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A inteligência é um conceito fundamental da psicologia moderna que todos utilizam; entretanto, quase

ninguém consegue defini- la de modo definitivo ou pelo menos amplamente convincente


(Richardson,1999).
A inteligência pode ser definida como o conjunto das habilidades cognitivas do indivíduo, a resultante, o
vetor final dos diferentes processos intelectivos. Refere-se à capacidade de identificar e resolver
problemas novos, de reconhecer adequadamente as situações vivenciais cambiantes e encontrar
soluções, as mais satisfatórias possíveis para si e para o ambiente, respondendo às exigências de
adaptação biológica e sociocultural. Deve-se deixar claro que, mais que qualquer outra função psíquica,
a inteligência não é uma função material, delimitável e independente das formulações que sobre ela se
faz.
As principais habilidades incluídas no constructo inteligência são: raciocínio, planejamento, resolução de
problemas, pensamento abstrato, compreensão de idéias complexas, aprendizagem rápida e
aprendizagem a partir da experiência. A inteligência reflete uma capacidade mais ampla para
compreender o mundo ao seu redor (AAMR, 2006).
A inteligência tem uma dimensão de rendimento psíquico. Refere-se assim às habilidades intelectivas
que, com o mínimo de esforço empregado, obtêm o máximo de ganho ou de rendimento funcional.
Segundo Nobre de Melo (1979), será tanto mais inteligente o indivíduo quanto melhor e mais
rapidamente possa compreender o que sucede, quanto maior for o campo de informações que
consegue abarcar e integrar, quanto maior o número e a precisão dos conceitos e juízos que consegue
adquirir e utilizar, e quanto mais rápida e adequadamente possa adaptar-se a situações existenciais
novas.

As idéias das crianças sobre o mundo são construções, que envolvem as estruturas mentais inatas e a
experiência sociocultural. O desenvolvimento da inteligência, por sua vez, ocorre pela substituição (de
esquemas cognitivos prévios), pela aquisição e integração de novos esquemas cognitivos, e não apenas
pela adição de habilidades cognitivas.

Quatro estágios do desenvolvimento da inteligência:

- Período sensório-motor: Ocorre nos dois primeiros anos de vida. Nesse período, as estruturas mentais
restringem- se ao domínio dos objetos concretos pois o bebe ainda não apresenta um pensamento
propriamente dito. Surgimento gradual dos primeiros hábitos motores que se desenvolvem
principalmente por meio da imitação. No período sensóriomotor, não há ainda a diferenciação eu-
mundo; a criança está totalmente centrada em si mesma (egocentrismo) (acredita que os objetos
desaparecem ao sair do seu campo de visão). A partir do segundo ano de vida, desenvolve-se mais
cabalmente a percepção do mundo externo. Os conceitos de “coisas”, “espaço”, “tempo” e
“causalidade”, como categorias práticas do dia-a-dia, estruturam-se ao final desse período.

-Período pré operatório: Entre 2 e 7 anos de vida. São processados, nesse período, o domínio dos
símbolos e o desenvolvimento da linguagem, dos sentimentos interpessoais e das relações sociais. O
brincar passa a ser um dos principais instrumentos do desenvolvimento cognitivo da criança. Objetos e
acontecimentos passam a ter um significado representado por um significante específico,
desenvolvendo assim a linguagem, as imagens mentais, os gestos simbólicos,... O tipo de inteligência
desse período é baseado na “meia-lógica”, onde as operações mentais da criança começam a obedecer
determinada lógica mas falta a noção de reversibilidade nas operações e de conservação física (ex:
criança afirma que a quantidade de água varia de acordo com a forma de seu recipiente, mas se mudar
de recipiente a criança tem a percepção de que se trata da mesma agua). Desenvolvimento de
atividades semióticas como o desenho, o brincar e a linguagem, desenvolvem-se nesse período, com
consequências essenciais para o desenvolvimento cognitivo.

- Período operatório-concreto: entre 7 e 12 anos de vida. Caracterizado pelo inicio do pensamento


lógico, onde a criança aprende a dominar as classes, as relações e os números, assim como raciocinar
sobre eles. Período marcado pela possibilidade da criança seguir uma lógica baseada nas implicações e
consequências de suas ideais e pensamentos.
-Período operatório-formal: Entre 12 e 16 anos de idade. Desenvolve-se, nesse último período, a
capacidade de analisar o pensamento próprio em relação ao dos outros. Aqui o adolescente já pode
trabalhar com relações complexas e abstratas, podendo, inclusive, prever as situações necessárias para
provar ou refutar hipóteses iniciais. Nessa última fase, tornam-se possíveis os sistemas lógicos e
abstratos mais desenvolvidos do pensamento. Tais sistemas podem incluir complexas combinações de
classes, sistemas de transformação de proposições lógicas, como operações inversas, negativas,
recíprocas e contrárias, tornando viável uma formalização lógico-matemática desenvolvida do
pensamento, utilizando as operações lógico-abstratas, a noção de reversibilidade e os agrupamentos
matemáticos e de classe.

