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Ficha

informativa nº 1

Texto e textualidade
Para um texto ou um discurso estar bem estruturado, fazer sentido
e ter eficácia comunicativa, tem de estar assente em três princípios
essenciais – a progressão temática, a coerência e a coesão.

1. Progressão temática
A progressão temática assegura-se através da introdução de
informação nova ao longo do texto. Os novos dados que vão sendo
introduzidos vêm na sequência da informação que o leitor/recetor
já conhece e são suporte de elementos novos que irão ser
adicionados até à conclusão do texto.
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2. Coerência textual

A coerência textual é a propriedade que confere sentido a um


texto.

Consiste na lógica das relações intratextuais – entre as partes e a


totalidade – que conduzem à sua interpretação. A interpretação de
um texto depende da capacidade interpretativa do leitor/recetor,
por isso podemos afirmar que um texto é coerente quando há
compatibilidade entre as ocorrências textuais e o nosso
conhecimento do mundo (real ou ficcional).
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2.1 Coerência lógico-conceptual

A coerência lógico-conceptual depende do cumprimento de regras.

As ocorrências textuais devem ser pertinentes.


RELEVÂNCIA Por exemplo, não se deve fugir à temática do texto
ou dar exemplos que não venham a propósito.
As ocorrências textuais não podem ser
incompatíveis.
NÃO
Por exemplo, as informações, a pessoa ou os tempos
CONTRADIÇÃO
verbais não se devem contradizer.
As ocorrências textuais não se podem reiterar.
Por exemplo, não se devem repetir as mesmas
NÃO ideias, devem retomar-se informações já conhecidas
REDUNDÂNCIA e introduzir-se dados novos (contribuindo para a
progressão do texto).
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2.2 Coerência pragmático-funcional

Para ter eficácia comunicativa, o texto tem de ter certas características.

EFICÁCIA COMUNICATIVA

O texto deve:
•ser adequado ao contexto e à relação locutor/interlocutor;
•corresponder à intencionalidade do locutor e ao fim a que se
destina.
Por exemplo, através das formas de tratamento e do registo de
língua que se usa.

Nota: A pontuação contribui também para a coerência do texto.


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3. Coesão textual

A coesão textual contribui para a coerência do discurso. Através de


mecanismos linguísticos, lexicais e gramaticais, assegura-se a
progressão, a continuidade e o sentido do texto. A coesão textual
processa-se a vários níveis – da palavra, da oração, das frases e dos
parágrafos.
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3.1 Coesão lexical


Definição Exemplos
Reiteração Retoma por repetição do vocábulo ou «– Matom o Meestre! matom o Meestre nos
expressão. Paaços da Rainha! Acorree ao Meestre que
matam!»
Sinonímia Retoma por utilização de vocábulo ou «[…] homeès e moços esgravatando a terra; […]
expressão com significado equivalente. que achavom mortos homeès e cachopos […]»

Antonímia Retoma por utilização de vocábulo ou «[…] por lhe darem vida e escusar morte.»
expressão com significado oposto.
Substituição

Hiperonímia/ Retoma por utilização de vocábulo ou


Hiponímia expressão com significado mais geral «Os da cidade como ouviam o repico, leixavam o
(hiperónimo) ou mais particular sono, e tomavom as armas e saía muita gente, e
(hipónimo). defendiam-nos aas bestas […]»

Holonímia/ Retoma por utilização de vocábulo ou


«Os padres e madres viiam estalar de fame os
Meronímia expressão que designa o todo
filhos que muito amavom, rompiam as faces e
(holónimo) ou parte constituinte
peitos sobr’eles […]»
(merónimo).
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3.2 Coesão gramatical
Definição Exemplos
Interfrásica Mecanismo de ligação de frases e parágrafos, através de: • «Entom os do Meestre veendo tam grande
– conectores; alvoroço como este, e que cada vez se acendia
– coordenação e subordinação (frases); mais […]»
– pontuação. • «[…] leixae-a, ca [porque] ainda há mal
d’acabar por estas cousas que faz!»
Frásica Mecanismo de ligação dos elementos da oração/frase • «– Amigos, apacificae vos, ca eu vivo e são
simples, através de: som a Deos graças.»
– concordância em género e em número;
– ordenação das palavras e das funções sintáticas.
Referencial Mecanismo que permite uma correta identificação dos • «De cima nom minguava quem braadar que o
referentes pelo interlocutor ao longo do texto, através Meestre era vivo […]:
de: – Pois se vivo é, mostrae-no-lo e vee-lo-emos.»
– anáfora: um termo que aparece anteriormente no texto
é retomado por um pronome, determinante ou advérbio.
Temporal Mecanismo que permite a compreensão das relações • «[…] soou uù dia pela cidade que o Meestre
temporais que o texto estabelece entre as várias mandava deitar fora todolos que nom
situações apresentadas, através de: tevessem pam que comer […]»
– uso correlativo dos tempos verbais;
– uso de expressões adverbiais ou preposicionais com
valor temporal.

Excertos retirados dos capítulos 11 e 148 da Crónica de D. João I (textos escolhidos), de Fernão Lopes,
com apresentação crítica de Teresa Amado, Lisboa, Seara Nova/Comunicação, 1980.
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CONSOLIDA
1. Explica, por palavras tuas, a incoerência de cada frase.

a) O Conde Andeiro foi assassinado ontem à noite. O seu estado inspira


cuidados.
b) Todos os dias, temos aulas diariamente.
c) Os dois guerreiros, D. João e D. Nuno Álvares Pereira, constituem um
trio de heróis.
d) D. Nuno Álvares Pereira, Mestre de Avis, lutava com bravura.
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2. Atenta no seguinte excerto.

2.1 Identifica os princípios da coerência (relevância, não


contradição, não redundância) que não foram respeitados.

2.2 Refere como se obtém a progressão temática no texto.


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3. Restabelece a coerência nos enunciados apresentados.

a) Professor, dá-me aí o livro que contém as crónicas de Fernão


Lopes!
b) Ministro, já leste a Crónica de D. João I?
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4. Estabelece as correspondências corretas entre os exemplos textuais


da coluna A, distinguindo os mecanismos de coesão acionados na
coluna B.
A B
a) O Paço da Rainha foi cercado, portas e 1. Coesão lexical – reiteração
janelas eram bem vigiadas.
b) Álvaro Paes cavalgou pela cidade. A cidade 2. Coesão lexical – substituição
estava em alvoroço. (merónimo/holónimo)
c) O mantimento escasseava em Lisboa: pão, 3. Coesão lexical – substituição (sinónimos)
fruta, carne e peixe, tudo faltava.
d) Os habitantes de Lisboa estavam famintos, 4. Coesão gramatical – referencial
aliás os lisboetas nunca tinham passado
tantas provações.
e) Álvaro Paes e o pajem lutaram pelo 5. Coesão gramatical – interfrásica
Mestre.
f) O povo receou pela vida do Mestre, no 6. Coesão lexical – substituição (hiperónimo/
entanto, este encontrava-se de plena saúde. hipónimo)
g) Leonor Teles era odiada, ela era repudiada 7. Coesão gramatical – frásica
por todos.
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5. Indica as anáforas presentes no enunciado e identifica os respetivos


referentes.

O pajem saltou da cama muito cedo porque o tinham acordado com


gritos. Caiu de lá aos tropeções com toda a sua atarantação…

5.1 Classifica as anáforas quanto à classe de palavras.

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