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Os Lusíadas, Luís de Camões

► Contextualização histórico-literária
► Visão global
Camões teve ainda necessidade de recorrer a fontes históricas, atendendo sobretudo
aos episódios que compõem o plano da História de Portugal e que se encontram
essencialmente nos cantos 111, IV e VIII. Entre as fontes históricas contam-se, por
exemplo, as crónicas de Fernão Lopes:Crónica de D. Pedro, Crónica de D. Fernando
e Crónica de D. João/. As fontes literárias e históricas ajudaram, assim, Camões a
realizar o "nobilitantedesafio ao engenho dos poetas" renascentistas:"Ressuscitar a
epopeia homérica".3
Com efeito, a épica torna-se, durante o Renascimento, o género mais valorizado, uma
vez que permite dar destaque às ações dos homens. Assim:
 o objetivo da epopeia é narrar e louvar os feitos grandiosos, e por isso dignos
de memória, de um povo, para que não caiam no esquecimento e possam
servir de exemplo e de inspiração para outros homens;
 o Humanismo do século XV instituiu uma crença inabalável no Homem, nas
suas capacidades e também na sua exemplaridade, daí que as descobertas
marítimas se tenham apresentado como um feito extraordinário merecedor de
ser imortalizado. A aventura dos Portugueses por "mares nunca dantes
navegados" era uma prova do espírito dos tempos, da confiança no Homem.
Era o resultado do seu desejo de conhecer e de ver, pelos seus próprios olhos,
o mundo.
.

1 Como ''poemasépicosdo Renascimento"podemosapontar: o Orlando Enamarado de Boiardo; o Orlando Furioso de Ariosto


e a Jerusalém Libertada de Torquato lasso (cf. António José Saraiva, Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa, Porto
Editora, 2001)

2 Os poemas sobre os Argonautas (do escritor grego Apolónio de Rodes e do escritor romano Valério Flaco), relatando
a mítica viagem da nau Argo e as aventuras de Jasão e dos tripulantes da nau - os Argonautas - em demanda do
velocino (pelo ou lã) e ouro, terão também influenciado Luís de Camões (cf. António José Saraiva, óscar Lopes,
História da Literatura Portuguesa, Porto Editora, 2001)

3 in António José Saraiva, Óscar Lopes, História da Literatura Partuguesa, Porto Editora,

Os Lusíadas são, pois, fruto do seu tempo e do espírito dos homens desse tempo. Nesse
sentido, são uma epopeia humanista porque:
• são um monumento erguido em louvor da capacidade do ser humano. De facto,
através da descrição pormenorizada da viagem de Vasco da Gama à Índia, ação
central do poema, mas também do relato da História de Portugal, ou mesmo
através da intriga dos deuses, Camões pretende mostrar como o povo da
Lusitânia foi capaz de tanto, não só em terra como no mar;
• representam um ideal humanista de valorização e de superioridade da
Cristandade. Camões perspetiva a História de Portugal como uma cruzada,
isto é, como uma luta contra os infiéis;
• se revestem de um pendor pedagógico, patente especialmente nas reflexões
do poeta, que surgem geralmente no final de cada canto.
Agora que já refletimos sobre a natureza de Os Lusíadas, podemos centrar a
nossa atenção na sua estrutura que, de acordo com as regras do género da epopeia
clássica, se estrutura em quatro partes:

Estrutura Interna

Proposição Na Proposição (est. 1-3), Camões propõe-se cantar:


(apresentação do assunto) • as navegações e conquistas no Oriente nos

reinados de D. Manuel e de D. João Ili (est 1);


• as vitórias em África de D. João Ia D. Manuel;
Invocação
• a organização do país durante a 1.ª dinastia.
(súplica de inspiração
para escrever o Poema) Há várias Invocações:
• 1.º - súplica às ninfas do Tejo (Tágides)
para que o ajudem na organização do
poema.
• 2.ª - súplica a Calíope, porque estão em causa os mais

importantes feitos lusíadas.


• 3.º - súplica às ninfas do Tejo e do
Mondego, queixando-se dos seus
infortúnios.
Dedicatória
(oferecimento da obra a A Dedicatória:
D. Sebastião)
• esta dedicatória a D. Sebastião reflete a esperança do
povo português no novo monarca e, sobretudo, na
possibilidade de retomar a expansão no Norte de África.

Narração
(desenvolvimento do A Narração:
assunto, já a meio da • Iniciada in medias res (quando a frota se encontra
ação -in medias res) no canal de Moçambique, em rota para Melinde,
apresenta momentos retrospetivos (da História de
Portugal e da viagem}, momentos prospetivos
(sonhos, presságios, profecias...) em Epílogo
(regresso dos nautas, incluindo o episódio da Ilha
dos Amores).

► 10 cantos;
Estrutura ► Em cada canto um número variável de estrofes;
Externa
► Cada estrofe tem 8 versos

► Cada verso tem 10 sílabas métricas


► Resumo dos Cantos

(Ver Caderno de apoio ao estudo – manual do 10.º ano)

► Os quatro planos e a sua interdependência


► Imaginário épico
► Mitificação do herói
A imortalidade, ou seja, o estatuto de deuses, mais não é do que um prémio que se dá aos homens
que, pelo seu esforço e arte, se destacaram. Por isso, os Portugueses tornaram-se divindades, daí
que possam conviver com outras divindades nessa ilha maravilhosa.

Os portugueses gozam, então, de um estatuto diferente, que inclusive vai permitir a Vasco
da Gama ter conhecimento do futuro e da dimensão que o Império Português alcançará.
Com efeito, no canto X, depois do banquete oferecido aos portugueses por Tétis e pelas
ninfas, a deusa conduz Vasco da Gama ao cimo de um monte. Aí mostra-lhe o Universo
em miniatura, seguindo-se a descrição desta "grande máquina do Mundo" nas suas
diversas esferas e elementos, e de acordo com o sistema de Ptolomeu.

Nessa descrição, é de notar o facto de Tétis revelar que a grande máquina do mundo foi criada por
Deus o "Saber, alto e profundo/ Que é sem princípio e meta limitada" - e para que servem, afinal, as
divindades pagãs: os deuses servem para "fazer versos deleitosos", ou seja, para engrandecer os
portugueses, funcionando como termo de comparação, como realidade que se pretende alcançar.

Em conclusão, podemos dizer que a Ilha dos Amores salienta a importância do mito,
pois todo este episódio é uma alegoria, uma representação da vitória do amor sobre
todos os males. O amor seria o caminho para os portugueses contemporâneos de
Camões recuperarem a glória de tempos passados: o amor pela pátria e pelos seus
heróis, o amor pela fé cristã e pela Europa, vítima dos ataques dos Turcos, o amor pelo
rei. Se os Portugueses do século XVI se comportassem assim, poderiam também eles
transformar-se em mito como os Portugueses que Camões louvou.
O amor é o prémio e a forma de se alcançar a imortalidade, isto é, a mitificação.
► Reflexões do poeta

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