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(PHDA)
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4T1E
Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção
Os restantes critérios que devem estar presentes, segundo o DSM-V (2013), são:
Alguns destes sintomas surgirem antes dos 12 anos de idade, vários destes sintomas
ocorrerem em 2 ou mais contextos, não ocorrerem exclusivamente durante episódios
psicóticos, não serem melhor explicados por outra perturbação mental e existirem provas
de que estes sintomas interferem na qualidade do funcionamento normal do sujeito.
A PHDA divide-se ainda em 3 tipos: tipo predominantemente desatento, tipo
predominantemente hiperativo/impulsivo e tipo combinado (DSM-V, 2013). No tipo
desatento, predominam os sintomas de desatenção, sendo que a criança tem mais
dificuldade em prestar atenção, manter-se focada, ser organizada e lembrar-se de coisas.
No tipo hiperativo/impulsivo, predominam os sintomas de hiperatividade, sendo que a
criança é mais ativa, tem dificuldades em manter-se quieta, fala muito e parece que está
sempre pronta para o movimento. Por fim, no tipo combinado, que é o mais comum, há
os dois tipos de sintomas descritos anteriormente, em simultâneo (Kutcher, 2015).
Entre 3 e 7% das crianças em idade escolar sofrem desta perturbação (APA, citado
por Moura, 2008), sendo que a mesma é mais prevalente no género feminino que no
masculino. Existe ainda uma diferença de género no sentido de que usualmente as
meninas são mais do tipo desatento e os meninos do tipo hiperativo/impulsivo. Com a
idade, os problemas motores tendem a diminuir, embora os desatentos muitas vezes se
mantenham (Moura, 2008). Podem existir comorbilidades associadas a esta perturbação,
como a perturbação de oposição, perturbação do comportamento, depressão, ansiedade,
dificuldades específicas de aprendizagem, abuso de substâncias, entre outras, sendo que
a mais prevalente destas é o comportamento de oposição e desafio que pode ocorrer em
cerca de 40% das crianças com PHDA (Moura, 2008).
Esta avaliação deve ser caraterizada, numa primeira fase, pela obtenção de um
conjunto de informações anamnésicas recolhidas através de entrevistas à criança e
àqueles que a rodeiam. Através destas entrevistas é possível recolher fatores importantes
para o diagnóstico e ainda observar diretamente o comportamento da criança em questão.
Esta fase é muito relevante, porque através da entrevista é possível ter acesso a
informações acerca de diversas variáveis: variáveis do comportamento problemático,
variáveis pessoais, variáveis ambientais (passadas e atuais) e variáveis biológicas
(passadas e atuais), que devem ser analisadas para que seja feita uma boa avaliação (Maia,
2012). Numa fase seguinte, deve-se recorrer a métodos mais formais de avaliação,
utilizando instrumentos como escalas ou checklists devidamente validadas pela
comunidade científica, para que seja obtida informação mais específica acerca da
perturbação (Moura, 2008).
Outros instrumentos que podem ser utilizados são o Toulouse Piéron, que avalia
a atenção seletiva e sustentada e a velocidade de processamento (Neves, 2018), ou o teste
de atenção d2, que é um instrumento que avalia a atenção seletiva e que se insere na
categoria de testes de cancelamento, pois é pedido à criança que assinale um estímulo
específico e ignore todos os outros estímulos (Lopes, 2019). Estes testes exigem um
grande nível de foco e de controlo da impulsividade, o que faz deles eficazes para avaliar
esta problemática. O Stroop Interference Test pode também ser um bom instrumento para
avaliar crianças com PHDA, dado que avalia problemas na função de inibição (Sorensen,
Plessen, Adolfsdottir & Lundervold, 2013). Por fim, temos ainda a Wechsler Intelligence
Scale for Children (WISC-IV), que foi identificada por Thaler, Bello e Etcoff (2012)
como sendo um instrumento que também pode vir a ser útil na predição de sintomatologia
associada à PHDA, no sentido de que esta consegue detetar a manifestação de uma baixa
velocidade de processamento e desatenção.
Por fim, como em qualquer perturbação, ajuda ter uma boa rede de suporte por
parte de amigos e família. É muito importante a criança sentir que as pessoas à sua volta
compreendem os desafios pelos quais ela passa, apoiam-na, relembram-lhe que ela não
está sozinha, ouvem-na quando ela precisa de falar e ajudam-na a manter-se focada
quando algo é importante (Kutcher, 2015).
Resumo do Caso
O presente caso incide sobre um menino chamado Alex, de 8 anos, que foi
referenciado pela sua professora da escola primária devido a comportamentos disruptivos
e de desatenção. A professora identificou comportamentos como levantar-se do seu lugar,
distrair os seus pares e cometer erros por descuido nos trabalhos de escrita. Verificou
também por parte dos pares alguma frustração com o comportamento de Alex, que estava
a levar a um isolamento do menino. Para avaliar o caso, a psicóloga escolar realizou
entrevistas à professora, à mãe de Alex e ao próprio menino, aplicou algumas escalas
estandardizadas, realizou observação em sala de aula e analisou a sua história escolar
(Levine & Anshel, 2011).
