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Trabalho de análise e interpretação – 3º Período

Neste ensaio filosófico, irei centrar-me nesta dúvida: Será a morte um mal? Este tema,
embora não tenha sido fácil, foi necessário confrontá-lo, desde as mais diversas
perspetivas, pela comunidade filosófica e por cada um de nós individualmente.

Primeiramente, deve-se esclarecer dois conceitos que iram ser bastante referidos a
seguir: a morte e o mal. A etimologia da palavra morte deriva do latim “mors, mortis”,
que significa a interrupção completa de um organismo. Ao longo do tempo, o conceito
de morte foi sofrendo alterações profundas, ou seja, antes considerava-se que a morte
ocorria imediatamente após a paragem do coração do ser vivo, agora passou a ser vista
apenas como um processo, que a partir do um momento, torna-se inconversível. Apenas
se conhece a nossa morte através da morte do outro que, abre caminho para outro,
dando continuidade à história, que é constituída de ciclos: vida e morte. Já a palavra
“mal” deriva do latim “male”; geralmente refere-se a tudo aquilo que não é desejável e
que está no vício, em oposição à virtude.

A questão de saber se a morte é um mal é uma das questões fundamentais da filosofia,


uma vez que se relaciona diretamente com a natureza da existência humana e as
implicações éticas e morais que dela decorrem.

Para alguns filósofos, a morte é considerada um mal inevitável, enquanto para outros é
vista como uma passagem natural da vida.

A existência do mal é de algum modo necessária ou permite um saldo positivo a favor


do bem. Como sabemos, há diversos males no mundo que tem a sua origem no
sofrimento das pessoas e dos animais. Podemos identificá-los como males morais e
males naturais. O mal natural é o mal que é impossível prever, não é causado pelos seres
vivos (catástrofes naturais, doenças e epidemias). Já o mal moral é o mal provocado
pelos seres humanos no exercício do seu livre-arbítrio, este mal é causado
deliberadamente pelo Homem, ao fazer o que não deve (crimes, guerras e violência).

É verdade que o Homem, desde que nasce, já é suficientemente velho para morrer, ou
seja, “a vida está sempre à beira do desastre” (Salk). A morte é a outra face da vida.
Pascal afirma: “nem a morte, nem o sol, podem ser olhados de frente”, ou seja, qual
quer um pode ser o primeiro a morrer, então devemos abordar a morte com respeito e
não a evitar, vivendo como se ela não existisse, pois para a morte, o corpo de um
cientista bem-conceituado que ganhou um Prémio Nobel tem o mesmo destino que um
sem-abrigo. Ou seja, este destino que nos torna a fim ao cabo todos iguais, é mais uma
razão para nos mostrarmos modestos. O Padre António Vieira, num dos seus sermões,
afirma que a única diferença entre os vivos e os mortos reside no facto de os vivos
serem pó levantado, enquanto os mortos pó que jaz. Parafraseando o poeta português,
António Gedeão, “a morte comanda a vida”. Dessa forma, olhar a vida pelo prisma da
morte, parece uma coisa natural, e paradoxalmente pode ajudar a viver. Por outras
palavras, viver a morte não significa matar a vida, antes viver a vida, porque também “a
vida comanda a morte”.

Do ponto de vista ético, a questão de saber se a morte é um mal é bastante complexa.


Por um lado, a morte pode ser vista apenas como uma consequência natural da vida e,
portanto, é algo que não pode ser evitado. Por outro, a morte também pode ser vista
como um mal porque impõe sofrimento e perda para aqueles que ficam para trás.

Da perspetiva existencialista – forma de investigação filosófica que explora o problema


da existência humana e centra-se na experiência, vivida, do indivíduo que pensa, sente e
age –, a morte é vista como um elemento intrínseco à condição humana. Para os
filósofos existencialistas, como por exemplo Jean-Paul Sartre, a morte é o que confere
significado à vida, pois é a finitude que dá valor às nossas escolhas e ações. A morte
obriga-nos a fazer escolhas importantes, a procurar um propósito nas nossas vidas e a
dar sentido à nossa existência. No entanto, existem outros filósofos, como Sócrates, que
afirmam que a morte é vista como um mal inevitável que é preciso aceitar, mas que não
deixa de ser um mal. Segundo esta perspetiva, a morte é um mal porque limita-nos o
tempo de experienciar a nossa vida, alcançar nossos objetivos e experienciar as coisas
que valorizamos na vida. Outro aspeto importante a considerar é a relação entre a morte
e o sofrimento – físico ou emocional – daqueles que estão morrendo ou o sofrimento
dos entes queridos que ficam para trás. Ainda assim, também é possível argumentar que
a morte pode ser vista como um alívio para aqueles que estão sofrendo, especialmente
no caso de doenças terminais e dolorosas, pois pode representar uma libertação do
sofrimento e uma oportunidade para encontrar descanso. Também é importante apontar
para a questão de saber se a morte é um mal está intimamente ligada às nossas crenças
religiosas. Em muitas religiões, a morte é vista como um passo em direção a um estado
de vida após a morte. Para aqueles que não acreditam, a morte pode ser vista como um
mal absoluto, uma vez que a vida se encerra definitivamente e a consciência se
extingue.

