Você está na página 1de 11

PORTUGUÊS

FREI LUÍS DE SOUSA


- ATO I

CENA 1

ASSUNTO: MONÓLOGO LÍRICO-DRAMÁTICO DE D.MADALENA, em que esta estabelece um paralelo/comparação


entre a sua vida, desditosa e infeliz, e a relação amorosa infeliz e trágica de Inês de Castro e D. Pedro.
D. Madalena sente-se infeliz porque os terrores contínuos e os seus medos não a deixam viver um único instante
de felicidade, nem sequer um breve.

ESTRUTURA DO MONÓLOGO:
- 1º PARTE (do início da fala até “… pode-se morrer”): D. Madalena abandona a leitura d’Os Lusíadas e mostra-se
enleada na ideia de felicidade que bebeu no texto.
- 2º PARTE (de “Mas eu…” até ao final do monólogo): D. Madalena reflete sobre a sua situação e revela o seu
estado de espírito, marcado pela angústia, pelo medo e pelos “contínuos terrores”. Tal marca a divisão entre os
dois momentos da cena e é a conjunção coordenativa adversativa «mas», que possui esse valor de oposição e
contraste.

ESTADO ESPÍRITO DE D. MADALENA:


- Melancólica (“um livro aberto no regaço, e as mãos cruzadas sobre ele”/“repetindo maquinalmente e devagar”);
- Solitária (“só”);
- Sonhadora: Anseia experimentar a felicidade, nem que seja por pouco tempo;
- Sofredora e infeliz ao constatar a ausência de felicidade na sua vida, devido ao medo e aos constantes terrores
que a atormentam;
- Insegura, preocupada e angustiada, sente-se destinada à morte;
- Frágil, sensível e sentimental, típicos do gosto romântico;
- Emocionalmente instável;
- Além destes traços psicológicos, nota-se que D. Madalena se trata de uma mulher culta e letrada (está a ler,
neste caso Os Lusíadas), pertencente à aristocracia.

CAUSA DESTE ESTADO DE ESPÍRITO: Os sentimentos e emoções evidenciados por D. Madalena devem-se (mesmo
que só o confirmemos num momento posterior da peça) ao receio de que o seu primeiro marido ainda esteja vivo
e regresse, cobrindo-se a si e à família de vergonha. A leitura do episódio de Inês de Castro insinua-lhe o drama de
um segundo casamento, realizado sob a ameaça velada de que D. João não tivesse morrido.

TRAÇOS ROMÂNTICOS DE D. MADALENA:


- Sobreposição dos sentimentos à razão e completo domínio da personagem pelas suas emoções;
- Sentimento de culpa e de medo que a impedem de viver plenamente a sua felicidade;
- Conflito interior que o seu monólogo deixa transparecer;
- A angústia, o medo e os terrores que marcam o seu quotidiano;
- Grande paixão por Manuel de Sousa;
- Sensibilidade à cultura que demonstra;
- Leitura como refúgio;
- Linguagem adequada ao real e ao estado de espírito das personagens: O discurso de D. Madalena está repleto de
hesitações, repetições, frases curtas, suspensas, elípticas, exclamações e reticências, o que reflete com precisão os
estados de melancolia e introspeção da personagem, os quais são igualmente elementos românticos;

INDÍCIOS TRÁGICOS:
- Associação das vivências da personagem ao episódio trágico de Inês de Castro;
CENA 2

ASSUNTO: DIÁLOGO ENTRE D. MADALENA E TELMO, através do qual é dado a conhecer o presente e o passado
das personagens, de forma a enquadrar a ação que irá desenvolver-se a partir daqui. Nesta cena apresentam-se
características de personagens ainda ausentes, como Maria, Manuel e D. João de Portugal. Madalena pede a
Telmo que modere a profundidade e o alcance dos assuntos que trata com Maria e que não incuta no espírito
nela as suas crenças e agouros sobre uma desgraça iminente a cair sobre a sua família.

