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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

BRUNO PRÍNCIPE NASTÁCIO ADIPIETRO

A ÁLGEBRA E O REAL NOS ENSINOS DE LACAN

São Paulo

2019
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

BRUNO PRÍNCIPE NASTÁCIO ADIPIETRO1

A ÁLGEBRA E O REAL NOS ENSINOS DE LACAN

Trabalho apresentado ao Laboratório de


Psicanálise, Saúde e Instituição da Universidade
de São Paulo (LABPSI-USP), como parte dos
requisitos para obtenção de certificado na
disciplina Clínica Psicanalítica Lacaniana.

Coordenadora: Profa. Dra. Eliane Costa Dias

São Paulo

2019

1
Endereço de e-mail: brunoprincipe@hotmail.com.
No início era o Instinto,

e este, mais o Verbo,

se fez Pulsão.
SUMÁRIO

Resumo 2

Justificativa 3

Objetivos 3

Método 3

Introdução 4

A Álgebra 6

A Geometria 19

Os Reais 30

Discussão 41

Referências Bibliográficas 44
RESUMO

Os capítulos deste artigo sobre a Álgebra e a Geometria, compreenderão as lógicas e


dinâmicas destes campos de estudo, bem como exemplos reais aplicados à dinâmica da
psicanálise, apresentando paralelos entre si. O capítulo sobre os “reais”, expõe teoremas que
são perfeitos exemplos da junção da Álgebra com a Geometria, e que permitiram conclusões
matemáticas irrefutáveis. Já o capítulo das discussões, o último do artigo, estabele os
paralelos possíveis entre todos os campos abordados anteriormente, e quais as conclusões
possíveis de serem extraídas.

Palavras-chave: psicanálise, Lacan, real, matemática, álgebra, Freud.


3

Justificativa

Existem muitas controvérsias acerca de como Lacan conceituava o seu Real, e como

as ciências exatas descobrem o Real real. Com base nas obras presentes neste artigo,

avaliaremos tais controvérsias, avançando possivelmente, mas não obrigatoriamente, nas suas

conclusões.

Objetivos

O presente artigo visa apontar paralelos e posições, tanto contrárias quanto favoráveis,

entre a Álgebra e o campo do Real, nos estudos do psicanalista Jacques Lacan. Como o

próprio citado dizia: “o verdadeiro real é aquele ao qual podemos ter acesso por um caminho

bem preciso […] o caminho das pequenas equações.”

Método

Este artigo tem por objetivo realizar um estudo comparativo junto a uma revisão da

literatura matemática e psicanalítica sobre o tema da pesquisa, envolvendo: o real lacaniano,

álgebra e geometria, e a psicanálise freudiana. Serão utilizados como material bibliográfico,

sobre o Real na psicanálise lacaniana, a série de livros Paradoxos de Lacan, composta por

uma série de conferências e entrevistas transcritas, num período que abrange o meio do ano de

1953, até o fim do ano de 1974. Outro material a ser trabalhado, serão os livros Os Chistes e

a sua Relação com o Inconsciente, e Sobre a Psicopatologia da Vida Contidiana, ambos

de autoria de Sigmund Freud. E, por conseguinte, relacionar as dinâmicas da Álgebra e da

Matemática, em geral, para os paralelos possíveis.


4

Introdução

A Álgebra e a Geometria, as bases da matemática cartesiana, estão presentes no

pensamento humano há muitos séculos. Euclides, o primeiro geômatra grego propriamente

dito, deixou em seus Elementos um vasto número de regras e postulados válidos até hoje, e

que também permitiram o surgimento de muitos outros, ainda mesmo no mundo antigo.

Escrito há mais de 22 séculos, esta obra estabelece relações que qualquer pessoa mais atenta

aos números poderia perceber, como por exemplo o fato de números ímpares, quando

multiplicados por números pares, sempre resultam em números pares.

Em algum momento do século IX da era cristã, o primeiro algebrista propriamente

dito, Abu Abdallah Mohammed ben Musa, introduziu à cultura humana uma técnica

revolucionária para a resolução de problemas algébricos, que nasceu da mistura de saquinhos,

pedras, e balanças de dois pratos. Esta técnica é incrivelmente útil e válida até os dias de hoje,

e possibilitou, como insumo, grandes descobertas matemáticas.

Mas foi apenas com René Descartes, no ano de 1637, no livro Discurso Sobre o

Método, que uma relação entre as noções e postulados de Euclides e a técnica de Mohammed

bem Musa foi estabelecida de forma a se tornar uma inigualável ferramente filosófica. Com o

objetivo de entender como Deus havia construído as coisas do mundo, bem como o próprio

mundo, o advogado e filósofo francês cunha o que chamamos, desde então, de Matemática.

Após cerca de 250 anos, Sigmund Freud, médico vienense, começa a perceber certos

padrões em alguns de seus pacientes, e surge com a ideia de um sofrimento diferente, um

sofrimento com causas estranhas ao doente, relacionadas a lembranças, memórias, cultura e

moral. Em 1900, com o seu famoso A Interpretação dos Sonhos, Freud inaugura um campo

de estudos, bem como uma terapêutica, a Psicanálise, baseado na percepção de que o ser

humano age sem nem saber que está agindo, ou seja, que o ser humano também age com base
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em pensamentos inconscientes. Ele estrutura toda a sua nova terapêutica através da fala, do

discurso em palavras, com assuntos que vão surgindo em um processo de livre associação,

enquanto o analista vai ouvindo e fazendo pontuações, fazendo perguntas, e dando

devolutivas.

Nessa mesma linha de raciocínio, segue o também médico e psicanalista Jacques

Lacan, que, resgatando os textos freudianos e percebendo que o inconsciente se estrutura

como uma linguagem, avança nesse campo de estudos, e apresenta um novo ponto de vista no

qual a psique humana atua em três registros distintos e imprescindíveis uns aos outros: Real,

Simbólico, e Imaginário. É sobre o primeiro deles, o Real, juntamente com o Real das

ciências, o que será abordado neste artigo. Quais são os paralelos possíveis entre a

Matemática e a Psicanálise?
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A Álgebra

Ao que tudo indica, a Álgebra foi estruturada e apresentada ao mundo pelos primeiros

muçulmanos, no início do século IX da era cristã. Na obra entitulada “Compêndio sobre o

Cálculo por Restauração e Balanceamento”, de autoria de Abu Abdallah Mohammed ben

Musa, mais conhecido por Al-Khwarizmi, temos a álgebra como ferramenta de solução dos

mais variados problemas envolvendo partilha de bens e heranças. Na religião muçulmana não

existe a obrigatoriedade, ao contrário da cristã, de um pai dividir igualmente seus bens entre

seus filhos, onde cada um recebe a mesma quantidade que os outros. Alláh, Deus, na visão

daquela religião, não se preocupa com a partilha igualitária, mas sim pelo respeito a certas

regras por Ele pré estabelecidas no Corão. O proprietário partilha seus bens de forma

desigual, de acordo, em partes, também à sua própria vontade, o que acaba acarretando em

cálculos pouco triviais. Partindo dessa premissa, uma ferramenta como a álgebra foi

imprescindível para tais soluções.

