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Jean-Pierre Torrell, OP
Prefácio
p.xiv Tratando-se de tal personalidade – muito mais, sem dúvida, do que para muitas outras
–, a vida não poderia ser compreendida sem a obra. Para expressá-lo numa imagem, não se concebe
Santo Tomás sem a Suma Teológica!
p.xv Esta nova abordagem da biografia de Tomás não nos fará aprenas descobrir algo sobre
sua movimentara existência; permitir-nos-á tambem reinserir suas obras no contexto;
p.xvi O santo não só é inseparável do filósofo e do teólogo, mas que há ainda que ver nele
um “mestre espiritual”.
p.2 Família: de origem lombarda (desde 887); castelo de Roccasecca lhe pertence (desde séc
X); Tomás recebe seu patronímico do “condado de Aquino” e não da cidade, que não foi seu lugar
de nascimento.
Em Paris (1245-1248):
– [argumentos que defendem sua estadia em Paris para estudo];
– Ao que tudo indica, ele deixou Cassino com uma boa formação básica, mas os quatro ou
cinco anos em Nápoles (1239-1244) talvez não tenham bastado para que terminasse ociclo
das artes (eram seis ou sete anos); ele concluiu sua formação filosófica em Paris; deve-se
acrescentar que, simultaneamente, ele começou a teologia. A estada de estudos em Paris foi
uma época de formação mista; começou teologia enquanto terminava filosofia;
Em Colônia (1248-1252):
– constitui etapa decisiva na vida de Tomás; é a época de seu ordenamento sacerdotal, mas
nada de preciso sabemos a respeito.
– Santo Alberto exerceu sobre ele condiderável influência;
– como era visto: “boi mudo da Sicília”, pelo caráter taciturno; Alberto: “Nós o chamamos de
boi mudo, mas ele fará ressoar por meio de sua doutrina um mugido tal que repercutirá no
mundo inteiro”.
– Alberto indica o jovem teólogo (27 anos) para ensinar em Paris; mas para assumir
canonicamente esse cargo deveria ter 29; Alberto insistiu; 1252: Tomás ensina as Sentenças;
– Obs.: é um equívoco a ideia neste período da oposição do agostinianismo (“de Boaventura e
os franciscanos”) ao aristotelismo (“de Tomás e os dominicanos”)
O bacharel sentenciário:
– Tomás e sua tarefa: comentar as Sentenças de Pedro Lombardo; depois de seu tempo como
bacharel bíblico, tratava-se de sua segunda etapa em direção ao grau de mestre em teologia;
– Obs: As Sentenças fariam parte do programa costumeiro, obrigatório durante três séculos;
– [Sentenças] Pedro Lombardo quis inaugurar novo estilo de ensino; reunir num só volume as
diversas opiniões (setentiae) dos Padres da Igreja sobre temas da teologia;
– Tomás não foi o primeiro nem o último a ir “além de Lombardo”, mas foi o mais resoluto;
– Obs.: mais de 2 mil citações de Aristóteles (“Ética a Nicômano” - 800; “Metafísica” - 300;
“Física” e “Deanima” - 250); → Agostinho, autor mais prestigiado depois de Aristóteles,
não totaliza mais de mil citações (Pseudo-Dionísio - 500; Gregório Magno – 280; João
Damasceno – 240);
– [Divisão Sentenças] histórica e lógica: 4 livros → (1) Deus Trindade; (2) Deus como criador
e sua obra; (3) A encarnação do Verbo e a redenção; (4) A doutrina dos sacramentos;
– Obs: apanhado de questões justapostas, não tanto uma obra ordenada em torno de uma deia
central; Tomás propõe organizar a matéria da teolodia com Deus como centro e todas as
coisas em volta, segundo a relação que mantém com ele, quer venham dele como de sua
origem primeira, quer a ele voltem como para seu fim último.
