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Hume: a resposta empirista

Hume  crenças básicas  provém da nossa experiência sensível


empirista

 O conteúdo das nossas mentes tem a sua origem na experiência.


=
Como se fosse uma tábua rasa ou uma folha em branco, que será
preenchida pela experiência.

Impressões e ideias (a posteriori)


Perceção: São todas as imagens ou crenças que tem origem em
experiências.
Impressão: É o conteúdo imediato da nossa experiência sensível (sentir).
Ex.: experiência da cor azul, ter uma dor de dentes, sentir
calor.
Ideias: São cópias enfraquecidas das impressões (pensar).
Ex.: recordar que se teve uma experiência da cor azul, uma dor
de dentes, ou que se sentiu calor.

Ideia simples = Impressões simples  não podem ser decompostas


noutras impressões*
 
Ideias complexas = Impressões complexas  combinação de duas ou mais
ideias simples**

*a ideia de cor vermelho é uma cópia enfraquecida da sensação que


temos quando olhamos para objetos vermelhos.
**a ideia de maçã vermelha é uma cópia enfraquecida da impressão que
temos quando olhamos para maçãs vermelhas. Quer esta impressão, quer

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a ideia que lhe corresponde podem ser decompostas em elementos mais
simples, a saber, a maçã e a cor vermelha.
O princípio da cópia
Hume pensa que à nascença a nossa mente é como uma tábua rasa, ou
folha em branco, uma vez que as ideias são cópias enfraquecidas das
impressões, não pode existir na nossa mente nenhuma ideia (até as
complexas) que não tenha uma impressão que lhe corresponda.

Todas as ideias são cópias das impressões

2 argumentos a favor:

 Argumento da prioridade
 Argumento do cego de nascença

Argumento da prioridade
(1) Cada impressão simples tem uma ideia simples que lhe
corresponde.
(2) Então ou as impressões simples são cópias das ideias simples, ou as
ideias simples são cópias das impressões simples.
(3) As impressões simples não são cópias das ideias simples.
(4) Logo, as ideias simples são cópias das impressões simples.

(3) ex.: para saber que algo é doce  teve de ter experimentado primeiro
Ou seja, por prioridade, as impressões simples surgem primeiro que as
ideias simples.
(as impressões nunca poem ser copias das ideias)

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Argumento do cego de nascença
(1) Se as ideias simples não são cópias das impressões simples, então é
possível que um cego de nascença tenha a ideia de cor azul, apesar
de não ter qualquer impressão que lhe corresponda.
(2) Um cego de nascença não pode ter a ideia de cor azul.
(3) Logo, as ideias simples são cópias das impressões simples.

(1) Se não tem na base a impressão não consegue ter uma ideia sobre a
cor azul.

Estes dois argumentos por si só não são suficientes para estabelecer o


princípio da cópia, pois, tal como doi anteriormente formulado, o princípio
não se refere apenas às ideias simples, mas sim a todas as ideias, simples
ou complexas.

Ideias complexas
Duas origens distintas:

 Memória (a ideia complexa tem idêntica configuração à da


experiência)  ideias adventícias.
 Imaginação (as ideias podem ser compostas de uma forma
relativamente livre, podendo aparecer juntas duas ideias que na
experiência estavam separadas)  ideias factícias
Ex.: a ideia de sereia  junção das ideias de peixe e de mulher.

Para Hume (empirista) não existem ideias inatas.

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Ideia de deus  Hume  ideia factícia (inventada pela vontade e
imaginação a partir de outras ideais)

Hume, contrariamente a Descartes, a ideia de perfeição não implica a


existência de um ser perfeito.
Conclusão de Hume: todas as ideias são, direta ou indiretamente, cópias
das impressões.

Questões de facto e relações de ideias


Hume reduz todo o conhecimento em dois tipos:

 Relações de ideias
Bifurcação de Hume
 Questões de facto

Relações de ideias
 Análise do significado dos conceitos  basta saber o significado dos
termos;
ex.: os solteiros são pessoas não casadas.
 a priori
 É necessariamente verdadeira  sua negação seria uma contradição
lógica;
ex.: algum solteiro é casado.
 Geometria, matemática, lógica;
 Nada nos dizem acerca do modo como o mundo é.

