Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
● Estrutura do monólogo
. 1.ª parte (do início da fala até “… pode-se morrer.”): D. Madalena abandona a leitura d’Os
Lusíadas e mostra-se enleada na ideia de felicidade que bebeu no texto.
. 2.ª parte (de “Mas eu…” até ao final do monólogo): D. Madalena reflete sobre a sua situação e
revela o seu estado de espírito, marcado pela angústia, pelo medo e “contínuos terrores”. O que
marca a divisão entre os dois momentos da cena é a conjunção coordenativa adversativa «mas»,
que possui o valor de oposição, contraste.
. melancólica (“um livro aberto no regaço, e as mãos cruzadas sobre ele”; “repetindo
maquinalmente e devagar”), solitária (“só”), infeliz;
. sonhadora: anseia experimentar a felicidade, nem que seja por pouco tempo;
. sofredora e infeliz ao constatar a ausência de felicidade na sua vida, devido ao medo e aos
constantes terrores que a atormentam;
. emocionalmente instável
. o seu nome evoca a figura bíblica da “pecadora” (prostituta) que depois foi Santa Maria Madalena.
As duas figuras – a imaginada e a real – ficam ligadas, sobrepostas, e o caminho ascensional da
personagem bíblica, do pecado à redenção, através da penitência, traça a linha a percorrer por D.
Madalena: pecado → remorso → penitência → ascese → redenção.
Além destes traços psicológicos, trata-se de uma mulher culta e letrada (está a ler, neste
caso Os Lusíadas), pertencente à aristocracia.
. Madalena e Inês são duas personagens para quem a felicidade não foi total, visto esta ter, em
ambos os casos, sofrido a intervenção do destino. A alegria e a felicidade de Inês de Castro foram
breves, pois terminaram com a sua morte. A interrupção da leitura feita por D. Madalena,
precisamente nos dois versos que sugerem a efemeridade desse sentimento, remete para uma
relação de semelhança entre os dois casos:
- D. Madalena estabelece o confronto entre a situação de Inês, feliz “naquele ingano de alma ledo e
cego / que a Fortuna não deixa durar muito”, felicidade essa que, em seu entender, não se mede
pela duração, mas pela intensidade: “Viveu-se, pode-se morrer”, e a sua situação em busca da
felicidade própria, pelos contínuos terrores, ou seja, pelos remorsos da consciência moral,
recalcada e abafada, mas sempre viva, atuante e martirizante;
- as imagens das duas figuras femininas de pecadores por amor-paixão, embora diferentes,
sobrepõem-se e ajustam-se admiravelmente;
. Porém, a reflexão posterior de D. Madalena permite deduzir um certo contraste: esta deseja a
felicidade, ainda que seja de curta duração, após o que morreria feliz; constata que a sua vida tem
sido assolada pela desgraça, o que é visível no recurso à conjunção coordenativa adversativa “mas”
e à interjeição “Oh”.
. Esta analogia entre a vida de Inês e de Madalena constitui um presságio trágico, se tivermos em
conta que os amores daquela e de D. Pedro terminaram tragicamente com a morte dela.
. o uso de uma linguagem adequada ao real, ao estado de espírito das personagens: o discurso de D.
Madalena está repleto de hesitações, repetições, frases curtas, suspensas, elípticas, exclamações e
reticências, o que reflete com precisão os estados de melancolia e introspeção da personagem, os
quais são igualmente elementos românticos;
● Recursos expressivos
. A construção anafórica [“que o não saiba ele ao menos, que não suspeite (…)”; “que amor, que
felicidade… que desgraça (…)”], a repetição do determinante demonstrativo “este”/”estes” (“este
medo, estes contínuos terrores”) traduzem igualmente o estado de espírito da personagem.
. A antítese “que felicidade… que desgraça…” marca o contraste entre o estado de felicidade que
seria de esperar que vivesse e os contínuos terrores que a assolam.
. Pathos: é o causador do seu estado de melancolia e de medo, o qual faz adivinhar a presença de
um destino firme e inflexível, ao qual a personagem não se poderá furtar, constituindo assim
indícios de uma situação que se irá verificar no futuro.
- personalidade real ou oculta, infeliz ou “desgraçada”, ligada a D. João de Portugal, pela memória
do passado, pelo remorso do presente.
