Interpreação de Texto
Professor Vânia Araújo
SIGNIFICAÇÃO DE PALAVRAS REESCRITAS DE TRECHOS E PARÁGRAFOS
CONHECIMENTOS BÁSICOS - LÍNGUA PORTUGUESA
3. Significação literal e contextual de palavras.
4. Reescrita de frases e parágrafos do texto.
4.1 Substituição de palavras ou de trechos de texto.
4.2 Reorganização da estrutura de orações e de períodos do texto.
4.3 Reescrita de textos de diferentes gêneros e níveis de
formalidade.
1. SEMÂNTICA
É o estudo da significação das palavras, seja no seu sentido
mais estrito ou mesmo a mudança de sentido ocasionada pelo
contexto.
• Literal (denotativo): é o sentido real (ao pé da letra) – o
primeiro que aparece nos dicionários.
OBS.: o sentido original é a própria significação etimológica
do termo, mas este também sofre constantes alterações no
decorrer do tempo, devido à sua expansão ou generalização.
Por exemplo, carrasco era o nome do algoz Belchior Nunes
Carrasco e generalizou-se para todos os algozes e anfitrião era
personagem de uma comédia de Plauto e se expandiu a todos
aqueles que reúnem em sua casa os convidados e amigos.
• Contextual(conotativo): é sentido adquirido com o passar do
tempo – que sofre modificações de acordo com o contexto.
2. AS RELAÇÕES DE SENTIDO ENTRE OS VOCÁBULOS NO TEXTO
A atribuição correta de sentido a determinadas palavras revela-
se crucial para a compreensão das informações a serem
avaliadas em cada questão da prova. Então, veja, a seguir, as
principais relações de sentido entre as palavras:
SINONÍMIA CONTEXTUAL: ocorre quando palavras podem ser
substituídas umas pelas outras sem prejudicar a compreensão
das ideias do texto.
• Uma relação de sinonímia se estabelece, por exemplo, entre
os vocábulos rival, adversário e antagonista; unhas e garras;
aguardar e esperar; indivíduo e pessoa; entre a expressão
cloreto de sódio e a palavra sal etc.
Observe, então, que, a se considerar o contexto, não existe
uma sinonímia perfeita!
Acompanhe a cobrança da relação de sinonímia nas provas:
1ª assertiva: É possível substituir o vocábulo hemisférica pela
palavra ‘minuciosa’ sem que isso altere as relações de sentido do
texto.
2ª assertiva: O vocábulo “divórcio” pode ser substituído pelo
palavra apartamento sem que isso prejudique a correção
gramatical e a compreensão das ideias do texto.
3ª assertiva: O vocábulo “catalisador” foi usado no texto com o
sentido de incentivador.
Agora, veja os textos:
Texto I - Eu me considero um consumidor tão consciente e
educado que nunca compra nada sem antes fazer uma tomada
hemisférica de preços.
Texto II - É urgente que haja no Brasil o divórcio do poder e da
política.
Texto III - Quando se aplica tecnologia no cotidiano de um
trabalhador comum, que não tem estudo nem formação
para lidar com essa tecnologia, isso tanto funciona como um
catalisador de problemas mas também de soluções.
ANTONÍMIA LITERAL: ocorre quando as palavras opõem-se, em
relação aos sentidos, nos dicionários.
• São exemplos de vocábulos antônimos as palavras feliz e
infeliz, euforia e melancolia; os conceitos de bem e mal; de
sagrado e profano etc.
ANTONÍMIA CONTEXTUAL: ocorre quando palavras opõem-se
quanto ao significado dentro do texto. Observe que, na maioria
das vezes, as palavras não possuem nenhuma contiguidade
semântica nos dicionários.
Estes são alguns exemplos da cobrança de antonímia contextual
nas provas:
• A “oposição conceitual” existente entre os vocábulos branco
e vermelho;
• A relação de antonímia entre os vocábulos simples e correto
e entre os termos envelhecimento e morte.
3. REESCRITAS DE TRECHOS E PARÁGRAFOS
As reescritas, via de regra, se configuram como “traduções” que
os próprios examinadores fazem de trechos ou parágrafos de
textos, que deverão ser julgado sob o ponto de vista da correção
gramatical e (ou) da relação de sentido.
ATENÇÃO!
Os examinadores podem cobrar as reescritas tanto de orações
(trechos curtos) quanto de parágrafos (partes de textos).
• PARÁFRASE: Consiste no desenvolvimento interpretativo de
um texto: é a “tradução” das ideias do texto original – com
palavras do próprio tradutor, sem acrescentar ou omitir
nenhuma informação do texto original.
Quanto à forma, a paráfrase tende a ter quase o mesmo
tamanho do texto original.
_1
 Interpretação de Texto | Vânia Araújo

