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Garrett defenderá que Frei Luís de Sousa é um drama romântico que incorpora, a nível formal, características da tragédia (hibridismo

de género).

Esta obra é caracteristicamente romântica, pela temática, pela ideologia e pelos valores que veicula:
✓A valorização do “eu” por oposição à sociedade- o percurso das personagens nomeadamente, Madalena e Maria ilustra o poder
avassalador da sociedade face à liberdade individual;
✓O apelo à liberdade de decisão- presente sobretudo na figura de Manuel de Sousa Coutinho, que prefere sacrificar o bem-estar
individual e familiar que entregar-se ao domínio espanhol.
✓A obsessão da morte/destruição- Maria e Madalena ficam aterrorizadas diante da eventual destruição da família, embora não o
confessem uma à outra.
✓O nacionalismo/patriotismo- é revelado pela fé colocada no regresso de D.Sebastião para restaurar o país dos espanhóis e pela
atitude patriotista de Manuel quando incendeia a sua casa para não ser ocupada pelos invasores. Há uma necessidade em valorizar a
nacionalidade e o orgulho português. Os retratos de D.João e de D.Manuel transmitem um final trágicos (dois patriotas derrotados
pelo destino) e o retrato de Camões e de D.Sebastião simbolizam a pátria e o orgulho nela (1º simboliza orgulho nacional e o 2º
representa esperança).
✓A ligação amor/morte- a impossibilidade do amor, quer paternal, quer matrimonial, conduz à morte (física de Maria e espiritual
de Madalena e de Manuel).

Drama romântica e tragédia clássica:

❖ Drama romântico (características):

▪ revela conflitos emocionais, muitas vezes em situação do quotidiano;

▪ valoriza os sentimentos humanos das personagens;

▪ apresenta acontecimentos de cariz sentimental e amoroso;

▪ recorre à prosa em substituição do verso e utiliza uma linguagem mais próxima da realidade vivida pelas personagens.

❖ Tragédia clássica (características):

▪ Efeitos sobre o público: inspira sentimentos de terror e piedade;

▪ Personagens de alta estirpe (social ou moral);

▪ Lei das 3 unidades:

o Unidade de ação- a intriga deve ser simples, sem ações secundárias, aumentando assim a tensão dramática;

o Unidade de espaço- toda a ação deve desenrolar-se no mesmo espaço;

o Unidade de tempo- a duração da ação dramática não deverá exceder as 24horas.

▪ Estrutura tripartida da ação:

o Exposição- apresentação das personagens; esboço do conflito que surge associado a um mistério na origem das
personagens, provocado pela força do destino.

o Progressão dramática- desenvolvimento do conflito, originado pelo desafio das personagens à sua resolução (HYBRIS).
O conflito encaminha-se progressivamente para um clímax, ponto culminante da ação trágica, em que se desvenda o
mistério ligado a uma relação oculta (ANAGNÓRISE); o sofrimento das personagens que intensifica-se (PATHOS).

o Desenlace/catástrofe- o fim das personagens é a morte (física, social ou afetiva).

A dimensão trágica
De acordo com a classificação de Frei Luís de Sousa pelo próprio autor, a peça apresenta características que a aproximam quer do
drama romântico quer da tragédia clássica.
-Principais características trágicas da obra:
◆ número reduzido de personagens;
◆ personagens de elevado estatuto social e moral;
◆ ação única e que converge para o desenlace trágico;
◆ concentração temporal (progressão temporal, até culminar na madrugada da morte ou separação da família);
◆ concentração espacial (progressão espacial, terminando na Igreja de S. Paulo dos Domínicos);
◆ vestígios do coro da tragédia clássica, nas personagens Telmo e frei Jorge;
◆ presença de momentos e indícios trágicos.
Os indícios trágicos são sinais da fatalidade que se avizinha. Os indícios ou presságios podem surgir sob a forma de acontecimentos,
comportamentos, comentários, alusões ou informações que nem sempre são entendidos pelas personagens como sinais trágicos. Ao
longo da ação de Frei Luís de Sousa, há várias situações e elementos que contribuem para a criação de um ambiente de medo e de
suspeita e que funcionam como uma espécie de preparação para o desenlace trágico.

A DIMENSÃO TRÁGICA
• No que diz respeito à intriga trágica, é interessante verificar que há uma concentração
de personagens, de espaço e de tempo, como vimos, de modo que
nada seja supérfluo e que tudo contribua para a intensificação da tensão dramática.
• De notar que, de acordo com os factos históricos, D. Madalena tivera três filhos
do primeiro casamento, que são aqui eliminados, para que a aniquilação de
Maria represente, de facto, o extermínio completo da família.
• Da mesma forma, todo o desenrolar da ação converge para o desenlace trágico.
Mesmo o momento em que D. Manuel parece revoltar-se contra o destino,
incendiando o seu palácio, acaba por servir a fatalidade que se abate sobre as
personagens, na medida em que as obriga a família a mudar-se para o palácio
de D. João, local aonde este regressará.

