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Coerência textual

•A coerência de um texto
é a propriedade que faz
dele um todo com
sentido e é assegurada
por mecanismos
linguísticos que permitem
ao recetor compreendê-
lo e interpretá-lo
corretamente.

Novo Plural 12 | 12.º ano


Coerência textual

Coerência Compatibilidade entre os elementos do texto


e o nosso conhecimento do mundo

Coerência Princípio da não contradição

Coerência Princípio da não redundância

Coerência Princípio da relevância

Coerência Adequação e intencionalidade


comunicativa

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Coerência textual
1. Compatibilidade entre os elementos do texto e o nosso conhecimento do mundo

Para que um texto seja coerente, é


necessário que quem fala ou escreve
tenha em conta, não apenas o seu
conhecimento do mundo, mas
também o conhecimento
do mundo do destinatário.

Ilustração de Norman Rockwell.

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Coerência textual

1. Compatibilidade entre os elementos do texto


e o nosso conhecimento do mundo

Ex.: Os remorsos de Édipo não são para comparar aos esquisitos tormentos
de coração e de espírito que aqui padece Manuel de Sousa. Os terrores de
Jocasta fazem arrepiar as carnes, mas a dor de D. Madalena de Vilhena
revolve mais profundamente no coração todas as piedades.
Almeida Garrett, Memória ao Conservatório (texto adaptado)

A coerência deste texto depende, essencialmente, do que os interlocutores


sabem sobre as personagens destacadas. Não é possível compreender a
comparação expressa desconhecendo os elementos que são comparados.

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Coerência textual
2. Princípio da não contradição
Um texto coerente não contém afirmações incompatíveis ou que se contradigam.

Ex.: O Cabo das Agulhas é o ponto mais a sul do continente africano, embora a
comunidade científica aceite, em nome da tradição, atribuir esse privilégio ao Cabo da
Boa Esperança.*

Ex.: Gostei muito de ler o Monge de Cister, de Alexandre Herculano, por isso só li cerca de
metade do romance.**

* A comunidade científica apresenta conclusões baseadas em factos e não em tradições ou privilégios.

** A segunda oração contradiz a afirmação da primeira.

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Coerência textual

3. Princípio da não redundância


Um texto coerente não tem informação redundante e
repetida; deve progredir, apresentando informação nova.

Ex.: O sebastianismo teve uma presença discreta no Romantismo


português. Não há muitas obras românticas cujo tema de base
seja o mito de D. Sebastião. De caráter histórico ou não, poucas
obras narrativas ou dramáticas assentaram neste tema.
Note-se que a informação se centra sempre na mesma noção – a da
falta de obras cuja temática seja o mito do sebastianista.

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Coerência textual
4. Princípio da relevância
Um texto coerente apresenta situações/ eventos/ informações relacionados
entre si, com lógica.

Ex.: Os «ninguéns» – assim designou António Galeano os meninos africanos, órfãos de


guerra, «os filhos de ninguém, os donos de nada». D. João de Portugal também se
considera «Ninguém» por razões, de algum modo, idênticas. Uns e outros são
«ninguéns».

Tal como o texto as apresenta, não há nenhuma relação lógica entre as situações enunciadas.

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Coerência textual

5. Adequação e intencionalidade comunicativas


Um texto coerente tem de ser adequado ao contexto e à
intenção.

Ex.: Paulo, já que estamos a falar da escola e das tuas notas, ainda não te vi
usar o iphone 6 que te ofereci e me custou um dinheirão. Já fizeste seis anos
há uma semana e nada… Já conseguiste descarregar o WhatsApp? O que se
passa?

Este discurso não é adequado ao contexto (conversa sobre a escola)


nem à idade do recetor.