O seu funcionamento é muito simples, como veremos a seguir, e ele se baseia nos dois

conceitos que entitulam a obra fundadora da Álgebra: Restauração e Balanceamento. O

conceito de Restauração se orienta a descobrir um valor que está escondido, considerando a

questão como estando fraturada. Valores e incógnitas são espalhados como são as peças de

um quebra-cabeças recém retirado da caixa, e a solução do problema, o cálculo dos valores

das incógnitas envolvidas, será encontrada ao ordenar-se tais peças segundo a lógica do

Balanceamento. Tal lógica surge com a utilização de um objeto muito antigo, com

funcionamento muito simples: uma balança de dois pratos. O peso presente em um dos pratos

da balança só será equilibrado se igual peso for colocado no outro. Quando o mesmo peso é

atingido em ambos os pratos, temos a relação de equilíbrio que nos propiciará uma incrível

ferramenta, fundamental à Matemática moderna. Vejamos um exemplo.


7

Na figura acima, temos, no prato da esquerda, duas pedras ao lado de outras duas

pedras, se equilibrando, com outras quatro pedras do prato da direita. Tal desenho, que

representa objetos da nossa vida cotidiana, pode muito bem ser representado por aquela

conhecidíssima equação:

2 + 2 = 4

Sua lógica, tão cara à matemática moderna, surgiu de uma simples balança de dois

pratos, que se orienta única e exclusivamente a equilibrar quantidades. E aqui esbarramos em

um grande conceito freudiano: a condensação. Aquela grande figura pôde ser reduzida,

condensada, em quatro pequenos símbolos: os “ 2 ” condensam cada uma das duplas de

pedras do prato da direita; o “ + ” condensa o ato de colocá-las uma ao lado da outra; cada

uma das barrinhas do sinal de ingual, “ = ”, representam cada um dos pratos da balança; e, por

fim, o “ 4 ” condensa as pedras do prato da direita, além de condensar também os próprios

símbolos “ 2 ” envolvidos. Assim sendo, percebemos que uma equação nada mais é que uma

relação em equilíbrio.
8

Todas as sociedades humanas que desenvolveram noções de agricultura, tiveram que

se utilizar de instrumentos como esse, a balança, para poderem dividir sua produção entre

seus habitantes. Aquelas sociedades que também aprenderam a comercializar internamente e

também com outras, também se utilizavam desses instrumentos, já que, desde os tempos

romanos até meados do século XVIII, como escreve Adam Smith em seu Riquezas das

Nações, os preços das mercadorias eram justificados com seu peso em relação ao peso de

algum material, como o bronze.

Até que, por alguma razão material, e não por missão divina ou coisa assim, mas sim

pela corriqueira curiosidade humana, esse instrumento e essa lógica serviram para descobrir

quantidades ocultas.

Na figura acima, temos, ao invés de apenas quantidades conhecidas, uma quantidade

desconhecida de pedras representadas por um saquinho etiquetado com a letra “X”. Outro

ponto importante, e não meramente estético, é que os pratos permanecem nivelados, o que

garante que a mesma quantidade de pedras esteja presente em ambos os pratos. Se oito estão à

direita, oito também estão à esquerda. Mas como descobrir o conteúdo do saquinho?
9

Antes de mais nada, como já sabemos que a balança, seus pratos, as pedras, e mesmo o

recém chegado saquinho, podem ser simbolicamente traduzidos, teremos a seguinte equação,

a seguinte relação em equilíbrio:

X + 3 = 8

Qual é o valor de “X”? Quando tal pergunta é apresentada aos alunos, os mais

espertinhos já logo querem abrir e bisbilhotar o conteúdo encoberto, mas essa atitude

destruiria nosso objetivo, mesmo porque não temos mais saquinho nem pedras, e sim

símbolos da nossa linguagem. Os mais atentos, porém, tendo a figura ainda em mente, logo

começam a manipular as pedras, e percebem que, ao retirar-se qualquer uma delas, a relação

de equilíbrio é perdida, o que até pode assustar e desapontar. Mas os mais corajosos acabam

por perceber que a relação de equilíbrio volta a ser estabalecida quando é retirada a mesma

quantidade do outro prato da balança. Então, para resolver a equação da figura anterior, logo

percebem que devem retirar três pedras de cada um dos pratos. A equação, então, passa a ser

expressa da seguinte forma:

X + 3 - 3 = 8 - 3

É aqui que podemos perceber, mais uma vez, o poder da simbolização. A balança

existe fisicamente, as pedras existem fisicamente, e o saquinho também existe fisicamente,

mas aquele tracinho, o símbolo negativo “ - ”, simboliza, condensa, toda uma atitude de

retirada das pedras. A realidade física não permite tal congelamento no tempo, mas, escritos

em um pedaço de papel, tais símbolos permitem.

Prosseguindo com a resolução da nossa equação, chegamos ao seguinte resultado:


10

X + 0 = 5

X = 5

Se o saquinho fosse aberto, encontraríamos cinco pedras, pois elas ainda estariam lá

dentro. Mas tal procedimento não seria necessário, pois a gravidade, descrita por Newton

séculos atrás, não permitiria erros. Não seria exagero imaginar o sucesso dessa dinâmica

equilibrante, mesmo que, ao lado do “X”, e no outro prato, estivessem outras milhares de

pedras. E tão pouco seria exagero imaginar, não pedras, mas garrafas, potes, carros, litros de

mel, toneladas de cana de açúcar, e quaisquer outros objetos conhecidos ou produzidos pelo

ser humano. Se vale para pedras imaginárias, vale para qualquer outra coisa, desde que a

relação em equilíbrio se mantenha.

Vejamos um próximo exemplo, porém, com números negativos envolvidos.

É impossível, como já foi dito, representar materialmente a ideia que o símbolo

negativo nos traz. Quando o sinal ficou à esquerda das três pedras, como expresso na balança
11

acima, ele significou a retirada daquelas três pedras. Agora não mais. Agora ele representa a

ideia de uma dívida: no prato à esquerda existe uma quantidade desconhecida de pedras, ao

lado de uma dívida de três pedras. Como resolver essa nova equação?

Primeiramente devemos traduzir para a nossa linguagem:

X - 3 = 8

Para prosseguirmos com a resolução, uma boa ideia seria nos lembrarmos o que

fazemos para nos livrar de dívidas. A resposta imediata é única: pagando-a assim que

possível. Como nosso estoque de pedras é ilimitado, assim como é o de números, podemos,

simplesmente, somar a ambos os pratos a quantidade de pedras dessa dívida.

X - 3 + 3 = 8 + 3

X + 0 = 11

X = 11

Mais uma vez acertamos, já que se tivermos onze coisas em mãos, e nos forem

retiradas três, ficaríamos com as oito restantes.

Dessas anteriores dinâmicas, podemos perceber que a regra do balanceamento nos

aponta para uma outra lógica subjacente, que nem os mais atentos teriam capacidade de

perceber com tão poucos exemplos. Fazer de tudo para manter e restaurar a relação de

equilíbrio, que é a própria equação, é um passo muito importante, mas é apenas o primeiro.