Atenção! todo o pensamento do autor” e sintetizar significa

A paródia é um tipo de paráfrase satírica, com o propósito
de contestar ou ridicularizar outros textos, que tem,
portanto, como características a caricatura e a fuga à
intenção primeira do autor.
• PERÍFRASE TEXTUAL: Consiste no emprego do rodeio de
palavras e outros floreios para traduzir as ideias de um texto
ou de partes dele, que pode ser útil para dar a um mesmo
tema leituras diferentes.
“agrupar em poucas palavras a ideia principal do autor”.
ATENÇÃO:
• Nas provas de concursos, as questões objetivas não
estabelecem distinção entre resumo e síntese: existem
provas em que se pede o resumo, mas na verdade o correto
seria “síntese” e vice-versa.
• Somente nas provas discursivas é que existe uma
preocupação em distinguir resumo de síntese.

Quanto à forma, a perífrase tende a ficar mais extensa do que Veja como são cobradas as reescritas de trechos nas provas:
o texto primitivo.
1º exemplo: Mantém a correção gramatical do texto a reescrita
Atenção! do trecho “e abre o caminho para a realização” como: e deixa
aberto o caminho à realização.
• Perífrase é uma figura de linguagem que consiste em
identificar coisas ou animais por características pelas 2º exemplo: Caso se reescreva a expressão “Desse modo, retardavam
quais são mais conhecidos. Na prática, seria como criar propositadamente os meios que poderiam assegurar o progresso
rótulos para essas coisas e animais. Por exemplo: a para o melhor” como Retardavam, desse modo, os meios que,
referência à cidade de Recife como a “Veneza brasileira” propositadamente, poderiam assegurar o progresso para o melhor,
ou ao leão como o “rei dos animais”. o texto preserva a correção gramatical e a relação de sentido.
• Antonomásia é uma variação da perífrase, usada para
caracterizar pessoas. Por exemplo: a referência a Rui 3º exemplo: O trecho “afinal, somos todos politicamente corretos,
Barbosa como o “Águia de Haia”; ou a Castro Alves mas saber onde estão as meias é um atributo feminino” pode ser
como o “poeta dos escravos” etc. substituído pela construção “como somos todos politicamente
corretos, saber onde estão as meias é atributo feminino” sem
• RESUMO: Consiste em “traduzir” um texto, por meio de uma prejudicar a correção gramatical nem as relações de sentido.
condensação fiel de suas ideias mais importantes, respeitando
a progressão em que elas se sucedem e encadeando cada Observe, agora, a simples troca de lugar entre substantivo e
uma de suas partes. adjetivo ou substantivo e pronome):
O resumo tem caráter informativo, que tende a preservar as
1. É a mesma essência _______________ correção gramatical
palavras do texto primitivo: o que ocorre é só o “enxugamento”
É a essência mesma _______________ relação de sentido
das ideias do original.
2. Trata-se de crime vulgar _______________ correção gramatical
Características do resumo: Trata-se de vulgar crime _______________ relação de sentido
» Nele são eliminados exemplos, juízos de valor e descrições 3. Atravessou vários sinais _______________ correção gramatical
detalhadas. Atravessou sinais vários _______________ relação de sentido
» Mantém as relações lógicas do texto primitivo por meio do
uso de conectores entre os períodos e os parágrafo. Veja mais exemplos:
» Não tem um tamanho definido: este deve ser suficiente • Simples smartphone / smartphone simples
para trazer todas as informações essenciais do texto-base. • Certos livros / livros certos
» Quando adquire um teor mais crítico, o resumo é chamado • Tais barbaridades / barbaridades tais
de resenha. • Sapato velho / velho sapato