– Essa apresentação – que já antecipa o plano da Suma – não deriva de mera opção
pedagógica; exprim uma profunda intuição espiritual; → Tomás vê em Deus o “tema”
principal de seu discurso; se ele só concede ao Verbo encarnado um lugar secundário –
crítica que lhe é às vezes dirigida – é por conferir primazia à Trindade.
Dois opúsculos:
– De ente et essentia; De principiis naturae
– a presença, desde o início desses dois pensadores de língua árabe [Avicena e Averróis] –
assim como a de Maimônides, que logo encontraremos – chama nossa atenção para o que
Tomás recebeu do mundo árabe e judeu (a começar por Aristóteles); é importante ter
consciência do que devem a seus predecessores.
– Obs: Tomás os compôes a pedido de seus irmãos, e para prestar-lhes serviço; A despeito de
um pesado trabalho como professor e autor, Tomás jamais se furtou a esses deveres de
caridada intelectual, e esse é um dos elementos de sua santidade.
A aula inaugural:
– o cargo de bacharel era transitório;
– ainda que outros candidatos pudessem ter sido escolhidos, o reitor preferiu Tomás, embora
não possuísse a idade requerida (tinha 31 ou 32, quando deveria ter 35);
– reação de Tomás: preferia rejeitar, mas obedeceu; Pôs-se então a orar (com muitas lágrimas);
em sonho um frade lhe apareceu, Tomás não tinha ideia do tema a tratar; o frade propôs:
“De teus cimos tu dás de beber às montanhas, a terra se nutre com o fruto de tuas obras” (Sl
103.13, na Vulgata) → Tomás então preparou sua aula inaugural.
– Quando Tomás proferiu sua aula inaugural, ainda não havia terminado de refigir seu
comentário às Sentenças, mas a partir de setembro ele devia exercer as três funções do
mestre em teologia: legere, disputare, praedicare.
– Depois Tomás diria as qualidades dos doutores na Escritura: elevados (alti) para pregar
eficazmente, esclarecidos (illuminati) para ensinar; e fortificados (muniti) para refutar erros;
Disputare: o De veritate:
– a segunda função do mestre era a “disputa”; ensinar com uma pedagogia ativa, na qual se
procedia por meio de objeções e respostas sobre um tema dado.
– Obs: não conhecemos a data exata de sugimento da disputatio (decorrer do séc XII), mas ela
adquiriu autonomia no início do séc XIII, e é efetivamente possível situá-la na evolução das
formas de ensino.
– (1) Lectio → comentário de um texto; (2) Quaestio → elaboração mais extensa de um tema
preciso, se presta ao tratamento dos problemas que mestres e estudantes podiam propor;
– “(a quaestio) é uma forma regulare de ensino, aprendizagem e pesquisa, presidida pelo
mestre, caracterizada por um método dialético que consiste em introduzir e examinar
argumentos de razão e de autoridade que se opõem em torno de um problema teórico ou
prático e são fornecidos pelos participantes, na qual o mestre deve alcançar uma solução
doutrinal mediante um ato de determinação que o confirma em sua função magistral”.
– Comparada à lectio, um elemento desapareceu: o texto; mas outro surgiu: a discussão. (!!)
– 02 formas: Disputatio privata (na escola, entre alunos e mestre); Disputatio publica ou
ordinaria (alunos de outras escolas podiam assistir);
– Jornada de ensino em Saint-Jacques: Tomás dava sua aula pela manhã; depois vinha a do
bacharel; à tarde, ambos se encontravam com seus alunos para “disputar” sobre um tema
escolhido; Não sendo sucificientes as três horas destinadas a essa pedagogia ativa para
esgotar o assunto, procedia-se artigo por artigo; O resultado (objeções, respostas e
determinações magistrais) era mais tarde reuninos numa redação final; A elaboração do De
Veritate estendeu-se desse modo aos três anos escolares 1256-1259, na ordem de cerca de 80
artigos por ano, o que corresponde bem proximadamente ao número de dias de ensino.