Para calcularmos o “ X = 5 ” da primeira equação, retiramos três de ambos os lados. Para

calcularmos o “ X = 11 ”, colocamos ao lado, somamos, três em ambos os lados. Em síntese,

temos que: a mesma operação matemática foi feita em ambos os lados.


12

O próximo exemplo demonstrará, e de forma cabal, o poder da simbolização humana e

dessa regra tão valiosa.

Como já fizemos antes, precisamos traduzir o que está presente na balança:

X + X = 10

Antes, no “ 2 + 2 = 4 ”, entramos em contato apenas com coisas vistas; depois, coisas

vistas ao lado de coisas escondidas; agora, num mesmo prato, apenas coisas escondidas, o “X

+ X”. Além disso, sabemos que devemos fazer, em ambos os lados, a mesma operação

matemática, ou assim suspeitamos. Qual operação nos ajudaria?

Vejamos retirar um “X” de ambos os lados:

X + X - X = 10 - X

X = 10 - X
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Acabamos por ter uma dívida desconhecida do lado direito. Se, ao invés,

colocássemos outro “X” em cada prato, nossa dificuldade até aumentaria, pois passaríamos a

ter mais coisas desconhecidas:

X + X + X = 10 + X

E se retirássemos dez de ambos os lados, nossa dívida, apesar de conhecida, não nos

ajudaria em nada:

X + X - 10 = 10 - 10

X + X - 10 = 0

É neste momento que tivemos uma verdadeira guinada na História da Humanidade. Se

temos dois saquinhos com conteúdos desconhecidos e simbolicamente idênticos, em um dos

lados, e, para resolvermos a equação, precisamos fazer a mesma operação matemática em

ambos os lados, não poderíamos tirar a metade das quantidades presentes nos pratos?

Retiramos um “X” do prato à esquerda, e cinco coisas do prato à direita. Porém, não seriam a

mesma operação matemática:

X + X - X = 10 - 5

As operações seriam “ - X ” e “ - 5 ”, o que feriria a nossa lógica, mas resultaria num

resultado correto, pois mais do que claro está que “X” contem cinco. Como conciliar tais

lógica e operação? Existe uma forma simbólica e até elegante: substituir “X + X” por “ 2.X ”.

2.X = 10
14

Tal substituição é um exemplo mais do que direto do conceito freudiano de “trabalho

do sonho”, já que manipulações dessa monta são feitas no conteúdo latente do sonho, pelo

inconsciente, transformando-o no conteúdo manifesto. Aqui, um paralelo entre a Matemática

e a Psicanálise se torna evidente: a equação em questão, assim como os sonhos, podem ser

perfeitamente encarados, escritos, enunciados, como frases, por mais ou menos manipulações

e substituiçõesque que possam sofrer. Com a Matemática, buscamos encontrar valores com a

relação em equilíbrio que mantemos; com os sonhos, nosso inconsciente tenta nos manter

dormindo, buscando manter uma relação de equilíbrio entre conteúdos que não gostaríamos

de perceber, com imagens e metáforas que podemos suportar.

Mas sigamos com a resolução da nossa equação. Agora, podemos efetuar a mesma

operação matemáfica em ambos os lados:

2.X / 2 = 10 / 2

1.X = 5

Eis que surge um número diferente: o um. Neste momento, nos aproximamos de

Lacan quando ele diz que a linguagem matemática nos aproxima do Real real. De onde surgiu

aquele 1? Vejamos nossa equação escrita de uma nova forma, com a inclusão dos “ 1 ”:

1.X + 1.X = 10

Os “1” estavam ali o tempo todo? Ou são apenas inclusões inóquas, já que um número

multiplicado por um resulta nele mesmo? Uma outra pergunta pode surgir, bem estranha mas

muito filosófica, e particularmente característica das linguagens humanas, qualquer que seja

ela: será que a percepção do plural surgiu antes da percepção do singular?


15

Podemos, agora, nos aventurarmos em outros exemplos, para nos certificarmos de que

o método apresentado é sempre válido e sempre eficaz, podendo até abrir mão da balança.

5.X + 8 = 12 + 3.X

Sem dúvida a equação acima é mais complexa que as demais, mas será solucionada da

mesmíssima forma, seguindo-se os mesmíssimos procedimentos: o que for feito de um lado,

será feito do outro, desde que o equilíbrio seja mantido. Uma opção mais imediata seria

deixar os “X” em apenas um dos lados. Para tanto, basta retirarmos três deles de ambos os

lados:

5.X + 8 - 3.X = 12 + 3.X - 3.X

2.X + 8 = 12 + 0

Agora basta que retiremos oito de ambos os lados:

2.X + 8 - 8 = 12 - 8

2.X + 0 = 4

Por fim, basta que dividamos ambos os lados por dois:

2.X / 2 = 4 / 2

1.X = 2

Aí está o nosso resultado: “ X = 2 ”. Para nos certificarmos de que estamos corretos,

basta que substituemos a letra “X” pelo número “ 2 ”:


16

5.X + 8 = 12 + 3.X

5.(2) + 8 = 12 + 3.(2)

10 + 8 = 12 + 6

18 = 18

Se colocarmos 18 coisas no prato esquerdo de uma balança, e, logo depois, outras 18

cópias dessas coisas no prato direito dessa mesma balança, teríamos um perfeito exemplo de

uma relação em equilíbrio.

Voltemos nossos olhos, agora, a exemplos da própria psicanálise. Uma das obras

freudianas mais caras a Jacques Lacan, sem dúvida, era “Os Chistes e a sua Relação com o

Inconsciente”, de 1905. Tal obra é repleta de bons exemplos do que está sendo propondo

neste artigo. Vejamos o primeiro exemplo, um jogo de palavras pertinente à língua alemã,

bastante engenhoso e bastante famoso nos meios psicanalíticos: familionär, ou

familionariamente:

Freud flerta com a matemática quando fornece o “quadro diagramático” anterior para

explicar a formação da palavra, que pela falta de um sinal “ + ”, seria de fato um perfeito

exemplo da soma de duas palavras. Mas a nossa mente não apenas soma letras, se assim

podemos dizer, mas também soma conceitos. A nova palavra criada aponta para ambos os
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conceitos de familiaridade e de riqueza, por mais que seja uma riqueza mais específica,

milionária.

Não é difícil perceber que uma relação foi construída com as palavras em questão.

Agora, conhecendo-se a lógica tão cara a Álgebra, que consiste de restaurações e

balanceamentos, podemos visualizar que a mesma dinâmica se aplica à nossa psique. Houve

uma manipulação na palavra “familiär”, sendo ela separada em duas partes “famili” e “är”; e

houve o descarte das pontas da palavra “milionär”, restando apenas o “on”. Este pequeno

fragmento foi encaixado no espaço criado e a nova palavra se originou, palavra esta duas

letras maior, mas que aponta, ao mesmo tempo, para dois conceitos bem diversos, o que

demonstra a ideia de balanceamento. E não podemos deixar de notar que a semelhança entre

as duas palavras ajudou enormemente a formação do chiste, e que, para ser compreentendido,

os conceitos de ambas as palavras devem ser conhecidos por todos aqueles que entrarem em

contato com o chiste.