• SÍNTESE: Consiste em “traduzir”, em poucas palavras, aquilo EXERCÍCIOS

que o autor expressou de maneira ampla. Na prática, a síntese
consiste em produzir um texto a partir da condensação das TEXTO I
ideias de outro texto fonte. Tem um caráter mais subjetivo,
apreciativo, já que a “tradução” se realiza mediante o uso de
palavras próprias de quem está elaborando essa síntese.

Características da síntese:
» A síntese sempre será menor que o resumo e pontua
somente o estritamente essencial e necessário para a
compreensão de um texto.
» Deve ser escrita em terceira pessoa e não se deve colocar
opiniões próprias, já que o objetivo, aqui, é não alterar as
ideias originais do autor do texto.
» Em princípio, resumir significa “reunir em poucas palavras

_2

Em relação ao texto apresentado acima, julgue os itens seguintes.
1.( ) O texto constrói-se com base na sátira.
2.( ) Para o entendimento da crítica social presente no texto, é
crucial, além da interpretação das imagens com base no
conhecimento histórico, o entendimento do sentido das
preposições empregadas no título de cada imagem.
3.( ) O tema do texto pode ser sintetizado no ditado popular
“aqui se faz, aqui se paga”.
4.( ) Em “PRESENTE PRA GREGO”, o emprego da forma
prepositiva “pra” é inadequado, dado o grau de
formalidade do texto.
5.( ) O texto, cuja mensagem é transmitida essencialmente
por meio da imagem, classifica-se como não verbal.
TEXTO II
Julgue os itens abaixo, com referência à tirinha ilustrada acima,
que mostra diálogo entre o personagem Calvin e a sua professora,
Srta. Wormwood.
6.( ) O texto aborda, de forma cômica, a distância entre
a linguagem mais atraente ao aluno e a linguagem e
os meios empregados na prática de sala de aula pela
professora de Calvin.
7.( ) É correto concluir da leitura da tirinha que a professora
tem a tendência de acolher as críticas feitas por Calvin e
de adotar práticas novas com base nessas críticas.
8.( ) O texto da fala de Calvin no segundo quadrinho poderia ser
corretamente reescrito em registro formal, para uso em
outra situação comunicativa em que o aluno se dirigisse,
Interpretação de Texto | Vânia Araújo
por exemplo, por escrito à professora, da seguinte forma:
Tendo em vista o fato de que a geração mais nova tem mais
facilidade para absorver informações veiculadas pelos meios
de comunicação visual, solicito à professora, Srta. Wormwood,
que apresente o conteúdo em forma de videoclipe.
9.( ) Nas duas falas da professora, o emprego da vírgula é
obrigatório devido à presença do vocativo: “Calvin”, no
primeiro quadrinho, e “classe”, no segundo.
10.( ) No texto, que se classifica como verbo-visual, a
coordenação entre as imagens e a linguagem escrita
facilita o entendimento da mensagem.
TEXTO III
1 Dizem que Karl Marx descobriu o inconsciente três décadas
2 antes de Freud. Se a afirmação não é rigorosamente exata,
3 não deixa de fazer sentido, uma vez que Marx, em O Capital,
4 no capítulo sobre o fetiche da mercadoria, estabelece dois
5 parâmetros conceituais imprescindíveis para explicar a
6 transformação que o capitalismo produziu na subjetividade.
7 São eles os conceitos de fetichismo e de alienação, ambos
8 tributários da descoberta da mais-valia — ou do inconsciente,
9 como queiram.
10 A rigor, não há grande diferença entre o emprego dessas
11 duas palavras na psicanálise e no materialismo histórico. Em
12 Freud, o fetiche organiza a gestão perversa do desejo sexual
13 e, de forma menos evidente, de todo desejo humano; já a
14 alienação não passa de efeito da divisão do sujeito, ou seja, da
15 existência do inconsciente. Em Marx, o fetiche da mercadoria,
16 fruto da expropriação alienada do trabalho, tem um papel
17 decisivo na produção “inconsciente” da mais-valia. O sujeito
18 das duas teorias é um só: aquele que sofre e se indaga sobre
19 a origem inconsciente de seus sintomas é o mesmo que
20 desconhece, por efeito dessa mesma inconsciência, que
21 o poder encantatório das mercadorias é condição não de
22 sua riqueza, mas de sua miséria material e espiritual. Se a
23 sociedade em que vivemos se diz “de mercado”, é porque a
24 mercadoria é o grande organizador do laço social.
Maria Rita Kehl. 18 crônicas e mais algumas. São
Paulo: Boitempo, 2011, p. 142 (com adaptações).
Com relação às ideias desenvolvidas no texto acima e a seus
aspectos gramaticais, julgue os itens subsequentes.
11.( ) Com correção gramatical, o período “A rigor (...) histórico”
(L.10-11) poderia, sem se contrariar a ideia original do texto, ser
assim reescrito: Caso se proceda com rigor, a análise desses
conceitos, verifica-se que não existe diferenças entre eles.
12.( ) A informação que inicia o texto é suficiente para se inferir
que Freud conheceu a obra de Marx, mas o contrário não
é verdadeiro, visto que esses pensadores não foram
contemporâneos.
13.( ) A expressão “dessas duas palavras” (L.10-11), como
comprovam as ideias desenvolvidas no parágrafo em que ela
ocorre, remete não aos dois vocábulos que imediatamente a
precedem — “mais-valia” (L.8) e “inconsciente” (L.8) —, mas,
sim, a “fetichismo” (L.7) e “alienação” (L.8).
_3