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Coesão textual

•O texto resulta de um conjunto de


palavras organizadas de forma a
produzir um todo com sentido lógico.
•Para isso, as frases, os períodos e os
parágrafos que o constituem devem
ser articulados e sequencializados.
•A coesão de um texto, oral ou escrito,
é assegurada por mecanismos
linguísticos que estabelecem as
ligações lógicas na frase, entre frases e
entre sequências.
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Coesão textual

Coesão lexical Reiteração lexical (repetição)


Substituição lexical: hiperonímia / hiponímia,
holonímia / meronímia, sinonímia

Coesão referencial Pronominalização


– Anáfora
– Catáfora

Coesão frásica Concordância: sujeito / predicado


Concordância: núcleo nominal / respetivos
determinantes, quantificadores, adjetivos
Adequação dos conectores
Adequação da regência verbal

Coesão interfrásica Coordenação


Subordinação
Articulação (conectores)

Coesão temporal Expressões com valor temporal: advérbios,


conjunções, preposições, (datas)
Sequencialização temporal
Ordenação correlativa dos tempos verbais
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I – Coesão lexical

Mecanismos lexicais que asseguram


a coesão textual
1. Reiteração lexical: repetição (ou reiteração) de palavras ou de unidades
lexicais, necessárias ao estabelecimento de uma rede de sentido, que confere
unidade ao texto.
Ex.: Dizem que um homem vendado, se lhe pedirem para caminhar em linha reta, anda em
círculos. Porque é que o homem anda em círculos quando fecha os olhos? É um mistério,
dizem, mas o homem de olhos fechados caminha para dentro. E o tempo também se dobra,
também não anda a direito. O tempo é como um homem de olhos fechados. No fundo anda
tudo aos círculos, desde as recordações às histórias. Tudo acaba por se dobrar, um dia.
Afonso Cruz, O pintor debaixo do lava-loiças

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I – Coesão lexical

2. Substituição lexical: substituição de palavras ou de ex-pressões por


outras unidades lexicais, que com elas mantêm relações semânticas de
natureza:
– hierárquica
hiponímia, hiperonímia
hiponímia, meronímia
– não hierárquica
sinonímia

Ex.: Gostava de passear na vinha. As uvas maduras pendiam das latadas e ele colheu um
cacho. Adorava aquela fruta translúcida, adorava os bagos suculentos.

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II – Coesão referencial

Uso anafórico dos pronomes que assegura


a coesão textual
1. Pronominalização: é uma forma de substituição de um nome por
um pronome (pessoal, possessivo, demons-trativo).

Ex.: Ele está adormecido em cima do muro. É um gato grande, amarelo.


Despertou-o uma borboleta em voo incerto sobre a sua cabeça. Ele abriu os
olhos, mas permaneceu em estátua, atento. Depois de muitos voos rasantes, só
quando ela se aproximou perigosamente, é que ele lhe lançou as patas rápidas.
Apanhou-a e comeu-a. Aquela não voltava a voar!
Os nomes gato e borboleta são substituídos por pronomes.

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II – Coesão referencial

Uso anafórico dos pronomes que assegura


a coesão textual
1. Pronominalização: é uma forma de substituição de um nome por
um pronome (pessoal, possessivo, demons-trativo).

Ex.: Ele está adormecido em cima do muro. É um gato grande, amarelo.


Despertou-o uma borboleta em voo incerto sobre a sua cabeça. Ele abriu os
olhos, mas permaneceu em estátua, atento. Depois de muitos voos rasantes, só
quando ela se aproximou perigosamente, é que ele lhe lançou as patas rápidas.
Apanhou-a e comeu-a. Aquela não voltava a voar!
Os nomes gato e borboleta são substituídos por pronomes.

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II – Coesão referencial

Duas formas de pronominalização


2. A anáfora gramatical: é a substituição de um nome por um
pronome, que surge depois dele e para ele remete.
Ex.: É um gato grande, amarelo. Despertou-o uma borboleta em voo incerto
sobre a sua cabeça. Ele abriu os olhos, mas permaneceu em estátua, atento.

3. A catáfora: é o recurso a um pronome que ocorre antes do


nome para o qual remete.
Ex.: Ele está adormecido em cima do muro. É um gato grande, amarelo.

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III – Coesão frásica

Coesão da frase para assegurar


a coesão do texto

A coesão frásica é um dos processos


linguísticos mais importantes para garantir
a coesão textual e consiste na interligação
dos elementos dentro da frase,
considerada como um todo.

