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Primeiros anos
Obs.: Em 1929 foi fundado o Seminário Westminsterna Filadélfia com Machen, Van Til, e outros (no
brasil há a referência de Davi Charles Gomes); eles saíram do seminário de Princeton, que fora fundado
reformado (Old Princeton) e com visão mais escolástica (Archibald Alexander e o herdeiro Charles Hodge);
eles não gostavam muito da ênfase emocional da escola de Jonathan Edwards. No início do séc XX, porém, o
liberalismo teológico invade os grandes seminários americanos e os conservadores perdem força em
Princeton. Por isso este grupo sai de lá e funda outro seminário.
Um pastor fundamentalista
Obs: Estudou com Cornelius Van Til, principal mentor do método pressuposicional de apologética;
influenciado por Kuyper e Bavinck; um estilo de teologia mais diferente de Hodge e Grudem; Louis Berkhof
é meio que uma síntese entre a teologia americana destes e de Bavinck;
Portanto, Schaeffer recebeu influência do calvinismo norte-americano princetoniano, mas também
do holândes através de Van Til; (Schaeffer incorporou sua forte crítica à Karl Barth → por exemplo, sobre
aquela discussão sobre teologia natural entre Barth e Brunner, ele fica com Brunner);
No seminário, foi exposto também à críticas de Van Til a Tomás de Aquino;
O contexto era bem determinista; defendia abstinência total, usos e costumes; e era premilenarista;
– 1947: Schaeffer era ligado a uma junta missionária (Independent Board for Presbyterian
Foreign Mission); ele diz que estava preocupado com as crianças e jovens europeus por
conta de 2ª Guerra Mundial e do liberalismo teológico; com isso, é programado um tour de
inspeção pela Europa para analisar a situação das igrejas por lá diante de tais situações;
– Julho a Setembro de 1947: Schaeffer visita 13 países, paradas em 53 lugares, conversas com
vários líderes; ele observa que a neo-ortodoxia estava crescendo e queria combater Barth;
– Schaeffer ficava de olho no Concílio Mundial de Igrejas (com líderes liberais); em um culto
ele ficou horrorizado, sentia que era paganismo puro; ele conta que foi numa missa dos
ortodoxos gregos e achou mais cristão do que um culto liberal, um novo paganismo;
– Foi em muitos museus; fez intensa exploração da arte e da cultura europeia;
– Encontrou com Lloyd-Jones e Gerrit Cornelis Berkower; O avião quase caiu no retorno;
– ele relata sua experiência à junta de missões e ao Concílio Americano de Igrejas Cristãs;
Obs: ao passo que ele percebia a necessidade de se ter uma igreja totalmente separada do
contexto liberal pagão, ou em outras palavras, separadas do mundo secular, ao mesmo tempo,
Schaeffer tinha a sensação de que seu gosto pela cultura crescia; como conciliar os “dois mundos”?
[que choque para o Schaeffer, conservador nos usos e costumes, fazer amizade com o jovem
que fuma cachimbo];
Importante!
Roockmaker reconhecia a importância da teologia holandesa e da sua crítica, filosofia,
leitura de mundo, mas percebia frieza espiritual. Por outro lado, a teologia americana era acadêmica
e piedosa, mas com pouca aplicação nas áreas da cultura. Isso diz muito sobre um cristianismo de
usos e costumes alienados: é mais confortável isolar-se do que ser sal que o salga!
A união dessas duas mentes — Hookmaker e Schaeffer — é uma tentativa de ser relevante e
transformador nessas duas realidades: (1) unir o cristianismo intra-mundano holandês, que se
comunica com a cultura, mas falta piedade; (2) com a teologia piedosa do calvinismo anglo-
americano, mas que não consegue penetrar a cultura.
Obs: Schaeffer conseguiu diálogo profundo com a cultura mantendo a sua ortodoxia (algo muito
difícil!); era comum os dois extremos: (1) piedosos que não conseguem comunicar e compreender a cultura;
(2) outros que tentam lidar e acabam negociando a ortodoxia;
Schaeffer foi ponto de intersecção entre a apologética reformada de westminster, com firmeza
doutrinária (combatendo o liberalismo); é verdade que isso o levou para um fundamentalismo radical; mas
foi importante pra firmá-lo na ortodoxia;
Portanto, veja o ponto de intersecção de Schaeffer: (1) apologética reformada que firmou suas bases
doutrinárias (2) neocalvinismo holandês com ímpeto para o engajamento cultural!