14.( ) Depreende-se da argumentação apresentada que a
autora do texto, ao aproximar conceitos presentes nos
estudos de Marx e de Freud, busca demonstrar que, nas
sociedades “de mercado”, a “divisão do sujeito” (L.14)
se processa de forma análoga na subjetividade dos
indivíduos e na relação de trabalho.
TEXTO IV
1 Imagine que um poder absoluto ou um texto sagrado
2 declarem que quem roubar ou assaltar será enforcado (ou
3 terá a mão cortada). Nesse caso, puxar a corda, afiar a faca
4 ou assistir à execução seria simples, pois a responsabilidade
5 moral do veredicto não estaria conosco. Nas sociedades
6 tradicionais, em que a punição é decidida por uma autoridade
7 superior a todos, as execuções podem ser públicas: a
8 coletividade festeja o soberano que se encarregou da justiça
9 — que alívio!
10 A coisa é mais complicada na modernidade, em que os
11 cidadãos comuns (como você e eu) são a fonte de toda
12 autoridade jurídica e moral. Hoje, no mundo ocidental, se
13 alguém é executado, o braço que mata é, em última instância,
14 o dos cidadãos — o nosso. Mesmo que o condenado seja
15 indiscutivelmente culpado, pairam mil dúvidas. Matar um
16 condenado à morte não é mais uma festa, pois é difícil
17 celebrar o triunfo de uma moral tecida de perplexidade. As
18 execuções acontecem em lugares fechados, diante de poucas
19 testemunhas: há uma espécie de vergonha. Essa discrição é
20 apresentada como um progresso: os povos civilizados não
21 executam seus condenados nas praças. Mas o dito progresso
22 é, de fato, um corolário da incerteza ética de nossa cultura.
23 Reprimimos em nós desejos e fantasias que nos parecem
24 ameaçar o convívio social. Logo, frustrados, zelamos pela
25 prisão daqueles que não se impõem as mesmas renúncias.
26 Mas a coisa muda quando a pena é radical, pois há o risco de
27 que a morte do culpado sirva para nos dar a ilusão de liquidar,
28 com ela, o que há de pior em nós. Nesse caso, a execução
29 do condenado é usada para limpar nossa alma. Em geral,
30 a justiça sumária é isto: uma pressa em suprimir desejos
31 inconfessáveis de quem faz justiça. Como psicanalista,
32 apenas gostaria que a morte dos culpados não servisse para
33 exorcizar nossas piores fantasias — isso, sobretudo, porque
34 o exorcismo seria ilusório. Contudo é possível que haja crimes
35 hediondos nos quais não reconhecemos nada de nossos
36 desejos reprimidos.
Contardo Calligaris. Terra de ninguém – 101 crônicas. São
Paulo: Publifolha, 2004, p. 94-6 (com adaptações).
Com referência às ideias e aos aspectos linguísticos do texto
acima, julgue os itens.
15.( ) Suprimindo-se o emprego de termos característicos da
linguagem informal, como o da palavra “coisa” (L.10) e o
do trecho “(como você e eu)” (L.11), o primeiro período do
segundo parágrafo poderia ser reescrito, com correção
gramatical, da seguinte forma: Essa prática social
apresenta-se mais complexa na modernidade, onde a
autoridade jurídica e moral submete-se à opinião pública.
16.( ) No período “Nesse caso (...) estaria conosco” (L.3-5), como