No livro “A Linguagem Esquecida”, o psicanalista Erich Fromm, pertencente à Escola

de Frankfurt, narra um sonho de um de seus pacientes, que apresenta outro belíssimo exemplo

de um jogo de palavras; só não é um chiste pois apareceu num sonho. Em dado momento do

sonho, o próprio sonhador diz:

“Mas eu compenso isso por meio de ‘Tessal’.”

A palavra em destaque, “Tessal”, não existe no idioma dos interlocutores, foi,

portanto, cunhada pelo inconsciente do próprio sonhador. Com um pouco da livre associação,

técnica tão cara aos freudianos, o sonhador associou a palavra a outras duas: Tessália, uma

região da Grécia, e mangual, uma espécie de arma. As associações à tal região da Grécia

foram “com clima regular, onde os pastores vivem em paz e contentes”; e com a arma em
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questão foram “como um substituto às armas que me faltam”. No contexto geral da vida do

paciente, a palavra por ele cunhada, “Tessal”, é uma condensação evidente de ambos os

conceitos que a formam. Se pudéssemos depositar tal palavra no prato esquerdo de uma

balança, deveríamos, no prato direito, depositar ambos os conceitos, e teríamos, então, uma

relação em equilíbrio, uma equação.


19

A Geometria

Apesar da Geometria ter surgido muito antes da Álgebra, cerca de 22 séculos atrás, ou

pelo menos de sua estruturação no livro já citado, nos será mais didático abordá-la a partir de

agora. Isso por um motivo muito importante e até surpreendente: uma arbitrariedade inicial.

Euclides, nos seus Elementos, livro este que funda o campo da Geometria até os dias

de hoje, escreve, no Livro VII, como sendo uma definição, que:

“Unidade é aquilo segundo o qual cada uma das coisas existentes é dita uma.”

Esta definição um tanto indigesta pode ser interpretada de várias formas. Podemos

perceber, sem muita demora, que a frase foi escrita de tal forma a apontar para diferenças

entre as ideias que as palavras “unidade” e “uma” nos despertam. Se juntarmos ambas as

palavras em apenas uma expressão, chegamos, por exemplo, àquela famosa ideia das aulas de

Física do colégio: uma unidade de medida. A palavra “uma” aponta para aquela

individualidade do grupo de medidas; já a palavra “unidade” aponta para o que ela é, para o

que a define, por exemplo: o metro. Aproveitando o exemplo, o “metro” é a definição, a

unidade, e o “um” apenas nos diz a quantidade de indivíduos que foram considerados. Um

outro exemplo: quando pensamos em “uma faca” pensamos que apenas um indivíduo,

representado pela palavra “uma”, foi considerado de dentro de uma definição, ou grupo de

indivíduos, representado pela palavra “faca”.

Neste ponto já podemos perceber um paralelo entre a Geometria e os estudos de

Lacan. Os significantes S1 são espécie de significantes mestres, aqueles que vão impressionar

profundamente o indivíduo, muitas vezes antes mesmo de quaisquer rudimentos de

linguagem, formando assim parte daquele registro do Real, ideia lacaniana controversa até os

dias de hoje.
20

Aquela arbitrariedade inicial está presente nessa lógica lacaniana, pois não há como

saber quais impressões se darão àquele indivíduo. Poderá ser um olhar desapontado do pai

quando a filha escolher um carrinho; ou poderá ser uma fala pejorativa da mãe em relação aos

homens. O importante, até este ponto, é nos atermos a essa arbitrariedade inicial, que, assim

como os indivíduos, marca também a Geometria. Podemos ilustrar tal ideia com a figura

abaixo. Nela, qualquer um dos traços representa o número um.

Continuando com Euclides, ele define, logo após a unidade, o que chamou de número,

que, infelizmente, não é uma definição muito presente nos nossos livros de escola. Euclides

diz o seguinte:

“O número é a quantidade composta por unidades.”

Com esta definição e com os exemplos da figura acima, podemos perceber os limites

daquela arbitrariedade inicial: ela só acontece no primeiro momento, influenciando todo o

futuro, ou seja: aquela escolha não poderá ser ignorada, ou mesmo substituída de fato. Na

Geometria, a escolha da medida que representará a unidade não poderá jamais ser mudada

sem modificar o que já foi construído; já na psique humana, a depender dos demais
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significantes impressionando o sujeito, e dependendo também de como as cadeias desses

significantes vão se articulando e formando o seu dicionário simbólico, o eu vai se

estruturando ao redor dessas primeiras impressões. Um ótimo exemplo dessa dinâmica é o

caso do Homem dos Ratos, onde o jovem soldado, com o auxílio de Freud, vai entendendo, e

assim, desfazendo a influência do significante “rat” em toda a história da sua vida e da sua

doença.

Um outro ponto interessante, acerca das diferenças entre o “um” e a “unidade”, é o

que foi abordado nas equações do capítulo anterior. Os “X” não eram acompanhados pelos

números “ 1 ”, sendo que estes últimos apareceram depois, se assim podemos dizer. De certa

forma, e também como uma provocação filosófica, o número “ 2 ” surge antes do surgimento

do número “ 1 ”, já que é só na nossa mente que podemos perceber alguma coisa ao lado de

outra coisa.

Euclides também aponta para certas conclusões lógicas que, não sem razão, regem

todo o pensamento humano, tanto o consciente quanto o inconsciente. As próximas “noções

comuns”, como o próprio Euclides rotula, são perfeitamente pertinentes à Psicanálise.

“As coisas iguais à mesma coisa são também iguais entre si.

E as coisas que se ajustam uma à outra são iguais entre si.”

A primeira noção é complicada de se provar. Podemos constatar, por exemplo, que

uma caneta verde seja exatamente igual a uma outra caneta verde ao seu lado; ou que um

pacote de folhas de sulfite tenha folhas exatamente iguais entre si. Mas são estas constatações

provas? Será que os tons de verde e branco percebidos por uma pessoa são exatamente iguais

aos percebidos por outra? Dizem que os esquimós conseguem perceber mais de uma dezena

de tons de branco, quantidade bem maior que um olho ocidental comum; e os daltônicos tem
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dificuldades na distinção entre as cores verde e vermelho, o que tornaria nossa canetas

vermelhas, e não verdes. Parece que a igualdade das coisas depende dos olhos de quem olha, e

não somente das coisas em si.

Ainda assim, o que Euclides acreditava ser verdade, pode ser comprovado

perfeitamente com o auxílio da técnica do balanceamento já explorada anteriormente. O que

Euclides diz, na sua primeira noção comum, é o seguinte: se A é igual a B, e B é igual a C, A

é igual a C. Em termos algébricos, temos: se A equilibra B, e B equilibra C, então A

equilibra C. Ou seja:

Se A = B e C = B, então A = C

Aí está a prova irrefutável da máxima em questão, apenas possível muitos séculos

depois de ser sido proferida, e com uma ferramenta a prova das flutuações do “bom senso”,

como desejava Descartes, no seu Discurso.

