrado maior da direita apresenta, agora, cinco figuras, e não mais quatro.
De cara já podemos notar que as aŕeas de 1, 2, 3 e 4, são iguais entre si, apenas estando, como
bem, tal figura não pode ser outra figura se não um pequeno quadrado, e, sendo um quadrado,
sua área é a medida do seu lado multiplicada por ela mesma. Mas qual é a medida do seu
lado? O maior lado do retângulo 4 é “a”, assim como o de qualquer outro retângulo presente;
porém, no seu canto superior esquerdo, temos o lado menor do retângulo 1, que é “b”, e, logo
ao lado, temos a base do quadrado 5. Para descobrirmos a medida dessa base, basta retirarmos
a medida “b” da medida “a”, ou seja: “a – b”. Para construirmos tal visualização, basta que,
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com uma folha, ou caneta, deslizemos, da esquerda para a direita, até que a base do retângulo
Agora, vejamos o que temos em mãos: quatro áreas iguais entre si, e uma menorzinha,
de lado “a – b”. O quadrado maior continua o mesmo, portanto as equações relacionadas à sua
área, que já foram apresentadas, continuam válidas; e também continuam idênticas as medidas
“a” e “b”, portanto, os quatro retângulos são perfeitamente iguais aos já apresentados. Assim
sendo, uma nova equação para a grande área poderá ser escrita:
A = 4.a.b + (a - b).(a - b)
A = 4.a.b + ( a - b )²
Pela primeira vez na História da Humana, temos multiplicados entre si, dois números
negativos, os números “ - b ”. Nunca havíamos precisado nos preocupar com os sinais, pois
até então, só havíamos multiplicado números positivos por números positivos. Agora,
Como as equações anteriores ainda são válidas, pois são os mesmos quadrados
A = A
4ab + ( a - b )² = a² + 2ab + b²
A mesma regra explicada, a do balanceamento, pode e deve ser utilizada nesta nova
equação, fazendo de um lado o que for feito do outro. Como o alvo de nossa investigação é
( a - b )² = a² + b² - 2ab
( a - b )² = a² - 2ab + b²
Se invertermos o processo que nos utilizamos para encontrar a multiplicação dos dois
( + a ) . ( + a ) = a²
( - b ) . ( - b ) = + b²
chegamos a duas constatações que não havíamos como imaginar de antemão: um número
dois números negativos entre si origina um número positivo. Não é a toa que muitos
que Lacan considera pertencentes ao “Real real”. Se não considerarmos tal resultado como
válido, mesmo tendo sido ele produto de considerações humanas, não teríamos avançado
céticos poderão argumentar que essas ditas descobertas nunca teriam acontecido se pessoas
pergunta que surge agora, e com a máxima potência, é: tais constatações foram descobertas
ou construídas?
Se foram descobertas, podemos inferir que o Real real existe de fato, e que existe
ainda muito a ser descoberto; porém, se foram construídas, podemos desconsiderar tal Real
real, e que, para novos avanços matemáticos e científicos, o que nos falta são as marcas e
lógica corretas, nada além disso, e tais descobertas, não passarão de puramente avanços.
Imaginário”, do físico e professor Aguinaldo Prandini Ricieri. Para esta avaliação já temos
Tal conceito é muito simples: dado um número qualquer, por exemplo o 25, devemos
considerá-lo como sendo a área de um quadrado, e sua raiz quadrada correspondente, nada
mais será do que a medida do lado deste quadrado, ou seja, 5, assim como o nosso quadrado
anterior, de área igual a “X.X”, tem como lado a própria medida “x”. Questões relacionadas
aos lados dos quadrados, às raízes quadradas, são questões muito abordadas pelo livro mais
fato, existentes na nossa realidade material, como camelos, porções de terras, escravos, e
quantidades de água, então, as respostas a tais problemas eram todas números maiores que
zero.
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Como já vimos que o desenho de uma balança, o símbolo de uma balança, é muito
mais poderoso que a própria balança, podemos imaginar, por exemplo, qual seria a raiz
quadrada de um quadrado de área negativa. O símbolo da raiz quadrada, “√”, como tal,
permite a escrita de qualquer outro símbolo no seu “interior”. E também já aprendemos que,
para simbolizarmos uma dívida, basta que escrevamos o sinal negativo “ - ” antes do número,
número negativo poderá ser obtido pela multiplicação de dois números de sinais iguais, pois a
um negativo. Porém, não sendo iguais dois números de sinais diferentes, mesmo a
representem a raiz quadrada de um número negativo, mas a simbolização nos permite sem
moderna e seremos fieis à uma das antigas, escrevendo “raiz quadrada de menos um” da
rq( -1 ) = i
Assim nasceu o “número imaginário”. Seus múltiplos deram origem a todo um novo
grupo de números, pois, por mais incrível que pareça, tais números aparecem nas mais
i . i = i² = - 1
manipulações e substituições.