. os antecedentes da ação
● Antecedentes da peça
Datas, Acontecimentos
. critica o ascendente do aio sobre si e, sobretudo, Maria, pedindo-lhe que não insista nesse
ascendente;
. terá 38 anos: a batalha de Alcácer Quibir ocorreu há 21 anos, tinha ela 17; o seu segundo
casamento teve lugar 7 anos depois, teria ela 24; casou pela segunda vez há 14; Maria tem 13;
. vive constantemente atormentada e aterrorizada pelo passado e pelos agouros de Telmo, que lhe
mantém esse passado bem vivo, ou seja, a dúvida de que D. João não morreu e pode voltar a
qualquer momento, o que destruiria o seu casamento e tornaria Maria uma filha ilegítima, por isso
não consegue ser feliz, já que não se consegue libertar desse medo;
. a contradição entre a felicidade aparente e a desgraça íntima que revela uma consciência moral
atormentada pela imagem sempre obsessivamente presente de D. João de Portugal e pelo remorso
proveniente da consciência de pecado – de facto, a personagem sente-se culpada por ter casado
com Manuel de Sousa, sem ter a certeza acerca da morte do primeiro marido;
. revela, na última fala da cena, a tendência para o devaneio, o que já acontecera na primeira
cena e está de acordo com a tendência romântica e a extrema sensibilidade da sua alma.
▪ Telmo Pais:
. não possui nobreza de sangue, mas está intimamente ligado à aristocracia pelo modesto título de
escudeiro;
. manifesta ideias reformistas ao condenar o uso do latim na Bíblia (posição dos Protestantes);
. o seu verdadeiro senhor continuar a ser D. João, primeiro marido de D. Madalena, dado como
morto na batalha de Alcácer Quibir (“… não sei latim como o meu senhor… quero dizer, como o sr.
Manuel de Sousa Coutinho…”);
. nas palavras de D. Madalena, é “… o aio fiel de meu senhor D. João de Portugal…”, digno “… da
confiança, do respeito, do amor e do carinho…” de todos e “o escudeiro valido, o familiar quase
parente, o amigo velho e provado de teus amos…”;
. era o aio de D. João, a quem queria como “filho”; é-o também de Maria, a quem “… ao princípio
não podia ver”, mas ela acabou por o cativar: “quero-lhe mais que seu pai” – a sua não aceitação
inicial era originada por ela ser fruto do casamento de Madalena e Manuel de Sousa, que Telmo via
como uma traição a D. João, cuja morte não aceita; porém, com o passar dos anos, a formosura e
bondade de Maria cativaram-no de tal modo que agora afirma ter-lhe mais amor do que os próprios
pais;
. foi “carinho e proteção” e amparo de D. Madalena quando esta enviuvou;
. ama profundamente Maria, como se constatará no ato III, pretendendo ter-lhe mais amor do que
os próprios pais;
. atormenta-a também com ciúmes póstumos, por conta de D. João: é isto que explica as
prevenções de Telmo em relação a Manuel de Sousa e a sua aversão inicial por Maria;
. começa a ser visível a sua divisão entre o amor a D. João e o amor a Maria (fragmentação que será
confirmada na cena V do ato III): sendo tão amigo dela e pretendendo ter-lhe tanto amor, sustenta
uma crença que, a concretizar-se, significaria a morte da jovem;
. é sebastianista:
- alimenta a presença de um passado, um tempo que D. Madalena quereria enterrar mas não
consegue, ou não a deixam;
- confidente de D. Madalena;
. os seus apartes revelam as dúvidas que possui relativamente à morte de D. João, bem como a sua
intenção de salvar Maria de uma desgraça que considera iminente.