o conector “ou” está empregado com sentido aditivo, e não,
Interpretação de Texto | Vânia Araújo
de exclusão, a forma verbal do predicado “seria simples”
poderia, conforme faculta a prescrição gramatical, ter
sido flexionada na terceira pessoa do plural: seriam.
17.( ) De acordo com o texto, nas sociedades tradicionais, os
cidadãos sentem-se aliviados sempre que um soberano
decide infligir a pena de morte a um infrator porque se
livram das ameaças de quem desrespeita a moral que
rege o convívio social, como evidencia o emprego da
interjeição “que alívio!” (L.9).
18.( ) O termo “Essa discrição” (L.19) refere-se apenas ao
que está expresso na primeira oração do período que o
antecede.
19.( ) Na condição de psicanalista, o autor do texto adverte
que a punição de infratores das leis é uma forma de os
indivíduos expurgarem seus desejos inconfessáveis,
ressalvando, no entanto, que, quando se trata de crime
hediondo, tal não se aplica.
TEXTO V
1 Ao apresentar a perspectiva local como inferior à
2 perspectiva global, como incapaz de entender, de explicar
3 e, em última análise, de tirar proveito da complexidade do
4 mundo contemporâneo, a concepção global atualmente
5 dominante tem como objetivo fortalecer a instauração de um
6 único código unificador de comportamento humano, e abre o
7 caminho para a realização do sonho definitivo de economias
8 globais de escala. Como resultado deste processo, o “modelo
9 econômico” alcança sua perfeição, que não é somente
10 descrever o mundo, mas efetivamente governá-lo. E esta é a
11 essência mesma do paradigma moderno de desenvolvimento
12 e de progresso, cujo estágio supremo de perfeição a
13 globalização representa.
14 Fica claro que a escala não poderia ser melhor ou maior do
15 que sendo global e é somente neste nível que a sua primazia e
16 universalidade são finalmente afirmadas, junto com a certeza
17 de que jamais poderia surgir alguma alternativa viável
18 ao sistema ideologicamente dominante fundado no livre
19 mercado, dada a ausência de qualquer cultura ou sistema de
20 pensamento alternativo.
21 Se virmos o fenômeno da globalização sob esta luz, creio
22 que não poderemos escapar da conclusão de que o processo
23 é totalmente coerente com as premissas da ideologia
24 econômica que têm se afirmado como a forma dominante
25 de representação do mundo ao longo dos últimos 100 anos,
26 aproximadamente.
27 A globalização não é, portanto, um acontecimento acidental
28 ou um excesso extravagante, mas uma extensão simples
29 e lógica de um “argumento”. Parece realmente muito difícil
30 conceber um resultado final que fizesse mais sentido e fosse
31 mais coerente com as bases ideológicas sobre as quais está
32 fundado. Em suma, a globalização representa a realização
33 acabada e a perfeição do projeto de modernidade e de seu
34 paradigma de progresso.
G. Muzio. A globalização como o estágio de perfeição do
paradigma moderno: uma estratégia possível para sobreviver à
coerência do processo. Trad. Luís Cláudio Amarante. Petrópolis:
Vozes; Brasília: NEDIC, 1999, p. 138-9 (com adaptações).
_4