– Obs: deve-se acrescentar que é importante estar atento ao fato de a questão disputada ser
também um gênero literário. Formados na dialética de pro e do contra; o mais belo
espécime é a Suma teológica, inteiramente composta segundo esse esquema; (isso significa
que certas quaestione disputatae podem não ter sido de fato disputadas, nem em público
nem privadamente);
– Obs: no De veritate vemos em ação o gênio do jovem mestre, que se afirma cada vez mais, e
principalmente para compreender a evolução de sua teologia: em relação às Sentenças ele já
mudara em alguns pontos seu parecer, e tornaria a fazê-lo em obras posteriores. (ex: como
ele se refere à graça na Suma supõe um percurso que, das Sentenças, passou pelo De
veritate).
– (!!) Tomás nada tem de sistemático rígido; é antes um gênio em movimento, em ato de
perpétua descoberta.
O contra impugnantes
– o conflito ultrapassara o âmbito universitário; questão mais central: a legitimidade do
ministério de religiosos que pretendiam se dedicar ao estudo e ao ensino, vivendonão de seu
trabalho mas de mendicidade;
– queriam enviar todos os religiosos de volta aos mosteiros, de onde jamais deveriam ter
saído, para que ali trabalhem com as próprias mãos;
– Tomás não esperará muito para intervir no debate;
– Guilherme de Santo Amor, líder opositor, publica De periculis em mar-abr de 1256; Tomás
refuta o de periculis; assume imediatamente uma posição → Contra impugnantes;
– (1) Tomás começa por definir o que é uma religio (ordem religiosa); (2) pois nossos
adversários são contra religiosos. Estabelece o caráter lícito do ensino para os religiosos; (3)
e seu direito de pertencer ao corpo docente; (4) Trata-se de defender seu direito de pregar e
de confessar mesmo que não detenham cargo pastoral; (5) sem que disso os impeça a
obrigação de trabalhar manualmente; (6) Eis porque Tomás reivindica para eles o direito à
pobrez mais absoluta (7) e, em particular, a possibilidade de viver de esmolas, para que não
ficassem imobilizados em assuntos de adm financeira ou de outro tipo.
– Tomás situa a vida teologal em toda sua extensão: a fé, em 1º lugar, primeiro laço que liga o
homem a Deus, mas tmb a esperança e a caridade. Caridade se torna matéria do serviço
prestado a Deus. Tem-se o que o NT chama de sacrifício espiritual: oferenda de si (Rm 12.1)
pelos votos de castidade e obediência; a oferenda de seus bens pelo da pobreza.
O polemista
– Em seus escritos polêmicos em favor da vida religiosa, Tomás toma partido e entrega-se
pessoalmente; foi atingigo no que lhe é mais caro: a vocação pela qual lutou em sua
juventude (!!); esses livros nos fazem apreender o caráter apaixonado de seu temperamento
e alguns traços a seu retrato espiritual.
– Por vezes se deixa levar até o ponto de julgar seus adversários: “mentem descaradamente”...
o trecho final de Contra retrahentes: “Se alguém quiser contradizer essa obra, que não vá
tagarelar diante de garotos, mas que escreva um livro e o publique”;
– Tomás é capaz de manifestar sua surpresa, impaciência e mesmo indignação quando os
argumentos de seus adversários são por demais inconsistentes ou sem verificação. Isso vale
não apenas para o jovem Tomás, o do Contra impugnantes, mas também para o adulto; um
tipo de homem bem diferente do plácido e majestoso obeso popularizado pela iconografia
corrente;
– “os que defendem essa posição devem confessar que não compreendem nada de nada e que
nem sequer são digno de discutir com aqueles a quem atacam.”
– “Se alguém, gabando-se de uma falsa ciência, pretendesse argumentar contra o que acabo de
escrever, que não vá tagarelar pelos cantos ou diante de crianças incapazes de julgar em
assunto tão difícil, mas que escreva contra esse livro – se ousar. Terá de lidar não só comigo,
que sou o menor deles, mas com uma multidão de outros amantes da verdade, que saberão
resistir a seu erro e vir em auxílio de sua ignorância”
– Mesmo que tivéssemos que admitir que essa polêmica não nos mostra o melhor Tomás,
deve-se reconhecer que o homem que fala desse modo nada tem de um intelectual temeroso;
ele tem consciência de seu valor e não teme enfrentar seu adversário.
