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Coesão textual:
associação e conexão
Ingedore Koch – Em primeiro lugar, não se deve ensinar a língua só com base na
gramática. Segundo, é preciso expor os alunos a muita leitura. A gramática deve ser
usada para mostrar como os textos funcionam. Para mostrar quais as pistas que um
texto dá para que o leitor seja capaz de construir um sentido. Muito professor diz
que baseia seu trabalho no texto, mas se limita a pedir ao aluno que destaque nos
enunciados um dado número de substantivos ou de pronomes. Esquecem, por exem-
plo, que os elementos de coesão, importantíssimos num texto, são todos gramaticais.
[...]
Ingedore Koch – Ajudou. Faz com que o aluno decore listas de adje-
tivos, aumentativos, verbos, sem ver utilidade nelas. Seria diferente
se ele fosse perguntado por que um período se liga a outro, que ele-
mento permitiu isso, que função se estabelece entre um enunciado
e outro. E só então informá-lo que se trata de conjunção, locução
conjuntiva ou prepositiva, se é substantivo ou expressão nomi-
nal que retoma algo já apresentado, mas que abre caminho para
informação nova. O texto é como um crochê. Você dá o primeiro
ponto, pega a agulha, puxa e dá outro, e assim vai. Quais elemen-
tos ajudam a puxar o primeiro ponto? Quais costuram duas partes?
Mostrando esse funcionamento, aprende-se gramática no texto.
3.1 Associação
O texto em questão é um bom texto, pois nele podemos identificar elementos coesivos
responsáveis por sua tessitura. Especialmente, vamos enfatizar a relação de associação. A as-
sociação se dá quando são utilizadas palavras do mesmo campo semântico, no caso a aviação:
hidroavião, aviação, aeronave, helicópteros, voar. Mesmo podendo parecer redundante (é claro
que um texto que trate de aviação contenha vocábulos dessa área do saber), esse é um recur-
so extremamente importante para o estabelecimento da coesão.
O procedimento responsável pela associação é a seleção lexical, que é a escolha de pa-
lavras que mantenham o tema do texto em questão. Ela ocorre por vários tipos de relações
semânticas, mas as principais são antônimos e diferentes modos de relações parte/todo.
3.1.1 Antônimo
Nos fragmentos apresentados, a coesão se estabelece por relações semânticas (de senti-
do); a manutenção do tema ocorre pela relação de antonímia (burras X inteligência; profanas
X religião; árido X fértil).1
1 Antunes (2005, p. 133) fala da relação co-hiponímia, apresentando como exemplo as séries: animal,
vegetal, mineral; casado, solteiro; inverno, primavera, verão, outono. Mas esses nomes podem funcio-
nar como antônimos, por isso não incluímos a relação de co-hiponímia.
2 Palavra que designa parte de outra (por exemplo, copa e aba são merônimos de chapéu).
Política literária
O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
Enchente
Chama o Alexandre!
Chama!
Chama o Alexandre!
Chama!
3.2 Conexão
Versão 1
Vamos falar de um tema importante: a formação do professor brasi-
leiro. Esse tema é importante é responsável pelo progresso econômico
também social de um país. Sem seja dada a devida atenção à formação
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volvimento esperado. Se fala em desenvolvimento tecnológico, fala-se
no ensino, esse desenvolvimento realmente ocorra, devemos valorizar
o educador. Dados do MEC, faltam professores em todas as áreas; se
valoriza o magistério essas vagas não serão preenchidas. É o se espera
das medidas lançadas pelo governo reverter um quadro insiste em não
melhorar. O pode ser feito para reverter essa situação? É consenso
deve haver um piso mínimo (digno) incentivar a formação constante.
-
tante aperfeiçoamento, garantindo uma educação de qualidade. Investir
na formação do professor é investir na preservação do meio ambiente:
indispensável para um país pretende deixar de ser “em desenvolvi-
mento” e passar a ser “desenvolvido”. Valorizar a formação do educador
é um dos principais (senão único) caminho para o desenvolvimento.
Versão 2
Vamos falar de um tema importante: a formação do professor brasileiro.
Esse tema é importante porque é responsável pelo progresso não só
econômico, mas também social de um país. Sem que seja dada a devida
Da versão 1 para a versão 2, incluímos os conectores. Eles são responsáveis pelo esta-
belecimento das relações sintático-semânticas entre os segmentos do texto. Esses segmentos
podem ser palavras, frases, parágrafos ou segmentos ainda maiores. Podem exercer a fun-
ção de conectores, preposições e locuções prepositivas, advérbios (e locuções adverbiais) e
conjunções (e locuções conjuntivas). Irandé Antunes (2005, p. 144), apresenta duas funções
fundamentais para o estudo dos conectivos: entender a função dos conectores como elemen-
tos de ligação de subpartes do texto e entender esses conectores como elementos indicadores
de relações de sentido e de orientação argumentativa.
Os conectores podem estabelecer uma série de relações. Vejamos algumas delas.
Antunes (2005, p. 148) apresenta que a relação de temporalidade pode expressar dois
tipos de ordem temporal: aquela que o enunciador percebeu para os acontecimentos, no-
meada sequência temporal; e aquela em que as coisas vão aparecendo em um determinado
texto, nomeada sequência textual (tópicos ou subtópicos que vão aparecendo no texto).
Campanha de Alfabetização
Se você conhece alguém com mais de 15 anos que não saiba
ler nem escrever, encaminhe-o a uma escola pública ou
ligue para a Secretaria de Estado de Educação”. 4
4 Nesse período, temos, também, outros conetivos: se, que estabelece a relação de condição; e, de
adição; e ou, que estabelece a relação de alternância.
Você deve ter percebido uma aproximação com o conteúdo exposto pela gramática
normativa no tópico de sintaxe. É isso mesmo, mas aqui, no contexto da coesão, temos um
uso funcional, a serviço do texto, e não um elenco de termos que devem ser memorizados.
Para fechar, apresentaremos um quadro em que é possível localizar alguns conectivos
que podem estabelecer as relações de conexão que acabamos de ver.
• -
dade e a presença de marcas de oralidade;
-
denciou os seguintes aspectos:
[...]
Atividades
1.
a seguir:
Uma grande bobagem. Clarice não nega ou abandona o real. Ela expande
seus limites e mostra que a realidade é algo muito mais amplo, complexo
e perturbador do que nossas vidinhas cotidianas e interesses imediatos.