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III – Coesão frásica

Os mecanismos de coesão frásica são vários:


1. Concordância entre o sujeito e o verbo do predicado.
Ex.: A Maria e a Pilar saíram.
(sujeito plural, verbo no plural)

2. Concordância, em género e número, entre o núcleo no-minal (nome


ou pronome) e os respetivos determinan-tes, quantificadores e
adjetivos.
Ex.: A Maria e a Pilar, duas raparigas bonitas, saíram muito felizes. O mais
importante escritor realista português é Eça de Queirós.

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III – Coesão frásica

3. Adequação dos conectores que ligam as diversas orações de


uma frase complexa.
Ex.: Os gatos têm personalidade e são muito independentes.
(frase complexa constituída por 2 orações ligadas pelo conector aditivo)

4. Adequação da preposição exigida pelo verbo (regência


verbal), ligando-o ao complemento por ela introduzido.
Ex.: Os gatos gostam de apanhar borboletas. Brincam com elas.
Discordo de todos os que dizem que os gatos só apreciam o conforto e
concordo com aqueles que lhes reconhecem capacidade de afeto.

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IV – Coesão interfrásica

Coesão interfrásica para assegurar


a coesão do texto

Tal como a coesão frásica, a coesão interfrásica


é um processo linguístico importantíssimo para
garantir a coesão textual e consiste na
interligação das partes do texto, que deve
constituir um todo articulado e lógico.

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IV – Coesão interfrásica
Os mecanismos de coesão interfrásica são vários:
1. Coordenação entre frases.
Ex.: Gosto de ler na esplanada, mas prefiro uma boa conversa.

2. Subordinação entre frases.


Ex.: Gosto de ler na esplanada, porque a conversa não me basta.

3. Articulação feita por outros marcadores discursivos e conectores, como


os advérbios conectivos.
Ex.: Fomos passear a Bragança. Afinal, é uma cidade tão bonita e de mim tão
desconhecida. Assim que chegámos, sentimos a força do granito e o apelo da História.
Também nos encantou aquele ar fresco, leve, transparente. Além disso, a simpatia das
pessoas é extraordinária. De facto, Bragança é única!

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V – Coesão temporal

Coesão temporal para assegurar


a coesão do texto

A coesão temporal é um processo lin-


guístico fundamental para garantir a coesão
do texto e advém da sequencia-lização das
informações, segundo uma lógica de
tempo.

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V – Coesão temporal
Os dispositivos que asseguram a coesão temporal são:
1. Expressões com valor temporal: advérbios ou locuções
adverbiais, conjunções, preposições.
Ex.: Ontem fomos ao teatro, hoje discutimos a peça.
Ofereceram-lhe o relógio quando fez anos.
Li o livro depois de ti.

2. Expressões indicadoras de sequencialização temporal.


Ex.: Em primeiro lugar, treinámos durante quatro meses; em segundo lugar, no
dia 24 de fevereiro, distribuímos as tarefas; em terceiro lugar, no dia 4 de abril,
trabalhámos em equipa e ganhámos.

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V – Coesão temporal
3. Ordenação correlativa dos tempos verbais.
Ex.: O Padre António Vieira pregara várias vezes em São Luís do Maranhão e
esperava a presença de muitos colonos naquela pregação. Começou o
sermão com toda a sua criativa energia verbal e, do púlpito, lançou palavras
de crítica feroz.
Passa uma onda de silêncio entre o auditório. A pregação prossegue até ao
fim. Os colonos saem, atordoados e furiosos.

O pretérito mais-que-perfeito do indicativo (pregara) situa o facto narrado


num tempo anterior ao pretérito imperfeito do indicativo (esperava) que,
por sua vez, corresponde a um tempo anterior e prolongado, relativamente
aos factos narrados pelo pretérito perfeito do indicativo (começou, lançou),
que circunscreve a ação a um momento preciso; o presente do indicativo
(passa, prossegue, saem) aproxima a ação do momento narrado.

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