CARACTERIZAÇÃO DAS PERSONAGENS:


● D. MADALENA:
- Nobre: Designação dona só se dava na época às senhoras da aristocracia;
- Receosa e hesitante no que quer dizer a Telmo;
- Preocupada com a filha e com o que ela poderia vir a compreender das conversas com Telmo;
- Casou muito jovem com D. João de Portugal e enviuvou com 17 anos; Procurou exaustivamente D. João,
desaparecido na batalha de Alcácer Quibir, durante 7 anos;
- Terá 38 anos: a batalha de Alcácer Quibir ocorreu há 21 anos, tinha ela 17, o seu segundo casamento teve lugar
7 anos depois, teria ela 24 e casou pela segunda vez há 14 tendo Maria tem 13 anos; -
Vive atormentada e aterrorizada pelo passado e pelos agouros de Telmo, que lhe mantém esse passado bem
vivo, ou seja, a dúvida de que D. João não morreu e pode voltar a qualquer momento, o que destruiria o seu
casamento e tornaria Maria uma filha ilegítima, por isso não consegue ser feliz, já que não se consegue libertar
desse medo;
- Não amou D. João, mas respeitou-o sempre e é profundamente apaixonada por Manuel de Sousa;
- Sente-se vítima do destino;
- Contradição entre a felicidade aparente e a desgraça íntima que revela uma consciência moral atormentada
pela imagem de D. João de Portugal e pelo remorso proveniente da consciência de pecado, isto é, a personagem
sente-se culpada por ter casado com Manuel de Sousa, sem ter a certeza acerca da morte do primeiro marido;
- Revela, na última fala da cena, a tendência para o devaneio (fantasia), o que já acontecera na primeira cena e
está de acordo com a tendência romântica e a extrema sensibilidade da sua alma.

● TELMO PAIS:
- Não possui nobreza de sangue, mas está intimamente ligado à aristocracia pelo modesto título de escudeiro, é
o escudeiro da família;
- É reconhecido pelo seu saber de experiência e pela sua cultura livresca;
- O seu verdadeiro senhor continuar a ser D. João, primeiro marido de D. Madalena, dado como morto na
batalha de Alcácer Quibir;
- É o confidente de D. Madalena e foi o seu “carinho e proteção” e amparo de D. Madalena quando esta
enviuvou;
- Nas palavras de D. Madalena, é “o aio fiel de meu senhor D. João de Portugal”, digno “da confiança, do
respeito, do amor e do carinho” de todos;
- Era o aio de D. João, a quem queria como “filho” e é-o também de Maria, a quem “ao princípio não podia ver”,
tal não aceitação inicial era originada por ela ser fruto do casamento de Madalena e Manuel de Sousa, que
Telmo via como uma traição a D. João, cuja morte não aceita;
- A formosura e bondade de Maria cativaram-no de tal modo que agora ama profundamente e afirma ter-lhe
mais amor do que os próprios pais;
- Personagem com grande ascendente sobre Maria, por quem tem enorme amor;
- Não aprova o segundo casamento de D. Madalena e atormenta-a com insinuações, agouros, profecias,
presságios e acusações (como, por exemplo, a da carta de D. João de Portugal, escrita na madrugada da batalha
de Alcácer Quibir, onde afirmava: “vivo ou morto, Madalena, hei de ver-vos pelo menos ainda uma vez neste
mundo”) - É, por isto, a lembrança viva e permanente do «remorso» oculto e recalcado na consciência de D.
Madalena;
- Começa a ser visível a sua divisão entre o amor a D. João e o amor a Maria, isto é, sendo tão amigo dela e
pretendendo ter-lhe tanto amor, sustenta uma crença que, a concretizar-se, significaria a morte da jovem;
- TELMO É SEBASTIANISTA: Crê que o seu antigo amo não morreu e por isso acredita no regresso de D.
Sebastião e, consequentemente, de D. João, alimentando o sebastianismo.
● MARIA:
- Nobre e o apelido “Noronha” indicia alta estirpe (“é sangue de Vilhenas e de Sousas”); -
O seu nome evoca o da Virgem Maria: é pura e angélica (Madalena e Telmo apelidam-ma de anjo,
configurando a imagem da mulher-anjo dos românticos, contrastando com D. Madalena;
- É precoce, tanto física: “Tem treze anos feitos… está uma senhora”, como psicologicamente: “em tantas outras
coisas tão altas, tão fora de sua idade, e muitas de seu sexo também (…) Maria tem uma compreensão…”;
- Curiosa (“aquela criança está sempre a querer saber, a perguntar”) e perspicaz;
- Bondosa (“um anjo como aquele… e então que coração!”);
- Dotada de espírito vivo (“uma viveza, um espírito!”);
- Sonhadora e possui uma imaginação muito fértil;
- Segundo D. Madalena, é dotada de “formosura e engenho, dotes admiráveis daquele anjo”.