A segunda noção euclidiana faz perfeitamente justiça à Psicanálise (talvez mais até

que à própria Geometria). O termo “ajustar” é a chave das nossas dinâmicas inconscientes. No

caso das fobias, por exemplo, já que a angústia liberada não deve ter a memória geradora

relembrada, ela acaba sendo ligada, entre outros destinos, à dinâmicas inequivocamente

associadas ao sexo, como micção, sujeira ou contágio, como escreve Freud no seu “As

Neuropsicoses de Defesa”. Voltando nosso olhar para exemplos mais cotidianos, o próprio

Freud confessa que quebrou seu tinteiro acidentalmente, horas depois das queixas de uma de

suas irmãs acerca da decoração do seu escritório, dizendo que o tal tinteiro não mais ornava

com o cômodo. Para o nosso inconsciente, quando uma coisa se ajusta a uma outra, não há

razões para não tomá-las como iguais entre si.


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Um último mergulho à Geometria se faz necessário, com o intuíto de reforçar o poder

que tem a simbolização humana, juntamente à técnica apreendida anteriormente. No Livro IX

da obra de Euclides, ele comenta dois casos bastante simples, que, para este autor, são mais

do que verdades absolutas, mas que, sem a devida prova matemática, são só postulados.

“Caso um número cubo, tendo multiplicado a si mesmo, faça algum, o produzido será um

cubo.”

Interpretando de forma mais amigável, Euclides quer dizer que um número ao cubo,

tendo sido multiplicado por ele mesmo, resultará em um outro número ao cubo. O

equacionamento pertinente é só o seguinte:

n³ . n³ = m³

Não temos outra opção, aqui, que não a de recorrer a uma regra desenvolvida pelo

próprio Descartes. Um número ao cubo, ou seja, um número elevado ao expoente “ 3 ”, nada

mais consiste do que três desse número multiplicados entre si. Ou seja:

n³ = n . n . n

Se substituírmos ambos os “ n³ ” por suas formas não abreviadas, acima expostas,

obteremos:

( n . n . n ) . ( n . n . n ) = m³

n . n . n . n . n . n = m³
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Agora, precisamos de uma outra balança, ou seja, precisamos recorrer a uma outra

relação em equilíbrio, que nos garanta uma substituição simbólica pertinente. Podemos

atribuir a cada dupla de “n” multiplicados entre si, como equilibrando, sendo igual, a “m”. Ou

seja:

m = n . n

Fazendo-se a substituição na nossa equação principal, temos:

( n . n ) . ( n . n ) . ( n . n ) = m³

m . m . m = m³

Com esta última equação, constatamos que Euclides estava certo, já que:

m³ = m³

O segundo e último caso segue a mesma lógica, mas é levemente diferente. Euclides

sentencia o seguinte:

“Caso um número cubo, tendo multiplicado um número cubo, faça algum, o produzido será

um cubo.”

Traduzindo para uma linguagem mais coloquial, por assim dizer, o que Euclides diz é

que se um número ao cubo for multiplicado por um outro número ao cubo, o resultado será

um terceiro número, também ao cubo. O equacionamento pertinente é o seguinte:


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n³ . p³ = m³

Se escrevermos, mais uma vez, as formas não abreviadas dos números elevados ao

cubo em questão, teremos o que segue:

( n . n . n) . ( p . p . p ) = m³

Antes de uma substituição simbólica similar a anterior, um certo rearranjo, novas e

convenientes metonímias, podem nos ajudar enormemente, a perceber o que, de outra forma,

seria difícil de ser percebido. Eis uma nova equação, metáfora:

n . p . n . p . n . p = m³

( n . p ) . ( n . p ) . ( n . p ) = m³

Note que as únicas mudanças efetuadas foram a formação de três pares de letras, e a

inclusão dos parênteses. Os mais atentos já notaram que o próximo passo desta prova

algébrica, será a substituição simbólica dos pares de significantes recém formados.

n . p = m

Fazendo-se a substituição na equação principal, temos:

m . m . m = m³

m³ = m³
26

Mais uma vez Euclides estava certo.

A prova que acabamos de realizar tem uma ligação muito pertinente ao que Lacan

ressaltava em seus ensinos. No livro “Meu Ensino”, composto por três conferências

realizadas na Europa, ao final da década de 1960, após o lançamento dos seus Escritos, Lacan

diz, em alto e bom som, à sua platéia:

“Para fazer nossa ciência, não foi na pulsação da natureza que entramos, não. Fizemos

dançar pequenas letras e pequenos algarismos, e foi com isso que construímos máquinas que

andam, que voam, que se deslocam no mundo e que vão bem longe.”

Lacan não poderia ter sido mais acertivo ao falar das nossas Ciências. Presentes nos

Elementos de Euclides, temos diversos outros postulados perfeitamente prováveis da forma

que foram esses dois últimos. Ao longo de toda a história da Matemática, temos os mais

variados exemplos de provas como estas, conseguidas com a substituição de certos outros

símbolos, perfeitos exemplos de condensações simbólicas, em conjunto com outros

rearranjos, também ótimos exemplos de metáforas. Usadas em conjunto muitas vezes, e sem

uma ordem pré-definida, orientando-se única e exclusivamente à procura de uma nova

relaçãod em equilíbrio, a nossa psique se utiliza dos mesmos procedimentos, evitando assim

altas doses de ansiedade, ou do desprazer delas decorrente. Enquanto que com as nossas

ciências buscamos desvendar e nos aprofundar cada vez mais no Real, na nossa vida cotidiana

buscamos cada vez mais afastar, ou nos esconder, de sentimentos e desejos reais. Avançando

para a Psicanálise, vamos conseguir verificar esta última dinâmica.

Ótimos exemplos da dinâmica anterior são encontrados nos sonhos de quaisquer

pessoas, tanto ditas normais quanto ditas neuróticas. Vejamos o que podemos considerar
27

acerca de um exemplo verdadeiro. Em dado momento de um sonho, uma jovem com traços da

raça negra, narra o seguinte:

“Do outro lado da rua está uma turma de amigos meus, e eles estão rindo de mim, me

chamando de a ‘garota do toddynho’.”

A associação fornecida pela paciente para tal expressão, “garota do toddynho”, foi

apenas uma: “chocolate”. Para uma interpretação possível desta cena do sonho, poderíamos

fazer um exercício similar às provas matemáticas já mencionadas:

rindo da garota do toddynho

rindo da garota de chocolate

rindo da garota [cor] de chocolate

rindo da garota negra

As sucessivas substituições vão permitindo a pertinência da palavra “cor”, que foi

suprimida pelo inconsciente da sonhadora, dinâmica a qual Freud batisou de “trabalho do

sonho”. Assim como Euclides disse que “as coisas que se ajustam uma à outra são iguais

entre si”, assim fez o sonho, já que a garota e o chocolate compartilham, se ajustam, à cor

negra.

Quando é interpretada pelo analista, aquela grande equação, aquela grande metáfora,

ganha outro sentido e acaba sendo revelada, e um certo conteúdo, uma parcela racista de sua

própria psique, foi exposta à parcela consciente. Quando a paciente ouve tal interpretação,
28

baseada também, claramente, em muitos outros sonhos e informações sobre a sua vida e o seu

jeito de pensar, e em todas as dinâmicas pertencentes e pertinentes à situação analítica, ela se

afunda na poltrona e se defende com uma almofada, que, até aquele momento, nenhuma

importância tinha, o que corrobora com a interpretação do analista. Nas semanas seguintes

foram notáveis as mudanças na relação que a sonhadora tinha com o próprio corpo, com a

própria raça.