Dependência genética: A correlação média da inteligência dos pais com a inteligência dos filhos
biológicos fica em torno do 0,50; entre gêmeos idênticos, em torno de 0,90 e entre pais e filhos adotivos
em torno de 0,25 (Sims, 1995). Entretanto, embora os fatores genéticos sejam importantes, o
componente ambiental (aprendizado, estímulos psicossociais nos períodos “cruciais” do
desenvolvimento cognitivo da criança, nutrição e condições adequadas de saúde, apoio afetivo, etc.) é,
seguramente, fundamental para que o indivíduo possa desenvolver de forma plena o seu potencial
genético.

MODELOS DE INTELIGENCIAS MULTIPLAS:

Inteligência geral (g) versus inteligências múltiplas: primeiras distinções dos tipos de inteligência:
inteligência verbal, visuoespacial, visuoconstrutiva, inteligência aritmética, capacidade lógica,
capacidade de planejamento e execução, capacidade de resolução de problemas novos, inteligência
para a abstração e para a compreensão, inteligência criativa, etc. Tais modelos de inteligências múltiplas
questionam a noção de inteligência geral (ou seja, a noção de que a inteligência de uma pessoa pode ser
expressa ou resumida a um traço latente unifatorial, que explicaria toda a inteligência). A partir dos anos
60, outros pesquisadores sugeriram que a inteligencia é baseada em multifatores, mudando a forma de
estudar os tipos de inteligência, que hoje são estudados da seguinte forma: inteligência social,
intrapessoal, motivacional, fluida ou cristalizada, maquiavélica, etc.

Inteligência social: Os teóricos da inteligência social partem do princípio de que o indivíduo é um ser
social, reflexivo, que participa ativamente de seu ambiente e visa objetivos coerentes
com tal ambiente. Os processos cognitivos mais importantes se desenvolvem em relação estreita com o
mundo em que se vive. Os comportamentos cognitivos, por serem intimamente conectados com o
contexto social, só podem ser compreendidos a partir da análise de tais contextos.

Inteligência emocional: inclui habilidades como autoconsciência emocional, empatia, consciência


emocional do outro, capacidade de utilizar emoções para fazer julgamentos, capacidade de administrar
conflitos, habilidade de construir laços de trabalho e de trabalhar em equipe.

Inteligencia intrapessoal: Abrange a inteligência social e a emocional, incluindo a capacidade de se


inter-relacionar com os outros de forma compatível com o auto-entendimento.
Os savants são pessoas que, apesar de apresntarem uma inteligência geral reduzida (têm geralmente
diagnósticos de autismo e/ou retardo mental), possuem habilidades muito desenvolvidas em áreas
como memorização de números, marcas de carros, matemática, desenho, música.
RETARDO MENTAL: Definido pela OMS como uma condição de desenvolvimento interrompido ou
incompleto das capacidades mentais, manifestando-se pelo comprometimento das habilidades
cognitivas que são adquiridas ao longo do desenvolvimento na infância e na adolescência. Incluem
principalmente as aptidões intelectivas, a linguagem e a capacidade de adaptação social. Indivíduos com
retardo mental representam cerca de 2 a 3% da população geral. O retardo mental no adulto
caracteriza- se pela presença de inúmeras limitações em áreas como linguagem e comunicação,
autocuidado (saúde, higiene e segurança), habilidades do indivíduo em alcançar as expectativas de seu
grupo cultural, capacidade de utilização dos recursos comunitários e capacidade adaptativa básica na
escola, trabalho e/ou lazer. O diagnóstico é feito por meio de teste de QI e pela identificação de um
padrão de dificuldades e incapacidades de adaptação e baixos rendimentos cognitivos na vida diária do
indivíduo. Outros transtornos mentais ocorrem com freqüência associados à deficiência mental.
Transtornos comumente associados ao retardo mental leve e moderado são: transtornos de
comportamento e de desenvolvimento na infância, autismo e epilepsia.

GRAU DE RETARDO MENTAL:


Limítrofe/intelectualmente borderline: QI de 70 a 85. Muitos deles não revelam dificuldades especiais
na vida, apenas as demonstram quando confrontados com exigências cognitivas mais complexas e
sofisticadas. Muitos indivíduos limítrofes costumam apresentar dificuldades intelectuais no contexto
escolar somente quando chegam ao Ensino Médio ou nos primeiros anos de universidade.
Deficiente/retardo mental leve: QI na faixa dos 50 a 69. O adulto possui idade mental correspondente
a uma criança de 9 a 12 anos. Raramente é identificada uma etiologia orgânica. Corresponde a 85% de
todos os indivíduos com algum grau de retardo. Crianças com esse tipo de retardo com frequência
revelam transtornos emocionais (depressivos, ansiosos, às vezes com agressividade), sobretudo quando
percebem que são diferentes e são rejeitadas pelos colegas. PodemCaracterísticas segundo a OMS:
1. Apesar de a aquisição da linguagem nos primeiros anos de vida poder ter sido demorada, são
capazes
de usar a fala adequadamente em situações do dia-a-dia.
2. Podem ser totalmente independentes em relação aos cuidados próprios (comer, vestir-se, lavar-
se, controle de esfincteres, etc.).
3. As habilidades práticas e domésticas podem ser normais.
4. São potencialmente capazes de realizar atividades que requeiram mais habilidades práticas que
intelectuais, como trabalhos manuais não-especializados ou semi-especializados.
5. Podem ter problemas específicos de leitura e de escrita.
6. Têm dificuldades em lidar com conceitos abstratos complexos, raciocínio lógico, problemas
matemáticos, etc.
7. No caso de se casarem e terem filhos, pode haver imaturidade emocional e sérias dificuldades
para lidar com os diversos desafios e exigências do casamento e da paternidade/maternidade.

Retardo mental moderado: QI na faixa de 35 a 49. . O adulto possui idade mental correspondente a
uma 6 a 9 anos. Apresentam desenvolvimento lentificado e incompleto da linguagem e compreensão.
Constituem cerca de 10% do total da população com retardo mental e possuem as seguintes
características:
1. A aquisição escolar é bastante limitada; apenas alguns indivíduos com esse grau de retardo aprendem
elementos de leitura, escrita e cálculos. Dificilmente vão além do primeiro ou segundo ano escolar.
Entretanto, falta o uso socialmente útil dessas habilidades, tratando-se mais de uma aquisição mecânica
que plenamente intelectiva.
2. São capazes de realizar tarefas práticas simples, se forem adequadamente estruturadas e houver
supervisão técnica apropriada.
3. Uma vida completamente independente na idade adulta poucas vezes é alcançada.
4. Muitos desses indivíduos, apesar de visivelmente deficientes e desajeitados no contato interpessoal,
gostam da interação social e podem estabelecer uma conversa simples.
5. Etiologia orgânica pode ser identificada em muitos dos indivíduos com retardo mental moderado.
6. Epilepsia e incapacidades neurológicas e físicas são comuns.

Retardo mental grave: QI de 20 a 34, adulto corresponde a uma criança de 3 a 6 anos. Tais indivíduos
tiveram, durante a infância, um desenvolvimento motor e neuropsicológico bastante prejudicado e
retardado. Não é rara a ausência completa ou quase total da capacidade comunicativa; muitas vezes
não falam ou aprendem poucas palavras. Representa certa de 3 a 4% dos indivíduos com retardo
mental. Necessitam de apoio e supervisão constante. É frequente os quadros autisticos, onde é comum
a hiperatividade grave e a auto-agressão, como bater a cabeça, morder as mãos ou cutucar os olhos.

Retardo mental profundo: QI a baixo de 20. Adulto corresponde a criança com menos de 3 anos. São
pessoas gravemente limitadas em sua capacidade de entender (mesmo comandos simples) ou de agir
de acordo com solicitações ou instruções. Muitas vezes ficam restritos ao leito (por distúrbio motor
grave), sem capacidade de fala e sem controle voluntário dos esfíncteres. Déficits visuais e auditivos
graves também são freqüentes, assim como epilepsia e outras doenças físicas. Na maioria dos casos,
podem-se identificar lesões cerebrais e a presença de etiologia orgânica. Compreende cerca de 1 a 2%
dos indivíduos com retardo mental.
O quociente de inteligência (QI) é uma medida convencional da capacidade intelectual do indivíduo,
baseada na averiguação das distintas habilidades intelectuais (verbais, visuoespaciais, abstração,
cálculo, etc.). Ele é obtido por meio de testes individuais padronizados, como o Wechsler Adult
Intelligence Scale-Revised (WAIS-R), o Wechsler Intelligence Scale for Children-Revised (WISC-R), o
Stanford- Binet Intelligence Scale, etc.
Pela aplicação dos testes em extensas amostras populacionais, obtiveram-se normas quantitativas do
QI. A média populacional do QI é igual a 100. Na faixa de 85 a 115 (QI normal médio), encontram-se 68%
da população. Um QI superior a 115 ou 120 é considerado uma inteligência superior, e um QI acima de
130 é considerado uma inteligência muito superior. A avaliação da inteligência deve buscar identificar
um padrão geral de rendimento intelectual, não se fixando apenas em, ou supervalorizando, áreas
específicas da inteligência. A interpretação dos resultados de testes de QI deve ser feita com cautela e
flexibilidade, sendo o teste considerado um guia, um indicativo, e não algo absoluto. O contexto cultural
do indivíduo, os valores, as normas e os estilos cognitivos de seu grupo étnico e social devem ser
seriamente considerados na interpretação dos resultados.

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