– (!!) Tais constatações já bastariam para destruir a lenda de autor anônimo que não fala de si
mesmo e jamais se abre. Tomás não escreveu suas Confissões, é verdade, mas suas obras
falam mais dele do que se pensa. (!!)
– [sobre a letra lendariamente difícil de Tomás] → expressões no estudo de Pe. Gils: Tomás é
“tenso e apressado”, ele “gostaria de ir mais rápido”; “essa paciência”, da qual necessitaria
para escrever corretamente, “Tomás não a possui”. Apressado, fatigado, distraído, ele deixou
em seu texto lapsos, cacografias e gralhas. (sua letra personalizada revela com força
irrecusável o temperamento de seu autor); (!!) Tomás é um homem apressado.
Favorecer os estudos
– Junho de 1259: Tomás foi a Valenciennes; comissão; capítulo geral dos dominicanos;
– A comissão redigiu uma série de recomendações; todas destacam a prioridade do estudo em
relação a outras tarefas;
O comentário do Livro de Jó
– paralelamente a este ensino, Tomás devia comentar para seus irmão um livro da Escritura;
– Obs.: proviência foi o tema central do Livro III do SCG, escrito aprox na msm época; foi
tmb o tema de Expositio super Iob; seria coerente que Tomás escolhesse Jó;
– é um dos mais belos comentários que Tomás nos legou; caráter escolástico e teológico; não
exigiremos exegese moderna e nem aplicação espiritual imediata;
– ex: São Gregório – exortação à paciência nas provações, fim moralizante; Tomás – Jó é tema
de discussão sobre o problema metafísico da providência;
– Além de uma antropologia filosófica e teológica, esse livro se apresenta como profunda
meditação sobre a condição humana;
Um teólogo bastante solicitado
– Se emptione et venditione, 1262 (a compra e a venda a prazo), sobre usura;
– Contra errores Graecorum, 1263-64 (exame irênico dos padres gregos);
– De rationibus fidei, 1265 (resposta sobre quem ridicularizava dogmas cristãos);
– Expositio super primam et secundam Decretalem, (comentário doutrinal)
– De articulis fidei et ecclesiae sacramentis (resumo doutrinal dos art de fé e sacramentos)
De divinis nominibus
– comentário de Tomás desta obra, de Pseudo-Dionísio; a origem apostólica do qual soubera
se revestir o genial falsário teve sem dúvida grande peso na autoridade que exerceu na Idade
Média;
A Catena aurea
– comentário dos quatro evangelhos por meio de uma série d citações dos Padres da Igreja;
– orgnizada numa expositio continua, verso por verso;
– importância: pela quantidade e qualidade do material reunido; Tomás demonstra um
conhecimento de patrística grega excepcional para a época;
– dizem: Catena foi um turning point no desenvolvimento do pensamento de Tomás e da
teologia católica;
– as fontes são um traço principal do caráter intelectual de Tomás; Tocco: Tomás ia de
mosteiro a outro, onde lia as obras dos diferentes Padres e retinha de memória grande parte
dos comentários que mais tarde transcrevia;
– Para Tomás, a estadia em Orvieto foi ainda um período rico em contatos humanos;
– se foi amante da solidão e do estudo, também teve amigos, proximidade com a corte papal;
– não poderemos deixar de ficar impressionados pela rapidez com que trabalhou;
O studium de Roma
– 8/set/1265: estabeleceu-se em Roma;
– havia pouco empenho com que os frades se dedicavam aos estudos; é verossímil que tenha
intervindo a fundação de uma casa de estudos em Roma;
– não um studium generale (grande centro de estudos) nem studium provinciale, mas um
studium personale – Tomás podia aplicar livremente um programa de estudos de sua
escolha; → a inovação de Tomás não pode ser apreendida sem lembrar de Orvieto e sua
formação de irmãos na teologia moral e pastoral da confissão, além da pregação;
– Ele tentou retomar para seus estudantes o comentário das Sentenças; isso não lhe pareceu
suficiente, e ele então partiu para a redação da Suma teológica.