A intervenção iniciou com uma sessão com a mãe e a professora acerca dos
resultados da avaliação e do que iria ser feito, de seguida, iniciou-se a referida formação
à mãe e à professora. A intervenção propriamente dita, foi aplicada pela mãe em casa e
pela professora em sala de aula e consistiu em estratégias como existir um sistema de
recompensas, uma nota informativa diária da professora para a mãe com informação
acerca do desempenho de Alex na escola, mais supervisão para manter um alinhamento
de tarefas, mudar o lugar do menino em sala de aula para a frente (onde existem menos
distrações), dar instruções mais eficazes, usar vários materiais e mais cativantes, entre
outras. Esta intervenções foram acompanhadas de um trabalho cognitivo de origem CBT,
onde foi ensinado a ambas as senhoras que as atribuições internas que estas faziam ao
comportamento da criança originavam certas respostas emocionais e comportamentais
por parte da mesma. Assim, elas começaram a identificar estes pensamentos e a tentar
modificá-los (Levine & Anshel, 2011).
Este isolamento social e este baixo rendimento académico estavam a levar Alex a
ter uma baixa autoestima e alguns sintomas depressivos, o que é referido na literatura por
Moura (2008) como sendo comum, dado que a depressão surge como uma comorbilidade
associada à PHDA. Isto pode ser preocupante e pode levar a consequências graves
provenientes da depressão, tais como comportamentos auto-lesivos ou mesmo suicídio,
pelo que uma das preocupações da psicóloga ao entrevistar a criança, foi despistar um
diagnóstico de depressão com possíveis pensamentos suicidários.
Quando se trabalha com crianças, é importante que esse trabalho seja continuo e
que se alastre a todos os contextos da criança. Desta forma, outro aspeto importante e
positivo nesta intervenção, foi o facto de ambas a mãe e a professora trabalharem em
conjunto, uma na escola e outra em casa, mas com o mesmo objetivo e mantendo uma
comunicação entre si. Foram criadas estratégias que permitiram a Alex focar-se numa
coisa de cada vez e aumentar a sua motivação, tais como o sistema de recompensas.
Foram partidas as tarefas em bocadinhos (para que o tempo de foco necessário fosse
menor e ele conseguisse concluir as mesmas), foi aumentada a supervisão (para ser
melhor mantido um alinhamento de tarefas), sentou-se o menino mais à frente na sala de
aula (onde existem menos distrações), entre outras. Todas estas estratégias se revelam
adequadas à problemática, sendo que algumas são inclusive referidas por Kutcher (2015).
No entanto, dado que existe uma problemática nas relações interpessoais de Alex
com os seus pares, acredito que esta intervenção lucraria se fossem incluídos também os
pares na mesma. Os pares têm um enorme impacto no processo educativo de uma criança
e em qualquer perturbação, é crucial ter uma boa rede de suporte social (Kutcher, 2015).
Alex expressou que a rejeição pelos pares estava a afetá-lo emocionalmente, pelo que
seria interessante acrescentar uma componente à intervenção onde existisse trabalho entre
colegas. Desta forma, esta intervenção ficaria mais completa e sendo que existiriam mais
parceiros, provavelmente seria ainda mais eficaz.
Propostas de Instrumentos, Metodologias e Estratégias de Intervenção Alternativas
No artigo, não nos é dada informação acerca se existem mais agentes educativos
na vida da criança, se esta frequenta algum ATL ou se tem alguma atividade
extracurricular. Se a criança conviver regularmente com o seu pai ou, por exemplo, com
os seus avós, estes podem ser elementos importantes para o processo de avaliação e de
intervenção. Por outro lado, se a criança frequentar outros espaços para além da escola,
poderia ser relevante incluir os mesmos em ambos os processos também. Desta forma,
seria possível obter mais informação acerca do comportamento de Alex nos diversos
contextos, seria possível compreender melhor o seu quotidiano e os seus interesses e
existiriam mais agentes para pôr em prática uma intervenção que cobriria todos os
contextos da criança.
Assim, com estas sugestões, possivelmente Alex teria uma avaliação e intervenção
mais completa e eficaz, pois ainda que com a avaliação e intervenção que recebeu já tenha
obtido resultados muito positivos, há sempre espaço para melhorar.
REFERÊNCIAS
Kutscher, M. L., & Attwood, T. & Wolff, R. R. (Collaborators). (2005). Kids in the
syndrome mix of ADHD, LD, Asperger's, Tourette's, bipolar and more! The one stop
guide for parents, teachers, and other professionals. Jessica Kingsley Publishers
Levine, E., Anshel, D. (2011). “Nothing Works!” A Case Study Using Cognitive-
Behavioral Interventions to Engage Parents, Educators and Children in the Management
of Attention-Deficit/Hiperactivity Disorder”. Psychology in the Schools, 48(3), 297-306.
Sorensen, L., Plessen, K. J., Adolfsdottir, S., & Lundervold, A. J. (2013). The
specificity of the Stroop interference score of errors to ADHD in boys. Child
Neuropsychology, 00(00), 1–15. https://doi.org/10.1080/09297049.2013.855716
Thaler, N., Bello, D., & Etcoff, L. (2012). WISC-IV Profiles Are Associated With
Differences in Symptomatology and Outcome in Children With ADHD. Journal Of
Attention Disorders, XX, 0–11. https://doi.org/10.1177/1087054711428806
Willcutt, E. G., Doyle, A. E., Nigg, J. T., Faraone, S. V, & Pennington, B. F. (2005).
Validity of the Executive Function Theory of Attention- Deficit / Hyperactivity Disorder :
A Meta-Analytic Review. Biol Psychiatry, 57, 1336–1346.
https://doi.org/10.1016/j.biopsych.2005.02.006