Elementos da tragédia clássica Presença em Frei Luís de Sousa


• Hybris — consiste num desafio feito A hybris é perpetrada tanto por D. Madalena como por
pelas personagens à ordem instituída D. Manuel de Sousa Coutinho. Com efeito, no primeiro caso,
(leis humanas ou divinas). o desafio consistiu no facto de a personagem se ter apaixonado por
D. Manuel de Sousa Coutinho quando ainda era casada com D. João
de Portugal. Além disso, ambas as personagens põem em causa a
ordem instituída ao casarem sem terem provas irrefutáveis da morte
de D. João de Portugal.
• Peripécia — de acordo com a Poética, A peripécia e a anagnórise ocorrem em simultâneo: com
de Aristóteles (2000 [c. 300 a. C.]), a chegada do Romeiro e o reconhecimento da sua identidade
é «a mutação dos sucessos no (anagnórise), dá-se uma inversão brusca nos acontecimentos
contrário», isto é, o momento em (peripécia) — o casamento torna-se inválido e Maria torna-se
que se verifica uma inflexão abrupta filha ilegítima.
dos acontecimentos.
• Anagnórise — palavra que significa
«reconhecimento»; segundo a Poética,
de Aristóteles, «é a passagem do
ignorar ao conhecer», podendo consistir
na revelação de acontecimentos
desconhecidos ou na identificação
de determinada personagem.
• Na Poética, Aristóteles afirma que
«[a] mais bela de todas as formas [de
anagnórise] é a que se dá juntamente
com a peripécia, […] porque suscitará
terror e piedade […].»
Clímax — momento culminante • O clímax ocorre na cena final do Ato Segundo, pois é neste
da ação. momento que a tensão dramática atinge o seu auge: D. João de
Portugal dá a conhecer de forma inequívoca a sua identidade,
demonstrando, ao mesmo tempo, de forma paradoxal, que
o esquecimento a que foi votado anulou a sua existência.
Catástrofe — desenlace trágico. • A família é totalmente exterminada: D. Madalena e D. Manuel
morrem para o mundo, ingressando na vida religiosa, e Maria
morre, de facto.
Ágon — conflito vivido pelas As atitudes de D. Madalena ao longo da intriga são um reflexo
personagens; pode designar do conflito interior que a atormenta: desde o primeiro momento
o conflito com outras personagens que mostra sentir-se grata por viver com o homem que ama,
ou o conflito interior. tendo, no entanto, consciência de que a sua felicidade é frágil,
dado que a construiu com base na suposição da morte
do marido.
• Por seu lado, também Telmo é vítima de um conflito interior:
depois de ter passado vinte e um anos a desejar o regresso
do antigo amo, apercebe-se de que, na verdade, o seu amor por
Maria acabou por superar o que nutria por D. João de Portugal,
mostrando-se disposto a abdicar dos seus princípios éticos para
a salvar.
Pathos — sofrimento crescente O sofrimento das personagens vai-se intensificando,
das personagens. a ponto de o próprio Frei Jorge se sentir inclinado a acreditar
na possibilidade de uma catástrofe iminente.
Ananké — é o destino; preside A presença do destino é visível pelo facto de todos os
à existência das personagens acontecimentos convergirem para o desenlace trágico e de haver
e é implacável. um afunilamento do espaço e do tempo, que mostra que as
personagens são inexoravelmente conduzidas para a catástrofe.

Catarse — efeito purificador que O terror e a piedade desencadeados nos espectadores são
a tragédia deve ter nos espectadores: adensados pelo facto de a catástrofe se abater sobre uma família
ao desencadear o terror e a piedade, (na qual se inclui Telmo) que se ama profundamente e de todas
permitir-lhes-ia purificarem as suas as personagens serem profundamente retas e dignas.
emoções.