Essas crenças podem influenciar a maneira como vemos a morte e a maneira como
lidamos com ela. Nesse sentido, a morte pode ser vista como um evento positivo, um
momento de libertação da dor e do sofrimento e uma oportunidade de alcançar um
estado mais elevado de se reunir com pessoas próximas a nós que já partiram. Além da
religião, a morte também tem diferentes significados e impactos em diferentes contextos
e culturas. Por exemplo, em algumas culturas, a morte é vista como um evento natural e
até mesmo celebrado como uma transição para uma nova fase da existência, ou seja,
pode ser vista como um aspeto necessário da vida, que nos permite crescer e evoluir
como seres humanos e como uma oportunidade para refletir sobre a vida, para nos
conectarmos e para alcançar um estado de paz e aceitação, enquanto em outras culturas
é vista como uma tragédia e um sinal de fracasso perante os projetos, sonhos e objetivos
pessoais. A morte pode ser vista como uma interrupção prematura da vida, privando a
pessoa de conseguir alcançar seus objetivos e realizar seus desejos. No entanto, é
importante lembrar que isto faz parte da vida e que a morte de uma pessoa não apaga as
memórias e experiências que ela deixou para trás. Mas, existem fatores como a idade, a
saúde, os relacionamentos e certas circunstâncias que podem influenciar a maneira
como as pessoas experimentam e percebem a morte. Por fim, esta questão também pode
ser vista de um lado ético e político. Por exemplo, em algumas sociedades, a morte é
causada por fatores como a pobreza, a violência ou a falta de acesso à saúde, o que pode
levantar questões sobre a responsabilidade social e a justiça.

Outro ponto importante a considerar é que a morte pode ser vista como um mal por
conta de sua inevitabilidade. O facto de que todos nós, em algum momento, teremos de
enfrentar a morte pode levar a uma sensação de impotência. Todavia, é importante
lembrar que o reconhecimento da finitude da vida também pode levar a uma maior
vontade para viver plenamente o presente.

A questão de saber se a morte é um mal também está relacionada à questão do sentido


da vida. Muitos filósofos, argumentam que a busca pelo sentido da vida é uma resposta
natural à nossa consciência da morte e da finitude como por exemplo: Albert Camus que
argumenta que a busca pelo sentido da vida é uma resposta natural à absurda condição
humana e Martin Heidegger argumenta que a consciência da morte é o que dá
significado à vida. Ele acredita que a consciência da finitude e da morte nos leva a
procurar o significado e propósito da nossa existência como uma forma de motivação.

Concluindo, esta questão tem sido debatida por filósofos ao longo da história e
provavelmente continuará a ser discutida à medida que tentamos entender a natureza da
existência humana e a relação com o mundo ao nosso redor.

Existem muitos aspetos e perspetivas envolvidos na questão de saber se a morte é um


mal, e certamente há muito mais a ser dito sobre o assunto. No entanto, acredito que
abordei os pontos mais importantes e relevantes para iniciar uma reflexão e discussão
sobre esta questão fundamental da filosofia e da existência humana.

A questão de saber se a morte é um mal é uma questão complexa, individual e pessoal,


que cada indivíduo deve responder por si mesmo pois envolve as nossas conceções
sobre a vida, o tempo, a finitude, o significado, o sofrimento e as nossas crenças
religiosas. Cada um de nós tem uma perspetiva única sobre a vida e sobre o que é
importante, e essa mesma pode influenciar a maneira como vemos a morte. Para alguns,
a morte pode ser vista como um mal inevitável que precisamos aceitar. Para outros,
pode ser vista como uma passagem natural que nos permite transcender a vida e
alcançar um estado de paz e serenidade. É importante estar aberto a diferentes pontos de
vista e reconhecer que não há uma resposta simples ou universal para esta questão. Por
isso, devemos respeitar essas diferenças e permitir que cada pessoa encontre as suas
próprias respostas e significados em relação a esta questão tão difícil e profunda.

Eu defendo que a morte não pode continuar a ser um tabu, ausente dos lugares
educativos e da família. Tudo na natureza fala-nos desta antítese, vida e morte, como
por exemplo o dia e a noite ou a onde que vem e que morre na praia.

Relembrando que esta questão “Será a morte um mal?” não tem uma resposta definitiva.
Na minha opinião, a perceção da morte como um mal pode variar de acordo com o
contexto, as crenças e os valores pessoais. Além disso, a resposta a essa questão pode
mudar ao longo do tempo, à medida que nossas experiências e perspetivas sobre a vida e
a morte evoluem.

Webgrafia:

https://www.dicio.com.br/morte/
https://www.dicio.com.br/mal/
https://www.culturagenial.com/existencialismo/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Existencialismo

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