Um outro caso, também real, porém fornecido em aula. O paciente narra ao analista o

seguinte trecho de um sonho:

“Estou fugindo de três cachorros. Em dado momento me livro de dois deles, mas não consigo

fazer o terceiro soltar minha calça.”

Mais uma vez, baseado nas associações que o paciente forneceu ao analista, e a todas

as demais dinâmicas e informações pertinentes ao tratamento analítico, as possíveis

substituições puderam ter sido feitas, e as seguintes relações puderam ter sido estabelecidas:

fugindo de três cachorros / me livro de dois / fazer o terceiro soltar minha calça

correndo com três cachorros / me distanciando de dois / soltar minha calça

correndo com três irmãos / deixando dois pra trás / me atrapalhando

competindo com três irmãos / vencendo dois / não venço um deles


29

O paciente tinha três irmãos, dos quais dois, não tendo curso superior como o próprio

paciente não tinha, foram vencidos por outras características; enquanto que o terceiro irmão, o

cachorro que o segurava pela calça, impedindo sua corrida, tinha um curso superior no seu

currículo, o que intimidava o sonhador. Uma interpretação que seguiu a mesma dinâmica da

anterior, bem como a mesma dinâmica das provas matemáticas.


30

Os Reais

Em uma entrevista coletiva realizada em Roma, em outubro de 1974, Lacan deixa bem

claro que o Real do qual ele sempre fala não é o real Real, aquele conseguido pelas nossas

ciências, mas sim é algo de mais próximo a nós, por mais que ainda seja impossível de ser

simbolizado, de ter sentido conferido. Lacan nos oferece, por exemplo, que o sintoma é a

manifestação dessa categoria em nosso nível de seres vivos. Mas por que tal separação entre

os Reais?

Um pouco antes disso, entre o fim de 1971 e início de 1972, acerca de uma das suas

maiores polêmicas, o enunciado “não existe relação sexual”, Lacan diz:

“O real existe antes que pensemos nele, mas a relação, essa é muito mais duvidosa.

Não só é preciso pensá-la, como é preciso escrevê-la. Se vocês não são capazes de escrevê-

la, não existe relação.”

O início da frase “o real existe antes que pensemos nele” aponta para a ideia que

muitos matemáticos tinham ao encarar suas descobertas, seus avanços. A própria palavra

“descoberta”, derivada do verbo “descobrir”, aponta para a ideia de que uma coberta foi

retirada e algo foi revelado. É difícil refutar tal ideia quando não temos tantos exemplos

matemáticos assim, e mais difícil ainda, quando revisitamos as dinâmicas das balanças deste

trabalho, quando elas apontam, claramente, para a descoberta dos valores de X. Mas não

podemos nos esquecer de duas situações acerca dos nossos exemplos: nós não precisamos

abrir os saquinhos para confirmar os resultados, pois o balanceamento garante a quantidade

encoberta, e não podemos nos esquecer de que aquelas práticas foram inventadas por alguém,
31

após, com certeza, inúmeras outras tentativas, já que Mohammed ben Musa foi, também, um

grande compilador das ideias que circulavam à sua época, assim como Euclides.

O final da frase também é muito interessante, e probatório em relação ao Real das

ciências. Lacan explica que se não pudermos escrevê-la, a relação não existirá. Claramente ele

acredita e ensina que o real permanece existindo mesmo se nenhuma relação com ele for feita,

ou escrita. Não conseguiremos, a partir daqui, novas reflexões se não tomarmos alguns

exemplos científicos. A descoberta matemática que pode abalar essa ideia é a segunda

descoberta matemática propriamente dita: a multiplicação entre dois números negativos

gerando um número positivo.

Consideremos um simples quadrado e sua cópia idêntica. Suas áreas são idênticas

entre si, mas as escreveremos de formas distintas, dividindo seus lados não em partes iguais,

mas em partes desiguais, como mostra a figura abaixo.

O quadrado da esquerda terá como área “X” multiplicado por “X”, como segue a

equação:
32

A = X.X

Com essa simples equação, de quebra, podemos perceber que multiplicar dois

números entre si nada mais é que, geometricamente falando, colocá-los um perpendicular ao

outro, como está o “X” à esquerda, em relação ao “X” que está na base. Infelizmente, tal

noção é muito pouco explorada nas nossas escolas, o que ajudaria muito no aprendizado das

nossas crianças e dos nossos jovens.

Quando olhamos para o quadrado da direita, lembrando que o lado “X” foi quebrado

em duas partes desiguais, “a” e “b”, teremos a seguinte equação, perfeitamente pertinente ao

visível:

X = a + b

Quando substituímos os “X” pelo novo conteúdo, teremos a equação da área reescrita

da seguinte forma:

A = (a + b).(a + b)

Aqui não sabemos muito bem o que está acontecendo, já que nunca antes dois

números em separado foram multiplicados entre si. Porém, ao voltarmos novamente nosso

olhar para a figura, podemos constatar que a área total da figura é a soma das menores áreas

formadas pela quebra da medida “X”. Podemos considerar então, sem medo de errar, que a

grande área é a soma das pequenas áreas. Teremos a seguinte equação:

A = A1 + A2 + A3 + A4
33

Agora, basta encontrarmos as relações pelas quais cada área menor é estabelecida,

lembrando que todas devem envolver as medidas escritas na figura, e se basear na figura.

São elas:

A1 = a . a

A2 = a . b

A3 = b . a

A4 = b . b

Quando substituímos todas essas equações na equação da área total, obtemos que:

A = (a . a) + (a . b) + (b . a) + (b . b)

Podemos notar aqui, que duas áreas são muito parecidas: “a . b” e “b . a”. Quando

voltamos nossos olhos para a figura originadora, podemos confirmar que ambas são iguais

entre si, portanto, tendo a mesma área, porém uma está em “pé” e a outra “deitada”. Assim

sendo, podemos finalizar esta etapa da seguinte forma, como já fizemos no primeiro capítulo:

A = a.a + 2.a.b + b.b

Já que a área maior será sempre igual à ela mesma, não importando a forma de sua

simbolização, teremos que A = A, ou seja:

(a + b).(a + b) = a.a + 2.a.b + b.b


34

( a + b )² = a² + 2ab + b²

Esta última equação já está escrita com as notações da Matemática moderna.

Todas essas equações e simbolizações diferentes não nos mostraram nada de novo, é

verdade, mas vejamos o que acontece quando dividimos o nosso quadrado de um jeito bem

inusitado, e, até, peculiar.

O novo quadrado maior da direita apresenta, agora, cinco figuras, e não mais quatro.