▪ Maria:
. nobre:- a designação de “dona”; - o apelido “Noronha” indicia alta estirpe (“é sangue de Vilhenas
e de Sousas”);
. o seu nome evoca o da Virgem Maria: é pura e angélica (Madalena e Telmo apelidam-ma de anjo)
– configura a imagem da mulher-anjo dos românticos, contrastando com D. Madalena;
. tem 13 anos;
. é alta;
. é precoce, tanto física (“Tem treze anos feitos… está uma senhora…”) como psicologicamente: “…
em tantas outras coisas tão altas, tão fora de sua idade, e muitas de seu sexo também…”; “Maria
tem uma compreensão…”;
. é curiosa (“… aquela criança está sempre a querer saber, a perguntar”) e perspicaz (“tão
perspicaz”);
. é bondosa (“um anjo como aquele… e então que coração!”);
. é sonhadora;
. nobre: “… o retrato daquele gentil cavaleiro de Malta que ali está” (o ingresso na Ordem de Malta
era limitado aos membros da aristocracia, aos quais se exigia certificado de nobreza);
. o seu nome é bíblico: é um dos nomes do Messias (Emanuel) e significa “Deus connosco”,
significado que se adequado à personagem, dado(a):
. na resposta aos melindres de Madalena por ter de regressar ao lar onde vivera com D. João (I, 8);
. pelo contentamento de viver e conviver com os frades de S. Domingos como de portas a dentro,
quase no início da mesma cena;
. no desamor pela própria vida (“vida miserável que um sopro pode apagar” – I, 11);
- “fidalgo de tanto primor e de tão boa linhagem, como os que se têm por melhores neste reino em
toda a Espanha”;
▪ D. João de Portugal:
. nobre: nobreza de sangue que vinha do pai (“aquele nobre conde de Vimioso”), a designação dom,
atribuído apenas a alguns membros da aristocracia; o nome de família do Conde de Vimioso;
. nas palavras de Telmo: “… espelho de cavalaria e gentileza, aquela flor dos bons…”;
. o nome de batismo:
- é também, desde a época em que decorrem os acontecimentos, o nome de um tipo literário (cf.
um D. Juan).
Pelo que é dado ler nesta cena, a relação entre estas duas personagens supera em muito a
tradicional ligação entre um criado e o seu senhor. De facto, o escudeiro apresenta-se mais como
um elemento da família de D. Madalena do que enquanto mero aio, graças aos longos anos passados
ao serviço da família (primeiro de D. João e depois de Manuel de Sousa). Quando ela enviuvou aos
17 anos, foi o seu amparo e quase um pai, daí a liberdade de que goza quando lida com D.
Madalena. Esta respeita-o e reconhece-lhe alguma autoridade sobre si, seguindo também os seus
conselhos como se fosse sua filha. De igual forma, ele respeita-a e aconselha-a, não obstante ter
sido contrário ao segundo casamento.
Assim sendo, é natural que a relação (que se foi estreitando ao longo dos anos) entre ambos
seja de grande respeito, amizade, confiança e abertura, como se comprova ao longo de todo o
diálogo, que é motivado pelo pedido que D. Madalena quer fazer ao seu velho aio: acabar com as
conversas sobre o passado com Maria, ligadas à ideia de que de D. Sebastião está vivo e, por
extensão, D. João, facto que, a ser verdade, acarretaria consequências trágicas para Maria,
reduzida então à condição de filha ilegítima.
E é a questão do passado e da forma como este é alimentado em Maria pelo escudeiro que
perturba a relação. Note-se como Madalena sofre e chora quando Telmo afirma que a jovem
deveria ter nascido “em melhor estado”, pois está claramente a sugerir que ela era merecedora de
ter nascido no seio de uma família constituída por pais casados legitimamente, sem qualquer
sombra a pairar sobre ela, o que não sucede na perspetiva do aio, dado acreditar que D. João ainda
está vivo. A ser assim, a família seria destruída e Maria uma filha ilegítima, com todas as
consequências ao nível da mentalidade e das convenções sociais da época.
Por isso mesmo, no final da conversa, Telmo reconhece que D. Madalena tem razão: se
continuar a estimular o interesse de Maria pelo passado, com as suas crenças e agouros, poderá
levá-la a descobrir o passado da sua mãe. A ideia de que D. João de Portugal poderá estar vivo
despertaria nela a possibilidade da ilegitimidade e o receio de tal situação poderia agravar
seriamente o seu estado de saúde já tão debilitado.
Telmo manifesta grande respeito e admiração por Manuel de Sousa, cujas qualidades elenca
e elogia, mas não lhe dedica a mesma consideração e estima que nutria por D. João de Portugal,
visto que considera que não é digno de ocupar o lugar do seu antigo amo.
● Tempo
- D. Madalena procurou D. João durante 7 anos (de 1578 a 1585), não se poupando a esforços;
▪ histórico:
- a alusão de Telmo à Reforma protestante, quando menciona a tradução da Bíblia para as línguas
dos países onde se implantou.
● Características da tragédia clássica da cena
. com Telmo: apesar de, durante os 7 anos de «viuvez», lhe ter obedecido como a um pai, D.