● D. JOÃO DE PORTUGAL:
- Nas palavras de Telmo: “espelho de cavalaria e gentileza, aquela flor dos bons”;

RELAÇÃO DE TELMO E D. MADALENA:


- Pelo que é dado ler nesta cena, a relação entre estas duas personagens supera em muito a tradicional ligação
entre um criado e o seu senhor. De facto, o escudeiro apresenta-se mais como um elemento da família de D.
Madalena do que enquanto mero aio, graças aos longos anos passados ao serviço da família (primeiro de D.
João e depois de Manuel de Sousa). Quando ela enviuvou aos 17 anos, foi o seu amparo e quase um pai, daí a
liberdade de que goza quando lida com D. Madalena. Esta respeita-o e reconhece-lhe alguma autoridade sobre
si, seguindo também os seus conselhos como se fosse sua filha. De igual forma, ele respeita-a e aconselha-a,
não obstante ter sido contrário ao segundo casamento.
- Assim sendo, é natural que a relação entre ambos seja de grande respeito, amizade, confiança e abertura,
como se comprova ao longo de todo o diálogo, que é motivado pelo pedido que D. Madalena quer fazer ao seu
velho aio, isto é, acabar com as conversas sobre o passado com Maria, ligadas à ideia de que de D. Sebastião
está vivo e, por extensão, D. João, facto que, a ser verdade, acarretaria consequências trágicas para Maria,
reduzida então à condição de filha ilegítima.
- É a questão do passado e da forma como este é alimentado em Maria pelo escudeiro que perturba a relação.
Note-se como Madalena sofre e chora quando Telmo afirma que a jovem deveria ter nascido “em melhor
estado”, pois está claramente a sugerir que ela era merecedora de ter nascido no seio de uma família
constituída por pais casados legitimamente, sem qualquer sombra a pairar sobre ela, o que não sucede na
perspetiva do aio, dado acreditar que D. João ainda está vivo.
- Por isso mesmo, no final da conversa, Telmo reconhece que D. Madalena tem razão: se continuar a estimular o
interesse de Maria pelo passado, com as suas crenças e agouros, poderá levá-la a descobrir o passado da sua
mãe. A ideia de que D. João de Portugal poderá estar vivo despertaria nela a possibilidade da ilegitimidade e o
receio de tal situação poderia agravar seriamente o seu estado de saúde já tão debilitado.

RELAÇÃO DE TELMO E MANUEL DE SOUSA:


- Telmo manifesta grande respeito e admiração por Manuel de Sousa, cujas qualidades elenca e elogia, mas não
lhe dedica a mesma consideração e estima que nutria por D. João de Portugal, visto que considera que não é
digno de ocupar o lugar do seu antigo amo. Assim, Manuel de Sousa surge desvalorizado em relação a D. João
de Portugal.

ANALEPSE: Estrutura-se, nesta cena, uma analepse, onde as personagens recuam 21 anos até à batalha de
Alcácer Quibir, mais sete anos de busca até ao 2º casamento de Madalena e nascimento de Maria, até ao
presente da ação.

INDÍCIOS TRÁGICOS:
- Simbolismo do nº 7 associado ao tempo;
- Sebastianismo de Telmo, ligado à figura de D. Sebastião.
CENA 3 → DIÁLGO ENTRE D.MADALENA E MARIA

ASSUNTO: Possível regresso de D. Sebastião;

PRESPETIVA E REAÇÃO DAS PERSONAGENS SOBRE O TEMA:


Maria:
- Maria, como personagem sebastianista, acredita piamente que D. Sebastião está vivo e que vai regressar,
fundamentando a sua posição em argumentos como a fé e a crença do povo que, segundo ela, terá toda a
razão de ser.
- Curiosa e intuitiva, Maria questiona por que razão o pai, sendo tão patriota, não gosta de ouvir falar no
regresso do rei, que iria retirar trono português do domínio filipino. Segundo Maria, o seu pai, Manuel de
Sousa, perante esta possibilidade, muda de semblante, fica pensativo e carrancudo, levando a filha a, por
momentos, duvidar do seu patriotismo. Maria chega a alvitrar a possibilidade de o pai ser pró-castelhanos.
- Nota-se, nesta cena, que as palavras e atitudes de Maria revelam todo o seu extraordinário poder de
observação e de análise de comportamentos.