3. O drama romântico: características


a) Marcas da tragédia clássica
— Assunto digno de uma tragédia clássica, pela
beleza, pela simplicidade e pelo sublime
(segundo Almeida Garrett, na «Memória ao
Conservatório Real»);
— Presença dos elementos da tragédia
clássica (cf. páginas 36-37 deste livro);
— Ambiente carregado de presságios e sinais;
— Tom grave e estilo elevado;
— Linguagem cuidada;
— Personagens de condição elevada;
— Figuras que desempenham o papel do coro
grego (que tem a função de comentar a ação):
Telmo e Frei Jorge.
b) Marcas do drama romântico
— Texto em prosa (e não em verso, como deveria
suceder na tragédia clássica);
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Conteúdos literários
— Não cumprimento da lei das três unidades (ação, espaço e tempo): na
tragédia clássica, todos os acontecimentos deveriam convergir para o
desenlace trágico, desenrolar-se no mesmo espaço e durar apenas vinte
e quatro horas. Em Frei Luís de Sousa, não há, claramente, um cumprimento
da unidade de tempo (a ação desenrola-se numa semana). Quanto
à unidade de lugar, embora toda a ação se desenrole em Almada, há,
de facto, uma mudança de espaço. Finalmente, podemos considerar
que temos unidade de ação. Apesar de alguns estudiosos afirmarem
que esta unidade é quebrada pela introdução do incêndio do palácio,
evento que consideram que introduz uma ação secundária, a verdade é
que o facto de D. Manuel destruir a sua casa obriga as personagens a
mudarem-se para o palácio de D. João, local aonde este regressará;
— O drama romântico dá conta frequentemente de um tema histórico, que
trata com liberdade literária;
— Presença de temáticas marcadamente românticas:
i. Liberdade individual — é visível na revolta de D. Manuel de Sousa
Coutinho contra um governo ao serviço de Espanha, revolta que é
apoiada por Maria e por Telmo, bem como no discurso final desta
última personagem, no qual a jovem se insurge contra as normas de
uma sociedade que lhe impõe a separação dos pais; além disso, a
própria D. Madalena afirma a sua liberdade, ao casar-se com o
homem que amava sem ter provas irrefutáveis de que o seu anterior
marido tinha morrido;
ii. Patriotismo — é evidente não apenas na crença no comportamento
de D. Manuel anteriormente referido, mas também na esperança de
Telmo e de Maria no regresso de D. Sebastião, que implicaria a libertação
de Portugal do jugo estrangeiro;
iii. Cosmovisão cristã — a religião tem um papel fundamental em Frei
Luís de Sousa: é graças a ela que D. Manuel e D. Madalena conseguem
libertar-se da desonra que se abateu sobre eles com o regresso
de D. João de Portugal (o ingresso na vida monástica permitir-lhes-á
expiarem o seu pecado e renascerem para uma nova existência);
iv. Importância do oculto — a valorização do inconsciente e da intuição
característica do Romantismo é visível pela referência às premonições
de Telmo, de D. Madalena e de Maria (que, no caso desta
última, se associam à crença de que possui a capacidade de prever
o futuro, através de elementos como os sonhos ou as estrelas); de
notar que, à medida que a tensão dramática se adensa, a visão
racional do mundo defendida por D. Manuel e por Frei Jorge é cada
vez mais posta em causa — até que, no desenlace, todos os presságios
de catástrofe se cumprem;
v. Primazia dos sentimentos sobre a razão — além de comprovável
pelo destaque conferido ao lado mais irracional do Homem (referido
no tópico anterior), a valorização das emoções é também visível na
importância conferida ao amor: é ele que leva D. Madalena a casar
com o homem que amava sem ter a certeza plena de que o seu
primeiro marido estaria morto;
vi. Mitificação da figura de Camões — no Romantismo, o poeta é,
muitas vezes, configurado como uma figura incompreendida e desprezada
pela sociedade, que não reconhece o seu génio; essa foi a
imagem de Camões transmitida pelos românticos portugueses: a de
um poeta que dedicou a sua vida à pátria e que, em troca, apenas
foi alvo de ingratidão.

