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TEXTUAL
E ENSINO
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar os mecanismos responsáveis pela se-
quenciação de um texto escrito e também pela própria construção do
sentido. Como você vai conferir, a língua portuguesa (assim como todas
as outras línguas) oferece aos seus falantes um conjunto de conectores
discursivos, também chamados de operadores discursivos. Esses recur-
sos, além de estabelecerem relações entre as partes do texto, também
compõem o seu sentido.
Conectores discursivos
Produzir um texto é mais do que simplesmente produzir frases. A tessitura
verbal da qual se constitui um discurso apresenta elementos que promovem a
relação lógico-semântica entre as partes que compõem o todo. Ou seja, existem
relações lógico-semânticas que relacionam as partes de um texto e constroem
o seu sentido. Veja o que afirma Koch (1999, p. 62):
Como você vai ver adiante, as frases que compõem um texto estabele-
cem entre si, por meio de conectores discursivos, relações de causalidade,
mediação, disjunção, temporalidade, etc. As relações são determinadas por
meio da utilização de termos de que a língua dispõe justamente para que se
possa expressá-las. Assim, parece haver um raciocínio lógico por trás das
relações estabelecidas; no entanto, tal “raciocínio” está mais próximo de um
conhecimento de língua, ou ainda de uma característica da língua, do que da
lógica tradicional. Veja estes exemplos:
Em (8), o termo “mortal” está sendo usado como um argumento para que
João desligue a rede elétrica. Em (9), a mesma palavra é parte do argumento
usado para que não se desligue a rede elétrica. Ou seja, a continuação de cada
enunciado construiu diferentes sentidos para “mortal”.
Agora que você já entendeu o que são conectores discursivos, precisa
verificar como eles são classificados. A seguir, você vai ver as classificações
que os conectores recebem de acordo com a função que exercem.
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Coesão textual: progressão sequencial 5
Nos trabalhos de Halliday e Hasan (1976), o termo conjunção diz respeito ao fenômeno
de conexão entre as sequências de um texto. Por isso, os linguistas não descrevem
apenas os processos de ligação que envolvem as palavras, que a gramática tem
tradicionalmente chamado de “conjunções”, mas também os encadeamentos por
conexão em que são usadas preposições (ou locuções prepositivas) e advérbios (ou
locuções adverbiais) que estabelecem uma ligação entre dois enunciados. Veja os
exemplos a seguir.
1. Enquanto eu estava viajando, minha mãe doou meus livros preferidos.
2. Logo depois da minha partida, minha mãe doou meus livros preferidos.
3. Pela manhã, viajei. À noite, minha mãe doou meus livros preferidos.
Em (1), (2) e (3), os trechos destacados indicam relações de tempo. O período (1)
apresenta um tempo simultâneo entre os dois segmentos. Já (2) mostra que o processo
6 Coesão textual: progressão sequencial
descrito no segundo segmento ocorreu posteriormente à partida. Por fim, (3) estabelece
períodos definidos para os processos presentes em cada segmento.
Veja que, além da conjunção “enquanto”, também podem ser usadas expressões
adverbiais para expressar tempo e estabelecer ligações entre enunciados. Há ainda a
ligação entre enunciados sem a presença explícita de nenhum elemento linguístico
responsável pela conexão (conector), o que se tem chamado de “encadeamento por
justaposição”. Por exemplo:
4. Está calor, ø vamos passear.
Em (4), “ø” representa a ausência de um conector do tipo “então”, “por isso”, etc.
Mesmo sem nenhuma palavra que estabeleça a relação entre os segmentos, é possível
compreender que o calor é um convite (um argumento) para o passeio.
Relações lógico-semânticas
A relação de condicionalidade manifesta um encadeamento entre dois seg-
mentos A e B em que A é tomado como condição para a ocorrência de B.
Nesse caso, se A for verdadeiro, então B também o será. A manifestação
linguística de tal relação acontece por meio de um conector discursivo como
“se” ou semelhante. Por exemplo:
Relações discursivo-argumentativas
A relação de conjunção manifesta um encadeamento entre dois segmentos
A e B, ligando-os para que eles constituam argumentos para uma mesma
conclusão. Veja um exemplo:
[...] a coesão sequencial e a coesão referencial não podem ser vistas como pro-
cedimentos totalmente estanques. Há, na língua, formas que apenas efetuam
encadeamento (os conectores propriamente ditos) e outras que operam, ao
mesmo tempo, remissão (ou referência) e encadeamento. [...] O próprio uso de
formas remissivas [por outro lado], retomando referentes do texto, aproxima-
-se, pois, dos mecanismos de sequenciação parafrástica.
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito
infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
(BANDEIRA, 1970, p. 107)
16 Coesão textual: progressão sequencial
A retórica é chamada arte (do latim ars, que traduz o grego techné), porque
é um conjunto de habilidades (é uma técnica, entendiam os antigos) que visa
tornar o discurso eficaz, ou seja, capaz de persuadir. [...] No entanto, ela cada
vez mais foi sendo entendida como uma técnica de ornamentação do discurso.
A palavra ornamentação era entendida como enfeite. Por isso, ela foi perdendo
a sua função argumentativa e reduziu-se a um catálogo de figuras.
A estrela
Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
anáfora. Ou seja, o poeta usou uma técnica na qual um sintagma foi repetido
no início dos três primeiros versos das duas primeiras estrofes. Assim, o
poema apresenta um estilo próprio.
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