rq( -1 ) = rq( -1 )
Já que qualquer número dividido por “ 1 ” resulta nele mesmo, então não haverá
Agora, inverteremos o lado direito, amparados no fato que tanto “( -1 )/ 1” como “1/( -
Para avançarmos, deveremos nos utilizar de uma propriedade das raízes quadradas que
Ou seja:
numerador da direta, e vice-versa, e podemos fazê-lo, pois tal ato seria o mesmo que
multiplicarmos ambos os lados da equação por cada um dos denominadores, cada um a seu
i . i = i² = 1
i . i = i² = -1
O que deu errado? Ou, como pergunta o próprio professor Ricieri, implicitamente,
Discussão
O paradoxo anterior nos mostra que, aparentemente, existe algum furo em algum
lugar, ou algum erro foi cometido. Porém, todas as substituições são pertinentes e igualmente
válidas. Não existe furo, só existem manipulações. Mas quem é manipulado? E se existem
apenas manipulações, quando o Real real é atingido? E o que podemos dizer sobre as
equações? Estariam sendo reveladas verdades ocultas, assim como os antigos matemáticos
primatas, tornando-a o que conhecemos hoje como a espécie dos “homo sapiens sapiens”. Em
outro dado momento da história desta nova espécie, outra invenção surgiu: a balança de dois
misturou essas duas invenções, tendo percebido uma lógica muito útil na resolução de
problema complexos. Em seguida, novas técnicas e símbolos produzidos por vários outros
representantes dessa espécie, os agora chamados cientistas, seguindo esta mesma lógica,
foram reforçando cada vez mais a sua validade e pertinência. Porém, manipulando tais
símbolos, começaram a perceber buracos, falhas, incoerências, tais como esta última
perceber que o que de fato existe, as únicas coisas que existem na nossa realidade física e
palpável, são: a balança, as pedras, e os sacos. Além destas, existe também uma dinâmica
que já estava exercendo sua influência desde muito antes de quaisquer uma delas ter passado a
existir, e que, sem ela, não existiram: a gravidade. É esta “lei”, muito pouco explicada ainda
hoje, que conferiu àqueles homens a garantia da relação em equilíbrio dar certo. No momento
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em que o primeiro algarismo “ 1 ” foi escrito, já foi estabelecida uma grande primeira
mentira, uma grande enganação, uma grande ilusão, porém muito útil. Assim como qualquer
outra palavra, é bem verdade, os algarismos não passam de setas apontando para coisas, para
A nossa psique parece funcionar, como ensinou Freud no seu “Para Além do Princípio
do Prazer”, seguindo uma lógica que busca restaurar um estado anterior de coisas. Mas que
estado seria este, apresentado sob essa ótica da Álgebra? A única resposta possível é a
seguinte: equilíbrio. A nossa psique, durante o sono, produz o sonho para guardar o próprio
sono, tentando evitar uma dose suficientemente grande de ansiedade. A nossa psique, com a
produção de um chiste, por exemplo, consegue satisfazer duas intenções ao mesmo tempo,
manifestando uma ideia e deixando uma outra latente, muitas vezes contrária à primeira.
dinâmicas apontarem para algo sobre a Natureza a sempre ser descoberto, relevado; e do
verdades e novos conteúdos. Qual das duas está correta? Vejamos o que mais temos.
Os saquinhos com pedras foram postos assim por alguém, por alguma consciência que
tinha intenções orientadas. Como já foi dito anteiormente, tudo estava ali, a disposição, nada
tendo sido criado do nada. Assim também pode ser considerado sobre a nossa psique: as
memórias, sensações, as letras e palavras, já estavam ali, prontas a serem utilizadas com os
mais variados intuitos, sendo muitos deles não muito convenientes moralmente falando,
qualquer que seja a moral em questão. Não havia nada sendo criado, a não ser novas misturas
e relações com esses materiais. O racismo da garota negra já estava ali, recalcado, escondido,
sendo apenas camuflado no sonho; a adversidade com os irmãos também, só que há muito não
intervenção lacaniana executado pelo próprio Lacan, também tinha tudo o que era necessário:
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a sonoridade das expressões sendo muito próximas aos dois idiomas; o que faltava era o suave
toque no rosto da paciente. Nada de novo foi criado, e nem revelado, mas sim uma nova
relação foi construída, e muito útil, vale a pena dizer. Mas e o Real real?
A ideia de que o Real que Lacan diz ser alcançado pelas pequenas equações parece ter
um problema. O enigma que foi apresentado, expõe, não uma falha na lógica da balança, mas
sim uma consquência da própria simbolização. O simbolo problemático ali é o sinal negativo,
o “ - ”, que, mudando de lugar, engana e desvia o olhar do leitor, não diferente do que
“rq( -1 )” do símbolo, do saquinho, “i”. Enquanto este saquinho não é aberto, nenhuma
dinâmica é afetada, e tudo corre muito bem; mas quando o laço é desfeito e o conteúdo é
exposto, lá se vai a harmonia; muito parecido com algumas situações psicanalíticas. Enquanto
o “toddynho” estava ali, fechado, não existia racismo; e enquanto os três cachorros eram
apenas três cachorros, nenhuma adversidade estava à tona. Mas claro está que, quando esses
conteúdos são expostos, os sonhadores podem fazer alguma coisa a respeito. Talvez novas
“descobertas” científicas só serão possíveis com novos símbolos; e, talvez, novos conteúdos
só serão produzidos quando novas impressões, novas relações, novas imagens e símbolos,
forem produzidos. Antes disso, porém, o Real real e o Real Lacaniano permanecerão
inexistentes.
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Referências Bibliográficas
FREUD, S. Duas Histórias Clínicas (o “Pequeno Hans” e o “Homem dos Ratos”). Edição
Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. VII. Rio
de Janeiro: Imago, 2006.
FREUD, S. A Interpretação dos Sonhos (1900). Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud, vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
LACAN, J. Estou Falando com as Paredes. Série Paradoxos de Lacan. Rio de Janeiro:
Zahar, 2005.
LACAN, J. Meu Ensino. Série Paradoxos de Lacan. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
ROSEN, FREDERIC. The Algebra of Mohammed Ben Musa. Arquivo PDF, Universidade
da Califórnia. Londres: Oriental Translation Fund, 1831.
SMITH, A. Riqueza das Nações. Coleção Folha Livros que Mudaram o Mundo. São
Paulo: Levoir, 2010.
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