2. Do drama clássico ao drama romântico


Se se pretender fazer uma aproximação entre esta obra e a tragédia clássica, poder-se-á dizer que é possível encontrar quase todos
os elementos da tragédia, embora nem sempre obedeça à sua estruturação objectiva.
A hybris é o desafio, o crime do excesso e do ultraje. D. Madalena não comete um crime propriamente na ação, mas sabemos que ele
existiu pela confissão a Frei Jorge de que ainda em vida de D. João de Portugal amou Manuel de Sousa, apesar de guardar fidelidade
ao marido. O crime estava no seu coração, na sua mente, embora não fosse explícito como entre os clássicos.
Manuel de Sousa Coutinho também comete a sua hybris ao incendiar o palácio para não receber os governadores. A hybris manifesta-
se em muitas outras atitudes das personagens.
O conflito que nasce da hybris, desenvolve-se através da peripécia (súbita alteração dos acontecimentos que modifica a ação e
conduz ao desfecho), do reconhecimento (agnórise) imprevisto que provoca a catástrofe. O desencadear da ação dá-nos conta do
sofrimento (páthos) que se intensifica (clímax) e conduz ao desenlace. O sofrimento age sobre os espectadores, através dos
sentimentos de terror e de piedade, para purificar as paixões (catarse). A reflexão catártica é também dada pelas palavras do Prior,
quando na última fala afirma: "Meus irmãos, Deus aflige neste mundo àqueles que ama. A coroa da glória não se dá senão no céu".
Tal como na tragédia clássica, também o fatalismo é uma presença constante. O destino acompanha todos os momentos da vida das
personagens, apresentando-se como uma força que as arrasta de forma cega para a desgraça. É ele que não deixa que a felicidade
daquela família possa durar muito.
Garrett, recorrendo a muitos elementos da tragédia clássica, constrói um drama romântico, definido pela valorização dos sentimentos
humanos das personagens; pela tentativa de racionalmente negar a crença no destino, mas psicologicamente deixar-se afetar por
pressentimentos e acreditar no sebastianismo; pelo uso da prosa em substituição do verso e pela utilização de uma linguagem mais
próxima da realidade vivida pelas personagens; sem preocupações excessivas com algumas regras, como a presença do coro ou a
obediência perfeita à lei das três unidades (ação, tempo e espaço).
Características do teatro clássico
As principais características da tragédia antiga são as seguintes:
1. Na tragédia antiga, o Homem é um mero joguete do Destino. Este é uma força superior que age de forma inexorável sobre o
protagonista, sem que ele tenha qualquer culpa.
2. Dividia-se em prólogo, três actos e epílogo.
3. Tem poucas personagens. Estas são nobres de sentimentos ou de condição social.
4. A ação dispõe-se sempre em gradação crescente, terminando num clímax.
5. Contém sempre vários elementos essenciais – o desafio, o sofrimento, o combate, o destino, a peripécia, o reconhecimento, a
catástrofe e a catarse.
6. Existia um coro que tinha como função comentar e anunciar o desenrolar dos acontecimentos.
7. A tragédia clássica obedece à lei das três unidades – unidade de espaço (não há em geral mudança de cenário e os acontecimentos
passam-se todos no mesmo lugar), unidade de tempo (todos os acontecimentos têm de se desenrolar no espaço de 24 horas,
mostrando que a ação do Destino é imperativa e fulminante) e unidade de ação (a tragédia antiga exige que o espectador se centre
apenas no problema central, sem desvio para ações secundárias).
8. A linguagem da tragédia é em verso.

Elementos essenciais da tragédia Hybris Consiste num desafio que o


O desafio protagonista realiza, após um momento
de crise. Tal desafio pode ser contra a lei
dos deuses, a lei da cidade, as leis e os
direitos da família, ou, finalmente,
contra as leis da natureza.
Pathos O sofrimento A sua decisão, o seu desafio, a sua
revolta, têm como consequência o seu
sofrimento, que ele aceita e que lhe é
imposto pelo Destino e executado pelas
Parcas. Tal sofrimento será progressivo.
Agón O combate É o combate ou a luta que nasce do
desafio e se desenrola na oposição de
homens contra deuses, de homens
contra homens ou de homens contra
ideias. Pode ser físico, psicológico,
individual ou colectivo. O conflito é a
alma da tragédia.
A Anankê É o Destino, sombria potestade a que
O Destino nem aos deuses é permitido
desobedecer. É, pois, cruel, implacável e
inexorável.
A Peripétia É a súbita mutação dos sucessos, no
A peripécia contrário. A peripécia é, pois, um
acontecimento quase sempre
imprevisto que altera completamente o
rumo da ação, invertendo a marcha dos
acontecimentos e precipitando o
desenlace.
A Anagnórisis É o aparecimento de um lado novo,
O reconhecimento quase sempre a identificação de uma
personagem culta. Para Aristóteles, o
reconhecimento devia dar-se
juntamente com a peripécia.
A Katastophé Desenlace fatal onde se consuma a
A catástrofe destruição das personagens. A
catástrofe deve vir indiciada desde o
início, dado que ela é a conclusão lógica
da luta entre a Hybris e a Anankê, luta
que é crescente (clímax) e atinge o
ponto culminante (acmê) na anagnórise.
Katársis A catarse É o efeito completo da representação
trágica que visa purificar os
espectadores de paixões semelhantes às
dos protagonistas, pelo terror e pela
piedade.
Características do drama romântico

1. Foi criado por Victor Hugo, o grande mestre do Romantismo francês.

2. O Romantismo valoriza a ação do Homem, por isso o herói já não é joguete do destino, mas das próprias paixões
humanas.

3. O drama romântico pretende fazer uma maior aproximação da realidade. Assim Victor Hugo propõe uma aproximação
entre o sublime e o grotesco, conforme a vida real. Tem também preferência por temas nacionais.