Telmo:
- Telmo Pais crê profundamente no regresso de D. Sebastião, mantendo viva igualmente viva a esperança no
retorno do seu amo, D. João de Portugal.

D. M a d a l e n a :
- Por seu vez, D. Madalena procura demover a filha e afastá-la dessas ideias, fazendo uso, inicialmente, de
argumentos racionais: Os relatos dos tios Frei Jorge e Lopo de Sousa, homens cultos, sobre o que aconteceu na
batalha e a desvalorização das crenças populares, que apresenta como quimeras (ilusões).
- Quando verifica que a sua argumentação não resulta, aflige-se a chora. As reações dos pais devem-se ao facto
de a sobrevivência e regresso de D. Sebastião e D. João de Portugal, cuja morte nunca fora confirmada,
implicariam a nulidade do seu casamento e a ilegitimidade de Maria. Deste modo, as constantes referências ao
assunto adensam os seus receios e terrores.

VISÃO DE MARIA SOBRE D. SEBASTIÃO:


- Para Maria, D. Sebastião é um herói por quem nutre grande admiração e em quem deposita todas as
esperanças para resgatar Portugal das garras do domínio castelhano: “o nosso bravo rei”, “o nosso santo rei D.
Sebastião”.

INDÍCIOS TRÁGICOS:
- Crença sebastianista de Maria, que pressupõe a vinda de D. João;
- Doença de Maria (tuberculose);
CENA 4

ASSUNTO: DIÁLGO ENTRE D.MADALENA E MARIA acerca das preocupações de ambas;

INDÍCIOS TRÁGICOS:
- Prodigiosa imaginação de Maria;
- Flores que murcham: Permite antever a tragédia com que encerra a obra: a morte progressiva de Maria. → Ela
colheu papoilas para pôr debaixo do travesseiro, por estas estarem associadas ao sono e ao sonho, acreditando
que, assim, terá uma noite descansada. No entanto, as flores, que representam, entre outras coisas, a beleza
efémera, murcharam rapidamente, indiciando a proximidade da morte.

CENA 5

ASSUNTO: Notícias trazidas por Frei Jorge: Saída dos governadores de Lisboa e a intenção de se hospedarem na
casa de Manuel de Sousa e D. Madalena.

REAÇÕES DAS PERSONAGENS:


Maria:
- Maria, graças ao seu temperamento juvenil e gosto pela aventura, manifesta todo o seu patriotismo e
considera a intenção dos governadores um ato de cobardia, visto que abandonam o povo, deixando-o entregue
à peste e à miséria. A seu ver, este ato de tirania deve ser combatido pelo exército do seu pai.
- Revela, portanto, um grande sentido cívico e grande sensibilidade para com as injustiças: não aceita que os
governadores, que deveriam zelar e cuidar do povo e do seu bem-estar, o abandonem à sua sorte, para se
protegerem.
- Relativamente a recebê-los em casa, rejeita impetuosamente essa hipótese, defendendo que se deve pegar em
armas para os combater. Esta é uma visão romântica do poder.

D. M a d a l e n a :
- D. Madalena reage à notícia de forma mais moderada, mas não deixa de se mostrar indignada com a situação,
que considera uma desconsideração pelas senhoras da sua casa.

PAPEL DE FREI JORGE: Nesta cena, Frei Jorge é o mensageiro portador de notícias. É por ele que D. Madalena
sabe que os governadores que representam o rei espanhol se pretendem alojar no palácio de Manuel de Sousa.

