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Segundo o DSM V, as deficiências intelectuais fazem parte dos transtornos do

neurodesenvolvimento. Elas podem ser diferenciadas segundo a sua gravidade: leve,


moderada, grave ou profunda, mas elas têm uma característica em comum, os
prejuízos nos fatores de: domínio conceitual (habilidades neurocognitivas), social
(habilidades de comunicação social e relacionamento) e prático (habilidades da vida
cotidiana), as quais são mais acentuadas conforme a gravidade do transtorno.

Conforme o DSM V, a deficiência intelectual é um transtorno com início no período


do desenvolvimento que inclui déficits funcionais, tanto intelectuais quanto adaptativos,
os quais os três critérios a seguir devem ser preenchidos:

A) Déficits em funções intelectuais como raciocínio, solução de problemas,


planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e
aprendizagem pela experiência confirmados tanto pela avaliação clínica quanto
por testes padronizados e individualizados.

B) Déficits em funções adaptativas que resultam em fracasso para atingir padrões


de desenvolvimento e socioculturais em relação a independência pessoal e
responsabilidade social. Sem apoio continuado, os déficits de adaptação limitam
o funcionamento em uma ou mais atividades diárias, como comunicação,
participação social e vida independente, e em múltiplos ambientes, como em
casa, na escola, no local de trabalho e na comunicação.

C) Início dos déficits adaptativos durante o desenvolvimento, a qual refere-se ao


reconhecimento da presença de déficits intelectuais e adaptativos durante a
infância ou adolescência.

O personagem Sam do filme “ uma lição de amor”, tem aproximadamente 40 anos,


é deficiente mental pois tem a capacidade intelectual de uma criança de sete anos e
esse fato o faz lutar na justiça pela guarda de sua filha Lucy de sete anos.

Para responder a pergunta norteadora se Sam está ou não apto a cuidar da filha ,
o primeiro passo é especificar ao juiz em laudo o que implica essa limitação da
inteligência, para argumentar essa parte da avaliação psicológica devemos fazer o uso
de testes psicológicos de inteligência como: As Escalas de Wechsler de Inteligência
(Bateria WISC IV ou WAIS III, dependendo da faixa etária do paciente), Escala de
Maturidade Mental (Colúmbia), Teste de raciocínio não-verbal R-1 ou R-2 (dependendo
da faixa), Teste Gestalt Visuomotor de Bender (BENDER), Teste dos Cubos, RAVEN
(versão adulto e infantil), G-36 e G-38 (Testes de inteligência não-verbal) e outros
instrumentos que avaliem as funções executivas de planejamento, organização,
memória operacional, flexibilidade cognitiva, controle inibitório, juízo e demais funções
cognitivas, visto que o transtorno de deficiência intelectual não se baseia apenas no
nível de QI, mas no seu funcionamento neuropsicológico como um todo. Com base na
literatura, podemos considerar no caso que Sam possui um retardo mental moderado,
conhecido também por oligofrenia moderada ou imbecilidade. Isso porque, portadores
de Retardo mental moderado apresentam ( baseando-se em testes de inteligência) um
QI na faixa de 35 a 49, o que equivale a idade mental de uma criança de 6 a 9 anos.
Apresentando sintomas tais como: desenvolvimento neuropsicomotor lentificado e
incompleto (particularmente na linguagem e na compreensão).

Após analisar o fator inteligência por meio de testes psicométricos, devemos seguir
com avaliação psicológica. O segundo passo é a entrevista com o pai Sam e com a
filha Lucy que será realizada separadamente,para ouvir ambas as partes e entender
como a deficiência intelectual de Sam impacta a vida cotidiana de ambos. O Terceiro
passo seria uma entrevista com pai e filha, com o objetivo de entender um pouco do
vínculo entre eles, o quanto o afastamento entre os dois implicaria em traumas tanto
para a criança e para o pai. Após a realização das entrevistas iniciais é de extrema
importância avaliar o vínculo entre pai e filha com a observação dos seguintes ítens:
Qualidade do relacionamento emocional da criança com o genitor,sentimentos da
criança em relação ao genitor, identificação da criança com o genitor, habilidades de
paternagem, aquisição de valores, rotina da criança e aspectos culturais. O quarto
passo seria a realização de entrevistas com terceiros, pessoas que convivem e fazem
parte de alguma forma da rotina de Sam. Após as entrevistas realizaremos o quinto
passo, que é o uso de teste projetivo de personalidade que deve ser devidamente
aplicado na criança com a finalidade de revelar emoções escondidas e conflitos
internos, ou seja, testes que propõe medir as éreas de sua mente inconsciente e com o
resultado desses testes podemos avaliar se Lucy indica problemas internos em relação
ao convívio com o pai e sua deficiência intelectual.O sexto passo seria a realização de
algumas visitas à residência de Lucy e Sam, com o objetivo de analisar a rotina, os
cuidados, a higiene e outros fatores que podem acarretar danos e prejuízos à crianças
se não forem executados devidamente pelo pai .O sétimo passo seria uma visita à
escola da criança, com o objetivo de os educadores a respeito do desenvolvimento
escolar de Lucy em relação aos colegas e saber mais informações a respeito da rotina
escolar da mesma, nessa etapa poderíamos realizar também alguns testes para
detectar se há algum atraso intelectual ou prejuízo cognitivo na criança.

A questão que deve nortear uma avaliação psicológica envolvendo disputa de


guarda é "o que será melhor para a criança". Diferentes autores sugerem focos diversos
que uma avaliação desse caráter deveria ter. Rivera e Cols (2002) propõe avaliar os
cuidados parentais, atendendo a três grandes áreas de necessidades da criança: de
caráter físico-biológico, cognitivas, emocionais e sociais. As necessidades de caráter
físico-biológico dizem respeito aos cuidados com integridade física, alimentação,
higiene, sono, atividade física e proteção frente a riscos reais. As cognitivas englobam a
estimulação sensorial, a exploração e compreensão da realidade física e social e a
aquisição de um sistema de valores e normas. Por fim, as necessidades emocionais e
sociais compreendem segurança emocional, identidade pessoal e auto-estima, rede de
relações sociais, estabelecimentos de limites de comportamento e educação e
informação sexual.

Levando em consideração o vínculo afetivo que Sam e Lucy tem um pelo outro, o
afastamento do pai não é a melhor forma de se resolver a questão. Ao longo do filme
percebemos que Sam possui autonomia na realização da maioria das tarefas diárias e
isso é uma questão a ser considerada na decisão judicial. Apesar de Sam ter vínculos
afetivos fortes com a filha e autonomia em várias atividades devemos levar em conta o
desenvolvimento cognitivo e intelectual de Lucy e uma forma de resolver esse problema
é compartilhando a guarda da menina com um tutor que a possa ajudar no
desenvolvimento das suas capacidades intelectuais.

Segundo o ECA (Estatuto da criança e do adolescente), nenhuma criança ou


adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão, cabe aos pais o dever de sustento, guarda e educação
dos filhos menores. Igualmente, os pais têm a obrigação de matricular seus filhos na
rede regular de ensino e é de absoluta prioridade à efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária

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