4. A linguagem deverá corresponder à realidade e por isso é em prosa.

5. A personagem imaginária constituída pelo coro desaparece.

Ação
Toda a ação se passa nos finais do séc. XVI, após o desaparecimento de D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir. Com ele parte D.
João de Portugal, personagem vital que desaparece também desencadeando toda a ação dramática em Frei Luís de Sousa. Todos
estes acontecimentos decorrem sob domínio Filipino.
Após o desaparecimento de D. João de Portugal, D. Madalena manda-o procurar durante sete anos mas em vão. Casa então com D.
Manuel de Sousa, nobre cavaleiro, de quem tem uma filha de 14 anos. D. Madalena vive uma vida infeliz, cheia de angústia e de
intranquilidade, no receio de que o seu primeiro marido esteja vivo e acabe por voltar. Tal facto acarretaria para Madalena uma
situação de bigamia e a ilegitimidade de Maria, sua filha. Esta é tuberculosa e vive, em silêncio, o drama da sua mãe que será o seu.
Efectivamente D. João de Portugal acaba por regressar, acarretando o desenlace trágico de toda a ação.

A natureza trágica Hybris (o desafio) Agón (o conflito) Pathos (o Katastrophé (a


da ação Elementos sofrimento) catástrofe)
Trágicos
Personagens
D. Madalena de Contra as leis e os Interior, de Sofrimento por Causada pelo
Vilhena direitos da família: consciência causa do adultério regresso de D.
-adultério no Contínuo Crescente Sofrimento pela João: morte
coração Gerador de incerteza da sorte psicológica
-consumação pelo conflitos: -com D. do 1º marido (separação do
casamento com D. Manuel (I,7 e 8) Sofrimento marido e profissão
Manuel -com D. João (I,1, violento pela volta religiosa) Salvação
-profanação de um 2, 3, 7 e 8) -com ao palácio do 1º pela purificação
sacramento Maria (I,3) -com marido Sofrimento
-bigamia Telmo (I,2) cruel após
conhecimento da
existência do 1º
marido: -pela perda
do marido -pela
perda de Maria
Manuel de Sousa Revolta contra as Não tem conflito de Sofre a angústia Morte psicológica:
Coutinho autoridades de consciência Não pela situação da sua -separação da
Lisboa (I,8,11 e 12; entra em conflito mulher (III,8) Sofre esposa -separação
II,1) Desafia o com as outras a angústia pela do mundo
destino ao personagens A sua situação presente e -profissão religiosa
incendiar o palácio hybris desencadeia futura da filha Glória futura de
(I,11 e 12) Recusa e agudiza os (III,1) escritor: -Frei Luís
o perdão (II,1) conflitos das outras de Sousa: glória de
Inconscientemente personagens santo
participante da
hybris de sua
esposa
D. João de Portugal Abandona a família Não tem conflito Sofre com o Morte psicológica:
Não pode dar Alimenta os esquecimento a que -separação da
notícias da sua conflitos dos outros foi votado Sofre mulher -a situação
existência Aparece Agudiza todos os pelo casamento da irremediável do
quando todos o conflitos com o seu sua mulher Sofre anonimato
julgavam morto regresso por não poder
travar a marcha do
Destino (III,2)
D. Maria de Revoltada contra a Não tem conflito Sofre fisicamente Morre fisicamente
Noronha profissão religiosa Entra em conflito: (tuberculose) Sofre Vai para o céu
dos pais -com sua mãe (I, 3 psicologicamente
Revoltada contra e (não obtém
D. João de Portugal 4) -com seu pai (I, 3 resposta a muitos
Revoltada contra e 5) -com Telmo agoiros e tem
Deus Convida os (II,1) -com D. João vergonha da
pais a mentir de Portugal (I,4; II, ilegitimidade)
1 e 2; III, 11 e 12)

Telmo Pais Afeiçoa-se a Maria Conflito de Sofre pela dúvida Não poderá resistir
Deseja que D. João consciência (III,4) constante que o a tantos desgostos
de Portugal tivesse Conflito com outras assalta acerca da
morrido (II, 4 e 5) personagens: -com morte de D. João
D. Madalena (I,2) de Portugal Sofre
-com D. Manuel (I, hesitando entre a
2) -com Maria (I,2) fidelidade a D. João
-com D. João de e a D. Manuel Sofre
Portugal (III, 4 e 5) a situação de Maria

Ação

 Os acontecimentos encadeiam-se extrínseca e intrinsecamente

 Nada está deslocado nem pode ser suprimido

 O conflito aumenta progressivamente provocando um sofrimento cada vez mais atroz

 A catástrofe é o desenlace esperado

 A verosimilhança é perfeita

 A unidade da ação é superiormente conseguida

Tempo  Não respeita a duração de 24 horas

 A condensação do tempo é evidente e torna-se um facto trágico

 O afunilamento do tempo é evidente: 21 anos, 14 anos, 7 anos, tarde noite, amanhecer

 Uma semana justifica-se pela necessidade de distanciamento do acontecimento do ato I e da passagem a primeiro
plano dos referentes ao regresso de D. João de Portugal