– 1948: ocorreu um debate sobre apologética no “The Bible Today”, com a forma seminal de
seu método apologético, de que haveria um ponto de contato para alcançar o incrédulo;
– Nov/1949: mudaram-se para Champéry; na nova casa, germina a ideia de L'Abri;
– Schaeffer estuda Barth e prepara-se, como fundamentalista, para compor seu ataque à neo-
ortodoxia; (influenciado por Van Til que escreveu “Cristianismo e barthianismo”);
– Ago/1950: ocorria um congresso na Suiça e Schaeffer, com quatro colegas, visitaram Barth
na Basileia; ele foi muito cordial, mas a reunião foi meio inquisitorial; meio constrangedor,
com eles tentando acuar Barth; eles sentiram que Barth era mesmo um perigo;
– Schaeffer apresenta nesse congresso um paper sobre Barth e envia cópia ao próprio. Barth
responde com uma carta ácida e irônica, acusando-o de agir como um detetive inspetor que
queria provar sua heterodoxia; e cortando relações.
Crise de Fé
Primavera de 1951: Schaeffer sofre sua grande crise de fé; ele começou a ter sensação que
faltava realidade na sua vida cristã; ele sabia sobre Deus, cruz, ressurreição, mas achava tudo
abstrato; não sentia que vivia isso; ele retrocedeu e quis pensar em tudo, voltou a ser como um
agnóstico, para ver se tudo era verdade mesmo; questionou se o cristianismo era racional.
Ele também percebeu que defendia um movimento de ortodoxia, mas cheio de divisão e
ódio; um movimento super separatista. Ele percebe que aquilo não era genuino; o separatismo não
ia alcançar a Europa com postura de intolerância, brigas, perseguição, vigilância, espionagem
teológica!
Em todo esse processo ele redescobre Rm 5–8, que se torna depois o pano de fundo para a
sua obra “A Verdadeira Espiritualidade” (ele, depois, chegou a dizer que era o seu livro mais
importante). De fato, esse livro é essencial para entender Schaeffer e L'abri. É o núcleo de sua
transformação espiritual e que fez sua apologética ter efeito.
Obs.: A apologética de Schaeffer – o princípio teórico é que há um ponto de contato entre o o cristão
e o incrédulo; esse ponto é que ele é um ser humano que tem a sua hominalidade (o ser homem, o caráter
propriamente humano); o incrédulo é um ser humano e vive no mundo de Deus; então o cristão tem que
mostrar pro incrédulo que a sua incredulidade não encaixa com quem ele é e com o lugar em que ele está.
Certo! Mas o grande ponto de descoberta espiritual de Schaeffer é que: se você cristão não está vivendo a sua
humanidade diante de Deus, você não ajuda o incrédulo a enxergar isso; porque o contraste vai ser só teórico,
não vital. Aqui ele se separa um pouco de Van Til porque não se trata somente de uma abordagem teórica,
mas existencial. Em outras palavras, o cristão tem que ser um ser humano diante de Deus e sentir que o
cristianismo o integra e harmoniza a sua relação com o mundo, para então usar a desconexão do incrédulo
com ele e com o mundo, como argumento. / é uma apologética pra lidar com gente, pastoral.
– 1953-54: os Schaeffers retornam aos EUA; com Schaeffer ensinando no Faith Theological
Seminary; pós-transformação, começa o confito com Carl McIntire (o fundamentalista);
– 1954: Com muita dificuldade e na base de oração, eles retornam à Suiça;
– Jan/1955: Edith recebeu uma promessa divina sobre o princípio do L'Abri;
– 1955: ele é cortado financeiramente da junta de missões; isto porque muitos não gostaram
dessa nova abordagem dele; esse novo papo parecia libertino;
– Os Schaeffer então abraçam um novo projeto de ser abrigo: agregaram pessoas que não se
enquadravam no fundamentalismo cristão e nem no liberalismo teológico; tipo aquela galera
que não curte igreja mas se interessa pelo cristianismo; também, gente séria cristã
interessada em teologia e nos assuntos lá discutidos: o cristianismo que abarca todo o
homem, sua relação com o mundo, com a cultura, com a arte;
– Inicia a Comunidade L1abri; eles recebem muita gente e de todo tipo; cresceu muito!
Importante!
Ao romper completamente com a abordagem fundamentalista, Schaeffer não muda de
teologia, ele muda a sua ênfase. Sua teologia seguiu reformada e ortodoxa. O ponto é que ele passou
a refletir mais não em como o cristão deve se separar do mundo, mas como considerar o mundo
(que é Criação de Deus) e tudo o que nele é produzido, bem como ser relevante dentro dele! A
cultura não é um esgoto do qual o cristão deve se manter longe dentro das quatro paredes de sua
igreja, a cultura importa! Há graça comum, a revelação natural. Agora, como desfrutar disso e ao
mesmo tempo ser ponto de contato com o incrédulo? Daí entra cosmovisão e apologética.