De cara já podemos notar que as aŕeas de 1, 2, 3 e 4, são iguais entre si, apenas estando, como

anteriormente, orientadas de formas distintas. Mas e quanto à quinta figura? Se observarmos

bem, tal figura não pode ser outra figura se não um pequeno quadrado, e, sendo um quadrado,

sua área é a medida do seu lado multiplicada por ela mesma. Mas qual é a medida do seu

lado? O maior lado do retângulo 4 é “a”, assim como o de qualquer outro retângulo presente;

porém, no seu canto superior esquerdo, temos o lado menor do retângulo 1, que é “b”, e, logo

ao lado, temos a base do quadrado 5. Para descobrirmos a medida dessa base, basta retirarmos

a medida “b” da medida “a”, ou seja: “a – b”. Para construirmos tal visualização, basta que,
35

com uma folha, ou caneta, deslizemos, da esquerda para a direita, até que a base do retângulo

1 desapareça por completo. Como esta medida é “ b ”, teremos visualizado “a – b”.

Agora, vejamos o que temos em mãos: quatro áreas iguais entre si, e uma menorzinha,

de lado “a – b”. O quadrado maior continua o mesmo, portanto as equações relacionadas à sua

área, que já foram apresentadas, continuam válidas; e também continuam idênticas as medidas

“a” e “b”, portanto, os quatro retângulos são perfeitamente iguais aos já apresentados. Assim

sendo, uma nova equação para a grande área poderá ser escrita:

A = 4.a.b + (a - b).(a - b)

A = 4.a.b + ( a - b )²

Pela primeira vez na História da Humana, temos multiplicados entre si, dois números

negativos, os números “ - b ”. Nunca havíamos precisado nos preocupar com os sinais, pois

até então, só havíamos multiplicado números positivos por números positivos. Agora,

precisamos encontrar uma forma válida para resolver tal problema.

Como as equações anteriores ainda são válidas, pois são os mesmos quadrados

maiores, podemos igualar ambos os produtos, da seguinte forma:

A = A

4ab + ( a - b )² = a² + 2ab + b²

A mesma regra explicada, a do balanceamento, pode e deve ser utilizada nesta nova

equação, fazendo de um lado o que for feito do outro. Como o alvo de nossa investigação é

aquela subtração multiplicada por si mesma, “ (a – b)² ”, temos o seguinte desenvolvimento:


36

4ab + ( a - b )² - 4ab = a² + 2ab + b² - 4ab

( a - b )² = a² + b² - 2ab

Se rearranjarmos os termos de uma forma mais conhecida, teremos:

( a - b )² = a² - 2ab + b²

Se invertermos o processo que nos utilizamos para encontrar a multiplicação dos dois

números entre si, o “ (a + b)² ”, podemos igualar termo a termo:

( + a ) . ( + a ) = a²

(+a).(-b) = (-b).(+a) = - a.b

( - b ) . ( - b ) = + b²

Aí está a primeira descoberta da Matemática de fato. Utilizando-se da regra do

balanceamento, juntamente com as sucessivas substituições pertinentes à lógica das equações,

chegamos a duas constatações que não havíamos como imaginar de antemão: um número

positivo multiplicado por um negativo origina um número negativo, e que a multiplicação de

dois números negativos entre si origina um número positivo. Não é a toa que muitos

matemátios antigos acreditavam estar descobrindo coisas, desvelando conteúdos encobertos,

que Lacan considera pertencentes ao “Real real”. Se não considerarmos tal resultado como

válido, mesmo tendo sido ele produto de considerações humanas, não teríamos avançado

tanto nas nossas ciências.


37

Porém, quando nos lembramos do final daquele ensinamento lacaniano, os mais

céticos poderão argumentar que essas ditas descobertas nunca teriam acontecido se pessoas

não tivessem, primeiramente, desenvolvido a regra da balança e as dinâmicas a ela

relacionadas, e, posteriormente, dividido aquele quadrado daquela forma inusitada. A

pergunta que surge agora, e com a máxima potência, é: tais constatações foram descobertas

ou construídas?

Se foram descobertas, podemos inferir que o Real real existe de fato, e que existe

ainda muito a ser descoberto; porém, se foram construídas, podemos desconsiderar tal Real

real, e que, para novos avanços matemáticos e científicos, o que nos falta são as marcas e

lógica corretas, nada além disso, e tais descobertas, não passarão de puramente avanços.

Vejamos o que acontece quando avaliamos um dos mais interessantes paradoxos da

Matemática moderna, o enigma de Schwarz-Pringsheim, presente no livro “Assim Nasceu o

Imaginário”, do físico e professor Aguinaldo Prandini Ricieri. Para esta avaliação já temos

todas as ferramentas necessárias, nos faltando apenas a noção de raiz quadrada.

Tal conceito é muito simples: dado um número qualquer, por exemplo o 25, devemos

considerá-lo como sendo a área de um quadrado, e sua raiz quadrada correspondente, nada

mais será do que a medida do lado deste quadrado, ou seja, 5, assim como o nosso quadrado

anterior, de área igual a “X.X”, tem como lado a própria medida “x”. Questões relacionadas

aos lados dos quadrados, às raízes quadradas, são questões muito abordadas pelo livro mais

antigo neste artigo citado, o “Compêndio sobre o Cálculo por Restauração e

Balanceamento”, de Mohammed Ben Musa. Essas questões tratam de coisas existentes de

fato, existentes na nossa realidade material, como camelos, porções de terras, escravos, e

quantidades de água, então, as respostas a tais problemas eram todas números maiores que

zero.
38

Como já vimos que o desenho de uma balança, o símbolo de uma balança, é muito

mais poderoso que a própria balança, podemos imaginar, por exemplo, qual seria a raiz

quadrada de um quadrado de área negativa. O símbolo da raiz quadrada, “√”, como tal,

permite a escrita de qualquer outro símbolo no seu “interior”. E também já aprendemos que,

para simbolizarmos uma dívida, basta que escrevamos o sinal negativo “ - ” antes do número,

como por exemplo o númro “ - 1 ”.

Como já sabemos pelas equações relacionadas às descobertas anteriores, nenhum

número negativo poderá ser obtido pela multiplicação de dois números de sinais iguais, pois a

múltiplicação de dois números positivos, bem como a multiplicação de dois números

negativos, resultarão em um número positivo. A única forma de obtermos um número

negativo como resultado de uma multiplicação, é multiplicando-se um número positivo por

um negativo. Porém, não sendo iguais dois números de sinais diferentes, mesmo a

comparação de “ 5 ” e “ - 5 ”, não existem chances possíveis de encontrarmos valores que

representem a raiz quadrada de um número negativo, mas a simbolização nos permite sem

quaisquer problemas. Para continuarmos as futuras deduções, abriremos mão da notação

moderna e seremos fieis à uma das antigas, escrevendo “raiz quadrada de menos um” da

seguinte forma, e atribuindo-lhe um “saquinho” rotulado de “ i ”:

rq( -1 ) = i

Assim nasceu o “número imaginário”. Seus múltiplos deram origem a todo um novo

grupo de números, pois, por mais incrível que pareça, tais números aparecem nas mais

variadas e contra-intuitivas áreas das ciências modernas.