A Suma teológica
– “nossa intenção é, portanto, expor o que concerne à religião cristã segundo o modo que
convém à formação dos iniciantes.”
– Tomás de fato “ensinou” em Roam a Prima pars da Suma e uma parte da Prima secundae
– até set de 1268: redigiu totalidade de Prima pars;1270-71, secundae; 1271-72, tertia;
– A Suma teológica é ainda hoje a obra de Tomás mais utilizada e indubitavelmente a mais
conhecida;
O conteúdo da Suma
– “trataremos primeiramente de Deus (Prima pars), em seguida domovimento da criatura
racional em direção a Deus (Secunda pars), e enfim de Cristo, que segundo sua humanidade,
é para nós a via que conduz a Deus (Tertia pars)”. (ST Ia 1.2 Prol.)
– Prima pars:
– (1) o que se relaciona à essência divina – 2-26;
– (2) o que pertence à distinção entre pessoas – 27-43; / fim da Prima é a maneira pela
qual as criaturas procedem de Deus – 44-119 (criação geral 44-46, distinção das
criaturas 47-102, como Deus governa na sua criação 103-119);
– Secunda pars:
– prólogo Deus um fim em si mesmo 1-5;
– Prima secundae: os atos humanos 6-89; a lei 90-108; e a graça 109-114;
– Secunda secundade: virtudes teologais 1-46; virtudes cardeais 47-170; vida
contemplativa 171-189;
– Tertia pars:
– (1) Jesus Cristo salvador 1-59 → (a) mistério da encarnação 1-26; (b) o que o Verbo fez e
sofreu por nós na carne 27-59;
– (2) sacramentos: em geral 60-65; batismo, eucaristia, penitência, 60-90 – pate inacabada;
– a terceira seção deveria consistir em um exame detalhado do fim ao qual somos chamados, a
vida imortal em que ingressamos ao ressuscitar por Cristo;
– Obs: imaginar que esse projeti inovador (a Suma) tenha sido aceito com entusiasmo, mesmo
pelos confrades dominicanos de nosso autor, seria um erro. Ainda por muito tempo as
Sentenças seriam preferidas à Suma. O historiador deve constatar que a obra-prima de
Tomás não atingiu diretamente um grande público..
O compendium theologiae
– 1265-1267
– Classificado de maneira imprópria entre os “opúsculos”, essa obra é pouco conhecida;
– Nela descobrimos um Tomás incomum (há quem fale de estilo mais boaventurino); o
Compendium se preocupa com a simplicidade e a brevidade; curtos capítulos; série de
“abreviadores” da doutrina cristã, que não deixaram de orientar os séculos;
– referência ao Enchiridion de Agostinho; trilogia das virtudes teologais: credo [apostólico], o
pater [pai nosso] e os Decem precepta [decálogo] → teologia pastoral de Tomás;
– Tomás: “Deves em 1º lugar ter fé para conhecer a verdade, em 2º lugar a esperança para
situar teu desejo no verdadeiro fim e, por último, a caridade, pela qual teu amor será
totalmente retificado”;
Guilherme de Moerbeke
– esse nome é habitualmente associado peos historiadores ao de Tomás de Aquino, para evitar
maiores explicações; → Guilherme é um personagem célebre, tradutor, verteu do grego para
o latim obras filosóficas e científicas do séc IV a.C ao sévulo VI d.C. → uma ampliação
espetacular do séc XIII no conhecimento dos tesouros da civilização grega deve-se à sua
competência e trabalho infatigável;
– Teoria derrubada já: Teria sido o próprio Tomás que teria impulsionado Moerbeke em seu
empreendimento de tradução, a fim de dispor das peças necessárias para sua grande obra.
