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Avaliação pré-escolar,

infantil, adultos e
envelhecimento
Odesenvolvimento cognitivo acompanha o desenvolvimento cerebral
desde a concepção até a fase adulta, portanto falar de avaliação pré-
escolar e infantil requer saber o desenvolvimento das estruturas
cerebrais.

Até os 3 anos de idade o desenvolvimento cerebral atinge a sua fase


mais intensa, gerando muitos neurônios, para depois serem
selecionados nas podas neurais. Porém não basta o sistema nervoso
se desenvolver, nesta fase o ambiente é essencial, pois é a interação
com o ambiente que irá fortalecer as sinapses para melhor selecioná-
las. Os grandes marcos até os três anos são: motores, refinamento
sensorial e aquisição da linguagem, sendo esta extremamente
importante, sabendo que um atraso de 12 meses no início da
linguagem é um indício de transtorno da linguagem, transtorno do
espectro autista ou um ambiente empobrecido de estímulos.

Aos seis anos, a criança aumenta seu vocabulário e aos quatro


começa a ter a memória autobiográfica, se desenvolvendo bem até
os oito anos. Dos oito aos dez anos a criança tem um aumento da
memória operacional, melhorando o tempo de reação, atenção
seletiva, recordação e resolução de problemas mais complexos, além
de ser o início da metacognição. Durante a infância até a
adolescência, temos o chamado grande desenvolvimento cognitivo,
que significa a evolução do conhecimento e pensamento, onde o
adolescente já atinge a capacidade de pensar em termos abstratos,
usam metáforas e linguagem simbólica, aumentando os
comportamentos emocionais mais modulados pela cognição e
experiência. (Malloy-Diniz, 2018)

Muitas vezes a avaliação pré-escolar foi questionada, porém é


importante saber que a intervenção precoce, permite programar
estratégias de intervenção que minimizem os efeitos ruins e
potencializem o desenvolvimento. Nesta faixa, até os seis anos, os
problemas ainda estão iniciais e a orientação dos pais irão ajudar
muito no desenvolvimento mais funcional da criança.

A avaliação até os seis anos precisa levar em consideração algumas


características desta fase do desenvolvimento, como:
espontaneidade, curiosidade, diminuição da inibição, menor
obediência a regras sociais, expressão de ideias, sentimentos e
desejos, assim como a dependência do adulto, atenção baixa,
labilidade do humor, pouca resistência a frustração e competência
verbal reduzida. Todas estas características levam a uma falha no
controle inibitório, distração, pouca flexibilidade cognitiva e
automonitoração fraca. Portanto, muitos testes nesta idade vão
avaliar funções executivas e linguagem.

Normalmente na fase pré-escolar a avaliação mais eficiente ocorre


através de perceber os marcos do desenvolvimento, indicadores
clínicos e observação comportamental, o uso de testes fica
secundário, apesar de existirem. Alguns exemplos de testes para
esta faixa são: Teste Não Verbal de Inteligência (SON-R), Child
Behavior Checklist até 5 anos, Teste de Vocabulário Auditivo, Teste
Infantil de Nomeação, Simon Task, Teste de Trilhas e o Inventário de
Classificação Comportamental da Função Executiva, preenchido
pelos cuidadores. (Malloy-Diniz, 2018)

A avaliação infantil, a partir dos seis anos de idade, envolve alguns


passos, como: entrevista inicial (com a criança e os cuidadores),
observações lúdicas, planejamento de avaliação, seleção de
instrumentos, análise e integração de dados. É normal nesta faixa
que os pais e os professores percebam algumas dificuldades e os
questionamentos mais comuns são: Esta criança não aprende, não
para quieto, não obedece.

O uso da avaliação neuropsicológica nesta fase é ajudar em


diagnósticos diferenciais, mapeamento cognitivos em quadros de
transtornos (TDAH, bipolar pediátrico, de conduta, entre outros) e em
pacientes com epilepsia para ajudar na localização do foco. Um teste
avaliado e validado no Brasil para esta faixa etária é a Avaliação do
Desenvolvimento Neuropsicológico – segunda edição (NEPSY-II),
desenhado para crianças de 3 até 16 anos de idade.

Alguns transtornos do neurodesenvolvimento podem ser avaliados


através da neuropsicologia, com alguns instrumentos típicos para a
infância. No transtorno do espectro autista pode ser usada a Escala
Wechsler de Inteligência para Crianças (WISC-IV) para pacientes
verbais e Matrizes Progressivas de Raven, para os pacientes não
verbais. Já o Teste de Sally-Anne, é usado para avaliar a teoria da
mente, que é a capacidade de perceber estados mentais nas outras
pessoas, existem também algumas escalas de observação
comportamental como o Inventário de Comportamentos Autísticos
(ICA). (Malloy-Diniz, 2018).