Madalena não segue o conselho de esperar o regresso de D. João, anunciado na carta profética,
escrita na madrugada da batalha de Alcácer Quibir;
. com D. João, presente nas conversas com Telmo, testemunha da «desobediência» de D. Madalena,
conversas essas cheias de reticências, de subentendidos, de duplos sentidos, de alusões, de
agouros, de «futuros», de pressentimentos de desgraças iminentes;
- de Telmo:
. com D. Madalena:
- desaprova o seu casamento com Manuel de Sousa, baseado nos dizeres da carta profética de D.
João, escrita na madrugada da batalha;
. com Maria:
- a princípio, não a podia ver, por causa do seu nascimento em berço ilegítimo (“Digna de nascer
em melhor estado”);
- o conflito com Maria termina, porque ela acabou por o cativar e ele lhe quer como um pai;
- apesar das qualidades que lhe reconhece, é, em sua opinião, inferior a D. João de Portugal;
Maria, como personagem sebastianista, acredita piamente que D. Sebastião está vivo e vai regressar
num “dia de névoa muito cerrada” e fundamenta a sua posição em argumentos como a fé e a
crença do povo que, segundo ela, terá toda a razão de ser.
Curiosa e intuitiva, questiona por que razão o pai, sendo tão patriota, não gosta de ouvir falar no
regresso do rei, que iria retirar do trono português o rei espanhol, e chega a alvitrar a possibilidade
de ser pró-castelhanos, não obstante toda a sua postura patriótica, por ele revelada através de
palavras e ações.
Note-se como, nesta cena, as palavras e atitudes de Maria revelam todo o seu extraordinário poder
de observação e de análise de comportamentos.
Telmo Pais crê profundamente no regresso de D. Sebastião, mantendo viva igualmente viva a
esperança no retorno do seu amo, D. João de Portugal.
Por seu turno, D. Madalena procura demover a filha e afastá-la dessas ideias, fazendo uso,
inicialmente, de argumentos racionais: (a) os relatos dos tios Frei Jorge e Lopo de Sousa, homens
cultos, sobre o que aconteceu na batalha e (b) a desvalorização das crenças populares, que
apresenta como quimeras (ilusões).
Quando verifica que a sua argumentação não resulta, aflige-se a chora. As reações dos pais devem-
se ao facto de a sobrevivência e o regresso de D. Sebastião e D. João de Portugal, cuja morte nunca
fora confirmada, implicariam a nulidade do seu casamento e a ilegitimidade de Maria. Deste modo,
as constantes referências ao assunto adensam os seus receios e terrores.
Segundo Maria, o seu pai, Manuel de Sousa, perante esta possibilidade, muda de semblante, fica
pensativo e carrancudo, o que mostra que não estará totalmente certo da morte de D. Sebastião, e
leva a filha a, por momentos, duvidar do seu patriotismo.
Para Maria, D. Sebastião é um herói por quem nutre grande admiração e em quem deposita todas as
esperanças para resgatar Portugal das garras do domínio castelhano: “o nosso bravo rei”, “o nosso
santo rei D. Sebastião”, etc.
a. Maria:
. sebastianista fervorosa e nacionalista, crê que D. Sebastião está vivo e vai regressar;
. manifesta interesse por temas impróprios para a sua idade: romances populares sobre D.