– Talvez tiveram contato, mas Tomás teve acesso à sua tradução, um exemplar imperfeito de
De anima;
O De aeternitate mundi
– para a maior pare de teólogos da época (ex: Boaventura e Peckham), isso era impensável, e
que seria fácil provas haver o mundo começado por meio de razões muito eficazes. Para
Tomás, só a fé pode sustentar que o mundo começou; essa é a tese;
– a obra foi uma réplica dirigida a João Peckham, que defendia a tese oposta à de Tomás; em
consideração ao candidato a maestria em sua aula inaugural, Tomás manteve o silêncio; mas,
ao sair da cerimônia, seus alunos indignados o pressionaram a intervir; no dia seguinte,
Tomás intervém calma mas firmemente, mostrando a fragilidade da oposição de seu
oponente; logo em seguida, escreveu De aeternitate mundi.; O debate com Peckham teria
sido o impulso que levou Tomás a exprimir com toda a clareza a certeza a que chegara com
sua frequentação de Aristóteles.
O De unitate intellectus
– na frente oposta à dos conservadores, Tomás devia igualmente combater o que se
convencionara chamar “averroísmo”;
– 4 frentes dessa tendência heterodoxa: (1) eternidade do mundo; (2) negação da providência
universal de Deus; (3) unicidade da alma intelectiva para todos os homens – ou
monopsiquismo; (4) determinismo.
– “averroísmo latino”: caracterizada posteriormente como uma espécie de aristotelismo
radical ou heterodoxo; (mas é bem mais complexo); → admite-se hoje que Averróis não era
averróista;
– essas discussões são importantes para apreender a personalidade de Tomás e sua humildade
diante de Peckham;
– Porém, deve-se também ressaltar que nessas controvérsias, Tomás volta a mostrar-se como
de fato é: um lutador que não hesita em se bater quando necessário, e pronto a responder
qualquer desafio; leal e rigoroso, mas tmb impaciente na polêmica ante adversários;
– Não é simplesmente a atitude do pensador e professor, mas tmb a do pregador, preocupado
com a fé do povo fiel.
– Tomás não se dedicou todo seu tempo à polêmica; Longe disso! Sua principal ocupação
continuava a ser o ensino da Sacra Pagina;
As disputas quodlibetais
– disputas ordinárias, característica da universidade medieval; duas vezes no ano (quaresma e
o advento – páscoa e natal) em duas sessões; podiam levantar todo tipo de questões;
– há cerca de 260 temas tratados; alguns deles são bem claros quanto à consciência que Tomás
tinha de si próprio como mestre em teologia;
– “em caso de necessidade iminente, bispos e doutores deveriam deixar de lado seu ofício
específico para se dedicar à salvação das almas em particular.”