39

Sendo assim, é claro que igualdade a seguir é válida:

i . i = i² = - 1

Agora vejamos o que acontece quando igualamos “ i ” a “ i ”, juntamente com outras

manipulações e substituições.

rq( -1 ) = rq( -1 )

Já que qualquer número dividido por “ 1 ” resulta nele mesmo, então não haverá

nenhuma modificação se assim fizermos com o “ - 1 ”:

rq( -1/1 ) = rq( -1/1 )

Agora, inverteremos o lado direito, amparados no fato que tanto “( -1 )/ 1” como “1/( -

1 )” se mantem em equilíbrio com o ( -1 ).

rq( -1/1 ) = rq(1/-1)

Para avançarmos, deveremos nos utilizar de uma propriedade das raízes quadradas que

pode ser enunciada de tal forma:

“a raiz quadrada de uma divisão é a divisão das raízes quadradas”


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Ou seja:

rq( x / y) = rq(x) / rq(y)

Então, reescrevendo a equação do fim da página anterior, teremos:

rq( -1 ) / rq( 1 ) = rq( 1 ) / rq( -1 )

Se multiplicarmos ambos os denominadores em cruz, ou seja, o da esquerda vai pro

numerador da direta, e vice-versa, e podemos fazê-lo, pois tal ato seria o mesmo que

multiplicarmos ambos os lados da equação por cada um dos denominadores, cada um a seu

tempo, obteremos a seguinte equação:

rq( -1 ) / rq( -1 ) = rq( 1 ) / rq( 1 )

Chegamos, então, ao paradoxo, ao enigma de Schwarz-Pringsheim:

i . i = i² = 1

Lembrando que iniciamos as manipulações metonímicas com a equação:

i . i = i² = -1

O que deu errado? Ou, como pergunta o próprio professor Ricieri, implicitamente,

onde está o furo?


41

Discussão

O paradoxo anterior nos mostra que, aparentemente, existe algum furo em algum

lugar, ou algum erro foi cometido. Porém, todas as substituições são pertinentes e igualmente

válidas. Não existe furo, só existem manipulações. Mas quem é manipulado? E se existem

apenas manipulações, quando o Real real é atingido? E o que podemos dizer sobre as

interpretações psicanalíticas anteriores? Funcionariam elas da mesma forma que nas

equações? Estariam sendo reveladas verdades ocultas, assim como os antigos matemáticos

acreditavam, e que, Lacan, com seus três registros, também acreditava?

A linguagem escrita surgiu em algum momento da história de uma espécie de grandes

primatas, tornando-a o que conhecemos hoje como a espécie dos “homo sapiens sapiens”. Em

outro dado momento da história desta nova espécie, outra invenção surgiu: a balança de dois

pratos. Em mais um seguinte momento, um dos representantes dessa espécie praticamente

misturou essas duas invenções, tendo percebido uma lógica muito útil na resolução de

problema complexos. Em seguida, novas técnicas e símbolos produzidos por vários outros

representantes dessa espécie, os agora chamados cientistas, seguindo esta mesma lógica,

foram reforçando cada vez mais a sua validade e pertinência. Porém, manipulando tais

símbolos, começaram a perceber buracos, falhas, incoerências, tais como esta última

apresentada, mas nenhuma delas abalou a lógica da restauração e do balanceamento.

Quando olhamos com olhos mais histórico-materialistas, não podemos deixar de

perceber que o que de fato existe, as únicas coisas que existem na nossa realidade física e

palpável, são: a balança, as pedras, e os sacos. Além destas, existe também uma dinâmica

que já estava exercendo sua influência desde muito antes de quaisquer uma delas ter passado a

existir, e que, sem ela, não existiram: a gravidade. É esta “lei”, muito pouco explicada ainda

hoje, que conferiu àqueles homens a garantia da relação em equilíbrio dar certo. No momento
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em que o primeiro algarismo “ 1 ” foi escrito, já foi estabelecida uma grande primeira

mentira, uma grande enganação, uma grande ilusão, porém muito útil. Assim como qualquer

outra palavra, é bem verdade, os algarismos não passam de setas apontando para coisas, para

ideias, ou mesmo para outras setas.

A nossa psique parece funcionar, como ensinou Freud no seu “Para Além do Princípio

do Prazer”, seguindo uma lógica que busca restaurar um estado anterior de coisas. Mas que

estado seria este, apresentado sob essa ótica da Álgebra? A única resposta possível é a

seguinte: equilíbrio. A nossa psique, durante o sono, produz o sonho para guardar o próprio

sono, tentando evitar uma dose suficientemente grande de ansiedade. A nossa psique, com a

produção de um chiste, por exemplo, consegue satisfazer duas intenções ao mesmo tempo,

manifestando uma ideia e deixando uma outra latente, muitas vezes contrária à primeira.

Aqui encontramos um momento ímpar: de um lado, a possibilidade dos símbolos e

dinâmicas apontarem para algo sobre a Natureza a sempre ser descoberto, relevado; e do

outro, a possibilidade dos mesmos símbolos e dinâmicas estarem, na verdade, produzindo

verdades e novos conteúdos. Qual das duas está correta? Vejamos o que mais temos.

Os saquinhos com pedras foram postos assim por alguém, por alguma consciência que

tinha intenções orientadas. Como já foi dito anteiormente, tudo estava ali, a disposição, nada

tendo sido criado do nada. Assim também pode ser considerado sobre a nossa psique: as

memórias, sensações, as letras e palavras, já estavam ali, prontas a serem utilizadas com os

mais variados intuitos, sendo muitos deles não muito convenientes moralmente falando,

qualquer que seja a moral em questão. Não havia nada sendo criado, a não ser novas misturas

e relações com esses materiais. O racismo da garota negra já estava ali, recalcado, escondido,

sendo apenas camuflado no sonho; a adversidade com os irmãos também, só que há muito não

era investigada, não era relembrada. A lembrança da Gestapo, de um famoso caso de

intervenção lacaniana executado pelo próprio Lacan, também tinha tudo o que era necessário:
43

a sonoridade das expressões sendo muito próximas aos dois idiomas; o que faltava era o suave

toque no rosto da paciente. Nada de novo foi criado, e nem revelado, mas sim uma nova

relação foi construída, e muito útil, vale a pena dizer. Mas e o Real real?

A ideia de que o Real que Lacan diz ser alcançado pelas pequenas equações parece ter

um problema. O enigma que foi apresentado, expõe, não uma falha na lógica da balança, mas

sim uma consquência da própria simbolização. O simbolo problemático ali é o sinal negativo,

o “ - ”, que, mudando de lugar, engana e desvia o olhar do leitor, não diferente do que

acontece durante um truque de mágica. O que completa a problemática é o ato da retirada do

“rq( -1 )” do símbolo, do saquinho, “i”. Enquanto este saquinho não é aberto, nenhuma

dinâmica é afetada, e tudo corre muito bem; mas quando o laço é desfeito e o conteúdo é

exposto, lá se vai a harmonia; muito parecido com algumas situações psicanalíticas. Enquanto

o “toddynho” estava ali, fechado, não existia racismo; e enquanto os três cachorros eram

apenas três cachorros, nenhuma adversidade estava à tona. Mas claro está que, quando esses

conteúdos são expostos, os sonhadores podem fazer alguma coisa a respeito. Talvez novas

“descobertas” científicas só serão possíveis com novos símbolos; e, talvez, novos conteúdos

só serão produzidos quando novas impressões, novas relações, novas imagens e símbolos,

forem produzidos. Antes disso, porém, o Real real e o Real Lacaniano permanecerão

inexistentes.
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www.sophistikadus.com

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