Existe, sim, separação (não separatismo) entre o cristão e o incrédulo; entre os princípios
bíblicos e a produção cultural pecaminosa e anti-bíblica. A separação, no entanto, não deve
acontecer de modo que os cristãos fiquem impermeáveis: é preciso pontos de contato. Existe a
necessidade do diálogo, caso contrário, não é evangelismo e nem missão, apenas nicho subcultural.
– O caos dos anos 60': atmosfera quente com a guerra do Vietnã; movimento da livre
expressão em Berkeley (1964); os “new left” de Marcuse; liberação sexual; escola de
Frankfurt; ideologia das drogas como meio de avanço espiritual; etc.
– Começam as gravações de palestras de Schaeffer e sua disseminação espontânea;
– Começa o programa de estudos da Farel House;
– Edith passa por uma crise de fé: comum entre mulheres, esposas de maridos com ministério
de carreira; a ideia de que tem direito de ter coisa pra si, porque só faz coisa para os outros;
– 1965-67: viagens de palestras que formam a base dos principais livros de Schaeffer;
– 1968: Publicação de “A Morte da Razão” e o “O Deus que intervém”;
– 1971: Publicação de “A Verdadeira Espiritualidade”
– 1973: Publicação de “A Arte e a Bíblia”
– 1974: Schaeffer participa do Congresso de Lausanne – ele deu uma das principais palestras;
– Ele também subscreveu o documento, mas achou imperfeito a parte que fala da Escritura
(“sem erro em tudo o que afirma” – dava a impressão de que quando a Bíblia não falava de
teologia, estaria errada); Schaeffer chegou a discutir isso com Billy Graham; a partir disso,
ele inicia sua defesa da Inerrância Bíblica (perceba a sua conexão com Princeton);
Obs: depois de anos trabalhando no L'Abri, com todo seu argumento pronto, chegar nos EUA foi
uma pancada. Ele estava bem desenvolvido em apologética, crítica da cultura americana, respostas ao aborto,
verdadeira espiritualidade, um grande pacote de reflexões sobre fé e cultura que surpreendeu os evangélicos
fundamentalistas. Eles não esperavam ser possível um evangélico ter esse grau de interação com a cultura.
Isto porque, embora houvessem exceções, a grande massa evangélica americana era bem hermética,
separatista; desprezava a intelectualidade.
Últimos anos
– Anos 70': Nessa fase Schaeffer fica muito famoso; junto com Carl Heny, Charles Colson e
C.S. Lewis, se torna uma das forças para arrancar o evangelicalismo do isolamento cultural;
– Schaeffer tornou-se um dos principais líderes do evangelicismo global;
– 76-77: Franky Schaeffer, sob influência de Billy Zeoli (Gospel Films), convence o pai a
fazer um documentário de dez episódios chamado “Como viveremos” (How should we then
live); encontramos no youtube pelo canal da escola Charles Spurgeon. Foi um sucesso!
– 1977: Faz turnês de palestras; reúne milhares de pessoas (6600 em LA); é curioso pensar
tantas pessoas juntas para ouvir sobre apologética e filosofia sob a perspectiva cristã;
– 1977: morre Hans Rookmaker de infarto;
– Juntamente com Everett Koop, Schaeffer lidera a campanha contra o aborto e a esquerda
liberal; até a déc de 70, os evangélicos votavam nos democratas; mas quando eles apoiaram
o aborto, o grupo se moveu para os republicanos;
– Der Spiegel, revista alemã, o descreve como “o filósofo da maioria moral”;
– Em 1978 começa a filmagem de “What happened to human race”;
– Descobre cancer em 78-79;
– 1980 faz amizade com Ronald Reagan – Schaeffer o apoiou e isso fez diferença nas urnas;
– 1983: Mudança para Rochester para tratamento na Mayo Clinic;
– Último livro: “O grande desastre evangélico”; um livro duro com teor separatista diante do
caos ideológico americano de esquerda, feminismo, etc.
– 15 de maio/1984: faleceu em sua casa.
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Importância
[Cpaj – Felipe Fontes e Allan Porto]
Schaeffer foi muito completo em termos ministeriais – multiplas realizações; ministério
evangelístico; de discipulado; e escreveu sobre vários assuntos; também pelos exemplos na sua biografia;
enfrentou crises de fé; personagem muito humano; por isso ministerialmente completo.
Tratava a vida cristã com um honestidade profunda; não ter expectativas falsas acerca da realidade;
gente imperfeita se ajudando e experimentando a graça de Deus;
Também, seu chamado para a igreja; haviam teólogos eruditos; mas por vezes a ponte não era
adequadamente feita entre a academia e a igreja; e entre a igreja e a rua, o homem do séc XX; Schaeffer foi
prático para o engajamento com o mundo, com evangelismo, apologética, comunicação das verdades cristãs
no mundo;