Já no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, o foco está na


atenção, funções executivas e nível intelectual, entre os instrumentos
utilizados estão: WISC-III, Teste de Desempenho Contínuo (atenção
sustentada), Teste de Atenção por Cancelamento (atenção seletiva),
Teste de Figura Complexa de Rey, NEPSY-II, AWMA, Escala de
Diagnóstico de TDAH em Crianças Aplicada aos Pais e Professores.

Queixas relacionadas com a leitura e escrita são comuns nos


transtornos de aprendizagem. Existem muitos instrumentos, entre
eles o WISC-IV (analisa discrepâncias entre a linguagem verbal e
não verbal. Pedir para a criança contar uma história, em voz alta ou
escrita é um bom método para verificar problemas na escrita ou
leitura.

Entre os 24 e 60 anos, o indivíduo completa a maturação das


funções cognitivas, além de se tornar independente e responder por
seus atos. O adulto procura a avaliação neuropsicológica por
diversos motivos: clínicos, contextos judiciais, pesquisa, entre outros.
E as queixas são as mais variadas possíveis, desde lesões cerebrais,
acidentes vasculares, infecção por parasitas, dificuldades de
concentração, esquecimentos, condições psiquiátricas e pós
cirurgias. O importante é que o adulto procure avaliação quando
perceberem alterações no comportamento, no afeto e na cognição,
que gerem problemas no dia a dia, trabalho, relacionamentos.   
Como as queixas são as mais variadas possíveis, é necessário uma
boa anamnese e observação comportamental, procurando perceber
como o adulto chegou no consultório, se consegue falar
adequadamente, se pede sempre ajuda ao acompanhante, pois o
grau de independência nesta fase normalmente é bem alto, sendo
observado qualquer sinal de dependência. A escolha dos
instrumentos de avaliação tem que levar em conta a hipótese do
encaminhamento ou a queixa do paciente, sendo recomendado o
uso de pelo menos 2 instrumentos para cada função avaliada. As
condições físicas do paciente podem interferir nos testes, de modo
que é essencial verificar como está o sono, tempo, uso de óculos,
aparelhos auditivos, uso de medicamentos, daltonismo e outros. A
avaliação neuropsicológica em adultos é mais complexa devido à
variedade de demandas e condições sociais, emocionais e
financeiras deste período do desenvolvimento muito extenso.

A avaliação de idosos (acima de 60 anos), não ocorre somente por


demência, apesar de ser o maior número, mas situações como
perdas em diversos domínios cognitivos, fins jurídicos (interdição,
capacidade cognitiva, entre outros). Porém ao avaliar o idoso, é
normal apresentar algumas dificuldades como: entrevistar vários
cuidadores, pois nem sempre o paciente consegue relatar o que está
ocorrendo, devido a deficiência na percepção dos déficits, é
importante saber qual era o estado prévio do paciente, para comparar
com o déficit atual e observar com isto se realmente ocorreu declínio
cognitivo e é fundamental determinar se as perdas ocorrem nas
atividades de vidas diárias, sejam básicas ou instrumentais.

A avaliação do idoso deverá conter dados de um exame clínico


(justifique a perda das atividades diárias em relação com o déficit
cognitivo), cognitivo e funcional. Uma entrevista inicial bem elaborada,
juntamente com os dados clínicos darão bom suporte às hipóteses e
a avaliação correta. Vale tomar cuidado para não tratar perdas
cognitivas, de memória por exemplo, como consequência somente
da idade. Muitas vezes as queixas cognitivas que os pacientes
trazem não são correspondentes com o desempenho cognitivo, isto
pode ocorrer em decorrência de outros transtornos como depressão
e ansiedade e não pela demência, cabe ao clínico, tentar entender
esta correlação.

É claro notar que a avaliação nesta faixa etária não pode ser limitada
a comparação do desempenho dos indivíduos com o grupo
normativo, pois o que é levado em conta é o declínio daquele
paciente. Um instrumento bom para avaliar o nível pré-mórbido, são
eles: O Teste de vocabulário da bateria WAIS-III, uma vez que avalia
o nível semântico, que tende a ser preservado em demências. A
avaliação de vida diária precisa ser realizada através de instrumentos
específicos para onde estão ocorrendo as perdas, sempre levando
em conta quais as atividades o idoso realizava e quais realiza
atualmente.

A avaliação do idoso, requer voltar às origens, uma excelente


anamnese, conversas com o clínico e depois o uso de alguns
instrumentos se necessários.

 
Atividade Extra

Como atividade extra vale a leitura do artigo abaixo sobre avaliação


de idosos

AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA E DEMÊNCIAS EM IDOSOS:


UMA REVISÃO DA LITERATURA | Dias | CADERNOS DE
PSICOLOGIA (cesjf.br)

Referência Bibliográfica

MALLONY-DINIZ, L.F; FUENTES, D; MATTOS, P; ABREU,


N. Avaliação Neuropsicológica. 2. Ed, Porto Alegre, Artmed,
páginas, 191-243, 2018

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