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Simbologia

Vários elementos estão carregados de simbologia, muitas vezes a pressagiar o desenrolar da ação e a desgraça
das personagens.

 Leitura dos versos de Camões » referem-se ao trágico fim dos amores de D. Inês de Castro que, como D.
Madalena, também vivia uma felicidade aparente quando a desgraça se abateu sobre ela.

Concentração espacial » o progressivo afunilamento e obscurecimento do espaço simboliza o caminhar


inevitável para a tragédia final, deixando as personagens sem saída. Um ambiente muito fechado,
representando a falta de saída da família que, caso o romeiro fosse D. João, estaria perante um casamento (D.
Madalena e D. Manuel) e uma filha (D. Maria) ilegítimos (a morte era a única forma de “divórcio”)

 Decoração dos espaços » a decoração dos espaços vai-se tornando mais despojada, mais melancólica,
impossibilitando o contacto com o exterior.

 Concentração temporal » o afunilamento progressivo do tempo simboliza a impossibilidade de fuga das


personagens ao destino já traçado e contribui para intensificar a tensão dramática, na medida em que
todos os acontecimentos se sucedem de forma cada vez mais rápida, até ao desenlace trágico.

 Retratos:

 Retrato queimado de Manuel » prenuncio da catástrofe final que destrói a família;


 Retrato de Camões » símbolo do nacionalismo, representa a exaltação da pátria e a importância
atribuída à literatura e aos seus autores principais;
 Retrato de D. Sebastião » símbolo do sebastianismo que percorre obra;
 Retrato de D. João » simboliza o fantasma ameaçador que regressa do passado para aniquilar o
presente; associado à destruição do retrato de Manuel de Sousa Coutinho, no final do Ato I.
Enquanto a casa e o retrato de Manuel desapareceram com o fogo, assume destaque o retrato de
D. João de Portugal, o que torna a personagem mais ameaçadora e mais presente.

 Dia da semana » dia aziago para Madalena: sexta-feira, fim da tarde e noite (ver se noite é) (Ato I), sexta-
feira, tarde (Ato II), sexta-feira, alta noite (Ato III); e à sexta-feira D. Madalena casou-se pela primeira vez;
à sexta-feira viu Manuel pela primeira vez; à sexta-feira dá-se o regresso de D. João de Portugal; à sexta-
feira morreu D. Sebastião, vinte e um anos antes.

 Números:

 Três » Simboliza o princípio totalizador e mediação: é um número do céu; é encontrado


geralmente em contos de fadas como o número de provas a serem superadas, de enigmas a
serem resolvidos… Na crença popular, é usado frequentemente como modo de quebrar feitiços,
ou afastar as ondas negativas (ex.: bater três vezes na madeira).

Tríades famosas:
homem/ mulher/ filho
Fé/ amor/ esperança (virtudes cristãs)
Enxofre/ sal/ mercúrio (princípios básicos da alquimia)
Nascimento/ desenvolvimento/ morte
Pai/ Filho/ Espírito Santo

Na obra, o três aparece ora associado à ideia de perfeição, de princípio totalizador (7X3= 21), ora
como meio de afastar a desgraça («Não, não, não, três vezes não» - Telmo).

 Sete » Pode ser encarado positiva ou negativamente; pode ser encarado como expansão de uma
totalidade (7 igrejas; livros de 7 selos; 7 céus, etc.); também pode vir associado ao mal (7 cabeças
da besta do Apocalipse; 7 taças da ira divina; 7 demónios, etc.) Na obra, o número 7 aparece
isolado, ou associado a outros números (2 e 3), podendo ter valor positivo ou negativo.

7 anos - após o desaparecimento de D. João de Portugal, em Alcácer Quibir, Madalena procurou


exaustivamente notícias sobre ele durante sete anos;

14 anos (7X2) - Manuel e Madalena estiveram casados 14 anos. Foram 14 anos de uma relação
amorosa perfeita (aparentemente); foi uma união tão perfeita, tão bem conseguida, que até
gerou um fruto (Maria);

21 anos (7X3) - D. João de Portugal esteve ausente 21 anos. Aqui o número 7 já tem uma carga
negativa. Sendo o 3 o número da totalização, este transmite a ideia do fim de um ciclo: era
necessário que se fechasse o ciclo aberto com o desaparecimento do 1º marido de Madalena.

O povo costuma dizer que «à terceira é de vez»: D. João de Portugal não voltou ao fim de 7 anos,
não voltou ao fim de 14 anos (7X2), pelo que necessariamente teria que voltar ao fim de 21 anos
(7X3) – o prazo tinha terminado. Aqui o 7 já adquire conotação negativa, porque surge associado à
ideia de acontecimento trágico.

3 = perfeição
7 = tragédia
21 (7X3) – tragédia perfeita

 Treze » Considerado de mau agouro, número do mundo subterrâneo; é o número da destruição


do perfeito. Na obra, Maria está com 13 anos de idade o que, por si só, já é um péssimo presságio.
Maria é a mulher-anjo, a mulher perfeita, pura e imaculada. Na realidade, os seus treze anos
revelam-se fatais, porque é com essa idade que Maria morre, que o «ideal de perfeição» é
destruído.

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