INDÍCIOS TRÁGICOS:
- Ouvido muito apurado de Maria (sintoma da sua grave doença);

CENA 6
ASSUNTO: Chegada de Manuel de Sousa anunciada por Miranda;

INDÍCIOS TRÁGICOS:
- Na sua última fala, Frei Jorge expressa a sua preocupação com a saúde de Maria, podendo presumir-se que
ela não irá resistir à tuberculose. → Confirmação da audição apurada de Maria é um “terrível sinal”.
CARACTERIZAÇÃO DAS PERSONAGENS – CENA 4/5/6

Maria:
- Sebastianista fervorosa e nacionalista, crê que D. Sebastião está vivo e vai regressar;
- Porta-voz da sabedoria popular: “Voz do povo, voz de Deus”;
- Interesse por temas impróprios para a sua idade: romances populares sobre D. Sebastião e a batalha de Alcácer
Quibir;
- Sofre ao observar o sofrimento da mãe, que não compreende;
- É bondosa, carinhosa e terna com a mãe;
- Pensa muito: Maria passa as noites em claro, a rever as suas atitudes e as dos pais, para tentar descobrir as
razões da sua preocupação, por considerar que há algo que não lhe é revelado;
- Muito perspicaz relativamente às preocupações que pressente nos pais e aos sinais que estes deixam
transparecer;
- É alegre, mas sente-se subitamente invadida por grande tristeza (“uma tristeza muito grande que eu tenho”). Tal
tristeza está relacionada com a constante preocupação dos pais com ela. O seu poder intuitivo e de observação
permitem-lhe perceber a preocupação dos pais com a sua saúde e crenças
- Quando pergunta à mãe por que razão o pai não tinha permanecido na Ordem de Malta e deixara o hábito,
parece expressar o desejo de que o pai nunca o tivesse feito, o que corresponderia à sua inexistência; (CENA 4)
- É visionária e muito sensível: “não quero sonhar, que me faz ver coisas lindas às vezes, mas tão extraordinárias e
confusas…”; (CENA 4)
- Possui um conhecimento íntimo de si própria que escapa aos familiares: “O que eu sou… só eu o sei, minha mãe…
E não sei, não: não sei nada, senão que o que devia ser não sou…”
- Deseja ter um irmão, ou que ela mesmo tenha nascido rapaz para poder combater os castelhanos;
- É corajosa, de personalidade forte, destemida e idealista, dotado de caráter varonil, revelado no desejo de ter um
irmão e de resistência aos governadores: “Um galhardo e valente mancebo capaz de comandar os terços de meu
pai (…)”; “Tomara eu ver seja o que for que se pareça com uma batalha!”;
- Insurge-se contra as injustiças sociais: “Coitado do povo!”; (CENA 5)
- É idealista e patriota, manifestando toda a sua vontade de resistir aos governadores: “Fechamos-lhes as portas.
Metemos a nossa gente dentro e defendemo-nos.”; (CENA 5)
- Fica entusiasmada com a notícia trazida pelo pai, dando largas à sua imaginação, ao seu idealismo e ao seu
patriotismo; (CENA 5)

MARIA COMO MODELO DA HEROÍNA ROMÂNTICA: Ideais de liberdade; Exaltação de valores de feição popular;
Crença na independência nacional; Atração pelo mistério; Intuição; Doença da época (tuberculose);

D. M a d a l e n a :
- Sofre (chora) com as palavras de Maria;
- Evidencia uma grande tensão psicológica, agravada pela menção inconsciente de Maria a aspetos que a
aterrorizam;
- Manifesta grande preocupação perante os devaneios e a imaginação da filha;
- Insegura e ansiosa;

Telmo:
- Tem uma presença silenciosa, mas identifica-se com os ideais de Maria;
- Contribui para o clima de opressão;
- Apresenta resignação à vontade de Maria;
- Manifesta preocupação com a debilidade de Maria;
CENA 7

ASSUNTO: CHEGADA DE MANUEL DE SOUSA E COMUNICAÇÃO DA SUA DECISÃO de se mudar com a família para
o palácio de D. João.