De iudiciis astrorum
– mostra como a superstição era difundida; é útil considerar as fases da lua na agricultura,
medicina, navegação; porém não pra presságios, sonhos, augúrios, geomancia;
De sortibus
– cônegos com dificuldade de eleger seu bispo, teriam decidido tirar a sorte; Tomás foi
consultado; explora as razões que podemos ter para recorrer à sorte;
De secreto
– seis casos concernentes aos limites do poder de um superio religioso;
A “Carta à condessa de Flandres”
– 1271; oito questões sobre tributar judeus, puni-los com multa por incorrer em falta e viver
de usura; aceitar doação de judeu, etc; Tomás não parece empolgado em responder; escreve
com brevidade; sua escrita reside menos no tratamento aos judeus do que no principio geral
que funda a legitimidade do imposto recebido – utilidade pública;
O De substantiis separatis
– quer tratar dos santos anjos; “uma vez que mostramos o que Platão e Aristóteles pensaram
acerca das substâncias espirituais, precisamosmostrar o ensinamento da religião cristã a seu
respeito”; → Obs.: a importância desse tratado: escritometafísico; síntese platônica mais
bem elaborada em Tomás;
O Super de Causis
– intenção de Tomás: comparar três textos: liber, elementatio e corpus dionisiano;
– quanto aos escritos: chama-nos atenção seu número, mais ainda sua diversidade; esperamos
em medida ver em Tomás o homem de um só livro, a Bíblia; mas há variedade de produção
e presença em questões contemporâneas;
Obras inacabadas
– O De caelo et mundo – se serve do comentário de Simplício na versão de G de Moerbeke;
trata-se de cosmologia; Tomás reinterpreta Aristóteles no sentido da fé cristã;
– O De generatione et corruptione – mal fora começado; Tomás nem sequer terminou o 5º cap
de uma obra de dois livros;
– O Super Meteora – Tomás explica os meteoros até o antepenúltimo cap do livro II;
Tomás e Aristóteles
– intensidade e rapidez nos trabalho; quanto à qualidade, as opiniões se dividem; seus fieis
tiveram de admitir que seu mestre “prolongara” o Filósofo;
– reconhece-se que é inteligente, e sem dúvida profunda, muitas vezes literal, mas não deixou
de desvirtuar a doutrina de Aristóteles em pontos decisivos, como no coment sobre a Ética,
guiado pelo princípio explicitamente cristão da visão beatífica; Como jocosamente o dizia
um de seus mais profundos intérpretes contemp, Tomás “batizou Aristóteles”; Gauthier: ele
herdou um Aristóteles “já todo cristão”; Mesmo os que hoje querem defender uma
fidelidade substancial devem admitir que ela se operou por “aprofundamento e superação do
texto de Aristóteles”.
– Obs: Muitos equívocos serão evitados se nos ativermos ao verdadeiro propósito de Tomás;
ele pretende buscar a intentio auctoris (regra da expositio reverentialis, da hermeneutica
medieval, o que o autor quer dizer); Nesse ponto, Tomás sente-se autorizado a pôr-se em seu
lugar para prolongá-lo e fazê-lo dizer coisas em que ele nem sequer poderia ter pensado.
– (!) Ele empreendeu esses comentários numa perspectiva apostólica, a fim de melhor realizar
seu ofício de teólogo e sua obra de sabedoria, tal como a compreendia a dupla escola de São
Paulo e Aristóteles: proclamar a verdade e refutar o erro.
– (!!!!) Procurando exprimir o que eles “quiseram dizer”, Tomás mostrava o que eles na
verdade procuraram sem saber (!!!!). Tal como São Paulo em Atenas, diante de seus
interlocutores do Areópago. (!!!!)
A vida de Jesus
– Obs.: ao deixar Paris, dentre as tarefaz mais importantes, urgia em primeiro lugar concluir a
Suma; estavam escritas apenas as primeiras questões da Tertia pars; isso corresponde à
teologia de Cristo, união hipostática e suas consequências. (q.27-59 da Tertia);
– revelam um embasamento bíblico e patrístico que espantaria os que só querem ver em
Tomás um aristotélico impenitente. Quatro seções:
– (1) Ingressus, 27-39 – entrada do Filho no mundo;
– (2) Progessus, 40-45 – desenrolar de sua vida no mundo, vida pública de Cristo;
– (3) Exitus, 46-52 – sua saída deste mundo, sua paixão e morte;
– (4) Exaltatio, 53-59 – sua exaltação,triunfo após esta vida;
– para Tomás a teologia bem-feita conclui-se numa pastoral (p.311)
Reginaldo de Piperno
– assistente, secretário e até papel de “ama”: vigiavar regime alimentar; foram amigos; Tomás
lhe dedicou o Compendium theologiae; “filho muito querido”;
– devemos a ele vários relatos das obras de Tomás; Tomás não poderia ter feito tudo o que fez
– nem mesmo, talvez, ter sido tuo o que foi – sem esse colaborador e confidente de todas as
horas.