Questões de facto
 Base empírica (experiência/impressões);
ex.: a neve é branca  precisamos de ver a neve para saber que é branca).
 a posteriori
 Verdade contingente (podia ser falso – noutro mundo, a neve pode ser
preta);  negar não implica uma contradição lógica.
 Ciências da natureza (ex.: física) e empíricas;
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ex.: a neve não é branca.
 É um conhecimento substancial, isto é, diz-nos como o mundo é.

Hume  Descartes

Todo o conhecimento acerca do mundo tem necessariamente...


 Hume: um fundamento a posteriori.
 Descartes: haver conhecimento a priori acerca do mundo  apenas
com a base no nosso pensamento, saber coisas como “Eu existo”,
“Deus existe”, “Deus não é enganador”.

Princípios de associações de ideias


 Semelhança
 2 ideias se assemelham em algum aspeto;
 O aparecimento de 1 dessas ideias na mente é
frequentemente acompanhada pelo aparecimento da outra;

Ex.: é natural que a contemplação de um retrato nos faça pensar na


pessoa retratada.

 Contiguidade
 2 ideias representam coisas que são de algum modo
próximas;
 O aparecimento de uma dessas ideias na mente é
frequentemente acompanhado pelo aparecimento da outra.
ex.: espacial  se sei que a sala de estar se situa no
alinhamento da entrada da minha casa, é natural que me
venha à mente a representação de um desses espaços de
cada vez que penso no outro.

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temporal  se é costume eu jantar depois do pôr do sol,
é natural que penso em comida de cada vez que o sol se põe.

 Causalidade (ou relação causa-efeito)


 2 ideias representam 2 acontecimentos que nos parecem
estar ligados por uma conexão necessária, ou de relação
causa-efeito;
 O aparecimento de uma dessas ideias na mente é
frequentemente acompanhado pelo aparecimento da outra.
ex.: lembrar de uma ferida (ocorrência) e associar a dor
(causa) que provocou.

Conexão necessária, conjunção constante e hábito


Conexão necessária: a ocorrência de um deles torna necessária a
ocorrência do outro.

 Não corresponde a uma relação de ideias (a negação de uma


qualquer relação causal não resulta em qualquer contradição);
 Ou seja, é uma questão de facto.

Problema da causalidade: “Como pode a ideia de causalidade ter uma


origem empírica se, aparentemente, não existe nenhuma impressão
sensível que lhe corresponda.”
Hume recorre à experiência do Adão inexperiente:

A solução consiste em assumir que a ideia de relação causal ou conexão


necessária entre 2 acontecimentos mais não é do que a expetativa de que
um deles – o efeito – irá ocorrer sempre que o outro – a causa – ocorra.

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experiência  acontecimento  constantemente conjugados  um a seguir ao outro

resulta do hábito

 Isto é, da experiência que temos de uma conjugação constante


desses 2 acontecimentos.

Conjunção constante: a experiência de 1 deles surge sempre associada à


experiência do outro.

Assim…

 A ideia de causalidade não se funde na razão, mas sim na


experiência  impressão interna  expetativa  certos
acontecimentos se vão seguir a outros devido à experiência da

conjunção constante entre ambos = hábito de os vermos


constantemente conjugados.
Ou seja…
(1) Se não tivermos experiência da conjunção constante entre dois
acontecimentos, não temos uma ideia de uma relação causal, ou
conexão necessária, entre eles.
(2) Se tivermos experiência da conjunção constante entre dois
acontecimentos, passamos a ter a ideia de uma relação causal,
ou conexão necessária.
(3) Logo, temos ideia de uma relação causal, ou conexão necessária,
entre dois acontecimentos se, e só se, temos a experiência de
uma conjunção constante entre eles.

Conclusão de Hume: A nossa ideia de causalidade ou relação causal


consiste em nada mais, nada menos, do que essa experiência da
conjunção constante entre dois acontecimentos.

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Argumento dedutivo: a verdade das premissas não garante a verdade da
conclusão.

Argumento indutivo: baseia-se num nº de casos no passado para chegar a


uma conclusão que inclui casos dos quais ainda não tivemos experiência.
Dois tipos:
 Generalização (conclusão geral)
 Previsão Indução =
Infalível

O problema da indução
Será que podemos justificadamente confiar nas nossas inferências
indutivas?
Resposta de Hume: Não temos forma de justificar racionalmente a nossa
confiança na indução.
(1) A crença de que “a indução é fiável” só pode ser justificada a priori
ou a posteriori.
(2) A crença de que “a indução é fiável” não pode ser justificada a
priori.
(3) A crença de que “a indução é fiável” não pode ser justificada a
posteriori.
(4) Logo, a crença de que “a indução é fiável” não pode ser justificada.