 O simbolismo do tempo: a sexta-feira fatal: II,10 – o regresso de D. João de Portugal faz-se no 21º aniversário da
batalha de Alcácer-Quibir (sexta-feira); morte de D. Sebastião (sexta-feira); visão de D. Manuel pela 1ª vez (sexta-feira)

Espaço físico: Almada

Ato I: Palácio de Manuel de Sousa Coutinho: luxo, grandes janelas sobre o Tejo – felicidade aparente

Ato II: Palácio de D. João de Portugal: melancólico, pesado, escuro – peso da fatalidade, a desgraça

Ato III: Parte baixa do palácio de D. João: casarão sem ornato algum – abandono dos bens deste mundo. A cruz: elemento
conotador de morte e de esperança.
Marcas clássicas na obra
- A nível formal divide-se em três atos conforme a tragédia clássica
- Apresenta um reduzido número de personagens e estas são nobres de condição social e de sentimentos
- A ação desenvolve-se de forma trágica, apresentando todos os passos da tragédia antiga (o desafio, o sofrimento, o combate, o
conflito, o destino, a peripécia, o reconhecimento, o clímax e a catástrofe)
- O coro da tragédia clássica não existe mas está representado, de forma esporádica, nas personagens Telmo e Frei Jorge 12

Marcas românticas na obra


- A crença no Sebastianismo
- O patriotismo e o nacionalismo – tais sentimentos estão bem patentes no comportamento de Manuel de Sousa Coutinho e no
idealismo de Maria
- As crenças – Agoiros, superstições, as visões e os sonhos, bem evidentes em Madalena, Telmo e Maria
- A religiosidade – A permanente referência ao cristianismo e ao culto
- O individualismo
- O tema da morte

Carácter inovador de Frei Luís de Sousa


1. A reestruturação e modernização do teatro nacional a nível do conteúdo e da forma. A peça é atual mas é enraizada nos valores
nacionais.
2. A linguagem é simples, coloquial, emotiva, adaptada a todas as circunstâncias.
3. O gosto pela realidade quotidiana:
a. Descrição de espaços concretos (casa, ambientes, decorações)
b. Descrição de relações familiares (marido-mulher, pai-filha, tio-sobrinha, etc.)
c. Descrição de ações do quotidiano (ler, escrever, passear, dormir, etc.)
d. Preocupações que revelam a vida privada das personagens (doença, visitas, etc.)

CLASSIFICAÇÃO DA OBRA - DRAMA/ TRAGÉDIA?