Esboço de um retrato
– saindo do terreno sólido de textos e datas; indicações sobre o homem e o santo que ele foi;
– Obs.: não é fácil por conta do gênero hagiográfico;
– Retrato Físico – ele era grande, gordo, bastante gordo, e com uma fronte calva; louro;
– rosto alegre, doce e afável; caráter comunicativo; inspirava alegria; jamais atingia alguém
com palavras injuriosas; humilde, sem utilizar palavras grandiloquentes e afetadas;
– vivia de maneira retirada; dedica o mínimo de tempo à refeição e ao sono; parece até que se
alimenta apenas uma vez por dia; no despertar está na igreja antes de todos, mas se retira
quando ouve os outros chegarem; se celebra a missa, em seguida volta a seu quarto para
trabalhar; mas não era anti-social; teve amizades profundas;
Um homem de alta contemplação
– com exceção de São Paulo, não há menção de especial reverência em relação a outros
santos; na maior parte das vezes, relacionamos sua prece com seu trabalho intelectual;
– a maneira de rezar prosternado diantedo altar ou com os braços erguidos em cruz evoca as
Nove maneiras de orar de São Domingos, o fundador dos Pregadores;
– (!!!) Em Nápoles, época em que Tomás escreve as questões sobre a paixão e ressurreição do
Senhor. Como de hábito, pela manhã bem cedo ele ora na capela de São Nicolau; Domingos
de Caserta, o sacristão que o observa, nota que ele está levitando e ouve uma voz que
provém do crucifixo: “Falaste bem de mim, Tomás, qual será tua recompensa? – Nada além
de Ti, Senhor”. (!!!)
– Tomás: “Quem quiser levar uma vida perfeita não tem outra coisa a fazer senão desprezar o
que Cristo desprezou na cruz, e desejar o que ele desejou.”
– A distração de Tomás fez-se lendária; perdido em seus pensamentos; ex: no parlatório, ao
qual fora conduzido para saudar visitantes ilustres, nem sequer se dá conta da presença
deles, sendo preciso puxar sua roupa com força para que volte a si. O mesmo ocorre durante
a prece: durante a missa do domingo da paixão de 1273, seu êxtase prolonga-se que é
preciso intervir para que possa terminar a celebração, enquanto à noite, nas Completas, seu
rosto está banhado de lágrimas durante o canto do Media vita → as lágrimas de Tomás
escorriam sobretudo no momento do versículo: não nos rejeite no momento da velhice.
– Reginaldo disse a Teodora, irmã de Tomás: “O mestre frequentemente se perde em espírito,
quando se absorve em contemplação. Mas nunca o vi como hoje, por tanto tempo fora de
si.” O expediente para fazê-lo voltar a si é sempre o mesmo, puxá-lo com força pela capa.
O início do culto
– Em Fossanova; solenidade; sobrinha não entrou devido ao claustro, venerou o corpo à porta
da igreja; Reginaldo, o fiel companheiro, pronuniou o elogio;
– um milagre: antes de ser enterrado, João de Ferentino foi curado de uma afecção da vista; o
doente deitou sobre o corpo do defunto aplicando seus olhos aos do santo;
– sete meses após a morte, abriu-se o caixão (temiam que pegassem clandestinamente seus
restos) e o corpo estava em perfeito estado de conservação, suave odor;
Dominicanos e franciscanos
– a hostilidade dos franciscanos em relação a Tomás não diminuia;
Discípulos e confrades
– Na pista imediata de Tomás, leitores fieis perceberam que o mestre nem sempre dissera o
mesmo, nem do mesmo modo, e preocuparam-se em harmonizar tal diversidade; literatura
dos “melhores ditos”; ajuda os dominicanos a melhor compreender e utilizar os escritos de
Sto Tomás.
Doctor Ecclesiae
– A via estava livre para a carreira que conhecemos e para as hipérboles por tanto tempo
praticadas por seus discípulos. São Pio V, papa dominicano, em 15 de abril de 1567 o
proclamou doutor da Igreja. Obs: a liturgia hoje celebra mais de trinta doutores da igreja;
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