(2) Não é uma mera relação de ideias (= não se trata de uma verdade
necessária, cuja negação implicaria uma contradição)
ex.: não é contraditório supor que o Sol não vai nascer amanhã,
embora tenha nascido todos os dias até hoje.
(3) Iria cometer uma petição de princípio ao recorrer à experiência para
justificar = recorrer à própria indução para justificar a nossa confiança na
indução.

O Princípio da Uniformidade da Natureza = PUN

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c/ o argumento indutivo  justifica-se o problema da indução

 Causas semelhantes provocam efeitos semelhantes.


 O futuro será igual ao passado.

O problema do mundo exterior


É um erro confundir os objetos exteriores e o mundo exterior à nossa
mente com as nossas perceções dos mesmos.
Ex. de um argumento:
(1) Se a mesa que está presente na nossa mente fosse a mesa real (e
não apenas uma imagem ou representação mental da mesma),
então o seu tamanho não se alterava em função da nossa
perspetiva.
(2) Mas se a mesa que está presente na nossa mente parece diminuir à
medida que dela mais nos afastamos, ou seja, o seu tamanho
altera-se em função da nossa perspetiva.
(3) Logo, aquilo que está presente na nossa mente não é a mesa real,
mas sim uma imagem ou representação mental da mesma.

Conclusão: não temos acesso direto aos objetos do mundo exterior.

 Vivemos confinados no interior das nossas mentes sem nunca


podermos sair para confirmar se efetivamente existem objetos no
mundo exterior.
 A nossa experiência não pode alguma vez estender-se para além
das nossas impressões.
 Só temos acesso às nossas perceções.

O ceticismo moderado de Hume


Embora sustente que…

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A crença na indução e no mundo exterior não são racionalmente
justificáveis  Hume não considera que estas devem ser abandonadas 
não podemos viver sem as assumir como verdadeiras.

 Não podemos deixar de nos apoiar em certas regularidades para


prever acontecimentos futuros (dos quais ainda não tivemos a
experiência.
 Não podemos deixar de assumir que existe um mundo real para
além das nossas mentes

Hume acaba por defender…
 A adoção de um ceticismo moderado;

Forma de nos protegermos contra:
 Dogmatismo
 Decisões precipitadas
 Investigações demasiado especulativas, distantes da
experiência e sem suporte empírico.

Objeções à resposta empirista de Hume


O contraexemplo do tom de azul desconhecido
Podemos formar uma ideia mesmo na ausência de uma impressão que lhe
corresponda.
- Contraexemplo ao princípio da cópia (todas as ideias são cópias das
impressões).

Objeção à conceção humeana de causalidade


Thomas Reid  rejeita a análise humeana do conceito de causalidade em
termos de conjunção constante  procura contraexemplos 
demonstrar que há uma conjunção constante entre dois acontecimentos
 não é uma condição necessária nem suficiente.

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 Não é suficiente: existem acontecimentos que se sucedem
constantemente sem que sejam a causa um do outro.
ex.: sucessão dos dias e das noites.
 Não é necessária: existem acontecimentos que se encontram numa
relação causal, embora não surjam constantemente associados.
ex.: no que diz respeito à origem do universo, não podemos dizer
que há uma conjunção constante entre a sua causa e o seu efeito, o
que significa que a teoria humeana da causalidade tem a estranha
implicação de que o universo não teve uma causa.

Objeção baseada na argumentação a favor da melhor


explicação
Bertrand Russel  rejeita as conclusões cética de Hume  a ideia de
“fundamento racional” é demasiado restrita.
Não é preciso uma justificação infalível


Abdução ou argumentação a favor da melhor explicação (= mais racional)

Russel acredita que:

 A existência de um mundo exterior às nossas mentes é uma


explicação da nossa experiência muito mais simples e
apelativa do que qualquer cenário cético que possamos
imaginar.

Esta estratégia argumentativa aplica-se igualmente à ideia de causalidade.


 Parece mais razoável aceitar que as relações causais, de facto,
existem do que supor que essas conjunções constantes
simplesmente ocorrem no mundo de um modo causal.

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