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Realização
Mar Português
O sonho
A concretização
A
ordem
espiritual
no Universo
De um povo heróico
e guerreiro a cons- “Senhor, a noite veio
trutor do império e a alma é vil”
marítimo
A A
ordem ordem
espiritual espiritual
no Homem em Deus
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Nascimento Morte
Brasão O Encoberto
° Os construtores ° O império mate-
do Império rial moribundo
Império espiritual
emergente: “Ó Portugal, hoje
O QUINTO és nevoeiro...
IMPÉRIO É a hora!”
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- Primeira Parte – Brasão (os construtores do Império)
A 1ª parte – o “Brasão” – corresponde ao nascimento, com referência aos mitos
e figuras históricas até D. Sebastião, identificadas nos elementos dos brasões.
Dá-nos conta do Portugal erguido pelo esforço dos heróis e destinado a grandes
feitos. Referência simbólica à fundação da nacionalidade, quer ao nível do
espaço, quer no que diz respeito à fundação de uma determinada identidade.
- Segunda Parte – Mar Português (o sonho marítimo e a obra das descobertas)
Na 2ª parte – “Mar Português” – surge a realização e vida; refere personalida-
des e acontecimentos dos Descobrimentos que exigiram uma luta contra o des-
conhecido e os elementos naturais. Mas porque “tudo vale a pena”, a missão
foi cumprida.
- Terceira Parte – O Encoberto (a imagem do Império moribundo, a fé de que a
morte contenha em si o gérmen da ressurreição, capaz de provocar o nascimen-
to do império espiritual, moral e civilizacional na diáspora lusíada. A esperan-
ça do Quinto Império)
Na 3ª parte – “O Encoberto” – aparece a desintegração, havendo, por isso, um
presente de sofrimento e de mágoa, pois “falta cumprir-se Portugal”. É preciso
acontecer a regeneração que será anunciada por símbolos e avisos.
O ocultismo:
A atitude heróica é importante para a aproximação a Deus, mas o herói não pode
esquecer que o poder baseado na justiça, na lealdade, na coragem e no respeito é
mais valioso do que o poder exercido violentamente pelo conquistador – a opção
clara pelo poder espiritual, pelo poder moral, pelos valores...
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PARA A LEITURA DA POESIA DA MENSAGEM
A Mensagem poderá ser vista como uma epopeia, porque parte dum núcleo his-
tórico, mas a sua formulação, sendo simbólica e mítica, do relato histórico, não possuirá
a continuidade. Aqui, a acção dos heróis só adquire pleno significado dentro duma refe-
rência mitológica. Aqui serão só eleitos, terão só o direito à imortalidade, aqueles
homens e feitos que manifestam em si esses mitos significativos. Assim, sua estrutura
será dada pelo que, noutra linguagem se poderá chamar os esquemas ideológicos, ou as
ideias-força desse povo: regresso ao paraíso, realização do impossível, espera do Mes-
sias... Raízes do desenvolvimento dessa entidade colectiva.
Os antepassados, os fundadores, que pela sua acção criaram a pátria, a ergueram
a personalidade, separada, ou a plasmaram na sua alma própria; as Mães, as que estão
na origem das suas dinastias, cantadas como “antigo seio vigilante”, ou “humano ventre
do Império”; os heróis navegantes, aqueles que percorrem o mar em busca do caminho
da imortalidade, cumprindo um dever individual e pátrio (realização terrestre duma mis-
são transcendente); e finalmente, depois desta missão cumprida, desta realização, na era
crepuscular de fim de vida, os profetas, as vozes que anunciam já aquele que viria rege-
nerar essa pátria moribunda, abrindo-lhe novo ciclo de vida, uma nova era – o Encober-
to.
Assim, a estrutura da Mensagem, sendo a dum mito, numa teoria cíclica, a das
Idades, transfigura e repete a história duma pátria como o mito dum nascimento, vida e
morte dum mundo; morte que será seguida dum renascimento. Desenvolvendo-a como
uma idade completa, no sentido cósmico e dando-lhe a forma simbólica tripartida - Bra-
são, Mar Português, O Encoberto. Que se poderá traduzir como: os fundadores, ou o
nascimento; a realização, ou a vida; o fim das energias latentes, ou a morte: essa que
conterá já em si, como gérmen, a próxima ressurreição, o novo ciclo que se anuncia – O
Quinto Império. Assim, a terceira parte é toda ela um fim, uma desintegração; mas tam-
bém toda ela cheia de avisos, prenhe de pressentimentos, de forças latentes prestes a
virem à luz: depois da Noite, e Tormenta, vem a Calma e a Antemanhã: estes são os
Tempos. E aí sempre perpassarão, com um repetido fulgor, a nota cantada, com a evoca-
ção religiosa num corpo pátrio, sempre a mesma mas em modulações diversas, a nota da
esperança: D. Sebastião, O Desejado, O Encoberto...