Sebastião e a batalha de Alcácer Quibir;
. muito precoce, possui uma imaginação e curiosidade pouco próprias da sua idade: “Maria, que tu
hás de estar sempre a imaginar nessas coisas que são tão pouco para a tua idade”;
. pensa muito (“passo noites inteiras em claro a lidar nisto”; “a pensar em tudo”): Maria passa as
noites em claro, a rever as suas atitudes e as dos pais, para tentar descobrir as razões da sua
preocupação, por considerar que há algo que não lhe é revelado;
. tem sonhos estranhos, em cuja interpretação revela poderes de profecia: lê nos olhos e nas
estrelas;
. é muito intuitiva;
. é alegre, mas sente-se subitamente invadida por grande tristeza (“uma tristeza muito grande que
eu tenho”): essa tristeza está relacionada com a constante preocupação dos pais com ela; o seu
poder intuitivo e de observação permitem-lhe perceber a preocupação dos pais com a sua saúde e
crenças; quando pergunta à mãe por que razão o pai não tinha permanecido na Ordem de Malta e
deixara o hábito, parece expressar o desejo de que o pai nunca o tivesse feito, o que
corresponderia à sua inexistência; ela compreende que há algo que lhe escondem;
. é visionária e muito sensível: “não quero sonhar, que me faz ver coisas lindas às vezes, mas tão
extraordinárias e confusas…”;
. possui um conhecimento íntimo de si própria que escapa aos familiares: “O que eu sou… só eu o
sei, minha mãe… E não sei, não: não sei nada, senão que o que devia ser não sou…”;
. insurge-se contra as injustiças sociais: “Coitado do povo!”; “… onde a miséria fosse mais e o
perigo maior, para atender com remédios e amparo aos necessitados (cena V);
. Frei Jorge chama-lhe Teodora, nome que significa sábia (cena V);
. é idealista e patriota, manifestando toda a sua vontade de resistir aos governadores: “Fechamos-
lhes as portas. Metemos a nossa gente dentro e defendemo-nos.” (cena VI);
. fica entusiasmada com a notícia trazida pelo pai, dando largas à sua imaginação, ao seu idealismo
e ao seu patriotismo;
- a febre
- as mãos a queimar
. ideais de liberdade
. exaltação de valores de feição popular
. intuição
. linguagem:
NOTAS:
1.ª) A doença de Maria favorece ao longo da obra a sua extraordinária fantasia e a morte no final.
2.ª) Maria tem duas atitudes contrastantes: uma de crítica, outra de afeto para com sua mãe. A
alteração deve-se à observação do aspeto doloroso da sua mãe.
b. D. Madalena:
. evidencia uma grande tensão psicológica, agravada pela menção inconsciente de Maria a aspetos
que a aterrorizam;
c. Telmo Pais:
● Características da tragédia
▪ Agón de D. Madalena:
- com Maria: para esta, há um enigma que nem a mãe, nem o pai, nem mesmo Telmo se
prontificam a decifrar; são segredos e mistérios intuitivamente pressentidos que não consegue
desvendar:
. a razão por que nem a mãe nem o pai, apesar do seu patriotismo (“… que ele não é por D. Filipe,
não é, não?”) acreditavam no regresso de D. Sebastião;
. a razão por que, quando em tal se falava, o pai mudava de semblante, e a mãe se afligia e até
chorava;
- com D. João de Portugal, nas reações de aflição, sublinhadas pelas lágrimas, sempre que Maria se
refere à crença popular da sobrevivência e possível regresso de D. Sebastião – cena III.
▪ Agón de Maria:
- com D. Madalena:
. duvida do patriotismo do pai (cena III), por causa das atitudes que ele toma, ao ouvir falar de D.
Sebastião: “Ó minha mãe, pois ele não é por D. Filipe, não é, não?”;
NOTA:
Este conflito de Maria com os pais, pois ambos não aceitam ouvir falar do regresso de D. Sebastião,
tem razões óbvias: se o monarca não morreu, também não terá morrido D. João de Portugal; o
segundo casamento de D. Madalena seria nulo.
. pressente intuitivamente que alguém, fazendo sofrer a mãe, também não a deixa ser feliz;
. por isso, procura uma resposta, com os meios ao seu dispor: “… leio… nas estrelas do céu
também, e sei cousas…”; “… não quero sonhar, que me faz ver coisas… lindas às vezes, mas tão
extraordinárias e confusas”.
NOTA:
. D. Madalena não pode revelar a causa das suas preocupações, o que se passa no foro da sua
consciência.
▪ D. Madalena parece caída nas garras de um destino inexorável: a última fala de Maria da cena IV
lança nela a dúvida se teria valido a pena ter casado uma segunda vez.
▪ Presságios:
. as flores murchas e os sonhos deixam antever a tragédia com que encerra a obra: a morte
progressiva de Maria (ela colheu papoilas para pôr debaixo do travesseiro, por estas estarem
associadas ao sono e ao sonho, acreditando que, assim, terá uma noite descansada; no entanto, as
flores, que representam, entre outras coisas, a beleza efémera, murcharam rapidamente,
indiciando a proximidade da morte;
. a contemplação do retrato do pai remete para a intuição do malogro do casamento dos pais.
● Características românticas
▪ Caracterização de Maria:
. o modelo da mulher-anjo;
. os ideais de liberdade;
. intuição;
▪ Crenças: agouros, superstições, sonhos, visões de Madalena, Telmo e Maria (cenas II e IV).