CARATERIZAÇÃO DE MANUEL DE SOUSA:


- Agitado e nervoso: move-se em várias direções e dá ordens a diferentes personagens; (CENA 8)
- Autoritário: “Façam o que lhes disse”;
- Decidido e determinado: “nós forçosamente havemos de sair antes de eles entrarem”;
- Caráter inflexível, precipitado, audaz e corajoso;
- Culto, de acordo com o seu estatuto social: o uso do latim «mea culpa» e «pecavi»;
- Belo e nobre, qualidades que, aliadas à inteligência e à cultura universitária, o tornam invejado pelos poderosos;

POSTURA E RETRATO DE MANUEL DE SOUSA:


- Ao longo da cena, a postura e o estado emocional de Manuel de Sousa alteram-se. Inicialmente, mostra-se
agitado, nervoso, tenso e revoltado mas, à medida que a cena se desenrola, vai ganhando tranquilidade, para não
assustar a mulher e a filha, mas mantém a decisão e a determinação de agir e com rapidez.
- Manuel de Sousa, quer no discurso quer nas ações, mostra-se um homem honrado, patriota, valente e corajoso,
ao enfrentar e insurgir-se contra o poder espanhol, pretendendo dar-lhe uma lição exemplar, pois essa rebeldia
poderia acarretar uma punição severa. Assim sendo, essa coragem vive de mãos dadas com o patriotismo e a
defesa da liberdade. De facto, quando se recusa a acatar as ordens dos governadores, mostra que não aceita o
domínio filipino e a união com Espanha. Como não pode agir a nível nacional, decide fazê-lo a título particular, a
nível da sua casa

ESTRUTURA INTERNA DA CENA:


1º PARTE: Chegada de Manuel de Sousa decidido a abandonar o seu palácio.
- A resolução imperativa e irremediável está presente nesta fala: «É preciso sair desta casa, Madalena”. Ora, a
expressão «é preciso» marca a fatalidade, combinada com a irreversível imediatez do advérbio: «sair já».

2º PARTE: Reações das personagens à decisão de Manuel de Sousa.


- MADALENA: Inquieta; Receosa; Preocupada; Pressente desgraças; Procura chamar o marido à razão e demovê-
lo, temendo a vingança dos governadores.
- MARIA: Orgulhosa; Contente; Vibrante; Apoia totalmente o pai.
- FREI JORGE: Mediador de conflito (concordando com D. Madalena, aconselha prudência; concordando com
Manuel, aceita a mudança de morada); Assume a função de coro, aconselhando as personagens;

3º PARTE: Decisão de mudar a família para o palácio de D. João de Portugal e reação das personagens.
- MARIA: Exulta com a decisão do pai, que apoia, elogiando o seu patriotismo;
- FREI JORGE: Apoia também a decisão, mas aconselha o irmão a ser prudente;
- D. MADALENA: Quando fica a saber que Manuel de Sousa quer mudar a família para o palácio de D. João, fica
apavorada, como se pode constatar pela sua linguagem repleta de reticências, pausas, interrupções, hesitações,
repetições (“Ouve… ouve…”) e pelo pedido para ficar só com o marido na tentativa de o demover. De facto,
inicialmente, controla o pânico, com dificuldade, para não atemorizar a filha, por isso espera que esta saia para
reagir. As razões dos eu terror são óbvias e plenamente justificadas.

DIMENSÃO SIMBÓLICA DA ATITUDE DE MANUEL DE SOUSA:


- As atitudes de Manuel de Sousa são de anti poder. Tendo em conta que, em 1844, ano da publicação de Frei Luís
de Sousa, Portugal era governado pela ditadura de Costa Cabral, o gesto de revolta da personagem pode
simbolizar (e assim foi entendido na época, por isso o poder vigente proibiu a representação da peça) a revolta
contra esse governo cabralista.

INDÍCIOS TRÁGICOS:
- Terror de Madalena;
- Ficarão “quase de baixo dos mesmos tetos” de Frei Jorge (tomada do hábito);
CENA 8

ASSUNTO: DIÁLOGO ENTRE MADALENA E MANUEL durante o qual ela o tenta demover da decisão de se mudarem
para o palácio de D. João e este se mostra inabalável. Este diálogo é, portanto, marcado pelas dicotomias
coração/razão e passado/presente.