Drama – é um género dramático, o mais importante do teatro sério depois da tragédia,
Drama é um género teatral que se caracteriza pelo sério das situações e pelo desenlace
funesto, mas não é trágico. Distingue-se, fundamentalmente, da tragédia por serem as
personagens que, por decisão própria, conduzem a intriga a um desfecho infeliz, ao passo que
na tragédia o destino se exerce inexoravelmente até final, limitando-se as personagens a lutar
contra ele, sem esperança, até à consumação do que tem de acontecer.
Tragédia - a tragédia clássica é o mais nobre dos géneros. O protagonista é geralmente
uma pessoa de estirpe elevada, justa e sem culpa que, apesar disso, percorre o caminho árduo
da desdita, embora tenha anteriormente conhecido a felicidade; existe uma personagem
colectiva (coro) com a função de prever e comentar o desenrolar dos acontecimentos,
manifestando a voz do bom-senso perante a exaltação das personagens; o assunto é
geralmente de cariz político e social, ou relativo a uma situação insólita; a linguagem da
tragédia é em verso e respeita a lei das três unidades (espaço, tempo e acção), não havendo
mudança de cenário, ocupando a acção o máximo de 24 horas e centrando-se num único
problema. A tragédia clássica tem o fulcro da acção num conflito (ágon) que leva as
personagens a interrogarem-se sobre a sua existência e o destino (ananké), fazendo com que o
indivíduo lance um desafio (hybris) às autoridades, aos deuse4s, às leis da Natureza ou à
ordem. Como reacção surge a punição, o castigo – a némesis divina, que tem como
consequência o sofrimento das personagens (pathos). Os acontecimentos desenrolam-se
segundo os actos das personagens; o conflito do protagonista adensa-se e avoluma-se (clímax)
e, por vezes, os acontecimentos precipitam a acção no seu curso através de alterações
(peripécias), que acabam por inverter o rumo dos acontecimentos em sentido inesperado,
dando lugar ao desenlace fatal (catástrofe) Um reconhecimento (anagnórise) é que muitas
vezes desencadeia esta mudança brusca. A catástrofe deve ser sugerida desde o início pois o
resultado da luta entre a hybris e o destino cruel é inevitável. Estes acontecimentos e este
conflito criam no espectador uma tensão, uma curiosidade e expectativa tais, levando-o a
participar dos sentimentos e apreensões das personagens (catarse) como forma de purificar as
paixões dos espectadores, semelhantes às do protagonista, através de uma acção geradora de
compaixão e temor.
A tragédia clássica em Frei Luís de Sousa
Almeida Garrett criou a acção de Frei Luís de Sousa à luz da tragédia grega,
concretizando os vários elementos trágicos numa acção repleta de ansiedade, de presságios na
qual cada membro da família protagonista vive o drama colectivo. Assim, D. Madalena
cometeu um crime de amor, ao amar Manuel de Sousa Coutinho enquanto casada com D. João
de Portugal, desafiou a ordem existente que seria guardar fidelidade ao marido (hybris); o
conflito (ágon) parte desta situação, desenvolvendo-se com a mudança de cenário – incêndio
do palácio de Manuel e mudança para o palácio de D. João de Portugal (peripécia) – e adensase
com o regresso e reconhecimento do primeiro marido julgado morto, na figura de um
Romeiro (anagnórise), imprevisto que provoca o desfecho com a morte de várias personagens
(catástrofe). O desenrolar dos acontecimentos dá-nos conta do sofrimento (pathos),
principalmente de Madalena com os seus profundos estados de melancolia e terror,
alimentados pelos presságios de Telmo (coro) que se intensificam através da fatalidade das
datas, destruição do retrato de Manuel e mudança de habitação (clímax), conduzindo ao
desenlace. O sofrimento age sobre os espectadores, despertando neles os sentimentos de
terror e piedade para os purificar (catarse).
Tal como na tragédia clássica, o fatalismo é uma presença constante. O destino
apresenta-se como a força que move os acontecimentos e o futuro das personagens, tornando
a obra na sua concepção essencialmente trágica – a família de Manuel não se pode furtar à
inexorabilidade do destino apesar da sua nobreza e integridade.
O drama em Frei Luís de Sousa
Almeida Garrett recorreu a muitos elementos da tragédia clássica, mas elaborou um
drama romântico onde sobressaem os estados psicológicos das personagens; substituiu o
verso pela prosa, utilizou uma linguagem coloquial, fluente e próxima das realidades vividas
pelas personagens e dos seus estados de espírito, bem diferente de uma linguagem clássica;
não se preocupou com algumas regras, como a lei das três unidades (apenas cumpriu a
unidade de acção); retirou a presença do coro (embora Telmo possa ter afinidades com esta
«personagem», na medida em que comenta, faz juízos de valor perante as situações que
vive/assiste); foi buscar a matéria à realidade do país, com um fundo histórico (batalha de
Alcácer Quibir).
Segundo Victor Hugo, o drama é uma peça que retrata a vida real das personagens
onde as regras podem ser alteradas. As personagens podem ser dotadas de sentimentos vivos
e profundos e o desfecho pode ser ou não trágico, não sendo no entanto revestido da tensão
que caracteriza a tragédia clássica.
A obra em estudo possibilita uma classificação dupla, tal como está patente nas
palavras de Almeida Garrett: «Contento-me para a minha obra com o título modesto de
drama; só peço que não a julguem pelas leis que regem, ou devem reger, essa composição de
índole nova; porque a minha, se na forma desmerece da categoria, pela índole há-de ficar
pertencendo sempre ao antigo género trágico» (in «Memória ao Conservatório Real»).