DALILA L. PEREIRA DA COSTA - O Esoterismo de
Fernando Pessoa, Lello e Irmão, Editores (1971)
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O mais é carne, cujo pó
A terra espreita.
São as potências do invisível, o mito (nada que é tudo), a lenda, a chama que
desce a iluminar o herói, são essas potências que, fecundando a realidade, tornam a vida
digna de ser vivida, ou melhor, transformam a existência, mero vegetar, em vida, quer
dizer, promessa do que não há, perseguição do Impossível, grandeza de alma insatisfei-
ta. Braços cruzados, fita além do mar. Olhar sem alvo definido, olhar típico da Mensa-
gem.
Assunto:
O herói:
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HERÓI
(do grego: senhor, príncipe)
pela sua
na
no na
DEFESA
de um ideal
COMBATE FUNDAÇÃO/
LIBERTAÇÃO
contra de um(a)
António Machado Pires, Os Lusíadas de Camões e a Mensagem de Fernando Pessoa, op. cit.
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Simbologia da espada:
ESPADA
valor profético
Símbolo de
cavalaria
união mística
entre o cavaleiro e a espada morais religiosos nacionais
defesa
BEM MAL
ANÁLISE
Os campos:
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O Ocidente apresenta-se como futuro do passado, ou seja, nele se espera a concreti-
zação dos sonhos da Humanidade.
Os castelos:
Estrutura tripartida
D. João, O Primeiro
Mestre do
[espiritual] Templo
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As quinas:
O Horizonte:
Divisão em partes:
1ª estrofe: invocação ao mar, espaço por descobrir; o caminho da viagem;
2ª estrofe: a visão e a descoberta de um mundo novo a dominar;
3ª estrofe: a definição do sonho como impulso para conhecer.
O tema: viagem (iniciática) que tem como objectivo as descobertas e o contacto com
mares e terras desconhecidas e longínquas.
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A evocação: de uma época dos Descobrimentos, nas expressões: Ó mar anterior a
nós (v. 1); As tormentas passadas e o mistério (v. 4); Quando a nau se aproxima (v.
8); naus…
Os Símbolos
O ocultismo na Mensagem:
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Pessoa, embora se tenha apresentado na senda da exclusividade do poder, por circuns-
tâncias do tempo, opôs-se frontalmente à ditadura e em 1935 defendeu, inclusive, a
Maçonaria).
Os avisos:
Os tempos:
Quinto / Nevoeiro:
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O gosto da ordenação tripartida é muito frequente em Fernando Pessoa. Exprime
assim a ordem espiritual no homem, no universo e em Deus. D. Sebastião, enquanto
figura mítica, reúne em si estes três elementos: o Poder, a Inteligência e o Amor, da
tradição cristã (o Pai, o Filho e o Espírito Santo). Representa a súmula da manifestação
e é, nesta medida, perfeito. Pode dizer-se dele o que René Guénon disse do Rei do
Mundo: é Rei, Sacerdote e Profeta. […]
Mensagem termina com um Valete Fratres evocador dos irmãos rosa-cruz. Mas
no último poema, Nevoeiro, a mutação alquímica encontra-se invertida: Ninguém
conhece que alma tem, tudo é disperso, nada é inteiro, o que coloca a visão pessoana
ainda longe do paraíso que os adeptos rosa-cruz preconizavam. Podemos no entanto
dizer, usando a sua linguagem, que das trevas se chega à luz, da dispersão à unidade, da
perda à aquisição da alma. A obra de Pessoa não é senão o esforço de uma vida em bus-
ca da sua alma: múltipla, repartida, no ponto mais exterior buscando o mais interior,
intensamente.
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salvação nacional é, em sentido figurado, a aventura da salvação da alma pessoal: este
livro épico e mítico é antes de mais espiritualista e místico
Sebastianismo
O sebastianismo é um mito nacional de tipo religioso.
«D. Sebastião voltará, diz a lenda, por uma manhã de névoa, no seu cavalo branco...»