CARACTERIZAÇÃO DAS PERSONAGENS:


Manuel de Sousa:
- Sempre respeitou D. João de Portugal;
- Não teme o passado;
- Patriota: “Há de saber-se no mundo que ainda há um português em Portugal.” (pleonasmo); - Desrespeito pelos
argumentos da esposa, que considera “caprichos”, “agouros”, “vãs quimeras de crianças”, preferindo magoá-la a
esquecer os seus princípios;
- Sereno, decidido, inabalável e firme nas suas decisões;
- Crente em Deus: “Não há senão o temor a Deus”;
- Modelo do herói clássico (renascentista): Age segundo a razão; Orienta-se por valores aceites como universais;
Honra cavalheiresca; Culto do dever; Lealdade; Liberdade;
- Por um lado, age como um ser dominado pelo raciocínio e revela-se insensível aos pressentimentos de Madalena,
por outro é dominado por um intenso sentimento patriótico e liberal que o leva a incendiar a sua própria casa;

D. M a d a l e n a :
- Obediente ao marido: “eu nunca me opus ao teu querer, nunca soube que coisa era ter outra vontade diferente da
tua; estou pronta a obedecer-te sempre, cegamente, em tudo”;
- Amargurada e angustiada;
- Aterrorizada por constantes agouros e pelo passado: “que vou achar ali a sombra despeitosa de D. João, que me está
ameaçando com uma espada de dous gumes… que a atravessa no meio de nós, entre mim e ti e a nossa filha, que nos
vai separar para sempre”; -
Gradação crescente e hipérbole dos seus temores - Menciona todas as preocupações e profetiza mesmo a morte: “(…)
a violência, o constrangimento de alma, o terror (…) viu ser infeliz, que vou morrer (…) sem que todas as calamidades
do mundo venham sobre nós.”; - Convicta,
até ao final, de que consegue demover o marido; - Modelo
da heroína romântica: Vive obcecada pelos fantasmas do passado; Age pelo coração, pelo sentimento.

● Existe um contraste nesta cena entre a linguagem serena, decidida, de Manuel de Sousa e a de D. Madalena,
hesitante, titubeante, emotiva e excitada. Estão frente a frente dois mundos: o universal e o individual; estão frente a
frente dois tempos: o presente e o passado; um terá de vencer. Ela tem um discurso sentimental, marcado por
emoções violentas. De acordo com a época em que vive, é submissa ao marido, apelando ao seu coração para o
dissuadir, mas ele tem um discurso racional, mostrando-se forte e seguro, impondo a sua decisão, baseado em
argumentos sólidos.

ARGUMENTOS DE D. MADALENA: Pressente que não vai ser feliz e que irá encontrar a sombra despeitosa de D. João.

ARGUMENTOS DE MANUEL DE SOUSA: Não há outro lugar para onde ir, de repente; Não lhe custa viver onde viveu
D. João com D. Madalena; Ela não deve acreditar em agouros, a única crença que deve ter é em Deus; Nada tem a
temer porque nunca pecou; Não deve recear a perseguição por parte da alma de D. João;

CARACACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS:
- Crença em Deus;
- Nacionalismo e patriotismo;
- Interioridade e sensibilidade;
- Manuel de Sousa representa o herói romântico que luta pela liberdade e pela pátria, contra a tirania;
- D. Madalena é a figura romântica da mulher dominada pelo sentimento (medo, culpa, agouros, terror, etc.);

INDÍCIOS TRÁGICOS:
- Preparação da mudança para o palácio de D. João, que simboliza o reviver dos fantasmas do passado;
CARACTERÍSTICAS DO ROMANTISMO
CARCTERÍSTICAS ESTÉTICO-LITERÁRIAS:
- Culto da natureza: Os românticos criam um novo modelo de natureza o locus horrendus, isto
é, natureza em tumulto, de imagens tenebrosas, sombrias e noturnas;
- Subjetividade: O mundo pessoal, as emoções espontâneas e os sentimentos do Eu definem o
espaço central da criação;
- Sentimentalismo: Supervalorização do Eu;
- Ânsia de liberdade: Vence o desejo de quebrar todas as correntes que prendem a liberdade
do EU.
- O mal du siècle: O pessimismo, a melancolia, o desespero, o cansaço, a volúpia do
sofrimento, a angústia de existir, a insaciabilidade e irreverência humanas e a busca da solidão
são tópicos recorrentes.
- Evasão: Preconiza-se a idealização da realidade circundante e a fuga para mundos
imaginários; valoriza-se o sonho e o devaneio.
- Valorização do exótico: O exótico é visto como o “distante no espaço”;
- Interesse pela Idade Média e suas tradições: As atenções voltam-se para esta época, para a
cultura folclórica, para as tradições, lendas e canções medievais denegridas pelo racionalismo
iluminista;
- Nacionalismo: Tudo quanto é popular e nacional é exaltado pelos românticos; Culto de uma
ideologia patriótica;
- Idealização da mulher: Anjo ou demónio, a figura da mulher é sempre idealizada.