CARACTERÍSTICAS CLÁSSICAS
- O conteúdo é de tragédia; é Garrett que o afirma na «Memória ao Conservatório
Real»;
- Número reduzido de personagens e de origem nobre;
- Felicidade ilusória; Madalena vive uma felicidade aparente;
- Os sentimentos de remorso (Manuel);
- O fatalismo; tudo se conjuga para que as personagens se precipitem para um fim
trágico:
* Os medos/terrores de Madalena deixam prever uma tragédia;
* O sebastianismo de Maria faz Madalena viver amargurada com o regresso de
D. João;
* O 2º casamento de Madalena, sem que o corpo do 1º marido tenha
aparecido, lança Madalena para um fim necessariamente trágico. Madalena é, em parte,
responsável pelo seu destino;
*A carta escrita por D. João, na véspera da batalha de Alcácer Quibir,
prometendo que regressaria é uma ameaça que paira sobre a cabeça de Madalena;
* A constante reprovação de Telmo, os seus agoiros, o seu sebastianismo
perseguem igualmente Madalena;
* A referência a Inês de Castro deixa no ar uma ameaça de tragédia (Acto I,
Cena I – monólogo de Madalena);
* A mudança do palácio de Manuel para o de D. João parece prender/
empurrar Madalena;
* Manuel, ao incendiar o seu próprio palácio, empurra Madalena para os
«braços» de D João. Manuel é, em parte, responsável pelo seu próprio destino;
* É o próprio Manuel que, ao incendiar o seu palácio, lembra a morte
desastrosa de seu pai, adivinhando quase que ele próprio está a ajudar o destino a conduzi-los
para um fim trágico;
* O fechamento do espaço: o espaço mais reduzido (cela), sem janelas e
austero «prende» as personagens numa «teia» invisível;
* A concentração do tempo (21 anos, 14 anos, 7 anos, 8 dias, um dia, hoje,
sexta-feira) tem igual função. Associado à 6ª feira (dia considerado aziago por Madalena –
celebrava-se 21 anos da batalha de Alcácer Quibir), temos o fatalismo do número sete,
associado ao número três; mais uma vez deixa adivinhar que aquele será o dia fatal, o dia em
que a tragédia se abaterá sobre a família;
* A própria Maria, diante do retrato do pai quando moço, sente pena por o pai
ter deixado a ordem de Malta, considerando que o hábito lhe ficava muito bem, deixa
antecipar quase a «morte» psicológica de Manuel e a reentrada na vida religiosa;
* O exemplo de soror Joana (tia de Maria) e do marido (acto incompreensível
para Madalena), mais uma vez, é um indício do destino final das duas personagens – convento;
- A unidade de acção; a tragédia grega exigia unidade de acção e aqui temos uma
acção única envolvendo uma família nobre portuguesa;
- A Hybris – desafio: Manuel desafia as autoridades espanholas ao incendiar o seu
palácio;
- O Pathos – sofrimento (de Manuel, de Madalena, etc.;
- A Agnórise – reconhecimento: a revelação da verdadeira identidade do Romeiro;
- O terror, a compaixão e a piedade: a tragédia deveria provocar sentimentos de terror
e de piedade no público. Quem ficará indiferente ao conflito interior de Manuel, à morte de
Maria, Manuel e Madalena?;
- Sobrevivência do coro, através de Telmo e dos salmos encontrados no Acto III;
- As personalidades de Manuel (até certo ponto), de Frei Jorge e de D. João de
Portugal.
CARACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS
- A forma: está escrito em prosa;
- A feição nacionalista/ o patriotismo;
- O amor à liberdade – liberalismo;
- O cenário – não é um mero espaço, mas está carregado de significado;
- Não há unidade de espaço – o incêndio do palácio de Manuel obrigou à mudança de
espaço. A tragédia grega obrigava a que a acção decorresse no mesmo espaço (regra das 3
unidades – acção, tempo e espaço);
- Situações melodramáticas – morte de Maria em cena;
- Cenas violentas – incêndio do palácio;
- Amor – predomínio do amor sobre a razão, o que irá levar à desgraça;
- Sebastianismo;
- Crenças, agouros, visões, sonhos, mistérios;
- A religiosidade;
- O individualismo: a afirmação da própria individualidade;
- O tema da morte;
- O tempo – a noite;
- A mulher-anjo (Maria);
- A personalidade amorosa de Madalena;
- O herói marginal – Manuel
O ROMANTISMO VS. TRAGÉDIA CLÁSSICA
Na obra Frei Luís de Sousa, segundo indicado pelo próprio
autor em Memória ao Conservatório Real, existem dois estilos
facilmente identificáveis que convergem, o romantismo, do que
são característicos os “dramas”, que se opõe ao realismo; e a
tragédia clássica, que é trazida deste o tempo dos gregos,
cuja principal característica se prende no facto de, sobre
alguém que não tem culpa (não fez nada) cair uma tragédia
(desgraça) de forma a que o público sinta o efeito de
catarse.
CARACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS NA OBRA
 Escrito em prosa;
 Dividido em três atos (I, II e III);
 Presença (e exaltação) de sentimentos fortes nas
personagens;
 Exaltação do patriotismo, presente principalmente em D.
Manuel e D. João;
 Personagens “anjo”, especialmente em Maria (inteligente,
perfeição);
 A morte de Maria em palco;
 A religião como consolo.
CARACTERÍSTICAS DA TRAGÉDIA CLÁSSICA NA OBRA
 A família condenada apesar de não ter culpa;
 O erro de D. Manuel e D. Madalena em casar (sem saber se
D. João estava morto), que se chama Hybris;
 A catarse no fim, ou seja, a sensação da audiência que a
sua vida pessoal não é tão má assim;
 Os ambientes que mudam o estado de espírito que uma
forma um tanto subtil;
 Poucos espaços e personagens;
 Os conflitos interiores de Madalena e Telmo, que se
chama agón;
 O reconhecimento de D. João de Portugal no Romeiro, que
se chama anagnórisis;
 O aparecimento de D. João e as suas consequências
(casamento e filha ilegítimos), a que se chama
peripécia;
 O clímax, quando se reconhece o Romeiro (que também
corresponde à anagnórisis);
 O sofrimento das personagens ou o pathos, muito evidente
em D. Madalena;
 A catástrofe, que é a dissolução da família e a morte de
Maria.

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