O sebastianismo, fundamentalmente, o que é? É um movimento religioso, feito em volta
duma figura nacional, no sentido dum mito. No sentido simbólico D. Sebastião é Portu-
gal: Portugal que perdeu a sua grandeza com D. Sebastião, e que só voltará a tê-la com
o regresso dele, regresso simbólico ( como, por um mistério espantoso e divino, a pró-
pria vida dele fora simbólica ( mas em que não é absurdo confiar. D. Sebastião voltará,
diz a lenda, por uma manhã de névoa, no seu cavalo branco, vindo da ilha longínqua
onde esteve esperando a hora da volta. A manhã de névoa indica, evidentemente, um
renascimento anuviado por elementos de decadência, por restos da Noite onde viveu a
nacionalidade.
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D. Sebastião não morreu porque os símbolos não morrem. O desaparecimento
físico de D. Sebastião proporciona a libertação da alma portuguesa.
Quinto Império
É evidente que Pessoa não inventou o Sebastianismo, encontrou-o na tradição portuguesa; mas,
ao adoptá-lo, aprofundou-o e transfigurou-o. Sobretudo, uniu-o de uma forma pessoal ao outro
grande mito tradicional português, o do Quinto Império. A ideia do Quinto Império vem de
muito longe na mitologia judaico-cristã. Todos concordam em ver a sua origem no sonho de
Nabucodonosor, contado no Livro de Daniel. O rei vê em sonhos uma estátua de dimensões
prodigiosas: a cabeça é de ouro, o peito de prata, o ventre de bronze e os pés de barro misturado
com ferro. De súbito, uma pedra bate no barro, o que faz com que toda a estátua venha abaixo; e
a pedra transforma-se numa alta montanha que cobre a terra inteira. Daniel interpreta assim o
sonho: o ouro representa o império da Babilónia, e a prata, o bronze e o barro misturado com o
ferro significam os outros três impérios que irão suceder-lhe. Esses quatro impérios serão des-
truídos. A pedra que se transforma em montanha profetiza a vinda de um Quinto Império uni-
versal, que não terá fim. (...)
Para Pessoa, os quatro primeiros impérios já não são os da tradição, mas os quatro grandes
momentos da civilização ocidental: a Grécia, a Roma antiga, o Cristianismo, a Europa do
Renascimento e das Luzes. Já não se fala da Assíria nem da Pérsia, nem, aliás, do Egipto ou da
China: o mundo é europeu. Mas, sobretudo, quando fala do Império vindouro, já não se trata de
todo do exercício de um poder temporal, nem sequer espiritual, mas da irradiação do espírito
universal, reflectido nas obras dos poetas e dos artistas. Ele condena a força armada, a conquis-
ta, a colonização, a evangelização, todas as formas de poder. O Quinto Império será «cultu-
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ral», ou não será. E se diz, como Vieira, que o Império será português, isso significa que
Portugal desempenhará um papel determinante na difusão dessa ideia apolínea e órfica do
homem que toda a sua obra proclama. Um português como ele, homem sem qualidades, infi-
nitamente aberto, menos marcado que os outros, tem mais vocação para a universalidade. Não
há dúvidas de que acreditou que aquilo a que chama metaforicamente o Quinto Império se reali-
zaria por ele e nele; é o sentido de um texto de 1925, em que afirma que «a segunda vinda» de
D. Sebastião já se verificou, cumprindo a profecia do Bandarra, em 1888, data que marca «o
início do reino do sol».
Robert Bréchon. Estranho Estrangeiro - Uma biografia de Fernando Pessoa. Lisboa: Quetzal, 1996, pp. 404-406.
BRASÃO CASTELOS
GRIFO (cabeça) Símbolo da A Pátria, rosto da Europa, onde
A força criadora da razão. heráldica, asso- se encontra a segurança, a
A sabedoria do Infante. ciado ao nasci- protecção.
mento, à origem
da Pátria.
TIMBRE QUINAS
A voz da coragem e da Símbolo de Portugal, das cha-
ousadia para a aventura gas de Cristo e da fé cristã.
marítima.
O CÉU MOSTRENGO
Símbolo da transcendên- Símbolo dosa perigos do
cia, da imortalidade. Mar e das adversidades das
viagens.
PADRÃO NOITE
Símbolo da concretização da O mistério, o desconhecido,
aventura, de Portugal e da fé mas também o início da aven-
cristã (chagas de Cristo). tura.
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NEVOEIRO ANTÓNIO VIEIRA
O indeterminado, mas a pos- A meditação, a visão, a cultura
sibilidade de mudança e de portuguesa, o governo (impera-
existência de luz. dor).
O ENCOBERTO
Símbolo da morte D. SEBASTIÃO
BANDARRA
e da esperança na Símbolo de esperança – o renas-
A profecia, a visão de desgraças cimento das cinzas.
vida; sebastianis-
e grandezas.
mo.
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