CARACTERÍSTICAS FORMAIS:
- Libertação estilística;
- Versificação mais variada e com influência popular;
- Justaposição do sublime e do grotesco num estilo em que não há fronteira entre o poético e
o prosaico na seleção vocabular;
- Abandono da mitologia e dos processos eruditos da retórica greco-romana;
- Fusão de géneros (é recorrente a fusão da tragédia e da comédia no drama);
- Pontuação expressiva: o uso de exclamações e reticências espelha o estado emocional do
sujeito poético;
- Estilo declamatório;
- Recurso a figuras de estilo que transmitem o manancial de emoções do sujeito poético, com
destaque para a hipérbole;

ELEMENTOS DA TRAGÉDIA CLÁSSICA

ANANKÉ (destino):
- É o destino que propícia a ausência de D. João e que origina a mudança da família de Manuel de
Sousa Coutinho para o palácio de D. João, pelo facto de os governadores espanhóis terem
escolhido a casa de Manuel de Sousa Coutinho para aí se instalarem, o que o leva a incendiá-la.
DISCURSO POLÍTICO
● Género textual que se insere no protótipo argumentativo, marcado pro um carácter
fortemente PERSUASIVO e por exibir uma DIMENSÃO ÉTICA E SOCIAL, cujas características
essenciais são:
- Expressão de uma opinião que pode gerar controvérsia;
- Expressão de argumentos coerentes e válidos a favor de uma determinada tese ou contra ela;
- Apresentação de contra-argumentos e provas/exemplos;
- Apresentação de uma dimensão social, assumindo-se como uma voz coletiva, e ética, na
medida em que surge alicerçado em informações compartilhadas entre emissor e recetor, que
traduzem valores sociais, políticos, religiosos, entre outros, visando o interesse de uma
comunidade;
- Eloquência da oratória, cujos objetivos são: docere, delectare e movere;
- Artifícios retóricos: metáforas, metonímias, personificação, hipérbole, ironia, gradação,
interrogações retóricas;
- Apresentação de uma série de características linguísticas, as quais são, em síntese:
1) Uso de verbos de opinião (achar/pensar), de crença (crer), ‘dicendi’ («verbos de dizer» -
dizer/concordar) e verbos modais (dever/ser preciso) e psicológicos (gostar);
2) Recurso a tempos verbais do sistema do presente do indicativo (presente, pretérito perfeito
e futuro), bem como tempos ancorados na situação de enunciação;
3) Emprego de conectores e organizadores textuais de carácter concessivo (embora/se bem
que/apesar de) e de carácter adversativo (mas/não obstante/todavia);
4) Presença de marcas linguísticas que expressam um ponto de vista;

● Num discurso político o orador deve revelar eloquência e capacidade de expor e


argumentar. Os recursos não verbais como a atitude, o tom de voz, a articulação, o ritmo, a
entoação, a expressividade, o silêncio, os gestos e olhar adquirem muita importância na carga
persuasivo texto.

TEXTO DE OPINIÃO

→ INTENCIONALIDADE: Expor uma opinião sobre um assunto de interesse e despertar a curiosidade e o


interesse do interlocutor.

→ ESTRUTURA:
- 1) Título;
- 2) Introdução: Apresentação do tema e formulação do ponto de vista;
- 3) Desenvolvimento: Exposição de argumentos e exemplos que sustentam o ponto de vista defendido;
- 4) Conclusão: Síntese das ideias defendidas ao longo do desenvolvimento.

→ MARCAS DE GÉNERO:
- Discurso de primeira pessoa;
- Explicitação clara do ponto de vista;
- Clareza e pertinência da perspetiva adotada, dos argumentos desenvolvidos e dos respetivos exemplos;
- Discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito);
- Linguagem clara e objetiva;
- Uso de articuladores discursivos;

Você também pode gostar