Com relação aos sentidos e aspectos linguísticos do texto, julgue
os itens seguintes.
20.( ) No texto, é apresentada, em forma dissertativa, uma
análise do processo de globalização e da hegemonia, no
mundo contemporâneo, do sistema econômico embasado
no livre mercado.
21.( ) A direção argumentativa do texto evidencia a intenção do
autor em fazer uma apologia do modelo de desenvolvimento
e de progresso que a globalização representa.
22.( ) Infere-se do texto que a globalização constitui o caminho
ideal para a superação do atraso econômico verificado
em alguns países, cuja cultura local se mostra incapaz de
compreender a complexidade do mundo contemporâneo.
23.( ) Mantém a correção gramatical do texto a seguinte
reescrita do trecho “e abre o caminho para a realização”
(L.6-7): e deixa aberto o caminho à realização.
24.( ) Na linha 11, não haveria prejuízo para os sentidos do
texto caso o termo “mesma” fosse deslocado para antes
do substantivo “essência”, dado o caráter enfático que o
termo pronominal adquire no contexto.
25.( ) Mantêm-se a correção gramatical e a coerência do texto caso
o trecho “cujo estágio supremo de perfeição a globalização
representa” (L.12-13) seja assim reescrito: do qual estágio
supremo de perfeição é representado pela globalização.
26.( ) No texto, o termo “primazia” (L.15) está empregado com
o mesmo sentido que na frase: Segundo o presidente da
República, a Organização das Nações Unidas deve deter a
primazia na preservação da paz e da segurança internacional.
27.( ) O “argumento” mencionado à linha 29 pode ser assim
entendido: o modelo econômico embasado no livre
mercado é a alternativa mais viável para o progresso e
desenvolvimento mundial.
TEXTO VI
1 A moralidade pública consiste em uma esfera de que
2 todos os seres humanos participam, na medida em que cada
3 sistema moral, a fim de revelar sua unilateralidade, precisa
4 ser confrontado com outros. Segue-se a necessidade de que
5 todos os seres humanos sejam incluídos no seu âmbito. Sob
6 esse aspecto, a moral pública é uma moral cosmopolita, pois
7 estabelece regras de convivência e direitos que asseguram que
8 os homens possam ser morais. É nesse sentido que os direitos
9 do homem, tais como em geral têm sido enunciados a partir
10 do século XVIII, estipulam condições mínimas do exercício da
11 moralidade. Por certo, cada um não deixará de aferrar-se à
12 sua moral; deve, entretanto, aprender a conviver com outras,
13 reconhecer a unilateralidade de seu ponto de vista. E com isso
14 obedece à sua própria moral de uma maneira especialíssima,
15 tomando os impeditivos categóricos dela como um momento
16 particular do exercício humano de julgar moralmente.
José Arthur Gianotti. Moralidade pública e moralidade privada. In: Ética,
Adauto Novaes (org.). São Paulo: Companhia das Letras. (com adaptações).
Interpretação de Texto | Vânia Araújo
Em relação ao texto acima, julgue os itens que se seguem.
28.( ) Tanto sob o ponto de vista estilístico e sintático como
sob o ponto de vista semântico, admite-se como correta
e adequada ao contexto a substituição de “consiste em
uma” (L.1) por constitui-se como uma.
29.( ) Pelas relações gramaticais e semânticas do texto, é
correto afirmar que a presença da preposição “de” nas
duas ocorrências do termo “de que” (L.1 e L.4) é exigida,
respectivamente, pela regência das palavras “esfera”
(L.1) e “necessidade” (L.4).
30.( ) As relações coesivas estabelecidas no texto indicam
que a expressão “seu âmbito” (L.5) está se referindo à
expressão antecedente “cada sistema moral” (L.2-3).
31.( ) Caso o sinal indicativo de crase nas ocorrências “aferrar-se
à sua moral” (L.11-12) e “obedece à sua própria moral” (L.14)
seja retirado, os períodos permanecem gramaticalmente
corretos, uma vez que os verbos “aferrar” e “obedecer”
apresentam transitividade indireta e o elemento que se
mantém é a preposição necessária à regência.
32.( ) De acordo com a direção argumentativa do texto, uma
ideia ilustrativa que poderia dar continuidade coerente
e gramaticalmente correta ao trecho ao ser colocada
após a última oração é: Desse modo, a moral do bandido
e a do ladrão tornam-se repreensíveis do ponto de
vista da moralidade pública, pois violam o princípio da
tolerância e atingem direitos humanos fundamentais.
33.( ) A partir das informações e dos argumentos do texto, é
correto inferir que a moralidade pública tem como base
regras de convivência e direitos estabelecidos no último
século, partindo-se da compreensão de que o ser humano
tem sua própria moral e o dever de julgar moralmente.
TEXTO VII
1 Em primeiro lugar, não distinguimos semanticamente entre
2 ética e moral, pois, embora o primeiro termo tenha origem
3 grega e o segundo, latina, ambos dizem respeito duplamente
4 a questões de caráter e de conduta. Dizemos, portanto, que
5 uma questão é ética quando se refere a ações humanas
6 julgadas segundo a perspectiva de serem boas, corretas,
7 acertadas. Mas, como os meios tecnológicos também podem
8 ser assim julgados e as ações de natureza estratégica
9 também podem ser corretas ou acertadas, podemos afirmar,
10 para distinguir mais precisamente o território da ética,
11 que ela diz respeito a ações corretas ou acertadas à luz de
12 uma vida humana boa e digna. Desta forma, a questão ética
13 encontra-se indissoluvelmente ligada às ideias sobre a vida
14 humana como um todo.
Luciano Zajdsznajder. É a ética uma ciência? In: Desafios éticos.
Brasília: Conselho Federal de Medicina, p. 15 (com adaptações).
Considerando o texto acima, julgue os itens subsecutivos.
34.( ) De acordo com a argumentação do texto, a conjunção
“Mas” (L.7) articula-se à expressão inicial, “Em primeiro
_5
 Interpretação de Texto | Vânia Araújo

lugar” (L.1); por isso, preservam-se as relações de sentido

do texto ao substituí-la por Em segundo lugar.

35.( ) Como o advérbio “assim” (L.8) desempenha a função

coesiva de recuperar a ideia da oração anterior iniciada
pela conjunção “segundo” (L.6), preserva-se a correção
textual e gramatical ao se retirar o advérbio e mudar essa
oração para depois de “julgados” (L.8).

36.( ) O desenvolvimento do texto permite considerar que os

sentidos atribuídos a “ética” e “moral” mantêm imbricadas
questões de caráter e de conduta.

37.( ) Preservam-se a correção e a coerência textual ao se

substituir “às ideias” (penúltima linha) por com as ideias.

_6